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O DANO CAUSADO PELO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR OU DANO

TEMPORAL: modalidade autônoma e indenizável

The damage caused by consumer productive deviation or temporal damage:


autonomous and indemnifiable modality

Pedro César da Silva Batista1


Dougllas Krischina de Lima Abreu2
Risoleyde de Almeida Matos3

Sumário: 1. Relação jurídica de consumo; 2. Desvio do tempo produtivo do consumidor:


definição; 3. Tempo produtivo do consumidor como bem jurídico e tutelável pelo
ordenamento jurídico; 3.1. O tempo como bem jurídico; 3.2. O tempo como bem
juridicamente tutelável; 4. Tempo do consumidor como bem jurídico reparável (indenizável);
5. Dano temporal: categoria autônoma ou espécie de dano moral? 6. A responsabilidade civil
objetiva do fornecedor pelo desvio do tempo produtivo do consumidor

Resumo: O objetivo do presente artigo é contribuir para o debate acerca do dano causado
pelo desvio produtivo do consumidor ou dano temporal, especialmente sobre a sua natureza,
bem assim da natureza da responsabilidade do fornecedor que incorrer na prática desse tipo de
lesão, nas relações de consumo. Para tanto, reúne considerações que atestam ser o tempo
dispensado pelo consumidor, na solução de problemas gerados por maus fornecedores, um
bem jurídico. A partir da conclusão de que o tempo do consumidor é um bem jurídico,
apresenta elementos que aferem ser esse tempo uma categoria de dano autônoma e
indenizável. Outrossim, conclui que a responsabilidade do fornecedor pelo desvio produtivo
do consumidor é de natureza objetiva. A hipótese é de que o dano temporal pode se firmar
como modalidade autônoma e indenizável, com repercussões de ordem patrimonial e
extrapatrimonial, incidindo o fornecedor em responsabilidade objetiva. A pesquisa enfatizou,
sobretudo, a natureza do tempo no âmbito jurídico, ou seja, se este é um bem jurídico ou não
e, em assim sendo, se a lesão a ele configuraria categoria autônoma de dano ou apenas uma
espécie de dano moral. Para sustentar o estudo, empregou-se a pesquisa bibliográfica e
jurisprudencial, aplicando-se o método dedutivo para responder às seguintes questões: o
tempo dispensado pelo consumidor, na solução de problemas gerados por maus fornecedores,
é um bem jurídico? Em sendo um bem jurídico, a lesão a esse bem configura modalidade
autônoma indenizável ou apenas espécie de dano moral? Qual a natureza da responsabilidade
do fornecedor pela lesão a esse bem jurídico? Em síntese, as conclusões foram as seguintes: o
tempo, nas relações jurídicas, é um bem jurídico tutelável, que, uma vez lesionado, gera dano
autônomo – e não dano moral –, indenizável e enseja responsabilidade objetiva do fornecedor
que provocar a lesão.

1
Acadêmico de Direito (Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas – CIESA, Manaus/Amazonas);
matrícula: 0650104369 – E-mail: pcbatista72@outlook.com.
2
Orientador; Professor Mestre em ____, pela ____ - E-mail: _____.
3
Co-orientadora; Professora Mestre em Psicologia Comunitária (Centro Universitário de Ensino Superior do
Amazonas – CIESA, Manaus/Amazonas); Mestranda em Ciências Jurídicas (Universidade do Vale do Itajaí –
Univali, Itajaí/Santa Catarina); Mestranda em Ciência Política pela Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias (Portugal) – E-mail: risoleyde@posciesa.com.
2

Palavras-chave: Desvio Produtivo do Consumidor; Dano Temporal; Bem Jurídico; Dano;


Categoria Autônoma; Responsabilidade Objetiva.

Abstract: The purpose of this article is to contribute to the debate about the damage caused
by the consumer productive deviation or temporal damage, especially about its nature, as well
as the nature of the liability of the supplier who incurs in the practice of this type of injury, in
consumer relations. To this end, it brings together considerations that attest that the time spent
by the consumer, in solving problems generated by bad suppliers, is a legal asset. Based on
the conclusion that the consumer's time is a legal asset, it presents elements that show that this
time is an autonomous and compensable category of damage. Furthermore, it concludes that
the supplier liability for the consumer productive deviation is of an objective nature. The
hypothesis is that temporal damage can be established as an autonomous and compensable
modality, with repercussions of a patrimonial and extra-patrimonial nature, with the supplier
incurring objective liability. The research emphasized, above all, the nature of time in the
legal field, that is, whether it is a legal asset or not and, if so, whether the damage to it would
constitute an autonomous category of damage or just a type of moral damage. To support the
study, the bibliographical and jurisprudential research was employed, applying the deductive
method to answer the following questions: is the time spent by the consumer in the solution of
problems generated by bad suppliers a legal asset? If it is a legal asset, does the injury to this
asset constitute an autonomous modality that can be indemnified or just a type of moral
damage? What is the nature of the supplier responsibility for the damage to this legal asset? In
summary, the conclusions were as follows: time, in legal relations, is a legal asset that can be
protected, which, once injured, generates autonomous damage - and not moral damage - that
can be indemnified and gives rise to objective responsibility of the supplier that causes the
injury.

