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Poder Judiciário da União Fls.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Órgão : 3ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO
N. Processo : 20150110498623APC
(0014362-13.2015.8.07.0001)
Apelante(s) : MACIFE S/A MATERIAIS DE CONSTRUCAO
Apelado(s) : FIGUEIREDO AVILA ENGENHARIA LTDA
Relatora : Desembargadora MARIA DE LOURDES
ABREU
Acórdão N. : 994299

EMENTA

EMBARGOS À EXECUÇÃO. SOCIEDADE DE PROPÓSITO


ESPECÍFICO. CONSTRUÇÃO CIVIL. SOLIDARIEDADE.
SOCIEDADE LTDA. INEXISTÊNCIA.
1. A Sociedade de propósito específico - SPE equipara-se a
uma sociedade com as mesmas características de um
consórcio, porém com personalidade jurídica própria, que é
formada para a execução de determinado empreendimento e
foi instituída pelo artigo 9º da Lei 11.079/04.
2. A sociedade de propósito específico - SPE possui
personalidade patrimonial, ou seja, possui bens e os registra
em suas contas de ativo e também registra todas as suas
obrigações e deveres em seu passivo, sejam contratuais,
societárias ou mesmo fiscais.
3. A responsabilidade dos sócios em relação à SPE depende
da forma societária adotada por esta. Se for uma sociedade
limitada, a responsabilidade dos sócios será restrita ao valor de
suas quotas - Inteligência do art. 1.052 do Código Civil.
4. Considerando-se que a confissão de dívida, objeto da
execução de título extrajudicial, foi assinada por uma sociedade
de responsabilidade limitada, não é possível a inclusão no polo
passivo de suas sócias instituidoras.
5. Recurso conhecido e desprovido.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, MARIA DE LOURDES ABREU
- Relatora, ALVARO CIARLINI - 1º Vogal, GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA -
2º Vogal, sob a presidência da Senhora Desembargadora FÁTIMA RAFAEL, em
proferir a seguinte decisão: CONHECER E NEGAR PROVIMENTO, UNÂNIME, de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 8 de Fevereiro de 2017.

Documento Assinado Eletronicamente


MARIA DE LOURDES ABREU
Relatora

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Apelação 20150110498623APC

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença


(fls. 92/94) que, nos autos da ação de embargos à execução interposto por
FIGUEIREDO AVILA ENGENHARIA LTDA em desfavor de MACIFE S/A-
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO, julgou procedente o pedido para reconhecer a
ilegitimidade da embargante para figurar no pólo passivo do feito executivo,
extingui-lo tão somente quanto a ela, nos termos do art. 771 c/c art. 485, inciso VI,
do Novo Código de Processo Civil.
O apelante/embargante, nas suas razões recursais (fls. 98/105),
sustenta que a embargante/apelada é responsável solidária pelo instrumento
particular de promessa de compra e venda mediante permuta, firmado em
30/09/2010.
Aduz que as promissárias permutantes foram autorizadas a
constituir uma SPE- Sociedade de propósito específico e para ela transferir ou ceder
os direitos contratuais, nos termos da cláusula 14 (fl. 31).
Afirma que a escritura de novação e confissão de dívida, bem como
sua escritura de rerratificação somente alteraram a forma de pagamento e o
montante devido.
Assevera que o fato de apenas a SPE SAI 01 ter firmado sozinha a
escritura de rerratificação não exclui a responsabilidade contratual da
apelada/embargante no pagamento da dívida, objeto da execução.
Requer o provimento do apelo para que seja reformada a sentença
e julgados improcedentes os embargos, com a inclusão da apelada no pólo passivo
da execução.
Preparo (fls. 106/107).
Contrarrazões às fls. 111/122.
É o relatório.

