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Ano III, Nº 09 – Fevereiro de 2016

Série de Artigos do CEEI/ISRI

Segurança Marítima e a Necessidade do


Fortalecimento da Marinha de Guerra de
Moçambique: Estratégias, Políticas e a
Parceria Com Brasil
Autores:
Énio Viegas Filipe Chingotuane – Mestre em Estudos Estratégicos da Defesa e Segurança
pelo do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense e Investigador do
CEEI/ISRI, Departamento de Paz e Segurança

Adriano de Freixo – Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-
UFRJ, Professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense

Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais –


CEEI/ISRI
Segurança Marítima e a Necessidade do
Fortalecimento da Marinha de Guerra de
Moçambique: Estratégias, Políticas e a Parceria Com
Brasil

FICHA TÉCNICA
Propriedade: CEEI/ISRI
Director: João Gabriel de Barros
Autor: Énio Viegas Filipe Chingotuane e Adriano de Freixo
Edição: CEEI/ISRI
Design e Grafismo: Emílio J. Zeca
Fevereiro de 2016
Maputo

2
As Marinhas são caras e difíceis de edificar. (...) Com efeito, ter uma
Marinha é caro, mas muito mais caro seria ter duas, e ainda mais caro,
incomensuravelmente mais caro, (…) seria não ter nenhuma
(NICOLACI, 2011).

Introdução

Nas últimas duas décadas, as preocupações em relação a segurança marítima vem


arrastando vários Estados costeiros, desde os mais fracos aos mais fortes, numa busca
incessante pelo incremento das suas capacidades de segurança. Neste esforço, vários
desses Estados vem apostando no fortalecimento das suas componentes navais, seja
privilegiando as suas Marinhas de Guerra ou suas Forças de Guarda Costeira ou ainda
investindo no fortalecimento das duas componentes. Enquanto os investimentos navais
nos Estados mais fortes podem ser feitos sem pressionar outros sectores da economia,
os mais fracos enfrentam várias pressões económicas pois os investimentos em defesa e
segurança resultam „hipoteticamente‟ na redução de recursos para outros sectores da
economia. Por esse motivo, os Estados fracos, ao investirem nas componentes de defesa
e segurança enfrentam pressões da sociedade civil, da comunidade doadora, das
instituições financeiras internacionais, e de outros atores que questionam a
razoabilidade dos investimentos em defesa e segurança vis-a-vis os investimentos em
sectores socioeconómicos.

Tal como a maioria dos Estados costeiros que sentem pressões de segurança,
Moçambique intenta fortalecer a sua Marinha de Guerra (MGM- Marinha de Guerra de
Moçambique) para garantir a segurança marítima no Canal de Moçambique. Todavia, a
pressão de vários sectores da sociedade e da comunidade internacional impedem que o
país invista o necessário para o fortalecimento da MGM. De um modo geral,

3
Moçambique não investe nas suas capacidades de defesa e segurança desde o fim da
Guerra Fria e da assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992. Por causa desse
desinvestimento militar, o país não possui meios para eliminar ou afastar ameaças
emergentes e urgentes. As ameaças marítimas tais como a pirataria marítima, a pesca
ilegal, o tráfico de seres humanos, o tráfico de drogas, a imigração ilegal, a exploração
ilegal de recursos marinhos, a degradação ambiental entre outros, ocorrem com
regularidade e liberdade devido às fraquezas do aparelho de segurança moçambicano.

Como consequência, a postura de segurança de Moçambique é caracterizada por uma


completa paralisia expressa não só pela incapacidade de prover meios para o combate às
ameaças mas também pela ausência de uma estratégia de segurança marítima e políticas
públicas de desenvolvimento da MGM. Assim predomina uma orientação ad-hoc, de se
buscar soluções de curto prazo, imediatistas, orientadas primeiro na busca de apoio em
„donativos‟ militares. Estas resultam na recepção de embarcações descomissionadas nos
países de origem e inapropriadas para as atividades de segurança marítima (baixa
autonomia, velocidade e tripulação reduzida, pequenas dimensões, entre outros). Além
disto, há também o uso de Marinhas auxiliares que ajudam no patrulhamento da costa
moçambicana tal como a Marinha Sul-africana. Como se pode perceber, a resistência
nacional aos investimentos militares obrigam a que o Estado peça ajuda externa para
garantir a segurança marítima, do que se pode inferir que Moçambique encontra-se
numa situação de dependência externa para garantir a segurança marítima.

O objetivo deste artigo é defender uma postura mais ativa e determinada em relação
segurança marítima e ao fortalecimento da MGM. Nele, fazemos uma reflexão sobre as
melhores alternativas para se atingir esses fins. Apresentamos, de forma genérica,
algumas propostas estratégicas e políticas que podem contribuir para o fortalecimento
da MGM e para a segurança marítima. Discutimos também a possibilidade de se
estabelecer uma parceria com o Brasil de modo a alcançar esse desiderato. O principal
argumento defendido neste artigo é que Moçambique precisa reduzir a dependência
externa para a garantia da segurança marítima. Para tal, o trabalho sugere que o país
precisa quebrar a resistência contra o investimento naval ao nível doméstico e
internacional e para que isso aconteça, urge que se desenvolvam estratégias e políticas
de segurança marítima que respondam as necessidades nacionais e granjeiem apoio
popular. O trabalho parte do pressuposto de que um eficaz discurso de securitização das

4
ameaças marítimas seria extremamente útil para motivar a sociedade a suportar os
investimentos navais e a adoção de uma estratégia de segurança marítima pelo Estado.

I- Ausência de uma estratégia de segurança marítima e de políticas de


investimento naval

Desde a ocorrência das primeiras manifestações de pirataria marítima no Corno de


África e do sequestro em 2010 do navio pesqueiro “Veja 5” por piratas somalianos na
costa moçambicana, o governo nacional vem almejando a adoção de medidas para
garantir a segurança marítima no Canal de Moçambique. Iniciou-se por delegar a MGM
o papel de garantidor da segurança marítima, advogou-se a necessidade de se criar um
Sistema de Autoridade Marítima (SAM) que seria responsável pela coordenação das
atividades de segurança marítima, defendeu-se a necessidade de se estabelecer uma
Marinha de duplo uso (constabulária e militar), criou-se um task force interministerial
para lidar com as ameaças marítimas, promoveram-se encontros de concertação entre os
vários intervenientes no mar, entre outras medidas. Apesar de todo este esforço, nada de
concreto foi firmado e o país continua debilitado nas suas capacidades de garantir a
segurança marítima no Canal. Não existe até hoje nenhuma política visando a
construção de um poder naval que seja adequado as necessidades nacionais e não se
vislumbra nenhuma estratégia de segurança marítima.

Na falta de soluções concertadas e institucionalizadas em estratégias e políticas


específicas, reinam soluções ad-hoc, dispersas e contraditórias. Os principais
intervenientes envolvidos nos assuntos marítimos, desde a MGM; o Ministério das
Pescas (ADNAP- Administração Nacional de Pescas, DNAP- Direção Nacional de
Administração Pesqueira, DNFP- Direção Nacional de Fiscalização da Pesca); o
Ministério do Turismo; o Ministério do Interior (Serviços de Migração e a Polícia
Marítima, Lacustre e Fluvial); o Ministério das Finanças (AT- Autoridade Tributária e
DGA- Direcção Geral das Alfândegas); o Ministério dos Negócios Estrangeiros
(Instituto do Mar e Fronteiras); o Ministério de Transportes e Comunicações
(INAMAR- Instituto Nacional da Marinha e o INAHINA- Instituto Nacional de
Hidrografia e Navegação); e o Ministério para a Coordenação da Ação Ambiental,
desenvolvem ações de segurança marítima que competem entre si, se sobrepõe e
rivalizam uma com a outra por escassos recursos do Estado.

5
A MGM, assumida pelo governo como o principal instrumento para garantir a
segurança marítima não recebe nenhum privilégio na alocação de recursos e concorre
em pé de igualdade com outras instituições pelos escassos recursos do Estado. A
demora do governo em estabelecer o SAM e o modelo de Marinha de Duplo Uso
impede a concentração de recursos na MGM que possui um papel mais vasto de
segurança e defesa.

De acordo com o artigo 10 da Lei nº17/97 que aprova a Política de Defesa e Segurança
(PDS) as Forças Armadas (do qual a MGM faz parte) têm, entre outras, as seguintes
missões: 1) defender os interesses vitais do país contra todas as formas de ameaça ou
agressão; 2) garantir a integridade do território nacional, a soberania, a liberdade dos
cidadãos e a segurança dos meios do desenvolvimento da Nação; 3) assegurar o
funcionamento normal das instituições em todas as circunstâncias e face a quaisquer
ameaças diretas ou indiretas; 4) participar na proteção dos organismos, instalações ou
meios civis determinantes para a manutenção da vida das populações, bem como tomar
medidas de prevenção e de socorro que se requeiram em determinadas circunstâncias
por decisão da autoridade competente; 5) assegurar a defesa do território nacional face a
todo tipo de ameaça, incluindo o terrorismo (BOLETIM DA REPÚBLICA, 1997).

O Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN) aprovado em 2006 advoga, por sua
vez, que as Forças Armadas (do qual a MGM faz parte), têm a tarefa de defender o
„„espaço estratégico de interesse nacional permanente‟‟ que circunscreve, „„os espaços
aéreo e marítimo sob responsabilidade nacional, as águas territoriais, os fundos
marinhos contíguos, a zona económica exclusiva e a zona que resultar do processo de
alargamento da plataforma continental‟‟. Neste espaço, o Estado outorga-se o direito de
defesa nacional que se consubstancia, segundo o artigo 5 do CEDN, numa postura
estratégica dissuasora e de carácter defensivo com uso da força em caso de agressão ou
legítima defesa. No artigo 3 do mesmo documento, o Estado postulou como diretrizes
fundamentais: 1) dotar o país de meios que assegurem a capacidade de dissuadir a
intenção de agressão ou rebeliões contra a soberania do Estado em qualquer parcela do
território nacional e 2) dotar o país de meios de vigilância e proteção das suas águas
territoriais e da zona económica exclusiva (BOLETIM DA REPÚBLICA, 2006).

Pela leitura do legislado, podemos assumir que Moçambique ambiciona construir uma
Marinha capaz de defender e proteger o país de ameaças e agressões todavia, não existe

6
nenhuma política orientada a dotar o país dos meios que o CEDN refere nem para
cumprir com as tarefas estabelecidas pela PDS. Existe, porém, um fosso enorme entre o
legislado e a prática. O CEDN e a PDS empregam em si termos de difícil execução
senão vejamos: 1) que tipo de frota seria ideal para dissuadir potenciais agressores? O
conceito de dissuasão remete-nos, nos dias de hoje, ao uso de uma frota submarina
convencional ou nuclear e/ou complementada por uma frota de superfície poderosa. Tal
uma quanto outra estão atualmente longe das capacidades nacionais. 2) Que tipo de
frota seria ideal para defender o Estado? Ao postular que o Estado adota uma postura
estratégica dissuasora e de carácter defensivo não fica claro se essa defesa é ativa ou
passiva como defendia Herbert Richmond1. Enquanto a defesa passiva implica na
proteção de um objeto, a defesa ativa implica na destruição da ameaça antes que esta
destrua o objeto2. Ora, uma defesa ativa implica na existência de uma frota com navios
com capacidade ofensiva suficientemente capazes de destruir a ameaça. Neste âmbito,
não fica claro se Moçambique iria embarcar numa postura mahaniana de grandes
embarcações ou se iria adotar uma postura da jeune ecole, ou ainda se adotaria
embarcações com capacidade para conduzir uma guerra naval assimétrica visando a
negação do uso do mar3. Qualquer uma destas alternativas induziria o Estado a investir
pesadamente na Marinha de guerra. 3) Que tipo de frota seria ideal para exercer as
funções constabulárias (vigilância e proteção)? Evidentemente, lanchas patrulhas de
casco rígido com reduzida autonomia e barcos insufláveis que predominam hoje na
MGM não são apropriados para a realização das funções constabulárias principalmente
se a intenção é alcançar a ZEE.