Keywords: Consumer Productive Deviation; Temporal Damage; Legal Asset; Damage;


Autonomous Categort; Strict Liability.

Introdução

Em uma sociedade caracterizada pelo progresso econômico, como a brasileira, é


corriqueiro que, nas relações de consumo, o consumidor se veja na situação de ter que
despender o seu tempo, ter que desviar-se de outras atividades, sejam particulares, sejam
decorrentes das relações de trabalho, para resolver problemas causados por fornecedores ou
prestadores de serviço.

Enfrentar problema causado por fornecedor não é um fato relevante em si, nas
relações de consumo, haja vista que o dito progresso econômico intensifica de tal modo essas
relações que seria inocente imaginar a inexistência ou a ocorrência mínima. Torna-se
relevante quando o fornecedor procrastina intoleravelmente, desarrazoadamente a solução do
problema ou mesmo se furta à responsabilidade de solucioná-lo tempestivamente, fazendo
com que o consumidor disponha de parcela demasiada de seu tempo, desvie o tempo que
3

dedicaria a outras atividades para assumir deveres e custos do fornecedor 4, visando a minorar
a lesão.

Com o advento da Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, o Código de Defesa


do Consumidor, que instituiu um microssistema jurídico voltado para a defesa do consumidor,
como o próprio designativo deixa claro, veio a conscientização, mas também a atribuição de
deveres para o fornecedor, tais como a de disponibilizar produtos e serviços de qualidade e
seguros, prestar informações claras e adequadas sobre cada produto ou serviço, agir de boa-fé,
não empregar práticas abusivas de mercado, não gerar riscos ou danos ao consumidor, sanar
os vícios que seus produtos ou serviços porventura apresentem, reparar, de modo espontâneo,
rápido e efetivo, os danos que estes ou as práticas abusivas perpetradas causarem ao
consumidor.

Dentre outras regras, consoante menção anterior, dispõe o Código de Defesa do


Consumidor acerca de prazos para solução de vícios decorrentes das relações de consumo,
como, por exemplo, o previsto no § 1º do art. 185, assim como de prazos decadenciais para o
consumidor reclamar por vícios aparentes ou de fácil constatação, conforme caput do art. 266,
e prescricional, para o consumidor que pretender a reparação por danos causados por fato do
produto ou do serviço, nos termos do art. 277.

Em se tratando de prazos para solução de vícios, por exemplo, são prazos


estipulados para o fornecedor e para o prestador de serviço, os quais, uma vez cumpridos,
asseguram a relação de consumo conforme o direito. No entanto, é no momento em que o
fornecedor ou o prestador passa a descumprir esses prazos que entra em cena a questão do
desvio produtivo do consumidor, da usurpação injusta do tempo livre do consumidor, do dano
causado pelo desvio produtivo do consumidor, do dano decorrente do tempo injustamente
usurpado do consumidor.

4
DESSAUNE, Marcos. Teoria aprofundada do desvio produtivo do consumidor: o prejuízo do tempo
desperdiçado e da vida alterada. 2. ed. rev. e ampl. Vitória: Edição Especial do Autor, 2017, p. 31.
5
Art. 18. [...]. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
6
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-
se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de
serviço e de produtos duráveis.
7
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do
serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e
de sua autoria.
4

Consigna-se, desde logo, que “prazo” estará sempre e necessariamente ligado à


ideia de “tempo”, mas, no âmbito do direito do consumidor, a partir do instante em que um
prazo é descumprido, a depender da superação ou não do limite do tolerável, a percepção de
“tempo” passa a ser outra, porquanto passa a envolver frustração, prejuízo à paz psicológica,
interferência indevida na liberdade, violação à autodeterminação própria da existência.

Dito isto, afirma-se: doutrina e jurisprudências pátrias caminham no sentido de


qualificar o tempo do consumidor como um bem jurídico e de validar, definitivamente, a
ocorrência de dano temporal sempre que ficar constatado o desvio produtivo de consumidor, a
usurpação indevida de seu tempo livre. Remanescem, no entanto, a questões relativas à
categorização desse dano, se de natureza autônoma ou mera espécie de dano moral, e acerca
da natureza da responsabilidade civil do fornecedor ou prestador de serviço que incorrer para
esse tipo de dano, se objetiva ou subjetiva.

