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AULA 01
“Entrevista clínica eficaz”
Entrevista clínica → ação e efeito de entrevistar um paciente (e ser entrevistado). Trata-se de uma
conversa entre duas pessoas, sendo uma um ator técnico (médico) e a outra um ator paciente (que
padece de algum desconforto) com o fim determinado de obter uma peça literária denominada HPMA.
❖ Ideia etimológica: “entreolhar-se” → deve ser algo recíproco; “via de mão dupla”.
Todo compartimento corporal goza de características físicas importantes do ponto de vista clínico, dentre
estas características, destaca-se a pressão. Por definição, pressão é a força exercida em uma
determinada área num determinado volume. Assim, as pressões podem estar presentes nos sistemas
compartimentais de importância clínica, como também, nos compartimentos vasculares:
❖ Pressão de sistemas compartimentais de importância clínica: pressão ocular (1º retinopatia
diabética, 2º glaucoma); retal; pleural (negativa no momento da inspiração); intracraniana
(síndromes); gástrica; vesical; do ouvido médio;
➢ Cada um destes compartimentos tem suas medidas pressóricas de maior ou menor relevo
clínico.
❖ Pressão nos compartimentos vasculares: pressão capilar; venosa (MMII → varizes → hipertensão
venosa que leva a ruptura das válvulas venosas; portal → patologia do fígado); VD; VE; AD (muito
próxima a da veia cava); AE; croça aórtica (cajada da aorta); artéria pulmonar; da árvore arterial;
➢ A pressão da árvore arterial = pressão arterial.
Cada um destes compartimentos tem suas medidas pressóricas de maior ou menor relevância clínica.
Não existe cura para a maioria dos casos de HAS. Entretanto, ela pode ser controlada, na maioria das
vezes, desde que o paciente tenha uma boa adesão ao tratamento. O tratamento padrão é a combinação
de terapia não medicamentosa (TNM) com medicamentos anti-hipertensivos → pode levar a um melhor
controle da PA + proteger o paciente em relação aos danos em órgãos-alvo.
A prevenção primária é realizada em todos os níveis de saúde (primário, secundário e terciário) em virtude
da HAS estar presente em todos eles.
❖ Atenção primária → medicina de prevenção → campanhas de conscientização (envolvem a
alimentação);
❖ Atenção secundária → média complexidade;
❖ Atenção terciária → medicina mais específica = acompanhamento “rígido” do quadro clínico do
paciente
Diagnóstico e classificação
A avaliação inicial do paciente que apresenta quadro clínico
hipertensão arterial deve ser pautada em quatro pontos
principais: confirmação do diagnóstico + suspeita e
identificação da causa (essa causa pode ser primária ou
secundária) + avaliação do risco cardiovascular + investigação
de possíveis lesões de órgão - alvo. Esses pilares devem ser
as premissas básicas para a investigação desse paciente.
Investigação do hipertenso
❖ Recomenda-se, pelo menos, a medição da PA a cada dois anos para os adultos (1x a cada 24
meses);
➢ O ideal seria, na opinião do Gilvano, aferir a pressão arterial pelo menos uma vez ao ano
após os 40 anos;
➢ A HA primária inicia-se mais frequentemente nos pacientes entre 25 a 50 anos; ao se
identificar HA abaixo dos 20 anos ou após os 50 anos, recomenda-se a investigação de HA
secundária;
■ A etiologia da hipertensão arterial na maioria dos pacientes é de natureza
desconhecida, de modo que a hipertensão é considerada primária ou essencial.
❖ A medição da PA pode ser feita com esfigmomanômetros manuais (mais precisos que os demais),
semiautomáticos ou automáticos. Os de maior precisão são os intravasculares (um cateter é
colocado dentro das artérias para que se tenha maior precisão → medida invasiva feita em UTI);
➢ As braçadeiras mais precisas são as de braço > antebraço > punho (quanto mais próximo
do coração, mais fidedigno); os esfigmomanômetros com coluna de mercúrio são mais
precisos que os outros automáticos.
❖ Os equipamentos devem ser validados e sua calibração deve ser verificada anualmente, de acordo
com as orientações do INMETRO;
❖ PA deve ser medida no braço, devendo-se utilizar manguito adequado à circunferência do braço do
paciente (criança/adulto/obeso);
❖ Suspeita de HA secundária a coartação da aorta (estreitamento luminal proximal da aorta) →
medição deverá ser realizada nos membros inferiores, utilizando-se manguitos apropriados.
Etapas da esfigmomanometria
1. Determinar a circunferência do braço no ponto
médio entre acrômio e olécrano;
2. Selecionar o manguito de tamanho adequado ao
braço;
3. Colocar o manguito, sem deixar folgas, e a 3 cm
acima da fossa cubital;
4. Centralizar o meio da parte compressiva do
manguito sobre a artéria braquial;
5. Estimar o nível da PAS pela palpação do pulso
radial;
6. Palpar artéria braquial na fossa cubital e colocar a
campânula ou o diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva;
7. Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da PAS obtido pela palpação;
8. Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 mmHg por segundo);
9. Determinar a PAS pela ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff) e, após, aumentar
ligeiramente a velocidade de deflação;
10. Determinar a PAD no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff);
11. Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para
confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e
completa;
12. Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a
PAD no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores
da PAS/PAD/zero;
13. Realizar pelo menos duas medições, com intervalo em torno
de um minuto.
a) Medições adicionais deverão ser realizadas se as duas
primeiras forem muito diferentes.
b) Caso julgue adequado, considere a média das medidas;
14. Medir a pressão em ambos os braços na primeira consulta e
usar o valor do braço onde foi obtida a maior pressão como referência;
15. Informar o valor de PA obtido para o paciente;
16. Anotar os valores exatos sem “arredondamentos” e o braço em que a PA foi medida.
Os efeitos que causam isso não são totalmente estabelecidos, todavia, nesse grupo estão incluídos
ansiedade ou respostas de alerta e condicionamento. No entanto, portadores de HAB não transparecem
sua ansiedade no consultório e, além disso, podem não apresentar taquicardia o que dificulta um indicador
clínico para o diagnóstico de HAB (o paciente informar que as medidas domiciliares estão dentro do
padrão esperado pode servir de ajuda). Alguns estudos revelam que o risco CV em longo prazo desta
condição é intermediário entre o da HA e o da normotensão.
Essa condição é mais prevalente em homens idosos e com PA no limite superior da normalidade. Outros
fatores de risco encontrados foram:
❖ Tabagismo;
❖ Etilismo;
❖ Atividades físicas e hipertensão induzida pelo
exercício físico;
❖ Estresse mental;
❖ Obesidade;
❖ História familiar de HAS;
A maior chance de eventos cardiovasculares pode ser em razão de maior ocorrência de lesões em
órgãos-alvos. Em diabéticos, a HM está associada a um risco aumentado de nefropatia, especialmente
quando a elevação da PA ocorre durante o sono.
Dessa forma, a conduta médica deve ser realizada de acordo com a individualidade do paciente. Além
disso, perante aos achados a conduta também deve seguir as seguintes recomendações dadas pela
Diretriz de Hipertensão Arterial:
AULA 03
“Hipertensão Arterial II”
Hipotensão ortostática
Hipotensão ortostática (HO) ou postural ocorre quando o paciente move-se da posição deitada/sentada
para a em pé e apresenta-se com um ou mais dos seguintes parâmetros:
1. Queda na pressão arterial (PA) sistólica de pelo menos 20 mmHg;
2. Queda na PAD de pelo menos 10 mmHg;
3. Sintomas de hipoperfusão → esses sintomas decorrentes do baixo débito cardíaco podem estar
presentes ou não no paciente;
a. Quando presentes: palidez, sudorese, sensação de desfalecimento, taquicardia, turbidez da
visão;
b. Pacientes com quadro de vertigem/ tontura ou que utilizam hipotensores podem apresentar
HO.
A hipotensão ortostática não é uma doença; na verdade ela é uma síndrome causada por uma série de
situações.
❖ Para verificação dessa situação a medição da pressão pode ser feita em pé, em comparação com
a em pé/deitado;
❖ Todos nós temos uma queda fisiológica da pressão ao assumir o ortostatismo (em pé). Essa queda,
contudo, não pode ser maior do que o explicitado nos parâmetros acima.
Por conseguinte, é importante a diferenciação entre pressão arterial habitual (histórico pressórico) e
hipotensão. Esses conceitos são diferentes:
❖ Necessário estar atento ao histórico do paciente → se o indivíduo tem constantemente baixos
níveis pressóricos (exemplo: 90x60 mmHg) e possui o funcionamento pleno do organismo ele
apenas tem a pressão habitual baixa e, portanto, não tem “hipotensão de caráter patológico”;
❖ Pacientes que têm a pressão habitual mais elevada e depois essa pressão passa a ter valores mais
baixos do que o habitual → sinal de alerta = sugestivo de hipotensão;
➢ O inverso é válido também: se a pressão habitual é baixa, e aí a pressão começa a adquirir
valores maiores é importante ficar atento, pois pode ser uma hipertensão arterial, mesmo
que ainda esteja dentro do intervalo de normalidade;
■ O indivíduo hipertenso quando faz uma hipotensão “do nada”, passa a ter um pior
prognóstico em relação a pessoa que já tem a pressão habitual em níveis mais
baixos e tem uma queda ou uma elevação abrupta.
Outro tópico importante é a relação de hipotensão com vagotonismo. Vagotonismo é um estado fisiológico
de hiperestimulação/hiperreatividade do nervo vago. Esse nervo possui muitas fibras parassimpáticas, as
quais são responsáveis pela vasodilatação periférica, redução da frequência cardíaca e relaxamento da
parede atrial. Todas essas funções podem levar a um baixo débito cardíaco e, consequentemente, ao
episódio de hipotensão.
Além disso, vale ressaltar que vagotonismo é diferente de síncope vasovagal. O vagotomismo é o “jeito de
ser”, ou seja, o indivíduo tem uma hiperreatividade ao nervo vago em diversas situações (não consegue ler
durante uma viagem de carro, precisa sentar em determinado local no ônibus...). Já a síncope vasovagal é
um episódio pontual que ocorre devido às condições do ambiente → naquela situação o ambiente quente,
por exemplo, provoca hiperatividade e leva ao desmaio/mal estar.
Assim, a hipotensão deve ser algo que o médico precisa prestar atenção. Muitas vezes a hipotensão pode
ser indicativo de casos alarmantes:
❖ Hipovolemia/desidratação/iminência de um choque;
❖ O choque tem como característica a redução da PA e espera-se que a FC aumente (taquicardia)
para funcionar como um mecanismo compensatório; caso a taquicardia não aconteça, é uma
condição de mau prognóstico.
Além disso, esse índice é um indicador de doença aterosclerótica em outros territórios, como o coração e o
cérebro. Dessa forma, pode-se dizer que é um marcador prognóstico para eventos cardiovasculares (IAM,
AVC). Vale ressaltar que pacientes com índice tornozelo-braquial < 0,9 possuem mortalidade de 3 a 6
vezes maior em 5 anos comparado com pessoas normais (dentro do índice).
Crise hipertensiva
A crise hipertensiva é caracterizada pelo aumento severo,
súbito e importante da pressão arterial com repercussão
sintomática.
❖ As Urgências Hipertensivas (UH) são situações
clínicas sintomáticas em que há elevação acentuada da
PA (definida arbitrariamente como PAD> ou igual 120
mmHg) sem lesão de órgão alvo aguda e progressiva →
sintomas menos graves + paciente sob risco de evolução
para LOA progressivo;
❖ As Emergências Hipertensivas (EH) são situações
clínicas sintomáticas em que há elevação acentuada da
PA (definida arbitrariamente como PAD > ou igual 120
mmHg) com lesão de órgão alvo aguda e progressiva;
➢ Pode ocorrer acometimento neurológico,
renal, ocular, hepático ou insuficiência miocárdica →
manifestam-se como encefalopatia, convulsões, alterações visuais + achados anormais em
ecocardiograma ou ECG.
Pseudocrise Hipertensiva
A urgência e emergência hipertensivas devem ser diferenciadas da pseudocrise hipertensiva, que é
caracterizada pela elevação transitória da pressão arterial (PA) diante de eventos dolorosos ou
emocionais, como cefaléia, dor torácica atípica, dispneia, estresse psicológico agudo, síndrome do pânico
e ansiedade.
Retinopatia Hipertensiva
A hipertensão arterial sistêmica acomete grande parte da população
mundial, afetando vários sítios orgânicos. No olho, suas alterações atingem
o segmento posterior na coróide, na retina e na papila óptica, levando,
respectivamente, à coroidopatia, retinopatia e neuropatia hipertensivas, com consequente baixa da
acuidade visual. Assim, tem-se as seguintes alterações:
❖ Estreitamento arteriolar;
❖ Tortuosidade de vasos;
❖ Em 80% dos cruzamentos vasculares as arteríolas
sobrepõem-se às vênulas, ocorrendo o contrário nos 20%
restantes. No cruzamento vascular normal, a coluna de sangue
pode ser vista de forma diferente tanto na arteríola quanto na
vênula. Já na presença de esclerose, a visualização da vênula fica
prejudicada no cruzamento → artérias normais cavalgam as veias
(passam por cima) → isso gera sinais patológicos:
➢ Sinal de Salus → veia perde sua trajetória, sofre uma deflexão ao cruzar com a artéria. Ou
seja, mudança do trajeto da vênula junto ao cruzamento;
➢ Sinal de Gunn → pagamento da veia na iminência do
cruzamento com a artéria;
■ Afinamento das porções distais e proximais da
vênula;
➢ Sinal de Bonnet → represamento da veia antes do
cruzamento com a artéria (sangue da veia não passa
porque a artéria está em cima);
❖ Retinopatia Hipertensiva Maligna: exsudatos moles e duros +
hemorragias/trombose + edema de papila (imagem rosada).
AULA 04
“Síndrome da Insuficiência Cardíaca”
Insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa, na qual o coração é incapaz de bombear
sangue de forma a atender às necessidades metabólicas tissulares, ou pode fazê-lo somente com
elevadas pressões de enchimento. Essa síndrome pode ser causada por alterações estruturais ou
funcionais, sendo que os sinais e sintomas da IC são típicos do resultado de um baixo débito cardíaco e/ou
das elevadas pressões de enchimento no repouso ou no esforço.
O termo “insuficiência cardíaca crônica” reflete a natureza progressiva e persistente da doença, enquanto
o termo “insuficiência cardíaca aguda” fica destinado a alterações rápidas ou graduais de sintomas e sinais
que resultam em uma necessidade terapêutica urgente.
Dentro dessa definição está implícito que a IC pode ser causada por anormalidades na função sistólica
(produz redução do volume sistólico → IC sistólica) ou anormalidades na função diastólica (defeito de
enchimento ventricular → IC diastólica). Cerca de 60% dos casos de IC ocorrem por um déficit na
contratilidade ventricular (disfunção sistólica) sendo a disfunção diastólica responsável pelos 40%
restantes.
Quando a função cardíaca está prejudicada ou a carga de trabalho está aumentada, vários mecanismos
fisiológicos mantêm a pressão arterial e a perfusão dos órgãos vitais. Os mais importantes são:
1. Mecanismo de Frank-Starling → o aumento do volume dilata o coração e aumenta a formação de
pontes transversais funcionais dentro dos sarcômeros, aumentando a contratilidade;
2. Adaptações miocárdicas, incluindo hipertrofia com ou sem dilatação das câmaras cardíacas →
alterações moleculares, celulares e estruturais que ocorrem em resposta às alterações ou lesões
nas condições de carga são chamadas de remodelagem ventricular. Tais alterações geralmente
são adaptativas e podem prejudicar a função cardíaca. Em muitos estados patológicos a IC é
precedida por hipertrofia cardíaca, que é a resposta compensatória do miocárdio ao maior trabalho
mecânico;
3. Ativações dos sistemas neuro-humorais e receptores pressóricos
a. Liberação do neurotransmissor norepinefrina pelos nervos cardíacos do SNA (aumenta da
frequência cardíaca, aumenta a contratilidade do miocárdio e a resistência vascular);
i. Esse neurotransmissor, junto da epinefrina, ativam o sistema nervoso simpático;
1. As catecolaminas, em alta concentração, são cardiotóxicas →
enfraquecimento da fibra + apoptose.
b. Ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA);
i. A ativação desse sistema leva ao aumento pressórico e, consequentemente,
desencadeia o remodelamento ventricular através da proliferação de fibroblastos →
substituição da fibra cardíaca por fibroblastos;
ii. SRAA: isquemia renal → desencadeia a liberação de renina → recruta
angiotensinogênio hepático → angiotensina 1 → sofre a ação da ECA (endotélio
pulmonar) → angiotensina 2 → aldosterona (adrenal) → aumento da PA;
iii. Ações da angiotensina 2: vasoconstrição periférica + retenção de sódio e água pelos
rins + liberação de aldosterona pela supra renais;
iv. Ações da aldosterona: retenção de sódio e água pelos rins com consequente
estímulo de liberação de renina + ação miocárdica com proliferação de fibroblastos
(num primeiro momento há o estreitamento das câmaras, mas depois elas
afrouxam).
c. Liberação de peptídeo natriurético atrial;
i. Os peptídeos natriuréticos apresentam importantes ações cardiovasculares, renais,
endócrinas e parácrinas, sendo descritos quatro tipos: peptídeo atrial natriurético
(ANP), peptídeo natriurético do tipo B (BNP), peptídeo natriurético do tipo C (CNP) e
peptídeo natriurético do tipo D (DNP). O ANP e o BNP são produzidos nos átrios e
ventrículos do coração e secretados por distensão dessas câmaras cardíacas e pela
elevação da pressão arterial → induzem o corpo a perder sódio;
ii. O ANP e o BNP produzem vasodilatação sistêmica e renal, aumento da
permeabilidade vascular, efeitos antiinflamatórios, antiproliferativos e antifibróticos.
Ressalta-se que o ANP e o BNP, além de modular o SRA, inibindo a secreção de
renina e a formação de Ang II, exercem efeitos opostos aos da Ang II;
1. Algumas limitações ao seu uso na prática clínica devem ser destacadas, pois
estes peptídeos podem elevar-se na presença de anemia, insuficiência renal
crônica (IRC), e idade avançada, e apresentar níveis mais baixos na
presença de obesidade → papel prognóstico em pacientes com IC;
2. Liberação de vasodilatadores: prostaglandinas e dopamina →tendem a
proteger o coração.
d. Presença de barorreceptores (taquicardia);
i. São receptores localizados por todo o sistema cardíaco, sobretudo no cajado da
aorta (nervo vago) e na carótida interna (estímulos conduzidos pelo nervo de Hering
- aferente do nervo glossofaríngeo). Os estímulos disparados são direcionados ao
núcleo solitário (encéfalo). Nesse local, é realizada a “leitura” dos níveis pressóricos:
1. Hipotensão desencadeia o sistema simpático com o mecanismo de
vasoconstrição periférica e aumento da frequência cardíaca pelo estímulo de
catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) no receptores beta-1;
2. Hipertensão desencadeia o sistema parassimpático com o relaxamento da
vasculatura periférica e redução da frequência cardíaca (acetilcolina em
receptores muscarínicos).
e. Ativação do sistema arginina-vasopressina (AVP) = hormônio antidiurético (ADH) → leva a
uma hiponatremia dilucional por absorção livre de água (fator prognóstico);
i. Quando ocorre redução da pressão arterial, sensores localizados no seio carotídeo
percebem a redução, e então enviam sinais ao hipotálamo para que haja liberação
de ADH a fim de aumentar os níveis pressóricos.
Assim, esses mecanismos adaptativos podem ser adequados para manter o débito cardíaco em níveis
relativamente normais, porém a capacidade desses mecanismos em manter o desempenho cardíaco
pode, com o tempo, ser excedida.
É importante perceber que ocorrem alterações importantes durante a hipertrofia cardíaca. O aumento do
tamanho do cardiomiócito não é acompanhado por um aumento proporcional de capilares. Como
resultado, o suprimento de oxigênio e nutrientes para o coração hipertrofiado, particularmente o que está
com sobrecarga de pressão, é mais tênue do que para o coração saudável. De forma concomitante, a
demanda por oxigênio do coração hipertrofiado é alta devido ao aumento de carga de trabalho. Ademais,
tal hipertrofia é acompanhada de deposição de tecido fibroso.
Débito cardíaco
O débito cardíaco (DC) é a quantidade de
sangue bombeado para a aorta a cada
minuto pelo coração. Também é a quantidade
de sangue que flui pela circulação. Desse
modo, o DC é um dos fatores mais
importantes em relação à circulação, pois
nada mais é que a soma do fluxo sanguíneo
para todos os tecidos do corpo.
❖ Volume sistólico médio é de 70ml;
❖ Débito cardíaco = volume sistólico x frequência cardíaca.
OBS: tempestade tireotóxica (liberação em alta concentração dos hormônios da tireóide) → faz um quadro
clínico em que tem-se vasodilatação periférica absurda + aumento da FC. Nessa situação, um coração
normal entra em falência, porque a demanda aumenta muito e ele não consegue supri-la.
É importante ressaltar que um mesmo paciente pode se encaixar em diferentes classificações simultâneas!
Vale lembrar que existem três principais entendidades que interrompem o sono: apneia do sono, DNP e
doença do refluxo gastro-esofágico (DRGE).
❖ Dispneia paroxística noturna → explicada anteriormente;
❖ Apneia do sono: síndrome em que há dificuldade progressiva na ventilação → a amplitude da
frequência respiratória é reduzida até entrar em apneia, geralmente, é um evento rápido e evolui
bem quando o paciente muda de posição;
➢ Evento de baixa perfusão cerebral → faz o paciente acordar.
❖ Doença do refluxo gastro-esofágico com retorno de material alimentar na orofaringe → sensação
de estrangulamento quando esse material gástrico chega na orofaringe e ameaça escorrer pela
árvore respiratória → há contração do músculo cricotireóideo → sensação de sufocamento.
Relembrando conceitos
❖ Dispneia: dificuldade para respirar;
❖ Taquipneia: aumento da frequência respiratória (+20 irpm);
❖ Bradipneia: redução da frequência respiratória (- 16 irpm);
❖ Dispnéia de Esforço: surgimento ou agravamento da dispnéia por atividades físicas. Inespecífica
entre portadores de pneumo e cardiopatias;
❖ Ortopnéia: surgimento ou agravamento da dispnéia com a adoção da posição horizontal.
Insuficiência cardíaca esquerda, associada com o estabelecimento de congestão pulmonar. Não é
exclusiva de IC;
❖ Dispnéia paroxística noturna (DPN): interrupção do sono por uma dramática sensação de falta de
ar, obrigando o paciente a sentar-se no leito, ou mesmo levantar-se e procurar uma área mais
ventilada, visando obter alívio da súbita sensação de sufocação;
❖ Platipnéia: dispnéia que surge ou se agrava com a posição ortostática.Classicamente, ocorre em
pacientes com quadros de pericardite ou na presença de shunts direito-esquerdos;
❖ Ortodeoxia: queda acentuada da saturação arterial de oxigênio com ortostatismo;
➢ Platipnéia e ortodexia são achados da síndrome hepatopulmonar, que se estabelece
secundária à presença de dilatações vasculares intrapulmonares.
❖ Treptopneia: dispneia que surge ou piora em uma posição lateral, e desaparece ou melhora com o
decúbito lateral oposto. Pode surgir em qualquer doença, comprometendo um pulmão mais
intensamente do que o outro, como derrame pleural unilateral ou paralisia diafragmática unilateral;
❖ Enurese: perda de urina durante o sono;
❖ Noctúria: necessidade de acordar durante a noite para urinar. Cada micção é precedida e seguida
de um período de sono;
❖ Poliúria: produção de urina > 40 ml/kg de peso nas 24 h;
➢ Poliúria é a causa mais frequente de noctúria;
➢ A poliúria noturna ocorre quando pelo menos 20% da diurese das 24 horas é produzida
durante a noite.
Ciclo cardíaco
Fases do enchimento ventricular:
❖ Fase 1 – enchimento rápido (75%) → momento em que ocorre B3;
❖ Fase 2 – enchimento lento (10%);
❖ Fase 3 – contração atrial (15%);
❖ O sangue que estava no átrio desce rapidamente ao ventrículo e é ‘freado’ ou ‘desacelerado’ →
esta desaceleração causa vibração das estruturas adjacentes, que é transmitida pela caixa
torácica.
Já a presença da quarta bulha, ou bulha atrial, consiste em algumas oscilações de baixa frequência. Esse
som é ocasionalmente (muito pouco) ouvido em indivíduos normais. É causado, de forma geral, pela
oscilação do sangue e das câmaras cardíacas como resultado da contração atrial.
❖ A quarta bulha cardíaca é causada pelo aumento da intensidade da contração do átrio esquerdo/ou
direito no final da diástole;
❖ A presença da quarta bulha é sempre indicativa de patologia cardíaca (aumento da rigidez da
parede cardíaca);
❖ Acredita-se que seja originada pela brusca desaceleração do fluxo sanguíneo na contração atrial
em encontro com o sangue no interior do ventrículo, no final da diástole → rigidez na parede do
ventrículo ou está muito cheio de sangue;
❖ A combinação de B1, B2, e B4 → ritmo de galope atrial;
❖ A combinação de B1, B2, B3 e B4 → ritmo de galope quádruplo.
Já a terceira bulha (B3) pode ser identificada em crianças com finas paredes torácicas e em adultos
portadores de insuficiência ventricular esquerda. Consiste em algumas vibrações de intensidade e
frequência baixas, mas bem ouvidas na região do ápice cardíaco. Tais vibrações ocorrem no início da
diástole e são causadas pela terminação abrupta da distensão ventricular e pela desaceleração do sangue
entrando nos ventrículos.
Exames complementares
❖ Eletrocardiograma (ECG)
➢ Sobrecarga ventricular;
➢ Serve para avaliar sinais de cardiopatia estrutural como hipertrofia ventricular esquerda,
isquemia miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução atrioventricular, bradicardia
ou taquiarritmias, que podem demandar cuidados e tratamentos específicos. Vários destes
aspectos são marcadores prognósticos em muitas cardiopatias, como na chagásica crônica;
■ A detecção de bloqueio de ramo esquerdo (BRE), com alargamento pronunciado da
duração do complexo QRS, auxilia na indicação da terapia de ressincronização
cardíaca (TRC).
❖ Ecocardiograma
➢ Permite a avaliação da função ventricular sistólica esquerda e direita, da função diastólica,
das espessuras parietais, do tamanho das cavidades, da função valvar, da estimativa
hemodinâmica não invasiva e das doenças do pericárdio.
❖ RX de tórax
➢ A radiografia apresenta, no caso de ICC, sinais muito característicos. São eles: cefalização
de trama, congestão do hilo pulmonar, presença de Linhas B de Kerley, aumento do
tamanho cardíaco;
■
É comum que a ICC curse com um edema pulmonar → sinais radiológicos que
sugerem a presença de acúmulo de líquido no interstício pulmonar ou no espaço
alveolar são redistribuição vascular → sinal em “asa de morcego”/ “asa de
borboleta”.
❖ Exames laboratoriais
➢ Biomarcadores.
Biomarcadores
❖ Importantes: péptidos natriuréticos BNP e NT-proBNP;
❖ Papel diagnóstico na IC;
❖ Falsa elevação: anemia, insuficiência renal crônica (IRC) e idade avançada;
❖ Falsa redução: obesidade;
❖ Os peptídeos natriuréticos têm demonstrado papel prognóstico em pacientes com IC.
Estratégia de tratamento
O tratamento da insuficiência cardíaca, para ser bem sucedido, precisa visar o alívio dos sintomas, bem
como a melhora da sobrevida. Isso pode ser feito através da redução da pressão arterial, controle de
doenças crônicas que podem evoluir para ICC, diminuição de tabagismo e alcoolismo, redução da
obesidade, além de, obviamente, ter um tratamento farmacológico quando necessário.
Todos esses medicamentos visam a melhora dos sintomas, contudo, os que também visam o aumento da
sobrevida são: IECA/BRA, hidralazina + nitrato, espironolactona e betabloqueadores.
AULA 04
“Acidente Vascular Encefálico - parte I”
Acidentes vasculares
Acidentes vasculares são condições clínicas decorrentes de eventos de ruptura vascular com
extravasamento de sangue no ambiente intersticial ou oclusão luminal com prejuízos por perda de fluxo.
Chama-se acidente vascular encefálico (AVE) aquele evento que ocorre em qualquer lugar no encéfalo
(cérebro, cerebelo, tronco encefálico). Já o acidente vascular cerebral (AVC) é limitado à porção cerebral
como o próprio nome diz.
❖ Rupturas não traumáticas geralmente envolvem lesão estrutural ou stress hidrostático;
❖ Oclusões vasculares são decorrentes de doença aterosclerótica → muito comum;
➢ Exemplo: AVE, IAM, trombose mesentérica, tromboembolismo pulmonar, tromboembolismo
periférico.
Congestão
A congestão faz parte das alterações circulatórias do organismo e pode ser definida como uma aumento
do volume sanguíneo localizado num órgão ou parte dele, com consequente dilatação vascular, por
alteração no sistema de pressão arterial relacionado a resistência pré e pós capilar. É um estado grave,
condição de alto risco, em que há um mal súbito, geralmente levando a uma alteração de consciência.
❖ É um estigma popular dizer que os episódios de congestão ocorre no período pós-prandial → não
existe nenhuma entidade clínica associada ao comer e tomar banho/mergulhar na piscina após
refeições;
❖ É indicado evitar esforço físico depois de ter se alimentado, pois a circulação se concentra na
demanda exigida pelo processo digestivo. Se o indivíduo comer e logo praticar exercícios haverá
uma competição entre o leito esplâncnico com o leito muscular → pode trazer tontura e mal estar,
mas não chegará a um quadro tão grave quanto o estigma popular.
❖ Em caso de doença aterosclerótica avançada e ocorrer um “roubo de fluxo” muito grande, isso
pode acarretar em menor perfusão cerebral e, em casos graves, levar a um AVC.
Cérebro
O cérebro é um dos órgãos mais importantes do corpo humano,
pois ele tem o controle sob as ações voluntárias e involuntárias.
❖ Alta demanda energética → elevado gasto de oxigênio e
glicose;
❖ O fluxo sanguíneo cerebral é muito elevado, sendo
superado apenas pelo rim e do coração;
➢ O fluxo sanguíneo cerebral médio em adultos
jovens é mais ou menos cerca de 2,5% do peso
corporal.
❖ O cérebro de um adulto médio pesa cerca de 1400 g, ou
seja, 1,4 kg, de modo que o fluxo para o cérebro como um
todo é de aproximadamente 756 ml/min, o que
corresponde a aproximadamente 14% do débito cardíaco
e 18,5% do consumo de oxigênio.
Correlação anatomoclínica
❖ Dura Máter → meninge mais externa;
❖ Aracnóide: está num espaço que permeia os vasos → trabéculas;
❖ Pia máter → meninge mais interna.
Tipos de AVEs
De maneira simplista é possível classificar os acidentes vasculares encefálicos em isquêmico (AVEI) ou
hemorrágico (AVEH). Contudo, há uma classificação “mais fina” que é:
❖ Isquêmico: ocorre na maior parte dos casos (80%);
❖ Hemorrágico: ocorre em cerca de 20 % dos casos.
➢ A doença cerebrovascular quando relacionada a hemorragia pode ser subdividida em:
hemorragia cerebral intraparenquimatosa (HIP) e hemorragia subaracnóide (HSA) ou
meníngea.
Entretanto, em casos de pacientes inconscientes, não é recomendado que a glicose seja ofertada de
forma subcutânea/intradérmica/intramuscular/intra óssea, pois isso pode causar necrose no organismo (a
glicose é uma substância que tem grande poder osmótico, ou seja, consegue atrair muita água para o
tecido → dificulta a circulação local → citólise das células da região → necrose + abertura para infecções
oportunistas).
Caso o paciente esteja inconsciente e sem veia pérvia, é indicado a administração de glucagon
intramuscular ou subcutâneo (preferencialmente).
Por qual motivo a enxaqueca com aura têm mais risco de AVCI?
Muitas vezes confundida com outras cefaleias, a enxaqueca é um tipo de dor de cabeça que costuma
provocar dores unilaterais e latejantes, acompanhadas na maioria das vezes de náuseas, vômitos e
intolerância a sons, luz e cheiros fortes. As crises tendem a aparecer ocasionalmente, com duração de
quatro até 72 horas. Em casos extremos, a frequência pode ser diária.
❖ A enxaqueca é um fenômeno vascular;
❖ A aura é uma isquemia da perturbação do nervo óptico ou de áreas encefálicas da visão;
➢ Se tiver aura tem maior perturbação do tônus vascular.
❖ O tipo de aura tem importância clínica (veremos isso em cefaleia) porque quanto mais
elaborada/grosseira for, maior é a perturbação isquêmica;
❖ Enxaqueca vs. glaucoma → há uma associação consistente, embora ainda não saibam a relação
fisiopatológica.
Tríade de Virchow
Trombose é a solidificação dos constituintes normais do sangue, dentro do sistema cardiovascular, no
animal vivo. Trombo é a massa sólida formada a partir do processo da trombose. As três principais
alterações que levam a formação de um trombo (Tríade de Virchow) são:
❖ Lesão endotelial: a perda física do endotélio faz com que haja exposição da MEC subendotelial e
isso é um fato que provoca a adesão plaquetária;
➢ O endotélio não precisa estar desnudo ou fisicamente rompido para colaborar com o
desenvolvimento da trombose → qualquer perturbação no equilíbrio dinâmico das
atividades pró e antitrombóticas do endotélio pode influenciar os eventos de coagulação
local.
❖ Estase ou turbulência do fluxo sanguíneo: a turbulência contribui para a trombose arterial e
cardíaca por causar lesão ou disfunção endotelial; a estase colabora para a formação dos trombos
venosos;
➢ Ambos promovem a ativação endotelial, aumentando a atividade pró-coagulante e a
adesão leucocitária + rompem o fluxo laminar e permitem que plaquetas entrem em
contato com o endotélio + previnem a limpeza e a diluição dos fatores de
coagulação.
❖ Hipercoagulabilidade sanguínea (trombofilia): contribui em menor frequência para o estado
trombótico. Ela pode ser definida como qualquer alteração nas vias da coagulação que predispõem
a trombose.
Fisiopatologia
O cérebro requer um suprimento constante de glicose e de oxigênio que é suprido pelo sangue. Dessa
maneira, quando há o estado de hipóxia significa que ela pode ser causada pela baixa pressão parcial de
oxigênio, pelo comprometimento da capacidade do sangue transportar oxigênio ou pela inibição do uso de
oxigênio pelo tecido. Outro fator que pode ser limitante ao funcionamento adequado é a isquemia. Ela
pode ser permanente ou transitória e essa interrupção de fluxo pode ser consequente à redução na
pressão de perfusão, da obstrução dos pequenos/grandes vasos, ou de ambos. Ou seja, os AVEs
isquêmicos resultam de oclusão trombótica ou embólica de vasos encefálicos.