Afinal, que tipo de Marinha se ajusta as necessidades de Moçambique? Na nossa


opinião, a definição da frota ideal passa primeiro pela definição de uma estratégia de

1
Vide BAUGH, Daniel A. (1993): Admiral Sir Herbert Richmond and the Objects of Sea Power, in
Goldrick, James e Hattendorf, John B (eds): MAHAN IS NOT ENOUGH: The proceedings of a
conference on the works of Sir Julian Corbett and Admiral Sir Herbert Richmond, Naval War College
Historical Monograph Series, nº10, Naval War College Press, Newport.
2
Para uma melhor leitura destes conceitos vide: HAUSKEN, Kjell e LEVITIN, Gregory (2011): Active
Vs. Passive Defense Against a Strategic Attacker, International Game Theory Review, Issue 1, Vol. 13.
3
A guerra naval implicaria na construção de uma frota capaz de conduzir a guerra nos três espaços
marítimos: a superfície, o submarino e o aéreo. Não menos importante, a guerra naval inclui também a
guerra de minas, a guerra de informação e a guerra anfíbia (COLE, 2007:526-527). Estaria Moçambique
ambicionado a construção de uma frota para a condução da guerra em todos estes cenários?
Eventualmente, o país pode ser capaz de adquirir algumas armas para a realização da guerra em alguns
destes cenários, mas não é previsível a capacidade de aquisição de armas para todos estes cenários. Os
sistemas de armas para a condução da guerra nestes cenários são extremamente caros, de difícil
manutenção e operacionalização, devido a tecnologia de ponta. Ademais, a sua tonelagem é elevada,
requerendo elevados consumos de combustíveis.

7
segurança marítima. Portanto, uma política de investimento naval deve obedecer ao
postulado na estratégia de segurança marítima. É a estratégia que determina os meios e
a frota. Uma definição sobre o tipo de frota que se ajuste as necessidades nacionais
depende por isso, da definição das funções, missões e tarefas a serem desenvolvidas por
essa Marinha. Enquanto não existir uma definição clara sobre as funções que se quer
delegar a MGM através de uma estratégia marítima, não se pode definir com exatidão o
tipo de frota ideal (tamanho ideal).

Na visão da MGM, exposta em documentos apresentados ao governo no âmbito do


CFM e do TASK FORCE 1, o modelo de Marinha adequado para Moçambique é uma
Marinha de duplo uso com funções militares e não militares (segurança marítima e
autoridade pública no mar). Todavia, o conceito de Marinha de duplo uso não nos diz
nada sobre o tipo de frota a ser empregue, limitando-se a informar-nos sobre as funções
que pretende exercer: militares e não militares. Este conceito reserva-se unicamente
para as questões de integração de pessoal e unificação de serviços, partilha de meios,
infraestruturas, logística e processo de formação. Como afirma Nicolaci (2011), esta
fórmula permite (além de ganhos operacionais) uma economia significativa de custos
com pessoal e com infraestruturas e evita a duplicação de meios. Logo, ele diz-nos o
que se pretende poupar mas nada nos diz sobre o que se pretende adquirir enquanto se
poupa. Podemos assumir portanto que a definição do modelo de duplo uso não
representa nem uma estratégia marítima nem uma política de investimento naval.

Na nossa opinião, Moçambique não se pode dar ao luxo de ter várias instituições agindo
de forma independente na garantia da segurança marítima. É simplesmente impraticável
para um país pobre como Moçambique. Urge portanto que se canalize todos os meios
para a MGM. No entanto, Moçambique deve fasear o desenvolvimento da Marinha
consoante os cenários presentes e futuros (a urgência das ameaças de hoje e amanhã). O
fim último é ter uma Marinha capaz de desenvolver todas as funções predefinidas mas
as funções constabulárias são hoje as mais urgentes e importantes. Neste sentido, a frota
deve começar pelo investimento em embarcações patrulhas oceânicos e costeiros,
lanchas de fiscalização, botes de assalto, navios de salvamento que devem ser
distribuídos, em todas as regiões estratégicas (norte, centro e sul). O passo seguinte
deve ser a aquisição de meios para a função eminentemente militar com aquisição de
embarcações como Vedetas, Fragatas, Lanchas de desembarque, draga-minas, lança-

8
minas, torpedeiros, navios de munições que deverão ser exclusivamente localizadas no
canal de Moçambique e no Lago Niassa (Metangula).

Moçambique deve ser capaz de fazer muito com pouco. Mas o fator determinante é a
estratégia: o país deve ser capaz de construir uma Marinha que combine os pressupostos
da Jeune Ecole, com enfoque em embarcações de pequenas dimensões, apropriado para
Marinhas pequenas com ênfase numa estratégia de guerra assimétrica. Uma Marinha
pequena com estas características não teria capacidade de ganhar uma batalha naval mas
teria a capacidade de disputar o comando do mar definido nos termos de Julian Corbett,
principalmente se optasse por métodos indiretos visando perturbar os planos do inimigo.

II- O discurso de securitização como catalisador da segurança marítima e do


investimento naval

O desenvolvimento de uma estratégia marítima e de políticas de desenvolvimento naval


passam primeiro pelo desenvolvimento de um discurso de securitização necessário para
galvanizar apoios e quebrar a resistência sobre os investimentos militares. O primeiro
passo para securitizar um assunto, antes de qualquer medida extraordinária ser tomada,
é a mudança no discurso oficial do estado. Neste sentido, qualquer movimento de
securitização começa por um discurso tendencioso ou sugestivo. Assim, um discurso
mais incisivo, decisivo, categórico e mais determinado que chame todas as forças da
sociedade para o combate ao tráfico ilegal de drogas, armas e pessoas, a imigração
ilegal, a pesca ilegal e a pirataria teria um impacto positivo para a agregar apoio da
sociedade do que os discursos de ocasião que são feitos em pequenos fóruns.

Efetivamente, a securitização de um assunto passa por vários estratagemas desde o


desenvolvimento de um discurso de maior apelo popular, o desenvolvimento de
campanhas na comunicação social, comícios, seminários e workshops. Todos estes
estratagemas procuram convencer a audiência de que o Estado está em perigo eminente
e real que o obrigam a tomar posições e medidas urgentes para mitigar a ameaça.
Portanto, o objetivo final do discurso sobre as ameaças marítimas é convencer ao
público moçambicano de que o Estado precisa investir na Marinha de Guerra. O
discurso de segurança marítima chama a atenção do governo para que tome medidas de
emergência. Mcdonald (2008, p.9-10), defende que a linguagem (discurso) não é
suficiente para estabelecer um movimento de securitização havendo a necessidade de se

9
agregar imagens. No fundo, ele defende que as representações visuais são também
determinantes para estabelecer o movimento de securitização. Através dele, o recetor
pode imaginar o perigo que se avizinha.

A pertinência do discurso de securitização prende-se com a sua utilidade no sentido de


que ele é utilizado para legitimar as ações do Estado, no caso vertente, legitimar o
aumento do investimento na Marinha de Guerra. Na visão da escola de Copenhaga, as
medidas de segurança em relação a uma ameaça devem ser legitimadas pela sociedade,
no sentido de que o Estado não pode adotar medidas de segurança extraordinárias sem
que tenha uma anuência de uma base larga da sociedade (CHARRETT, 2009, p.24).
Enquanto no passado era mais fácil cativar o apoio dos moçambicanos perante a ameaça
da Rodésia, da RSA e da RENAMO, atualmente o cenário é extremamente diferente
pois as ameaças são multidimensionais e mais difusas.

Todavia, do ponto de vista teórico, um tópico se torna de segurança não


necessariamente por causa da existência de uma ameaça real, mas porque ele é
apresentado como uma ameaça. Rudzit defende ainda que os critérios de securitização
são constituídos pela intersubjetividade estabelecida por uma ameaça existencial com
uma suficiente ênfase de que essa ameaça pode ter efeitos ou consequências nefastas.
Segundo o mesmo autor, um tópico somente é securitizado se e quando a audiência o
aceitar como tal (RUDZIT, 2005, p.309). Portanto, o Estado não precisa esperar que a
ameaça se concretize para securitizar um assunto. Para que a população aceite a
securitização, o discurso deverá ser suficientemente convincente e capaz de persuadir a
população (ASPLUND, 2004, p.24). Perante o leque de ameaças é questionável o facto
de Moçambique não estar a conduzir uma „guerra‟ contra estas ameaças.

III- A necessidade de uma estratégia nacional de segurança marítima

Ao apontar objetivamente qual a postura estratégica do Estado, ou seja,


o que será feito para enfrentar potenciais ameaças; o porquê dessa
postura, ou seja, quais os interesses do Estado que estão sendo
defendidos em âmbito regional ou internacional; e, como pretende
conquistar esses objetivos, ou seja, quais as estratégias que serão
desenvolvidas; tornar-se-á claro para a sociedade qual a prioridade e os
esforços sendo realizados e a razão disso. Também, servirá para mostrar
à comunidade internacional o que o Estado considera seus interesses
vitais e o preço que está disposto a pagar para defendê-los ( ROCHA,
2009).

10
Márcio Rocha, sintetiza a importância da estratégia em 4 objetivos essenciais: 1)
clarifica quais os interesses que o Estado quer defender; 2) clarifica os métodos que
serão usados para defender esses interesses; 3) clarifica ao público doméstico sobre as
prioridades de defesa; e 4) clarifica ao público externo sobre a determinação do Estado
em defender esses interesses a qualquer custo. Portanto, podemos assumir que a
estratégia tem como finalidade criar consensos, sustentar políticas, definir prioridades,
aumentar a legitimidade e garantir apoios para os esforços do governo em qualquer
domínio. Consequentemente, para que o Estado moçambicano possa edificar um poder
naval adequado com anuência do público doméstico e internacional, ele deve ser capaz
de criar uma estratégia de segurança marítima.

