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TEXTO-FRAGMENTOS /ACESSOAOINSIGHT/MEDIAÇÃO ANDANDO

FRAGMENTOS DO TEXTO.

"Meditação Andando
na Tradição das Florestas da Tailândia
Por
Ajaan Nyanadhammo

(...)

A prática tem como objetivo desenvolver samadhi, o que exige esforço focalizado. A palavra
em pali samadhi significa focalizar a mente, conduzir a mente para a unicidade através de
vários graus de atenção e concentração. Para focar a mente, a pessoa tem que ser diligente
e determinada. Isso em primeiro lugar requer um grau de postura física, bem como postura
mental. A pessoa começa posicionando-se com as mãos à frente. Acalmando o corpo ajuda
a acalmar a mente. Tendo assim acalmado o corpo, deve-se em seguida, ficar parado quieto e
trazer a atenção plena para o corpo. Em seguida, levantar as mãos juntas em anjali, num gesto
de respeito, e com os olhos fechados refletir por alguns minutos sobre as qualidades do Buda,
do Dhamma e da Sangha (Buddhanusatti, Dhammanusatti e Sanghanusatti).

Também pode ser contemplada a toma de refúgio no Buda - no Sábio, Aquele que Sabe e
Vê, o Desperto, o Completamente Iluminado. Reflita com o seu coração por alguns minutos
sobre as qualidades do Buda. Depois lembre-se do Dhamma - a Verdade que estamos nos
esforçando para realizar e cultivar através da meditação andando. Finalmente, traga à mente a
Sangha - especialmente aqueles plenamente iluminados, que realizaram a verdade cultivando a
meditação. Então traga as mãos para baixo à sua frente e faça uma determinação mental sobre
quanto tempo irá praticar a meditação andando, seja meia hora, uma hora, ou mais. Não importa
quanto tempo determine, mas cumpra-o. Desta forma nessa fase inicial da meditação a mente
estará sendo alimentada com entusiasmo, inspiração e confiança.

Também é importante mencionar que ao caminhar, lembre-se de manter os olhos baixos,


cerca de um metro e meio à frente. Não olhe ao redor distraído por isso ou aquilo. Mantenha a
atenção nas sensações nas solas dos pés, e, dessa forma, desenvolva a atenção plena e a plena
consciência.

A Escolha de um Objeto de Meditação e Dando Início

O Buda ensinou quarenta diferentes objetos de meditação (Vsm III,104), muitos dos quais
podem ser usados na meditação andando. Contudo, alguns são mais adequados do que outros.
Vou discutir alguns desses objetos de meditação começando com o mais comum: atenção na
própria postura ao caminhar.

Atenção na Postura ao Caminhar

Neste método, ao caminhar, toda atenção é colocada nas solas dos pés, nas sensações à
medida que estas surgem e desaparecem (isso pressupõe que a pessoa estará caminhando
descalça, como a maioria dos monges. No entanto, a prática pode ser feita calçando sapatos,
especialmente se as solas forem finas). Ao começar a caminhar as sensações irão mudar.
Quando o pé é levantado e novamente baixado entrando em contato com o solo, novas
sensações surgem. Colocamos a atenção nessas sensações, tal como são sentidas na sola
dos pés. Novamente, ao erguer o pé, observamos mentalmente as novas sensações conforme
vão surgindo. Ao levantar um pé e baixá-lo, observamos as sensações que são sentidas. A
cada novo passo, algumas novas sensações são experimentadas e as antigas sensações
cessam. Isto deve ser percebido com plena atenção. A cada passo, há novas sensações que
são experimentadas - sensação que surge, sensação que desaparece; sensação que surge,
sensação que desaparece.

Colocamos a atenção plena na sensação de caminhar em si, em cada passo dado. Estamos
cientes sobre que tipo de vedana (sensações agradáveis, desagradáveis, ou neutras) surgem
nas solas dos pés. Quando estamos parados, há uma sensação do contato com o solo. Esse
contato pode produzir dor, calor, ou outras sensações. Colocamos a atenção plena nessas
sensações, compreendendo-as plenamente. Ao levantar o pé para dar um passo a sensação
muda assim que o pé perde o contato com o solo. Quando abaixamos o pé, mais uma vez surge
uma nova sensação quando o pé entra em contato com o solo. À medida que caminhamos,
as sensações estão constantemente mudando e novamente surgindo. Com atenção plena
notamos esse surgimento e desaparecimento das sensações conforme as solas dos pés se
levantam ou tocam o chão. Desta forma, estamos mantendo a nossa total atenção apenas nas
sensações ao caminhar.

Alguma vez vocês antes já realmente tinham notado as sensações nos pés ao caminhar? As
sensações ocorrem cada vez que caminhamos, mas nós tendemos a não perceber essas
coisas sutis da vida. Quando caminhamos as nossas mentes tendem a estar em algum outro
lugar. A meditação andando é uma maneira de simplificar o que estamos fazendo enquanto
caminhamos. Estamos trazendo a mente para o "aqui e agora", unificados com o caminhar, ao
caminhar. Estamos simplificando tudo, aquietando a mente e simplesmente percebendo as
sensações na medida em que estas surgem e desaparecem.