Diante do contexto ora descrito, este artigo almeja contribuir para o debate acerca
do dano causado pelo desvio produtivo do consumidor, também denominado dano temporal
ou, ainda, dano existencial, sobretudo acerca do tratamento dispensado ao elemento “tempo
usurpado do consumidor” nas relações de consumo, ou seja, objetiva ampliar o debate sobre a
configuração desse tempo como um bem jurídico, e um bem jurídico indenizável sempre que
a lesão ultrapassar a barreira do tolerável, bem assim sobre a natureza da responsabilidade do
fornecedor ou prestador de serviço. Para tanto, reúne considerações e resultados obtidos em
estudos elaborados por doutrinadores que se debruçaram sobre o assunto e na jurisprudência.

Neste sentido, a partir da conclusão de que o tempo do consumidor é um bem


jurídico, apresenta elementos que aferem se esse tempo configura categoria de dano autônoma
e indenizável. Outrossim, conclui que a responsabilidade do fornecedor pelo desvio produtivo
do consumidor é de natureza objetiva.

A hipótese levantada é de que o dano causado pelo desvio produtivo do


consumidor (dano temporal) pode se firmar como modalidade autônoma e indenizável, com
repercussões de ordem patrimonial e extrapatrimonial, incidindo o fornecedor em
responsabilidade objetiva.

A pesquisa levada a cabo, em termos de limites, enfatizou, sobretudo, a natureza


do tempo no âmbito jurídico, ou seja, se este é um bem jurídico ou não e, em assim sendo, se
a lesão a ele configuraria categoria autônoma de dano ou apenas uma espécie de dano moral.
5

No que respeita à categorização, o principal argumento para não considerar o dano temporal
como espécie de dano moral reside no fato de o elemento “tempo” não configurar um direito
de personalidade, por não estar estritamente ligado a alguém, como, por exemplo, os direitos à
honra e à imagem, não atendendo, portanto, os critérios da teoria da dupla inerência dos
direitos de personalidade.

Para sustentar o estudo, empregou-se a pesquisa bibliográfica e jurisprudencial,


aplicando-se o método dedutivo para responder se o tempo dispensado pelo consumidor, na
solução de problemas gerados por maus fornecedores, é um bem jurídico; se, em sendo um
bem jurídico, a lesão a esse bem configura modalidade autônoma indenizável ou apenas
espécie de dano moral; e qual a natureza da responsabilidade do fornecedor pela lesão a esse
bem jurídico.

A estrutura do estudo é constituída, inicialmente, por uma seção que trata da


relação jurídica de consumo (1), seguida de seções que tratam, pela ordem: da definição do
que se entende por desvio produtivo do consumidor (2); do tempo produtivo do consumidor
como bem jurídico tutelável pelo ordenamento jurídico (3), que se divide em duas subseções
que cuidam, respectivamente, do tempo como bem jurídico (3.1) e do tempo como bem
jurídico tutelável (3.2); do tempo do consumidor como bem jurídico indenizável (4); do dano
temporal, questionando se se trata de categoria autônoma de dano ou de espécie de dano
moral (5), e da responsabilidade civil objetiva do fornecedor pelo dano decorrente do desvio
do tempo produtivo do consumidor (6).

1. Relação jurídica de consumo

Consoante Tartuce e Neves (2021, p. 79-80), citando Maria Helena Diniz, em


sentido amplo, “a relação jurídica consiste num vínculo entre pessoas, em razão do qual uma
pode pretender um bem a que a outra é obrigada [...]. Só haverá relação jurídica se o vínculo
entre pessoas estiver normado, isto é, regulado por norma jurídica, que tem por escopo
protegê-lo”. Assim, extrai-se de tais lições que constituem elementos de uma relação jurídica:

a) Existência de uma relação entre sujeitos jurídicos, um que seja titular de um


direito e outro que tenha um dever jurídico;
b) Sujeito ativo com poderes sobre o objeto imediato (prestação), e sobre o objeto
mediato da relação (bem jurídico tutelado); e
6

c) Fato ou acontecimento propulsor evidente que enseje consequências no plano


jurídico.