A importância da estratégia ultrapassa o domínio das perceções pois, ela envolve


também uma noção clara de custo-benefício e de otimização tão essenciais para países
com parcos recursos como Moçambique. Pode-se dizer que a ausência da estratégia
conduz ao desperdício, esbanjamento e prejuízos. A aquisição de embarcações de forma
fortuita, sem o respaldo de uma estratégia é o exemplo mais evidente de desperdício.
Borges Coelho4, defende enfaticamente que „não são as armas que garantem a
segurança. Antes é necessário ter um pensamento estratégico‟ pois, „ter uma visão
estratégica é fundamental‟. Acrescenta ainda que „o pensamento estratégico visa
antecipar e responder as ameaças e a tirar vantagem das oportunidades que emergem. O
caminho não é simplesmente comprar mais barcos.‟

Portanto, ser favorável a uma estratégia de segurança marítima é ser contrário as


medidas ad-hoc que até hoje imperam no domínio de segurança em Moçambique. É ser
contrário as compras de ocasião e é ser contra a dependência em relação a donativos
pois nenhuma estratégia se baseia em donativos e compras de ocasião. A título de
exemplo, as recentes aquisições feitas na França (as embarcações DV15, HMS 35 e
Ocean Eagle) vão contra os princípios que defendemos no presente trabalho, vão contra
os interesses nacionais e não produzem os efeitos desejados. Golbery do Couto Silva,
militar e ministro de Estado brasileiro, expõe de forma clara e concisa a importância do
planejamento estratégico para uma nação ao afirmar que:

O planejamento é de facto o único método de conduzir com eficiência a


política de uma nação, o caminho único para a libertação do empirismo

4
Entrevista citada.

11
e do regime de improvisações dispendiosas e muitas vezes desonestas, o
meio seguro de coordenar vontades e congregar esforços na consecução
de elevados propósitos comuns (…) o planejamento substitui políticas
inconsistentes, mutáveis ao sabor de interesses nem sempre
confessáveis e arquitetadas em conciliábulos secretos (SILVA, 1995,
p.30).

Mais do que nunca, Moçambique tem hoje a necessidade e a oportunidade de


desenvolver uma estratégia de segurança marítima. A descoberta de novos recursos
minerais no canal de Moçambique, a crescente importância do pescado nacional para o
PIB nacional e as ameaças de pirataria sobre a rota de comércio do canal são incentivos
mais do que suficientes para que essa estratégia seja desenvolvida. A pressão exercida
por esses fatores obrigam o Estado a repensar e rever a sua postura militar. Há uma
necessidade de capitalizar esta oportunidade enquanto a conjuntura internacional for
favorável5. Todavia, para que capitalize esta oportunidade, urge que se estabeleçam
consensos nacionais em relação a uma estratégia de segurança marítima e,
principalmente sobre os conceitos de interesse nacional e interesse estratégico. A defesa
e a segurança dos interesses estratégicos de Moçambique afiguram-se como principal
motivo para o fortalecimento da MGM. Para alcançar este objetivo Moçambique deverá
adotar uma estratégia de segurança marítima que garanta pelo menos três condições
principais: 1) melhoria das capacidades de inteligência, vigilância e reconhecimento; 2)
melhoria nas capacidades de engajamento rápido, flexível e profundo; e 3) melhoria das
capacidades de dissuasão e capacidade de suster ataques marítimos.

Borges Coelho6 considera estranho que exista uma estratégia de segurança marítima ao
nível da União Africana (UA) e que exista uma outra estratégia ao nível da SADC mas
ao nível interno não existe nenhuma estratégia. Apesar deste acadêmico ser um grande
defensor dos mecanismos de cooperação internacional ele assume que os Estados
devem desenvolver suas estratégias de segurança e não permanecer na sombra destes
arranjos regionais. Ele acredita que durante algum tempo, as respostas continuarão a ser
nacionais apesar dos desafios serem transnacionais. Advoga ainda que „„no mar existem
direitos e deveres. Temos uma ZEE mas não temos meios de estender nossos deveres
para a proteção daquela zona. Como resultado, o país está em saque‟‟. Borges Coelho

5
Entendemos como conjuntura internacional favorável o engajamento de quase todos os países costeiros,
desde os centrais aos mais periféricos, no desenvolvimento das suas forças navais e o interesse na
segurança marítima. Em palavras mais simples, podemos dizer que a Marinha de guerra e a segurança
marítima são a „moda do momento‟. Na nossa opinião, deixar passar esta moda seria um grande e grave
erro estratégico.
6
Entrevista citada.

12
volta a mostrar um enorme ceticismo em relação as opções políticas atuais ao defender
que, „„se não houver uma estratégia marítima muito depressa isso vai nos custar muito
caro e nós nunca vamos fortalecer Marinha nenhuma‟‟.

De acordo com Hama Thai7, „„Moçambique não se pode dar ao luxo de não desenvolver
um poder naval. O país tem que ser capaz de sustentar o seu sistema de defesa e tem que
contar com suas próprias forças. A cooperação com os países vizinhos é um problema
contextual e situacional que deve ser ultrapassado‟‟. Para ele, até mesmo a cooperação
com atores externos devia passar primeiro pelo desenvolvimento de uma estratégia
nacional de segurança marítima que defina os modelos de cooperação a serem seguidos.
Cooperações ad-hoc, sem o respaldo legal e de políticas públicas previamente estudadas
e aprovadas não contribuem para o fortalecimento da Marinha de Guerra servindo só
como paliativos para a resolução de problemas imediatos.

IV- Passos para formular uma estratégia nacional de segurança marítima

A legislação de defesa e segurança em Moçambique é rica e extensa, com vários


documentos apresentando vários elementos que permitem visualizar a postura
estratégica do país em relação a ameaças de vária ordem, incluindo as ameaças
marítimas. Os mais importantes nesta ordem são a PDS e o CEDN que representa „de
facto‟ a Estratégia Nacional de Defesa e Segurança. Outro instrumento de importante
valor para a formulação da estratégia nacional de segurança marítima é a estratégia
militar. Diferente dos documentos anteriores, a estratégia militar moçambicana não é de
domínio público. Assumimos, com algum risco, que este documento é de consumo
interno das forças armadas e por isso não é publicado8. Sabe-se no entanto que a direção
e execução da Estratégia Militar de Defesa é da competência do Chefe de Estado-Maior
General das Forças Armadas segundo o artigo 8.3.c do Decreto nº 41/2011 que aprova a
Estrutura Orgânica das Forças Armadas. Partindo desta diretiva, podemos assumir que
as estratégias terrestre, aérea e naval são definidas na estratégia militar de defesa. A
existência de uma estratégia naval não substitui a estratégia de segurança marítima pois
reserva-se unicamente às ações militares. Urge portanto que se desenvolva uma

7
Entrevista citada.
8
Neste campo, Moçambique não estaria longe da prática da maior parte dos países africanos. Tratando-se
de um documento de índole operacional e tático faz todo o sentido que seja mantido „no domínio dos
deuses‟. Tal como a estratégia militar, as doutrinas que norteiam o emprego dos três ramos das forças
armadas não são do domínio público.

13
estratégia marítima, que envolva também a estratégia naval9. Esta urgência é bem
definida por Golbery do Couto Silva, quando afirma que „o planejamento da segurança
é um imperativo da hora que passa‟ (SILVA, 1995, p.28).

Fig x. Processo de formulação da estratégia de segurança marítima

Fonte: Integrated Headquarters Ministry of Defence (Navy) (2007, p.2)

Na base de qualquer estratégia de segurança encontramos 3 elementos fundamentais: os


objetivos, os métodos e os meios (BARTHOLOMEES, 2004, p.81). Antes de mais, é
preciso haver clareza em relação aos Objetivos/fins (ends) que se quer alcançar com a
MGM, os Métodos (ways) que se pretende aplicar para alcançar tais objetivos e os
Meios (means) que serão necessários para a aplicação dos métodos definidos. O
planejamento estratégico da Marinha dependerá grandemente da definição destes 3
elementos. Definir métodos sem uma clara definição de objetivos provocará
incompatibilidades e disfunções desnecessárias. Definir meios sem uma clara definição
dos métodos provocará desperdícios e/ou esbanjamento de recursos. A definição dos
objetivos, métodos e meios depende por sua vez de uma definição clara das condições
existentes no ambiente estratégico.

9
Seguindo o pensamento de Corbett, a estratégia marítima deve incorporar dentro de si uma estratégia
naval. Por sua vez, elas devem ser parte de uma estratégia nacional de defesa e não tratados isolados.

14
Ambiente Estratégico

A fase inicial de qualquer planejamento estratégico começa por uma análise do


ambiente estratégico em que o Estado se insere. Márcio Rocha (2009) denomina esta
fase de Diagnóstico Estratégico. Para o autor, o diagnóstico estratégico:

É um processo permanente de monitoração dos fatores existentes no


ambiente externo ao Estado e que podem afetar os interesses
considerados vitais. Assim, o diagnóstico estratégico tem o objetivo de
identificar, caracterizar e dimensionar as ameaças e riscos, tanto no
presente quanto no futuro, e que possam afetar a soberania do Estado e
as condições essenciais para o alcance do desenvolvimento e da paz
social.

Para além do ambiente externo ao Estado, acrescentamos que essa monitoração deve
incluir o ambiente interno. Para o autor, o diagnóstico estratégico permite ainda, avaliar
a capacidade de todos os setores da estrutura da defesa, identificar onde se localizam os
desequilíbrios estratégicos na área de defesa e dimensionar de forma realística e objetiva
as ameaças identificadas. Todo este exercício permite ao Estado priorizar os seus
esforços em termos de capacidades de defesa.

Quadro. Ambiente estratégico


DOMÍNIOS AMEAÇAS E FATORES DE RISCO
Doméstico Aumento da instabilidade política
Aumento populacional
Desemprego
Fraca redistribuição de recursos que origina descontentamento
AMBIENTE ESTRATÉGICO

Aumento do crime organizado


Aumento da pobreza rural e urbana
Aumento da desigualdade social e do descontentamento social
Prontidão populacional para desencadear manifestações
Aumento da imigração ilegal
Aumento do tráfico de drogas e do contrabando
Aumento da pesca ilegal
Fraca capacidade de resposta das instituições de defesa e segurança
Fronteiras marítimas e terrestres porosas e permeáveis
Descoberta de reservas de gás natural na costa moçambicana
Aumento das expetativas em relação aos benefícios do gás
Regional Difusão do fundamentalismo islâmico para África
Difusão do terrorismo em África
Emergência da pirataria no corno de África
Apoio internacional a grupos insurgentes

15
Disputa das potências pelos recursos africanos
Fraqueza militar da maioria dos Estados africanos
Proliferação de Estados fracos
Ingerência externa nos Estados africanos
Aumento do crime organizado transfronteiriço
Altos índices de pobreza
Aumento da imigração ilegal
Disputas territoriais no canal de Moçambique
Internacional Supremacia americana que resulta em intervenções unilaterais
Baixo respeito pelas determinações do conselho de segurança
Aumento da ingerência externa sem o aval das Nações Unidas
Difusão dos princípios da responsabilidade de proteger
Difusão dos princípios da intervenção humanitária
Aumento dos gastos em defesa na Região do Oceano Índico (ROI)
Disputa geopolítica entre potências tradicionais e emergentes na ROI
Difusão do terrorismo a escala global
Difusão do fundamentalismo islâmico no oceano índico e África
Engajamento das grandes potências na guerra contra o terrorismo
Engajamento das grandes potências na guerra contra a pirataria
Crise financeira mundial com impactos nas economias nacionais
Aumento da presença naval das potências no Oceano Índico
Surgimento de novas ameaças (difusas)
Rápida evolução tecnológica dos sistemas de armas e comunicações

Apesar do ambiente regional possuir alguns fatores de risco e ameaças, deve-se explicar
que a região é das mais estáveis no continente africano, com ausência de guerras
interestatais e intraestatais a longa data. Por outro lado, Moçambique não possui
inimigos declarados na região e o regime de segurança estabelecido pelo Órgão para a
Cooperação em Política, Defesa e Segurança da SADC (OCPDS) permite e facilita a
prevenção, gestão e resolução de conflitos de forma pacífica entre os Estados. Ademais,
a assinatura do Pacto de Defesa Mútua entre os Estados membros estabelece com rigor
um sistema de segurança coletiva que favorece a paz e estabilidade regional.

