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Princípios

Conteúdo, Sentido e Limites

 Os princípios do PP correspondem a uma matéria fundamental e estruturante que está


sempre presente em qualquer momento de criação ou interpretação do direito.
o FCP afasta a ideia de que os princípios se possam dividir pelas fases
processuais porque eles estão sempre presentes, de forma mais ou menos
intensa.

O que são os princípios?

 Há uma cristalização normativa de regras processuais fundamentais que abrange


proposições normativas construídas interpretativamente a partir do direito
legislado:
o E.g - várias normas de proteção do arguido podem ser reconduzidas ao direito
de defesa do arguido ou ao princípio do contraditório.
 + Abrange também as proposições normativas sedimentadas historicamente, que
caracterizam a forma de o Estado exercer a pretensão penal:
o Como o PP tem que ver com as relações entre o Estado e o cidadão,
normalmente os princípios correspondem a um estado histórico de evolução
do processo penal.
 Os princípios podem vir a ganhar acolhimento na lei fundamental = Constituição Penal:
o Importância da nossa CRP:
 A CRP antecedeu os CP e CPP = cristalizou uma série de regras ou fez
opções de direito publico em matéria de direito penal que vieram
determinar e influenciar a própria compreensão do direito legislado.
 E.g a grande primeira reforma do DPP foi feita por via
constitucional.
 Diferença dos princípios e das regras:
o As regras têm um código binário = ou se cumprem ou não se cumprem.
o Os princípios são exigências de organização:
 Podem ser realizados e densificados com graus diferentes e níveis
diferentes de profundidade.
 E.g – o princípio do contraditório é mais limitado na fase de instrução
e é pleno no julgamento.
 E.g – podemos ter processos de EA com alcances diferentes:
 Em IT, juiz tem uma sumula =/= em PT, o nosso juiz tem a
possibilidade fática e jurídica de conhecer integralmente os
autos, o que lhe dá uma maior capacidade de conduzir o
julgamento.
o = densificam o princípio de forma diferente.
 Os princípios permitem a concretização de valores aprofundando certos valores no
âmbito dos regimes legais de uma forma gradual e sem que a adoção de um implique
necessariamente o sacrifício de outro.
o Alexy – ‘mandatos de organização’ - os princípios são aprofundados em graus
diferentes.
o Gomes Canotilho - fala em exigências de otimização.

Genealogia e Função dos Diversos Princípios


 Os princípios têm origem, natureza e funções diferentes.
 Ideia de Diversidade entre as garantias constitucionais, os direitos fundamentais e as
regras de organização:
o Princípio do Juiz Natural:
 O Tribunal Penal que vai fazer o julgamento não pode ser escolhido
individualmente, mas em função das regras de competência que
estão predefinidas.
 As regras de competência territorial são uma forma de
concretizar o princípio do juiz natural.
 Por um lado, esta regra é tão importante que tem origem ma CRP =
depois surge no CPP.
o Direito de Defesa:
 Temos uma garantia constitucional (32º CRP, consagra várias
garantias da defesa) + depois no CPP temos a densificação das
mesmas de acordo com o modelo de PP.
 Quanto às medidas de coação não se consagra direito de defesa, não
tem consagração constitucional.
 Há certos princípios que surgem apenas no CPP:
o Princípio da Suficiência da Instância Penal – 7º CPP:
 O PP é promovido independentemente de qualquer outro + nele se
resolvem todas as questões que interessarem à decisão da causa,
mesmo que doutras matérias.
 =/= os tribunais normais não podem decidir sobre o direito
penal.
 O legislador optou por um princípio de competência alargada
dos tribunais penais, é alargada a competências não penais.
 Há fontes diversas para os vários princípios:
o Princípios consagrados em instrumentos de direito internacional:
 Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH), o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) ou a Carta dos
Direitos Fundamentais da UE.
 São aplicáveis à ordem interna portuguesa por força do 8º CRP.
 Nota – FCP:
 Estes instrumentos não são mais completos do que a nossa
CRP que é um texto muitíssimo avançado que introduzia mais
garantias para o processo penal que são muito mais
preconizadas e pormenorizadas.
o CRP:
 Temos uma CRP penal muito forte, construída a partir dos DFs.
o =/= corte com o direito do antigo regime em que as
garantias eram cortadas pela via dos poderes
reconhecido à polícia política.
 A própria CRP antecipa as soluções de
processo penal, consolidando a rutura e
criando um corpo normativo de princípios.
 Muitas materias devolvem para o legislador, CRP usa a técnica
em que a densificação de um princípio é desenvolvida pelo
legislador ordinário.
 Princípios:
 25º CRP - Afirmação da integridade moral e física das
pessoas:
o Apesar de não parecer ter grande ligação ao DPP, este
princípio permite dizer que o EdD se funda na pessoa
humana = ligação ao tema das provas proibidas do
126º PP.
 27º CRP - Direito à liberdade e à segurança.
 28º CRP - Regime da prisão preventiva.
 29º CRP - Aplicação da lei criminal:
o Tem densificação processual.
 30º CRP – Limites das penas e das medidas de segurança.
 31º CRP – Habeas Corpus.
 32º CRP – Garantias do processo criminal.
 34º CRP - Inviolabilidade do domicílio, da correspondência e
das telecomunicações.
o Muitas regras de DPP são limitadas a partir daqui
como atos intrusivos, nomeadamente as buscas ou a
interferência na correspondência.
 + Regras da competência legislativa à AR - 165º/Nº1/d);
 Princípios Gerais dos Tribunais:
 203º CRP – Princípio da Independência dos Tribunais;
 + Funções e estatuto do MP – 219º CRP.
o CPP.
o Doutrina:
 Exemplo – Princípio da Lealdade Processual:
 Germano Marques da Silva considera que é um princípio.
 MJA, FCP concorda:
o Como não está enquadrado como princípio na CRP,
não é um princípio do PP.
o Por exemplo, diz no 126º que são proibidos meios de
prova, mas não se pode dizer que isto é por causa da
lealdade processual, isto é sim por causa de uma
norma.
 Exemplo – Litigância de Má-Fé:
 É um instituto jurídico de PC mas não no PP.
o + não pode ser invocado por analogia, porque aqui
não há nenhuma lacuna.
o O seu acolhimento seria designadamente contra o
direito de defesa.

Funções dos Princípios na Dinâmica do PP

 5 funções:
o Função Orientadora:
 Servem de orientação para o legislador.
o Função Limitadora:
 Se só se permite escutas telefónicas para o processo criminal, isto
quer dizer que não se pode criar um regime legal que permita as
escutas telefónicas para processos de outras naturezas.
 Já se colocou esta questão a propósito da criação de um
regime para a corrupção.
 O PP não pode limitar a publicidade na fase da audiência do
julgamento a não ser para uma razão válida.
o Função Harmonizadora:
 Os princípios permitem a harmonização de princípios que impliquem
interesses opostos.
 O nosso sistema não vê a realização da justiça penal como um valor
que se sobreponha aos direitos de defesa, mas uma harmonização
num certo equilíbrio.
 Exemplo de harmonização de interesses conflituantes:
 Se alguém praticou um crime e agrediu BJ individuais, há aí
um primeiro conflito e depois o PP expressa outra dimensão
de tentativa de responsabilização pessoal de alguém que
praticou o crime.
o Função Argumentativa:
 É possível rejeitar uma solução ou uma interpretação porque seria
derrubadora de um determinado princípio.
 Esta função argumentativa é muito forte e encontra-se em todas as
decisões de todas as instâncias judiciais e é usada por todos os
intervenientes nos processos.
 Os princípios são vias de fundamentação, rejeição e persuasão de
certas decisões.
 Exemplo – decisão pode ser recusada se limitar a estrutura acusatória
do PP.
o Fonte de Critério para Integração de Lacunas – 4º CPP:
 Se se identificar uma lacuna (uma omissão legislativa de solução, que o
próprio sistema exige) os PP são uma fonte de integração em 2
sentidos:
 Harmonizar as regras de processo civil, funcionam como filtro
da aplicabilidade das fontes.
 São também fonte autónoma = 4º CPP remete expressamente
para os princípios gerais do PP.