Ainda segundo Tartuce e Neves (op. cit), em se tratando de relação jurídica de


consumo, esses elementos podem ser entendidos da seguinte forma:

a) Sujeitos jurídicos: na relação jurídica de consumo, figuram como sujeitos o


consumidor (sujeito ativo) e fornecedor de produtos e o prestador de serviços (sujeito
passivo). Acrescenta-se que, esses sujeitos são credores e devedores entre si, posto que nessa
relação prevalece a proporcionalidade das prestações, constituindo um sinalagma8;
b) Presença do poder do sujeito ativo sobre os objetos imediato e mediato,
significando dizer que, uma vez convencionado, o consumidor tem o poder de exigir a entrega
do produto ou a prestação do serviço, que são os elementos objetivos formadores da
prestação, na relação de consumo, de acordo com o art. 3º da Lei n. 8.078/1990 (Código de
Defesa do Consumidor).
c) Fato ou acontecimento propulsor que pode gerar consequências no plano
jurídico, que, segundo os mencionados autores, “pode ser um acontecimento, dependente ou
não da vontade humana, a que a norma jurídica dá a função de criar, modificar ou extinguir
direitos. É ele que tem o condão de vincular os sujeitos e de submeter o objeto ao poder da
pessoa concretizando a relação”. Ressalva-se que, em se tratando de direito do consumidor,
esse acontecimento propulsor é, em essência, um negócio jurídico resultante de um acordo de
vontades, não podendo ser independente destas.

2. Desvio do tempo produtivo do consumidor: definição

Uma das consequências da evolução tecnológica e do progresso econômico e


organizacional é a especialização da sociedade

Com a especialização da sociedade veio a interdependência entre nações e


indústrias e um expressivo aumento da produtividade. Esperava-se que essa especialização,
efeito da divisão do trabalho e do desenvolvimento do sistema de trocas ensejasse um efeito
liberador para as pessoas, no sentido de possibilitar a vida com mais liberdade e mais
qualidade de vida (DESSAUNE, 2017, p. 270).

8
Palavra grega que significa “reciprocidade de prestações”. É comum referir-se a contratos bilaterais como
sendo contratos sinalagmáticos, posto que geram obrigações para ambos os contratantes, como nos contratos de
compra e venda, de locação, de transporte e outros.
7

Esse efeito liberador deveria se manifestar na relação de consumo, segundo


Dessaune (2017, p. 270-271), que expõe esse raciocínio da seguinte forma:

[...] o consumo de um produto ou serviço de qualidade, produzido por um


fornecedor especializado na atividade, tem a utilidade subjacente de tornar
disponíveis o tempo e as competências que o consumidor necessita para produzi-lo
para o seu próprio uso. Ou seja, o fornecimento de um produto ou serviço de
qualidade ao consumidor tem o poder de liberar os recursos produtivos que ele
utilizaria para produzi-lo para uso próprio.

Tal não é o que ocorre em determinadas situações, em que pese o Código de


Defesa do Consumidor estabelecer que cumpre ao fornecedor disponibilizar produtos e
serviços de qualidade e seguros, prestar informações claras e adequadas sobre cada produto
ou serviço, agir de boa-fé, não empregar práticas abusivas de mercado, não gerar riscos ou
danos ao consumidor, sanar os vícios que seus produtos ou serviços porventura apresentem,
reparar, de modo espontâneo, rápido e efetivo, os danos que estes ou as práticas abusivas
perpetradas causarem ao consumidor.

Impende ressalvar, antes de mais nada, aquelas situações do cotidiano que trazem
uma sensação de perda de tempo, mais que devem ser toleradas, tais como a espera de
atendimento em consultórios médicos e dentários e outros compromissos que demandam um
tempo que o consumidor gostaria de dedicar a outras atividades. Definitivamente, não são
essas as situações que inviabilizam a vida com mais liberdade e mais qualidade de vida
(ANDRADE, 2008, p. 10-11).

Feita a ressalva, à luz do que dispõe o Código de Defesa do consumidor,


Dessaune (2017, p. 362) observa que ao fornecedor cumpre a realização de duas missões, uma
geral e uma implícita. A missão geral é promover o bem-estar do consumidor e, assim,
contribuir para a existência digna deste. A missão implícita é proporcionar condições para que
o consumidor empregue seu tempo livre e suas competências em atividades que lhe
beneficiem, de sua livre escolha e preferência.

Forte nessas razões, Dessaune (2019, p. 105-106) passa, então, a definir o que
vem a ser o desvio produtivo do consumidor:

Não lhe restando uma alternativa de ação melhor no momento, e tendo noção ou
consciência de que ninguém pode realizar, simultaneamente, duas ou mais
atividades de natureza incompatível ou fisicamente excludentes, o consumidor,
impelido por seu estado de carência e por sua condição de vulnerabilidade, despende
então uma parcela do seu tempo, adia ou suprime algumas de suas atividades
planejadas ou desejadas, desvia as suas competências dessas atividades e, muitas
vezes, assume deveres operacionais e custos materiais que não são seus. O
8

consumidor comporta-se assim ora porque não há solução imediatamente ao alcance


para o problema, ora para buscar a solução que no momento se apresenta possível,
ora para evitar o prejuízo que poderá advir, ora para conseguir a reparação dos danos
que o problema causou, conforme o caso.