Objetivos

Na estratégia de segurança marítima, o primeiro objetivo estratégico é precisamente


definir os objetivos que o Estado pretende alcançar.

Quadro. Objetivos
OBJETIVOS Proteção das instalações de interesse estratégico no canal de Moçambique (ligadas a
exploração de gás e petróleo)
Proteger e preservar os recursos nacionais contra ameaças
Garantir a livre circulação de bens e pessoas no mar
Proteger e preservar o ambiente
Proteger e preservar o uso do mar pelas comunidades costeiras
Garantir a obediência aos tratados e obrigações internacionais e às leis nacionais
Preservar a soberania e integridade territorial
Defender o Estado das ameaças militares e não-militares
Preservar a segurança nas SLOC's (Sea Lines of Comunications)
Defender o fluxo do comércio marítimo

16
Garantir a segurança dos portos moçambicanos
Garantir a exploração sustentável de recursos marítimos
Fonte: adaptado pelo autor

Métodos

De acordo com Rexrode (2004, p.15-16) Os métodos representam de forma geral o


papel da Marinha de Guerra. A constituição de uma frota deve refletir corretamente a
priorização estratégica dos métodos. Muitas funções da Marinha, suas missões e suas
tarefas podem se sobrepor. Todavia, o objetivo da abordagem funcional da estratégia
marítima é proporcionar uma boa organização e articulação das necessidades navais.
Por isso, a discriminação das funções, missões e tarefas é necessária para identificar as
necessidades da Marinha (REXRODE, 2004, p.24). Booth defende mesmo que a
definição das funções e missões permite uma escolha e uma alocação racional de
recursos para a Marinha pois, permite estabelecer prioridades táticas e financeiras e
permite uma melhor escolha dos sistemas de armas (HU e OLIVER, 1995, p.179).

A estratégia marítima deve ser capaz de sanar o caos e o vazio conceptual que reina na
Marinha moçambicana. Trata-se de uma Marinha pré-moderna que se debate para
sobreviver mas, com ambições pós modernas interessada em contribuir „uma frota
inexistente‟ para engajamentos multilaterais visando a defesa de interesses gerais sem
capacidade de, no mínimo, defender os interesses nacionais como o fazem as Marinhas
modernas10. Trata-se também de uma token navy com grandes dificuldades de realizar
simples ações policiais mas com ambições de defender a ZEE tal como uma Offshore
territorial defence navy, sem um investimento mínimo nesse sentido11. Trata-se de uma
Marinha pequena que reserva para si um papel bélico muito grande que destoa em
grande medida com o ambiente estratégico que o circunda e suas capacidades ao mesmo
tempo que secundariza o seu papel de policiamento contrariamente ao postulado por Hu
e Oliver12 (1995). É uma Marinha que pretensamente pretende desenvolver a guerra

10
Os conceitos de Marinhas pré-modernas, modernas e as pós-modernas foram desenvolvidos por Till
(2013, p.28).
11
Os conceitos de Token navy e Offshore territorial defence navy referem-se a classificação de Grove
(1990, p.236-240)(2014, p.16).
12
De acordo com alguns autores, como Rodrigues (2013, p.2-3), 'a probabilidade de ocorrer um conflito
clássico no mar é bastante baixa'. Mas nenhum deles descarta a hipótese de conflitos que degenerem no
uso da força. Obviamente, perante essa 'sempre presente possibilidade', os estrategas e planeadores navais
jamais deverão ignorar o investimento em meios de combate. O investimento em meios de combate torna-
se necessário também por causa das novas ameaças que, 'embora sem uma natureza militar, são ameaças
cuja prevenção e combate envolvem tecnologias e recursos avançados, normalmente apenas disponíveis

17
naval sem definir os métodos militares que poderá aplicar, se os Mahanianos,
Corbettianos, da Jeune Ecole, de Castex, Richmond ou Stuner. Trata-se de uma Marinha
incapaz de exercer as 3 funções principais definidas por Morris: 1) constabulárias; 2) de
defesa costeira; e 3) de projeção de força ou as definidas por Booth e Grove: 1)
Militares; 2) constabulárias; e 3) diplomáticas. Portanto, a estratégia marítima
moçambicana deve ser capaz de balizar os parâmetros da sua ação mas para tal é
fundamental estudar os principais teóricos do poder marítimo/naval.

Quadro. Métodos (ways) para alcançar objectivos


MÉTODOS USADOS PELA MARINHA DE GUERRA PARA ALCANÇAR
OBJECTIVOS

Funções MILITAR CONSTABULÁRIA DIPLOMÁTICA


Missões 1. Controlo do mar 1. Defesa das fronteiras 1. Negociação
2. Projeção de poder 2. Defesa dos recursos 2. Manipulação
3. Presença Naval 3. Ação de guarda 3. Prestígio
4. Dissuasão estratégica costeira 4. Coerção
4. Imposição da lei e 5. Dissuasão
ordem 6. Sedução
7. formação de alianças

Tarefas 1. Bloqueio 1. Fiscalização 1. Operações conjuntas


2. Guerra de corso 2. Patrulhamento 2. Participação em
3. Defesa do comércio 3. Vigilância e exercícios navais
4. Defesa da costa monitoramento 3. Assistência Humanitária
5. Esquadra em potência 4. Interceção de navios 4. Operações de
6. Batalha naval com imigrantes peacekeeping
7. Operações anfíbias 5. Combate ao tráfico 5. Apoio em desastres
8. Bombardeamento da costa ilícito naturais
9. Negação do uso do mar 6. Combate a pirataria 6. Reforçar sanções
10. Apoio logístico às forças 7. Combate ao terrorismo 7. Visitas de boa Vontade
terrestres 6. Defesa ambiental 8. Demonstrações navais
9. Ofertas navais

Fonte: http://indiannavy.nic.in/about-indian-navy/roles-indian-navy

Moçambique deverá ser capaz de identificar, dentre os vários métodos aqui dispostos,
aqueles que melhor servem o interesse nacional e a partir dai edificar suas forças navais.
Evidentemente, a escolha de um método sobre o outro não significa abdicar para sempre
do uso de outros métodos. A estratégia não é estática. Os métodos deverão ser alterados
de acordo com as necessidades estratégicas (REXRODE, 2004, p.14).

nas forças armadas, e que requerem o emprego de força militar, no que se convencionou designar por
operações “short of war”, de uso limitado de força.'

18
Meios

Antes de qualquer processo de procurement e compra de meios é necessário que exista


uma estratégia clara que defina os objetivos e métodos que esses meios irão
desenvolver. Isso implica também uma revisão doutrinária geral. Dito de outra forma,
armamentos e táticas são determinados pela estratégia, não o contrário. É a estratégia
que determina o tipo de forças desejadas (REXRODE, 2004, p.4). Moçambique não
pode se dar ao luxo de sair para o mercado de armas e comprar qualquer plataforma sem
uma noção clara dos fins que pretende atingir e as funções que pretende dar a esses
meios.

Quadro. Meios possíveis e necessários?


MEIOS FUNÇÃO

MATERIAIS 1. Submarinos 1. Guerra Naval


2. Corvetas 2. Operações anfíbias
3. Torpedeiros 3. Guerra de Minas
4. Draga-minas 4. Patrulhamento
5. Navios patrulha (Oceânicos, Costeiros e 5.Topografia e mapeamento
Ribeirinhos) 6. Fiscalização marítima
6. Lanchas de desembarque 7. Dissuasão estratégica
7. Lanchas de fiscalização 8. Transporte de tropa e
8. Lanchas rápidas de interceção equipamento
9. Navios auxiliares 9. Escolta
10. Navios hidrográficos
INFRAESTRUTURAS 1. Bases navais 1. Construção e reparações
2. Estaleiros navais 2. Reserva estratégica de armas
3. Arsenal naval e de munições
4. Hospitais da Marinha 3. Suporte logístico
5. Escolas navais 4. Alojamento da frota
4. Formação e instrução
TECNOLÓGICOS 1. Sistema de monitoramento por Radar 1. Comando e controle
2. Sistemas de monitoramento via satélite 2. Reconhecimento
3. Sistemas de monitoramento por radio 3. Vigilância
4. Sistemas informáticos 4. Informação meteorológica
5. Sistema Simulador de Guerra Naval 5. Análise de informações de
6. Sistema de Informações sobre o Tráfego Navegação
Marítimo 6. Detetar e rastrear alvos
7. Comunicação
8. Inteligência
Fonte: adaptado pelo autor

Em relação a aquisição das plataformas, moçambique poderá escolher dois tipos de


embarcações: 1) plataformas para executar funções específicas e/ou 2) plataformas
multifuncionais. Dadas as limitações orçamentárias que moçambique enfrenta, o país
deve ser capaz de escolher plataformas que possam exercer várias funções, missões e
tarefas (multifuncionais) e evitar, quando possível, construir uma frota com meios para

19
funções específicas. O ideal é possuir uma Marinha com plataformas desenhadas para
desempenhar funções específicas, o que resultaria na proliferação de várias
embarcações no canal de Moçambique o que beneficiaria o estado. Todavia, há que
ponderar entre o ideal e o possível. Dado o ambiente estratégico que moçambique
enfrenta, com ameaças multifacetadas poderá ocorrer uma justaposição de funções,
missões e tarefas, o que obrigará ao uso de plataformas multifuncionais.

Como parte da estratégia de segurança marítima, deve haver um contínuo e ininterrupto


investimento na construção e modernização de infraestruturas tais como bases navais,
estaleiros navais, arsenais navais, hospitais da Marinha e escolas navais. Moçambique
precisa embarcar também num processo de formação dos seus recursos humanos para
operar e assegurar a manutenção do material adquirido, operar nos estaleiros navais, nas
escolas navais, nos hospitais da Marinha e nas bases navais. A componente humana
deve envolver também fuzileiros navais altamente adestrados e possuidores de
qualificações técnicas.

20
Fig x. Esboço da Estratégia de Segurança Marítima

Fonte: adaptado pelo autor

21
V- Desenvolver a consciência situacional marítima

Fundamental para qualquer estratégia de segurança marítima é a noção do Maritime


Domain Awareness (MDA), hoje normalmente conhecido por Maritime Situational
Awareness (MSA). O MSA/MDA é um conceito que convoca os Estados costeiros a se
informarem sobre todas as atividades que ocorrem no seu domínio marítimo e que
possam afetar a segurança do Estado. De acordo com o National Security Presidential
Directive 41, citado por Watts (2006, p.10),

Maritime Domain Awareness is “the effective understanding of


anything associated with the global maritime environment that could
impact the security, safety, economy or environment of (…). This is
accomplished through the integration of intelligence, surveillance,
observation, and navigation systems into one common operating picture
(COP) that is accessible (…).