Por conseguinte, quando o fluxo sanguíneo para alguma região do encéfalo estiver reduzida, a
sobrevivência do tecido dependerá da circulação colateral, da duração da isquemia e da magnitude e
rapidez da redução do fluxo. Esquematicamente, tem-se:
❖ Perda de homeostase celular → lesão endotelial (Tríade de Virchow) → acidose → agressão ao
vaso pela redução de pH → elevação do cálcio intracelular (isquemia causa alteração metabólica)
→ toxicidade por radical livre → produtos do ácido araquidônico (interfere na cascata inflamatória)
→ ativação de células gliais + leucócitos → infiltrado leucocitário → obstrução do vaso sanguíneo
por placa aterosclerótica → tromboembolismo → isquemia/hipóxia de uma região;
❖ Ruptura de vasos com extravasamento de sangue.
Circundando o núcleo da região isquêmica (região central → drástica redução da perfusão com
consequente morte neuronal irreversível), existe uma área
chamada zona de penumbra, onde a isquemia é incompleta.
Nesse local, a lesão celular é potencialmente reversível, desde
que o fluxo sanguíneo seja restaurado (por recanalização do vaso
ocluído ou circulação colateral). É justamente essa área de
penumbra o alvo do tratamento do AVCI agudo. A terapêutica
trombolítica tem o objetivo de reperfundir a zona de penumbra
isquêmica e consequentemente salvar os neurônios ali situados.
Ela baseia-se nesse curto intervalo de tempo (de poucas horas)
denominado janela terapêutica. Logo, é a área de penumbra que
se tenta preservar em casos de AVCI.
Localização do AVEH
❖ Difusa: intraventricular e subaracnóidea → está muito relacionada à ruptura de aneurismas e
malformações arteriovenosas e acarreta em sangramento no espaço subaracnóideo;
❖ Focal: hemorragia intraparenquimatosa → causada pela ruptura de pequenas artérias perfurantes,
ocasionando sangramento dentro do parênquima cerebral, provocando um edema/inchaço nas
estruturas locais que levará à lesão neurológica. O principal fator de risco associado aqui é a
hipertensão arterial sistêmica (HAS);
➢ Hemorragia no espaço epidural e subdural surge em função de traumas.
Hematoma Subdural
A origem mais comum dos hematomas subdurais é a ruptura de veias
tributárias do seio sagital superior (bridging veins). Estas correm no
espaço subaracnóideo, mas atravessam o espaço subdural rumo ao
seio. São calibrosas, de paredes delgadas e podem romper-se por
acelerações ou desacelerações bruscas no plano sagital, em que
sofrem estiramentos. A velocidade de formação do hematoma é variável de horas a dias. Inicialmente o
sangue se coagula, mas vai lentamente se fluidificando por ação de fibrinolisinas. Os hematomas
subdurais agudos podem causar hipertensão intracraniana elevada e hérnias.
❖ São os mais frequentes;
❖ 30% TCE graves;
❖ Habitualmente recobrem toda a superfície do cérebro → são encontrados habitualmente em forma
de foice/cuia/crescente (côncavo-convexos) → o espaço subdural é potencialmente amplo e isso
pode acarretar em hematomas volumosos;
❖ Unilaterais em cerca de 80% dos casos;
❖ Mais comum: fronto-temporo-parietal;
❖ Clínica:
➢ Alteração de nível de consciência;
➢ Presença de cefaleia que piora progressivamente;
➢ Déficits localizados;
➢ Anisocoria;
➢ Posturas patológicas;
➢ Grande efeito massa (expansão desse hematoma)
→ herniação: tríade de cushing (hipertensão,
bradicardia e bradipnéia).
Quando de origem hipertensiva, ela geralmente é focal, ou seja, tem um sangramento “localizado”. Dentre
todo o encéfalo, os locais de maior incidência são o putâmen (núcleos da base), o tálamo e, menos
frequente, o cerebelo. O extravasamento sanguíneo ocorre porque, em caso de HAS, pode haver elevação
abrupta da pressão arterial e isso pode causar o rompimento do vaso. O tempo de sangramento pode ser
curto ou pode durar horas, o que torna o prognóstico do paciente cada vez pior (sangue → efeito tóxico
sobre o parênquima cerebral → sofrimento isquêmico).
Os sinais e sintomas são sempre súbitos e podem progredir conforme o volume/tamanho da lesão. O
paciente pode referir fraqueza de um lado do corpo, perda da sensibilidade ou do campo visual de um ou
ambos os olhos, tontura, dificuldade para falar ou para compreender palavras simples e até mesmo a
perda da consciência ou crises convulsivas. Caso a HIC seja de instalação aguda, cefaléia e vômitos
podem estar presentes.
**As hemorragias hipertensivas são atribuídas aos microaneurismas de Charcot e Bouchard, descritos em 1868.
Estudos angiográficos em cadáveres revelaram que estes aneurismas são comuns em cérebros de hipertensos,
embora também possam ocorrer em normotensos. Foram encontrados nos núcleos da base, substância branca
subcortical, ponte e cerebelo em ordem decrescente (artérias penetrantes). A presença destes microaneurismas em
hipertensos, nos locais habituais de hemorragias hipertensivas sugere fortemente uma relação causal, embora, após
a hemorragia, seja muito difícil a comprovação morfológica.
Já a hemorragia subaracnóide (HSA) é classificada em dois tipos: traumática (mais frequente; relacionada
a TCE) e espontânea. Esse último tipo tem como principal fator etiológico os aneurismas intracranianos
(AIC), os quais podem se localizar no polígono de Willis ou podem ser sacular ou congênito. Vale ressaltar
que a ruptura dos aneurismas causam elevação súbita da pressão intracraniana e isso pode, inclusive,
agravar o quadro clínico do paciente.
Os fatores de risco que agravam uma HSA são: tabagismo, HAS, etilismo, diabetes mellitus e história
prévia de aneurisma na família.
O quadro clínico é descrito por severa cefaleia (pode ser o único sintomas em alguns casos), dor cervical,
náuseas, vômitos, fotofobia, perda de consciência, sinais de irritação meníngea, hemorragias retinianas e
déficits neurológicos (parada dos nervos oculomotor, troclear e dos membros inferiores).
AULA 05
“Acidente vascular encefálico - parte II”
Aspectos clínicos
Os aspectos clínicos do AVE estão diretamente relacionados com a área acometida, com o tempo de
exposição à toxicidade do sangue e com o tipo de instalação.
❖ Alterações de consciência → marca registrada do AVE → comprometimento do córtex;
➢ Qualitativa: desconexão temporo-espacial, delírios agudos;
➢ Quantitativa.
❖ Cefaleia;
❖ Alterações visuais → não são próprias do acometimento das áreas primárias da visão (lobo
occipital). Essas alterações podem ocorrer por acometimento de núcleos dos pares cranianos ou
por lesão de trajeto de vias visuais;
❖ Alterações da fala → seja por disartria (articulação da palavra) ou pela a incapacidade de elaborar
palavras;
❖ Déficits motores;
❖ Prejuízos funcionais específicos → relacionados com a área acometida (AVE temporal - antes de
ter a redução da consciência existe um episódio de agressividade);
❖ Hipertensão intracraniana.
Diagnóstico
O diagnóstico de um AVE é fundamentado na elaboração de uma história clínica detalhada e na realização
de exames físico e neurológico que podem indicar a
artéria acometida a partir dos sintomas apresentados,
embora a diferenciação quanto a etiologia hemorrágica ou
isquêmica não possa ser realizado com base em achados
clínicos. A realização de tomografia computadorizada e
ressonância magnética indica a etiologia e confirma o
território vascular afetado.
Avaliação funcional - AVCI (principalmente)
O acidente vascular cerebral (AVC) pode ser descrito como o rápido desenvolvimento de sinais clínicos
focais e/ou globais de origem vascular com duração superior ou igual a vinte e quatro horas, ocasionando
alterações sensoriais e cognitivas com início súbito e déficit maior no começo, variando de acordo com o
local e a extensão da lesão. Essas lesões podem ser “qualificadas” a partir da avaliação funcional.
As principais deficiências da escala residem na sua susceptibilidade ao efeito negativo das co-morbidades
(doença cardiovascular, diabetes, artrite, cirurgia, etc.), dos fatores socioeconômicos e do estado geral de
saúde na função física e cognitiva do paciente; fatores que podem ter um impacto direto na pontuação da
ERm.
Esta escala baseia-se em 11 itens do exame neurológico que são comumente afetados pelo AVC, sendo
eles: nível de consciência, desvio ocular, paresia facial, linguagem, fala, negligência/extinção, função
motora e sensitiva dos membros e ataxia. Ela foi desenvolvida para ser aplicada rapidamente (5 – 8
minutos), no contexto da gravidade e do tratamento de pacientes com AVC agudo. A NIHSS pode ter sua
pontuação variando de 0 (sem evidência de déficit neurológico pela esfera testada na escala) a 42
(paciente em coma e irresponsivo).
Ela é capaz de detectar piora ou melhora neurológica em resposta a certa terapia e também está
associada ao prognóstico pós-AVC. A desvantagem da escala é que não é muito sensível para os AVCs
da circulação posterior. Existem algumas regras a serem seguidas para aumentar a reprodutibilidade entre
observadores:
❖ Aplicar a escala em ordem, não voltando para mudar a pontuação de algum ítem;
❖ Pontue o que você vê, não o que você acha que poderia ser;
❖ Não tente ensinar o paciente, pontue a primeira tentativa.
Os 11 itens pesquisados são: nível de consciência (orientação + comando), motricidade ocular, campos
visuais, paresia facial, motor membro superior, motor membro inferior, ataxia apendicular, sensibilidade
dolorosa, linguagem, disartria e extinção ou desatenção (antiga negligência).
O vasoespasmo é uma reação inflamatória que ocorre na hemorragia subaracnóidea recente, geralmente
apresentando-se dentro de 3 a 14 dias após o evento hemorrágico, mas podendo ocorrer a qualquer
momento dentro do período denominado “janela do vasoespasmo de alto risco”. Essa janela compreende
os 21 dias após a hemorragia inicial. Nesse contexto, a escala de Fisher pode permitir a avaliação da
potencial gravidade e o tratamento preventivo oportuno para o vasoespasmo.
Existe, também, uma Escala de Fisher modificada: classificação radiológica, com base em achados na TC
de crânio, que ajuda a prever o risco de vasoespasmo e isquemia cerebral tardia na hemorragia
subaracnóidea aneurismática. Essa classificação melhora a escala original, incorporando como parâmetro
a ser analisada a presença de hemorragia intraventricular.
Aneurismas cerebrais
Aneurisma é a dilatação da parede arterial. Geralmente os aneurismas contêm, em seu interior, sangue e
eventualmente trombos. Uma vez que a dilatação é iniciada, eles crescem continuamente e isso pode
evoluir à ruptura do vaso sanguíneo.
❖ Causa muita importante para AVC;
❖ Dilatação anormal focal da parede de uma artéria no cérebro;
❖ A localização mais comum dos aneurismas intracranianos é nos pontos de ramificação das
principais artérias da base do cérebro, que passam pelo espaço subaracnóide;
❖ Os aneurismas cerebrais podem, conforme seus tamanhos, comprimir nervos ou tecido cerebral
em seu entorno ou, de forma mais devastadora, se romper e ocasionar morbidade e mortalidade
significativas → “efeito de massa” mesmo sem sangramento.
Atendimento pré-hospitalar
A escala de Cincinnati é utilizada para detecção do Acidente Vascular Encefálico. Consiste na identificação
precoce da doença em ambiente pré-hospitalar, mediante três parâmetros ectoscópicos que estão
presentes na maioria das vítimas: assimetria facial, paresia em um ou ambos os membros superiores e
alterações na fala sugestivas de afasia, fala monótona e arrastada.
Atendimento hospitalar
Durante o atendimento hospitalar de um paciente que apresenta AVE é importante fazer uma avaliação
geral que demore até 10 minutos (tempo ideal). Assim, deve-se analisar: avaliar ABC + sinais vitais,
oxigênio, acesso venoso, ECG contendo 12 derivações,
avaliação neurológica imediata (< 25 minutos), monitor, exames
laboratoriais (hemograma, eletrólitos, função renal, coagulação);
glicosimetria capilar; realizar TC sem contraste e analisá-la;
recrutar a equipe hospitalar específica em casos de AVE
(neurologista, técnico de TC, neurorradiologista, cirurgião do
trauma), revisar história clínica do paciente, estabelecer horário
do início dos sintomas, realizar exames físico e neurológico,
avaliação de Glasgow e NIHSS.
Controle de PA e trombólise
Utiliza-se nitroprussiato de sódio, metoprolol e
esmolol.
❖ Nitroprussiato de sódio: potente
vasodilatador arterial e venoso. Reduz pré
e pós carga, melhorando assim a função
do VE em pacientes com IC e baixo débito.
É utilizado em casos de emergência
hipertensiva e AVC;
❖ Metoprolol: betabloqueador cardiosseletivo, o
qual bloqueia os receptores adrenérgicos beta1 (que
estão localizados principalmente no coração). Usado em
casos de arritmia, hipertensão;
❖ Esmolol: antagonista de adrenoceptor β1-seletivo
de ação ultracurta.
1. Fisiopatologia
A PIC normal é determinada pela relação continente/conteúdo intracraniano e independe da pressão
atmosférica na ausência de comunicação entre o conteúdo intracraniano e o meio externo.
O espaço intracraniano é formado por três componentes (encéfalo, sangue e LCR). Quando se desenvolve
uma lesão intracraniana, ocorre como mecanismo compensatório uma saída forçada de um desses
componentes, ocorrendo primeiramente a expulsão de LCR e, na sequência, a reacomodação do sangue.
Esse processo é baseado na premissa de que “a caixa craniana é expansível”. Dessa forma, enquanto o
aumento de volume da lesão é compensado pela expulsão de LCR e sangue, não ocorre uma acentuada
elevação da PIC. Após se esgotarem os mecanismos compensatórios, o acréscimo de que o volume da
lesão causa um grande aumento da PIC.
2. Manifestações clínicas
❖ Cefaléia: decorre do aumento da pressão e da distensão da dura-máter dos vasos e nervos
intracranianos;
❖ Alterações visuais (embaçamento da visão, diminuição da acuidade visual ou diplopia);
❖ Náuseas;
❖ Vômitos tipo em jato: decorrem do aumento da pressão e da irritação do assoalho do 4º ventrículo;
❖ Alterações de marcha;
❖ Abaulamento de fontanela (RN e lactentes);
❖ Tríade de Cushing: hipertensão arterial + bradicardia + alteração respiratória → observada em
casos graves → raramente se observa a tríade completa;
❖ Papiledema bilateral, encontrado no
exame do fundo de olho;
❖ Pulso venoso presente em pacientes
normais.
3. Radiologia
❖ Macrocefalia e a desproporção
craniofacial em lactentes;
❖ Diástase de suturas em crianças e às
vezes em adultos jovens;
❖ Aumento das impressões digitiformes e as erosões da sela túrcica.
4. Tomografia
❖ Avaliação HIC pela presença ou ausência dos espaços liquóricos (cisternas e sulcos e ventrículos);
❖ Determinação do mecanismo fisiopatológico e o diagnóstico da causa da hipertensão.
6. Medidas terapêuticas
❖ Inibição da Produção de Líquido Cefalorraquidiano – corticoides e acetazolamida;
❖ Drenagem do LCR;
❖ Hiperventilação:
➢ Determina alcalose que tem um efeito direto sobre as arteríolas, provocando
vasoconstrição;
➢ Vasoconstrição determina um aumento na RVC, que impede o bombeamento de sangue
para os vasos de paredes finas (que não participam da RVC), permitindo seu esvaziamento
e a conseqüente diminuição do volume sangüíneo intracraniano e queda da PIC.
❖ Diuréticos osmóticos e de alça;
❖ Glicocorticóides;
❖ Barbitúricos de ação rápida (tionembutal, pentobarbital, tiopental) agem agudamente (um a dois
minutos) na redução da PIC, provocando diretamente vasoconstrição das arteríolas cerebrais.
Cronicamente agem através do aumento do tônus muscular arterial, da redução da pressão
hidrostática;
❖ Cirurgia.
7.Recomendações Gerais
❖ Fornecer cuidados de emergência iniciais, incluindo administração de alteplase IV;
❖ Realizar cuidados mais avançados, como tratamento endovascular;
❖ Facilitar o transporte rápido para centros avançados quando apropriado;
❖ Participação em um banco de dados de AVE para melhorar a adesão às diretrizes de tratamento e
a qualidade dos resultados;
❖ Recomenda-se que se estabeleçam tempos de porta-agulha de 60 minutos em 50% ou mais dos
pacientes com AVE que são tratados com alteplase IV, com tempo secundário de porta-agulha de
45 minutos considerado razoável.
8. Telstroke/telerradiologia
❖ Serviços médicos que não possuam neurologistas de plantão devem dispor de avaliações de
telestroke;
❖ Objetivos:
➢ Determinar a elegibilidade de um paciente para a alteplase IV;
➢ Triagem de pacientes com AVE elegíveis para transferência para receber trombectomia
mecânica.
9. Imagem Cerebral
❖ Recomenda-se imagem (TC sem contraste) em 20 minutos após um paciente com suspeita de
acidente vascular cerebral chegar ao hospital;
❖ O objetivo: pelo menos 50% dos pacientes elegíveis para alteplase IV ou trombectomia mecânica
cumpram este critério.
10. Alteplase
Tratamento trombolítico do acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico agudo.
❖ O objetivo do tratamento com alteplase IV: trombólise;
❖ Tempo ideal: tratar assim que possível até 4,5 horas após o início do sintoma;
❖ Tratamento com alteplase também pode beneficiar aqueles com sintomas leves e adultos com AVE
que tenham doença falciforme.
11.
Trombectomia mecânica
❖ Pacientes com Pré Stroke Modified Rankin Score de 0 a 1;
❖ Oclusão da artéria carótida interna ou cerebral média segmento de artéria 1 (M1).
❖ Idade: 18 anos ou mais.
❖ Escore de National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS) de 6 ou superior.
❖ Apresentar escore ASPECTS de 6 ou maior (veja calculadora em
https://www.mdcalc.com/alberta-stroke-program-early-ct-score-aspects).
❖ Possam receber tratamento (punção em região inguinal) dentro de 6 horas após o início dos
sintomas.
❖ Estudos “DEFUSE-3” e “DAWN” recomendam trombectomia em pacientes elegíveis 6 a 16 horas
após um AVE.
❖ O procedimento é “razoável” nos pacientes 16 a 24 horas após um AVC (nível IIa-B-R).
O corpo humano apresenta seis sinais vitais que, de alguma forma ou de outra, quando alterados,
apontam para algum distúrbio do organismo. São eles: temperatura, pulso (FC), pressão arterial,
frequência respiratória, dor e sofrimento.
Dor pode ser definida como uma sensação e experiência emocional desagradável associada a lesão
tecidual, real ou potencial, ou descrita em termos dessa lesão. Em outras palavras, dor é a resposta à
nocicepção.
O sofrimento, por sua vez, é uma resposta efetiva negativa gerada no encéfalo para dor, medo, ansiedade,
estresse, perda de entes amados e por outros estados psicológicos.
Classificação da dor
A dor pode ser classificada da seguinte forma: nociceptiva, neuropática, mista (fala por si só), miofascial e
fibromiálgica.
1. Dor nocioceptiva
Esse tipo de dor envolve estímulos ascendentes transmitidos através de nervos normais, ao longo de
neurônios sensoriais. Compreende as dores somáticas (tipicamente bem localizadas) e viscerais (mal
localizadas).
❖ Caracteriza-se por dano tecidual demonstrável;
❖ Exemplos: osteoartrose, artrite reumatóide (AR), fratura, rigidez muscular na dor lombar
inespecífica, Síndrome de Tietze;
➢ Tietze: osteocondrite, inflamação das articulações costo-esternais de natureza idiopática,
piora a compressão e é diagnóstico diferencial da dor coronariana.
2. Dor neuropática
Esse tipo de dor é causada por uma lesão do sistema nervoso central ou periférico que pode ter uma
condição predisponente, como DM ou quimioterapia. Ela geralmente é percebida ou descrita tendo uma
qualidade (queimação, lancinante, em punhalada, vibrátil, em formigamento) ou associada à parestesia ou
a alteração de temperatura. São fundamentais a presença de descritores verbais característicos:
❖ Queimação/agulhadas/parestesias;
❖ Distribuição anatômica plausível com o dano do sistema nervoso;
❖ Dor torácica pós-herpética.
3. Dor miofacial
O termo dor miofascial é utilizado para descrever uma condição clínica específica de dor muscular
regional, muito frequentemente associada à presença de um ou mais pontos dolorosos, que nessas
circunstâncias são denominados pontos-gatilho. A dor é profunda e mal localizada.
❖ Condição caracterizada pela presença de ponto-gatilho e dor referida;
➢ Trigger Point (Ponto Gatilho) é uma área de facilitação local de nervo com músculo ou
tecido conectivo associado, que cria pequenas áreas de tensão ou micro espasmo;
➢ Dor referida (Fritz – 2002) dor sentida numa área de superfície distante do ponto estimulado
(origem visceral e somática).
❖ Dor visceral e o órgão visceral relacionado apresenta a mesma inervação na medula espinhal.
❖ Prevalência de cerca de 30% em pacientes ambulatoriais.
❖ O diagnóstico da dor miofascial é estabelecido com base em pelo menos um dos seguintes
critérios:
➢ Sensibilidade aumentada sobre um ponto de
espessamento muscular;
➢ Resposta muscular local à manipulação do
ponto-gatilho;
➢ Dor referida;
➢ Reprodução da dor usual;
➢ Restrição de amplitude de movimento;
➢ Fraqueza sem atrofia muscular;
➢ Sintomas autonômicos associados.
Na imagem: x = ponto-gatilho / Vermelho = dor referida.
4. Dor fibromiálgica
É caracterizada pela ocorrência de dor difusa e migratória, acima e abaixo da
cintura, à direita e à esquerda do corpo, durando mais de três meses. Há
identificação da dor a palpação em, pelo menos, 11 dos 18 pontos dolorosos
preconizados pelo Colégio Americano de Reumatologia.
❖ Crônica disseminada;
❖ Sintomas múltiplos como fadiga, distúrbio do sono, disfunção
cognitiva e episódios depressivos (tristeza, choro fácil);
❖ O diagnóstico deve ser feito quando houver 11 dos 18 locais
esperados de pontos musculares dolorosos (região suboccipital, cervical
lateral, ponto médio da borda superior do trapézio, região supraescapular,
junção condrocostal da segunda costela, epicôndilo lateral, região glútea laterossuperior, região
do trocânter maior e região medial acima do joelho);
❖ Analisar outros diagnósticos diferenciais.
DISSECÇÃO DA AORTA
A dissecção aórtica ou aneurisma dissecante ocorre quando o sangue separa em leque os planos
laminares da camada média, formando um canal cheio de sangue dentro da parede aórtica. Em outras
palavras: dissecção da aorta é a delaminação de sua camada média ocasionada pelo influxo de sangue
através de um orifício de entrada na camada íntima, criando uma falsa luz de extensão variada ao longo
do vaso.
Classificações
A classificação acurada da dissecção da aorta é de extrema importância para a definição da estratégia de
tratamento e do prognóstico. Considerando o tempo de apresentação dos sintomas, a dissecção é definida
como aguda quando o período de início da dor for menor ou igual há 14 dias; e crônica quando o primeiro
sintoma ocorreu há mais de 14 dias, sendo que as complicações fatais da doença ocorrem com mais
frequência nas primeiras horas ou dias.
❖ Stanford
➢ Tipo A acomete a aorta ascendente, independentemente do local do orifício de entrada e da
extensão distal da aorta comprometida → assimetria de pulsos é presente;
➢ Tipo B dissecção se inicia após a artéria subclávia esquerda.ela garante uma preservação
dos pulsos → assimetria de pulso ausente.
❖ DeBakey (mais utilizada)
➢ Tipo I: a ruptura intimal se localiza na aorta ascendente e a delaminação se propaga
distalmente até pelo menos o arco aórtico;
➢ Tipo II: a dissecção se origina e fica restrita à aorta ascendente;
➢ Tipo III: a dissecção inicia-se na aorta descendente e se propaga distalmente.
Apresentação clínica
Os sintomas e sinais da dissecção aguda da aorta dependem da
extensão da dissecção e das estruturas cardiovasculares
acometidas.
❖ Dor torácica anterior de início súbito;
❖ Forte intensidade;
❖ Dor tipo em facada ou rasgando;
❖ Nos pacientes com dissecção do tipo B, a dor é relatada
com maior frequência no dorso, com possível irradiação
para a região torácica ou abdominal;
❖ Comprometimento de órgão que sofreu isquemia →
comprometimento da perfusão com isquemia de órgão-alvo é frequentemente encontrado e ocorre
devido oclusão ou compressão extrínseca de ramo aórtico pela falsa luz;
❖ Assimetria de pulsos → presença de fluxo diminuído ou ausente nas artérias periféricas se
manifesta clinicamente como déficit ou diminuição de pulso, bem como variação considerável da
pressão arterial sistêmica (maior que 20 mmHg), quando comparado com o membro contralateral.
TROMBOEMBOLIA PULMONAR
Embolia pulmonar aguda é a oclusão brusca, total ou parcial, da artéria pulmonar e/ou de seus ramos.
Recebe o nome de tromboembolia pulmonar (TEP) quando a oclusão é causada por um trombo (coágulo
sanguíneo) que se desprende de um vaso ou do coração.
Os trombos originam-se mais frequentemente dos membros inferiores e da pelve, mas podem se formar
também nas câmaras cardíacas e, mais raramente, nos membros superiores. Materiais como êmbolos
sépticos, corpos estranhos, gordura, líquido amniótico, bolhas gasosas e tumores, também podem causar
embolia pulmonar.
A tromboembolia aguda interfere tanto na hemodinâmica quanto nas trocas gasosas. Ela induz
vasoconstrição por meio da liberação de mediadores, que associada a obstrução anatômica, pode levar ao
aumento da resistência vascular pulmonar e da pressão na artéria pulmonar, dependendo da extensão da
oclusão.
Sinais e sintomas
O diagnóstico é difícil por se tratar, na maioria das vezes, de um quadro clínico incaracterístico e com
grande espectro de apresentações clínicas, desde sensação de ansiedade com discreta dispnéia até
quadro de insuficiência respiratória aguda, choque e morte súbita.
❖ Manifestações clínicas muito variáveis e por isso nem sempre típicas
da doença;
❖ O sintoma mais comum é dispneia (em 70% dos casos);
❖ 20% dos pacientes tem evento sincopal;
❖ Dor torácica (geralmente súbita) encontrada em 66% dos casos →
isquemia do segmento pulmonar;
❖ O paciente pode apresentar dispnéia, taquipnéia e cianose, tosse e
hemoptise;
❖ TEP é sempre acompanhada de taquicardia (não existe sem);
❖ Radiografia de tórax: é muito útil para afastar ou confirmar outras
causas de dispneia e dor torácica;
❖ ECG: S1Q3T3 → padrão não patognomônico, mas é importante
quando presenciado;
➢ Onda S profunda em DI;
➢ Onda Q profunda (ocupando mais de ⅔ da amplitude do QRS) em DIII;
➢ Onda T inversão simétrica em DIII.
OBS: a primeira imagem possui, além do padrão Q1R3T3, um bloqueio de ramo direito em V1; a imagem 3
apresenta insuficiência ventricular aguda VD se distende mais facilmente do que o esquerdo, porque sua
parede é mais fina; a imagem 4 mostra que já tem acometimento cardíaco associado a embolia pulmonar.
HERPES ZOSTER TORÁCICO
O vírus da varicela-zoster (VZV) causa uma infecção primária denominada varicela (catapora),
caracterizada por lesões vesiculares em diferentes estágios de desenvolvimento na face, tronco e
extremidades. O herpes zoster resulta da reativação de uma infecção latente do vírus da varicela-zoster
endógena dentro do gânglio sensorial. Esta forma clínica da doença é caracterizada por erupções
bolhosas vesiculares unilaterais dolorosas, geralmente ocorrendo em uma distribuição restrita ao
dermátomo.
❖ Ocorre em função do acometimento neurológico de uma raiz de par craniano ou espinhal (pode
acometer qualquer segmento) pelo vírus da varicela. Ele fica quiescente num gânglio da raiz dorsal
ou de par craniano, e por causa não conhecidas, ele volta a ser ativado, gerando dor aguda na
topografia daquele nervo;
❖ Sintomas prodrômicos de dor, mal-estar, febre baixa, prurido e sensibilidade localizada;
❖ Erupção cutânea, inicialmente com máculas e pápulas, evoluindo para vesículas, pústulas e
crostas;
❖ A erupção geralmente fica seca, com crostas, em 7 a 10 dias com resolução das lesões após um
período médio de 2 a 3 semanas;
❖ Pacientes imunocomprometidos podem apresentar erupção cutânea disseminada, com viremia e
novas lesões ocorrendo em até duas semanas;
❖ Fases:
➢ I alteração de sensibilidade, formigamento, parestesia, alodinia (transferência da
sensação de tato para dor);
➢ II erupção cutânea naquela topografia do nervo → resolução com descamação →
pode ter dor neuropática até mesmo depois do quadro resolvido.
**Atenção: Síndrome Zoster Sine Herpete → não apresenta fase inflamatória!
Diagnósticos diferenciais
Tratamento
❖ Prednisona: 40-60 mg/dL por vinte dias. Retirar 10mg/10 dL;
❖ Aciclovir: 800mg (4 comprimidos de 200 mg) cinco vezes ao dia por cinco dias;
❖ Valaciclovir (Valtrex 500mg): 1g a cada 8 horas por 7-10 dias;
❖ Paracetamol 500mg: 500 mg a cada 6 horas por 3-7 dias;
❖ Dipirona 1g 1g a cada 6 horas por 7-10 dias;
❖ Codeína: 7,5 a 120 mg /dL;
❖ Tramadol (tramal) 50mg: 50-150mg a cada 8 horas por 3-5 dias;
❖ Amitriptilina (amytril) 25mg: 25-50 mg 1x ao dia ou a cada 12 horas por 7-20 dias.
A MHC é causada por mutações em genes que codificam proteínas do sarcômero, dessa forma, é de
origem congênita. A falha na transferência de energia da mitocôndria para o sarcômero e/ou disfunção
sarcomérica direta leva ao seguintes fenótipos da miocardiopatia hipertrófica: hipertrofia (acentuada),
hipertrofia septal assimétrica, desarranjo das miofibrilas, fibrose (intersticial e de substituição), placa na via
de saída do VE e vasos septais espessados. Todos esses fenótipos levam as manifestações clínicas
descritas a seguir.
Manifestações clínicas
❖ Paciente sente dor porque aumentou a demanda do músculo que agora que ele está hipertrofiado e
a vasculatura não acompanhou este crescimento → isquemia;
❖ Doença miocárdica primária, caracterizada pela presença de hipertrofia ventricular, acometendo
com maior prevalência o ventrículo esquerdo.
❖ Dor tipo angina do peito (mas não é, pode ser confundida);
❖ Dor agravada pelo uso de nitrato sublingual (Nitroglicerina e nitrato de amila reduzem a pré-carga e
acentuam o gradiente aórtico) → na dor anginosa propriamente dita tem uma melhora;
➢ Vasodilatador ativo para a árvore venosa, reduz a pré-carga, reduz o enchimento ventricular
que ja está incompetente porque tenho perda de complacência na cardiomiopatia
hipertrófica.
❖ Dispnéia;
❖ Síncope após esforço físico;
❖ Sopro sistólico de ponta e hipertrofia ventricular, na ausência de hipertensão arterial, doença da
valva aórtica e de obstrução arterial coronária;
❖ Pode se manifestar através de: insuficiência cardíaca, morte súbita, fibrilação atrial e AVC.
PERICARDITE
A etiologia das pericardites agudas pode ser viral, bacteriana ou acompanhada de afecções sistêmicas,
especialmente do grupo das colagenoses (doença reumática, lúpus eritematoso disseminado, artrite
reumatóide), neoplásicas (infiltração leucêmica), metabólicas (uremia), infarto agudo do miocárdio e
traumáticas.
Características gerais:
❖ Secundária à inflamação do pericárdio;
❖ Pródromo "gripais", com mialgias e febre baixa;
❖ Dor em pontada paraesternal que piora com inspiração profunda, simulando uma dor pleurítica, e
que pode irradiar para a borda do trapézio. Ela ainda melhora com a posição sentada ou inclinada
para frente (posição da prece maometana) e piora com o decúbito horizontal;
❖ Todas as vezes que tivermos um supra ST difuso, não significa que o coração infarta como um
todo, mas que isso é pericardite;
❖ Infra segmento PR também está presente na pericardite.
**Pódromo = grupo de sintomas que pode indicar o início de uma doença antes que sintomas específicos surjam.
Causas
A pericardite é uma patologia
de etiologia variada. Algumas
delas são: idiopática, infecciosa
(bacteriana, fúngica, viral,
protozoária), pós IAM (recente
ou tardio - Síndrome de
Dressler), traumática/pós
procedimentos invasivos,
maligna (câncer), doenças
inflamatórias e infiltrativas
(sarcoidose, amiloidose, febre
familiar do mediterrâneo, síndrome periódica associada ao receptor do fator de necrose tumoral),
metabólicas (uremia e hipotireoidismo) e farmacológica.
Diagnóstico
O diagnóstico de pericardite é baseado nos
seguintes parâmetros:
1. Dor torácica típica de pericardite;
2. Ausculta de atrito pericárdico;
3. Alterações eletrocardiográficas típicas
(eletrocardiograma acima);
4. Visualização de um derrame
pericárdico.
PNEUMOMEDIASTINO
Pneumomediastino, enfisema mediastinal, caracteriza-se
pela presença de gás no mediastino, podendo ocasionar dor
torácica, dispnéia, enfisema de partes moles e crepitações. A associação com pneumotórax é frequente. O
ar ou o gás pode chegar ao mediastino por aumento súbito da pressão intra-alveolar, com consequente
ruptura de alvéolos. O gás passa para o interstício peribroncovascular e disseca até o hilo, entrando no
mediastino. Também pode se originar de ruptura de esôfago, traquéia, brônquios ou até mesmo do
pescoço ou da cavidade abdominal. Ainda, infecções nessas regiões podem levar à formação de gás.
❖ Ocorre por adentramento de ar na região do mediastino, isso pode acontecer porque:
➢ Ruptura alveolar com dissecção do ar no interstício pulmonar com translocação para o
mediastino;
➢ Perfuração esofágica torácica;
➢ Ruptura esofágica com dissecção do ar do pescoço ao mediastino;
➢ Ruptura intestinal com dissecção do ar do abdome para o mediastino.
❖ Síndrome de boerhaave: é uma condição em que pacientes
caquéticos/subnutridos/oncológicos/alcoólatras de longa data, tem a ruptura espontânea do
esâfago, com dor torácica muito intensa e comprometimento séptico rápido. O diagnóstico é feito
pela radiografia de tórax (ar na estrutura mediastinal).
Síndromes psicogênicas
Está relacionado com a ansiedade, preocupação com a saúde.
❖ Síndrome de Da costa - angina psicogênica, paciente com um quadro de ansiedade;
❖ Síndrome do coração de soldado - dor torácica quando o soldado é convidado para a guerra
(surgiu durante a Segunda Guerra).
Achados no ECG: sobrecarga de ventrículo direito (pulmão colabado, não tem mais a mesma pressão
baixa para “puxar” o sangue → dificuldade em encaminhar o sangue para o pulmão → aumento da FC
como mecanismo compensatório.