Essa série de condutas caracteriza o “desvio de recursos produtivos do consumidor”


ou, resumidamente, o “desvio produtivo do consumidor”, que é o fato ou evento
danoso que se consuma quando o consumidor, sentindo-se prejudicado, gasta o seu
tempo vital – que é um recurso produtivo – e se desvia das suas atividades
cotidianas – que geralmente são existenciais.

Diante dessa definição, constata-se que o desvio dos recursos produtivos do


consumidor é a usurpação injusta do tempo livre do consumidor, é quando o fornecedor
promove o desperdício do tempo livre do consumidor (STOLZE, 2013, p. 32), ultrapassando
o limite do tolerável (NETTO, 2021, p. 319). É aquela situação que não representa mera
sensação de perda de tempo; ao contrário, configura verdadeira apropriação indevida do
tempo livre do consumidor, via de regra resultante do descumprimento ou da demora no
cumprimento de obrigação contratual, ou ainda, de atos ilícitos, consoante pontua Andrade
(2008, p. 10-11):

O mesmo não se pode dizer de certos casos de demora no cumprimento de obrigação


contratual, em especial daqueles em que se verifica desídia, desatenção ou
despreocupação de obrigados morosos, na grande maioria das vezes pessoas
jurídicas, fornecedoras de produtos ou serviços, que não investem como deveriam
no atendimento aos seus consumidores, ou que desenvolvem práticas abusivas, ou,
ainda, que simplesmente vêem os consumidores como meros números de sua
contabilidade.

Intoleráveis, também, são situações em que os consumidores se vêem compelidos a


sair de sua rotina e perder seu “tempo livre” para solucionar problemas causados por
atos ilícitos ou condutas abusivas de fornecedores, muitos dos quais não
disponibilizam meios adequados para receber reclamações ou prestar informações.

Nesse sentido, o desvio do tempo produtivo do consumidor ocorre sempre que o


tempo livre ou o tempo que deveria ou poderia estar sendo dedicado à outras atividades é
injustamente usurpado pelo fornecedor, em decorrência de inexecução ou de falha na
execução de contrato, de ato ilícito ou de mau atendimento, entendido este como sendo aquele
atendimento desprovido de espontaneidade, celeridade, eficiência e efetividade, que, de seu
turno, é consequência da disponibilização de produtos e serviços de má qualidade ou
inseguros, do emprego de práticas abusivas de mercado, de má-fé, ou mesmo do fornecimento
de informações inadequadas ou pouco claras.

3. Tempo produtivo do consumidor como bem jurídico tutelável pelo


ordenamento jurídico
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Hodiernamente, vive-se em uma sociedade que o filósofo BYUNG-CHUL HAN


(2015, p. 69) denomina de “sociedade do cansaço”, que tende a involuir para a “sociedade do
doping”.

Dita “sociedade do cansaço” é a que se caracteriza pela pressão por desempenho


exercida sobre o cidadão, na busca, sempre, do melhor resultado. Noutro dizer, sociedade do
cansaço é a que atrela até mesmo o tempo que deveria ser de lazer à atividade produtiva, na
medida em que esse tempo assume um caráter de recuperador de energia (MORAIS, 1998, p.
52).

Tal é a disposição dessa sociedade na busca por resultados rápidos que se fala até
na existência de um verdadeiro culto à velocidade (KRZNARIC, 2013, p. 119-131 apud
ROSA; MAIA, 2019, p. 28), seja na indústria, no comércio ou no setor de serviços, mas que
está presente, em maior ou menor grau, nas mais diversas áreas do viver humano. Ocorre que,
esse culto à velocidade é mais evidente do lado do fornecedor, do lado da produção, ao passo
que, do ângulo do consumidor, o tempo para a resolução dos problemas que se originam da
relação de consumo pode até mesmo ser desprezado, segundo a doutrina de Bergstein (2019,
p. 94).

É nesse contexto, portanto, que o tempo disponível, ou seja, aquele tempo em que
o cidadão não está engajado nas atividades produtivas do mercado, se torna um fator de
primeira necessidade, essencial para a convivência familiar, para a vida sentimental, para o
descanso, para a dedicação aos estudos, para o lazer. Enfim, torna-se um fator de qualidade de
vida e, em última análise, de saúde.

E é nesse mesmo contexto, agora sob a ótica do cidadão-consumidor, que se


questiona se esse tempo disponível é um bem jurídico, isto é, se pode ser juridicamente
valorado. E mais: se é um bem jurídico tutelável pelo ordenamento jurídico.