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VOTOS

A Senhora Desembargadora MARIA DE LOURDES ABREU - Relatora


Presentes os pressupostos de admissibilidade conheço do recurso.
Conforme relatório trata-se de recurso de apelação interposto contra
a r. sentença (fls. 92/94) que, nos autos da ação de embargos à execução interposto
por FIGUEIREDO AVILA ENGENHARIA LTDA em desfavor de MACIFE S/A-
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO julgou procedente o pedido para reconhecer a
ilegitimidade da embargante para figurar no pólo passivo do feito executivo, extingui-
lo tão somente quanto a ela, nos termos do art. 771 c/c art. 485, inciso VI, do Novo
Código de Processo Civil.
O apelante/embargante, nas suas razões recursais (fls. 98/105),
sustenta que a embargante/apelada é responsável solidária pelo instrumento
particular de promessa de compra e venda mediante permuta, firmado em
30/09/2010.
Aduz que as promissárias permutantes foram autorizadas a
constituir uma SPE- Sociedade de propósito específico e para ela transferir ou ceder
os direitos contratuais, nos termos da cláusula 14 (fl. 31).
Afirma que a escritura de novação e confissão de dívida, bem como
sua escritura de rerratificação somente alterou a forma de pagamento e o montante
devido.
Assevera que o fato de apenas a SPE SAI 01 ter firmado sozinha a
escritura de rerratificação não exclui a responsabilidade contratual da
apelada/embargante no pagamento da dívida, objeto da execução.
Requer o provimento do apelo para que seja reformada a sentença e
julgados improcedentes os embargos, com a inclusão da apelada no pólo passivo da
execução.
Eis a suma dos fatos.
O cerne da questão é saber se as empresas que instituem uma
sociedade de propósito específico são com ela solidárias para as obrigações que
concluir.
No presente caso, as empresas OAS Empreendimentos S.A e
Figueiredo Ávila constituíram uma obrigação de compromisso de compra e venda
com a empresa MACIFE S.A, em 08/09/2010 (fls. 25/32) em que ajustaram a
possibilidade de criação de uma SPE (fl. 31).
O contrato visava à construção de um empreendimento imobiliário.

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Posteriormente, em 02/08/2012, a empresa MACIFE SA, ora


embargada, assinou escritura pública em que contratou com a SIA 01
EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS, ratificando o compromisso firmado em
30/09/2010 (fls. 35/42) e outra escritura, em que figuram as mesmas partes.
Essa terceira escritura trata-se de uma novação, confissão de dívida
e outras avenças (fls. 44/45), em que a SPE, SIA 01 EMPREENDIMENTOS
IMOBILIÁRIOS LTDA recebe a quitação da nota promissória no valor de R$
5.150.000,00 (cinco milhões e cento e cinquenta mil reais) e a própria cártula de
volta.
As partes novam aquela obrigação e modificam a forma de
pagamento daquela dívida, constituindo outra obrigação.
Cumpre esclarecer que a sociedade de propósito específico - SPE
equipara-se a uma sociedade com as mesmas características do consórcio, porém
com personalidade jurídica própria, que é formada para a execução de determinado
empreendimento e foi instituída pelo artigo 9º da Lei 11.079/04.
A SPE possui além das personalidades negocial e judicial, a
personalidade patrimonial, ou seja, possui bens e os registra em suas contas de
ativo. Além disto, a SPE também registra todas as suas obrigações e deveres em
seu passivo, sejam contratuais, societárias ou mesmo fiscais.
Uma vez constituída, a SPE adquire personalidade jurídica própria e,
portanto, estrutura destacada das sociedades que a constituíram.
A responsabilidade dos sócios em relação à SPE depende da forma
societária adotada por esta. Se for uma sociedade limitada, a responsabilidade dos
sócios será restrita ao valor de suas quotas (Art. 1.052 do Código Civil).
Da mesma forma, será limitada a responsabilidade se o modelo
adotado for o das sociedades anônimas (Art. 1º da Lei 6.404/76). Todavia, se
assumir a forma das sociedades simples, a responsabilidade dos sócios será
ilimitada, podendo atingir seu patrimônio (Art. 1.023 do Código Civil de 2002).
Portanto, acertou o magistrado de 1º grau quando afirmou:

Diante disso, não é possível reconhecer, de antemão, que


uma das sócias da referida sociedade de propósito
específico deva responder solidariamente com esta. Afinal,
se a SIA 01 EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA.
possui personalidade jurídica, escrituração contábil e

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inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas


próprias, esta deve responder pelas obrigações por ela
contraídas.
Salienta-se, contudo, que, caso frustrada a satisfação do
crédito em relação à SIA 01, poderá ser requerida a aplicação
do instituto da desconsideração da personalidade jurídica, se
cabível no caso concreto, razão pela qual não se verifica
nenhum prejuízo ao credor. (fl 93/93 verso)

No presente caso, conforme se observa do título executivo (fls.


44/45), a SIA 01 EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, é uma sociedade
limitada e a responsabilidade de seus sócios está restrita ao valor de suas quotas.
Assim, conclui-se que as sócias instituidoras da sociedade de
propósito específico não respondem solidariamente pela obrigação constituída
unicamente por esta.
Ante o exposto, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO ao recurso da
apelada/embargada.
É o meu voto.

O Senhor Desembargador ALVARO CIARLINI - Vogal


Com o relator

O Senhor Desembargador GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA - Vogal


Com o relator

DECISÃO

CONHECER E NEGAR PROVIMENTO, UNÂNIME

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