AULA 07
“Dor torácica de etiologia coronariana”
O coração é o órgão central muscular que funciona como uma bomba de sucção pressão: as diferenças de
pressão causadas pela sua contração relaxamento determinam a circulação do sangue e da linfa. No
animal adulto é constituído por: átrio direito, átrio
esquerdo, ventrículo esquerdo, ventrículo direito. O
coração é constituído por duas bombas em cada lado
dentro de um único órgão. A bomba direita recebe mais
sangue e este é desoxigenado e o conduz ao tronco
pulmonar, já a bomba esquerda recebe sangue
oxigenado e o leva para a artéria aorta, que o distribui
para todo o corpo.
Angina: não há dano muscular definitivo, não há inviabilidade de fibras, ou seja, quando o fluxo sanguíneo
melhora tem-se o restabelecimento da contratilidade e da função miocárdica (essa é a diferença para o
infarto).
Classificação anatomopatológica
As principais dores torácicas de origem
cardíaca são a isquêmica, a da pericardite
aguda e da dissecção aguda de aorta.
Angina na HPMA
1. Qualidade da dor anginosa:
a. Constritiva, aperto, peso, opressão, desconforto, queimação epigástrica aguda (indicativo
de gastrite e úlcera, porém a angina/IAM deve ser analisada como diagnóstico diferencial) e
pontada (em geral é mais característica de dor pleurítica, por isso deve ser perguntado a
concomitância com o tempo inspiratório, na angina não
piora com o inspirar);
b. Paciente agitado, inquieto, todas as posições são
desconfortáveis.
2. Localização: precordial (posição média do tórax com leve desvio
a esquerda), retroesternal, ombros direito e/ou esquerdo,
epigástrio, cervical, hemitórax, dorso.
3. Irradiação (pode haver ou não): membros superiores
(direito/esquerdo/ambos), ombros, mandíbula, dorso, pescoço;
a. Dor padrão/clássica em MSE: irradiação pela borda ulnar
até 5º dedo; dor clássica em MSD → diagnóstico
diferencial com dissecção de aorta.
4. Duração:
a. Segundos/minutos → sugestiva de angina;
b. Horas/dias → sugestiva de IAM (irreversível e duradouro).
5. Fatores desencadeantes: exercícios físicos, atividade sexual (traição tem maior risco de infarto,
porque se emociona mais), posição, alimentação, respiração, estresse emocional, espontânea.
6. Fatores de alívio: repouso (no IAM o repouso praticamente não tem efeito; na angina tem melhora),
nitrato sublingual, analgésico, alimentação (o ato de deglutir rouba o fluxo de sangue do coração
em direção ao intestino), antiácido, apneia e posição.
7. Sintomas associados: sudorese, vômitos, náuseas, palidez cutâneo mucosa, dispneia, hemoptise,
tosse, pré-síncope, síncope, edema agudo de pulmão (presente em casos de intenso infarto de
ventrículo esquerdo).
Fatores de risco
A doença arterial coronariana (DAC) possui os seguintes fatores de risco: HAS, DM, obesidade, histórico
familiar favorável, tabagismo e alcoolismo.
Diagnóstico de IAM
❖ Dor característica de isquemia e/ou elevação do segmento ST 1 mm ou mais em pelo menos 2
derivações;
❖ Contínuas, bloqueio de ramo esquerdo novo ou o supradesnivelamento do segmento ST de 2 mm
em derivações;
❖ Derivações precordiais V2 e V3 e/ou liberação dos marcadores de necrose miocárdica;
➢ OBS: Infra em aVR = supra em outras derivações.
Topografia do IAM e as derivações do ECG
A artéria coronária direita, quando acometida, tem indicação para uso de marcapasso → pode claudicar a
artéria que irriga o nó atrioventricular e sinusal → bloqueios → arritmias.
Evolução das alterações do ECG no IAM (imagem)
SCA complicações
Fibrilação ventricular (principal causa de parada), IVA (insuficiência ventricular aguda) / choque, aneurisma
em ventrículo esquerdo (dilatação da parede anterior do VE) e ICC.
Cuidado pré-hospitalar
❖ Oxigênio;
❖ AAS;
❖ Nitrato/opióides reduzem a pré-carga por serem vasodilatadores e os opióides reduzem a sensação
de dor e o sentir dor é um problema ao pct com IAM pois agita o sistema simpático;
❖ Encaminhamento para um centro médico apropriado.
Internação
❖ Estratificação de risco e seleção de estratégia de reperfusão;
❖ Terapia medicamentosa com drogas antiplaquetárias, anticoagulantes e outros medicamentos com
base na estratégia de percussão.
AULA 08
“Sepse”
Conceito
Popularmente conhecida como infecção generalizada é, na verdade, uma disfunção orgânica ameaçadora
à vida, secundária a resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção. A sepse ocorre quando há
liberação de mediadores pró-inflamatórios sem controle, excedendo os limites do ambiente local e
culminando com uma resposta generalizada à infecção.
Separação de conceitos
A síndrome hoje conhecida como sepse teve diversas denominações ao longo do tempo, até que a
conferência de consenso, organizada pelo American College of Chest Physicians e pela Society of Critical
Care Medicine, em 1991, definiu os termos síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS), sepse,
sepse grave e choque séptico com critérios clínicos e laboratoriais.
2. Sepse
SRIS secundária a processo infeccioso confirmada ou suspeita sem necessidade da identificação do
agente infeccioso.
Segundo o consenso de 2016, a nova definição de sepse é uma disfunção orgânica ameaçadora à vida
secundária a resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção. Disfunção orgânica: aumento em 2
pontos no escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) como consequência da infecção.
3. Sepse Grave
Presença dos critérios de sepse associada a disfunção orgânica ou a sinais de hipoperfusão. A
hipoperfusão e anormalidades da perfusão podem incluir (mas não estão limitadas): hipotensão,
hipoxemia, acidose lática, oligúria e alteração aguda do estado mental.
4. Choque séptico
Estado de falência circulatória aguda caracterizada pela persistência de hipotensão arterial em paciente
séptico, sendo hipotensão definida como pressão arterial sistólica < 90 mmhg, redução > 40 mmHg da PA
padrão, ou pressão arterial média < 60 mmHg, a despeito de adequada reposição volêmica, com
necessidade de vasopressores, na ausência de outras causas de hipotensão.
**PAmédia = PAS + 2PAD/3
Conforme consenso de 2016, a nova definição de choque séptico é uma anormalidade circulatória e
celular/metabólica secundária à sepse o suficiente para aumentar significativamente a mortalidade. Requer
a presença de hipotensão com necessidade de vasopressores para manter pressão arterial média ≥ 65
mmHg e lactato ≥ 2 mmol/L após adequada ressuscitação volêmica.
Choque: infecção suspeita ou confirmada associada à pressão arterial sistêmica sistólica menor ou igual a
90 mmHg, ou pressão arterial sistêmica média inferior a 65 mmHg, associadas à presença de sinais de
hipoperfusão → oligúria, hiperlactatemia, alteração do estado mental e redução da perfusão periférica.
❖ Fisiopatologia: sabe-se que a ligação de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) a
receptores de reconhecimento de padrões (PRRs) na célula hospedeira ativa mecanismos de
sinalização intracelular que desencadeiam aumento da transcrição de citocinas inflamatórias,
up-regulation de moléculas de adesão, estimulação imunológica, e ativação de células endoteliais
vasculares. Ocorre também desenvolvimento de estado pró-coagulante, já que as citocinas
inflamatórias ativam a coagulação e inibem a fibrinólise. Destaca-se a importância em nível
molecular dos receptores ativados por proteases (PARs), sendo que o PAR1 está particularmente
envolvido na sepse, isto é: desempenha efeito citoprotetor quando estimulado pela proteína C ou
por baixas doses de trombina, porém exerce efeito disruptivo na barreira endotelial das células
quando ativado por altas doses de trombina. O comprometimento da oxigenação determina papel
importante na disfunção orgânica, e, no choque séptico, é causado pela hipotensão arterial,
redução na deformabilidade de hemácias e trombose microvascular.
Epidemiologia
A sepse pode estar relacionada a qualquer foco infeccioso, sendo que as infecções mais comumente
associadas à sepse são pneumonia, infecção intra-abdominal e infecção urinária.
❖ Pneumonia é o foco responsável por cerca de metade dos casos;
❖ São ainda focos frequentes a infecção relacionada a cateteres, os abcessos de partes moles, as
meningites e as endocardites;
❖ O foco infeccioso tem íntima relação com a gravidade do processo;
❖ Tanto infecções de origem comunitária como aquelas associadas à assistência à saúde podem
evoluir para as formas mais graves, contudo, germes sensíveis advindos da comunidade podem
ser letais;
Nem sempre é possível identificar o agente. As hemoculturas são positivas em cerca de apenas 30% dos
casos e em 30% a identificação é possível por meio de culturas de outros sítios. Além disso, a
multirresistência bacteriana é uma das principais causas de aumento da incidência de sepse.
❖ Pacientes com germes multirresistentes trazem consigo outros determinantes de mau prognóstico;
❖ Tanto bactérias Gram negativas como Gram-positivas são prevalentes → agente etiológico;
❖ As infecções fúngicas, geralmente por espécies de Candida, representam uma parcela menor dos
casos em que o agente é identificado;
❖ Pode ter sepse por vírus somente (pouco comum), mas no geral o comum é ser sepse de etiologia
bacteriana + viral.
Bacteremia → determinada população de bactérias alcança a circulação, podendo atingir diversos órgãos,
com ou sem manifestação clínica. São eventos muito frequentes. Se o organismo possui imunidade
adequada, a resposta de contenção dessa bacteremia será rápida e eficaz.
❖ Clínica: tremor, rash cutâneo, agitação, frio, arrepio, dor abdominal (fugaz, transitória). Todo evento
de bacteremia deve ser abordado com uma hemocultura;
❖ Conduta: dipirona endovenosa (paciente refere sentir muito frio).
A sepse está relacionada a determinados eventos e ambientes. São eles: alta letalidade pós-alta
hospitalar, alto risco de readmissões, déficits cognitivos, psicológicos e motores, atraso no diagnóstico e
inadequação de tratamento (seja em termos de recursos ou de processos do próprio organismo).
❖ Razões para a alta letalidade: baixo reconhecimento entre leigos e profissionais de saúde →
prejudica o diagnóstico precoce → paciente começa a ser tratado (quando tratado) em quadro
avançado.
❖ Manifestação clínica mais prolongada.
Fisiopatologia da sepse
Sepse é um desbalanço do organismo que leva a um impacto funcional entre o sistema imunológico e os
agentes infecciosos. Há um exagero da resposta inflamatória, gerando uma liberação aumentada de
citocinas, as quais provocam uma maior migração de células para o local de infecção e inicia-se uma
vasodilatação.
Como dito, existe uma produção exacerbada de mediadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios. Esse
processo é induzido através da aderência do novo agente ao organismo, associado a uma quimiotaxia e
fagocitose e consequente morte do microrganismo invasor.
A resposta imune em casos de sepse geralmente apresenta uma localização focal. Contudo, com o
desequilíbrio do mecanismo inflamatório (não regulado e auto sustentado), ela passa a ser disseminada.
Ou seja, em linhas gerais, a sepse consiste em um processo infeccioso que, mesmo que localizado,
provoca uma reação inflamatória generalizada.
A causa desse evento é, provavelmente, multifatorial. Dentre elas, tem-se: efeitos diretos dos
microrganismos invasores; efeitos de produtos tóxicos de microrganismos; liberação de grandes
quantidades de mediadores pró-inflamatórios; ativação do sistema complemento e susceptibilidades
genéticas.
Por essa definição, é possível que determinado paciente tenha o diagnóstico de choque com níveis de
pressão arterial considerados normais, desde que tenha sinais de hipoperfusão tecidual (situação que
alguns conhecem como choque compensado).
Pacientes sépticos com níveis de pressão arterial normal e sinais de hipoperfusão tem pior prognóstico.
Choque compensado = PA normal (alta dose de substâncias adrenérgicas), mesmo com comprometimento
hemodinâmico crítico.
Biomarcadores na Sepse
❖ Procalcitonina:
➢ Peptídeo precursor da calcitonina, produzido por células parafoliculares da tireóide e células
neuroendócrinas do pulmão e intestino;
➢ Produzida em resposta a estímulo inflamatório;
➢ Não é específica de sepse, nem agente etiológico-específica;
➢ Produzida particularmente em resposta a estímulos de origem bacteriana, principalmente
por células pulmonares e intestinais;
➢ Sua secreção se inicia de 2-4 horas após o estímulo inicial, atingindo o pico em 12-24
horas;
➢ Tem como uma de suas vantagens o fato da queda ser abrupta, após a cessação do
estímulo, com meia-vida estimada de 22-35 horas.
❖ Proteína C Reativa;
➢ A proteína C reativa (PCR) é sintetizada no fígado; → marcador inflamatório
➢ Apresenta boa correlação com outros marcadores, como IL6 e TNF-α, (ação reguladora de
sua secreção).
➢ Precipita frações do polissacarídeo C do Streptococcus pneumoniae;
❖ VHS;
❖ Lactato.
Estratégias de tratamento
Objetivo: recuperação funcional orgânica dos sistemas acometidos
❖ O diagnóstico é essencialmente clínico utilizando o SOFA
❖ Reposição volumétrica;
➢ Soro fisiológico, ringer, ringer lactado, soro glico-fisiológico, ou até mesmo hemoterapia
(hemácias/plaquetas/leucócitos/fatores de coagulação)
❖ Drogas vasoativas;
➢ Aumentam a força de contração cardíaca;
➢ Aumentam a contratilidade do vaso (auxilia no suporte hemodinâmico);
➢ Aumentam FC.
❖ Suporte ventilatório;
❖ Desde cateter de oxigênio, máscaras, e entubação com ventiladores.
❖ Antibioticoterapia.
AULA 09
“Endocardite”
Introdução
O coração é constituído de três camadas: epicárdio, miocárdio e endocárdio.
❖ Pericárdio → a inflamação dessa camada chama-se pericardite;
➢ Folheto parietal e visceral;
➢ Presente na dor torácica (diagnóstico diferencial) tem supradesnivelamento do segmento
ST;
➢ Pode ser causada por: vírus, bactérias, tuberculose, pós-parto/puerperal, idiopática;
➢ Pacientes normalmente evoluem bem, prognóstico favorável;
➢ Pericardites das doenças auto-imune → lúpus
➢ Geralmente ocorre uma infusão pericardite → derrame pericárdico → aumento do volume
do líquido pericárdico (acima de 10 ml). Quando esse valor é muito superior ao normal →
pericardite por tuberculose;
➢ Quando há um enrijecimento dos folhetos encontramos o atrito pericárdico → ruído
auscultatório no exame físico. É um ruído que não se relaciona com a inspiração e
expiração;
➢ Paquipericardio → espessamentos como sequela inflamatória (tuberculose);
➢ Diagnóstico feito a partir da biópsia do pericárdio parietal (relativamente simples).
❖ Miocárdio → a inflamação dessa camada chama-se miocardite;
➢ Folheto intermediário que tem a função contrátil;
➢ Miocardite viral que pode ser causa de acometimentos funcionais muito graves.
❖ Endocárdio → a inflamação dessa camada chama-se endocardite;
➢ Folheto mais interno, sua principal função é estar sempre íntegro e liso para que não haja
disparo da cascata de coagulação;
➢ É a sede de colonizações bacterianas em duas situações ambientais:
■ Perda da lisura/integridade do endotélio, mas nem sempre é detectado, como em
acometimento valvar;
■ Presença hematológica de bactéria (ou outro agente infeccioso);
■ Circulação de complexos de proteínas + anticorpos + porções de bactérias viáveis =
vegetação.
Três formas clínicas para explicar um evento de Covid prolongado (fora do padrão de 2 semanas)
❖ Covid subaguda → quadros clínicos que tendem a se alongar por até 8 ou 10 semanas →
indivíduo sintomático e PCR positivo → inflamação pulmonar + muscular esquelética (miosite) →
enfraquecimento, miastenia, falta de disposição;
❖ Recrudescência → quadro clínico aparentemente está resolvido, porém ele volta a se manifestar
(mas é o mesmo agente etiológico) → apresentam miocardites com inflamações extensas do VE
levando a acometimento hemodinâmico, podem ter quadro agudo fibrilação ventricular que é uma
das causas da “morte súbita”, há também apresentação semelhante ao infarto → paciente pode
morrer por infarto induzido por trombose coronariana decorrente da miocardite, não por
aterosclerótica;
❖ Re-infecção → estudo do material genético do vírus tem que ser pelo menos 30% diferentes do
outro, ai caracterizamos como outro vírus, outra infecção. Indivíduo que, após curado, fica doente
de novo.
ENDOCARDITE
A endocardite infecciosa (EI) é uma infecção grave caracterizada pela colonização ou invasão das valvas
cardíacas ou do endocárdio mural por um microrganismo. Isso leva à formação de vegetações compostas
de fragmentos trombóticos e organismos, frequentemente associados à destruição dos tecidos cardíacos
subjacentes. Em outras palavras:
❖ Endocardite = infecção microbiana do revestimento endotelial do coração;
❖ A lesão característica de endocardite é a vegetação, que é formada por um coágulo de plaquetas e
fibrina infectado (anticorpos + partes viáveis do agente infeccioso), contendo ainda leucócitos e
hemácias → isso é, na maioria das vezes, detectado nos exames de imagem;
❖ A vegetação pode estar localizada em qualquer sítio do endotélio, mas frequentemente ocorre nas
superfícies endoteliais das válvulas cardíacas e próteses valvares.
Fatores de risco
À frente de todos os fatores predisponentes ao desenvolvimento da endocardite estão aqueles que
causam bacteremia. A fonte de infecção pode ser uma infecção comum, um procedimento odontológico ou
cirúrgico, uma agulha contaminada compartilhada por usuários de drogas ou o rompimento da barreira
mucosa. O risco pode ser reduzido pela profilaxia com antibióticos.
❖ Valva aórtica bicúspide;
❖ Prótese valvar (principal fator de risco individual → formação de coágulos + risco de infecção em
dispositivos endovasculares, endocárdicos e transvalvares;
❖ Uso de drogas endovenosas (pp. por S. aureus);
❖ Doença cardíaca estrutural (lesão reumática, prolapso de valva mitral, cardiopatias congênitas,
hipertrofia de septo interventricular, coarctação de aorta);
❖ Imunossupressão;
❖ Endocardite prévia;
❖ Má higiene dentária;
❖ Envelhecimento populacional, particularmente associado à comorbidades:
➢ Diabetes;
➢ Insuficiência renal crônica;
➢ Anemia (10%);
➢ Aumento da infecção endocárdica por estafilococos.
Quadro clínico
A manifestação clínica da EI geralmente inclui manifestações extracardíacas ou achados associados à
extensão intracardíaca da infecção. Entretanto, o quadro clínico pode ser bem variado e, por isso, o
diagnóstico é difícil em algumas situações.
O quadro clínico da endocardite infecciosa aguda tem desenvolvimento mais rápido dos sintomas, com
febre alta e queda no estado geral. O quadro da subaguda é de início insidioso (arrastado), com febre
baixa arrastada, perda ponderal e sudorese noturna.
❖ Síndrome febril: febre com calafrios e sudorese associadas → febre de origem indeterminada;
➢ A febre é a manifestação mais comum, encontrada em 80% - 95% dos casos de EI, mas
pode estar ausente em pacientes com ICC, insuficiência renal ou hepática, uso prévio de
antimicrobiano ou endocardite causada por microrganismos menos virulentos.
❖ Sopro cardíaco: novos sopros (sopro de insuficiência mitral - dilatação das válvulas) ou mudança
de sopros prévios, principalmente no quadro agudo + lesões nas próprias valvas cardíacas;
➢ A presença da vegetação (aglomerado de coágulo + agente infeccioso + anticorpos)
interfere o fluxo sanguíneo → sopro agudo = sinal de endocardite.
❖ Esplenomegalia: principalmente na forma subaguda → importante resposta imune desencadeada
pela infecção;
❖ Fenômenos embólicos: petéquias (mais encontradas na conjuntiva, no palato e nas extremidades),
nódulos de Osler, lesões de Janeway (máculas hemorrágicas não dolorosas encontradas nas
palmas e plantas dos pés), hemorragia intracraniana; embolia séptica; manchas de Splinter
(hemorragias subungueais);
❖ Fenômenos imunológicos: poliartralgia; manchas de Roth; glomerulonefrite; baqueteamento digital;
nódulos de Osler.
Agentes infecciosos
Os organismos causadores da endocardite infecciosa se diferem um pouco entre os principais grupos de
alto risco. Ademais, em alguns casos é feita a remoção cirúrgica da vegetação, dependendo da integridade
da válvula; independente disso, sempre realizam cultura para saber qual agente infeccioso está presente.
Os principais causadores da endocardite infecciosa são:
❖ Streptococcus sp;
❖ Staphylococcus aureus: é o agente mais comumente envolvido em endocardite aguda → muitos
pacientes apresentam uma infecção de pele ou de tecido subcutâneo como porta de entrada;
❖ Staphylococcus coagulase;
❖ Enterococos;
❖ Bacilo gram negativo;
❖ Fungos;
❖ Grupo de hacek e cultura negativa;
❖ Outros.
Associações comuns
❖ Endocardite em usuário de drogas IV (pp. em valva tricúspide, eventualmente da pulmonar, mas
sempre câmaras direitas):
➢ Staphylococcus aureus: essa bactéria contamina agulhas e substâncias impuras misturadas
na droga.
■ Geralmente provoca EI aguda, com toxemia, febre alta e evolução rápida dos
sintomas → o material injetado lesa o endotélio, sobretudo, da valva tricúspide
(direção do fluxo sanguíneo);
■ A disseminação para os pulmões causa pneumonia bilateral + formação de
abscessos.
➢ Pseudomonas aeruginosa (Gram-negativo);
➢ Candida.
❖ Endocardite por Enterococos: relação com manipulação do trato geniturinário;
❖ Endocardite por Streptococcus bovis: relação com malignidade do trato gastrointestinal e pólipos
colônicos (indicada colonoscopia);
❖ Endocardite com hemoculturas negativas: grupo HACEK (Haemophylus, Actinobacillus,
Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens, Kingella kingae). Podem demorar de 14-21 dias
para crescer em meio de cultura;
➢ Grupo HACEK é representado por organismos Gram - negativos comensais da cavidade
oral que causam EI de forma rara.
A endocardite por tuberculose aponta para tuberculose renal. Em situações de doença inflamatória
intestinal de indivíduos da zona rural devemos considerar a hipótese de tuberculose intestinal, pois essas
pessoas têm o costume de tomar o leite direto da vaca sem ferver.
A endocardite aguda geralmente é causada por uma infecção de uma valva cardíaca anteriormente normal
por um microrganismo altamente virulento que leva a lesões necróticas, ulcerativas e destrutivas. Já a EI
subaguda, os organismos geralmente são menos virulentos.
Critérios de Duke
É considerado como caso confirmado de EI pacientes com a presença de dois critérios maiores ou um
critério maior e três menores. Casos possíveis têm um critério maior e um menor ou três menores.
Diagnósticos diferenciais
❖ Mixoma atrial → tumor benigno que afeta particularmente o átrio direito;
❖ Febre reumática aguda;
❖ Lúpus eritematoso sistêmico / doenças do colágeno;
❖ Endocardite marântica → envolve agentes não bacterianos e pode ser causa de formação de
lesões tumorais cardíacas;
❖ Síndrome antifosfolipídica;
❖ Síndrome do carcinóide;
❖ Carcinoma de célula renal;
❖ Púrpura trombótica trombocitopênica.
AULA 10
“Doenças pulmonares obstrutivas - ASMA”
Conceito
A asma é definida como uma doença inflamatória pulmonar crônica caracterizada por infiltração de células,
hiper-responsividade das vias aéreas inferiores e limitação variável ao fluxo aéreo, reversível
espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios recorrentes de
sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse, particularmente à noite e pela manhã (despertar).
Generalidades
❖ Tida como “doença pediátrica” → costuma-se definir o quadro asmático a partir dos 2 anos de
idade (até essa idade é mais difícil diferenciar um quadro de bronquiolite de um quadro asmático);
❖ Asma é caracterizada por crises recorrentes → forma de manifestação;
❖ Os episódios recorrentes se caracterizam por sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse;
❖ Os episódios são mais prevalentes à noite e pela manhã, ao acordar;
❖ A infiltração inflamatória envolve linfócitos, mastócitos e eosinófilos;
❖ Afeta adultos e crianças, mas o diagnóstico geralmente acontece na infância; raramente é
manifestada durante a fase adulta, por isso é importante estar atento a diagnósticos diferenciais
nessas situações.
Etiologia
A asma pode ser classificada, segundo o Robbins, em atópica (evidência de sensibilização a alérgenos) e
não atópica (sem evidência por sensibilização a alérgenos). Em qualquer uma delas, os episódios de
broncoespasmo podem ser desencadeados por diversos mecanismos, como infecções respiratórias, ar frio
e estresse.
❖ Resultado de fatores genéticos e ambientais (alérgenos);
➢ Um dos principais fatores etiológicos na asma consiste em predisposição genética à
hipersensibilidade de tipo I (promovem uma inflamação e estimulam a produção de IgE) e
exposição a gatilhos ambientais.
❖ Peso de história parenteral de asma ou atopia (1 progenitor: 25%; dois progenitores: 50%).
❖ Alérgenos:
➢ Ácaros;
➢ Pelos de animais;
➢ Fumaça de cigarro;
➢ Aeroalérgenos;
➢ Mudanças climáticas;
➢ Exercícios físicos.
Fisiopatologia
A asma é o resultado da interação de fatores genéticos e ambientais que contribuem para o
desenvolvimento da hiper-responsividade brônquica e edema de vias aéreas.
As alterações genética contribuem para o desequilíbrio do sistema imunológico e predomínio de resposta
direcionada a linfócitos T do tipo Th2, que sintetizam e liberam diversas citocinas cujas ações estão
relacionadas ao aumento da síntese de IgE sérica, à proliferação e maturação dos eosinófilos. Desse
modo, os alvéolos dos pacientes asmáticos podem revelar infiltrado celular com elevado conteúdo
eosinofílico e leucocitário (TCD4), o que justifica a “marca registrada” da asma ser a inflamação de vias
aéreas de menor calibre. Além da genética, também existe a contribuição dos fatores ambientais. Tais
fatores (citados anteriormente) podem facilitar o desencadeamento de uma crise ou agravar o quadro.
Com esse quadro inflamatório e de recrutamento de citocinas instalado (células epiteliais são estimuladas
a produzir quimiocinas que promovem a ampliação da resposta Th2), a reação imediata da árvore
respiratória é causar broncoconstrição, aumento na produção de muco (secreção) e vasodilatação (gera
edema). Isso causa um comprometimento respiratório cada vez maior, visto que tem-se a obstrução da
passagem de ar.
Com o tempo, surtos repetidos de exposição ao alérgeno e reações imunes resultam em alterações
estruturais da parede brônquica denominada remodelamento das vias aéreas. Esse remodelagem consiste
em: espessamento geral da parede das vias aéreas, fibrose abaixo da lâmina basal (presença de
fibroblasto no processo inflamatório, aumento da vascularidade, aumento das glândulas submucosas →
maior atividade secretora, hipertrofia e /ou hiperplasia dos músculos da parede brônquica
(preferencialmente musculatura lisa).
**Remodelamento brônquico, com aumento da espessura da parede das vias aéreas de 10 a 300% do nível
considerado normal.
A European Respiratory Society, por sua vez, elaborou uma classificação baseada nos fatores
desencadeantes, diferenciando em:
❖ Sibilância viral episódica → desencadeada após infecções virais respiratórias;
❖ Sibilância desencadeada por múltiplos fatores → frio, exercício físico, alérgeno e vírus também (o
vírus pode desencadear um processo irritativo).
É importante ressaltar que os fenótipos não representam diferentes doenças, fazendo parte da “síndrome
asmática”. Crianças com asma podem apresentar qualquer um dos fenótipos, mas a asma acontece com
menor frequência nos sibilantes transitórios e viral episódicos do que nos outros.
Critérios clínicos
Os ataques de asma são caracterizados por dispneia severa com chiado (sibilância); a principal dificuldade
é a expiração. O paciente com asma esforça-se por enviar ar para dentro dos pulmões, porém não
consegue expeli-lo, o que leva à hiperinsuflação dos pulmões e aprisionamento do ar nas regiões distais
dos brônquios, ocluídos e estreitados por muco. Em alguns casos mais graves, por causa do estreitamento
dos brônquios e da presença constante de muco, o uso da musculatura acessória da respiração faz-se
necessária.
Ademais, muitas vezes a queixa consiste na presença de episódios recorrentes de tosse (seca ou
produtiva) particularmente no período da noite ou logo ao acordar, cansaço aos esforços associado a dor
no peito e certa dificuldade em atividades físicas habituais. De forma geral, os sintomas podem piorar à
noite e interferir diretamente na qualidade do sono do paciente.
Resumindo:
❖ Dispneia: pode ser desacompanhada de taquipneia, mas geralmente associada ao esforço físico, e
quanto mais comprometido a função pulmonar pior é a crise e a repetição delas → mau
prognóstico;
❖ Tosse crônica: irritação intraluminal de vias respiratórias;
❖ Sibilância: estreitamento luminal de vias aéreas pequenas induzido por broncoespasmo -
inspiratório inicial e médio é sempre patológico;
❖ Sensação de aperto no peito e/ou desconforto torácico;
❖ Ocorrência de sintomas particularmente à noite ou nas primeiras horas da manhã;
❖ Apresentação de forma episódica, súbita;
❖ Melhora espontânea (local arejado) ou após o uso de broncodilatadores;
➢ OBS 1: adolescente com sibilância recente → oportunidade de diagnóstico de tabagismo
ativo ou outras drogas inalatórias (principalmente ilícitas);
➢ OBS 2: brônquio direito é mais largo e verticalizado (continuação da traqueia) que o
esquerdo → sibilância aguda a direita é sugestiva corpo estranho (até que se prove o
contrário rs). Se a sibilância for bilateral, o diagnóstico passa a ter mais diferenciais (asma,
corpo estranho, inalação de irritante).
Diagnóstico
O diagnóstico de asma deve-se basear na anamnese, no exame físico e, sempre que possível, nas provas
de função pulmonar e na avaliação da alergia. Dessa forma, o diagnóstico é clínico e funcional, contudo,
deve ser raciocinado como diagnóstico de exclusão.
❖ Investigar:
➢ Atopia;
■ Pesquisar sinais de atopia:
● Palidez nasal;
● Ressecamento de pele (peri-nasal);
● Tórax em barril (asma tem sequelas fibróticas);
● Comprometimento do crescimento/desenvolvimento (a hipóxia que esses
pacientes são submetidos faz com que haja esse impacto no
desenvolvimento);
● Sibilos.
❖ História parental;
❖ Alérgenos/irritantes;
❖ Ambiente psicossocial → tipo de emprego, estresse constante, crises de ansiedade.
Por fim, o diagnóstico da asma deve ser realizado, principalmente por meio de dados clínicos. Contudo, a
confirmação do diagnóstico também pode ser via testes de função pulmonar, como a espirometria que
demonstra distúrbios ventilatórios obstrutivos geralmente com prova broncodilatadora positiva. O teste de
broncoprovocação com metacolina pode auxiliar nos casos com espirometria normal.
Espirometria
A espirometria na asma aponta para: VEF1/CVF < 0,80 e/ou resposta ao broncodilatador (BD) com VEF
aumentado em mais de 12%. O teste de esforço de 8 minutos revela uma queda de VEF1 maior do que
15%.
Diagnósticos diferenciais
O diagnóstico de asma pode ser simples e com sinais clínicos sugestivos, como dispneia, sibilância, aperto
no peito (desconforto torácico) e tosse, em um paciente atópico e com alívio espontâneo ou após o uso de
broncodilatadores; ou mais difícil, como em pacientes que referem apenas tosse crônica isolada. Além
disso, a asma deve ser utilizada como um diagnóstico clínico de exclusão (a espirometria mostra uma
condição funcional pulmonar que é compatível com o quadro de asma). Os principais diagnósticos
diferenciais são:
❖ Fístula traqueoesofágica;
❖ Incoordenação da deglutição;
❖ Bronquiolites;
❖ Massas mediastinais;
❖ Discinesia de laringe;
❖ Obstrução alta das vias aéreas;
❖ Aspiração de corpo estranho (atenção para sibilância hemitorácicas);
❖ Doença respiratória crônica da prematuridade;
❖ Síndrome de hiperventilação;
❖ Fibrose cística;
❖ Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) – complexo bronquite-enfisema;
❖ Insuficiência cardíaca congestiva (ICC);
❖ Obstrução mecânica das vias aéreas por processo maligno ou benigno;
❖ Embolia pulmonar; vasculites: Churg-Strauss, poliarterite nodosa (PAN) e granulomatose de
Wegener;
❖ Disfunção de cordas vocais → reduz a passagem de ar pelas vias respiratórias altas e essa
privação leva a uma irritação da árvore brônquica que causa broncoespasmo;
❖ Síndrome carcinóide;
❖ Apneia obstrutiva do sono;
❖ Aspergilose broncopulmonar alérgica;
❖ Infecções virais e bacterianas;
❖ Bronquiectasias→ grandes eliminações brônquicas volumosas, matinais, fétidas e com gosto
podre;
❖ Alveolite alérgica extrínseca ou pneumonite por hipersensibilidade.
Metas terapêuticas
O desenvolvimento da asma, como descrito anteriormente, é complexo e relaciona diversos mecanismos.
Dentre eles, o mais importante é o relacionado à inflamação crônica das vias aéreas, com espessamento
da mucosa, hipersecreção de muco e exposição de terminações nervosas que causam a
hiper-responsividade brônquica. Desse modo, as metas terapêuticas (controle das manifestações clínicas
e funcionais atuais + prevenção de danos futuros) estão diretamente relacionadas à melhora do processo
inflamatório, bem como a estabilização do remodelamento brônquico.
❖ Redução do processo inflamatório pulmonar;
❖ Ausência de sintomas (cuidado! Ausência de
sintomas não quer dizer necessariamente doença
controlada);
❖ Ausência de sibilos não descarta
broncoespasmo;
❖ Normalização da espirometria;
❖ Capacidade de exercício normal;
❖ Redução do risco futuro de exacerbação e
perda de função pulmonar;
❖ Minimização de efeitos adversos do uso crônico
de medicamentos para manutenção da asma.
Parâmetros de resposta terapêutica
❖ Redução da sintomatologia;
❖ Redução da limitação para atividades físicas;
❖ Melhora da qualidade de vida;
❖ Intensidade do uso de medicação de resgate;
❖ Parâmetros de função pulmonar;
❖ Presença de biomarcadores;
❖ A avaliação periódica do controle da asma é um importante marcador dinâmico do nível da doença;
❖ A avaliação periódica revela a necessidade de ajuste no plano de tratamento do paciente;
❖ A avaliação periódica permite a graduação da gravidade da doença.
OBS: Asma Não-controlada → três ou mais critérios da asma parcialmente controlada.
Terapêutica
O tratamento do indivíduo asmático se divide em não medicamentoso (TNM) e medicamentoso. O não
medicamentoso se baseia em ações educacionais (controle ambiental, evitar exposição a fatores de risco,
explicação sobre o uso da medicação, forma correta do uso dos medicamentos) e prática de exercícios
físicos (natação) que visam a prevenção da maior parte das crises. Já o tratamento medicamentoso é
baseado no diagnóstico e controle da doença.
