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Ações musculares dos membros inferiores na corrida

Joelho
No que se refere à atividade muscular na corrida identificamos uma diferença
característica no ciclo excêntrico e concêntrico, no início da fase de apoio. O músculo
acaba por apresentar uma maior atividade neuromuscular na fase excêntrica, quando
comparamos com a fase concêntrica. Este fator tem sua explicação no fato do músculo
necessitar de uma menor ativação neuromuscular, já que a fase concêntrica é marcada
pela restituição de energia elástica acumulada na fase excêntrica. Mas quando
aumentamos a velocidade de corrida notamos um aumento na ativação muscular da fase
concêntrica. Este aumento se faz necessário para assim gerarmos maior força e
consequentemente maior velocidade de movimento.
Ao verificarmos os componentes que permitem este trabalho de acúmulo e restituição de
energia elástica, verificamos que com o alongamento dos componentes elásticos, há um
acúmulo de energia. Esta energia acumulada se restitui em forma de calor e de
movimento. O acúmulo/restituição de energia elástica acaba por se tornar um método
vantajoso, pois além de ser utilizado para absorver a sobrecarga durante a corrida, faz
também com que se tenha uma menor exigência da musculatura na fase concêntrica, onde
esta energia acumulada é restituída.
Com o treinamento físico podemos melhor esta relação acúmulo/restituição de energia
elástica. Para que isso aconteça podemos adotar as seguintes estratégias:
a) Diminuição do tempo de contato pé/solo;
b) Aumento da velocidade de transição excêntrico/concêntrico; e
c) Aumento da força excêntrica do músculo.
Para conseguir realizar estas estratégias pode-se adotar os seguintes métodos de
treinamento:
1. Corrida de Tração: Este método acaba por ser eficiente para diminuir o tempo de apoio,
mas pouco eficiente quando pensamos no aumento da força excêntrica e na transição
excêntrico/concêntrico;
2. Corrida Ladeira Abaixo: Esta é a estratégia mais eficiente. Além de diminuir o tempo
de contato do pé com o solo, há também uma maior exigência muscular na fase excêntrica.
Esta exigência ocorre, pois, o indivíduo deve fletir mais o joelho para controlar melhor à
sobrecarga e com isso também acumular mais energia. Já devido à velocidade do
movimento o tempo de transição excêntrico/concêntrico acaba por se tornar menor. Esta
estratégia de corrida em ladeira abaixo só deve ser bem modulada, pois caso contrário
esta pode acarretar uma sobrecarga no Tibial Anterior, no Tendão Patelar e na Patela.
No que diz respeito ao treinamento de corria em subida, este é eficiente para o aumento
da força muscular, pois na subida há uma porcentagem menor e acúmulo e restituição de
energia, fazendo assim com que haja uma solicitação neuromuscular mais intensa na fase
concêntrica.
Quadríceps
Na fase de apoio (1) encontramos uma grande atividade dos músculos que compõem o
quadríceps, onde esta fase se caracteriza por redução da sobrecarga e acúmulo e
restituição de energia elástica.
Na fase de balanço (3) somente o Reto Femural (músculo biarticular) apresenta uma
atividade significativa, pois este realiza a flexão do quadril nesta fase. No final da fase de
balanço (2) encontramos novamente uma atividade significativa destes músculos que
caracteriza o momento da pré-ativação e pré-programação, onde estes músculos modulam
sua atividade para uma melhor colocação do segmento no solo.
Isquiotibiais
Dentre os pontos destacados sobre a atuação muscular dos isquiotibiais durante a corrida
o final da Fase de Balanço (3) acaba por ser a mais importante. Esta importância existe,
pois, esta ativação ocorre para realizar a frenagem da tíbia e do quadril (músculos bi
articulares). Esta frenagem na rotação da tíbia acaba por ser necessária para que não haja
uma sobrecarga do LCA e evitar nesta articulação uma rotação muito exacerbada. Já para
o quadril esta frenagem ocorre para segurar a flexão desta articulação. Ambos
movimentos são sincronizados, para assim modular a colocação do segmento no solo.
Já no primeiro momento da fase de apoio notamos uma atividade neuromusc ular
significativa que é característica da modulação de movimento e de controlo de carga.
Também é notório que essa ativação muscular ocorre para evitar uma flexão de quadril
muito extrema. Quando olhamos agora para o início da Fase de Balanço, notamos uma
ausência de atividade muscular. Esta ausência é notada já que a flexão de joelho que
ocorre neste momento se dá por inércia, devido a flexão do quadril.
Tornozelo
Tríceps Sural e Tibial Anterior
Na Fase 1 há uma grande e notória atividade muscular do tríceps sural. Esta ativação
ocorre não por causa da flexão plantar que ocorre neste momento, mas sim para garantir
estabilidade articular (evitar movimentos excessivos de supinação/pronação e de
adução/abdução). Quanto ao Tibial Anterior a atividade encontrada se dá claramente
devido a ação excêntrica deste que proporciona o aplainamento do pé.
Na Fase 3 a atividade encontrada no Gastrocnêmio é característica de uma pré-ativação e
pré-programação necessária à modulação da colocação do pé no solo e evitar a sobrecarga
mecânica. Já o Tibial Anterior possui uma atividade contínua durante toda a fase 2 e 3.
Primeiramente por dorsiflexão (diminuir momento de inércia e não tropeçar) e
posteriormente para modular a colocação do pé no solo. Esta atividade acaba por variar
entre uma atividade em ação concêntrica e isométrica.
Devido a estes fatos podemos afirmar que o Tibial Anterior possui uma ativação notória
em quase todo o movimento, sendo que somente na fase onde ocorre anteriorização da
tíbia (movimento passivo), este músculo encontra-se sem atividade muscular
significativa.
Para o quadríceps o treinamento deve ter um enfoque na melhora do ciclo
acúmulo/restituição de energia, optando-se assim por exercícios que simulem melhor
possível as características da corrida. Para os isquiotibiais o treinamento acaba também
por ser necessário, utilizando-se principalmente de exercícios que simulem o seu uso na
corrida, para isso opta-se por exercícios bi-articulares. No que diz respeito ao
Gastrocnêmio utilizar de exercícios que exijam um trabalho excêntrico notório.
Quanto ao Tibial Anterior é necessário realizar um trabalho de força para que este
músculo suporte todo o tempo em que permanece ativo, evitando assim uma fadiga
precoce.

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