3.1 O tempo como bem jurídico

Segundo Cláudia Lima Marques, citada por Bergstein (2019, p. 79), na sociedade
de consumo nada é “casual”, tudo é negócio, tudo é valor. Assim, “o tempo do fornecedor é
valorado como custo ou ônus econômico, de modo que, para efeitos de tutela dos agentes
vulneráveis nos mercados, não há dúvidas que o tempo do consumidor também é valor”.

Bergstein (2019, p. 79-80), de per si, tece o seguinte raciocínio acerca do tempo:
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O tempo, além de ser o meio necessário para vencer distâncias, é um instrumento


fundamental para o desempenho de toda e qualquer atividade humana. E disso se
infere a sua importância também para a ciência do Direito. Se o tempo é um recurso
indispensável ao desempenho de toda a atividade humana, um valor finito, escasso e
não renovável (podendo ter inclusive reflexos patrimoniais) e, mais do que isso,
como enuncia Heidegger (...), é elemento constitutivo da própria existência humana,
então ele invoca e passa a merecer a tutela jurisdicional.

Para Bergstein (2019, p. 80), portanto, o tempo tem relevância jurídica e, na seara
do direito consumerista, há que proteger a percepção subjetiva desse fator, posto que finito –
pelo só fato de constituir elemento constitutivo da própria existência –, escasso e não
renovável. Noutro dizer, ao se atribuir valor jurídico para o tempo no âmbito das relações de
consumo, em especial para o tempo injustamente usurpado do consumidor, pelo fornecedor,
está-se protegendo “os efeitos que a espera injustificadamente prolongada, que a desídia do
parceiro contratual produz no ser humano privado da liberdade de escolher a maneira como
preferiria dispor daquele intervalo.

Borges e Maia (2019, p. 202-203), por sua vez, entram no debate asseverando que
o tempo é valioso, não desperdiçável, não retornável e, muitas vezes, tem-se a percepção de
que transcorre a passos largos, de modo que o Direito não pode ficar alheio a essa questão.
Lembram que a própria Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LXXVIII, atribui valor ao
tempo ao assegurar a todos, no âmbito judicial e administrativo, o direito fundamental à
razoável duração do processo, e que, indiretamente, atribui valor ao tempo ao conferir o
direito social ao lazer, em seu art. 6º. Lembram, ainda, que há até pouco tempo a
jurisprudência tratava o desvio produtivo do consumidor como “mero dissabor da vida”,
entendimento que vem mudando paulatinamente.

Avançando um pouco mais sobre se o desvio produtivo do consumidor é ou não


um bem jurídico, Rigoni e Goldschmidt (2019, p. 65) são taxativos:

Perder o tempo é sinônimo de frustração, é a quebra de um planejamento, algo deixa


de ser feito, ainda que seja desfrutar do ócio. As pessoas, naturalmente, perdem
tempo, por vezes, por terem dedicado esforço demais em algum projeto que não teve
resultados, outras, por não terem gostado da forma como utilizaram o tempo. Porém,
sem dúvidas, a maior frustração pela perda do tempo vem quando o indivíduo é
tolhido do seu direito de dispor do seu tempo por interferência de um terceiro. Algo
ou alguém que contribua de maneira negativa na quebra do planejamento, da rotina.
O tempo não volta. O passado leva consigo um pouco de vida.

A Carta Magna assegurou direitos como a vida, a saúde, a educação, o lazer e o


trabalho, constituindo, todos, expressões do princípio maior da dignidade humana. O
desperdício do tempo produtivo traduz verdadeira lesão ao direito fundamental
social. Segundo a jurisprudência do STF a abertura material do catálogo de direitos
fundamentais abrange além dos direitos individuais, os políticos e sociais.
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Ora, a ciência jurídica tem origem no conflito. Logo, se o direito que assiste o
consumidor de dispor de seu tempo livre da forma que bem lhe convier for tolhido pela
interferência do fornecedor, causando frustração, prejudicando a paz psicológica, interferindo
na liberdade, violando a autodeterminação própria da existência, provocando um dano
existencial ao consumidor, difícil é não admitir que esse tempo não seja um bem jurídico.

A doutrina consumerista, gradativamente, vem admitindo que o tempo é, sim, um


bem jurídico, tendência que já aponta para se tornar majoritária. A jurisprudência, a seu turno,
vem se assentando nesse sentido. Por exemplo:

a) é de 2012 o primeiro julgado do STJ que reconheceu o dever de reparação por


danos morais decorrentes de espera excessiva em fila de banco, ainda que, naquela época,
tenha recorrido a outras circunstâncias fáticas de padecimento moral, tais como a
permanência de pé em fila ou a impossibilidade de uso de sanitário (REsp 1.218.497/MT, Rel.
Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 11/09/2012, DJ-e de 17/09/2012);
b) já em 2017, a Ministra Nancy Andrighi, monocraticamente, consignou em
decisão que “a espera por atendimento em fila de banco quando excessiva ou associada a
outros constrangimentos, e reconhecida faticamente como provocadora de sofrimento moral,
enseja condenação por dano moral” (REsp 1.684.254/RO, Recorrente: Banco do Brasil S. A.,
Recorrido: Cintia Hilene Holanda Barros, publicado em 27/12/2017.