Alcance dos Princípios em PP

 Os princípios não são estanques = não se afirmam da mesma maneira em todas as


fases processuais, em especial num processo de natureza mista como é o nosso
processo penal.
o Têm um alcance diferenciado em função das formas de processo e das fases
processuais.
 Exemplo – Princípio do Contraditório:
o Não é garantido de forma igual em todo o PP, mas consoante a fase do
processo em que está:
 Ele é limitado nas fases preliminares (inquérito, instrução) e no
processo sumaríssimo.
 É pleno no julgamento.
 Exemplo – Certas decisões serem irrecorríveis.
o No processo comum, o direito ao recurso é a norma.
o No processo sumaríssimo, limita-se este direito ao recurso às situações de
acordo.
 Princípios têm sedimentação histórica, têm matrizes de evolução:
o O mesmo princípio com a mesma designação pode ter conteúdos diferentes
consoante a evolução constante.
 Caso Paradigmático 1 – A Garantia contra a Auto-Incriminação:
o GAI também se relaciona com o direito ao silêncio.
 GAI é mais amplo que DS, permite que qualquer pessoa recuse uma
colaboração.
o Resultam do 61º/Nº1/d), 343º/Nº1 e 345º/Nº1 CPP.
o Nota:
 A CRP não consagra o direito ao silêncio + a garantia legal da não
autoincriminação também não está na CRP.
 Costa Andrade defende que é um princípio subjacente ao
modelo de processo penal implícito.
o História Cronológica:
 Na origem:
 Este direito traduzia-se no direito a não se declarar culpado.
 Depois:
 Estabilizou processualmente como o direito a não responder a
perguntas feitas no processo.
 O núcleo fundamental histórico do DS e GAI = não ser declarado
culpado + não responder a perguntas.
 Porém, os legisladores rapidamente perceberam que se não criassem
uma garantia adicional, o próprio silêncio seria valorado contra quem
dele fizesse uso:
 Procedeu-se a um alargamento = passou a incluir o direito a
que o silêncio não seja valorado desfavoravelmente contra o
arguido = 343º/Nº1.
 Outra evolução – 2007:
 Entendeu-se que esta garantia construída e prevista só para o
arguido devia ser estendida às testemunhas = 132º/Nº2.
 Razão:
o Porque a testemunha tinha o dever de responder,
pode agora avaliar a situação e excecionar esse dever
de responder se porventura a reposta puder gerar a
sua responsabilidade criminal.
 Hoje, o DS assiste ao arguido mas também à testemunha que
considera que a sua resposta possa ter conteúdos incriminatórios.
o + Questão – o DS é apenas para não responder a perguntas ou também se
aplica a diligências de obtenção de prova material ?
 Exemplo - revelar um código-chave ou uma password para aceder a
um computador não são em si mesmas respostas incriminatórias, MAS
o conteúdo que lá está é que pode ser - se a polícia pedir a password
a alguém para desencriptar um ficheiro, a pessoa é obrigada a
responder?
 A lei do cibercrime tratou esta matéria com o direito ao silêncio, sendo
que este foi alargado explicitamente a esta colaboração.
o + Questão - O DS também se aplica à participação em diligências de prova?
 E.g – se houver acareação para confrontar 2 depoimentos
contraditórios (146º) ou uma reconstituição do facto (150º) pode-se
recusar a participar na diligência?
 A resposta é que sim:
 Responder negativamente a essa questão, admitindo que
sozinho há direito ao silêncio, mas numa diligência de prova
que será uma colaboração contra si próprio não, seria
subverter o regime do direito ao silêncio.
 FCP = tem de participar nas diligências, mas mantém o direito
ao silêncio = tem de participar na diligência e tem de
participar na reconstituição do facto, mas não tem de assumir
respostas ou comportamentos que o incriminem.
o O DS e a GAI não são absolutos:
 Não é absoluto, é excecionado em vários pontos da própria lei e pela
prática das coisas.
 Exemplos:
 Dever de sujeição a exames – 172º;
 Pelo regime das escutas telefónicas – 187º;
 Acesso a correspondência e uso de agentes infiltrados – Lei
Nº101/2001.
 -> Ora, quando se recorre a um meio oculto de obtenção de
prova, estão-se a derrogar essas garantias, daí que tenham de
ser excecionais.
 Além das derrogações legalmente previstas, o DS é funcionalmente
derrogado por deveres legais de colaboração extraprocessuais e novas
tecnologias de controlo:
 E.g – tacógrafo, caixas negras, gravação de atividades
profissionais.
 Razão:
o As novas tecnologias permitem o registo dos
movimentos das pessoas e controlar a sua evolução,
que uma vez gravadas podem vir a ser usadas como
prova de processo.
o É um problema para o EdD, para os princípios
fundamentais e para o processo penal.
o = as novas tecnologias colocam novos problemas
quanto ao DS e à GAI porque através destes registos
as pessoas podem estar a colaborar contra si,
disponibilizando informações sobre onde estiveram e
o que fizeram.
o Opções diferentes:
 Existem regimes diferentes para o próprio DS.
 Miranda Rights (EUA) = polícia informa os direitos à pessoa = tudo o
que disser pode ser usado contra si (isto não era um advertência que
existia, daí termos adicionado) – isto existe no 141º/Nº4/Nº1 CPP.
 British Warnings (UK) =permitem inferências negativas, se a pessoa
omitir algum aspeto.
 Caso 2 – Proibição de Duplo Julgamento pelo mesmo Crime:
o Está consagrada no 29º/Nº5 CRP.
o História cronológica:
 Teve como origem as garantias das obrigações no direito romano =
proibição de exigir duas vezes o pagamento ao credor, pois o
pagamento extingue a dívida.
 Na idade média, a mesma ideia passou para o foro reservado da igreja
= se o clero fosse julgado pelos tribunais da igreja, não podia ser
julgado pelo Estado.
 “Garantia do Privilégio do Foro (eclesiástico)”.
 Depois na neoescolástica peninsular e no jusracionalismo iluminado
(séc. XVII), surge um limite ao poder punitivo do Estado =
converteram a máxima religiosa dos textos do antigo testamento
“Deus é justo, não se vinga duas vezes” (Naum) num privilégio contra
as “leis odiosas” (Francisco Suárez), limitando o poder estadual:
 “Se Deus não se vinga duas vezes, o rei também não pode.”
 Isto significa que não se podia cobrar os impostos duas vezes
os ou julgar o mesmo crime duas vezes.
 Mais tarde foi acolhido na teorização iluminista setecentista e nos
estados liberais = passou a ser um direito fundamental nos estados
modernos + foi consagrado constitucionalmente em PT = 29º/Nº5.
o Problemas Atuais:
 Dupla punição e poderes punitivos de diferentes Estados:
 E.g – se houver um crime de tráfico de droga que passa por 3
jurisdições terão todas elas competência para julgar e punir?
 Cumulação de responsabilidades de natureza distinta:
 E.g - se uma pessoa comete uma ação que é ao mesmo tempo
geradora de responsabilidade civil, disciplinar e também
penal.
 O problema já chegou ao TC português = pronunciou-se que
pode haver cumulação.
 Cumulação de crimes e contraordenações – “Duplo Binário
Cumulativo” no TUF de 2007, agora criticado pelo TEDH e TJUE:
 IT e FR assumiram expressamente que o mesmo facto podia
estar a ser tratado tanto como crime como contraordenação,
em concurso efetivo, mas os tribunais europeus dizem que é
ilegal.
 Esta questão está agora no TJ.
 Pluralidade de processos nacionais e transnacionais – matéria de
concorrência:
 Passa por saber se podem ser cumuladas responsabilidades
por transgressão de regras de competência em vários países
simultaneamente, ou seja, se uma prática anti concorrencial
que afeta 2 países pode ser demandada nos dois ou se se deve
fazer um ‘desconto’ no último processo.
 + Cumulação de Responsabilidades Privadas:
o Isto já que os privados podem desencadear processos
de natureza cível concomitante com processos
sancionatórios.
o É possível uma pessoa pelo mesmo facto ter 5
processos pela prática dos mesmos factos?