Quão rápido devemos caminhar? Encontre o seu próprio ritmo. Ajaan Chah recomendava
caminhar naturalmente, não muito lento ou muito rápido. Caminhando muito rápido, poderá ser
muito difícil concentrar-se no surgimento e desaparecimento das sensações. Será necessário
diminuir um pouco. Por outro lado, algumas pessoas podem realmente precisar caminhar mais
depressa. Depende de cada um. Cada um tem que encontrar o seu próprio ritmo, aquilo que
funciona melhor. Podemos começar mais devagar no início, e depois gradualmente chegar ao
nosso ritmo normal de caminhada.

Se a atenção plena for fraca (ou seja, se a mente divaga muito) então é melhor caminhar
bem devagar até que se possa permanecer no momento presente a cada passo. Comece
estabelecendo a atenção plena no início do percurso. Quando chegar no meio do caminho
pergunte mentalmente a si mesmo: "Onde está minha mente? Está nas sensações nas solas
dos pés? Estou ciente do contato aqui e agora, neste momento presente?" Se a mente se
afastou, então traga-a de volta novamente para as sensações nos pés e continue andando.

Chegando no final do caminho, vire lentamente e re-estabeleça a sua atenção plena. Onde
está a mente? Será que ela está percebendo as sensações nas solas dos pés? Ou será que
ela se perdeu? A mente tende a vaguear perseguindo pensamentos de ansiedade, medo,
felicidade, tristeza, preocupações, dúvidas, prazeres, frustrações e todos os outros inumeráveis
pensamentos que podem eventualmente surgir. Se a atenção plena no objeto de meditação
não estiver presente, restabeleça-a primeiro, e depois comece a andar. Restabeleça a mente no
simples ato de caminhar, e então comece a caminhar de volta para o outro extremo do caminho.
Quando chegar no meio do caminho, observe: "Estou agora no meio do caminho" e verifique
novamente se a mente está com o objeto. Então, quando chegar ao final do caminho, note
mentalmente: "Onde está a mente?" Desta forma, você caminha para cá e para lá com atenção
plena e plena consciência das sensações que surgem e desaparecem. Enquanto caminha,
constantemente re-estabeleça a sua atenção plena - puxando a mente de volta, trazendo a
mente para dentro, tornando-se consciente, percebendo as sensações a cada momento,
surgindo e desaparecendo.

À medida que sustentamos a atenção plena nas sensações nas solas dos pés, notaremos
que a mente fica menos distraída. A mente estará menos inclinada a sair em busca das coisas
que estão acontecendo ao nosso redor. Nos tornamos mais calmos. A mente vai se tornando
tranqüila. A mente se acalma. Uma vez que a mente se torna tranqüila e calma, notaremos que
a postura ao caminhar se torna uma atividade demasiado agitada para esse estado mental.
Nós só queremos ficar quietos. Então pare e fique em pé permitindo que a mente possa
experimentar essa calma tranqüilidade. Isto é conhecido como passaddhi, que é um dos fatores
da iluminação.

Se durante a caminhada a mente se torna muito refinada, podemos até achar ser realmente
impossível continuar. Caminhar implica na volição mental para se mover, e a mente pode estar
demasiado envolvida na meditação para se interessar por isso. Se for assim, pare e fique em
pé, e continue a prática nessa posição. A meditação diz respeito ao trabalho da mente, não
necessariamente a alguma postura em particular. A postura é apenas um meio conveniente para
melhorar o trabalho da mente.

A concentração e a tranqüilidade trabalham em conjunto com a atenção plena. Combinados


com os fatores da energia, investigação dos fenômenos, felicidade e equanimidade formam
os Sete Fatores da Iluminação. Quando na meditação a mente está tranqüila, então tendo essa
tranqüilidade como condição, irá surgir um sentimento de êxtase e felicidade. O Buda disse que
a felicidade da paz é a maior felicidade, (MN 66) e uma mente concentrada experimenta essa
paz. Esta paz pode ser experimentada nas nossas vidas.

Tendo desenvolvido a meditação andando em um contexto formal, então, quando estivermos


caminhando nas nossas vidas diárias - indo às lojas, caminhando de uma sala para outra, ou
mesmo indo ao banheiro - nós podemos usar esse ato de caminhar como meditação. Podemos
estar cientes apenas do caminhar, basta estar com esse processo. A mente poderá estar quieta
e pacífica. Essa é uma maneira de desenvolver a concentração e a tranqüilidade nas nossas
vidas diárias.(...)

Algumas Palavras de Cautela sobre as Contemplações.

(...)
Mas algumas palavras de cautela são necessárias ao usar esses contemplações na meditação
andando para que a mente não divague e vá para o pensamento especulativo. Isso é muito
fácil de acontecer. Por isso temos que estar muito atentos e notar no início, no meio e no final
do caminho: "Estou realmente com o meu objeto de meditação ou estou pensando em alguma
outra coisa?" Se você estiver praticando a meditação andando por quatro horas, mas só há
atenção plena e plena consciência por um minuto durante essas quatro horas, você então só
terá meditado por um minuto.

Lembre-se que não importa quanta meditação fazemos, é a qualidade da meditação que conta.
Se enquanto estiver caminhando a mente estiver vagando em outro lugar, então não estaremos
meditando. Não estaremos meditando no sentido que o Buda usou a palavra meditação
- bhavana ou desenvolvimento mental. É a qualidade da mente e não a quantidade de meditação
que importa."
(...)
Este texto foi adaptado de palestras do Dhamma no Dhammaloka Buddhist Centre em 31 Julho
1992 e no Bodhinyana Monastery em 22 Janeiro 2002."

(http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/andando.php)

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