Detetar ou localizar ameaças marítimas é um exercício Hercúlio pois vários fatores


naturais e humanos interferem nos instrumentos de deteção. Numa situação de guerra
convencional é mais fácil identificar o inimigo mas numa situação em que o inimigo
opta por meios não convencionais torna-se difícil identificar as ameaças (WATTS,
2006, p.9-10). O MSA/MDA convoca os Estados a usarem vários sistemas de vigilância
para localizar, detetar e monitorar as atividades das embarcações no mar. O uso destes
sistemas é um pré-requisito fundamental para que o Estado tenha um MSA/MDA
funcional, eficaz e eficiente capaz de detetar, monitorar e seguir os movimentos das
embarcações consideradas inimigas (WATTS, 2006, p.12). Atualmente, Moçambique
usa vários sistemas de vigilância independentes de acordo com a lógica sectorial.

Fig. Sistemas de vigilância marítima usados por Moçambique

22
A fraca capacidade em meios aéreos não permite o uso constante e rotineiro da
vigilância aérea. Urge portanto que se invista nesses meios para complementar os outros
mecanismos em uso. A componente aérea, permite uma maior cobertura quando
comparado com os meios navais. Para além destes mecanismos de coleta de informação,
vários outros mecanismos podem ser usados desde a informação adquirida pelas
agências de inteligência, operadores marítimos privados, informação coletada a nível
regional, entre outros. O objetivo último é identificar a ameaça antes que ela se
concretize. De acordo com o National Strategy for Marttime Security dos EUA (2005),
o MDA é essencial para garantir a segurança do domínio marítimo pois:

O conhecimento sobre as capacidades, as intenções, métodos, objetivos,


fins, ideologia, estrutura organizacional e dos fatores que influenciam o
comportamento de um adversário, são usados para analisar a força do
adversário, suas vulnerabilidades e seu centro de gravidade. Tal
conhecimento é essencial para apoiar na tomada de decisão sobre o
planeamento, identificação das necessidades, priorização sobre a
alocação de recursos e execução de operações de segurança marítima.

Para um eficaz e efetivo MDA é necessário que todas as agências e instituições que
operam no domínio marítimo tenham um certo grau de unidade de ação, cooperação e
integração. Deve existir uma estrutura de comando e controlo capaz de agregar e
sintetizar toda a informação colhida (WATTS, 2006, p.1). Isso implicaria por exemplo
que a MGM coopera-se com a polícia costeira, fiscalização marítima do ministério das
pescas, INAMAR, o Instituto do Mar e Fronteiras, entre outros. O estabelecimento do
SAM seria o mais adequado para a efetivação do MSA/MDA.

Fig X. Abordagem integrada centrada no Sistema de Autoridade Marítima13

13
Outros instituições de grande importância que devem ser integradas são: Os serviços de imigração,

23
VI- Políticas públicas para financiar a Marinha de Guerra

Tanto a formulação estratégica quanto o planejamento estratégico não conduzem por si


sós ao fortalecimento da Marinha de Guerra. Estes instrumentos devem ser
complementados por políticas públicas específicas na forma de programas e planos de
ação. Serão essas políticas públicas que provirão os nutrientes necessários para que a
estratégia seja efetivada. Do mesmo modo, para que qualquer discurso de securitização
seja considerado eficaz, ele deve culminar com tomada de medidas extraordinárias que
possam eliminar as ameaças que recaem sobre o objeto securitizado. Essas medidas
extraordinárias podem e/ou devem ser sustentadas por políticas públicas específicas. No
domínio das políticas públicas essenciais ao fortalecimento da Marinha de Guerra
destacamos as políticas direcionadas para a aquisição de meios navais e para a
reabilitação e/ou reconstrução das suas bases navais. Programas brasileiros como o
PAEMB, o PROSUB e o PROSUPER podem servir de exemplo para a formulação das
políticas públicas moçambicanas.

24
Apesar do Regulamento sobre Equipamento e Armamento das Forças de Defesa e
Segurança estabelecido pelo Decreto nº 34-2007 não explicitar a necessidade das
decisões sobre importações de equipamento passarem por uma aprovação do legislativo
torna-se cada vez mais evidente que a opinião pública nacional, os partidos políticos, a
mídia e a sociedade civil começam a exercer um controlo cada vez mais cerrado sobre
as aquisições militares. As recentes „aquisições‟ de aviões de guerra (6 caças MiG-21
„Fishbed‟ e 2 caças MiG-21UM 'Mongol-B') e de 6 navios patrulha na França
encomendados à Construction Mecanique de Normandie (3 Ocean Eagle e 3 HS-1),
provocaram um enorme alvoroço, discussões e manifestações de repúdio com
repercussões domésticas e internacionais graves14. Alguns países doadores ameaçaram
cortar na ajuda externa à Moçambique enquanto outros exigiram explicações ao
governo moçambicano. A nível doméstico a pressão foi de tal sorte que o então
Ministro da Defesa, Filipe Nyusi foi forçado a apresentar uma explicação pública sobre
a aquisição dos MiG no qual afirmou que estes aviões não eram uma aquisição nova
mas sim o resultado de um processo de revisão e modernização. De qualquer modo,
Moçambique teria adquirido dois Antanov An 26 B de segunda mão (remanufaturados)
na Ucrânia (A VERDADE, 2014) (LUSA, 2013).

O fator a reter é que o escrutínio da sociedade sobre os investimentos militares


aumentou de tal sorte que o Estado não tem a mesma liberdade de fazer aquisições sem
que apresente razões, indique a origem dos financiamentos e explique a necessidade dos
armamentos. Segundo William Moreira, o processo de democratização, estimulou uma
maior participação da sociedade nos temas ligados à defesa (Moreira, 2011:128). Na
nossa opinião, o único meio de ultrapassar esta resistência, fora uma campanha bastante
ativa de securitização é a adoção de políticas públicas concertadas de apetrechamento
militar em todas as suas vertentes (compra de equipamento, construção e reabilitação de
infraestruturas, etc). O procurement de defesa deve ser reformulado para que seja
transparente. Dado que a aquisição de equipamento para as forças de defesa e segurança
obedece à programação militar (Artigo 9 do Decreto nº34/2007), torna-se fundamental a
aprovação e/ou publicação de uma lei de programação militar que, como defende
Moreira (2011, p.137-138), „assegure a regularidade de dotações orçamentárias para
projetos estratégicos de defesa‟. Tal como o autor, defendemos que esta seria „uma

14
Na verdade, os Mig 21 estavam em processo de modernização na Roménia sob a responsabilidade da
empresa Romena Aerostar. O maior foco das manifestações de repúdio foi centrado nas embarcações
adquiridas na França que, segundo várias fontes, não

25
medida fundamental num sistema democrático‟ onde existe maior pressão para a
transparência administrativa.

Sendo a componente financeira, aquela que mais polémica cria, urge que se adotem
políticas públicas específicas para o financiamento dos vários projetos e programas da
Marinha. Conhecidas as limitações orçamentárias do Estado moçambicano, o desafio é
encontrar um modelo de financiamento militar que não prejudique outros programas
sociais e de desenvolvimento. Sem a definição desse modelo, o direcionamento de
recursos financeiros para as forças de defesa e segurança provocará uma grande
controvérsia entre os moçambicanos. Alguns modelos podem ser seguidos como são os
casos do modelo Chileno, Russo e Egípcio/Nigeriano.

Pela Ley Reservada del Cobre, aprovada em Outubro de 1958 (Lei N° 13.196), o Chile
definiu a canalização de uma percentagem (10%) das receitas da venda de cobre para a
aquisição de bens militares. Como resultado dessa lei, „as forças armadas chilenas
transformaram-se nas forças militares mais capazes da região, tanto no treinamento,
composição da força, logística e na qualidade geral de seu material‟15. Apesar de
envolta em polémica e altamente criticada esta lei possui um grande mérito: permitiu o
fortalecimento das forças armadas chilenas16. Uma lei com o mesmo intuito poderia ser
aprovada pelo parlamento moçambicano em relação as receitas da extração mineira e do
gás natural no canal de Moçambique, desde que tomadas as devidas precauções para
que vigore o controlo democrático sobre todos os procedimentos: desde os depósitos de
dinheiro até as aquisições militares.

O modelo Russo, definido e apresentado na Tese de doutorado de Vladimir Putin


intitulada Strategic Planning of Mineral Resources Replenishment at a Regional Level
in Market Economy (St. Petersburg and Leningrad Region), de 1997 e no artigo
intitulado Mineral Natural Resources in the Strategy for Development of the Russian
Economy (1999) também representa uma via que pode ser seguida por Moçambique17.

15
Wikipédia: Ley Reservada del Cobre, http://en.wikipedia.org/wiki/Ley_Reservada_del_Cobre,
acessado em 14.03.2015.
16
Pelo facto de ser secreta, esta lei foi sempre cercada por polémicas e críticas. Um dos motivos que cria
polémica é que o deposito de dinheiro é feito em contas secretas das forças armadas não sendo por isso
possível fazer-se o controlo democrático sobre o seu uso. O parlamento não tem acesso a estas contas.
Vide: Wikipédia: Ley Reservada del Cobre, http://en.wikipedia.org/wiki/Ley_Reservada_del_Cobre,
acessado em 14.03.2015.
17
Vide: The Atlantic. Putin's Thesis (Raw Text), 20 de Agosto, 2008. disponível em
http://www.theatlantic.com/daily-dish/archive/2008/08/putins-thesis-raw-text/212739/, acessado em

26
O modelo russo defende o uso dos recursos minerais e das matérias-primas para o
alavancamento da economia em indústrias e sectores estratégicos. A mesma filosofia
orienta-se para o financiamento da indústria de defesa e das forças armadas como um
todo. Diferente do modelo chileno que estabelece percentagens, o modelo russo defende
o aumento da alocação de recursos em função do desempenho económico global.

Outro modelo de igual valor, adotado por vários países (Egipto, Nigéria, etc) é a criação
de empresas sob égide das forças armadas que possam participar em negócios públicos
e privados, deter ações em empresas públicas ou privadas ou ainda desenvolver
atividades comerciais, de exploração mineira, turísticas ou de outra índole. A criação
deste tipo de empresas reduz a dependência das forças armadas em relação ao
orçamento do Estado e favorece o investimento autónomo. Diga-se, a bem da verdade,
que todos estes modelos expostos são altamente criticados pelos países ocidentais mas
representam uma solução viável para países da periferia. Assumimos que os problemas
inerentes a qualquer um destes modelos podem ser sanados com a criação de legislação
apropriada.

Cabe ao Estado apresentar respostas adequadas as inquietações da sociedade e da


comunidade internacional. O Estado deve ser capaz de explicar a combinabilidade da
agenda do desenvolvimento e a agenda de segurança. O Estado deve ser capaz de
garantir maior participação da sociedade no escrutínio das atividades militares
providenciando relatórios, aumentando a prestação de contas nos órgãos legislativos,
permitindo um maior controlo civil sobre os militares, permitindo vistorias dos órgãos
civis nas instalações militares, etc.