Aplicação dos Princípios

 A partir do momento em que estão constitucionalmente consagrados, os princípios


dirigem-se ao legislador = tem a possibilidade de regular as opções do CPP em relação
aos princípios.
o Exemplo – Princípio da Publicidade do Processo está regulado apenas para a
fase da audiência (na CRP) mas na revisão de 2007 do CPP voltou a ser
restringido.
 Os princípios aplicam-se a todos os sujeitos e intervenientes processuais:
o Tribunal, MP, OPC, os advogados, arguidos e assistente;
o Demais participantes processuais como testemunhas, peritos e intérpretes.

Organização dos Princípios

 Estudamos a organização do FD.


o Mas também existe um conjunto de princípios, criados pela doutrina,
elencados no manual do GMS e no FCP, que não surge na organização do
processo de FD.

Princípios relativos à Organização e Estrutura do Processo Penal

 São macro princípios que determinam a forma como o processo se deve organizar.

Estrutura Acusatória do PP – 32º/Nº5

 Está prevista no 32º/Nº5 CRP.


 Implica a separação de funções entre quem acusa e quem julga:
o A acusação é do MP; o julgamento é de um tribunal.
 Quem acusa não julga e quem julga não acusa.
 Regime de EA é garantido pelo regime dos impedimentos – 39º CPP:
o A essência da estrutura acusatória é preservar a imparcialidade do julgador
que não deve estar envolvido na descoberta dos factos e na organização das
provas.
o O 39º e ss. criam certos obstáculos legais à função jurisdicional.
o O elenco dos impedimentos do 40º têm variado ao longo do tempo.
 Princípio da vinculação temática:
o O T.J julga dentro dos limites dos factos trazidos pela acusação.
 Não pode, em regra, conhecer alterações substanciais dos factos por
força do 359º, sob pena de essa ser nula (379º/B)
 Este princípio tem assim:
o Uma componente organizativa - separação das duas fases;
o Um regime que garante a efetivação dessa separação – impedimentos;
o Outro regime que está diretamente relacionado com a dinâmica do processo –
vinculação temática;
 + Nota – Regime de Declarações Prévias do Arguido – 141º/Nº4/b) + 357º:
o = O arguido é advertido que tem o direito de silêncio mas se falar, o que disser
pode ser usado contra si.
o Portanto, há institutos diferentes que podem densificar de forma distinta a EA.

Presunção da Inocência do Arguido – 32º/Nº2:

 Deriva da própria CRP – 32º/Nº2:


o Todo o arguido se presume inocente até trânsito em julgado da sentença de
condenação.
 Tem uma dimensão processual e uma dimensão substantiva:
o Processual = arguido é tratado como inocente e tem de ser feita prova da sua
culpabilidade.
o Substantiva = proibição de inversão do ónus da prova.
o Social = direito a ser respeitada a sua inocência.
 Consequências desta presunção:
o Gera uma distribuição formal do ónus da prova:
 A PdI obriga a que quem promova o processo tenha um ónus de
provar a acusação = MP tem de ter elementos para provar a
culpabilidade do arguido.
o A partir do momento em que a CRP declara que o arguido se presume
inocente = o arguido não tem de provar a sua inocência no processo:
 Pode tentar fazê-lo como estratégia de defesa, mas a lei não exige
que o arguido demonstre a sua inocência.
 É quem o acusa que tem de provar a sua responsabilidade.
o A PdI existe para o arguido e só é afastada com a decisão condenatória
transitada em julgado:
 Isto, a não ser que o próprio aceite a acusação contra si deduzida.
 Não é uma declaração de inocência, é uma declaração de que a
execução efetiva da pena é incompatível com o princípio da presunção
de inocência.
o É inadmissível a construção de um tipo incriminador que ofenda a questão do
ónus da prova:
 Exemplo – TC – Tipo incriminador do enriquecimento ilícito:
 Aqui, o legislador presumia que a diferença entre o património
detido e o declarado tinha de ser explicado pelo arguido (que
tinha origem lícita) + se não fosse, este era considerado como
tendo origem num enriquecimento ilícito.
 O TC declarou inconstitucional porque:
o Violava a presunção da inocência, invertendo o ónus
da prova;
o Derrogava o direito ao silêncio, já que tinha de ser o
arguido a provar a origem legal do património.

Principio da Judicialidade – 27º/Nº1, 29º/Nº1, 32º/Nº1 CRP

 Este princípio dita que quando o ato processual colide diretamente com direitos
liberdades e garantias fundamentais tem de ter controlo judicial.
o Resulta do 27º/Nº1, 29º/Nº1, 32º/Nº1 CRP.
 Nestas situações, o legislador opera uma mudança de competência do MP para o juiz:
o Quem normalmente abre e encerra o inquérito é o MP, mas nestes atos,
mesmo durante o inquérito, têm de ser praticados pelo juiz.
o 194º - Aplicação de medidas de coação.
o 187º - Interceção de comunicações através de escutas.
o Razão:
 É o MP que propõe a medida, e o juiz decide-a.
 No caso do 187º, o juiz tem de autorizar para que se realize a escuta +
para depois fazer o controlo material da escuta.

Principio do Juiz Natural (ou Juiz Legal) – 32º/Nº9 CRP

 PJN:
o Retira-se que não existe a possibilidade de retirar um caso do tribunal cuja
competência esteja determinada por lei.
o Significa:
 Por um lado = é a lei a determinar a competência do tribunal;
 Através de regras legais prévias.
 Por outro lado = é proibido o desaforamento por outro ato que não
seja legal.
 Existe uma proibição de intervenção política ou
administrativa no processo, proíbe uso de conveniência.
o Então, é a lei e não outra fonte de outra natureza a determinar a competência
dos tribunais.
 + Aquilo que for atribuído pela lei não pode depois ser alterado.
 Fundamentalmente:
o O PJN aplica-se ao tribunal de julgamento.
o Numa melhor interpretação, aplica-se ainda ao tribunal na fase de instrução.
o Não se aplica ao MP nem aos OPC.
 Questão - este princípio vale para o julgamento penal MAS também se aplica a outros
casos em que haja intervenção de sujeitos processuais, como à instrução e à
intervenção do tribunal em atos fundamentais como a autorização de escutas
telefónicas ou o primeiro interrogatório judicial?
o Resposta:
 Segundo a letra da lei, o 32º/Nº9 não se aplica ao MP nem aos OPC.
 = Estes podem ser determinados ou afetos ao caso de acordo
com as competências exercidas pela sua hierarquia.
 Porque é que não se aplica ao MP?
o MP é da magistratura, mas MP não integra o tribunal =
é uma autoridade judiciária, mas não é judicial.
 Quanto à aplicação deste princípio noutras fases, FCP defende que a
garantia do juiz legal visa proteger a competência do tribunal = está
pensada para o T.Julg mas a letra e o espírito é a preservação das
competências do tribunal = deve-se aplicar quer ao tribunal de
julgamento quer ao julgamento de instrução.
 = é um princípio que garante a imparcialidade da intervenção
judiciária.
 + Nunca pode ser um ato administrativo ou político a afetar
um certo juiz a um certo caso.
 + O mecanismo do 16º/Nº3 que permite que um caso seja remetido do tribunal
coletivo para o tribunal singular viola o princípio do juiz natural?