Ademais, o tratamento tem dois focos principais, ou seja: situações de crises (sair do quadro agudo) e
situação intercrises (evitar a agudização). Ambos possuem o objetivo de relaxamento luminal + redução do
processo inflamatório.
❖ Corticosteróides, preferencialmente inalatórios, podem melhorar a expressão clínica da asma e
reduzir a cronicidade da inflamação das vias aéreas;
➢ O corticóide inalatório é o principal tratamento medicamentoso da asma → podem ter
alguns efeitos colaterais: rouquidão, adelgaçamento da pele, equimose e, raramente,
supressão adrenal (altas doses diárias).
➢ Existem broncodilatadores de curta e longa duração → para a asma leve pode-se usar
formoterol (broncodilatador de longa duração → beta-2-adrenérgico) + corticoide inalatório
de baixa dose.
❖ O controle da asma está relacionado a ausência do processo inflamatório capaz de propiciar
aparecimento de sintomas;
➢ A via inalatória é muito utilizada e é a via principal para o tratamento da asma.
❖ Asma controlada não somente sem ausência de sintomas, mas espirometria e capacidade de
exercício normais.
Fatores agravantes
❖ Adesão ao tratamento;
❖ Exposição a inalantes ambientais;
❖ Tabagismo passivo e ativo;
❖ Exposição ocupacional;
❖ Uso de determinados medicamentos;
❖ Aspirina e anti-inflamatórios não esteroidais;
➢ A asma induzida por ácido
acetilsalicílico é uma entidade que
surge, em geral, em pacientes que
não apresentavam sensibilidade a
anti-inflamatórios nem AAS durante a
terceira e quinta década de vida. De
forma concomitante à crise, podem
surgir fenômenos comuns às crises anafilactoides (rinorreia, sintomas gastrointestinais,
angioedema).
❖ Medicamentos β-bloqueadores por via oral ou formulações oftálmicas (exemplo: timolol);
❖ A decisão sobre seu uso deve ser considerada caso a caso, pesando-se riscos e benefícios.
AULA 11
“Doenças pulmonares obstrutivas - DPOC”
DPOC: a doença pulmonar obstrutiva crônica é uma condição clínica comum, prevenível, tratável, que é
ocasionada pela exposição a inalantes agressivos para o aparelho respiratório e consequente
desenvolvimento progressivo de limitação ao fluxo aéreo.
A síndrome classicamente é descrita por representar duas patologias raramente observadas de forma
isolada em um mesmo indivíduo. São elas:
1. Enfisema pulmonar: o enfisema é caracterizado por dilatação anormal e permanente das vias
aéreas distais aos bronquíolos terminais, acompanhada por destruição de suas paredes na
ausência de fibrose significativa. Anatomicamente, o local acometido são os ácinos.
2. Bronquite crônica: tosse produtiva por mais de 3 meses, durante 2 anos consecutivos. A
característica que define a bronquite crônica é a hipersecreção de muco, inicialmente restrita às
vias aéreas maiores.
Características da DPOC
As doenças obstrutivas das vias aéreas são caracterizadas pela limitação do fluxo de ar, usualmente
resultado do aumento da resistência causada pela obstrução completa ou incompleta em qualquer nível da
árvore respiratória. Dessa forma, o termo DPOC denota presença de limitação ao fluxo aéreo com
manifestações clínica de enfisema e/ou bronquite crônica.
❖ Doença prevenível e tratável ocasionada pela exposição ao tabagismo e gases tóxicos;
❖ Caracteriza-se por obstrução progressiva ao fluxo aéreo de irreversível associada a lesões no
parênquima pulmonar (lesão alveolar, remodelação cardiopulmonar ao ponto de deformar até o
tórax);
❖ É um estado patológico caracterizado pela limitação do fluxo de ar e que não é plenamente
reversível. É algo progressivo e associado a uma resposta inflamatória anormal do pulmão, por
partículas ou gases nocivos;
❖ O tabagismo (ativo e passivo) é a principal causa e fator de risco para DPOC (porém não é a única
etiologia);
➢ Durante a anamnese é importante mensurar a carga tabágica do paciente;
➢ Apesar de o tabagismo ser o principal fator envolvido na DPOC, deve-se ter atenção em
fatores ambientais (inalação de partículas de enxofre, cádmio) e para doenças genéticas
(deficiência de alfa-1-antitripsina.
❖ Doenças que causam obstrução do fluxo aéreo → exemplo: enfisema, bronquite crónica, asma;
❖ Sintomas surgem durante a meia-idade + incidência aumenta com a idade;
➢ Função pulmonar fisiologicamente declina com a idade (redução da capacidade vital e
volume expiratório) → na presença de DPOC esse processo é acelerado.
Fisiopatologia
A grande maioria dos pacientes com DPOC é identificada pela presença de obstrução em prova de função
pulmonar, usualmente na quinta década de vida. Tais pacientes geralmente apresentam VEF1 < 40% o
que indica dispneia aos pequenos esforços, e < 25% indica dispneia em repouso. Além da diminuição do
VEF1, existem outras alterações presentes em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica. São
elas:
❖ A limitação do fluxo aéreo é progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos
pulmões a partículas ou gases nocivos;
➢ A reação inflamatória acontece por toda a via aérea, parênquima e vasculatura pulmonar
(processo difuso na árvore respiratória, interstício, árvore vascular) → processo inflamatório,
espessamento de tecidos e formação de tecido cicatricial interferem na atividade de todos
os tecidos.
❖ Processo precoce de agressão - lesão - reparação → provoca formação de tecido cicatricial →
estreitamento da luz da via aérea;
❖ A obstrução do fluxo de ar pode ocorrer também pela destruição do parênquima (enfisema);
➢ Enfisema: doença das vias aéreas caracterizada pela destruição das paredes dos alvéolos
hiperestendidos.
❖ Além da inflamação, os processos relacionados com os desequilíbrios das proteases e
antiproteases (fatores inflamatórios e anti-inflamatórios) no pulmão podem ser responsáveis pela
limitação do fluxo de ar → a via final da inflamação na DPOC é o desbalanço entre as proteases e
as antiproteases (proteases são lesivas ao epitélio respiratório);
➢ Destruição do parênquima pulmonar;
➢ Fatores ambientais ou genéticos (deficiência de alfa-1-antitripsina).
Resumindo:
Exposição crônica a agentes tóxicos/irritantes → reação inflamatória → espessamento da vasculatura
pulmonar → espessamento da parede vascular (pode ocorrer devido a exposição da fumaça de cigarro ou
tabaco ou pela liberação de mediadores inflamatórios) → formação de tecido cicatricial pelos fibroblastos
→ repetição do quadro agressão/lesão/cicatrização → redução na expansibilidade, perfusão, difusão →
remodelamento de todo o parênquima pulmonar e caixa torácica → DPOC instalada.
Impactos da Inflamação
O processo inflamatório causa sérios danos que levam a limitação do fluxo aéreo.
❖ Doenças das pequenas vias aéreas → inflamação das vias aéreas e remodelamento;
❖ Destruição do parênquima → ruptura das ligações alveolares e redução de recolhimento elástico
(fibrose);
1. Sarcopenia x DPOC
Sarcopenia é o processo
natural e progressivo de perda
de massa muscular
(músculos), característico do
envelhecimento. Ela ocorre
quando o paciente está tendo
ou não DPOC. Já a doença
pulmonar obstrutiva crônica,
hoje, é tida como uma
patologia sistêmica
(antigamente era entendida
como exclusiva dos pulmões)
porque apresenta
repercussões, como perda de
peso (e perda de massa
muscular), ganho de gordura
abdominal e doenças
cardíacas.
2. Gigantismo x DPOC
O gigantismo é uma enfermidade hormonal causada pela excessiva secreção do hormônio do crescimento
durante a idade do crescimento. Ele pode ser um fator de risco para DPOC, visto que o distúrbio do fator
de crescimento pode levar a uma resposta pulmonar anormal.
Manifestações clínicas
O diagnóstico de DPOC baseia-se na demonstração de obstrução ao fluxo aéreo e pode ser realizado de
maneira confiável, com base em dados clínicos de exposição inalatória a inalantes que configurem fator de
risco, como tabagismo, associado à espirometria, com distúrbio ventilatório obstrutivo geralmente sem
resposta ao uso de broncodilatador.
❖ Sibilos;
❖ Tosse crônica geralmente produtiva → geralmente precede a dispneia ou ocorre simultaneamente;
❖ Escarro mucoso;
❖ Dispneia aos esforços;
➢ Progressiva com o avançar da doença;
➢ Pode ser intensa e, com frequência, interfere com as atividades diárias e exercícios;
➢ Recrutamento de músculos acessórios;
➢ HPMA: a dispnéia ocorre pela primeira vez numa crise de exacerbação da doença.
❖ Perda de peso (desnutrição → perda de massa magra tórax, bíceps, tríceps, coxas → prognóstico
ruim);
❖ Perda muscular, causas:
➢ Multifatorial;
➢ Aumento da taxa metabólica basal;
➢ Redução da ingestão calórica;
➢ Sarcopenia;
➢ Senilidade;
➢ Inatividade.
❖ Risco de insuficiência respiratória e infecções respiratórias;
❖ A redução do índice de massa corpórea (IMC) e a redução do índice de massa magra, estão
associados a:
➢ Pior prognóstico;
➢ Maior risco para desenvolvimento de exacerbações e redução da capacidade física;
➢ Qualidade de vida rebaixada em indivíduos com DPOC.
❖ Obesidade → troca de massa magra muscular por tecido adiposo, principalmente na região
abdominal → é um mau prognóstico.
Exames Complementares
❖ Radiografia de tórax:
➢ Diagnósticos diferenciais;
➢ Padrão enfisematoso → aumento ântero-posterior em relação ao latero-lateral, presença de
ar mediastinal (bolhas = blebs), alargamento de espaço intercostal, achatamento de cúpula
diafragmática, vasos hilares provenientes (principalmente por haver menos sombra cardíaca
sobreposta), presença ou não do Sinal da Silhueta, sinal do broncograma aéreo;
■ Pacientes com DPOC (bronquite crônica)
apresenta, além da hiperinsuflação, paredes
brônquicas espessas.
❖ Tomografia computadorizada: habitualmente, é
desnecessária para o diagnóstico e não deve ser solicitada
rotineiramente (é solicitada quando há grande dúvida do
diagnóstico).
➢ Padrão-ouro de imagem;
➢ Indicada em suspeita de bronquiectasias ou bolhas,
indicação de correção cirúrgica destas, programação
de cirurgia redutora de volume;
➢ Permite a identificação de espaços mortos e fibrose,
além de caracterizar 3 tipos de enfisema.
Avaliação funcional
❖ A avaliação funcional confirma DPOC;
❖ Avaliação funcional quantifica o grau de comprometimento, avalia o prognóstico e auxilia no
acompanhamento evolutivo;
❖ A avaliação funcional pode ser dividida em avaliação espirométrica e gasométrica.
1. Espirometria
A espirometria tem papel de diagnóstico central na DPOC. É por meio dela que o componente obstrutivo
da doença pode ser caracterizado. De fato, a presença de relação VEF1/CVF < 0,7 após broncodilatador,
associada a dados clínicos e epidemiológicos, praticamente define o diagnóstico.
❖ A espirometria, com obtenção das curvas fluxo-volume e volume-tempo, é obrigatória frente a
suspeita clínica de DPOC.
❖ Ela deve ser realizada antes e após administração de broncodilatador, de preferência em fase
estável;
➢ Na maioria das vezes, não é observada resposta broncodilatadora na espirometria da
DPOC.
❖ Os parâmetros mais importantes são:
➢ CVF → Volume máximo de ar exalado com esforço máximo, a partir do ponto de máxima
inspiração;
➢ VEF1 → Volume de ar exalado num tempo especificado durante a manobra de CVF; VEF1
é o volume de ar exalado no primeiro segundo da manobra de CVF;
■ Em fases precoces da doença, o VEF1 pode ser preservado; com a progressão
clínica da doença, ele tem seu valor reduzido.
➢ Relação VEF1/CVF.
2. Gasometria arterial
É indicada para avaliar a gravidade da doença em pacientes que tenham a saturação de oxigênio inferior a
92%, a fim de avaliar indicação de oxigênio domiciliar. A hipercapnia habitualmente surge em fase bem
mais avançada.
Avaliação de Oxigenação
A oximetria de pulso é a maneira de medir quanto oxigênio seu sangue está transportando. Usando um
pequeno dispositivo chamado oxímetro de pulso, seu nível de oxigênio sanguíneo pode ser aferido sem a
necessidade de puncioná-lo com uma agulha.
❖ Se saturação periférica de oxigênio (SpO2) igual ou inferior a 90% é indicado a gasometria arterial
para avaliação da PaO2 e PaCO2;
❖ Se a oximetria for normal, deve-se repetir periodicamente e sempre que houver exacerbação dos
sintomas.
Dosagem Laboratorial
❖ Dosagem de alfa-1 antitripsina indicada nos casos de aparecimento de enfisema pulmonar em
pacientes com idade inferior a cinquenta anos;
Tratamento clínico
Os pacientes com DPOC beneficiam-se de medidas não medicamentosas, bem como de tratamento
farmacológico. As medicações disponíveis para o tratamento de DPOC têm como objetivo principal
melhorar a qualidade de vida dos pacientes e compreendem broncodilatadores, glicocorticóides,
metilxantinas e agentes anti-inflamatórios. Os broncodilatadores inalados, beta-2-agonista e
anticolinérgicos são os personagens principais na DPOC.
❖ Medidas não medicamentosas:
➢ Cessação do tabagismo → a persistência do hábito de fumar está associada a pior
prognóstico, maior queda anual do VEF1, maior número de exacerbações e maior chance
de internação + morte;
➢ Incentivo à atividade física → auxilia na reabilitação da função pulmonar;
➢ Reabilitação pulmonar;
➢ Vacinação para prevenção de infecções virais e pneumonia;
➢ Oxigenioterapia: melhora a sobrevida de pacientes com DPOC;
➢ Tratamento cirúrgico;
➢ Transplante pulmonar.
AULA 12
“Pneumonia”
Pneumonia pode ser definida como infecção bacteriana, fúngica ou viral do parênquima pulmonar
(bronquíolos e alvéolos) relacionada com contaminação do trato respiratório inferior (traqueia, os pulmões,
os brônquios, os bronquíolos e os alvéolos pulmonares).
Fisiopatologia
O termo pneumonia pode ser utilizado para definir qualquer infecção do parênquima pulmonar. Uma
pneumonia pode ocorrer sempre que os mecanismos de defesa locais estiverem prejudicados ou quando a
resistência sistêmica do hospedeiro estiver diminuída. Fatores que afetam a resistência em geral incluem
doenças crônicas, deficiências imunológicas, tratamento com imunossupressores e leucopenia.
Dessa maneira, existem quatro formas que permitem o contato dos agentes infecciosos com as vias
aéreas. São elas:
1. Aspiração: mais comum e mais importante nas pneumonias bacterianas. É preciso que o agente
infeccioso, primeiramente, colonize a orofaringe para que ele possa ser aspirado;
2. Inalação: é um mecanismo presente nas pneumonias por Legionella sp. e Mycoplasma
pneumoniae;
3. Via hematogênica: os agentes infecciosos podem atingir os pulmões (ou sair deles em direção ao
restante do corpo) através da corrente sanguínea;
a. Um exemplo é a infecção por Staphylococcus aureus ou paracoco.
4. Extensão direta: raramente o patógeno causador da pneumonia é proveniente do espaço pleural ou
do mediastino (o contrário do pulmão → pleura é mais comum).
Resumindo:
❖ As aspirações de micro-organismos presentes nas vias aéreas superiores (mecanismo mais
comum);
❖ Falha de mecanismos de defesa que mantém as vias aéreas inferiores estéreis;
❖ Exposição a um microorganismo virulento ou uma inoculação excessiva.
❖ Disseminação hematogênica de um foco infeccioso à distância;
❖ Infecção por contiguidade de outro foco;
❖ Macroaspiração;
❖ Reativação de foco → tuberculose;
❖ Paciente acamado → má ventilação → formação de espaço morto com espaço de aeração mais
baixo, que predominam microrganismos anaeróbios.
Além da idade avançada (acima de 65 anos) e do acometimento respiratório e cardíaco temos como
fatores de risco: tabagismo, hipoxemia, edema pulmonar (hipóxia local → congestão de proteínas e outros
fatores no tecido pulmonar → susceptibilidade a infecções), desnutrição, bronquiectasia, episódio prévio
de PAC, etilismo (reduz defesa do organismo → aumenta as discinesia do TGI e vômitos, favorecem
aspiração), obstrução brônquica mecânica, uremia, imunossupressão, fibrose cística (alterações
anatômicas), DPOC (alterações anatômicas) e síndromes que interferem na motilidade ciliar.
Etiologia PAC
A maioria das pneumonias agudas adquiridas em comunidade apresenta etiologia bacteriana. Não
incomum, a infecção bacteriana se sobrepõe a uma infecção viral das vias aéreas superiores. O início
geralmente é abrupto, com febre alta, calafrios, dor torácica pleurítica e tosse produtiva mucopurulenta;
alguns pacientes podem ter hemoptise.
Em tese, qualquer microrganismo pode causar pneumonia, mas o Streptococcus pneumoniae permanece
como o agente mais frequente, seguido por Haemophilus influenzae, Mycoplasma pneumoniae,
Chlamydophila pneumoniae e Legionella spp.
❖ Pneumococo é o germe mais isolado nas PACs;
➢ Nas infecções pneumocócicas pulmonares, ambos os padrões de pneumonia podem
ocorrer; a broncopneumonia é mais prevalente nos extremos de idade. Independentemente
da distribuição da pneumonia, os lobos inferiores ou o lobo médio direito estão
frequentemente envolvidos, uma vez que as infecções pulmonares pneumocócicas
usualmente são adquiridas pela aspiração da microbiota nasofaríngea.
❖ Germes atípicos (assim chamados por não serem detectados pela coloração de Gram ou
cultivados em meios de cultura padrão ) são etiologia comum;
❖ Germes atípicos: Mycoplasma pneumoniae, Chlamydophila pneumoniae, Legionella pneumophila e
vírus respiratórios;
❖ PACs comumente têm infecções mistas com envolvimento de um germe atípico;
❖ Etiologia viral pode atingir até 36% de etiologia das PACs;
❖ Entre os vírus, destaca-se o SARS-Cov-2, Influenza, vírus sincicial respiratório, parainfluenza e
adenovírus;
❖ O Haemophilus influenzae não-tipável e a Moraxella catarrhalis acometem pacientes com doenças
broncopulmonares prévias;
❖ A PAC causada por Staphylococcus aureus é geralmente vista em pacientes que estão se
recuperando de uma infecção pelo vírus Influenza;
❖ Em vários países, S. aureus adquiridos na comunidade resistentes à oxacilina, distinto do distintos
do S. aureus resistente isolado em hospital;
❖ A Pseudomonas sp é causa de PAC em pacientes imunocomprometidos ou com uso prévio de
antibiótico de amplo espectro ou com doença pulmonar estrutural, com repetidas exacerbações de
DPOC e uso freqüente de glicocorticóides ou antibióticos;
❖ Os bacilos Gram-negativos (BGN) entéricos são a causa comum de PAC em pacientes com risco
de aspiração, PAC grave ou etilista, com acometimento sensório, epilético.
Quadro clínico
❖ Início agudo ou subagudo;
❖ Cefaleia súbita, mal definida, acompanhada de peso e mal estar;
❖ Febre (78%) → criança tem muita febre e idosos têm pouca febre → medir no axis corpóreo;
❖ Tosse (82%) com ou sem expectoração;
❖ Dispnéia (40 a 90%);
❖ Taquidispneia é fator prognóstico ( > 25 mrp);
❖ Dor torácica, dor pleurítica;
❖ Hemoptise → lesão de mucosa brônquica ou sangramento parenquimatoso com fistulização para
luz brônquica;
❖ Sintomas inespecíficos, como mialgias, sudorese, náuseas, vômitos, queda do estado geral,
anorexia e fadiga;
❖ Idosos frequentemente não apresentam febre, tosse ou mesmo dispneia;
❖ Quadro clínico inespecífico, como desorientação, mudanças abruptas da capacidade funcional e
descompensação de uma doença previamente estável, como diabetes, DPOC ou insuficiência
cardíaca.
Exame físico
❖ Exame físico pulmonar:
➢ Estertores crepitantes;
➢ Macicez ou submacicez;
➢ FTV:
■ Aumentado: consolidação;
■ Reduzido ou abolido: derrame pleural.
❖ Cianose (hipoxemia);
❖ Tempo de enchimento capilar → avaliação da perfusão tissular → indício precoce de sepse;
❖ Observar padrão respiratório com uso ou não de musculatura respiratória acessória;
❖ Observar a conformação torácica → paciente portador de DPOC.
Diagnóstico
O diagnóstico de pneumonia é baseado nos seguintes pilares: clínica + exame físico + radiografia com
infiltrado pulmonar.
❖ Achados clínicos (febre, tosse, expectoração, dor torácica);
❖ Achados de exame físico (estertores crepitantes, sinais de consolidação, taquipnéia, taquicardia);
❖ Radiografia de tórax;
❖ Hemograma;
❖ VHS;
❖ Hemocultura;
❖ Estudo do líquido pleural;
❖ Pesquisa de antígenos urinários para detecção de Legionella pneumophila e pneumococo.
Diagnóstico radiológico
A pneumonia é a causa mais comum de infiltrados, os quais podem ser identificados através do exame
radiológico. Infiltrados são opacidades parenquimatosas de limites imprecisos, habitualmente
heterogêneas, sem caráter retrátil ou expansivo e que, na maioria das vezes, se relacionam a doenças
inflamatórias infecciosas.
Os infiltrados podem ser alveolares ou intersticiais. Quando alveolares, podem ser heterogêneos
(broncopneumonia, hemorragia alveolar) ou homogêneos ( pneumonia lobar) e refletem o preenchimento
dos espaços alveolares com material anormal, seja ele sangue, pus, água, proteínas ou restos celulares. O
broncograma aéreo também pode estar presente nesses casos.
Já os infiltrados intersticiais podem ser divididos em reticulares, nodulares ou reticulonodulares. Contudo, o
aspecto radiográfico não permite determinar a etiologia. Na presença de infiltrados reticulares, podem ser
identificadas as linhas de Kerley (espessamento dos septos interlobulares).
A radiografia do tórax (incidências póstero-anterior e de perfil) é o exame gold standard para confirmar e
estabelecer o diagnóstico de PAC. As imagens obtidas servem ainda como parâmetro para comparações
futuras e podem revelar padrões de maior gravidade como derrame pleural, abscesso pulmonar, padrão
multilobular ou cavitações, que normalmente estão associadas a infecção por Staphylococcus aureus.
❖ Radiografia de tórax é importante para avaliação da gravidade, identificação de complicações e
diagnóstico diferencial;
❖ Pacientes imunossuprimidos ou desidratados que podem apresentar-se inicialmente sem
alterações radiológicas;
❖ Padrões radiológicos incluem consolidação lobar, focos de consolidação, opacidades intersticiais e
cavitação;
❖ Não há segurança na relação entre padrão radiológico e agente etiológico.
Apesar da relação entre padrão radiológico e agente etiológico não ser segura, existe uma “premissa” que
pode ser seguida como ajuda no raciocínio. Na Medicina existem exceções, cuidado!
❖ Padrão intersticial: vírus e micoplasma;
❖ Padrão cavitário: S.aureus, anaeróbios, BGN, TB.
Diagnósticos diferenciais
Os diagnósticos diferenciais principais são: infecção do trato respiratório superior (traqueíte, bronquite),
hiperreatividade das vias aéreas, DPOC, asma, insuficiência cardíaca, neoplasia de pulmão, doenças
intersticiais pulmonares, vasculites pulmonares, TEP, atelectasias, tuberculose e infecções fúngicas.
Escore FINE
Score de pontos segundo a presença de fatores demográficos, clínicos e laboratoriais.
❖ Primeira etapa: fatores de risco?
➢ Não: Classe I;
➢ Sim: segunda etapa.
❖ Segunda etapa: avaliar fatores de risco;
➢ Estratificação em Classes II a V.
AULA 13
“Abordagem dos Estados de Alterações de Consciência”
Conceito de Consciência: ato psíquico cujo efeito permite ao indivíduo reconhecer sua própria existência
no mundo, num contexto têmporo-espacial-ontológico e de auto-referenciamento de atributos essenciais, e
responder a estímulos ambientais.
Síncope Neurocardiogênica
❖ Síndrome do coração vazio (reflexo de Bezold - Jarisch): o coração apresenta um hipovolemia, pois
ele entende que está “dilatado” → por uma “hipovolemia” e aumento da tensão da parede (resposta
do SNS) = ativação dos receptores subendocárdicos no VE;
❖ Aferência pelas fibras “C” não mielinizadas (vago) = aumento do tônus vagal e redução do tônus
adrenérgico → aumento dos níveis séricos de adrenalina = estímulo inotrópico e vasodilatação por
ativação dos receptores beta do vaso;
❖ Outros gatilhos: hipotálamo, lobo frontal, receptores periféricos e de estruturas não cardíacas
(transplantados cardíacos), quimiorreceptores no VE.
Síncope - complemento
A síncope é definida como uma perda rápida e temporária da consciência, associada a perda do tônus
postural, com espontânea e pronta recuperação e exclui convulsões, coma, choque e outras alterações.
❖ Pode ser súbita ou exibir pródromos;
❖ Sintomas premonitórios: calor, taquicardia, cefaleia, sudorese, hiperventilação/parestesia, palidez,
fraqueza, opressão retroesternal, “cabeça leve”, bocejos, náuseas, epigastralgia, cólicas, visão
turva, hipoacusia após a crise (< 5 minutos), fraqueza e sonolência;
❖ Situações comuns: visão de sangue, dor, trauma, punções, manipulação cirúrgica, instrumentação,
hemorragias, “stress”, medo, ortostase prolongada;
❖ História de síncopes desde a juventude é sugestiva;
❖ Diagnóstico diferencial com crises tônicas (síncope convulsiva)
Lipotimia
❖ Sensação de perda brusca e transitória da consciência → não há efetiva inconsciência, nem perda
de força muscular ou perda do ortostatismo;
❖ Caracterizada por um rápido mal estar de início e curta duração, com recuperação espontânea;
❖ Serve-se como diagnóstico diferencial das síncopes.
Tonturas ou vertigem
❖ Sensação de perda do equilíbrio (não inclui perda de consciência);
❖ Trata-se de diagnóstico diferencial de síncopes → normalmente consiste de acometimento
otoneurológico primário ou secundário.
Crise epiléptica
Epilepsia é definida como um distúrbio cerebral caracterizado pela predisposição persistente do cérebro
para gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais
dessa condição. Desse modo, crises epilépticas são manifestações epilépticas (excessivas e/ou
hipersíncronas), usualmente autolimitadas de neurônios cerebrais.
❖ Ocorrência súbita, episódica e transitória → resultado clínico de um evento elétrico anômalo no
cérebro;
❖ Decorre de atividade neural síncrona ou excessiva no cérebro → se houver passagem do estímulo
elétrico para o outro hemisfério o indivíduo fica inconsciente;
❖ As manifestações clínicas das crises epilépticas consistem de alterações da consciência, eventos
motores ou sensitivos, experiências sensoriais, disparos autonômicos ou ainda sintomas psíquicos;
❖ Sendo manifestações involuntárias, pode haver ou não consciência destes eventos por parte do
indivíduo acometido, mas são perceptíveis a um observador atento;
❖ Tipos:
➢ Generalizadas: são aquelas que se originam em algum ponto de uma rede neuronal e
rapidamente envolvem e se distribuem em redes neuronais bilaterais (não necessariamente
incluem todo o córtex) → estímulo passa para o outro hemisfério → crises generalizadas
podem ser assimétricas;
➢ Tônicas → músculos tônicos
➢ Clônicas;
➢ Tônico-clônicas → paciente que se debate;
➢ Parciais complexas: ausências, epigastralgias, movimentos estereotipados e não
pragmáticos; movimentos ritualísticos.
Epilepsia
A epilepsia é uma doença crônica caracterizada por crises epilépticas recorrentes, que pode ser uma
causa direta de óbito do paciente. A morte súbita nas epilepsias conhecidas por SUDEP é caracterizada
como óbito de um paciente com epilepsia sem causa definida, excluindo trauma, afogamento, mal
epiléptico e se os exames realizados após a morte não revelarem causas anatômicas ou toxicológicas
para a morte.
❖ Epilepsia é um complexo sindrômico caracterizado pela predisposição de gerar crises epilépticas;
❖ As crises epilépticas têm consequências neurobiológicas, cognitivas e psicossociais;
❖ Por complexo sindrômico, entendemos o conjunto espectral de sinais e sintomas clínicos que
caracteriza a epilepsia em suas múltiplas manifestações → não se trata de uma nosologia única e
singular;
❖ A crise epiléptica é o evento mais icônico deste complexo e resulta de anormalidade do
funcionamento elétrico encefálico;
❖ As crises podem ser espontâneas ou precipitadas por fatores emocionais, privação de sono, álcool,
ciclo menstrual, suspensão ou troca de medicação e causas tóxico-metabólicas, como febre ou
doença sistêmica. Esses fatores são responsáveis por reduzir o limiar epiléptico e aumentar a
chance de crise.
Letargia
Letargia é um estado geral de sono profundo e prolongado onde diversas funções do organismo estão
presentes e funcionais, mas de maneira lenta → alterações espectrais do estado de alerta.
❖ A sonolência profunda ou letargia é um estado de diminuição do nível de consciência em que o
paciente consegue ser acordado com estímulos brandos.
Torpor ou Estupor
É um estado de sonolência ainda mais profundo que a letargia, em que o indivíduo precisa receber
estímulos vigorosos e repetidos para despertar.
Estado de coma
O estado de coma é uma inconsciência de si mesmo e do ambiente, ou seja, o paciente não responde a
estímulos de diversas modalidades e intensidades. Os olhos estão fechados e não abrem
espontaneamente. Os pacientes não falam, e não existe propósito nos movimentos da face ou dos
membros. A estimulação verbal não produz resposta. A estimulação dolorosa pode não produzir resposta
ou pode gerar movimentos reflexos sem propósito, mediados por vias medulares ou do tronco cerebral.
O coma resulta de um distúrbio da função do sistema reticular ativador do tronco cerebral acima da
metade da ponte ou de ambos os hemisférios cerebrais, uma vez que são estas regiões cerebrais que
mantêm a consciência. Pode ter causa neurológica, metabólica, hemodinâmica, etc.
Abulia
Abulia é um comportamento em que há uma grave apatia com diminuição ou ausência de comportamento
emocional ou mental.
❖ O paciente nem fala ou se movimenta espontaneamente, mas o nível de consciência está
preservado (alerta);
❖ Reconhecimento de estímulos do ambiente;
❖ Geralmente ocorre em pacientes com lesões frontais bilaterais.
Catatonia
Estado em que o indivíduo pode ficar mudo e imóvel. Em geral, há hipertonia voluntária com apresentação
em “postura em bloco” (cócoras, por exemplo).
❖ Diminuição acentuada da atividade motora;
❖ Geralmente associado a quadros psiquiátricos (esquizofrenia).
Definição: coma é um estado semelhante ao sono, não reversível por estímulos (sem despertar) sem
resposta ao ambiente (como abertura dos olhos ou verbalização), sem movimentação pragmática de face
ou dos membros de forma espontânea ou por estímulos dolorosos (atualmente, estímulos de pressão).
Estratégias de abordagem
❖ Estabilização do paciente (suporte
vital);
❖ Correção da situação ameaçadora à
vida;
❖ Esforços no sentido do
estabelecimento do diagnóstico etiológico.
Sinais de traumatismo
A inspecção da cabeça pode revelar sinais de fratura basilar de crânio,
incluindo o que se segue:
1. Olhos de guaxinim: equimoses periorbitais;
2. Sinal de Battle: edema e descoloração sobre osso mastóide, atrás da
orelha;
3. Hemotímpano: sangue atrás da membrana timpânica;
4. Rinorreia ou otorreia de líquido cerebrospinal (LCS): vazamento de LCS
pelo nariz ou orelha. A rinorreia de LCS deve ser diferenciada de outras
causas de rinorreia, como a rinite alérgica ou cefaléia em salvas. A
concentração de glicose não diferencia de modo confiável LCS de muco
nasal, mas a beta-2-transferrina é exclusiva do LCS, e sua presença
atesta a fonte de LCS.
Sinais meníngeos
Sinais de irritação meníngea (p. ex., rigidez de nuca ou sinal de Brudzinski) podem ser extremamente úteis
para o pronto diagnóstico de meningite ou hemorragia subaracnóidea, mas esses sinais são perdidos no
coma profundo, de modo que sua ausência não exclui essas condições.
❖ Presente em meningite ou em hemorragia subaracnóidea;
❖ Em coma profundo esses sinais estão abolidos;
❖ Os sinais são: Kerning (flexão da perna), Brudzinski (flexão da cabeça) e Lasègue.
Glândulas Suprarrenais
As glândulas suprarrenais se localizam acima dos rins, medem cerca de 3 a 5 cm de comprimento e
pesam de 1,5 g a 2,5 g. Essa glândula é anatomicamente divida em dois componentes diferentes: córtex e
medula. O córtex adrenal é composto de três zonas — a zona glomerulosa, a zona fasciculada e a zona
reticular — que produzem mineralocorticóides, glicocorticóides e androgênios adrenais, respectivamente.
A partir dessa situação, existem alterações de atividade do eixo HPA. Tais alterações acarretam em
atividade aumentada, diminuída ou mesmo disfuncional.
21-hidroxilase
11beta - hidroxilase
11beta-hidroxiesteroide-desidrogenase tipo II
Deficiência de 21-hidroxilase
A deficiência dessa enzima é a responsável por 95% das anormalidades genéticas na síntese dos
hormônios esteróides da suprarrenal. Tal enzima, por sua vez, tem a função de converter a progesterona
em desoxicortisona e a 17-hidroxiprogesterona em 11-desoxicortisol.
Deficiência de 11b-hidroxilase
A deficiência da enzima 11-hidroxilase é a segunda anormalidade mais
frequente na síntese dos glicocorticóides. Tal enzima converte o
11-desoxicortisol em cortisol e a 11-desoxicorticosterona (DOC) em
corticosterona (o final dessa via leva a formação de aldosterona).
Etiologia
Dentre as possíveis etiologias, tem-se: adrenalite autoimune (etiologia mais frequente), infecções
(tuberculose, citomegalovirose , SIDA, micoses), uso de fármacos (cetoconazol, etomidato, rifampicina),
hemorragia adrenal, neoplasias (metástases, linfoma) e doenças genéticas.
Manifestações clínicas
A doença de Addison começa insidiosamente e não chama a atenção até que os níveis de glicocorticoides
e mineralocorticoides circulantes estejam significativamente diminuídos. As manifestações iniciais incluem
fraqueza progressiva e fácil fatigabilidade, as quais são inespecíficas. Os demais sintomas que podem ser
encontrados são:
❖ Sintomas inespecíficos: astenia, anorexia, perda de peso e
distúrbios gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia e
constipação) → atenção para astenia e anorexia;
❖ Dor abdominal;
❖ Hipotensão (principalmente postural);
❖ Avidez por sal;
❖ Redução da libido;
❖ Rarefação dos pelos axilares e pubianos nas mulheres
❖ A hiperpigmentação está presente em 92% a 94% dos
pacientes com doença de Addison primária → decorre de
maior concentração de melanina na pele pela elevação do
ACTH e seu precursor, a pró-opimelanocortina (POMC);
➢ É generalizada e mais facilmente percebida em áreas
expostas ao sol (face, pescoço, dorso das mãos), em
regiões propensas a traumas ou fricção (dedos dos
pés, cotovelos, joelhos, cintura, ombros) e nas linhas
de dobras da mão, aréola, mamilo, axila, períneo, cicatriz umbilical e cavidade oral.