Devido a fraqueza económica do país, vários analistas defendem que o país deve basear
a sua segurança nos conceitos de segurança colaborativa, segurança cooperativa,
segurança coletiva e na participação em regimes de segurança. Na lógica deste discurso
está a ideia de que Estados incapazes devem abrir as portas e cooperar com Estados
capazes para o bem da sua segurança. Evidentemente que estes conceitos devem estar
na agenda do Estado moçambicano pois, fazendo parte da SADC e sendo parte
integrante do OPDS, Moçambique deve estar preparado para cooperar. Ao

14.03.2015. e, OLCOTT, Martha Brill. The energy Dimension in Russian Global Strategy: Vladimir
Putin and the geopolitics of oil, The James Baker III Institute for Public Policy of Rice Universisty,
2004.

27
sublinharmos a passagem anterior pretendemos demonstrar que a cooperação é uma
„faca de dois gumes‟ onde cada uma das partes opera em favor da outra. Qualquer
sistema de segurança colaborativa, cooperativa, coletiva e os regimes de segurança
implicam na „congregação de forças‟ e se Moçambique não possuir forças para agregar
no esforço de cooperação será visto como um sub-participante usufruindo do free-ride
(boleia). Investir na Marinha é, por isso, um imperativo.

VII- O Brasil como possível parceiro estratégico

A escolha do parceiro estratégico implica acima de tudo uma análise aturada das
implicações estratégicas que podem advir dessa mesma parceria. Cálculos estratégicos
são fundamentais antes que se identifique o parceiro ideal. Acima de tudo, é necessário
analisar 5 fatores: 1) o histórico de envolvimento em parcerias estratégicas do parceiro
escolhido; 2) as capacidades e competências militares objetivas do parceiro escolhido;
3) o nível de isenção em relação aos assuntos domésticos moçambicanos; 4) o histórico
de intervencionismo em outros Estados; e 5) as capacidades financeiras do parceiro em
questão. O processo de sondagem pelo melhor parceiro deverá passar pelo crivo da
filtragem.

Do role de elementos indicados acima, o Brasil encaixa-se na perfeição para o


estabelecimento de uma parceria com Moçambique. Em relação ao primeiro ponto, o
Brasil tem demonstrado um engajamento positivo no fortalecimento das capacidades
navais de vários Estados africanos como a Namíbia e Angola. Desta parceria resultados
positivos têm-se registado no desenvolvimento da Marinha namibiana que atualmente é
uma das melhor organizadas e desenvolvidas da África Austral. O engajamento
brasileiro na cooperação com a Namíbia iniciou em 1994 depois da assinatura do
primeiro acordo de cooperação naval e prevalece até hoje. Hoje, é inegável o alto nível
de preparo da Marinha namibiana. As relações entre a Marinha do Brasil (MB) e a
Marinha Namibiana são invejáveis e partem desde a formação de oficiais e praças
militares em escolas brasileiras, treinamento e formação de fuzileiros na Namíbia,
participação em exercícios conjuntos, estágio de militares namibianos em embarcações
brasileiras até a doação e venda de navios18.

18
No total, O Brasil e a Namíbia assinaram 3 acordos militares a saber: Ministério das Relações
Exteriores. Acordo de Cooperação entre o Governo da República da Namíbia e o Governo da

28
A partir de 2010, com a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica na Área de
Defesa entre Angola e Brasil, as relações entre as duas nações em termos de defesa tem
crescido muito, principalmente no domínio naval. A MB abriu, tal como fez em relação
a Namíbia, várias linhas de cooperação com a Marinha Angolana, que vem resultando
no envio de vários angolanos para as academias brasileiras e o apoio brasileiro para a
reestruturação de infraestruturas em Angola (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES, 2010). Com a assinatura em 2014 do Memorando de Entendimento
para Cooperação entre os dois países para a ativação do Programa de Desenvolvimento
do Poder Naval de Angola (PRONAVAL), o Brasil volta a mostrar um engajamento de
peso no desenvolvimento naval dos países da SADC. As recentes aquisições navais de
Angola e a perspetiva de construção de um estaleiro naval em Angola, com ajuda
brasileira devem constituir um incentivo para o governo de Maputo. Angola comprou 7
navios patrulha e terá assessoria brasileira para a construção de um estaleiro, 4 dos
navios serão produzidas no Brasil e as restantes serão produzidas em Angola
(Ministério da Defesa do Brasil, 2014). Segundo Taulois (2013, p.70-77), não há
restrição para a transferência de tecnologia ou de conhecimento de construção do
Navio-Patrulha Classe "Macaé", e de outros produtos, para o Estado angolano. Portanto,
Angola vai tirar proveito, não só dos meios disponibilizados pelo Brasil como também,
irá alavancar a sua indústria naval proporcionando maior autonomia e independência ao
país19.

Hoje, é mais do que evidente o interesse no investimento naval por parte dos principais
países costeiros da SADC (desde Angola, Namíbia, África do Sul20), cada um destes
países procura parceiros ideais para os seus programas, e Moçambique, Que passos
estará o país a tomar? Que parceiros são ideais? Na nossa opinião, o Brasil é um
parceiro ideial. Porque os interesses moçambicanos estão salvaguardados com a
cooperação com o Brasil? Em jeito de resposta diríamos: 1) o Brasil não disputa pela

República Federativa do Brasil, Windhoek, 04 de março, 1994; Ministério das Relações Exteriores.
Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Namíbia
sobre Cooperação Naval, Windhoek, 03 de Dezembro, 2001; Ministério das Relações Exteriores.
Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Namíbia
sobre Cooperação no Domínio de Defesa, Windhoek, 01 de Junho, 2009.
19
Para uma leitura do tipo de apoio que o Brasil pode providenciar a Angola vide na íntegra a dissertação
de: TAULOIS, Pedro Luiz Gueiros. O poder naval brasileiro e a segurança marítima de Angola.
Oportunidades para a Marinha do Brasil, Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, 2013.
20
De acordo com várias fontes, a África do Sul está neste momento a investir na aquisição de novas
plataformas no mercado externo e ativou um programa de construção de novas embarcações
internamente.

29
hegemonia no oceano índico; 2) o Brasil não procura exercer a governação sobre o
canal de Moçambique ou melhor, não possui pretensões de domínio militar; 3) o Brasil
nunca esteve envolvido na política moçambicana e é equidistante de todas as disputas
nacionais; 4) o Brasil mantem tradicionalmente uma política de respeito à soberania dos
estados africanos, de não intervenção e não ingerência nos processos políticos internos
(Brasil, 2010:54-55); 5) a primeira área de interesse estratégico brasileiro é o atlântico
sul; 6) o Brasil possui interesses comerciais bastante fortes em Moçambique (através de
mineradoras como a vale) e terá interesse na segurança do canal de Moçambique para a
viabilização dos seus interesses comerciais21. Portanto, os interesses moçambicanos são
salvaguardados pela equidistância brasileira em matéria de interesses estratégicos (no
sentido político-militar do termo) sobre o canal de Moçambique e pela aproximação
comercial entre os dois países. Além disto, o Brasil é um dos principais atores da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, a qual Moçambique também
pertence. Essa Comunidade, criada oficialmente em 1996, embora não tivesse entre seus
objetivos iniciais a cooperação na área de defesa, acabou incluindo-a em 2000 e, desde
então, várias iniciativas nesse campo foram encetadas entre seus Estados-membros.

Para além dos elementos expostos acima, Vizentini (2008, p.107-111), defende que o
governo brasileiro vem buscando alianças fora do seu hemisfério, desde o governo de
Lula da Silva, de modo a ampliar o seu poder e influência no sistema internacional.
Nesta senda, a solidariedade com a África tornou-se central. Para o autor, o Brasil busca
cooperar nos „espaços não ocupados‟ e vem fomentando a cooperação sul-sul através de
parcerias estratégicas. Por sua vez, Saraiva (2002, p.5,15), defende que o Brasil procura
aproveitar „„brechas estruturais‟‟ para se inserir no sistema internacional e a África se
apresenta como uma porta para o Brasil alcançar esse desiderato. Para o autor, a
marginalização da África nas relações internacionais é uma oportunidade para o Brasil
que possui uma fraca presença no mundo em comparação com outras potências. Em
resposta a este engajamento brasileiro, Cervo (2006, p.295), defende que convém aos
países africanos, „„ampliar seu envolvimento com outros povos para aliviar a
dependência que os prende ainda às antigas metrópoles e que traz à lembrança a era
colonial‟‟. Para ele, „„a opção por laços estreitos com a América do Sul, o Mercosul e o
Brasil desponta como alternativa racional‟‟. Na mesma direção aponta Freixo (2009), ao

21
Para uma melhor visão da política externa brasileira em relação a África e das vantagens que o país
possui no trato com os países africanos „no geral‟, vide o Plano Brasil 2022 pags 54-55 (BRASIL, 2010).

30
afirmar que desde a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder, com as eleições
presidenciais de 2002, a África, em particular, e os países do sul, em geral, voltaram a
ser áreas de grande interesse para os formuladores da política externa brasileira, visto
que ao eleger a luta pela reestruturação da ONU e peça conseqüente obtenção pelo
Brasil de um assento permanente no Conselho de Segurança como uma de suas
prioridades, o governo brasileiro passou a buscar apoio internacional para tal
reivindicação, principalmente junto aos países da África, Ásia e América Latina.
Portanto, Moçambique pode e deve aproveitar a oportunidade de estreitar laços com o
Brasil pois:

 A nova agenda da política externa brasileira, cada vez mais virada para as
relações sul-sul, com um pendor africano bastante visível se apresenta como
uma oportunidade imperdível para vários países africanos interessados em
estabelecer relações mutuamente vantajosas. Com efeito, a Estratégia Nacional
de Defesa brasileira - END (2012) e a Política Nacional de Defesa – PND (2005,
2012), defendem a intensificação da cooperação e do comércio com os países
africanos e com a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). A PND
é mais incisiva ao defender que „O Brasil atribui prioridade aos países da
América do Sul e da África, em especial aos da África Austral e aos de língua
portuguesa, buscando aprofundar seus laços com esses países‟ (BRASIL, 2005,
2012ª, 2012c);
 A indústria de defesa brasileira, reanimada e revigorada em 2008 pela END
busca clientes externos e oferece materiais de guerra modernos, de qualidade
internacional reconhecida, a preços baixos comparados com os praticados pelos
principais produtores de armas (EUA, Rússia e Europa). Para um país como
Moçambique, que busca soluções baratas e simples, o Brasil é uma opção a ter
em conta. A END (2008, 2012) defende a necessidade da indústria brasileira de
materiais de defesa competir em mercados externos para aumentar a sua escala
de produção. Neste processo, o Estado brasileiro se compromete a ajudar as
empresas a conquistarem clientela estrangeira (BRASIL, 2008, 2012ª). De
acordo com o Livro Branco da Defesa Nacional (LBDN), o Ministério da
Defesa, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

31
(APEX) estão buscando segmentos de mercado onde a indústria de defesa
brasileira possa ser competitiva (BRASIL, 2012b);
 As projeções de crescimento do Brasil colocam este país como uma das
principais potências do século XXI. Atualmente, sendo 7ª economia mundial, o
Brasil já representa um polo de oportunidade para os PALOP terem um
interlocutor de peso como aliado e parceiro na edificação das suas economias e
seus exércitos. A substituição gradual e natural do engajamento português no
espaço da CPLP já iniciou e será mais evidente até o final do século.
 Moçambique pode tirar proveito do financiamento disponibilizado pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Economico e Social (BNDES), que está
disponível, perante acordos específicos, a financiar aquisições militares.