Intervenção Limitada do Júri – 207º CRP, 13º CPP

 As hipóteses de intervenção do júri estão pré-configuradas na CRP e densificadas no


CPP:
o O júri não só não é obrigatório, como também não é possível em todos os
casos.
o Existe um patamar mínimo:
 Tem de existir um crime com uma certa gravidade;
 Esse crime não pode ser do catálogo que proíbe a intervenção do júri:
 E.g – terrorismo, criminalidade organizada.
o Isto porque historicamente se sabe que o júri é
vulnerável a ameaças da criminalidade organizada =
compromete a imparcialidade do júri.
o Resulta da CRP um conjunto de condições que limitam o legislador ordinário:
 Só teve margem de manobra na concretização dos tipos de crime
(pena superior a 8 anos de prisão) e no funcionamento do tribunal do
júri.
 Este regime da CRP é concretizado tornando o júri facultativo – 13º CPP:
o Só há intervenção do júri se for requerida pelo MP, pelo assistente ou pelo
arguido.

Participação da Vítima

 Em Portugal, a vítima sempre teve a garantia de poder participar no processo penal.


 Este princípio só foi consagrado constitucionalmente recentemente – 32º/Nº7:
o = O ofendido tem o direito de intervir no processo.
 É uma garantia afirmada na CRP e desenvolvida pelo legislador no CPP.
 Temos uma malha normativa relacionada com a vítima e com o ofendido que lhe
garante vários momentos e posições de intervenção processual:
o E.g – 68º - Posição de Assistente:
 Corresponde à materialização processual do princípio da participação
da vítima no processo, conformando a instância de acordo com a sua
perspetiva.

Princípios Relativos à Promoção Processual


Princípio da Legalidade – 203º a 219º e 2º, 262º CPP

 Tem 2 vertentes:
o Processo está vinculado à lei:
 É a lei que determina como se organiza o processo (quanto às fases,
atos processuais e quanto aos requisitos dessas fases e atos)
 É o legislador que organiza, e nós podemos saber antecipadamente
como vai ocorrer = previsibilidade da evolução do processo.
 Isto é um desenvolvimento do princípio da confiança.
 Evita a construção de soluções casuísticas e diferenciadas.
 É obvio que isto vai acontecer sempre porque os processos
são diferentes, mas estabelece um crivo.
o Obrigatoriedade da Promoção:
 Está inicialmente atribuída ao MP, ele está obrigado a promover o
processo.
 Não pode invocar mecanismos de conveniência para não
promover.
 Isto garante a igualdade das pessoas visadas pelos processos:
 O facto de ser obrigatório promover todos os crimes permite
que todos os cidadãos sejam tratados por um crivo de
igualdade.
 As decisões de promoção dos processos não podem assentar
em considerações de adequação, necessidade ou de
consequências.
 Mesmo assim existem soluções de alguma oportunidade:
 O nosso legislador permite uma certa flexibilização do
processo dentro da lei.
o Tem de estar dentro da lei - se assim não for, e forem
sendo criados mecanismos de oportunidade e de
negociação da culpa, é possível que quem tenha
alguma coisa para oferecer por ter uma carreira
criminosa tenha mais sorte na via criminal do que
quem não tem.
 Não existe oportunidade pré-processual, é uma oportunidade
regulada, com controlo judicial.
 Portanto, o nosso sistema assenta num princípio de legalidade com
dever de promoção + exceções se fazem dentro do processo e com
controlo judicial.

Princípio da Oficialidade – 219º CRP, 49º e ss. CPP

 O P.O significa que temos uma entidade oficial que se encarrega de promover o
processo penal (exceção dos crimes particulares).
o É uma opção congruente com a natureza pública do PP:
 Não cabe aos particulares o ónus de promover os PP.
 Exceção - casos dos crimes particulares - aqui, há uma inversão
do ónus de promoção.
 É o MP, como entidade pública, que está encarregue de dirigir o inquérito:
o MP corresponde a uma magistratura de carreira que realiza a justiça penal.
 Tem acolhimento constitucional – 219º CRP.
o Tem titularidade quer na abertura, acompanhamento e na decisão final do
inquérito.
o É apoiado pela delegação de competências aos OPCs.
 Em PP:
o Não existem detetives privados com competências criminais;
o Não há a possibilidade de particulares levarem um caso a julgamento por si só
=/= matéria cível.
o Em PP, existe uma opção de direito público = é entidade pública.
o Questão de se o MP deve ser o titular do inquérito é discutível = FCP defende
que é uma boa opção porque garante o controlo judiciário.

Princípio da Acusação

 Não se pode confundir P.d.A com a E.A:


o EA é uma forma de organizar o processo.
o PdA é um ato processual necessário, segundo o qual não haverá julgamento
sem.
 É, obviamente, fundamental para a EA.
 PdA:
o Implica que tem de haver imputação indiciária dos factos numa acusação
antes do julgamento:
o Existe uma competência quase exclusiva do MP:
 Pelo MP, nos termos do 283º = se for acusação por crimes públicos,
semipúblicos.
 Pelo assistente, nos termos do 285º = se for acusação nos crimes
particulares.
o A acusação é uma imputação indiciária de factos que se traduz em descrever
um acontecimento histórico, imputá-lo a alguém e sustentá-lo com prova
que vai ser produzida em julgamento.
 A promoção do processo sem acusação é uma nulidade insanável = 119º/b).

Principio da Vinculação Temática – 359º e 379º CPP

 Estabelece que o tribunal de julgamento conhece o caso histórico nos termos e nos
limites apresentados pela acusação – está ‘tematicamente vinculado’.
o É admissível alguma variação factual = podem existir pequenas variações
factuais que correspondam a alterações não substanciais.
 Se forem alterações substanciais = o juiz de julgamento está proibido
de as conhecer, sob pena de nulidade da sentença = 379º.
o Se existirem factos completamente novos que surgem no julgamento, é
necessário enviar esses factos para inquérito:
 Se assim não fosse, estaria a ser violado o P.d.A e a EA:
 Em relação a esses factos novos não haveria uma acusação =
seria uma derrogação ao P.d.A.
 Se o tribunal de julgamento os conhecesse, seria o mesmo
tribunal simultaneamente julgador e investigador = violaria
EA.
Proibição do Duplo Julgamento – “Ne bis in idem” – 29º/Nº5 CRP

 Está consagrado constitucionalmente 29º/Nº5:


o Ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime.
 Nota – o que está proibido nesta garantia constitucional é o duplo julgamento pelo
mesmo crime e não a repetição de julgamentos pelos mesmos factos:
o O que conta aqui não é verdadeiramente apenas o facto ou o tipo, mas a
síntese entre o facto e o tipo:
 Uma mesma factualidade enquadrada num mesmo tipo não pode ser
repetida noutro julgamento.
o Não podemos retirar do 29º/Nº5 a proibição de pluralidade de processos
pelos mesmos factos:
 TC – não proíbe a cumulação de responsabilidade penal com disciplinar:
 E.g – TC - pronunciou-se sobre esta questão e declarou que o processo
disciplinar tem total autonomia com o processo criminal:
 PD = visa garantir aspetos fundamentais de exercício de uma
atividade profissional;
 PC = tem que ver com responsabilidade por violação de BJs.
 São ambos juridicamente autónomos e cumuláveis.
 = ou seja, admite-se que a pluralidade de processos de diferente
natureza ou da competência de entidades diferentes não é um
problema de repetição do julgado, coberto pela norma constitucional.
 A proibição do 29º/Nº5 está pensada apenas para proibir a
repetição do julgamento em matéria penal.
 Nestes casos, permite-se a cumulação de responsabilidade
penal com a disciplinar.
 Nem há unidade de jurisdição = quanto à responsabilidade
criminal a competência é do tribunal, quanto à
responsabilidade sancionatória é do Conselho dos Médicos.
o O direito disciplinar é direito sancionatório público.
 Não temos um regime de caso julgado na CPP = a norma fundamental da CRP é que
garante o não julgamento de caso já julgado.
 + Questão - esta proibição implica um proibição de fazer o julgamento ou também
uma proibição de instaurar e promover um processo antes do julgamento mais do que
uma vez?
o (Tese de doutoramento do professor Damião da Cunha).
o A proibição do julgamento pelo mesmo crime pressupõe também
instrumentalmente uma proibição de promoção do processo em caso de
litispendência ou de violação do caso julgado.
 Ou seja, abrange o julgamento mas também a promoção.
o 3 razões para não se poder repetir um inquérito ou uma nova instrução se os
mesmos já tiverem sido alvo de julgamento:
 1º - O inquérito ou a instrução não valem por si só.
 2º - O MP no inquérito e o JIC na instrução estão vinculados à
legalidade.
 3º - Essa promoção seria inútil porque se estaria a avançar com um
processo que não pode ser julgado.
o Assim, DdC retira uma regra hermenêutica para o MP:
 Está proibida a promoção de um inquérito ou dedução acusação pelo
mesmo crime.
 Logo, proíbe o MP de formula 2 acusações pelo mesmo crime.
 O trânsito em julgado produz um efeito preclusivo do caso julgado
com aqueles factos e com aquele enquadramento.
 Legalidade, delimitação da competência e âmbito do caso julgado (nos limites da
competência legal):
o O regime da competência legal condiciona o alcance da duplicação de
julgados:
 Na interpretação de FCP, as regras de distribuição de competência são
uma forma de evitar o julgamento pelo mesmo crime = quando um
tribunal aprecia um certo facto, está a retirar a possibilidade de outro
tribunal vir a apreciar aquele facto.
 Quando um tribunal penal decide sobre uma determinada
história de vida, julga e faz daquilo caso julgado = não pode
voltar a ser pegado.
 Outros casos de cumulação são possíveis?
o Para FCP:
 É admitido cumulação de responsabilidade por títulos diferentes.
 Entende que crimes e CO são diferentes, um facto poder dar origem
aos dois:
 E.g se dissermos uma mentira ao BCP, corresponde a CO de
falsas declarações ao banco mas também pode dar origem a
um crime…
o Nuno Brandão:
 Entende que assim há um alargamento de duplicação de julgados que
corresponde também há duplicação de responsabilidade.

03.11

Princípios da Dinâmica Processual

Princípio da Investigação

 Consagrado no 340º CPP.


 Este princípio está formulado para a fase do julgamento.
 Noções do Princípio da Investigação:
o Estabelece que dentro do que é apresentado pela acusação, o tribunal tem
um poder-dever de investigar o caso.
o Nota - O caso não é de partes, mas é sim orientado para a realização da
justiça penal:
 O tribunal tem um estatuto ativo funcionalmente vinculado à
descoberta da verdade.
o O TP PT não é um árbitro de um disputa, mas domina plenamente a audiência
de julgamento:
 Tem poderes de disciplina sobre os sujeitos processuais;
 Tem poderes deveres para descobrir a verdade material;
 + Pode pedir novos meios de prova, pode formular as perguntas que
entender necessárias, pode ordenar diligências sem estar
condicionado pela promoção das partes.
 Temos um processo de estrutura acusatória completada com um princípio da
investigação e de vinculação temática:
o Por um lado - obriga o tribunal a investigar o caso, através de poderes ativos
para descobrir a verdade.
o Por outro - dá-lhe autonomia para a descobrir, tem poderes para descobrir a
verdade independentemente da promoção dos sujeitos processuais.
o Visão doutrinária:
 Sousa Mendes critica o facto de, neste processo de EA, haver um
momento complementar de inquisitório na fase de julgamento.
 FCP:
 Discorda.
 Defende que este enquadramento garante que se consiga uma
verdade processual mais próxima da verdade material,
porque se assim não for ficamos facilmente em situações de
dúvida ou de falta de prova ou mesmo de promoção do
processo por quem tiver mais empenho.
 O tribunal não é apenas uma entidade a ser convencida, mas
ela própria trabalha para a descoberta da verdade material,
tendo poderes de investigação.

Princípio do Contraditório

 Constitucionalmente consagrado no 32º/Nº5 CRP:


o O processo criminal tem estrutura acusatória, estando a audiência de
julgamento e os atos instrutórios que a lei determinar subordinados ao
princípio do contraditório:
 A CRP não exige que o processo penal seja todo ele contraditório, mas
sim que exista contraditório no processo ficando esta opção para o
legislador democraticamente eleito.
 327º CPP:
o O legislador reservou o contraditório em pleno para a fase do julgamento.
o Nota – O PdC tem conteúdos diversos com níveis de profundidade diferentes
consoante as várias fases do processo.
 Noções – Princípio do Contraditório tem 4 significados:
o 1º - Significa o direito a que os sujeitos processuais sejam ouvidos antes da
questão ser decidida:
 Tem de haver uma Audiência Prévia = são ouvidas as pessoas com
interesse na questão.
o 2º - Implica direitos de informação para debater e questionar, isto é, o
conhecimento dos aspetos fundamentais que vão condicionar a decisão.
o 3º - O direito a participar no processo decisório:
 Apresentar as razões que podem ou devem ser acolhidas ou
acauteladas no processo decisório, de forma a tentar influenciar a
decisão.
o 4º - Possibilidade de reação:
 Pode impugnar a decisão, questionando-a e tentando promover a sua
alteração, substituição ou revogação.
 É um princípio com conteúdo variável, uma certa elasticidade e uma certa
diversificação em relação às fases processuais:
o Na Audiência de Julgamento = contraditório pleno:
 As pessoas acompanham o julgamento, têm conhecimento dos factos
e enquadramento, participam na decisão e podem recorrer.
o Fase de Inquérito = não é contraditória;
o Fase de Instrução = tem um contraditório limitado:
 Este contraditório limitado significa que a participação dos vários
sujeitos processuais é mais intensa apenas na parte final (no debate
instrutório oral público)
 Não é pleno porque a lei retira o direito de recurso se a decisão
instrutória confirmar a acusação.
o É por isso que o processo tem de passar pela fase de julgamento para
participarem todos os sujeitos processuais num quadro de pleno contraditório.
o A afirmação de que as fases preliminares não são contraditórias é verdadeira,
mas há certos atos que são contraditórios:
 Não é uma contradição, é uma nuance do regime para harmonizar os
interesses conflituantes.
o Caso em que fase de inquérito é contraditória - 194º:
 Se houver aplicação de uma medida de coação, há direito ao
contraditório:
 Isto para garantir os interesses entre a fase marcadamente
inquisitória e os direitos de defesa do arguido.
 Desde 2007 – o 194º passou a criar condições do exercício do
contraditório, o arguido tem todos os direitos:
 Ser ouvido (direito a audiência prévia);
 Ter acesso às informações;
 Participar na diligência numa sessão em que são apresentados
os elementos (participa tentado influenciar o processo
decisório, ele não é apenas ouvido, ele pode emitir opiniões
sobre vários aspetos relevantes, significa poder acompanhar
toda a diligência e não apenas ser ouvido antes de ser tomada
a decisão) e depois pode impugná-la.
 Não podem ser usados para fundamentar, elementos que não
sejam dados ao arguido.
 Então temos uma fase não contraditória, mas que podem envolver
atos que exigem um contraditório pleno.

Princípio da Concentração

 Resulta do 328º e 358º mas não explicitamente.


 Comporta a concentração temporal e a concentração espacial:
o A temporal é mais importante;
 Mas FD considera que os dois princípios estão afigurados nestas
normas.
o Significa que devem ocorrer nos mesmos locais e decorrer de forma contínua,
sem hiatos significativos.
 Este princípio corresponde ao direito fundamental de ter um julgamento no mais
curto prazo possível – 32º/Nº2 CRP.
 Comporta outra dimensão mais técnica:
o Não devem existir grandes hiatos entre as diversas diligências de prova no
mesmo processo:
 E.g - julgamentos de 3 anos correspondem a uma grande erosão da
qualidade da prova.
 Os meios eletrónicos de preservação da prova permitem o
reavivamento, mas ainda assim demoram muito.
 Se houver grandes hiatos temporais, não se permitirá que a prova seja
apreciada como um todo:
 Nos grandes julgamentos, em que há muitos arguidos ou
muita produção de prova que tem de ser sujeito ao
contraditório, implica julgamentos muito demorados.