❖ Vitiligo está presente em 10 a 20% dos pacientes → sugere autoimunidade como etiologia;
❖ Amenorreia também é um achado possível e pode resultar da doença crônica, da perda de peso ou
de uma ooforite autoimune;
❖ Sintomas psiquiátricos, como síndrome cerebral orgânica
(síndromes cognitivas de cunho orgânico), depressão ou
psicose também podem fazer parte do quadro clínico;
❖ Pode ocorrer isoladamente, mas cerca de 50% a 60% dos
pacientes têm outras doenças autoimunes associadas →
essas associações são conhecidas como síndromes
poliglandulares autoimunes (SPA);
❖ SPA: hipoparatireoidismo, DM tipo 1, vitiligo, doença celíaca e tireoidopatias autoimunes →
suspeitar em hipotireoidismo que piora com o tratamento (cortisol que não responde aos hormônios
tireoidianos);
❖ Hiponatremia (88%), hipercalemia (64%) → a atividade
mineralocorticoide em pessoas com essa insuficiência resulta em
retenção de potássio e perda de sódio, com consequente
hipercalemia, hiponatremia, depleção de volume e hipotensão;
❖ Acidose metabólica;
❖ Anemia, uremia;
❖ Hipoglicemia de jejum, hipoglicemia pós prandial → a
hipoglicemia pode, ocasionalmente, ocorrer como resultado da
deficiência de glicocorticóides e da gliconeogênese prejudica.
Diagnóstico
❖ Cortisol basal (coletado entre 8 e 9 horas da manhã): níveis ≤ 5µg/dL sugerem IA; níveis ≥ 18µg/dL
praticamente excluem a IA;
❖ Teste de estimulação com tetracosactídeo cortrosina ou synacthen, porção ativa da molécula de
ACTH → considerado um dos melhores métodos;
➢ Após administração de 250 µg de tetracosactídeo por via endovenosa, realiza-se dosagem
de cortisol nos tempos 0, 30 e 60 minutos, e, se um dos valores for ≥ 18 µg/dL, exclui-se
doença de Addison.
Além disso, pode estar associada a outra doença endócrina autoimune, como hipotireoidismo ou falência
gonadal.
Exames de Imagem
Estabelecido o diagnóstico, são necessárias, para se identificar a etiologia da insuficiência suprarrenal,
investigações adicionais como:
❖ Tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) das adrenais, hipófise e
hipotálamo → na adrenalite autoimune, as glândulas suprarrenais apresentam tamanho normal ou
diminuído; demais patologias tendem a aumentar o volume;
➢ Calcificações podem indicar tuberculose adrenal (presentes em 50% dos casos) e outras
doenças granulomatosas crônicas, metástases ou uma hemorragia anterior.
❖ Biópsia adrenal guiada por TC deve ser feita nas doenças granulomatosas;
❖ Radiografia simples de tórax pode revelar microcardia (diminuição da área cardíaca), ocasionada
pela depleção crônica e severa de sódio.
Recomenda-se dose de hidrocortisona entre 100 a 300 mg de imediato, seguida de 50 a 100 mg a cada 6
a 8 horas para manutenção, durante 24 a 48 horas.
❖ Fatores de risco: infecções, cirurgias, estresse intenso ou traumas → na ocorrência de situações de
estresse, dobra-se ou triplica-se a dose do glicocorticóide (mimetiza a resposta fisiológica do
organismo) + hidratação salina;
❖ Importante orientar a manutenção domiciliar de ampolas de hidrocortisona.
AULA 16
“Diabetes Mellitus (DM)”
Conceito de diabetes
Diabetes mellitus (DM) consiste em um
distúrbio metabólico caracterizado por
hiperglicemia persistente, decorrente de
deficiência na produção de insulina ou na
sua ação, ou em ambos mecanismos,
ocasionando complicações a longo prazo.
Atualmente, a DM também é considerada
uma doença inflamatória.
Nestes tecidos, a insulina promove armazenagem da energia (anabolismo) e impede a quebra e liberação
da energia que já foi armazenada (catabolismo). A falta total de insulina é incompatível com a vida, e isso
também é verdadeiro para o excesso de insulina. No fígado, a insulina promove a armazenagem da
energia por estimulação da síntese e armazenagem de glicogênio. A insulina impede o efluxo hepático de
glicose por inibição da gliconeogênese (síntese de glicose) e glicogenólise (quebra de glicogênio).
Embora a destruição autoimune das células não aconteça de forma aguda, os sintomas clínicos
geralmente o fazem. Os pacientes se apresentam depois de apenas dias ou semanas de poliúria,
polidipsia e perda de peso com concentrações séricas de glicose acentuadamente elevadas. Corpos
cetônicos também estão aumentados em virtude da falta acentuada de insulina, resultando em acidose
grave.
❖ Doença autoimune → mais comum em crianças e adolescentes → corresponde de 5 a 19% dos
casos de DM → poligênica;
❖ Decorrente de destruição das células beta pancreáticas (produtoras de insulina) → deficiência
completa na produção de insulina;
❖ Existem 3 tipos: Ia; Ib; LADA;
❖ Estima-se que mais de 30 mil brasileiros sejam portadores de DM1 e que o Brasil ocupe o terceiro
lugar em prevalência de DM1 no mundo, segundo a International Diabetes Federation.
A forma tipo 1A é a que tem o maior número de casos (entre 70 a 80%) dentre os subtipos de DM tipo 1.
Ademais, ela é caracterizada pela positividade de um ou mais anticorpos (disparo imunológico) associado
com HLA, DR3 e DR4.
❖ Causas/gênese: Infecções virais? Fatores dietéticos? Microbiota intestinal?
❖ Marcadores de autoimunidade: importância clínica para o diagnóstico;
➢ Anticorpos anti-ilhotas;
➢ Anticorpo anti-insulina;
➢ Anticorpos antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti GAD-65);
➢ Anticorpos antitirosinafosfatase (IA2, IA2B);
➢ Anticorpos antitransportador de zinco (ZNT8).
❖ Subtipo LADA: manifesta no adulto jovem → Latent autoimmune diabete in adult – LADA;
➢ É um tipo particular de diabetes tipo 1A que apresenta um processo autoimune prolongado,
bem como uma positividade de anticorpos por maior período; a hiperglicemia só é notada
na idade adulta.
Já a forma tipo 1B é o subtipo menos comum do diabetes tipo 1. Diferentemente da anterior, não
apresenta positividade de anticorpos (anticorpos anti-beta negativo) e, por isso, é associado a causa
idiopática da destruição parenquimatosa hepática. Além disso, não apresenta associação com HLA e o
curso clínico é semelhante ao tipo 1A.
Ademais, DM2 tem fisiopatologia complexa e multifatorial, com contribuição de fatores genéticos e
ambientais (envelhecimento e obesidade visceral). Outros fatores que sugerem maior risco de diabetes
são alguns hábitos de vida e valores antropométricos.
Outras classificações/causas de DM II
1. Diabetes da maturidade com início no jovem (MODY): é um diabetes monogênico herdado de
forma autossômica dominante e que resulta de interações ambientais para se manifestar. É
encontrada em indivíduos jovens, geralmente antes dos 25 anos de idade.
a. Não encontra-se resistência à insulina e a história típica é de ocorrência em pelo menos três
gerações na família;
b. Existem mais de 10 tipos de MODY descritos (cada um relacionado com uma mutação
diferente) e a mutação MODY 3 é a mais prevalente.
2. Diabetes causado por defeitos genéticos na ação da insulina;
3. Diabetes causado por doenças pancreáticas: trauma, tumores, hemocromatose, fibrose cística,
pancreatitie crônica;
a. Hemocromatose é uma doença que ocorre por depósito de ferro, geralmente, no fígado,
pâncreas, coração e hipófise. O excesso de ferro leva ao dano local, interferindo no
metabolismo local. Pode ser hereditária ou secundária (anemias carreadoras de ferro,
dietas com excesso de ferro, administração medicamentosa - excesso de vitamina C,
hemodiálise prolongada, politransfusão);
i. Clínica: fadiga, dor em quadrante superior direito do abdome, artralgia,
impotência/diminuição da libido, insuficiência cardíaca, diabetes, hepatomegalia,
atrofia testicular, sinais de insuficiência cardíaca, hiperpigmentação cutânea;
ii. Diagnostico: ferritina elevada. Teste do gene HFE (muito prevalente). Saturação da
transferrina sérica maior que 45% é um sinal precoce de homozigose para
hemocromatose → pacientes com o gene HFE positivo e ferritina >1000 u/L deve
realizar biópsia hepática → associação com cirrose e carcinoma.
b. Fibrose cística é a doença hereditária das glândulas exócrinas que afeta, primariamente, o
TGI e o sistema respiratório (doença pulmonar crônica). Ela pode levar aos quadro de:
insuficiência pancreática exócrina e endócrina, doença hepatobiliar e eletrólitos
anormalmente elevados no suor;
i. Diagnóstico: teste de suor e identificação de 2 mutações da fibrose cística.
c. Pancreatite crônica geralmente está associada a lesão exócrina do pâncreas
4. Diabetes causado por endocrinopatias → condições que aumentam os hormônios
contrarreguladores da insulina (anti-insulínicos);
a. Doença de Cushing, acromegalia, somatostatinoma, glucagonomas, hipertireoidismo,
feocromocitoma e aldosteronoma.
5. Diabetes secundário a fármacos;
6. Formas incomuns de diabetes autoimune;
7. Diabetes associado a síndromes genéticas → Down, Klinefelter, Turner, Prader Willi;
8. Diabetes melito gestacional (DMG) → fatores de risco: idade materna avançada, sobrepeso,
obesidade, ou ganho excessivo de peso na gravidez atual, deposição central excessiva de gordura
corporal, história familiar de diabetes em parentes de primeiro grau, crescimento fetal excessivo,
polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual, antecedentes obstétricos de
abortamentos de repetição, malformações, morte fetal ou neonatal, macrossomia ou DMG, SOP,
baixa estatura (inferior a 1,5m) e permanência de sustentação da glicose elevada por 30 dias pode
ser um risco para desenvolver DM II pós gestacional.
Diabéticos tipo 2 não apresentam tendência a cetoacidose como os diabéticos tipo 1, mas podem
desenvolver essa complicação em situações de grande estresse (intercorrências médicas graves, como
choque séptico, infarto agudo do miocárdio, politraumatismo, etc). Dessa forma, os seguintes sintomas
podem fazer parte do quadro clínico do DM2.
❖ As três "polis" do diabetes - poliúria, polidipsia e polifagia - são sintomas comuns de apresentação,
tanto em pacientes tipo 1 quanto em tipo 2 sintomáticos;
❖ Letargia e esturpor (ambos mais comuns no tipo 1);
❖ Visão borrada → é uma das primeiras manifestações de descompensação
diabética (mas não indica LOA) → é de grande especificidade para dizer que
há descompensação diabética;
➢ Ocorre piora da miopia, melhora da presbiopia e da
hipermetropia por mecanismos não muito bem conhecidos →
sinais de descompensação diabética (causado por acúmulo de
glicose).
❖ Náuseas, vômitos e dor abdominal (persistente, periumbilical e que
não reage a anestésico) → sinal de descompensação (cetoacidose
diabética) → contribuem para a desidratação;
❖ Poliúria, glicosúria e respiração de Kussmaul (hiperventilação);
❖ Hálito de “maçã podre” → hálito cetônico – exame importante;
❖ A hiperglicemia aumenta o risco de vários tipos de infecções, como
vulvovaginites e infecções urinárias → secreção branca
(vulvovaginite) é sugestiva de tricomonas ou candidíase.
Obs: assintomático na maioria dos casos, 50% dos portadores ainda não
tem diagnóstico.
Aspectos clínicos
❖ Polifagia e perda de peso ocorrem em insulinopenia, ou seja, em pacientes com diabetes tipo 1,
diabetes por doença pancreática e diabetes tipo 2 em estágio avançado sem reserva pancreática;
❖ Mecanismo: perda da ação anabólica da insulina.
Diagnóstico
Critérios diagnósticos
São sintomas suspeitos para o diagnóstico de DM as “três polis”, ou seja, poliúria, polidipsia e polifagia,
além da eventual perda de peso em alguns casos. Além disso, as vulvovaginites e ITU também são
indicativos de critérios diagnósticos. Além da parte clínica, a parte laboratorial também auxilia nessa
questão:
❖ Glicemia randômica/casual > 200 mg/dL em pacientes com sinais e sintomas clássicos de diabetes;
❖ Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL (com 2 medidas diferentes);
❖ Curva glicemia após sobrecarga com 75g de glicose (teste de tolerância de glicose oral - TTGO)
com glicemia ≥ 200 mg/dL em 2 horas;
❖ Hemoglobina glicada (HbA1C) ≥ 6,5%;
❖ Detalhes:
➢ São necessários dois exames alterados de qualquer tipo para confirmar o diagnóstico, com
exceção da glicemia randômica, pois só ela alterada já basta para diagnóstico;
■ A presença de glicemia plasmática randômica > 200 mg/dL em paciente sintomático,
que não requer confirmação ou outro teste laboratorial para definir o diagnóstico de
diabetes mellitus.
➢ Deve-se repetir os exames para excluir erro laboratorial ou realizar glicemia de jejum,
hemoglobina glicada ou curva glicêmica.
Embora cegueira ocorra em ambos os tipos, alterações proliferativas nos vasos da retina (retinopatia
proliferativa) são uma causa importante de cegueira no DM tipo 1, ao passo que o edema macular é a
causa mais importante no DM tipo 2. Neuropatia autonômica, uma das manifestações da neuropatia
diabética, é mais comum no DM tipo 1.
Fica claro, portanto, que DM pode afetar o sistema cardiovascular periférico, SNC (neuropatia), sistema
renal (nefropatia) e olhos (retinopatia e maculopatia). No caso do acometimento oftálmico, esse pode ser
de dois modos:
❖ Doença de capilares e microarteríolas → redução irreversível da visão;
❖ Coróide, porção vascular que fica abaixo da retina → são sede dessas alterações de exsudato, de
hemorragia, de crescimento de tecido fibroso.
Retinopatia diabética
A retinopatia diabética é a complicação ocular mais grave do diabetes e representa a maior causa de
cegueira adquirida em pessoas de 24 a 74 anos. As pessoas com DM apresentam risco de cegueira
(amaurose) 25 vezes maior do que os que não tem diabetes e é uma complicação relativamente comum,
visto que acomete cerca de 40% da população diabética (aproximadamente 100% dos DM1 e 60% em
DM2, sendo, também, mais prevalente em negros).
Essa complicação pode ser definida como uma microangiopatia que resulta dos efeitos crônicos da
doença, similares as alterações vasculares que ocorrem em outros tecidos. Além disso, apresenta como
fatores de risco a duração e tempo de evolução do diabetes (principalmente diagnóstico antes dos 30
anos), o controle inadequado do DM (hiperglicemia), o tratamento do DM com o uso de insulina, a
gestação, presença de HAS, presença de nefropatia grave, genética (HLA), hábitos como tabagismo e a
hiperlipidemia.
Fisiopatologia: retinopatia diabética pode ser “dividida” em duas formas, ou seja, não proliferativa e
proliferativa (mais grave). Inicialmente, a retinopatia mostra-se em microaneurismas dos capilares da
retina, aparecendo como pontos vermelhos minúsculos, constituindo o sinal detectável clinicamente mais
precoce da retinopatia diabética (retinopatia de fundo).
Por conseguinte, as protusões na parede capilar favorecem a permeabilidade vascular aumentada, o que
resulta num depósito de gordura ao redor da área de vazamento; esse acúmulo de gordura tem o formato
de um anel e é chamado de “exsudato duro”. A partir disso, o aparecimento de exsudatos duros na área da
mácula geralmente está associado com edema macular, que é a causa mais comum de cegueira no DM
tipo 2. Com a progressão do quadro, ocorre a oclusão de capilares e arteríolas terminais que causam
áreas de isquemia retiniana que aparecem como áreas amarelas turvas com bordas indistintas (exsudato
mole → fase pré-proliferativa).
À medida que a retinopatia progride, sinais de isquemia aparecendo como retinopatia de fundo pioram.
Assim, tem-se o avanço para o estágio proliferativo, caracterizado pela proliferação de novos vasos. Há
uma hipótese de que a isquemia da retina estimula a liberação de fatores promotores de crescimento,
resultando na formação de novos vasos. Entretanto, esses capilares são anormais, e a tração entre novas
redes fibrovasculares e o vítreo pode ocasionar hemorragia do vítreo ou descolamento da retina, duas
causas potenciais de cegueira.
Maculopatias
Maculopatia é um termo genérico que se refere às diferentes doenças da mácula. A mácula é a parte
central da retina, responsável pela visão de detalhes. Quando sofre alterações, a função visual pode ficar
gravemente comprometida. A maculopatia é considerada estabelecida apenas se há alterações retinianas
bilaterais associadas a alterações reprodutíveis em dois exames de campo visual.
❖ Focal: espessamento circunscrito → anéis completos ou incompletos de exsudato;
❖ Difusa: espessamento difuso com alterações cistoides;
❖ Isquêmica: espessamento de formato variável, que reflete a não perfusão da fóvea.
Para isso, é necessário duas abordagens principais e “clássicas”. A terapia não medicamentosa (TNM)
deve ser baseada em uma dieta controlada (de preferência acompanhada por um nutricionista) e em
exercícios físicos constantes a fim de manter os níveis de gordura, glicose e IMC dentro do esperado. Já o
tratamento medicamentoso é baseado em fármacos hipoglicemiantes, como a metformina ou na aplicação
de insulina quando necessário.
Recomendação de dieta
A utilização de antiangiogênicos e neuro protetores, sob evolução terapêutica constante, associados com
laserterapia é uma tendência atual no tratamento da retinopatia diabética. Ademais, o edema macular
presente, sobretudo, em pacientes com DM1, necessita de monitoramento trimestral. O tratamento padrão
da retinopatia é a panfotocoagulação a laser; já os casos refratários de edema macular e/ou retinopatia
proliferativa são tratados com vitrectomia e remoção de membranas patológicas pré retinianas.
AULA 17
“Complicações agudas da diabetes”
Diabetes Mellitus é uma doença que pode apresentar inúmeras complicações, sendo elas agudas ou
crônicas. Dentre as agudas, temos a cetoacidose diabética, a hiperosmolaridade, a acidose lática e a
hipoglicemia.
O estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH) é uma condição clínica caracterizada pela tríade:
1. Grande elevação da glicemia (400 - 600);
2. Hiperosmolaridade (concentração de solutos associada a perda de água);
3. Pouco ou nenhuma cetose.
Fisiopatologia do estado hiperosmolar hiperglicêmico (circuito vicioso da hiperglicemia)
O mecanismo básico para o EHH é a hiperglicemia extrema ao longo de dias, em um cenário de falta de
insulina, mas com ação residual deste hormônio. No EHH, a deficiência de insulina é moderada e a
concentração plasmática é suficiente para bloquear a lipólise excessiva e a síntese hepática de corpos
cetônicos, mas não para manter a glicemia normal.
A produção hepática e renal elevada de glicose e a sua captação reduzida pelos tecidos determinam a
hiperglicemia, diurese osmótica, e consequentemente depleção de volume, hiperosmolaridade e distúrbios
hidroeletrolíticos por perda urinária de eletrólitos (glicosúria está presente). Desse modo, há pouca
formação de corpos cetônicos, mas o grau de desidratação e hiperosmolaridade é maior quando
comparado a cetoacidose diabética.
Um indivíduo adulto jovem ou adolescente consegue retardar a cetoacidose e com isso causam uma
elevação importante de hiperglicemia, isso porque ativam seus mecanismos compensatórios. Ademais, a
respiração rápida e profunda (respiração de Kussmaul) e o hálito com odor de acetona são sinais
característicos da cetoacidose diabética.
O diagnóstico de cetoacidose diabética requer glicemia plasmática acima de 250 mg/dL, pH sanguíneo
menor que 7,30 e bicarbonato sérico menor que 18 mEq/L. Já a glicemia no estado hiperosmolar
hiperglicêmico pode ultrapassar 1.000 mg/dL e a osmolalidade sérica atingir 380 mOsm/kg.
Vale ressaltar que cetoacidose e estado hiperosmolar são causas de coma metabólico, mas é muito mais
comum no estado hiperosmolar.
Fatores precipitantes
São 2 os principais fatores precipitantes da cetoacidose diabética. O primeiro fator é a infecção, que pode
levar à resistência à ação insulínica e ao aumento de hormônios contrarreguladores, acarretando
cetoacidose. O segundo fator precipitante de grande importância é a baixa adesão ao tratamento,
extremamente relevante em quem tem diabetes do tipo 1 durante a adolescência.
Já o estado hiperosmolar hiperglicêmico tem como principal fator a presença de infecção. Outros fatores
importantes incluem as doenças ateroscleróticas, como o IAM e o AVC, muitas vezes tão graves quanto o
próprio EHH, e o uso de drogas hiperglicemiantes, como os glicocorticóides.
Exames complementares
A avaliação inicial do paciente com suspeita de EHH é semelhante à realizada na CAD. Deve ser dada
atenção especial à detecção de distúrbios eletrolíticos (hipernatremia, hipocalemia), hiperosmolaridade e
insuficiência renal aguda. Os critérios laboratoriais para diagnóstico do EHH, de acordo com a SBD (2014)
são:
1. Hiperglicemia: glicemia > 600 mg/dL;
2. Hiperosmolaridade: osmolaridade efetiva > 320 mEq/L;
3. Ausência de acidose: pH arterial > 7,3 e bicarbonato sérico ≥ 15 mEq/L;
4. Cetose: cetonúria ou cetonemia ausentes ou fracamente positivas.
Além disso, existem outros exames complementares que podem colaborar para o diagnóstico. São eles:
uréia, creatinina, sódio, potássio, osmolalidade (osmolidade sérica = (2 x (Na + K)) + (Uréia / 2.8) +
(glicose /18. Valores normais: 285 - 295 mOsm/kg), gasometria arterial e cálculo de ânion GAP.
O sódio sérico geralmente é baixo pelo fluxo osmótico de água do espaço intra para o extracelular induzido
pela hiperglicemia, porém na presença de hipertrigliceridemia grave, ele pode estar falsamente reduzido.
Já a hiperpotassemia é algo comum, visto que o potássio é trocado para o meio extracelular pela
insulinopenia, hipertonicidade e acidose. Quando houver hipo ou normopotassemia ao diagnóstico,
deve-se intensificar a reposição de potássio, pois existe grave deficiência desse íon.
O diagnóstico etiológico pode ser auxiliado pelos seguintes exames: urina 1, hemograma completo
(leucocitose nem sempre é sinal de infecção na CAD; essa leucocitose pode ser decorrente de intensa
atividade adrenocortical) e radiografia de tórax. O eletrocardiograma também pode ser utilizado na
tentativa de comprovar ou descartar IAM e distúrbios eletrolíticos.
A lipase sérica pode auxiliar no diagnóstico diferencial. A hiperamilasemia sem pancreatite pode ser
induzida pela hiperglicemia.
Ânion GAP
O ânion gap (também conhecido como intervalo aniônico ou hiato aniônico) nada mais é do que a
diferença entre os cátions presentes no sangue (principalmente sódio) e os ânions (principalmente
bicarbonato e cloro). A soma de todos os cátions deve ser igual a soma de todos os ânions no organismo.
No entanto, somando o principal cátion (sódio) e os principais ânions (cloro e bicarbonato), essa conta não
fecha. Por isso, há uma quantidade de cargas negativas (das mais variadas) que são formadas pelo
famoso ânion gap.
O ânion gap é formado principalmente por proteínas plasmáticas (principalmente albumina), sulfato,
fosfato, e ácidos orgânicos (lactato, citrato, urato). Desses todos, a albumina é o componente que possui
maior representatividade. Por isso, em situações de hipoalbuminemia o ânion gap estará reduzido.
Outras cetoses
❖ Cetose de jejum prolongado (starvation);
❖ Cetoacidose alcoólica;
❖ Atentar para a HPMA, hipoglicemia e bicarbonato sérico;
❖ Outras causas de acidose metabólica com ânion gap elevado: acidose lática; acidose induzida por
drogas (salicilatos, metanol, etilenoglicol e paraldeído); acidose por insuficiência renal crônica;
❖ Mensuração de lactato, salicilato e metanol;
❖ Etilenoglicol é sugerido pela presença de oxalato de cálcio e cristais de hipurato na urina;
❖ Paraldeído se caracteriza por forte odor na respiração;
❖ Cetoacidose diabética euglicêmica gravídica: glicemia pouco alterada → causada por vômitos
excessivos e administração inadequada de insulina;
❖ Estupor ou coma sem elevação da osmolalidade (≥ 320 mOsm/kg) ou alteração abrupta do nível de
consciência, investigar rapidamente outras doenças do sistema nervoso central (SNC): acidente
vascular cerebral, meningite ou trauma.
Tratamento
O tratamento do EHH, a exemplo da CAD, inclui os 3 pilares: hidratação intravenosa (abundante),
reposição de potássio e insulinoterapia (no EHH, sempre intravenosa).
Desse modo, é preciso fazer reposição eletrolítica (sódio, potássio), hidratação (solução fisiológica),
insulinoterapia (insulina de ação rápida) e tratamento de condições desencadeadoras. A reposição de
bicarbonato em EHH não é necessária, visto que não é um episódio de acidose metabólica.
Hipocalemia, distúrbios do sódio e hipoglicemia são mais comuns no EHH do que na CAD, por isso a
monitorização laboratorial dessas complicações deve ser realizada de forma intensiva e cuidados tomados
para prevenção, conforme os protocolos de tratamento.
ACIDOSE LÁTICA
O ácido lático é o produto final do metabolismo anaeróbio da glicose, sendo produzido no intestino,
músculo e cérebro. Possui atuação como substrato na gliconeogênese hepática e seu principal local de
metabolização ou reciclagem é no fígado (ciclo de Cori), mas também pode ser oxidado pelo ciclo de
Krebs. Dessa forma, a acidose láctica resulta da produção excessiva de ácido láctico e/ou da diminuição
de sua metabolização.
A acidose lática é uma acidose metabólica grave com ânion gap elevado, por aumento de lactato. Não
apresenta cetonemia e tem como causa a produção excessiva ou remoção insuficiente de ácido ou, até
mesmo, ambas. Tem alta letalidade de cerca de 50%.
HIPOGLICEMIA
A hipoglicemia é caracterizada por um nível anormalmente baixo de glicose no sangue, geralmente abaixo
de 65 mg/dl. Está associada a sintomas neurogênicos e neuroglicopênicos.
Sintomas neurogênicos
Os sintomas neurológicos que ocorrem em situações de hipoglicemia é quando o nível de glicose sérica
encontra-se entre 50 e 65 mg/dL. Esses sintomas são decorrentes da ativação do sistema nervoso
autonômico adrenérgico (palpitação, palidez, tremor e ansiedade) e da ativação do sistema nervoso
autonômico colinérgico (sudorese, fome e parestesias).
Sintomas neuroglicopênicos
Os sintomas neuroglicopênicos ocorrem em situações de glicemia < 50 mg/dL. Esse baixo nível de glicose
pode acarretar em alterações progressivas da função cerebral, como dificuldade de compreensão e
aprendizado, dificuldade de realização de tarefas manuais, diminuição dos reflexos, da memória, distúrbios
da fala, confusão, fadiga, fraqueza, irritabilidade, dor de cabeça, fome, visão turva, tontura, náuseas,
síncope, sonolência, convulsão e coma.
Fisiopatologia da hipoglicemia
Alguns tecidos do corpo humano dependem da glicose para seu funcionamento, dentre eles o sistema
nervoso central (SNC), retina, a medula renal e os elementos figurados do sangue. Em condições
fisiológicas a glicose é o principal substrato energético do SNC, não sendo este capaz de sintetizar ou
armazenar glicose em quantidades suficientes para subsistir além de alguns minutos quando privado da
glicose.
A glicose pode ser extraída como substrato por 3 fontes distintas: absorção intestinal, a glicogenólise e a
gliconeogênese. Os níveis de glicose são mantidos entre 70 e 100 mg/dL, exceto em situações de jejum
prolongado e pós-prandial.
Logo, tem-se:
1. O cérebro utiliza glicose como fonte primária de energia e é vulnerável à sua deficiência;
2. No jejum a glicemia é mantida em níveis normais pela degradação do glicogênio hepático (por 3 a 8
horas);
3. Segue-se neoglicogênese hepática e renal, decorrentes da supressão da secreção de insulina e
liberação dos hormônios contrarreguladores, principalmente o glucagon e a adrenalina. O hormônio
do crescimento e cortisol também antagonizam a ação periférica da insulina;
4. No diabetes mellitus, a contrarregulação é deficiente → a insulinemia resultante do tratamento não
se reduz, e a ativação da secreção do glucagon e da adrenalina é atenuada;
5. A deficiência de insulina dentro da ilhota pancreática associada à denervação autonômica favorece
a perda da resposta do glucagon após 5 anos de doença (sobretudo no diabetes tipo 1);
6. A deficiência de adrenalina dentro da ilhota pancreática associada à denervação autonômica
favorece a perda da resposta do glucagon após 10 a 15 anos de doença, tornando os pacientes
sem defesa diante da hipoglicemia.
Causas de hipoglicemia
❖ Alterações da rotina, especialmente diminuição de quantidade de alimentos;
❖ Aumento na atividade física;
❖ Modificações nas doses dos hipoglicemiantes orais ou de insulina;
❖ Drogas que potencializam a ação da insulina (pentamidina, etanol, quinidina e salicilatos);
❖ Doenças associadas como infecções, deficiência dos hormônios de contrarregulação (hormônio de
crescimento, cortisol, glucagon e catecolaminas);
❖ Insuficiências renal, hepática e cardíaca.
Tratamento
❖ Administração oral de 15 a 20 gramas de carboidratos de rápida absorção:
➢ 1 copo de suco de laranja;
➢ 1 colher de sopa rasa de açúcar;
➢ 150 mL de refrigerante comum;
➢ 2 colheres de sopa de leite condensado;
➢ 3 balas de caramelo.
❖ Aguardar 15 minutos e verificar glicemia; se < 60 mg/dL, repetir o esquema;
❖ Inconsciência ou incapacidade de ingestão: glucagon intramuscular ou subcutâneo (0,5 a 1 mg) ou
glicose endovenosa;
❖ Todo paciente deve levar consigo um cartão de identificação como portador de diabetes.
AULA 18
“Avaliação do Paciente com Tontura”
Conceito: sensação subjetiva de instabilidade corporal e iminência de perda de status postural por
desequilíbrio, de natureza cinética (vertigem) ou não.
Vertigem é um tipo particular de tontura em que tenho alterações cinéticas, sensação de movimento,
geralmente ele é rotacional ou oscilatório (sensação de estar do navio).
Esse sintoma pode fazer com que o paciente perca a capacidade de permanecer de pé. É muito comum
que essa condição seja confundida com mal estar e turvação visual.
Principais entidades
❖ Lipotímia ou pré-síncope: baixa perfusão cerebral aguda → alteração súbita de consciência, mas a
pessoa continua consciente → recuperação é rápida, geralmente espontânea e não deixa sintomas
residuais (uma causa importante de síncope são as arritmias cardíacas);
➢ Quando a perda da consciência é apenas parcial, denomina-se lipotímia.
❖ Síncope: inconsciência transitória por baixa perfusão cerebral → perda breve da consciência,
secundária a uma isquemia global cerebral transitória por diminuição do débito cardíaco;
❖ Vertigem: sensação de cinética corporal quando em repouso → sensação de que o corpo está
girando ou que está sendo empurrado para um lado ou de que os objetos do ambiente estão em
movimento;
➢ Vertigem oscilatória;
➢ Vertigem rotatória;
➢ Vertigem periférica;
➢ Vertigem central.
❖ Desequilíbrio: conjunto heterogêneo de condições caracterizado pela impossibilidade do ato
sensorial-motor de se manter estável em ortostatismo;
➢ Perdas sensoriais: baixa acuidade visual e auditiva;
➢ Perda de propriocepção;
➢ Perda de tônus motor.
❖ Tontura inespecífica: sensação vaga de tontura → descrita como “mal-estar”, “coisa ruim”, “cabeça
vazia”;
➢ Principais diagnósticos: epilepsia, depressão, ansiedade, distúrbios metabólicos como
diabetes;
➢ Pânico: é a iminência de perder a visão, de cair.
Etiologias principais
VPPB vertigem periférica benigna, toxicidade
por drogas, doenças vasculares, epilepsia,
enxaqueca, distúrbios metabólicos (vide
imagem ao lado)
Fisiopatologia
O sistema vestibular é responsável pela
manutenção do equilíbrio e propriocepção. Ele
abrange o componente periférico (aparelho
vestibular da orelha interna); o 8º nervo
craniano (vestibulococlear), responsável pela
condução de sinais entre o aparelho vestibular
e o componente central (núcleos vestibulares no tronco cerebral e no cerebelo).
Aspectos clínicos
A interpretação da queixa de tontura muitas vezes pode ser complicada. O interrogatório dirigido com
frequência é necessário para estabelecer se realmente há uma sensação anormal de movimento
(vertigem) → o primeiro passo é esclarecer o que o paciente entende por tontura.
❖ Tentar caracterizar tontura → distinguir de uma pré-síncope ou crise epiléptica;
➢ A vertigem, na maioria das vezes, decorre de lesão ou disfunção unilateral do aparelho
vestibular ou da porção vestibular do VIII nervo craniano.
❖ Tentar ao máximo a distinção clínica de tontura com outras entidades como pré-síncope;
➢ O equilíbrio é dado por três sistemas: vestibular, visual e proprioceptivo. Com base nisto, a
maioria dos autores reconhecem quatro tipos de tontura: síncope, desequilíbrio, sensações
cefálicas variadas e vertigem
❖ Não delegar aos exames complementares esta distinção.
Aspectos de caracterização
❖ Sensação de rodopio, rotação (sugere vertigem) ou sensação de desmaio (sugere pré-síncope);
❖ Sintomas associados como escurecimento visual, sudorese fria e náuseas (sugere pré-síncope);
❖ Sensação de estar balançando como se estivesse em um barco (sugere vertigem oscilatória);
❖ Sensação de girar ou do ambiente girar (sugere vertigem rotatória).
❖ Forma de instalação:
➢ Início abrupto dos sintomas: suspeitar de etiologia vascular, seja esta central (acidente
vascular encefálico na região do cerebelo) ou periférica (isquemia de labirinto), esta última
normalmente é acompanhada de perda da audição;
➢ Evolução de minutos a horas com forte intensidade de sintomas associados como náuseas
e vômitos: suspeita de neurite vestibular;
➔ Curso arrastado associado a perda auditiva e poucas alterações no exame neurológico:
suspeita de tumores como neurinoma do VIII nervo e meningioma.
❖ Idade do paciente (pensar em entidades prevalentes):
➢ Idosos têm maior predisposição a queixas de tonturas;
■ Causas em idosos são espectrais: desde depressão, polifarmácia até causas graves
como acidente vascular cerebral (AVC).