A inauguração das novas relações afro-brasileiras a partir do governo de Luís Inácio


Lula da Silva deve ser aproveitada pelos Estados africanos com muito afinco. Todavia,
uma vez mais, é necessário que os Estados africanos, principalmente Moçambique
clarifique primeiro o que entende por cooperação. Se na filosofia moçambicana,
predominarem os verbos „ajuda‟ e „auxílio‟ centrados no conceito de „doação‟, a
cooperação com o Brasil poderá redundar num fiasco total pois aquele país busca
também contrapartidas comerciais em termos de mercados mas, se a filosofia
moçambicana privilegiar o uso daqueles verbos, associados aos conceitos de
colaboração, execução conjunta e benefícios mútuos, existem grandes chances da
cooperação trazer resultados positivos para ambos países.

VIII- Principais eixos de cooperação

8.1. A cooperação para o desenvolvimento de estratégias e políticas públicas de


desenvolvimento naval

Uma das áreas de cooperação que Moçambique poderá aproveitar do Brasil é a da


formulação estratégica de políticas públicas em virtude da grande experiência que
aquele país possui nestes domínios. Esta cooperação poderá centrar-se em duas áreas
específicas:

O desenvolvimento de estratégias de securitização - O Brasil desenvolveu uma


estratégia de securitização consensual formulada em torno do conceito da Amazónia

32
Azul. Cunhada pelo Almirante Roberto de Guimarães Carvalho em 2004, o termo
Amazónia Azul foi usado pela Marinha Brasileira para alertar a sociedade brasileira e o
poder político sobre a necessidade de defender o espaço marítimo contra ameaças
externas22. Este termo iria ganhar mais vigor com as descobertas de petróleo na camada
pré-sal, que resultaram num aumento exponencial das reservas brasileiras de petróleo
dos 14 bilhões de barris para 33 bilhões, com possibilidades de aumentar para 100
bilhões. O facto de vários países não terem assinado a CNUDM levou o Brasil a
desenhar uma estratégia de securitização do mar para fortalecer sua Marinha de Guerra
de modo a prevenir que qualquer predador reivindique os recursos brasileiros. Vários
artigos e documentos oficiais surgiram em defesa do fortalecimento naval para a defesa
da Amazónia Azul e do Atlântico Sul23. Moçambique encontra-se hoje numa situação
similar a brasileira depois da descoberta de imensas reservas de gás natural no canal de
Moçambique. Um discurso de securitização adotado em moldes similares ao brasileiro
seria uma mais-valia para a Marinha de Guerra. Para tal, é necessário que Moçambique
busque no Brasil ensinamentos sobre „como securitizar‟.

Desenvolvimento de políticas, programas e projetos - Em decorrência dessa estratégia


de securitização, o Brasil desenvolveu várias políticas públicas direcionadas ao
fortalecimento naval. O primeiro passo foi dado com a reformulação da Política
Nacional de Defesa (PND) em 2005; o segundo passo foi dado com a aprovação da
Estratégia Nacional de Defesa (END) em 2008 e o terceiro passo foi dado com a
aprovação do LBDN em 2012. Resultante da END, foi desenvolvido o Plano de
Articulação e Equipamento da Defesa (PAED) para apetrechamento dos três ramos das
forças armadas. Do PAED, resultou em 2009, o Plano de Articulação e de Equipamento
da Marinha do Brasil (PAEMB), que prevê o fortalecimento da MB, entre 2011 e 2030,
com projetos de curto, médio e longo prazo. Por sua vez, para a renovação da frota de
22
De acordo com Wiesebron (2013:108), 'Para salientar a importância do mar, o Ministério da Educação,
em colaboração com a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), elaborou dois livros:
“O Mar no Espaço Geográfico Brasileiro” e “A Importância do Mar na História do Brasil”, publicados em
2005 e 2006, respetivamente (...) para a distribuição aos professores no ensino fundamental e médio.'
Percebe-se portanto que o ato de securitização não só esteve circunscrito a Marinha.
23
Para uma leitura global das razões do investimento na Marinha Brasileira vide: OLIVEIRA, Eliézer
Rizzo. A Estratégia Nacional de Defesa e a Reorganização e Transformação das Forças Armadas,
Interesse Nacional – abril/junho 2009; OLIVEIRA, Lucas Kerr de. Geopolítica do Atlântico Sul na Era
do Pré-Sal: Desafios e Perspetivas Para O Planejamento da Defesa da Soberania das Águas
Jurisdicionais Brasileiras, Trabalho submetido e apresentado no 4º Encontro Nacional da Associação
Brasileira de Relações Internacionais – ABRI, de 22 a 26 de julho, Belo Horizonte, 2013; Pré-Sal - o
Papel da Marinha do Brasil na Defesa do Patrimônio e Alocação de Recursos para essa Finalidade,
3º Ciclo de Palestras sobre Defesa Nacional, Apresentação para a Comissão de Relações Exteriores e
Defesa Nacional do Senado Federal.(PPT).

33
superfície da Marinha do Brasil foi estabelecido o Programa de Obtenção de Meios de
Superfície (PROSUPER), apresentado ao governo em Outubro de 2010 e cujo prazo de
execução ficou estabelecido em 12 anos (WIESEBRON, 2013, p.112-116). Quanto a
frota submarina, foi reativado o Programa de Desenvolvimento de Submarinos
(PROSUB). Para a projeção estratégica, foi estabelecido o Programa de Obtenção de
Navios-Aeródromos (PRONAE). Estes três programas, apresentam de forma detalhada
todo o investimento que será feito na Marinha, apresentando números de embarcações e
as respetivas características. Vistos na vertente de políticas públicas, tanto o PROSUB
quanto o PROSUPER, permitem que os beneficiários da defesa e segurança (o povo
brasileiro) visualizem e monitorem os esforços do Estado em prol da sua segurança.
Esta abertura elimina a política de secretismo que envolve as aquisições militares e
garante a transparência dos gastos públicos.

Acrescido aos fatores acima expostos, tanto o PROSUB quanto o PROSUPER buscam
um grau de nacionalização tecnológica baseada na produção interna de meios de defesa
o que permitirá ultrapassar a postura de aquisições sem transferência de tecnologia;
exigem a transferência de tecnologia das empresas estrangeiras que queiram participar
nos projetos; defendem a construção de estaleiros navais no Brasil e defendem o uso de
tecnologia e matérias-primas nacionais (BRASIL, 2008). Para além disso, todos os
stakeholders e clientes das políticas públicas de defesa e segurança desenvolvidas são
envolvidos na implementação e avaliação dos projetos. Para além destas políticas
centradas na Marinha, o Brasil desenvolveu 4 políticas que visam o fortalecimento geral
das Forças Armadas: a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de Defesa;
a Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID), a Política de Obtenção de Produtos
de Defesa e a Política Nacional de Exportações de Produtos de Defesa (PNEPRODE)
(Vide Livro Branco da Defesa Nacional). Como se pode ver, as aquisições bélicas
brasileiras são programadas e de domínio público, não existe nenhum secretismo.
Perante tamanha clareza e transparência, restam poucos espaços para a resistência
popular. A experiência brasileira nestes domínios poderá ser de uma utilidade extrema
para Moçambique como modelo a seguir.

8.2. Cooperação para o desenvolvimento de capacidades (capacity building)

A cooperação estratégica para o desenvolvimento de capacidades (capacity building)


entre Brasil-Moçambique encontra respaldo em dois documentos importantes: 1) o

34
Protocolo de Cooperação dos Países de Língua Portuguesa no Domínio da Defesa
assinado em 15 de Setembro de 2006, que tem como um dos enfoques principais o
desenvolvimento das capacidades internas com vista ao fortalecimento das Forças
Armadas dos países da CPLP e que convida os Estados da CPLP a promoverem uma
maior cooperação na vertente doutrinária, operacional e logística, do planeamento,
conduta e avaliação e condução de exercícios conjuntos (CPLP, 2006); e 2) o Acordo
entre a República Federativa do Brasil e a República de Moçambique no Domínio da
Defesa, assinado em 26 de março de 2009, cujo enfoque destacamos a cooperação em
apoio logístico, aquisição de produtos e serviços de defesa, treinamento e instrução
militar e a colaboração em equipamentos e sistemas de defesa24 (MINISTÉRIO DAS
RELAÇÕES EXTERIORES, 2009).

O interesse brasileiro para a efetivação destes acordos é inquestionável. Várias


comitivas brasileiras escalaram Maputo para estreitar os laços de cooperação e firmar
planos e programas que culminariam na realização plena dos acordos acima citados.
Várias ofertas foram disponibilizadas a MGM e as forças armadas no geral mas, como
se disse no início, na contraparte moçambicana verifica-se uma verdadeira parálise,
donde resulta que, até o momento, Moçambique tira pouco proveito das potencialidades
e oportunidades oferecidas pelo Brasil. Vejamos as principais áreas de cooperação
estabelecidas nos dois documentos supracitados:

 Formação, participação em cursos, treinamento e instrução militar

De acordo com Netto25, a área de formação e treinamento é uma das áreas de grande
oportunidade de cooperação. Normalmente esta cooperação está dependente das
demandas da MGM e das ofertas da MB. Em relação as demandas, Moçambique vem
cortejando o Brasil para que este país ofereça vagas para determinados cursos
ministrados nas principais academias militares brasileiras. A título de exemplo, em
2014, a MGM solicitou vagas permanentes nos Cursos de Estado-maior para Oficiais
Superiores (C-EMOS) e para oficiais intermediários (C-EMOI) e duas vagas para o
Curso de formação de oficiais da Escola Naval. Moçambique solicitou também que
docentes das academias militares brasileiras possam apoiar na implantação de cursos

24
De acordo com Júlio Teodorico Nascimento Netto, adido militar brasileiro em Maputo, entrevistado em
18 de Setembro de 2014, até a data da entrevista, o acordo de cooperação militar assinado em 2009 ainda
não tinha sido aprovado pelo governo moçambicano.
25
Entrevista citada.

35
nas academias militares moçambicanas. Um exemplo desse pedido é o pedido de apoio
para implantação do Curso de Estado-Maior para Oficiais da MGM a ser ministrado no
Instituto Superior de Estudos de Defesa (ISEDEF). O ISEDEF tem demonstrado
interesse em ter oficiais brasileiros no corpo docente da instituição como acontece
atualmente com portugueses. Todavia, para que tal intercambio se efetue é necessário
um pedido formal do Ministério da Defesa de Moçambique a sua contraparte brasileira.