Suficiência

 O princípio da suficiência não está acolhido com esta designação, mas vem no 7º PP.
 Noções:
o Princípio segundo o qual o tribunal penal tem competências amplas em
termos materiais e conhece qualquer questão que seja relevante para a
decisão da causa.
 Os tribunais penais podem conhecer questões penais e também de
outra natureza =/= o contrário não sucede.
 + Prof. Cavaleiro Ferreira enquadra este princípio na competência =
revela uma supremacia da jurisdição penal face aos restantes.
 Resulta um regime substantivo e um regime processual:
o Regime Substantivo – Nº1:
 O tribunal penal tem essa possibilidade de conhecer qualquer questão
– tem uma competência material ampla.
 Ligado a um princípio de supremacia da instância penal.
o Regime Processual – Nº2:
 O tribunal penal tem a faculdade de devolução para um tribunal não
penal – devolução facultativa.
 O que é uma questão prejudicial que pode afetar a decisão
do tribunal e que pode motivar uma suspensão da instância
para a devolução a um tribunal não penal? – 3 características:
o 1º - Tem de ser uma questão com antecedência
lógico-material:
 = Tem de ser resolvida pelo tribunal antes de
resolver a questão de fundo que tem de
analisar, neste caso a questão penal.
 + Não é uma simples questão processual
prévia como a competência, tem de ser
questão material.
 E.g – se tivermos um crime de funcionário,
temos primeiro de determinar se ele é
funcionário ou não.
o 2º - Tem de ser uma questão com autonomia:
 É uma questão que só por si podia ser tratada
num processo autónomo.
o 3º - Tem de ser uma questão de resolução necessária:
 Só se pode trabalhar o tipo incriminador em
causa se esta questão estiver resolvida.
 Quando surge uma questao prejudicial, o efeito que isso tem sobre a
tramitação do processo = suspende-se a tramitação do PP, devolve-se
a questão à instância competente e aguarda-se pela resposta.
 Âmbito de aplicação do 7º:
o 1º - Questões Penais que surgem num Processo não Penal? Não
 Exemplo - se num processo de natureza cível (processo sucessório)
surge um problema de falsificação de assinaturas ou de abuso de
confiança.
 Estas questões não estão no âmbito do 7º:
 São uma questão para o processo não penal.
 (Quanto muito serão uma fonte de notícia do crime para abertura de
um processo penal, mas não cabem nesta norma.)
o 2º - Questões Penais que surgem num processo penal? Não.
 Exemplo - Se o tribunal tiver de primeiro perceber se há ou não um
dever de garante, esta questão tem antecedência lógico-material e
tem autonomia, mas não está no âmbito do 7º por causa da letra do
preceito que faz referência expressa a “questão não penal”.
 Não cabendo nesta norma, o tribunal não pode fazer devoluções =
tem de se pronunciar se tiver competência para isso e se tiver um
processo que em termos de vinculação temática o permita.
 Questão Doutrinária:
 GMdS defende a analogia do 7º quanto a estas questões
penais = defende que a questão pode ser remetida para outro
PP.
 FCP = diz que não há lacuna, logo não é possível a analogia:
o Se surgir uma questão penal num processo penal, o
tribunal não tem a possibilidade de devolver.
o E.g - se no processo em que se discute uma burla em
Lx e surgir a questão da falsificação do documento em
que assenta a burla no Porto, o tribunal deve apreciar
ambas as questões.
o + temos mecanismos de conexão de processos – 24º
CPP – trata de matérias comuns, não são tratados pelo
7º PP.
o 3º - Questões não Penais que surgem no Processo Penal :
 Exemplo – está-se a discutir um crime de alteração de marcos (116º
CP), e há paralelamente um processo civil que está a tratar a alteração
de marcos.
 Se os limites da propriedade estão a ser discutidos no
processo criminal, a questão cível neste tema tem
antecedência lógico-material, é autónoma e é de resolução
necessária, pelo que o juiz do processo penal pode chamar a
si a resolução dessa questão que interessa à decisão da causa
ou pode suspender o processo penal para que se decida esta
questão no tribunal competente.
 + Nota - só pode haver devolução para um processo distinto de
natureza diferente se esse processo existir:
 Não se pode devolver a questão para que seja promovido um
processo civil, porque este depende do impulso da parte
processual.
 O problema da devolução só se coloca se existir um processo
concomitante de outra natureza.
 + exemplo da aula:
 Relação de parentesco entre autor e vítima.
 Conclusão – o 7º tem 2 partes:
o Uma que é que é intensamente aplicada = o princípio da competência
material ampla que favorece a concentração e que se traduz na regra
segundo a qual o tribunal penal tem competência para conhecer questões de
natureza não penal.
o A outra parte da norma é muito menos aplicada = a devolução facultativa
para um processo diferente, desde logo porque prossupõe que esteja outro
processo em curso para onde se possa enviar a questão não penal
controvertida.
 + Questão – O tribunal penal fica vinculado à decisão do tribunal para quem devolveu
a questão não penal?
o Germano Marques da Silva:
 Afirma que sim, MAS não há nada na lei confirma isso.
o FCP:
 Diferentemente, defende que o tribunal tem de decidir no quadro da
prova existente e, portanto, não fica vinculado a nada.
 Exemplo – Presunção de Filiação por filhos nascidos na constância do
matrimónio:
 Esta é uma presunção que pode ser ilidida, tendo em conta
que uma prova por presunção não tem de ser
necessariamente aceite pelo processo penal:
o Pode suscitar a dúvida razoável ou dúvidas quanto ao
processo metodológico.
 Aqui, mesmo que tenha devolvido a questão não penal,
quando recebe a resposta, o tribunal penal deve verificar se a
resposta foi obtida mediante regras de prova compatíveis
com o processo penal:
o Isto porque, se o tribunal penal tivesse conhecido a
questão no processo penal, teria de conhecer com as
regras de prova que vigoram neste tipo de processo.
o Há 3 argumentos para concluirmos que a decisão do tribunal não penal não é
vinculativa para o tribunal penal que enviou a questão ao abrigo do
mecanismo do 7º:
 1º - Não está na lei que é vinculativa.
 2º - A receção da questão é uma decisão não vinculativa porque
carece de ser compatibilizada com o princípio da legalidade e com as
regras de prova de processo penal:
 = As regras de prova usadas no outro processo (presunções
legais) podem ser incompatíveis com as regras de prova do
processo penal.
 Havendo devolução, tem de se harmonizar essas regras.
 3º - Se for desenvolvida no processo penal tem necessariamente de
ser resolvida de acordo com o PP:
 Quer isto dizer que se o tribunal penal decidir uma questão de
outra natureza ao abrigo da concentração material, vai seguir
as regras de prova do PP.
o Na aula – resolução de FCP:
 A doutrina dominante diz que se devolve, então depois o TP respeita.
 FCP entende a questão de forma diferente:
 Se o TP devolve para TNP, fica “vinculado” desde que a
solução não penal não seja contrária aos princípios penais.
 Se o tribunal tem a dúvida, tem de tirar a dúvida.
 Conclusão:
o Este mecanismo da devolução facultativa, além de pouco utilizado, gera
problemas:
 É importante que o tribunal tenha essa possibilidade, mas não a usa
de facto porque se o fizer terá de suspender o processo penal e
esperar pela decisão do tribunal não penal competente.
 Problema de gerar a comunicação de dois processos que têm regimes
diferentes que carecem de ser compatibilizados.
 Tem de se saber para onde devolver = se não há o processo da outra
natureza não penal, o tribunal tem de resolver.
 O campo de aplicação do Nº2 e Nº4 é limitado porque na
maior parte dos casos nem há processo para onde se devolver.

Princípios relativos à Prova – 124º e ss.