➢ Jovens: maior frequência de causas agudas como neurite vestibular e enxaqueca.
❖ Tempo e situações desencadeantes:
➢ Sintomas contínuos ou intermitentes? Em que situações ocorrem? Há relação com stress?
➢ Episódios paroxísticos desencadeados por movimentação cervical levam a suspeita de
VPPB;
➢ Vertigem desencadeada por esforço ou som muito alto, sugere deiscência do canal
semicircular anterior.
❖ Condições associadas:
➢ Associadas a um fim abrupto e seguido de dor de cabeça → fase II da enxaqueca;
➢ Náuseas e vômitos: etiologias periféricas;
➢ Nistagmo: etiologias periféricas se associado a náuseas e vômitos;
➢ Nistagmo sem náuseas ou vômitos: acometimento do SNC;
➢ Grande sensação de tontura e pobreza de achados: acometimento SNC;
➢ Zumbido: condições periféricas;
➢ Perda auditiva: condições periféricas;
➢ Paroxismos de zumbido e perda auditiva: doença de Ménière;
➢ Zumbido e perda auditiva contínuos: lesões em VIII nervo;
➢ Sintomas neurológicos → diplopia, alteração na voz, alterações de sensibilidade e déficit de
força: doença em SNC acometendo tronco encefálico e cerebelo;
➢ Associação de dor semelhante à enxaqueca: vertigem migranosa → a vertigem é o sintoma
mais prevalente dentre os outros (náusea, tontura, fotofobia).
■ A vertigem migranosa pode ser indolor (sem cefaleia) → paciente relata que depois
de dormir (ficar mais “parado”) a tontura diminui ou passa;
➢ Sintomas ansiosos com exame físico normal: vertigem fóbica.
❖ História patológica pregressa:
➢ Antecedentes como hipertensão arterial, fibrilação atrial, insuficiência cardíaca ou vascular:
evento cérebro-vascular;
➢ Arritmias → hipofluxo cerebral;
➢ Neurofibromatose → correlação com neurinomas;
➢ História recente de infecção de vias aéreas superiores predispõe a neurite vestibular ou
labirintite.
❖ Uso de fármacos:
➢ Hipotensores e diuréticos: hipotensão ortostática (tontura do tipo pré-síncope);
➢ Aminoglicosídeos: ototoxicidade e comprometimento do sistema vestibular periférico;
➢ Anticonvulsivantes: queixas de vertigem tanto na intoxicação como na introdução rápida de
dose terapêutica.
Exame físico
O exame físico do paciente que relata tontura deve avaliar o estado geral, a ausculta cardíaca, o ritmo e
frequência cardíaca, bem como a pressão arterial.
Exame neurológico
1. Nível de consciência:
a. Distúrbios metabólicos como hiper ou hipoglicemia;
b. Lesões estruturais em tronco cerebral e tálamo;
c. Crises epilépticas.
2. Equilíbrio estático - prova de Romberg:
a. Indica lesões vestibulares e cerebelares;
b. Vestibulopatia periférica: desequilíbrio para o lado da inclinação da cabeça;
c. Doenças cerebelares: desequilíbrio sempre para o mesmo lado, independentemente da
inclinação da cabeça.
3. Alterações de força muscular e reflexos: de modo geral, indicam acometimento do SNC;
4. Alterações de sensibilidade: de hemicorpo → indicam acometimento do SNC; dermátomos do
quinto par → tumores do ângulo ponto-cerebelar.
5. Alterações de coordenação:
a. Diadococinesia, dismetria, prova do rechaço → indicam lesões cerebelares ou de vias
relacionadas ao cerebelo.
Estrabismo
Se houver paralisia de um músculo, haverá predomínio da ação do músculo
antagonista; ocorre, então, desvio do globo em relação a seu eixo normal; é
o que se denomina estrabismo.
Manobra de Dix-Hallpike
A manobra é iniciada com o paciente sentado na maca.
Realiza-se uma rotação de 45º para o lado testado e, em
seguida, deita-se o paciente na maca com uma extensão de
30º da cabeça, mantendo a cabeça girada (na figura o canal
testado é o semicircular posterior esquerdo).
❖ Positiva na vertigem posicional benigna (crises breves e
intensas de vertigem de início súbito e redução rápida,
relacionadas com alterações da posição da cabeça);
❖ Nistagmo para cima com componente torcional para o
lado acometido.
Manobra de Semont
O primeiro passo da manobra de Semont tem fins diagnósticos
semelhantes aos de Dix-Hallpike. O paciente inicialmente fica
sentado na lateral da maca. Em seguida, deita-se o paciente em
decúbito lateral para o lado testado, com uma rotação de cabeça em
45º para cima (na figura o canal testado é o CSP direito).
Manobra de Epley
Com o paciente sentado na maca, gira-se a cabeça do paciente para
o lado a ser tratado em 45º (A). No primeiro passo da manobra,
deita-se o paciente numa extensão de 30º da cabeça, completando a
manobra de Dix-Hallpike (B). Após cessar o nistagmo, o segundo
passo é
realizado.
Gira-se em 90º a cabeça para o lado contralateral.
No terceiro passo é realizado decúbito lateral para
o lado em que está sendo girado e gira-se a
cabeça em mais 90º, sendo que, nessa posição, o
paciente fica olhando para o chão em um ângulo
de 45º (D). O quarto passo consiste em retornar o
paciente para a posição sentada na maca (E).
Diagnósticos importantes
❖ VPPB → Vertigem Paroxística Periférica Benigna;
❖ Neurite vestibular;
❖ Vertigem pós-trauma;
❖ Doença de Meniere;
❖ Toxicidade por drogas;
❖ Doenças vasculares;
❖ Tumores do ângulo pontocerebelar;
❖ Patologias de fossa posterior;
❖ Epilepsias e enxaqueca.
Vertigem Migrânea
Tem como epidemiologia: 10% da população é
afetada; 15% de mulheres e 6% dos homens. O
paciente típico tem as seguintes características:
sexo feminino, 30 a 50 anos, cujo quadro
iniciou-se na infância ou adolescência com
presença de história familiar positiva em 60% a
80% dos casos.
A sintomatologia é mostrada pela imagem ao lado. Os diagnósticos mais importantes são vertigem fóbica,
drogas/fármacos e distúrbios metabólicos.
AULA 19
“Doenças renais glomerulares”
Doença glomerular → doenças que acometem o glomérulo renal, ou seja, é uma condição clínica
decorrente do impacto funcional (inflamatório) dos glomérulos. As manifestações clínicas acontecem
apenas quando há um acometimento importante dos glomérulos renais.
Classificação
As glomerulopatias são doenças renais com diferentes subtipos histopatológicos. Além de crucial para o
diagnóstico, a avaliação microscópica pode oferecer dados prognósticos e proporcionar orientação para o
tratamento. Após a coleta e análise dos dados, as biópsias podem fornecer informações epidemiológicas
tais como etiologia, prevalência e incidência, manifestações clínicas e outras informações relevantes sobre
as patologias renais.
❖ Glomerulopatias primárias: acometimento primário dos rins;
❖ Glomerulopatias secundários: acometimento dos rins no contexto de doenças sistêmicas →
hipertensão arterial, diabetes mellitus.
Fisiopatologia
Trata-se de um fenômeno primário que acarreta em alteração na função, na estrutura e na permeabilidade
do glomérulo. Dessa forma, ocorre a passagem anormal de proteínas e de outros elementos, o que
significa uma redução variável em função da filtração glomerular. Tais alterações, por sua vez, podem
causar, também, distúrbios na excreção de sódio e água.
A questão da biópsia
A biópsia é o procedimento “padrão-ouro” de diagnóstico (é guiada por um exame de imagem). Ela é feita
quando a condição clínica é decorrente de lesão anatomo-clínica específica e pode ser feita na maioria
dos casos.
❖ Pode ser dispensável em síndromes nefróticas de crianças (quadro típico);
❖ Indicada em síndromes nefríticas sem evolução favorável;
❖ Pode ser dispensável em pacientes assintomáticos com lesões mínimas.
Classificação clínica
❖ Hematúria microscópica assintomática. → urina I;
❖ Hematúria macroscópica recorrente;
❖ Síndrome nefrítica;
❖ Glomerulonefrite rapidamente progressiva (ou crescêntica);
❖ Proteinúria assintomática;
❖ Síndrome nefrótica;
❖ Doença renal crônica – estágios IV e V.
No caso da hematúria microscópica assintomática, essas hemácias na urina aparecem de forma isolada,
sem a presença de proteinúria ou de qualquer alteração da função renal ou manifestações sistêmicas de
edema e hipertensão. Esse achado é, de certa forma, comum (5 a 10% da população).
A HM (hematúria microscópica) pode ser classificada em sintomática ou assintomática, transitória ou
persistente. As causas para esta alteração laboratorial são múltiplas e podem ser benignas (infeção
urinária, hiperplasia benigna da próstata, cálculos) ou malignas (neoplasia vesical, renal, prostática). Na
prática, a hematúria assintomática pode ser distinguida entre causas urológicas e renais. Ademais, das
hematúrias assintomáticas 10% são causadas por glomerulopatias.
Em pacientes acima de 40 anos de idade com micro-hematúria persistente isolada sem evidência de
origem glomerular, a cistoscopia é obrigatória para excluir a malignidade uroepitelial. Desse modo, a
investigação urológica é obrigatória → cistoscopia (endoscopia da bexiga).
Pesquisa-se, também, dismorfismo → busca de hemácias com diferentes tamanhos e formas; no geral, é
mais presente em situações de doença renal (passagem dificultosa nos capilares). O achado de hemácias
dismórficas sugere glomerulopatia (não é achado obrigatório).
Hematúria macroscópica deve ser distinguida de outras causas de urina marrom ou vermelha, como
hemoglobinúria, mioglobinúria, porfiria, consumo de comidas com corantes (betanina) e consumo de
medicamentos como a rifampicina.
Tem como causas mais frequentes a nefropatia por IgA, glomerulopatia da membrana basal fina, assim
como síndrome de Alport e suas variantes. Na nefropatia por IgA a hematúria é franca, episódica e ocorre
geralmente um dia após infecção respiratória de vias áreas superiores.
Por fim, difere-se da glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) porque a hematúria macroscópica ocorre duas
a três semanas após o quadro infeccioso, geralmente de etiologia estreptocócica.
As doenças glomerulares que se apresentam como síndrome nefrítica são frequentemente caracterizadas
por inflamação dos glomérulos. As lesões que causam a síndrome nefrítica têm em comum a proliferação
das células dentro do glomérulo, frequentemente acompanhada por infiltrado leucocitário inflamatório.
Essa reação inflamatória lesa gravemente as paredes dos capilares, permitindo que o sangue passe para
a urina e induzindo alterações hemodinâmicas que levam à redução da TFG. A TFG reduzida é
manifestada clinicamente por oligúria, retenção de fluidos e azotemia. A hipertensão é provavelmente o
resultado da retenção de fluidos e algum aumento na liberação de renina a partir do rim isquêmico.
Resumo:
❖ Síndrome nefrítica é a
forma mais típica das doenças
que produzem inflamação
glomerular aguda;
❖ Caracterizada por
edema, hipertensão,
hematúria e graus variáveis de
insuficiência renal;
❖ São difusas quando o acometimento glomerular ocorre em mais de 50% do total de glomérulos da
biópsia; são focais quando há menos de 50% de glomérulos acometidos;
❖ A síndrome nefrítica aguda pode ser produzida por desordens sistêmicas, como lúpus eritematoso
sistêmico, ou ser secundária a doença glomerular primária;
➢ Causas imunológicas são as mais comuns: nefrite lúpica, nefropatia por IgA e
glomerulonefrite difusa aguda pós-infecciosa;
➢ Outras causas: nefropatia por IgA, glomerulonefrite pós-infecciosa, glomerulonefrite
proliferativa difusa ou focal; Síndrome de Henoch-Schonlein, glomerulonefrite
membranoproliferativa tipo 1, glomerulonefrite membranoproliferativa tipo 2 e
glomerulonefrite fibrilar.
Somente algumas linhas do grupo A de estreptococos beta-hemolíticos são nefrogênicos. Dessa forma,
esse tipo de glomerulonefrite é mediado imunologicamente. O período de latência entre a infecção e o
início da nefrite é compatível com o tempo requerido para a produção de anticorpos e para a formação dos
complexos imunológicos → existem depósitos imunológicos granulares nos glomérulos, provando o
mecanismo mediado por complexos imunológicos (o quadro diagnóstico clássico é um glomérulo
aumentado e hipercelular).
O início da doença renal tende a ser abrupto, caracterizado por mal-estar, febre leve, náusea e síndrome
nefrítica. Em casos usuais, oligúria, azotemia e hipertensão apresentam-se discretos a moderados.
Caracteristicamente, há hematúria macroscópica, pela qual a urina aparece marrom turva em vez de
vermelho brilhante.
❖ Oligúria, ganho de peso e edema generalizado recente (poucos dias);
❖ Proteinúria, hematúria e, comumente, a presença de cilindros hemáticos → proteinúria costuma
ocorrer em valor não nefrótico e a albumina sérica é geralmente normal;
❖ Os paciente podem apresentar edema periorbital e hipertensão leve a moderada;
❖ O volume circulante está aumentado, causando hipertensão e, eventualmente, edema pulmonar;
❖ Achados laboratoriais importantes incluem elevações das titulações dos anticorpos
antiestreptocócicos e um declínio na concentração sérica de C3 e outros componentes do sistema
complemento.
GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE
PROGRESSIVA (OU CRESCÊNTICA)
A glomerulonefrite rapidamente progressiva
(GNPR) é uma situação clínica em que a injúria
glomerular é tão aguda e severa que deteriora a
função renal em dias ou semanas. É uma
condição semelhante à síndrome nefrítica.
Por conseguinte, há correlação clínica entre número de crescentes e gravidade da doença, ou seja,
doenças com mais de 80% de crescentes se exteriorizam, geralmente, por insuficiência renal dialítica.
Ademais, existem três os grupos mais frequentes de doenças que se apresentam como glomerulonefrite
rapidamente progressiva:
❖ Glomerulonefrite antimembrana basal glomerular;
❖ Glomerulonefrite por imunocomplexos;
❖ Glomerulonefrite relacionada a ANCA;
➢ As formas relacionadas a ANCA podem se apresentar com manifestações sistêmicas de
Granulomatose de Wegener, de poliangeíte microscópica e de Churg-Strauss;
➢ As formas relacionadas a ANCA podem se apresentar com manifestações exclusivamente
renais: anticorpo antimembrana basal glomerular (doença de Goodpasture) com ou sem
sinais de comprometimento pulmonar.
❖ Doenças de imunocomplexos mais comuns: nefrite lúpica, crioglobulinemia (sendo a forma mais
comum à secundária ao vírus da hepatite C) e nefropatia por IgA.
PROTEINÚRIA ASSINTOMÁTICA
A microalbuminúria é definida como a excreção de 30 a 300 mg de albumina/dia (equivalente à relação
albumina/creatinina urinária entre 0,03 e 0,3). Isso identifica risco de desenvolvimento de nefropatia em
pacientes diabéticos, assim como risco cardiovascular em pacientes hipertensos.
Desse modo, a proteinúria isolada em valores acima de 150 mg/dia e abaixo de 3 g/dia, com ausência de
outros achados urinários, como hematúria e ausência de sinais ou sintomas sistêmicos, como edema e/ou
hipertensão. O diagnóstico é feito por urina I.
As doenças mais frequentes neste grupo são a glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) e a
glomerulonefrite membranosa. Possuem curso clínico benigno, exceto se houver desenvolvimento de
hipertensão ou proteinúrias nefróticas.
SÍNDROME NEFRÓTICA
Certas doenças glomerulares quase sempre produzem síndrome nefrótica, sendo patognomônica de
Doença Glomerular (DG).
A síndrome nefrótica manifesta-se como proteinúria maciça, particularmente albuminúria (definida como
excreção urinária de proteína nas 24 horas > 3,5 g), hipoalbuminemia (níveis plasmáticos de albumina
menores de 3 g/dL), hiperlipidemia e edema generalizado (pode ocorrer lipidúria também). A síndrome
nefrótica pode ser isolada (p. ex., doença de lesão mínima), ou parte de alguma outra síndrome glomerular
(p. ex., com hematúria e cilindros).
O evento inicial da síndrome nefrótica é o desarranjo nas paredes capilares glomerulares resultando em
permeabilidade aumentada para proteínas plasmáticas (síndrome clínico-laboratorial decorrente do
aumento de permeabilidade às proteínas plasmáticas). Desse modo, a proteinúria massiva diminui os
níveis de albumina sérica a uma taxa além da capacidade sintética compensatória do fígado, resultando
em hipoalbuminemia e, consequentemente em edema generalizado (diminuição da pressão osmótica +
retenção de sódio e água).
AULA 20
“Insuficiência Renal Aguda (IRA) ou Injúria Renal Aguda”
Definição: síndrome decorrente da perda abrupta (horas ou dias) da função renal com comprometimento
da função excretora, acúmulo de escórias nitrogenadas e perda do equilíbrio hidroeletrolítico → falência
funcional dos glomérulos de uma forma aguda.
Na maioria das vezes este é um diagnóstico puramente laboratorial, feito pelo reconhecimento da elevação
da ureia e creatinina plasmáticas (azotemia), na ausência de sintomas. Entretanto, quando a disfunção for
grave, os sinais e sintomas da síndrome urêmica já podem aparecer.
Generalidades
❖ Não há marcadores sensíveis e específicos da função renal (biomarcadores);
❖ Creatinina sérica é o exame mais utilizado para avaliar a função renal → elevação de creatinina é
tardia (se eleva com mais de 50% de comprometimento funcional renal) → ureia tem uma elevação
mais aguda;
❖ A cada perda de 50% da TFG a creatinina dobra-se em valor sérico → importante para a análise de
comportamento de melhora e de piora (indiretamente proporcional);
❖ Os valores dependem de variáveis como volume de massa muscular, idade, sexo e raça;
❖ A uréia já foi considerada um biomarcador útil, mas atualmente não é mais tão utilizada, pois ela
tem vários fatores que interferem na sua eliminação/parametrização: alta reabsorção, relacionada
com a riqueza proteica da dieta e também o estado de diluição/hidratação interfere diretamente na
taxa de uréia eliminada → por esses diversos fatores não é utilizada como biomarcador (não é o
melhor “termômetro” para se medir a TFG);
❖ Problemas:
➢ Alta retrodifusão tubular;
➢ Dependência da ingestão proteica;
➢ Dependência da hidratação.
O clearance de creatinina (depuração) é o exame mais utilizado para diagnosticar o estágio inicial da
injúria renal, particularmente quando a creatinina sérica ainda não se elevou acima dos valores de
referência (não há azotemia).
Diversos trabalhos desenvolveram fórmulas matemáticas para estimar o clearance de creatinina sem
necessitar da urina de 24 horas (sujeita a erros de coleta). A fórmula de Crockcroft-Gault é a mais utilizada
por ser fácil de memorizar e calcular. Contudo, apresenta algumas limitações:
1. Ela superestima a TFG em pessoas extremamente obesas, já que parte considerável do peso
desses indivíduos não é de massa muscular (tecido adiposo não secreta creatinina);
2. Desnutridos, amputados, paraplégicos e tetraplégicos, além de pacientes muito idosos, crianças e
gestantes também apresentam maior chance de resultados irreais devido a variação de massa
muscular em relação ao peso corpóreo total.
Equação MDRD
Essa equação foi originalmente desenvolvida com base nos dados do estudo Modification of Diet in Renal
Disease (MDRD) em pacientes com DRC e não incluiu indivíduos saudáveis.
❖ O desenvolvimento da equação MDRD foi baseado no clearance de iotalamato-I 125, considerado
padrão ouro;
❖ Estima a TFG (em mL/min/1,73 m²) e não a depuração de creatinina → baseia-se numa
parametrização de superfície corporal (1,73 m²).
Fórmula CKD-EPI
O grupo Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration (CKD-EPI) desenvolveu, em 2009, uma
variação da fórmula do MDRD, baseado em um estudo de coorte, que incluiu indivíduos com e sem DRC.
❖ A equação CKD-EPI usa as mesmas quatro variáveis que a equação do MDRD;
❖ Apresenta melhor desempenho e previsão de risco, além de apresentar menor viés e uma maior
acurácia, principalmente nas faixas de TFG > 60 mL/min/1,73 m² , do que o estudo MDRD;
❖ Onde SCR corresponde a creatinina sérica (mg/dL), k é de 0,7 e 0,9 para mulheres e homens
respectivamente, a é -0,329 e -0,411 para mulheres e homens respectivamente, min indica o
mínimo de SCR/k ou 1, e max indica o máximo de SCR/k ou 1;
❖ Os valores normais de clearance de creatinina são:
➢ Crianças: 70 a 130 mL/min/1,73 m² ;
➢ Mulheres: 85 a 125 mL/min/1,73 m² ;
➢ Homens: 75 a 115 mL/min/1,73 m².
❖ A equação CKD-EPI é expressa como uma equação simples: aTFG= 141 x min (SCR/k, 1) a x max
(SCR/k, 1) - 1,209 x 0,993 idade x 1,018 [se mulher] x 1,159 [negro].
Outros marcadores
❖ Glutationas S transferase: enzimas citoplasmáticas das células epiteliais tubulares proximais e
distais, associadas à necrose celular;
❖ N-acetil-glucosaminidase (NAG): enzima lisossômica encontrada predominantemente no túbulo
proximal, aumentada em nefrotoxicidade pelo metrotexate e por contraste radiológico;
➢ Estas enzimas estão aumentadas nas lesões das bordas em escova → tecido que reveste
os túbulos contorcidos proximais com microvilosidades em cuja borda se dispõem células
em paliçada;
❖ Glutationas S transferase e N-acetil-glucosaminidase (NAG) estão aumentadas nas lesões
das bordas em escova. Nas lesões da borda em escova ocorre diminuição da reabsorção e
aumento da excreção de várias proteínas de baixo peso molecular como fosfatase alcalina
e a alanina amino-peptidase (ALT/TGP).
❖ Cistatina C: proteína não-glicosilada, de baixo peso molecular (13,36 Kda);
➢ Produzida a uma taxa constante por todas as células nucleadas;
➢ Responsável por inibir a proteinase da cistina tecidual;
➢ Por baixo peso molecular é livremente filtrada no glomérulo, sendo reabsorvida e
metabolizada no túbulo renal proximal, mas não ocorrendo secreção renal ou extra-renal;
➢ Cistatina C sérica reflete exclusivamente a filtração glomerular e seu aumento está
associado a redução da TFG;
➢ Seus níveis não são significativamente afetados por idade, sexo, raça ou massa muscular;
➢ Os níveis plasmáticos de Cistatina C se elevam 1 a 2 dias antes do aumento da creatinina
sérica.
❖ Lipocalina Associada com Gelatinase de Neutrófilos Humanos (NGAL): NGAL é uma proteína de
25-kD, originalmente descrita neutrófilos;
➢ Sua função fisiológica nos rins é desconhecida (papel na morfogênese renal?);
➢ A NGAL é a proteína que mais precocemente se eleva após insulto renal isquêmico ou
nefrotóxicos;
➢ Os níveis urinários de NGAL podem servir como marcadores precoces de IRA → aparece
antes da ureia e creatinina (excretas nitrogenadas).
❖ N-acetil -Β-D-glucosaminidase (NAG): enzima lisossomal (> 130 kDa) que está presente em várias
células, como as dos túbulos renais;
➢ Por seu grande peso molecular, a NAG não é filtrada, portanto, elevações urinárias são de
origem tubular;
➢ Seu aumento sugere lesão de células tubulares ou pode refletir o aumento da atividade de
lisossomos;
➢ NAG catalisa a hidrólise de terminações de glicoproteínas e é a glicosidase mais ativa nos
lisossomos de células epiteliais do túbulo proximal.
❖ KIM-1 Kidney Injury Molecule-1: glicoproteína transmembrana do tipo I com um domínio externo
clivável localizado na membrana apical de túbulos com lesão aguda e crônica;
➢ Acredita-se que KIM-1 desempenhe um papel nos processos de regeneração após lesão
epitelial;
➢ Ela é indetectável no tecido renal normal mas apresenta expressão muito elevada em
células epiteliais do túbulo proximal em rins de humanos e de roedores após lesão
isquêmica ou tóxica → a urina de pacientes com NTA isquêmica apresenta níveis elevados
de KIM-1 em comparação com aqueles apresentando outras formas de IRA ou doença renal
crônica.
❖ IL-18: citocina pró-inflamatória que tem origem na clivagem da caspase-1;
➢ Induz a síntese e liberação de interferon gamma e de outras citocinas inflamatórias como
IL-8, 4 e 13, e fator de necrose tumoral;
➢ Modula a ação de várias células imunologicamente ativas como macrófagos, monócitos,
linfócitos e granulócitos;
➢ Induz a apoptose.
Classificação da IRA quanto a diurese (não é um método seguro e sensível para diagnóstico)
1. Anúrica total: 0-20 ml/dia;
2. Anúrica: 20 a 100 ml/dia;
3. Oligúrica: 101 a 400 ml/dia;
4. Não-oligúrica: 401 a 1200 ml/dia;
5. Poliúrica: 1201 a 4000 ml/dia;
6. Hiper Poliúrica: > 4000 ml.
Classificação - etiopatogenia
A insuficiência renal pode ser classificada através de condições fisiológicas e etiológicas. Sendo assim,
temos as variantes pré-renal, renal e pós-renal.
PRÉ-RENAL
A injúria pré-renal característicamente cursa com oligúria, devido tanto à queda na TFG quanto ao
aumento da reabsorção tubular. É marcada clinicamente pela reversibilidade, uma vez restaurado o fluxo
renal. Além disso, pode haver azotemia pré-renal sem oligúria. O melhor exemplo para explicar é a
associação dos estados de baixo fluxo renal (como hipovolemia) à diurese osmótica (glicosúria, manitol)
ou à perda da capacidade de concentração urinária (diabetes insipidus, uso de furosemida).
❖ Modalidade mais comum de IRA;
❖ Redução volêmica com comprometimento da perfusão renal com dilatação das arteríolas aferentes
e constrição das arteríolas eferentes;
➢ Causas de hipovolemia incluem sangramento, perda gastrointestinal, desidratação, diurese
excessiva, peritonite/pancreatite;
➢ Mudanças da resistência vascular sistêmica podem ocorrer em consequência da sepse,
reação anafilática ou uso de vasodilatadores → os IECA (inibidor da enzima de conversão
da angiotensina) e os BRA (bloqueadores dos receptor de angiotensina) podem precipitar a
IRA ao bloquearem a vasoconstrição da arteríola eferente desproporcionalmente à arteríola
aferente.
❖ Efeito deletério de AINH (anti-inflamatórios não hormonais)/IECA.
RENAL
Nesse caso a injúria renal é causada por lesão no próprio parênquima renal (azotemia renal intrínseca). A
causa de azotemia renal intrínseca mais comum e importante é a NTA (Necrose Tubular Aguda).
❖ Origem isquêmica ou nefrotóxica;
❖ IRA pré-renal e NTA respondem por 75% das IRAs;
❖ Patogênese: alterações do endotélio, vasoconstrição, dano da estrutura e composição bioquímica
das células tubulares → lesão do próprio parênquima → alteração de função e morte celular, por
necrose ou por apoptose. Observa-se em seguida, descamação do epitélio tubular, obstrução
intraluminal e vazamento transtubular do filtrado glomerular;
❖ Chamamento e ativação de células inflamatórias.
PÓS-RENAL
A injúria renal aguda do tipo pós-renal é causada pela obstrução do sistema uroexcretor (azotemia
pós-renal). A azotemia pós-renal só irá se desenvolver nas obstruções com repercussão renal bilateral,
como ocorre na obstrução uretral. Uma obstrução renal unilateral, mesmo que completa, geralmente não
causa azotemia, pois o rim contralateral (se normofuncionante) é capaz de suprir a falta do outro. Contudo,
se o paciente já apresentar nefropatia crônica, a obstrução de um único ureter pode, então, desencadear
uremia.
❖ Intra Renal (obstrução do fluxo do fluido tubular - no parênquima renal) ou extra renal (obstrução do
sistema coletor - fora do parênquima renal);
❖ Precipitação intratubular de cristais insolúveis ou proteínas → obstrução intratubular → aumento da
pressão intratubular que se opõe à pressão hidrostática glomerular, com consequente diminuição
da pressão de filtração;
❖ Nas obstruções de vias urinárias (urologicas) em qualquer nível extra renal (pelve, ureteres, bexiga
e uretra) levam à IRA somente nas obstruções bilaterais ou rim único funcionante;
➢ A condição de base mais frequentemente encontrada é a hiperplasia prostática benigna
(obstrução do colo vesical).
❖ A reversibilidade da IRA pós-renal depende da duração e da intensidade da obstrução.
Aspectos clínicos da insuficiência renal aguda
Por definição, a insuficiência renal aguda (IRA) pode ser definida como uma síndrome caracterizada pela
incapacidade do rim em excretar escórias nitrogenadas e manter o equilíbrio hidroeletrolítico, instalando-se
num período variável de horas a dias. De forma geral, os sinais e sintomas são devidos à condição clínica
casual, como hipovolemia, insuficiência cardíaca, sepse, síndrome nefrítica, etc., e não a injúria renal em
si.
Em casos mais graves aparecem sinais e sintomas de insuficiência renal, que juntos compõem a chamada
síndrome urêmica aguda ou uremia aguda. Tal síndrome é composta de três distúrbios básicos: (1)
acúmulo de toxinas nitrogenadas dialisáveis, (2) hipervolemia e (3) desequilíbrio hidroeletrolítico e
ácido-básico.
❖ A IRA cursa habitualmente com redução de diurese → oligúria é definida como diurese inferior a
400 mL/24 horas;
➢ Oligúria pode anteceder as alterações dos marcadores laboratoriais de filtração glomerular;
➢ A diurese tem importância diagnóstica, terapêutica e prognóstica;
❖ Se há manutenção da diurese a despeito da perda de função, denomina-se a IRA como não
oligúrica (comum na necrose tubular aguda nefrotóxica);
❖ A instalação súbita de anúria, definida como diurese inferior a 50 mL/24 h sugere a ocorrência de
obstrução pós-renal total, trombose arterial bilateral, trombose venosa bilateral ou necrose cortical;
❖ Curso clínico da IRA é muito variável.
❖ A insuficiência renal se relaciona a uremia, hipervolemia e/ou distúrbios hidroeletrolíticos;
➢ Principais sinais e sintomas de uremia aguda: hipertensão arterial (geralmente leve nos
casos de IRA isquêmica e nefrotóxica), edema pulmonar, distúrbio da hemostasia com
sangramento, encefalopatia, distúrbios hidroeletrolíticos (hipercalemia é comum), náuseas,
vômitos, diarreias, pericardite, tamponamento cardíaco e anemia (origem multifatorial).
Dados de HPMA/exame físico vs. causas/etiológicas
Hipervolemia e hemodinâmica
A IRA oligúrica ou anúrica pode causar retenção importante de líquidos e sódio, aumentando a volemia.
Os sinais e sintomas de hipervolemia mais comuns são: (1) hipertensão arterial sistêmica, (2) edema
agudo do pulmão e (3) edema periférico.
❖ Balanço positivo diário de água e sódio por redução da diurese → ganho de peso progressivo,
edema e congestão → quadros congestivos = presença de B3, edema agudo do pulmão e
insuficiência respiratória aguda → causa de descompensação em ICC;
❖ Hipertensão arterial por hipervolemia;
❖ Quadros de emergências hipertensivas;
❖ Hipervolemia pode ser iatrogênica por expansão intensa (recomendada somente para o tratamento
da IRA por sepse, porque nessa situação há vasoplegia → para salvar os glomérulos deve-se fazer
uma reposição hídrica intensa).
Distúrbios associados
Na injúria renal aguda podemos ter vários distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos. São eles:
hipercalemia, hiponatremia, hipercalcemia/hipocalcemia, acidose metabólica, hiperuricemia e
hiperfosfatemia.
❖ Hiponatremia → a alteração se deve à retenção de água livre maior do que a retenção de sódio →
gera alterações sensoriais;
❖ Hipercalemia → acontece pela redução da excreção renal de potássio, que continua sendo ingerido
na dieta → pode favorecer o quadro de arritmias cardíacas;
❖ Acidose metabólica → ocorre pela retenção dos ácidos produzidos pelo metabolismo proteico →
gera náuseas, piora da hipercalemia e risco de arritmias;
❖ Hiperfosfatemia e hipocalcemia → normalmente ocorrem juntas; o fosfato precisa do rim para ser
eliminado, havendo hiperfosfatemia quando a TFG está reduzida. A consequência da
hiperfosfatemia é a hipocalcemia;
❖ Hiperuricemia → pode acontecer devido à saturação do carreador de ácidos orgânicos do túbulo
proximal por outros ácidos retidos;
❖ Hipercalcemia → a IRA por rabdomiólise cursa inicialmente com hipocalcemia e posteriormente
com hipercalcemia no momento da lise da célula muscular.
Exames de imagem
Ultrassonografia (US) de rins e vias urinárias deve ser realizada em todo paciente com IRA, a fim de
avaliar a morfologia renal e afastar a presença de fatores obstrutivos. Não existe um achado característico,
e o rim apresenta mais frequentemente um aspecto normal nos pacientes com NTA. Rins hiperecogênicos
e de tamanho normal podem sugerir nefrite intersticial aguda, glomerulonefrite ou pielonefrite. A
complementação com Doppler de artérias renais pode ser útil no diagnóstico de eventos tromboembólicos,
e o Doppler de veias renais deve ser realizado na suspeita de trombose, principalmente em pacientes com
fatores predisponentes (síndrome nefrótica, neoplasia e trombofilias).
❖ US: IRA por obstrução extrarrenal ou presença de litíase;
❖ US: rins hiperecogênicos com tamanhos normais podem sugerir nefrite intersticial aguda ou
pielonefrite;
❖ US: rins com tamanhos reduzidos, alteração da camada corticomedular e hiperecogênicos são
compatíveis com doença renal crônica;
❖ TC (sem contraste): avaliação de hidronefrose de causa não sabida;
❖ Eco-Doppler de artérias renais: obstrução arterial renal;
❖ RNM: avaliação tissular e obstrução arterial renal;
❖ Arteriografia: obstrução arterial renal.
Dessa forma, visa o manejo do líquido extracelular em pacientes com falência orgânica múltipla, a
preservação e o auxílio na recuperação das disfunções orgânicas (renal, SNC, CV, Respiratória, GI, VO2,
etc.).
AULA 21
“Doença Renal Crônica (DRC)”
Conceito: síndrome na qual se encontram sinais e sintomas decorrentes de perda renal funcional
lentamente instalada (ritmo de filtração glomerular menor que 60mL/min/1,73 m²) e/ou de lesões renais
estruturais (substrato histopatológico), de duração mínima de três meses, acompanhados de marcadores
de lesão renal, anormalidades sanguíneas e alterações em exames de imagem.
Independente da causa, o curso da doença é progressivo e irreversível. Porém, por meio de medidas
clínicas, pode-se atuar na redução da velocidade de progressão, no controle das comorbidades, no
tratamento das complicações e no preparo para terapia renal substitutiva (TRS).