3.2 O tempo como bem juridicamente tutelável

Admitindo-se, portanto, que o tempo disponível do consumidor é um bem


jurídico, a sua tutela tende a ser inevitável.

Tudo começa com a percepção do transcurso do tempo e da consciência da


finitude da vida, segundo Marques e Miragem (2014, p. 215). Para esses autores, essa
percepção e essa consciência é o que mais vulnera o ser humano.

Rosa e Maia, amparados em Krznaric (2013, p. 119-131 e 217), sugerem pensar


no tempo não mais como um fenômeno natural, mas como um fenômeno social, noção esta
que está por detrás da proliferação de livros e cursos de administração do tempo.

Isto posto, é sensato ter em conta que a consciência da finitude da vida, se por um
lado enxerga o tempo como um fenômeno natural que vulnera sobremaneira o ser humano;
por outro, vislumbra o tempo também como um fenômeno social, que tem o condão de
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atenuar essa vulnerabilidade a partir da expectativa de uma vivência humanamente digna e de


um convívio em que os atores respeitem os códigos morais, sociais e legais.

Desse modo, cumpre ao Direito se imiscuir na relação do ser humano com o


tempo a partir da percepção deste como um fenômeno social, porque é nesse ambiente que,
simultaneamente, o ser humano regula o tempo e é por ele regulado.

Trazendo essa percepção do tempo como um fenômeno social para a seara do


direito consumerista, ou seja, para as relações jurídicas de consumo, é inevitável assimilá-lo
(o tempo) como um bem jurídico tutelável, mormente pelo fato de que, em um mundo líquido,
em que reina a modernidade líquida e uma vida para o consumo, no dizer de Bauman (2011,
p. 177), a intensidade desse consumo sujeita o lado mais fraco, o consumidor, a todo tipo de
abuso.

É esta a razão pela qual Teixeira e Augusto (2015, p. 198) entendem tratar-se de
um “verdadeiro bem jurídico” merecedor de tutela, pelo Direito, sempre que lesado. Referidos
autores assim se posicionaram: “Reconheceu-se, ainda que tardiamente, a importância do
tempo na vida das pessoas, passando-se a considerá-lo como verdadeiro bem jurídico,
merecedor da devida tutela jurídica, vedando-se qualquer prática capaz de lesar tal bem”.

Nessa mesma linha de raciocínio, todavia por outras palavras, Terra (2015, p. 219)
pontua o seguinte: “o chamado desvio produtivo de tempo, ou perda do tempo livre, não
decorre da identificação de novo interesse juridicamente tutelado, senão de lesão a interesse
há muito protegido pelo ordenamento jurídico brasileiro: a liberdade”. Ou seja, para Terra, no
ordenamento jurídico pátrio o tempo disponível do consumidor está abrangido pelo direito à
liberdade, garantido no caput do art. 5º da Constituição Federal em vigor.

4. Tempo do consumidor como bem jurídico reparável (indenizável)

Iniciando pelo Código Civil, diploma legal que essencialmente rege o direito
comum, disciplina o modo de ser e de agir das pessoas, verifica-se que nele inexiste definição
de dano, tampouco enumera as lesões a serem tuteladas pelo ordenamento jurídico, do que se
extrai que o legislador fez a opção por um “sistema aberto”, que se caracteriza apenas por
uma cláusula geral de reparação de danos. Isto porque, segundo Farias, Netto e Rosenvald
(2020, p. 655), “O dano pode violar não só direitos subjetivos, mas também interesses
13

legítimos. Abarca não só danos diretos e tangíveis, mas também quebras razoáveis de
expectativas ou frustrações de confiança, entre outras dimensões possíveis”.

Cavalieri Filho (2019, p. 104) vai mais além, pontifica que não se tem uma
definição legal de dano no direito pátrio e que, no seu entender, o critério correto ou ponto de
partida é conceituar o dano pela sua causa, pela sua origem, atentando-se para o bem jurídico
atingido, para o objeto da lesão, esta a razão pela qual conceitua o dano,

[...] como sendo lesão a um bem ou interesse juridicamente tutelado, qualquer que
seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem
integrante da personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade, etc.
Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí
a conhecida divisão do dano em patrimonial e moral.