Em relação as ofertas, a situação não é tão animadora pois várias vagas disponibilizadas
pelo Brasil ficam sem ser preenchidas26. Tanto a Marinha, através da Escola de Guerra
Naval (EGN) e da Escola Naval (EN); o exército, através da Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN), o Instituto Militar de Engenharia (IME) e demais escolas
especializadas; e a Força Aérea, através da Academia da Força Aérea (AFA) e outras
escolas especializadas possuem vagas anuais para vários cursos com abertura para o
intercâmbio com países da CPLP. De acordo com Netto, existe uma morosidade por
parte das autoridades moçambicanas na indicação dos homens a serem enviados
resultando muitas vezes na perda das vagas disponibilizadas. Alguns cursos oferecidos
pela MB são: Curso especial de medicina de submarino e escafandria para oficiais,
Curso expedito de emergências em medicina submarina, Curso espacial de enfermagem
em medicina hiperbárica, Curso expedito de enfermagem operativa para praças, Cursos
de formação de SD-FN (Soldados Fuzileiros Navais), Curso de aperfeiçoamento de
oficiais do CFN (Corpo de Fuzileiros Navais) (CAOCFN), Curso de especialização de
guerra anfíbia para oficiais FN (C-Espc-GAnf), Cursos de especialização de infantaria
(C-Espc-IF), Curso de Habilitação a sargento FN (C-Esp-HabSG), Curso de
aperfeiçoamento em infantaria (C-Ap-IF), Curso de formção de oficiais para Marinhas
amigas (CFOMA) e, o Curso de controle do tráfego Marítimo. Nota a reter é o facto do
Brasil pagar todas as custas da formação, através da Agência Brasileira de Cooperação
(ABC), fator que alivia a despesa da MGM. Outra nota a reter é o facto de alguns cursos
deixarem ao critério da MGM a quantidade de vagas desejadas27.

Outros cursos de interesse comum incluem a formação na área de engenharia militar, a


capacitação na área de operações de manutenção da paz e a capacitação em áreas como
a vigilância marítima e prevenção da pirataria. Um outro mecanismo que também
contribui para a formação de moçambicanos são os estágios oferecidos tanto a bordo
26
Netto, entrevista citada.
27
Plano de Cooperação Bilateral entre a MGM e a MB – Biénio 2015/2016

36
dos navios da MB, em centros de formação ou em estabelecimentos da administração da
Marinha. Vários oficiais da MGM embarcam nos Navios brasileiros e participam dos
exercícios da MB. Outros moçambicanos irão estagiar nas diretorias técnicas da
Secretaria-Geral da Marinha ou ainda no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro28. A
participação em exercícios militares conjuntos e combinados da série FELINO é
também um mecanismo fulcral para aprimorar a formação e capacidade operativa dos
moçambicanos.

 Desenvolvimento das capacidades internas (Construção e reabilitação de


infraestruturas)

Segundo Netto29, em 2012, Moçambique manifestou junto do Brasil a intenção de


reestruturar a Escola Naval de Pemba e a Base Naval de Maputo. Em Julho desse ano,
uma equipa da MB visitou as duas instalações para fazer um estudo preliminar para a
sua revitalização. O relatório do estudo foi entregue a MGM em Março de 2013 para
avaliação e busca de construtoras interessadas em realizar as obras. O ano de 2013
terminou sem que se tomasse nenhuma decisão sobre o assunto. Em 2014, uma nova
solicitação de Moçambique fez deslocar a Moçambique uma equipe técnica da
Diretoria-Geral de Material da Marinha (DGMM) para analisar as mesmas instalações e
propor um projeto de reconstrução. Novo relatório foi entregue a MGM em Junho de
2014. No prosseguimento do processo, foram contactadas empresas brasileiras para
executarem a obra e propostas financeiras foram entregues a MGM. Uma vez mais, o
ano de 2014 terminou sem que se tomasse nenhuma decisão.

Em Junho de 2014, durante a III reunião de Estados-Maiores entre a MGM e a MB foi


estabelecido um Plano de Cooperação Bilateral entre a MGM e a MB para o biénio
2015-2016. Este plano voltava a pôr em destaque a cooperação técnica da MB (através
DGMM) para a reestruturação da Escola Naval de Pemba, da Base Naval de Metangula
e da Base Naval de Maputo30. A contraparte brasileira já fez as devidas visitas técnicas
aos dois locais e os relatórios das atividades a serem desenvolvidas foram

28
Idem
29
Entrevista citada.
30
Plano de Cooperação Bilateral entre a MGM e a MB – Biénio 2015/2016

37
encaminhados a MGM, restando a aprovação desta última para que os projetos
caminhem31.

 Apoio logístico e aquisição de produtos e serviços de defesa

Em Maio de 2013, a MGM procurou comprar um simulador de manobras no Brasil. Em


Agosto do mesmo ano, a EMGEPRON apresentou um contrato comercial para a venda
daquele material a MGM mas a contraparte moçambicana não deu continuidade ao
projeto. Aquando da visita do ministro da defesa brasileiro a Moçambique em Março de
2014, o Brasil acabou doando o simulador. Esta situação demonstra uma vez mais a
falta de empenho da contraparte moçambicana e a tradicional dependência de donativos.
Ainda na esteira das doações, em 2009, o Ministério da Defesa do Brasil anunciou a
doação de 3 Tucanos (T 27) a Força Aérea de Moçambique. Contudo, este equipamento
ainda não foi entregue às autoridades moçambicanas devido aos diversos trâmites que
tal doação deve obedecer no Brasil32.

Importa ressaltar que Moçambique ainda não começou a tirar proveito das
possibilidades de aquisição de meios navais produzidos no Brasil. Com uma vasta gama
de estaleiros ligadas ao ramo de produção de embarcações militares tais como a INACE
Moçambique poderá pleitear por uma frota moderna, barata e adaptada para o seu
ambiente de ação. Dos vários meios que Moçambique poderá obter, a partir de acordos
com a EMGEPRON encontram-se: Fragata Classe Niterói, Corveta Barroso, Navio-
Patrulha Classe Macaé, Navio-Patrulha Classe Grajaú, Lanchas-Patrulha de Porto,
Aviso de Patrulha classe Marlim e lanchas de ação rápida (LARs)33. De acordo com
Netto, a vontade de venda de embarcações para Moçambique já foi demonstrada por
ofertas de venda por parte de empresas brasileiras. A título de exemplo, a EMGEPRON
enviou uma proposta de venda de lanchas a MGM da qual ainda não obteve resposta34.
A possibilidade de venda de uma lancha para ensino profissional também está em
carteira. A presença de uma cultura de receção de doações militares apresenta-se, no
nosso ponto de vista, como o maior entrave para a realização das aquisições previstas no

31
Netto, em entrevista citada.
32
Netto, entrevista citada.
33
Vide: https://www.emgepron.mar.mil.br/index/construcao_naval.php
34
Veja-se que desde 2009 a Namíbia vem operando com um Navio-Patrulha Classe Grajaú e duas
Lanchas-Patrulha classe Marlim produzidos no Brasil. Para o treinamento da tripulação destas
embarcações, o Brasil estabeleceu em 2010, uma Missão de Assessoria Naval (MAN-Namíbia) na
Namíbia (Bastos, 2011).

38
acordo firmado com o Brasil. Veja-se que, desde a sua assinatura em 2009, nada foi
avançado em termos de aquisições de embarcações, sendo a cooperação resumida na
formação de oficiais, praças, entre outros35.

Conclusão

As despesas militares e o orçamento de defesa em Moçambique são alvos de grande


escrutínio externo e interno. Paira sobre a sociedade uma aversão enorme sobre os
investimentos militares vistos por muitos como entraves ao desenvolvimento. Como
consequência, as instituições de defesa e segurança sofrem uma marginalização gritante
que resulta no esvaziamento das suas capacidades com efeitos nefastos para a sua
operabilidade. Sem capacidades, a MGM torna-se um instrumento decorativo incapaz
de cumprir no mínimo as suas funções e tarefas. Resulta daqui que a MGM é incapaz de
garantir a segurança marítima sobre o Canal de Moçambique.

O fortalecimento da MGM depende de uma mudança de postura do estado


moçambicano em relação as suas instituições de defesa e em relação a segurança
marítima. Defendemos neste artigo que a mudança de postura inicia com o
desenvolvimento de um discurso de securitização, prossegue com a criação de uma
estratégia de segurança marítima e termina com a adoção de políticas públicas
específicas de fortalecimento naval. Procuramos demonstrar que a segurança marítima
no canal de moçambique está intrinsecamente dependente da edificação de um poder
naval que se adeque a defesa do espaço de interesse nacional permanente definido na
estratégia de defesa nacional estabelecida pelo CEDN. Para a edificação desse poder,
defendemos neste artigo, o recurso a cooperação com o Brasil, um ator de peso que
demonstra um interesse enorme em trabalhar para o fortalecimento de algumas
Marinhas africanas.

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35
Netto, entrevista citada.

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WATTS, Robert B. Implementing Maritime Domain Awareness, Master‟s Thesis,


Naval Postgraduate School, Monterey, Ca, 2006.

ENTREVISTAS

ANTÓNIO HAMA THAI, General na Reserva, Ex- Chefe do Estado Maior General das
FAM/FPLM de 1987 a 1994, acumulando, a partir de 1988, as funções de Vice-
Ministro da Defesa Nacional. Ex-Vice-Ministro da Defesa, no quinquénio 1994-1999.
Ex-Ministro para os Assuntos dos Antigos Combatentes, entrevista realizada em 25 de
Outubro de 2014.

JOÃO PAULO BORGES COELHO, Docente e Pesquisador da Universidade Eduardo


Mondlane (UEM) e do Centro de Estudos Sociais Aquino de Bragança (CESAB).
Pesquisador do Centro de Estudos Africanos da UEM, entrevista realizada em 02 de
Dezembro de 2014, Maputo.

JÚLIO TEODORICO NASCIMENTO NETTO, Adido Militar Brasileiro em Maputo,


entrevistado em 18 de Setembro de 2014.

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CEEI-ISRI
Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais
O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais – CEEI corresponde a Divisão de Investigação do ISRI é a
unidade orgânica responsável pela realização de pesquisas aplicadas do ISRI. A missão estratégica do
Centro dos Estudos Estratégicos Internacionais é a produção e divulgação de análises sobre os processos
políticos, sócio-económicos e culturais da sociedade moçambicana, da região e do Sistema Internacional.
A linha de pesquisa do CEEI tem como enfoque as seguintes áreas: Economia e Desenvolvimento, Estudos
de Paz e Segurança, Estudos Sócio-Políticos e culturais, Estudos de Relações Internacionais e Política Externa.
O CEEI estabelece-se como um canal aberto, inclusivo e que encoraja independência e liberdade de
pensamento com vista a contribuir para o desenvolvimento e reformas políticas em Moçambique. A
produção local de conhecimentos sobre práticas de desenvolvimento e experiências internacionais constitui
valor acrescentado que o centro oferece a todos os interessados em estudar, investigar e divulgar assuntos
ligados ao desenvolvimento económico, social e político de Moçambique e do mundo. Para o efeito, o CEEI
privilegiará a diversidade de focos temáticos e a pesquisa.

Contacto:
Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais
Ruas dos Desportistas - Prédio JAT 5,
2º Andar, Maputo - Moçambique

Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais - CEEI/ISRI

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