Fatores de risco
Dentre os fatores de risco para doença renal crônica estão:
1. Obesidade;
2. Diabetes Mellitus;
3. Hipertensão arterial sistêmica (HAS);
4. Tabagismo;
5. Sedentarismo.
Classificação da DRC relacionada com a depuração de creatinina
É possível classificar a DRC em cinco
estágios em função do ritmo de
filtração glomerular. Na prática clínica,
para estimar o RFG, calcula-se o
clearance de creatinina (CICr) a partir
da dosagem da creatinina sérica, que
apresenta boa correlação com o RFG.
Apesar de seu amplo uso, a creatinina
sérica não é um marcador ideal do
RFG devido a diversas razões. A
creatinina origina-se principalmente do
tecido muscular e sua concentração
sérica pode sofrer influência da massa
muscular e da dieta, principalmente
pela ingestão de carne vermelha. A creatinina é livremente filtrada pelos glomérulos e eliminada na urina,
não sendo reabsorvida; porém, cerca de 10 a 30% da creatinina eliminada na urina provêm de secreção
tubular renal, o que pode levar a uma superestimação da função renal quando calculado o CICr a partir da
concentração de creatinina em urina de 24 horas.
Etiologias prevalentes
Dentre as etiologias prevalentes da DRC, tem-se: nefropatia diabética, nefropatia hipertensiva,
glomerulonefrites crônicas e doença renal policística.
Epidemiologia
❖ A taxa média de declínio da TFG nos idosos é aproximadamente de 0,75 mL a 1 mL/min/ano após
a idade de 40 a 50 anos;
❖ A DRC afeta aqueles que tiveram uma exposição prolongada ao longo da vida a fatores de risco
cardiovascular – hipertensão e diabetes;
❖ Segundo dados da U.S. Medicare, 48% dos pacientes com DRC têm diabetes, 91% são
hipertensos e 46% têm doença coronária aterosclerótica.
Fisiopatologia
A insuficiência renal crônica resulta da perda progressiva e irreversível de grande número de néfrons
funcionais. Com muita frequência não ocorrem sintomas clínicos sérios até que o número de néfrons
funcionais diminua, pelo menos, a 70% abaixo do normal.
Em geral, a insuficiência renal crônica, bem como a insuficiência renal aguda, pode ocorrer devido a
distúrbios nos vasos sanguíneos, nos glomérulos, nos túbulos, no interstício renal e no trato urinário
inferior.
Aspectos clínicos
A DRC é silenciosa por longo período. Sinais e sintomas aparecem em fases avançadas. Assim, pacientes
com DRC estágios 1 e 2 são assintomáticos ou oligossintomáticos, e o diagnóstico, muitas vezes, é por
meio de exames como a urina tipo 1 e a creatinina sérica, solicitados como parte de uma avaliação do tipo
check-up ou para pesquisa ativa de DRC em pacientes de grupo de risco para DRC, como os portadores
de diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica (HAS) ou com história familiar de DRC.
Dessa maneira, os aspectos clínicos variam desde casos assintomáticos ou com sintomas inespecíficos
até emergências clínicas. Isso acontece porque conforme a doença progride, ou seja, à medida que a
filtração glomerular reduz, um mecanismo de adaptação faz aumentar a fração excretória de cada néfron
remanescente, de forma a manter o equilíbrio hidroeletrolítico. Quando esse equilíbrio passa a não existir
(filtração em valores baixíssimos), os sintomas começam a aparecer, visto que a regulação dos eletrólitos
torna-se limitada.
Manifestações:
❖ Sintomas inespecíficos: náuseas (matinais), vômitos, astenia, anorexia ou hiporexia;
❖ Emergências: edema pulmonar agudo;
❖ Sinais e sintomas da doença de base;
❖ Sintomas surgem a partir dos estágios 4 e 5 da DRC; sintomas surgem a partir RFG abaixo de
30ml/min/1,73 → é preciso o acometimento dos dois rins para diagnosticar IRC, se tiver só um
acometido o outro ficará hiperfuncionante;
❖ Fácies uremica (pigmento acastanhada);
❖ HAS: cerca de 50-70% dos portadores de DRC apresentam HAS → estágios 3 a 5 são hipertensos;
➢ O controle da HAS é o principal fator relacionado ao retardo na evolução da DRC.
❖ Dislipidemia: DRC estágio 3 em diante apresenta metabolismo das lipoproteínas e triglicérides
alterado → acúmulo de VLDL colesterol, levando a hipertrigliceridemia e redução de HDL
colesterol;
➢ O controle de dislipidemias é uma estratégia de impacto no curso das DRC.
Recomendações
❖ Medida dos níveis séricos de cálcio, fosfato, PTH e fosfatase alcalina em adultos com TFG inferior
a 45 mL/min;1,73 m2 → a determinação do nível ideal de PTH na DRC tem sido controversa;
❖ Para os pacientes com valores de PTH intacto acima do limite superior da normalidade do método,
deve-se tomar medidas para corrigir a hiperfosfatemia, e hipocalcemia e a deficiência de vitamina
D, se presentes;
❖ Recomenda-se que as concentrações de fosfato sérico sejam mantidas na faixa normal.
Alterações endócrinas
Vários sinais e sintomas da insuficiência renal são
causados em virtude de desequilíbrios hormonais. O
principal é a elevação dos níveis de paratormônio
(PTH).
A encefalopatia urêmica ocorre com RFG abaixo de xx mL/min. Isso acarreta em alterações de memória,
retardo cognitivo, lentificação de fala e raciocínio e alterações de humor. A diálise costuma reverter
(mesmo que parcialmente) o quadro encefalopático. A melhora é lenta, sendo que o ECG na encefalopatia
crônica pode demorar até 6 meses para voltar ao estado normal.
Neuropatia periférica
A neuropatia periférica urêmica é muito comum na insuficiência renal crônica. Trata-se de uma
polineuropatia axonal, sensóriomotora, simétrica e com predomínio distal e de membros inferiores.
❖ Alterações de membros como parestesias → o exame físico pode revelar neuropatia distal em
padrão bota-luva;
❖ Disfunção sexual
❖ Pré-síncope;
❖ Desmielinização secundária da porção posterior da medula;
❖ Perda de reflexo tendinoso profundo;
❖ Diminuição da sensibilidade a dor, vibração e pressão (corno posterior);
❖ Preservação motora (poupa corno anterior).
Acidose metabólica
O rim saudável excreta um determinado volume de ácidos produzidos diariamente pelo metabolismo
proteico (catabolismo de alguns aminoácidos). Desse modo, para que o H+ seja de fato excretado na urina
é preciso que ele se ligue a uma base urinária; cerca de ⅔ desse cátion é eliminado ligado à amônia.
É válido lembrar que “diálise” é um termo genérico para o processo de filtração do sangue usado quando
os rins funcionam menos que 10-15%. Ela tem função de substituir parte das funções renais.
Antes de iniciar a diálise peritoneal, é necessário implantar no abdome do paciente um tubo flexível
chamado cateter peritoneal. Através deste cateter, a solução de diálise pode ser infundida e drenada.
AULA 22
“Principais sinais e sintomas de doença parenquimatosa crônica do fígado”
Embora seja um órgão discreto, o fígado desempenha muitas funções diferentes que se interrelacionam.
Isso se torna especialmente evidente nas anomalias hepáticas, uma vez que muitas de suas funções são
perturbadas simultaneamente. Dentre as inúmeras funções, tem-se: (1) filtração e armazenagem de
sangue, (2) metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios, (3) formação da bile, (4) armazenamento
de vitaminas e ferro e (5) formação de fatores de coagulação.
Bile
A bile é formada por ácidos biliares,
fosfolípidos, colesterol e pigmentos biliares
(bilirrubina). Sais biliares são moléculas
anfipáticas, ou seja, apresentam porções
tanto hidrofílicas quanto hidrofóbicas.
Ademais, a bile serve como meio de excreção de produtos do sangue, incluindo a bilirrubina, produto final
da degradação da hemoglobina.
Para que essa absorção ocorra, é necessário que os sais formem complexos físicos bem pequenos com
esses lipídeos; os complexos são chamados de micelas. Os lipídeos intestinais são “carregados” nessa
forma para a mucosa intestinal, de onde são absorvidos pelo sangue. Sem a presença dos sais biliares no
TGI, uma porcentagem considerável de gorduras seriam perdidas nas fezes (desenvolvimento de déficit
metabólico).
Em outras palavras, micelas são estruturas tridimensionais bioquímicas em que os sais biliares ficam no
lado externo em sebe, com suas porções hidrofílicas dissolvidas na solução aquosa do lúmen intestinal, e
as hidrofóbicas, dissolvidas no interior da micela. Os ácidos graxos livres e monoglicerídeos se solubilizam
no interior da micela para absorção subsequente.
Fisiologia da bile
A bile é secretada pelo fígado em duas etapas: (1) a solução inicial é secretada pelas células principais do
fígado, os hepatócitos; essa secreção inicial contém grande quantidade de sais biliares, colesterol e
demais constituintes orgânicos e flui através dos canalículos biliares; (2) a bile que flui pelos canalículos
desemboca nos ductos biliares terminais, fluindo, então, para ductos progressivamente maiores até chegar
ao ducto hepático e ao ducto biliar comum. É por meio deles que a bile alcança o duodeno ou é
armazenada na vesícula biliar.
Para que a bile seja secretada a partir da vesícula, é necessário que haja um estímulo. Sem dúvida, o
estímulo mais potente para as contrações da vesícula biliar é o hormônio CCK (colecistocinina). O
estímulo principal para a liberação da CCK no sangue, pela mucosa duodenal, é a presença de alimentos
gordurosos no duodeno.
Contração da vesícula
Quando o alimento começa a ser digerido no trato gastrointestinal superior, a vesícula biliar começa a se
esvaziar, especialmente quando os alimentos gordurosos chegam ao duodeno.
O esvaziamento da vesícula biliar se dá por contrações rítmicas da parede da vesícula biliar, com
relaxamento simultâneo do esfíncter de Oddi, que controla a entrada do ducto biliar comum no duodeno.
❖ CCK (colecistoquinina):
➢ Liberada em resposta a pequenos peptídeos e ácidos graxos presentes no duodeno;
➢ Informa a vesícula sobre a necessidade de emulsificar a bile e absorver lipídios no duodeno;
➢ Promove contração da vesícula biliar e relaxamento do esfíncter de Oddi.
❖ Acetilcolina (Ach): causa contração da vesícula biliar.
Absorção de lipídios
As gorduras mais abundantes da dieta são as gorduras neutras, também conhecidas como triglicerídeos;
esses são formados por glicerol esterificado com três moléculas de ácidos graxos.
A primeira etapa na digestão de gorduras é a quebra física dos glóbulos de gordura em partículas
pequenas, de forma que as enzimas digestivas hidrossolúveis possam agir nas superfícies das partículas.
Esse processo é chamado de emulsificação da gordura e começa logo no estômago. A maior parte da
emulsificação ocorre no duodeno, sob a influência da bile.
Por conseguinte, a hidrólise dos triglicerídeos é uma reação muito reversível e, por isso, é fácil de haver
acúmulo de monoglicerídeos e de ácidos graxos na vizinhança do que está sendo digerido. É nessa etapa
que os sais biliares têm o importante papel de conseguir remover os monoglicerídeos e os ácidos graxos
por meio das micelas.
❖ Micelas permitem contato dos produtos da digestão dos lipídios com a superfície absortiva das
células intestinais → sendo hidrofílico, o glicerol não está contido nas micelas;
❖ Ácidos graxos, monoglicerídeos e colesterol difundem-se através da membrana luminal para dentro
das células;
❖ Nas células intestinais, os produtos da digestão dos lipídios são reesterificados a triglicerídios, éster
de colesterol e fosfolipídios;
❖ Triglicerídeos, éster de colesterol e fosfolipídios se unem a apoproteínas, formando quilomícrons →
na ausência de apoproteína B há incapacidade de transporte de quilomícrons para fora das células
intestinais, causando abetalipoproteinemia;
❖ Quilomícrons são transportados para fora das células intestinais por exocitose. Como são
moléculas muito grandes para entrar nos capilares, os quilomícrons são transferidos para os vasos
linfáticos e levados para a corrente sanguínea por meio do ducto torácico.
Esteatorréia
A má absorção crônica provoca perda de peso, anorexia, distensão abdominal, borborigmo e perda de
massa muscular. A marca da má absorção é a esteatorreia, caracterizada por gordura fecal excessiva e
fezes volumosas, espumosas, gordurosas, amarelas ou cor de barro.
A má absorção resulta de uma perturbação em pelo menos uma das quatro fases de absorção de
nutrientes: (1) digestão intraluminal, em que proteínas, carboidratos e gorduras são degradados em formas
absorvíveis, (2) digestão terminal, que envolve a hidrólise de carboidratos e peptídeos por dissacaridases
e peptidases, respectivamente, na borda em escova da mucosa do intestino delgado; (3) transporte
transepitelial, em que nutrientes, líquido e eletrólitos são transportados pelo epitélio do intestino delgado e
processados nele e (4) transporte linfático de lipídios absorvidos.
Embora a desnutrição contribua para a patogenia dessa doença, nem a alimentação suplementar nem a
suplementação de vitaminas e minerais são capazes de reverter completamente a síndrome. Acessos
repetidos de diarreia sofridos nos primeiros 2-3 anos de vida estão mais intimamente ligados a essa
doença.
Uma hipótese para a patogenia é que a diarreia recorrente estabelece um ciclo de lesão da mucosa,
desnutrição, infecção e inflamação. No entanto, isso não foi estabelecido, em parte porque não há critérios
diagnósticos aceitos para enteropatia ambiental, pois a doença foi definida principalmente pela avaliação
epidemiológica do crescimento físico e cognitivo e. do desenvolvimento
❖ Prevalente na região do Caribe, no sul da Índia e no sudeste da Ásia → afeta nativos e visitantes
acima de um mês de permanência;
❖ Pode ser secundária à infecção crônica do intestino delgado por cepas toxigênicas de coliformes
bacterianos;
❖ Promove má absorção de folato e de vitamina B12: anemia megaloblástica;
❖ Incidência mundial diminuiu nas últimas décadas: uso crescente de antibioticoterapia por diarreia
aguda do viajante?
Dentre os aspectos clínicos estão a presença de diarreias agudas, febre e adinamia. Na fase crônica, a
diarreia é mais branda, mas ainda podem ocorrer náuseas, vômitos, anorexia, cólicas abdominais, astenia,
esteatorreia e, em alguns casos, o desenvolvimento de anemia megaloblástica. Mais raramente, pode
ocorrer perda ponderal, glossite, estomatite e edema periférico.
A investigação dessa doença deve ser feita através do hemograma completo, albumina sérica, dosagens
de ferro, folato e vitamina B12. Além disso, deve-se realizar teste protoparasitológico (pesquisa do agente
etiológico nas fezes), enema com bário (ar pode ser introduzido junto com a solução do bário) onde é
possível contatar um floculação do contraste, dilatação da luz intestinal e espessamento das pregas. Outro
exame que pode ser feito é a prova de absorção de D-xilose, a qual terá um resultado anormal.
É importante investigar o diagnóstico diferencial com doença celíaca (espru não-tropical) através dos
anticorpos anti-transglutaminase tecidual (tTG) e anticorpos antiendomísio (EMA).
Dentre as características anátomo-patológicas (biópsia intestinal) é possível encontrar edema dos vilos
com infiltrado inflamatório crônico (aumento de linfócitos e plasmócitos) no epitélio da lâmina própria.
Já na fase mais avançada da doença, observa-se distúrbios endócrino e hemodinâmicos, os quais são
manifestados através da encefalopatia hepática, ascite, distúrbios da coagulação e distúrbios endócrinos
como hiperestrogenismo e hipoandrogenismo.
Como esse processo de “sequestro” passa a ser constante, a retenção hidrossalina continua contribuindo
para a formação e acentuação da ascite e do edema periférico. Num paciente cirrótico, por exemplo, a
capacidade de excreção renal de excretar sódio já é reduzida, fato que resulta numa maior retenção de sal
e acúmulo de fluidos no organismo. Em alguns casos, em virtude da hipoalbuminemia, há extravasamento
de líquido para o interstício, causando edema de membros inferiores.
❖ A vasodilatação esplâncnica desloca a volemia para o baço, consequentemente, reduzindo o
volume sanguíneo disponível para outros órgãos → chamado “volume arterial efetivo”;
❖ A queda desse volume estimula os barorreceptores renais e carotídeos, e o resultado consiste na
ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, no sistema nervoso simpático e na liberação
de hormônio antidiurético (ADH) → esses sistemas neurohormonais promovem retenção
hidrossalina pelos rins (na direção de restaurar o volume arterial efetivo).
A febre raramente ultrapassa essa temperatura e chega a acometer cerca de 30% dos pacientes com
cirrose hepática descompensada (está relacionada a um estado de toxemia por perda da barreira
intestinal).
Os principais fatores de risco para hepatopatia que devem ser procurados na história clínica incluem os
detalhes acerca do uso de álcool, de medicações (incluindo os fitoterápicos, as pílulas anticoncepcionais e
as medicações obtidas sem receita médica), dos hábitos pessoais, da atividade sexual, de viagens, do
contato com pessoas ictéricas ou com outros fatores de riscos, do uso de drogas ilícitas injetáveis, de
transfusão remota ou recente com sangue e hemocomponentes, de ocupação, de exposição acidental ao
sangue ou às picadas de agulha, e de história familiar de doença hepática.
Exame físico nas hepatopatias crônicas - parte I
O exame físico só raramente demonstra evidência de disfunção hepática em um paciente sem sintomas ou
achados laboratoriais e, além disso, a maioria dos sinais de hepatopatia não é específica para um único
diagnóstico.
Ele é importante porque pode proporcionar a primeira evidência sobre a presença de insuficiência
hepática, hipertensão portal e descompensação hepática. Dentre os achados típicos, pode-se citar:
❖ Icterícia, hepatomegalia, hipersensibilidade hepática, esplenomegalia;
❖ Comprometimento do estado geral com desnutrição e redução de massa muscular;
❖ Redução da síntese de albumina, ocasionando edema subcutâneo e ascite;
❖ Presença do sinal do Piparote (ascites volumosas), semicírculo
de Skoda ou macicez móvel (ascites moderadas a pequenas) →
ascites menores que 1 litro: requerem métodos de imagem para o seu
diagnóstico;
➢ O líquido ascítico ocupa as áreas de declive do
abdome, em hipogástrio e flancos. Assim, ao se percutir o abdome a
partir do andar superior, delimita-se uma linha circular na transição
entre o timpanismo e macicez das áreas de maior declive;
➢ A concavidade estará voltada para a região epigástrica,
fazendo diagnóstico diferencial com cisto gigante de ovário, que tem
sua concavidade voltada para o púbis;
➢ A manobra de macicez móvel baseia-se no fato de que
o líquido ascítico encontra-se livre na cavidade peritoneal. Para
verificar se há macicez móvel, posiciona-se o paciente em decúbito lateral e percute-se o
flanco sobre o qual ele está apoiado, obtém-se um som maciço. A seguir, sem retirar o dedo
do local, solicita-se que o paciente vire apoiando-se no decúbito contralateral e realiza-se
nova percussão, obtém-se o som timpânico;
➢ A ascite refere-se ao acúmulo de líquido na cavidade peritoneal. Incontestavelmente, a
causa mais comum de ascite é a hipertensão portal relacionada com a cirrose.
❖ As aranhas vasculares (spiders) e o eritema palmar ocorrem na doença hepática tanto aguda
quanto crônica → as aranhas vasculares são arteríolas superficiais tortuosas;
❖ Hipocromia de mucosas: sangramento digestivo ou anemia (não confundir hipocromia com tempo
de enchimento capilar);
❖ Causas de anemia: hemodiluição (retenção de sódio e água), alteração do metabolismo da
vitamina B12 e do ácido fólico, hemólise, hiperesplenismo, perda gastrointestinal oculta (sangue
oculto) e supressão da eritropoiese pelo álcool;
❖ Em 70% dos casos há hepatomegalia → fígado de consistência elástica ou elástico-resistente e a
borda hepática costuma ser romba ou semirromba → frequentemente há irregularidade da
superfície hepática por fibrose avançada;
❖ A esplenomegalia presente em 35 a 50% dos casos → esplenomegalia congestiva é comum em
pacientes com hipertensão portal;
➢ Hiperesplenismo: condição clínica onde, pelo aumento do volume do baço
(esplenomegalia), a sua capacidade de reter e armazenar células sanguíneas aumenta,
levando a redução no número de eritrócitos, de leucócitos e de plaquetas circulantes
(levando, respectivamente, a anemia, leucopenia e trombocitopenia).
❖ A cirrose hepática altera a homeostase dos hormônios sexuais → efeito direto do álcool;
➢ Associação de hiperestrogenismo com hipoandrogenismo → nas fases iniciais há aumento
dos níveis séricos de estrona, em virtude de maior conversão periférica de androgênios em
estrogênios no tecido adiposo. O aumento dos níveis de globulina ligadora de hormônio
sexual (SHBG) pode contribuir para a detecção de níveis altos de estrógenos;
➢ Com o avançar da hepatopatia, caem os níveis séricos de testosterona pela diminuição da
síntese desse hormônio nas gônadas.
❖ O hiperestrogenismo é o responsável pelas alterações
vasculares cutâneas da cirrose. Dentre estas, destacam-se o eritema
palmar e as telangiectasias do tipo “aranha vascular” (spiders) → as
telangiectasias são dilatações arteriolares centrais que se ligam a
capilares dilatados com disposição radial; são encontradas,
sobretudo, no pescoço, na porção superior do tronco e dos membros
superiores;
❖ Os níveis altos de estrógenos causam proliferação e
vasodilatação de vasos cutâneos, especialmente em algumas áreas da porção superior do corpo;
❖ O eritema palmar é decorrente da vasodilatação cutânea restrita à
região palmar, principalmente nas regiões tenar e hipotenar → o
fluxo sanguíneo para essa região de eritema palmar pode
aumentar até 6 vezes;
❖ White spots (manchas esbranquiçadas) aparecem nos membros
inferiores, de etiologia não definida;
❖ Sinais de hipoandrogenismo: queda da libido, impotência
masculina, atrofia testicular, redução da massa muscular (atrofia
interóssea), rarefação de pelos (tipo padrão feminino) e
ginecomastia uni ou bilateral (hipoandrogenismo associado ao
hiperestrogenismo);
❖ Hipocratismo digital, ou “dedos em baqueta de tambor” → trata-se
do aumento volumétrico do tecido subcutâneo vascularizado da
extremidade digital, por mecanismos ainda desconhecidos.
➢ Causas: doenças concomitantes, como doenças
intratorácicas e pulmonares, doenças cardíacas e
gastrointestinais;
❖ A hipertensão portal pode ser resultante da síndrome
hepatopulmonar (vasodilatação pulmonar e distúrbio de ventilação e perfusão) → síndrome definida
pela tríade de doença hepática, hipoxemia e shunt pulmonar arteriovenoso;
❖ “Unhas de Muehrcke” (bandas brancas horizontais separadas por áreas de cor normal) e “unhas de
Terry” (dois terços proximais da unha de coloração branca com terço distal de cor vermelha);
❖ Hepatopatias crônicas podem contar com a
presença de osteoartropatia hipertrófica, ou seja,
uma periostite proliferativa crônica de ossos longos
→ esta alteração pode ser causa dor à palpação e
manipulação dos membros inferiores;
❖ Contratura de Dupuytren resulta do
espessamento e do encurtamento da fáscia palmar
(30% dos cirróticos) → causa deformidades de
flexão dos dedos;
➢ Histologicamente: proliferação de fibroblastos e depósito
desordenado de colágeno com espessamento fascial.
❖ A icterícia na cirrose é geralmente proporcional à gravidade e prognóstico; normalmente, não
ocorre icterícia com bilirrubina menor que 2 a 3 mg/dL, com exceção para obstrução biliar →
icterícia na doença crônica do fígado relaciona-se a formas avançadas da doença;
❖ A eliminação de produtos nitrogenados voláteis pela respiração, provoca um odor característico,
semelhante ao de “maçã podre” → hálito hepático (fetor hepaticus) é sinal de insuficiência hepática;
❖ A colestase intra-hepática por falha na excreção biliar pode causar prurido, que, algumas vezes, se
torna de difícil controle → presença de prurido em hepatopatia crônica não é regra.
Os achados físicos incluem asterixe flapping do corpo e da língua. O hálito hepático refere-se ao odor
amoniacal ligeiramente adocicado que pode ser observado nos pacientes com insuficiência hepática,
particularmente se houver shunt entre a veia porta e as veias ao redor do fígado (mais achados vão ser
citados posteriormente).
A partir desses mecanismos, é possível classificar a encefalopatia de acordo com a causa subjacente. Ela
pode ser classificada em três tipos:
1. Associada à insuficiência hepática aguda → encefalopatia hepática durante a hepatite aguda é o
principal critério para fazer o diagnóstico de hepatite fulminante e indica um prognóstico ruim;
2. Secundária a shunts;
3. Secundária à cirrose → nesse caso, ainda existe uma subclassificação;
a. Episódica precipitada (por sangramento gastrointestinal, infecções, medicamentos,
distúrbios hidroeletrolíticos, disfunção renal, hipoxemia e transgressão dietética),
espontânea (sem fatores precipitantes identificados) ou episódica recorrente (frequência
superior a dois episódios ao ano);
b. Persistente leve, acentuada ou dependente de tratamento;
c. Mínima: detectável apenas por déficits em testes neuropsicológicos ou neurofisiológicos.
Quando a capacidade de acúmulo de cobre no fígado é excedida ou quando há dano hepatocelular, ocorre
liberação de cobre na circulação, elevando-se o nível de cobre sérico não ligado à ceruloplasmina. Este
cobre circulante deposita-se em tecidos extra-hepáticos. Um dos principais locais de deposição é o
cérebro, causando dano neuronal e sendo responsável pelas manifestações neurológicas e psiquiátricas
da DW.
As manifestações hepáticas podem variar de um quadro assintomático até cirrose descompensada. Alguns
casos podem se apresentar como hepatite fulminante. As manifestações clínicas do sistema nervoso
central podem, em algumas situações, ser a forma de apresentação da doença. Os sinais e sintomas mais
frequentes são anormalidades motoras similares às da doença de Parkinson, incluindo distonia, hipertonia,
rigidez, tremores e disartria.
Sua patogênese tem sido associada ao acúmulo de manganês nos gânglios da base e alguns tratamentos
foram propostos. Além disso, a DHA pode ser diferenciada da Doença de Wilson pela observação do anel
de Kayser Fleischer (depósito de cobre na córnea ao longo da membrana de Descemet).
OBS: existe outra enfermidade que pode causar tremor, disartria e paresia que é conhecida como síndrome de
desmielinização.Na abstinência alcoólica, além dos sinais hiperadrenérgicos, como taquicardia, taquipnéia e febre,
pode-se observar delirium tremens, caracterizado por desorientação, diaforese e alucinações visuais.
Hipertensão Portal
A hipertensão portal é definida como a elevação do gradiente de pressão
venosa hepática (HVPG: diferença de pressão entre a veia porta e a veia cava
inferior) para > 5 mmHg. Ela é causada por uma combinação de dois
processos hemodinâmicos que ocorrem simultaneamente: (1) resistência intra-hepática aumentada à
passagem do fluxo sanguíneo através do fígado em virtude da cirrose e dos nódulos regenerativos e (2)
fluxo sanguíneo esplâncnico aumentado secundário à vasodilatação dentro do leito vascular esplâncnico.
A hipertensão portal torna-se clinicamente significativa (HPCS) acima de 10 mmHg, valor que já apresenta
risco de desenvolvimento de ascite, formação de varizes esofagogástricas e sangramento por rotura
dessas mesmas varizes (o risco de sangramento é aumentado em pressões superiores a 12 mmHg).
Dessa forma, a hipertensão portal é diretamente responsável pelas duas principais complicações da
cirrose, a hemorragia por varizes e a ascite. Além disso,outra complicação é o hiperesplenismo.
Quadro clínico
❖ Hipertensão portal é uma doença sistêmica → ficar atento;
❖ Vasodilatação esplâncnica;
❖ Angiogênese;
❖ Aumento do fluxo sanguíneo no território portal → formação de colaterais, como as varizes
esofagogástricas;
❖ Gastropatia hipertensiva;
❖ Shunts portossistêmicos (estão envolvidos com a encefalopatia hepática);
❖ Síndrome hipercinética (aumento do débito cardíaco, hipotensão e vasodilatação periférica);
❖ Fisiopatologia da ascite e da disfunção renal;
❖ No pulmão, esta vasodilatação leva a alterações da ventilação-perfusão e shunts arteriovenosos,
podendo desencadear síndrome hepatopulmonar ou hipertensão pulmonar;
❖ Trombocitopenia, leucopenia, anemia, esplenomegalia (hiperesplenismo);
❖ Varizes de esôfago estão presentes em 30 a 40% dos pacientes com cirrose compensada no
momento do diagnóstico; varizes de esôfago estão em 60% na doença descompensada;
❖ Em cirrose hepática sem varizes, a incidência anual é de 5 a 10%;
❖ A taxa de progressão das varizes de pequeno para grosso calibre é bastante heterogênea (5 a 30%
ao ano), estando associada com a função hepática (Child-Pugh), etiologia alcoólica e a presença
de sinais da cor vermelha.
❖ A incidência de sangramento varicoso em pacientes portadores de cirrose hepática é de
aproximadamente 4% ao ano, já a incidência de sangramento varicoso esofágico é de 15% nas
varizes de médio e grosso calibre → fatores preditivos de sangramento são a função hepática
(Child-Pugh) e a presença de sinais da cor vermelha;
➢ A mortalidade por sangramento varicoso é extremamente elevada, oscilando entre 20 e
40% em 6 semanas. Pode ser de 70% naqueles nos pacientes com função hepática mais
grave (Child-Pugh C);
➢ Mesmo quando o paciente sobrevive, a chance de ressangramento nos não tratados é de
60% em 1 a 2 anos.
Tratamento medicamentoso
❖ Beta-bloqueadores não seletivos – redução da pressão portal:
➢ Propranolol (40 a 80 mg/d VO);
➢ Nadolol (40 a 160 mg/d VO);
➢ Timolol (10 a 20 mg/d VO);
➢ Carvedilol (6,25 a 12,5 mg/d VO).
❖ Mononitrato de isossorbida (10 a 20 mg/d VO).
AULA 23
“Hepatites”
Tipos de hepatite
Existem os seguintes tipos: viral hepatotrópica (A, B, C, delta, E), mononucleose, citomegalovírus,
bacteriana, isquêmica, associada a doenças autoimunes e tóxicas (medicamentos e álcool).
Hepatite viral
A hepatite viral aguda é uma infecção sistêmica que afeta predominantemente o fígado. Quase todos os
casos de hepatite viral aguda são causados por um dos cinco agentes virais: vírus da hepatite A (HAV),
vírus da hepatite B (HBV), vírus da hepatite C (HCV), o agente delta associado ao HBV ou vírus da
hepatite D (HDV) e vírus da hepatite E (HEV).
Todos os vírus das hepatites humanas são vírus de RNA, exceto o da hepatite B, um vírus de DNA. Esses
agentes podem ser diferenciados por suas propriedades moleculares e antigênicas, porém todos os tipos
de hepatite viral produzem enfermidades clinicamente semelhantes. Variam, por um lado, desde infecções
assintomáticas e inaparentes até infecções agudas fulminantes e, por outro lado, podem se manifestar
como infecções subclínicas persistentes ou doença hepática crônica rapidamente progressiva com cirrose.
Hepatite A - vírus A
O vírus da hepatite A é um vírus do tipo RNA da família picornaviridae, resistente ao calor, ácido e éter
(resistente ao ácido do estômago). Ele é transmitido principalmente por via fecal-oral, sendo rara a via
parenteral; a transmissão pessoa a pessoa é a forma mais frequente de disseminação, além de apresentar
curto período de viremia.
Hepatite B
O vírus da hepatite B (HBV) é um vírus de DNA (família hepaDNAviridae), com uma estrutura genômica
extremamente compacta. Sua transmissão pode ocorrer por via parenteral, sexual e vertical, atingindo
todas as faixas etárias, especialmente aquelas entre os 20 e 40 anos de idade (importância da via sexual
→ considerada como uma IST).
Ademais, a hepatite B é um importante problema de saúde pública no mundo, sendo que a estimativa é de
cerca de 300 milhões de portadores crônicos do vírus. Essas pessoas, os portadores, funcionam como
grandes reservatórios de infecções.
Hepatite C
O vírus da hepatite C é um vírus RNA linear da família hepaciviridae, sendo semelhante aos flaviridae. As
respostas imunes de mediação celular e a elaboração pelas células T de citocinas antivirais contribuem
para a contenção da infecção e patogenia da lesão hepática associada à hepatite C.
Esse tipo de hepatite é transmitido via parenteral (através do sangue ou seus derivados), via sexual ou
verticalmente (casos pouco relevantes). A prevalência, por sua vez, varia mundialmente; no Brasil
estima-se cerca de 2 milhões de portadores do vírus.
Hepatite E
O HEV é um vírus do tipo RNA, pertencente à família Hepeviridae. É transmitido pela via entérica que
ocorre principalmente na Índia, Ásia e América Central. A transmissão direta de uma pessoa para outra é
rara.
Ademais, uma pessoa infectada com o vírus pode ou não desenvolver a doença. A infecção confere
imunidade permanente contra a doença. A hepatite E ocorre mais comumente em países onde a
infra-estrutura de saneamento básico é deficiente e ainda não existem vacinas disponíveis.
Assim, tem-se:
❖ Transmissão é fecal-oral, à semelhança da hepatite A;
❖ Surtos epidêmicos fora do Brasil: países asiáticos (Índia, Nepal), na Rússia e no México;
❖ Prevalência elevada de anticorpos contra o HEV em usuários de drogas intravenosas e em
hemodialisados sugere que a via parenteral possa estar envolvida na transmissão da doença;
❖ Um genótipo específico do vírus E (genótipo 3) comporta-se como zoonose e pode ser transmitido
por meio da ingestão de carne de porco ou outros animais mal cozidos;
❖ Quadro clínico, semelhante entre os vários agentes virais hepatotrópicos. Quatro períodos distintos:
1. Incubação: estende-se do momento da contaminação até o aparecimento do primeiro sintoma;
2. Prodrômico: manifestações inespecíficas de viroses (mal estar, febre, diarreia, vômito, dor de
cabeça..), duração de sete dias em média → decorre da formação e depósito de imunocomplexos,
com manifestações como mialgias, artralgia, púrpuras, exantemas, glomerulitis e febre;
a. Os sintomas prodrômicos costumam desaparecer com o surgimento da icterícia.
3. De estado, podem ser: formas ictéricas clássicas ou formas atípicas;
a. Formas ictéricas clássicas: colúria (primeiro sinal - liberação no sangue dos metabólitos da
bilirrubina sem que haja a conjugação hepática), icterícia 1 a 2 dias depois da colúria,
hipocolia ou acolia fecal;
b. Icterícia e prurido → icterícia dura cerca de 4 a 6 semanas, com hepatomegalia dolorosa e
esplenomegalia.
4. Convalescença: desaparecimento da icterícia (último sinal a desaparecer) + normalização
laboratorial
Evolução
❖ Hepatites virais, em geral, têm boa evolução;
❖ A hepatite A não se cronifica e a hepatite E raramente se cronifica (ocorrem em imunossuprimidos);
❖ As hepatites B, C e Delta se cronificam em porcentagens elevadas;
❖ A taxa de cronificação da hepatite C é de cerca de 80%.