 Prova:
o A prova é a demonstração da verdade dos factos (acontecimentos que
aconteceram numa realidade histórica)
 Pressupõe sempre uma atividade processual que tenta aproximar
aquilo que se passa no processo da verdade histórica.
o O objetivo é que a verdade de que consegue demonstrar através dos meios de
prova se aproxime do que aconteceu na realidade, mas será sempre uma
verdade reconstruída.
 Prova implica 3 realidades:
o Aquilo que se demonstra = factum probandum;
o O meio de prova = instrumentos através do qual se demonstra, permitem
perceber se certos factos ocorreram ou não;
 O acesso do julgador aos factos é sempre mediado através dos meios
de prova – regulados no CPP - prova por declarações, documentos,
reconstituição; reconhecimento.
o A convicção sobre a prova existente – validação da prova.
o Exemplo:
 Demonstra-se = que estão 2 livros em cima da mesa;
 Como se demonstra, através do meio de prova = através de uma
testemunha (prova testemunhal), através da vigilância (prova
documental), descobre-se que a arma tem impressões digitais do
autor (prova pericial)
 Valoração da prova = concluir que estavam dois livros em cima da
mesa.

Princípio da Liberdade da Prova

 Este princípio significa que qualquer meio de prova legal é adequado a provar a
verdade material.
o Está consagrado no 125º:
 Estabelece que são admissíveis as provas que não forem proibidas por
lei.
o Temos uma liberdade de uso de meios de prova para provar qualquer facto,
isto dentro da legalidade.
 A liberdade da prova é uma liberdade num quadro de legalidade.
 MAS diferença de entendimento – 125º:
o Há quem entenda que o único limite é só as provas proibidas.
o Há quem faz interpretação extensiva e que esta liberdade tem sempre de
estar dentro de um quadro de legalidade:
 Tem de se poder qualificar a prova como prova testemunhal, ou como
prova documental, etc.
 A liberdade de prova é uma liberdade dentro do quadro legal em que
existe.
o + para FCP – o âmbito do 126º e ss corresponde à concretização do 125º.
 Regimes Legais – a Legalidade do 125º implica:
o Obtenção:
 E.g – A obtenção da informação pelo Rui Pinto foi obtida por meio
ilegal e portanto é proibida, não pode ser usada como prova.
 + Se a polícia quiser fazer a sua própria investigação, não poderá usar
essa informação.
o Produção;
o Valoração e uso dos meios de prova;
 2 dimensões fundamentais do 125º:
o Não existe hierarquia da prova:
 Os meios de prova valem todos os mesmo:
 As declarações do arguido não valem mais nem menos do que
as declarações da testemunha.
 Posso provar por prova documental, testemunhal.
o A prova pode ser direta ou indireta mas ambas as provas têm o mesmo valor:
 Prova direta = mostra diretamente o factum probandum.
 E.g – a testemunha diz que viu x.
 Prova indireta = mostra um facto do qual se pode inferir outro, a
partir de um facto conhecido demonstra-se um facto desconhecido.
 E.g – a testemunha não viu o autor disparar 3 tiros, mas viu-o
a sair da zona onde foram disparados 3 tiros.
 Nota-as presunções de flagrante delito são uma prova indireta
normativizada.
 A única diferença é quanto à fundamentação:
 A prova indireta exige demonstrar a fundamentação que
permite a inferência = demonstração do raciocínio que
permitiu chegar do facto conhecido ao desconhecido.
 Exemplo:
 Se tivermos um segurança a dizer convictamente que o A não
agrediu o B e tivermos uma câmara de vigilância que
demonstra o contrário, esta contradição pode resultar de uma
falta à verdade ou de um conhecimento parcial (o segurança
estava a mentir ou simplesmente não viu completamente o
que aconteceu).
o = o tribunal pode vir a dizer que este meio de prova
testemunhal do segurança tem limitações.
 O grande interesse do julgamento ter contraditório é que todas as
provas são filtradas e são confrontadas umas com as outras.

Princípio da Legalidade da Prova – 125º e 126º

 Na prática judiciária, os agentes tendem a usar a liberdade de forma probatória como


se fosse sinónimo de ausência de legalidade de prova = ideia errada.
 Temos 2 padrões intensos – 125º e 126º.
 125º:
o Contém um princípio de admissibilidade ampla da prova, mas tem na sua
epigrafe “legalidade da prova” = o que significa que é a liberdade da prova
enquadrada na legalidade.
o Os meios de prova têm de ser obtidos e enquadrados de acordo com o que
está na lei – não há meios de prova atípicos (que não tenham regime legal).
 126º:
o Contém um elenco de métodos proibidos de prova.
o Conciliar com 32º/Nº8 e 34º.
 Violam de uma forma intolerável o núcleo fundamental do EDD.
o Exemplo – o CPP proíbe hipnose:
 A pessoa perde controlo racional sobre o que está a dizer – é possível
pô-la a dizer coisas em que não diria normalmente.
o Também se proíbe meios de prova suscetíveis de gerar dúvidas.
o Uma confissão livre e autónoma pode quebrar o efeito à distância das provas
proibidas.

Princípio da Imediação – 355º


 Este princípio implica que haja contacto direto com os meios de prova = a prova tem
de ser produzida ou analisada em julgamento.
 Este princípio é relativo à fase de julgamento, não vale para o inquérito nem para a
instrução:
o Em julgamento = uma testemunha tem de ser ouvida perante todos em
contexto de audiência de julgamento.
o Na fase de inquérito, a testemunha pode ser ouvida no gabinete da polícia + é
possível o MP usar as declarações de uma testemunha que não teve em
contacto consigo, mas com um órgão de polícia criminal.
 Contacto direto com as provas na audiência de julgamento = 2 razões:
o 1º - Para que se possa exercer o contraditório:
 É preciso ter a prova em julgamento para que a sua produção e análise
se faça perante todos e todos possam exercer o contraditório.
o 2º - Para que o tribunal forme a sua própria convicção e não dependa das
convicções sobre a prova que foram usadas nas fases anteriores, do MP ao
acusar ou do JIC ao pronunciar, por respeito à estrutura acusatória do
processo penal:
 É a convicção do tribunal sobre os factos que tem de estar plasmada
na sentença = 374º/Nº2.

Livre Apreciação da Prova

 Este princípio significa que a apreciação da prova deve ser feito de acordo com a
convicção que a prova produz no julgador, em termos de lhe dar alguma certeza ou
suscitar algumas dúvidas.
 Está previsto no 127º:
o A prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da
entidade competente.
 Sistema de apreciação da prova:
o Antes:
 Usava-se a prova tarifada = cada meio de prova tinha um valor
prefixado anterior ao julgamento.
o Ora, num modelo acusatório, tem de resultar de um contraditório sobre a
prova de forma que o juiz forme a usa própria convicção sobre os factos.
o Agora:
 Exige-se que o juiz crie a sua convicção de acordo com regras da
experiência comum:
 Estas regras implicam uma perspetiva de maior ou menor
plausibilidade.
 = é todo o conhecimento sobre o mundo, da vida e das
pessoas que permite dizer que “é razoável que isto se passe
assim”.
o E.g - se uma pessoa vai a correr, o nosso
conhecimento diz-nos que pode estar atrasada, pode
querer apanhar um autocarro ou pode estar a fugir de
alguém.
 Este princípio de LAP não é uma remissão para a arbitrariedade:
o 379º/Nº2 – consagra um dever de fundamentação:
 O juízo de prova exige a identificação da prova de onde se retira uma
conclusão + exige que se fundamente essa conclusão.
o A plausibilidade, a coerência, a congruência entre os factos é muito relevante
para a demonstração do juízo de prova.

Princípio da Investigação ou da Verdade Material

 O princípio da verdade material é uma matriz fundamental do processo penal.