HEPATITE ANICTÉRICA
A hepatite anictérica é a forma mais comum de hepatite (70% dos casos). Ela pode passar despercebida
pela dificuldade de diagnóstico sem icterícia.
❖ As formas anictéricas dos vírus B e C parecem ter maior tendência à cronificação.
HEPATITE FULMINANTE
Também conhecida como hepatite aguda grave ou falência hiperaguda do fígado, a hepatite fulminante é a
condição de maior gravidade dentre as doenças do fígado, podendo levar à morte pelo menos metade dos
pacientes.
Esta é uma doença em que o indivíduo previamente sadio, em um prazo de dias ou semanas, fica
profundamente doente. É caracterizada por comprometimento agudo da função hepatocelular, manifestado
por diminuição dos fatores da coagulação e presença de encefalopatia hepática no período de até 8
semanas após o início da icterícia. A mortalidade é elevada.
❖ Péssimo prognóstico;
❖ Ocorre em menos de 1% dos casos de hepatite, independentemente da etiologia;
❖ Forma rara nas infecções pelo HCV;
❖ É a forma mais temida da doença, pois apresenta elevada taxa de mortalidade (superior a 80%);
❖ Quadro clínico: vômitos, sonolência, confusão mental, piora da icterícia e regressão rápida da
hepatomegalia prenunciam esta condição;
❖ Quadro laboratorial: queda rápida das aminotransferases e elevação rápida das bilirrubinas.
HEPATITE PROLONGADA
A hepatite prolongada é uma hepatite que tem a fase aguda arrastada por mais de quatro meses (cerca de
120 dias). Os sinais apresentam uma melhora progressiva, porém mais lenta que o usual.
❖ A evolução para cura é a regra;
❖ Pode simular quadro recorrente, com reativação clínica e bioquímica após recuperação aparente;
❖ Tem sido frequentemente relatada em adultos com hepatite A → uma forma prolongada da hepatite
A tem sido relatada, com duração dos sintomas (icterícia) por até 120 dias.
HEPATITE COLESTÁTICA
A hepatite colestática é caracterizada por prurido intenso, elevação significativa das enzimas colestáticas e
da bilirrubina. Histologicamente podem ser encontrados plugs biliares e inflamação hepatocelular,
presença de eosinófilos e infiltrado inflamatório no portal.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com icterícia obstrutiva (cálculo), uma vez que a evolução favorável
do quadro ocorre em 2 a 6 meses.
A bilirrubina também pode estar aumentada e seu pico máximo é atingido após o pico das
aminotransferases. Mesmo assim, as dosagens de bilirrubina total não ultrapassam o nível de 10 mg/dL;
contudo, a redução desse valor ocorre mais lentamente que a redução das transferases.
❖ Aminotransferases (transaminases: a aspartato aminotransferase (AST/TGO) e a alanino
aminotransferase (ALT/TGP) são marcadores de agressão hepatocelular. Nas formas agudas,
chegam a atingir, habitualmente, valores acima do normal, embora alguns pacientes apresentam
níveis bem mais baixos, principalmente na hepatite C. Em geral, essas enzimas começam a
elevar-se uma semana antes do início da icterícia e normalizam-se em cerca de três a seis
semanas de curso clínico da doença. Nas formas crônicas, na maioria das vezes não ultrapassam
15 vezes o valor normal e, por vezes, em indivíduos assintomáticos, é o único exame laboratorial
sugestivo de doença hepática;
❖ Bilirrubinas: elevam-se após o aumento das aminotransferases e, nas formas agudas, podem
alcançar valores 20 a 25 vezes acima do normal. Apesar de haver aumento tanto da fração
não-conjugada (indireta) quanto da conjugada (direta), esta última apresenta-se predominante. Na
urina pode ser detectada precocemente, antes mesmo do surgimento da icterícia;
❖ Formas colestáticas: importante elevação dos níveis de bilirrubinas, fosfatase alcalina e gama-GT;
❖ No diagnóstico diferencial com icterícias obstrutivas extra-hepáticas deve-se utilizar o ultrassom
(US) como método de auxílio;
❖ No diagnóstico etiológico das hepatites deve-se usar os marcadores sorológicos.
Diagnóstico da hepatite A
A manifestação da hepatite A é abrupta e os sintomas da doença incluem: indisposição, fadiga, anorexia,
náuseas, vômito, desconforto abdominal, febre, urina escura, fezes pálidas e icterícia do recobrimento
conjuntival da esclera. Pode ainda ocorrer diarreia em metade das crianças infectadas, o que é incomum
em adultos.
Apesar da possibilidade de existência de replicação extra-hepática (ele passa pelo intestino e pode atingir
a vesícula), o vírus da hepatite A é órgão específico, e a patologia relacionada à infecção está
praticamente restrita ao fígado.
A partir disso, o diagnóstico da hepatite A é realizado por meio de imunoensaios que detectam IgM
anti-HAV. Esses testes podem tornar-se positivos entre 5 e 10 dias após a infecção, desde que existam
altas concentrações de IgM anti-HAV; porém, não são capazes de detectar baixas concentrações de IgM
anti-HAV, situação que pode ser observada entre quatro e seis meses após a infecção aguda.
Resumindo:
❖ Presença do marcador sorológico anti-HAV IgM
→ anti-HAV IgM é positivo no início do quadro clínico (5
a 10 dias após a infecção já estão positivados) e dura
cerca de 6 a 12 meses;
➢ As respostas imunes humorais e
celulares costumam manifestar-se pouco antes da
elevação das transaminases.
❖ Após a fase aguda, os anticorpos IgM
desaparecem do soro;
❖ Na fase de cura, os anticorpos IgG passam a ser
detectáveis;
➢ No fluido oral (FO), soro, urina e fezes
podem ser detectados os anticorpos IgG anti-HAV. Os testes que utilizam FO são indicados
como uma alternativa ao teste sorológico convencional, devido à simplicidade da coleta de
amostra.
❖ Imunidade permanente → a imunoglobulina da classe IgG anti-HAV surge logo após o
aparecimento da IgM e pode persistir indefinidamente, conferindo imunidade ao indivíduo;
❖ A identificação de partículas virais e antígenos nas fezes também é possível, mas de pequeno valor
na prática clínica.
Diagnóstico da hepatite B
A hepatite B pode se apresentar de forma aguda ou crônica nos indivíduos infectados. As hepatites
agudas benignas costumam ser identificadas pelo aumento dos níveis séricos das aminotransferases, o
que leva o indivíduo a apresentar sintomas de uma infecção viral inespecífica, com leves alterações
gastrintestinais. Após essa fase inicial,
pode ocorrer a forma ictérica da doença,
seguida de uma fase de convalescença,
com melhora progressiva do quadro clínico
do indivíduo.
Diagnóstico de hepatite C
O HCV é o principal agente etiológico da hepatite crônica e a infecção pelo HCV já é a maior responsável
pela cirrose e transplante hepático no mundo ocidental. Sua transmissão ocorre principalmente por via
parenteral.
Ademais, a hepatite D pode apresentar-se como infecção assintomática, sintomática ou como formas
graves. A hepatite crônica é assintomática ou oligossintomática na grande maioria dos casos. De modo
geral, as manifestações clínicas aparecem apenas em fases adiantadas de acometimento hepático. Muitas
vezes o diagnóstico é feito ao acaso, a partir de alterações esporádicas de exames de avaliação de rotina
ou da triagem em bancos de sangue.
O diagnóstico é feito através da testagem de amostras de sangue total, soro, plasma ou FO (triagem).
Amostras com resultados reagentes nessa etapa têm seu resultado confirmado por meio de outro teste,
que visa à detecção direta do vírus.
❖ Não há um teste diagnóstico que permita diferenciar a hepatite C aguda da forma crônica da
doença → na infecção aguda o diagnóstico baseia-se na presença do anti-HCV;
❖ Desejável documentação da soroconversão (paciente anteriormente negativo para teste positivo);
❖ O diagnóstico de infecção aguda baseia-se na história clínica, epidemiologia compatível e elevação
de aminotransferases, acompanhada da presença do anti-HCV;
❖ Anti-HCV é um anticorpo de aparecimento tardio, tornando-se positivo cerca de 8 a 12 semanas
após a contaminação;
❖ Diagnóstico mais precoce: pesquisa sérica de HCV RNA por PCR.
Diagnóstico da hepatite E
O HEV é um importante agente causador de surtos epidêmicos, ocorrendo, principalmente, em áreas
tropicais e subtropicais. As principais vias de transmissão são: reservatórios de água potável contaminada
(transmissão fecal-oral); ingestão de carne crua ou mal cozida de animais selvagens, como javalis e
cervos, e animais domésticos, como porcos e galinhas (transmissão de alimentos-zoonótica); pelo sangue
(transmissão parenteral) e da mãe para o filho (transmissão vertical perinatal).
A maioria dos casos de hepatite E aguda é silenciosa e se resolve rapidamente. Além do quadro ictérico
característico de doença, são relatados, frequentemente, colúria, prurido e sintomas gastrointestinais,
como dor epigástrica, náuseas, vômitos e hipocolia fecal. Metade dos pacientes infectados relata
manifestação de febre e dois terços apresentam artralgias.
O imunoensaio é o método laboratorial mais utilizado no diagnóstico de HEV devido à sua padronização e
facilidade de execução e por permitir a detecção de anticorpos das classes IgM e IgG. Os antígenos-alvo
para o imunoensaio são as proteínas recombinantes, peptídeos sintéticos que correspondem aos epítopos
imunodominantes das proteínas estruturais (ORF2 e ORF3).
O teste para a pesquisa de anticorpos IgM anti-HEV pode ser usado para o diagnóstico da infecção
recente pelo HEV. Anticorpos IgG anti-HEV são encontrados desde o início da infecção, com pico entre 30
e 40 dias após a fase aguda da doença.
❖ Infecção aguda pelo HEV: presença no soro de anticorpos anti-HEV IgM;
❖ Anti-HEV permanecem positivos por cerca de 4 a 6 meses após o episódio agudo;
❖ Depois surgem anticorpos da classe IgG, conferindo imunidade definitiva.
Tratamento da hepatite
No curso de hepatites virais agudas, o uso de medicações sintomáticas para vômitos e febre deve ser
realizado quando pertinente. Entretanto, faz-se necessária a máxima atenção quanto às medicações
utilizadas, já que se deve evitar o emprego de drogas que tenham potencial hepatotóxico, como o
paracetamol.
Prevenção
Ao lado do diagnóstico preciso e de tratamento eficaz, a necessidade de se ter um serviço que acolha
adequadamente o usuário é parte integrante dos objetivos da saúde pública. Desse modo, a testagem das
hepatites, bem como seu modo de transmissão, poderá ser estimulada por meio de ações educativas.
Ademais, a prevenção também pode ser feita através de vacinas para hepatite A e B, além de utilizar a
gamaglobulina contra a hepatite B (RN de mães HBsAg positivo e após exposição acidental com
sangue/secreções infectados).
● Contaminantes de HA: gamaglobulina;
● Gamaglobulina contra HB: RN de mães HBsAg positivo e após exposição acidental com
sangue/secreções infectados.
AULA 24
“Abordagem das cefaleias”
Aspectos clínicos
1. Tipo de dor;
a. Em peso → lembra acometimentos inespecíficos/quadros infecciosos/dengue/febre
amarela/resfriado comum;
b. Holocraniana, não pulsátil, não cede ao uso de analgésicos comuns → meningoencefalite
transitoria/Covid-19/acomete o nervo olfatório;
c. Cefaleia com peso que piora na inclinação anterior → meningoencefalite na fase inicial;
d. Pulsátil → cefaleia trigêmeo-mediada;
e. Dor em explosão → cefaleia em salva;
f. Rasgo → aneurisma;
g. Holocraniana inicialmente em peso e com uma intensidade crescente (hipertensão
intracraniana).
2. Localização: retro-ocular (dor tensional ou aos erros de refração), temporal anterior (enxaqueca -
padrão pulsátil) e occipital (quadros tensionais e HAS);
3. Irradiação;
4. Frequência: com que frequência ela aparece? Tem padrão durante o dia? se instala em
ortostatismo (hipotensão liquórica - desidratação)?
5. Intensidade numa escala de 0 a 10, sendo 10 a dor máxima;
6. Limitação de atividades pessoais → enxaqueca, cefaleia em salva;
7. Sinais e sintomas associados: “toda vez que tenho dor, também tenho…vômito, fotossensibilidade,
sonolência” → verificar fatores que antecedem ou que acompanham a dor;
8. Cefaleia contumaz ou recorrente → processos crônicos (exemplo: enxaqueca);
a. Tem essa dor há muito tempo, mas, a dor de hoje é exatamente igual a que você sempre
tem?
9. Cefaleia inaugural ou aguda → geralmente o paciente não tem dor de cabeça.
CEFALEIA TRIGÊMEO MEDIADA - CEFALEIA EM SALVAS
Cefaleia em salvas
A cefaleia em salvas (CS) é uma forma incomum de cefaleia primária, caracterizada por episódios de dor
muito forte, geralmente localizada nas regiões orbital, periorbital ou temporal. Também é conhecida por ser
a 1ª causa de suicídio por dor.
Associam-se sempre a pelo menos uma sintomatologia de disfunção autonômica (do lado acometido), que
pode ser: hiperemia conjuntival ou de pele no lado acometido, lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia
cristalina (parassimpático), sudorese facial (parassimpático), miose, ptose e/ou edema palpebral, sempre
ipsilaterais à dor.
O diagnóstico dessa cefaleia em salvas é clínico; fatores como consumo de álcool, mudanças climáticas,
odores e luzes fortes são descritos como possíveis desencadeadores das crises.
Migrânea/Enxaqueca
A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça que costuma provocar dores unilaterais e latejantes,
acompanhadas na maioria das vezes de náuseas, vômitos e intolerância a sons, luz e cheiros fortes.
A história familiar de migrânea é um dos mais fortes e consistentes fatores de risco para a doença (60 a
80% dos pacientes têm histórico familiar). Ademais, acomete principalmente mulheres na faixa etária dos
30 aos 50 anos, cujo quadro iniciou-se na infância ou adolescência.
A aura é definida como manifestações neurológicas bem localizadas, que surge de maneira gradual, em
um dos lados do corpo, podendo iniciar antes ou junto com a dor de cabeça e com duração variando entre
5 a 60 minutos cada aura, que tem completa reversibilidade. Os sintomas negativos da aura indicam perda
ou ausência de função, como perda de visão, audição, sentimento ou capacidade de mover uma parte do
corpo.
Cefaleia tensional
Esse tipo de cefaleia é aquele típico de “final de expediente” em que o paciente geralmente já fez muitas
atividades durante o dia (dentre as atividades, considera-se o estudo). Por esse motivo, é considerada a
mais frequente entre as cefaleias primárias.
Dores de cabeça tensionais podem ser episódicas, ocorrendo com menos de 15 dias por mês, ou crônicas,
ocorrendo em mais de 15 dias por mês. As dores de cabeça tensionais episódicas podem durar minutos,
horas ou dias e possui localização variada, podendo ser em toda cabeça ou apenas na nuca, e sem
sintomas associados característicos.
Em outras palavras, a cefaleia tensional é aquela em que a contração muscular é prolongada e que, por
sua vez, não é limitante (não há um período de tempo “padrão” para ela ser resolvida).
Essa cefaleia é um tipo especial da cefaleia tensional e está relacionada a queixas oftálmicas, ou seja,
está associada ao esforço de acomodação + convergência + miose do globo ocular. Ela pode estar
presente com ou sem erro refracional (astigmatismo e hipermetropia) e estrabismo.
As queixas relacionadas com a cefaleia em si são: dor retrocular que se irradia para fronte e se torna
holocraniana, dor de final de expediente que se alivia com repouso visual e dor em peso.
Cefaleia comum
Esse tipo de cefaleia é aquele que não possui identificação etiológica e fisiopatológica.
❖ Leve, persistente, que responde a analgesico;
❖ Cefaleia recorrente para alguns.
Doença de Horton
A doença de Horton, também conhecida como arterite de células gigantes (ACG), arterite temporal, ou
arterite craniana, é uma vasculite granulomatosa crônica, de etiologia desconhecida, que afeta indivíduos
com mais de 50 anos, caucasianos, em especial do sexo feminino.
As suas manifestações clínicas dependem da localização da isquemia relativa ou absoluta dos territórios
irrigados pelos vasos afetados. Um dos locais mais afetados pelo processo inflamatório é a carótida
interna.
❖ Cefaleia própria ou associação com enxaqueca?
❖ Aspectos clínicos:
➢ Cefaleia fronto-parieto-temporal;
➢ Quase sempre unilateral;
➢ Associada a alodínia (transforma tato em dor), claudicação masseterina e lingual.
A NOIA é classificada com base em critérios etiológicos, patogenéticos, histopatológicos e clínicos. Uma
dessas classificações é a neuropatia óptica isquêmica anterior arterítica (NOIAA), em que há oclusão
trombótica das artérias ciliares posteriores curtas por processo inflamatório granulomatoso causado
especificamente pela arterite de células gigantes (ACG).
❖ Arterite de células gigantes (ACG) é uma arterite granulomatosa necrosante com predileção por
artérias grandes e de tamanho médio, particularmente temporal superficial, oftálmica, ciliar
posterior e vertebral proximal. A gravidade e a extensão do comprometimento estão associadas à
quantidade de tecido elástico na média e na adventícia. As artérias intracranianas, que apresentam
pouco tecido elástico, em geral são poupadas;
❖ Alodínia ou sensibilidade no couro cabeludo, notada inicialmente no ato de pentear;
❖ Cefaleia, que pode ser localizada nas regiões frontal, occipital e temporal ou ser mais generalizada;
❖ Claudicação mandibular isquemia dos músculos masseteres é patognomônica;
❖ Polimialgia reumática (caracterizada por dor e rigidez nos grupos musculares proximais
(normalmente nos ombros);
❖ Sintomas em geral são piores pela manhã e após esforço, e podem preceder BAV por muitos
meses;
❖ Sintomas não específicos, como dor no pescoço, perda de peso, febre, sudorese noturna,
mal-estar e depressão, são comuns;
❖ Velocidade de hemossedimentação (VHS) muito elevada.
Papiledema
O papiledema é um edema do disco óptico decorrente do aumento da pressão intracraniana (edema de
papila bilateral). Disco óptico inchado resultante de causas que não envolvem aumento da pressão
intracraniana, por exemplo, hipertensão maligna e trombose da veia retiniana central não é considerado
papiledema. Não há sintomas prévios, embora a diminuição passageira da visão possa ocorrer.
O diagnóstico é realizado por oftalmoscopia acompanhada de testes adicionais, normalmente imagiologia
cerebral e, às vezes, punção lombar subsequente para identificar a causa. O tratamento é direcionado à
causa de base.
AULA 25
“Abordagem da dor abdominal”
Conceito de dor abdominal: dor abdominal é uma experiência sensitiva e emocional desagradável,
localizada no segmento abdominal, associada a uma lesão tecidual atual, potencial ou descrita em termos
de tal lesão.
Há uma relação muito estreita entre a dor relatada e a região acometida. Por exemplo: dor em fossa ilíaca
direita é sugestiva de apendicite e dor em fossa ilíaca esquerda é bastante sugestiva de diverticulite.
Ademais, a intensidade da dor depende do tipo e do volume do material ao qual as superfícies peritoneais
são expostas (tipo do agressor) em determinado período de tempo. A súbita liberação de uma pequena
quantidade de suco gástrico ácido estéril na cavidade peritoneal provoca muito mais dor do que o mesmo
volume de fezes neutras maciçamente contaminadas. Esse mesmo pensamento também é válido para os
casos de pancreatite em que há uma dor muito grande por causa da presença de uma grande quantidade
de enzimas no suco; ao contrário, a bile que não tem essas enzimas causa uma dor mais branda.
Outros exemplos da variação da dor são: o sangue e a urina são, com frequência, de natureza não irritante
a ponto de não serem detectados se o seu contato com o peritônio não tiver sido súbito e maciço. Na
contaminação bacteriana a dor tem baixa intensidade no início da doença, até que a multiplicação
bacteriana tenha produzido substâncias irritantes → peritonite espontânea (paciente hepatopata).
A dor da inflamação peritoneal é agravada por compressão ou por alterações na tensão do peritônio. Por
esta razão, pioram por palpação ou por algum movimento, como tosse ou espirro.
É comum que o paciente com peritonite permaneça quieto no leito, preferindo evitar movimentos,
diferentemente do paciente com cólica, que pode se contorcer incessantemente. Aliado a isso, é típico da
irritação peritoneal é o espasmo reflexo tônico da musculatura abdominal, localizado no segmento corporal
afetado. A intensidade do espasmo muscular tônico que acompanha a inflamação peritoneal depende da
localização do processo inflamatório, da rapidez com que este evolui e da integridade do sistema nervoso
(a contratura espasmódica causa o “abdome em pedra” → contratura generalizada relacionada a extensão
generalizada da peritonite).
Por fim, as emergências abdominais catastróficas, como a úlcera perfurada, podem estar associadas a dor
ou espasmo muscular mínimos ou até indetectáveis em pacientes embotados, gravemente enfermos,
debilitados e idosos, ou em pacientes psicóticos (exemplo: COVID-19).
Resumindo:
❖ Localiza-se diretamente sobre a área inflamada, sendo possível estabelecer a sua referência exata,
por ser transmitida pelos nervos somáticos que inervam o peritônio parietal → relação com
dermátomo;
❖ A velocidade com que o material irritante entra em contato com o peritônio é importante → reflete a
capacidade de tamponamento do peritônio;
❖ A úlcera péptica perfurada pode estar associada a quadros clínicos totalmente diferentes devido a
maior ou menor rapidez da entrada do suco gástrico na cavidade peritoneal;
❖ Em processos de evolução lenta o espasmo muscular pode ser bastante atenuado.
Por sua vez, a dor em cólica por obstrução do colo é menos intensa que a do intestino delgado. A
obstrução colônica produz dor localizada na área infraumbilical que pode ser irradiada para a região
lombar.
Quando as vias biliares são obstruídas, tem-se a distensão súbita dessa região e isso leva a uma dor
constante e em cólica. Separadamente, a distensão aguda da vesícula biliar geralmente acarreta dor no
quadrante superior direito que pode irradiar para a região posterior direita do tórax ou para a ponta da
escápula direita ou na linha média.
Dilatação gradual da árvore biliar, como a que ocorre no carcinoma da cabeça do pâncreas, pode não
causar dor ou apenas produzir uma sensação incômoda leve no epigástrio ou no hipocôndrio direito. A
distensão do colédoco está associada a dor no epigástrio, com irradiação para a parte superior da região
lombar (o processo de distensão dos ductos pancreáticos leva a processos semelhantes). Classicamente,
a dor por distensão de ductos pancreáticos se acentuada em decúbito e se alivia pela posição ereta
Por conseguinte, a obstrução da bexiga urinária resulta em dor suprapúbica mal definida, de baixa
intensidade. Em alguns casos, a inquietude sem queixa específica de dor pode ser o único sinal de
distensão vesical em paciente com rebaixamento de consciência.
A obstrução aguda da porção intravesical do ureter caracteriza-se por dor intensa na região suprapúbica e
no flanco com irradiação para o pênis, a bolsa escrotal ou a face medial da parte superior da coxa;
obstrução da junção ureteropélvica gera dor no ângulo costovertebral. Por fim, a obstrução das demais
porções do ureter gera dor no flanco (sinal de Giordano).
Resumindo:
❖ Vísceras ocas causam dor intermitente do tipo cólica;
❖ A localização é menos precisa quando comparada a dor da inflamação peritoneal;
❖ “Cólica biliar” é um termo enganoso porque a dor causada é mais constante que a cólica.
DISTÚRBIOS VASCULARES
Os distúrbios vasculares podem apresentar dor de caráter súbito e catastrófico (sensação de estrutura
sendo rasgada), contudo, não é uma regra válida para 100% dos casos. A exemplo disso, em idosos e
portadores de placas ateroscleróticas, ela pode ser manifestada de forma insidiosa e leve.
A dor da embolia ou da trombose da artéria mesentérica superior ou a dor da ruptura iminente de um
aneurisma da aorta abdominal é do primeiro tipo. A oclusão da artéria mesentérica superior apresenta dor
contínua ou em cólica difusa e leve durante dois ou três dias antes do aparecimento de colapso vascular
ou de sinais de inflamação peritoneal. Na oclusão mesentérica, o desconforto é causado por
hiperperistalse.
Dor difusa e contínua em paciente com suspeita de doença vascular e ausência de dor à palpação e de
rigidez abdominal é bastante característica de oclusão da artéria mesentérica superior.
Já a dor abdominal com irradiação para região sacra, flanco ou genitália pode indicar possibilidade de
ruptura de aneurisma da aorta abdominal. Neste caso, a dor pode persistir por vários dias antes que a
ruptura e o colapso ocorram.
Resumindo:
❖ Geralmente são dores intensas e difusas, porém não necessariamente, de caráter súbito ou
catastrófico;
❖ A hiperperistalse é, na verdade, o que causa a dor em casos de inflamação (a inflamação precisa
estar em fase avançada para gerar dor);
❖ Aneurisma de aorta abdominal é caracterizado por dor com irradiação para dorso, mas também
genitália e região sacra.
CAUSAS PARIETAIS
A dor da parede abdominal é habitualmente descrita como constante e incômoda. O movimento, postura
ereta prolongada e compressão acentuam o desconforto e o espasmo muscular (marca registrada).
No hematoma da bainha do reto (comum em casos de terapia anticoagulante) é possível que haja uma
massa nos quadrantes inferiores do abdômen (o sangue decanta pela gravidade). O comprometimento
simultâneo de músculos (miosite) em outras regiões do corpo geralmente serve para diagnóstico
diferencial entre miosite da parede abdominal e processo intra-abdominal que cause dor na mesma região.
DOR REFERIDA
É comum que dores abdominais sejam, na verdade, referidas. Elas podem ser provenientes do tórax, da
coluna vertebral ou dos órgãos genitais. Deve receber atenção médica pelo fato de que doenças da parte
superior da cavidade abdominal (como colecistite aguda e úlcera perfurada) se associam a complicações
intratorácicas.
Dessa forma, para todo paciente com dor abdominal, deve-se considerar a possibilidade de doença
intratorácica, sobretudo quando a dor se localiza na parte superior do abdome (exemplo: IAM de parede
inferior). Doenças torácicas que mais frequentemente simulam quadros abdominais: IAM; infarto pulmonar,
pneumonia, pericardite ou doença esofágica. A dor referida de origem torácica é acompanhada de
imobilização do hemitórax afetado, com limitação respiratória (a mobilidade torácica é poupada →
respiração mais superficial com uma frequência elevada).
A pleurite diafragmática da pneumonia ou de infarto pulmonar pode causar dor no quadrante superior
direito e na área supraclavicular (vias biliares apresentam o mesmo padrão). Quanto à irradiação
supraclavicular, deve ser diferenciada da dor subescapular referida por distensão aguda da árvore biliar
extra hepática.
A definição quanto à origem da dor abdominal pode exigir uma observação do paciente ao longo de várias
horas, durante as quais a arguição e o exame físico repetidos definirão o diagnóstico ou serão sugestivos
de exames apropriados. A partir disso, tem-se a premissa de que toda dor epigástrica aguda deve ser
rodado um eletrocardiograma, mesmo se ele tenha histórico de gastrite/úlcera.
O espasmo muscular abdominal produzido pela dor referida reduz-se durante a inspiração, mas persiste
durante ambas as fases respiratórias se a dor tiver origem abdominal. Além disso, a palpação da região
com dor referida no abdome não costuma acentuar a dor podendo até aliviá-la.
Por fim, cuidado com associações! Por exemplo, paciente com uma doença conhecida do trato biliar com
dor epigástrica por infarto do miocárdio, ou cólica biliar referida ao precórdio ou ao ombro esquerdo em um
paciente coronariano → dor de origem torácica imobiliza um hemitórax.
Outras características:
❖ A dor referida proveniente da coluna vertebral (como por compressão ou irritação de raízes
nervosas) é intensificada por certos movimentos, como tosse, espirro ou esforço, e está associada
à hiperestesia nos dermátomos envolvidos;
❖ A dor referida ao abdome a partir dos testículos ou das vesículas seminais costuma ser acentuada
pela mais leve compressão desses órgãos. Nestes casos, o desconforto abdominal é de caráter
surdo (mal definido) e difuso.
De maneira geral, esse tipo de dor tem inúmeros mecanismos. Na hiperlipidemia, a própria doença
metabólica pode ser acompanhada de um processo intra-abdominal, como pancreatite. Já a deficiência do
inibidor de C1 esterase associada ao edema angioneurótico está frequentemente relacionada com
episódios de dor abdominal intensa.
Toda vez que a causa da dor abdominal for obscura, deve-se considerar uma origem metabólica. A dor
abdominal também é uma das marcas da febre familiar do Mediterrâneo.
Dor da porfiria e da cólica saturnina pode ser difícil de distinguir da causada por obstrução intestinal, visto
que o hiperperistaltismo intenso é uma característica proeminente de todas.
As picadas de aranha viúva-negra produzem dor intensa bem como rigidez dos músculos abdominais e do
dorso, região raramente afetada nas doenças intra-abdominais
CAUSAS NEUROGÊNICAS
A causalgia pode acompanhar doenças que danificam nervos sensoriais. A dor tem caráter de queimação
e limita-se à distribuição de determinado nervo periférico. Estímulos normais como toque ou mudança de
temperatura, podem ser transformados nesse tipo de dor, frequentemente observada no paciente em
repouso.
A constatação de dor cutânea em áreas irregularmente espaçadas pode ser a única indicação da presença
de lesão nervosa antiga subjacente à dor. Não há rigidez dos músculos abdominais, e a respiração não é
afetada. Ademais, a distensão do abdome é incomum e a dor não apresenta relação com a ingestão de
alimentos.
A dor que se origina de nervos ou raízes espinais é lancinante e aparece e desaparece subitamente. Pode
ser causada por herpes-zóster, compressão por artrite, tumores, hérnia de disco, diabetes ou sífilis. O
espasmo muscular intenso (como o observado nas crises gástricas do tabes dorsalis) é comum, sendo
aliviado pela palpação do abdome. A dor é agravada pelo movimento da coluna vertebral e se limita a
poucos dermátomos. A hiperestesia é muito comum.
A dor neurogênica pode ter causas funcionais. Neste caso, não obedece a nenhum dos padrões
mencionados.
A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio gastrintestinal funcional caracterizado por dor
abdominal e alteração dos hábitos intestinais. Faz-se o diagnóstico com base em critérios clínicos e após a
exclusão de anormalidades estruturais. Os episódios de dor abdominal muitas vezes são desencadeados
por estresse, e a dor varia nas suas natureza e localização. Náuseas e vômitos são raros. As causas da
SII são desconhecidas.
Investigação
❖ História clínica meticulosa;
❖ Exame físico detalhado;
❖ Investigação cirúrgica;
❖ Imagem: RX, US, TC;
❖ Eletrocardiograma;
❖ EDA.
AULA 26
“Insuficiência Respiratória (RI)”
É importante frisar que taquipneia não é sinônimo de IR; bradipnéia ou frequência respiratória normal, por
sua vez, não afastam a possibilidade de insuficiência respiratória, visto que a incapacidade do sistema
respiratório em manter a ventilação e/ou a oxigenação pode se instalar rapidamente (não atende as
necessidades metabólicas do organismo).
Os critérios gasométricos que definem a IR são paO2 < 60 mmhg e/ou paCO2 > 50 mmhg + DPOC = pH <
7,35. A pressão parcial de CO2 pode estar acima de 50 mmHg em condições de IR crônica compensada.
Causas
A IR é uma síndrome determinada por várias causas, não necessariamente pulmonares. A velocidade de
instalação determina a sua classificação em aguda ou crônica. Essa diferenciação pode ser feita pela
velocidade de instalação dos sintomas e pela gasometria.
Sistema respiratório
O sistema respiratório é composto por diversos órgãos que interagem e têm por objetivos básicos colocar
o ar ambiente em contato com o sangue, a fim de haver troca do gás carbônico com o oxigênio, além de
transportá-lo e entregá-lo aos tecidos do organismo. A troca de gases entre o organismo e o ambiente é
denominada hematose. Para que ela seja possível, existe uma íntima relação entre os órgãos e sistemas,
desde o controle da respiração no bulbo (sensível a variações de pH e pCO2 → ativado quando ocorre
queda de pH ou aumento da pressão parcial de gás carbônico) até a passagem de oxigênio e gás
carbônico pela membrana alveolocapilar.
Os componentes são: sistema nervoso periférico (nervo frênico), músculos respiratórios, parede torácica,
pulmões, vias aéreas superiores, árvore brônquica, alvéolos e circulação pulmonar.
Desse modo, a ventilação é um processo fisiológico dependente da integridade e bom funcionamento dos
sistema nervoso central, respiratório e cardiovascular.
A IRA é uma síndrome caracterizada pelo aparecimento de disfunção súbita de qualquer setor do sistema
fisiológico responsável pela troca gasosa. Ela ocorre quando há incapacidade do organismo em manter
normal a oferta de oxigênio aos tecidos e a remoção de gás carbônico.
O paciente confuso, diaforético, com a fala entrecortada ou incapaz de falar, cianótico, utilizando
musculatura respiratória acessória (retração da fúrcula esternal, retração da musculatura intercostal e
escalenos) e respiração paradoxal (elevações intercaladas entre o tórax e o abdome durante o ciclo
respiratório), necessita de suporte ventilatório, prioritário à determinação do tipo de IR associado ao
quadro.
Investigação laboratorial
O exame gasométrico é muito importante na definição e na classificação da IR, o que permite dirigir o
raciocínio clínico para a causa associada. É preciso, então, diferenciar se a hipoxemia identificada é
causada somente pela elevação da pressão parcial de gás carbônico alveolar ou se há outros
componentes determinando essa condição (existem gradientes/fórmulas para cada situação).
❖ Gasometria arterial;
❖ Hemograma, eletrólitos, bioquímica sanguínea, etc;
❖ Relação Pao2 / FiO2;
➢ Normal > 400;
➢ Lesão pulmonar aguda: entre 200 e 300;
➢ Hipoxemia refratária < 200;
➢ SDRA grave < 100.
Alguns padrões podem ser sugestivos de possibilidades diagnósticas: a presença de infiltrado localizado
sugere pneumonia, neoplasia ou infarto pulmonar, enquanto alterações difusas sugerem SDRA, edema
pulmonar cardiogênico, hemorragia alveolar ou infecções, como pneumocistose e tuberculose miliar.
Tratamento
O paciente com queixa de dispneia ou desconforto respiratório apresenta necessidade de avaliação
emergencial com suplementação de O2, até ser determinado que ele não esteja hipoxêmico. É um
indivíduo com potencial para evolução desfavorável, inclusive parada cardiorrespiratória.
Ou seja, é importante que se reconheça de forma precoce o paciente em insuficiência respiratória aguda.
É necessário tratar a condição de base daquele paciente + garantir o suporte ventilatório. Esse suporte
pode ser dado através de suplementação nasal de oxigênio, máscara facial de O2 ou ventilação mecânica.
**Resumo feito no segundo semestre de 2020 durante o período de pandemia. Duas aulas não foram
dadas: pancreatite e alterações ácido-base.