 Existe em todas as fases do processo:
o Instrução – 288º/Nº4:
 Estabelece que o juiz de instrução tem de ponderar os factos e as
provas que vêm tanto do MP como da defesa.
o Julgamento – 340º:
 E.g - no que toca à confissão – 344º.
o Audiência de Julgamento.
o (isto ao contrário do que acontece em outros princípios (contraditório,
imediação) que apenas surgem em certas e determinadas fases processuais)
 O tribunal tem poderes de investigação autónomos para descobrir a verdade
material:
o Nota – um dos mais importantes desígnios do PP é aproximar ao máximo a
verdade do processo da verdade material.
o 340º:
 O tribunal tem o poder-dever de ordenar a produção de todos os
meios de prova que se lhe afigure necessário à descoberta da verdade
e à boa decisão da causa.

Princípio “in dubio pro reo”

 O princípio in dubio pro reo dita que, em caso de dúvida razoável, pertinente e
irresolúvel, a decisão deve ser favorável ao arguido:
o Este princípio não está consagrado expressamente nem na CRP nem no CPP,
mas é uma decorrência da presunção de inocência (32º/Nº2 CRP).
 Este princípio não é uma regra de apreciação da prova, é uma regra de decisão
perante a dúvida:
o É uma regra residual da decisão perante a dúvida (esta funciona como critério
subsidiário da decisão).
o Ou seja, se o tribunal chegar a uma dúvida, tem de decidir de acordo com o
significado da dúvida e não de acordo com os indícios.
 = Se o arguido se presume sempre inocente, temos de ter provas
suficientemente consistentes para ilidir a presunção = não podemos
ter dúvidas.
 Se tivermos dúvidas, largamos mão deste princípio.
o Nota – esta regra sobre a dúvida só vale na fase do julgamento:
 Na fase do inquérito e da instrução, pode haver dúvidas e mesmo
assim se decidir:
 Nestas fases, pode haver acusação ou pronúncia sem
conhecer a história completa porque só se exige prova
indiciária.
 No julgamento, tem de se saber a história completa.
o Só se pode invocar a dúvida razoável, pertinente e irresolúvel na fase do
julgamento:
 Tem de ser uma dúvida plausível, logicamente articulada, que diga
respeito a matéria relevante.
 Não é legítimo invocar o in dúbio pro reo se o tribunal tiver meios para
resolver a dúvida:
 Exemplo - se o tribunal usou a dúvida sobre quem é a
proprietário de um telemóvel, a decisão não é válida porque o
tribunal pode pedir elementos à operadora.
 Tem de se esgotar os meios para resolver a dúvida num
sistema em que o tribunal tem poderes de investigação.
o Em caso de dúvida razoável pertinente e irresolúvel, o tribunal deve decidir
favoravelmente ao arguido:
 Depois de esgotados os meios de prova e os poderes de investigação,
o tribunal decide legitimamente de acordo com a dúvida, é isso que é
congruente com o princípio da presunção da inocência.

Considerações Finais sobre os Princípios relativos à Prova

 Uma alteração (e.g ao melhorar) da construção destes princípios alteraria


significativamente o modelo de PP PT.
 Evolução tecnológica – desafios que colocam à prova e a forma como funciona a
prova:
o Atualmente, qualquer pessoa tem a possibilidade de gravar os
acontecimentos.
o Novas tecnologias = redes sociais, aplicações de contactos, geolocalização,
nuvens.
o A lei não consegue acompanhar as tecnologias - 2 formas de reagir à evolução
tecnológica:
 O legislador cria cláusulas abertas para integrar a tecnologia futura.
 O legislador cristaliza em cada momento aquilo que é a prova
admissível no âmbito do processo penal.
o Como em PT vigora a liberdade de prova dentro da legalidade, discute-se se
eles são ou não prova legal.
 Exemplo – sinal de GPS – divergência de opiniões:
 Os tribunais PT têm considerado que esta prova não está
prevista na lei e tinha que estar, pelo que é prova ilegal.
 Diversamente - há quem entenda que dentro do princípio
liberdade de prova, esse tipo de elementos entra no processo.
 FCP - considera que a lei penal não pode passar cheques em
branco para o futuro + é possível o legislador acompanhar de
forma relativa e, através do processo legislativo, adaptar à
evolução tecnológica.

Princípios relativos à Forma

Oralidade – para o Julgamento – 96º

 Este princípio da oralidade está previsto como matriz de comunicação oral entre os
sujeitos processuais na fase do julgamento.
o + Tem uma grande riqueza associada = permite relacionar com a palavra dita
toda a mímica da expressão da oralidade, o que permite ao tribunal fazer
uma apreciação mais concisa da prova produzida em sede de audiência.
 É aqui que se concretiza a livre apreciação da prova do tribunal, em fase de pleno
contraditório, com comunicação oral.

Publicidade – só para o julgamento (e debate instrutório)

 Germano Marques da Silva:


o Este princípio tem uma justificação eminentemente política – pensamento
político liberal.
o A publicidade do processo foi reivindicada pelo pensamento liberal como
instrumento de garantia contra as manipulações da justiça de gabinete
(característica da época do absolutismo) = primeiro, como meio de controlo da
justiça pelo povo, e depois, como instrumento de fortalecimento da confiança
do povo nos tribunais.
 Está consagrado no 206º CRP, 86º e 321º.
 Visa garantir que a justiça penal é:
o Transparente quando se realiza;
o Compreensível a todos os que queiram assistir;
o Controlável por qualquer cidadão, a não ser que exista alguma restrição
ponderada no caso concreto.
o -> Isto tem que ver com aquilo que é a justiça penal do Estado de Direito
Democrático:
 Não é secreta, é transparente, realiza-se aos olhos de todos.
 + Só existindo oralidade é que este princípio da publicidade pode ter
dimensão efetiva.
 Em termos materiais, este princípio implica:
o a) assistência, pelo público em geral, à realização do debate instrutório e dos
atos processuais na fase de julgamento;
o b) narração dos atos processuais, ou reprodução dos seus termos, pelos
meios de comunicação social;
o c) consulta do auto e obtenção de cópias, extratos e certidões de quaisquer
partes dele.

Imediação – só para o julgamento

 Está previsto no 355º/Nº1.


 Este princípio exige o contacto direto com os meios de prova:
o A prova tem de ser produzida ou examinada em audiência de julgamento.
 (está também ao serviço de outros princípios como o princípio da publicidade,
a livre apreciação da prova ou a estrutura acusatória).
 A nossa lei apenas prevê o princípio da imediação para a fase do julgamento:
o Na fase do julgamento, o tribunal forma a sua própria convicção, não está
dependente do que vem de trás.
 O tribunal tem contacto direto com as provas e não apenas com a
convicção que resultou das fases anteriores, o que lhe dá uma grande
legitimidade decisória e autonomia do julgamento.
o No inquérito, quem decide pode não ter contacto com uma parte da prova
que pode ser produzida perante a polícia e não perante o MP, sendo que este
tem acesso a um relatório.
o + O mesmo se diz para a fase de instrução, porque o JIC pode delegar
diligências de prova.
 Há mesmo quem diga que não há uma verdadeira estrutura acusatória, nem
independência do tribunal de julgamento ou separação de funções, se não houver
imediação.

Princípio da Representação Especializada

 Nem todos os autores autonomizam este princípio.


 O princípio diz que existem representantes especializados em todas as fases
processais para garantir designadamente os interesses de sujeitos processuais
particulares:
o Tem de existir um advogado que é mandatário do arguido + advogado que é
mandatário do assistente em todas as fases processuais.
 =/= O processo contraordenacional não tem esta exigência, nas fases administrativas
não é preciso uma representação especializada.

Princípios Sem Consagração Constitucional

 Apesar de não consagrados, deles depende a própria imagem da realização da justiça


penal, fundamentais para avaliação crítica:
o Inteligência e lucidez;
o Competência (jurídica, política e legislativa);
o Boa formação;
o Delicadeza;
o Bom senso;
o Tempo;
 Não há justiça penal na hora = exige tempo para ser realizada.

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