Na doutrina pretérita de Alvim (1972, p. 172), de forma sintética, encontra-se a


seguinte definição: “[...] o termo dano, em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem
jurídico”.

No presente trabalho, já se argumentou que o desvio produtivo do consumidor ou


o tempo injustamente usurpado do consumidor é um bem jurídico e, por isso mesmo,
merecedor de tutela jurídica. Questiona-se, agora, se é um bem reparável, indenizável, quando
for objeto de lesão perpetrada pelo fornecedor ao ponto de causar frustração, de interferir na
liberdade de disposição do tempo livre, de arruinar a paz psicológica, provocando, segundo a
doutrina de Dessaune (2017, p. 276), um dano existencial.

A doutrina e a jurisprudência avançaram nesse sentido, isto é, o desvio produtivo


do consumidor é reparável. Tanto uma quanto a outra já constatou, por vezes, que o
fornecedor impõe uma verdadeira “via crucis” ao consumidor (MARQUES; BERGSTEIN,
2019, p. 162), para a resolução de problemas de consumo, a despeito dos critérios plasmados
no Código de Defesa do Consumidor, como, por exemplo, a regra disposta no art. 18, § 1º.
Consigna-se, no entanto, que a possibilidade de reparação exsurge quando a resolução do
problema extrapola o razoável.

Em sede de jurisprudência, segundo Donnini (2015, p. 160), considerando a


segunda instância da Justiça Estadual, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro foi o
precursor na concessão de reparação em situações que envolvem o desvio produtivo tanto do
usuário de serviço público, quanto do consumidor. Cita como exemplo as Apelações Cíveis
14

objetos, respectivamente, dos processos n. 0021431-38.2010.8.19.00669 e 0023805-


56.2012.8.19.006610.

No entanto, Marques e Bergstein, em artigo intitulado “Menosprezo planejado de


deveres legais pelas empresas leva à indenização”, de 2016, noticiam o avanço
jurisprudencial, fazendo alusão aos Tribunais de Justiça do Rio Grande do Sul, do Paraná, de
São Paulo, do Distrito Federal e do Maranhão como exemplos de órgãos de segunda instância
do Poder Judiciário dos Estados em que o dano causado pelo desvio produtivo do consumidor
é pauta presente e atual, os quais já se debruçaram sobre o tema e responsabilizaram
fornecedores que impuseram perda de tempo ao consumidor.

5. Dano temporal: categoria autônoma ou espécie de dano moral?

Um dos maiores desafios acerca do desvio produtivo do consumidor tem sido


convencer o Judiciário de que o dano dele decorrente é uma categoria autônoma. De acordo
com Monteiro Filho (2016, p. 87-113), a jurisprudência majoritária classifica o dano temporal
como espécie de dano moral.

Para Borges e Maia (2019, p. 205-207), o reconhecimento do dano temporal como


categoria autônoma depende em grande medida do conceito adotado de dano moral pelo
operador do direito, sendo certo que o dano moral pode ser entendido em “sentido amplo”,
quando não está vinculado a sentimentos humanos desagradáveis, consoante Enunciado n.
445 da V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ 11, ou em “sentido estrito”, situação em que
está conectado a sentimentos negativos, distantes estes de supostos meros aborrecimentos.
Ditos autores arrimam-se na jurisprudência do STJ para assim concluir. Veja-se:

Em verdade, por mais que existam críticas à autonomia do dano temporal, (1) o
conceito de dano moral utilizado constantemente pelo STJ, vinculado à dor
psicológica, e (2) a aceitação da cumulação de danos morais e estéticos (Enunciado
Sumular n. 387/STJ), permitem concluir que há abertura do sistema normativo à
percepção do dano temporal enquanto categoria autônoma no âmbito do conceito do
9
“As informações e orientações equivocadas prestadas ao administrado que pretende reabilitar a sua Carteira
Nacional de Habilitação, que causam a perda do tempo útil, frustrações, aborrecimentos e despesas ensejam a
compensação e ressarcimentos pelos danos morais e materiais causados.” (TJ-RJ – APL 0021431-
38.2010.8.19.0066, Rel. Des. Rogério de Oliveira Souza, j. 16/04/2013, 9ª Câmara Cível, publicação em
28/09/2013).
10
“Evidente abuso perpetrado pelo fornecedor do serviço que enseja a restituição dos valores pagos e a
compensação pelos danos morais sofridos. Descumprimento dos serviços que gera perda de tempo útil,
frustrações e chateações que poderiam ser evitadas com boa vontade e a devida informação sobre a quantidade
de dados que disponibiliza ao usuário e o preço correspondente.” (TJ-RJ – APL 0023805-56.2012.8.19.0066,
Rel. Des. Rogério de Oliveira Souza, j. 16/04/2013, 9ª Câmara Cível, publicação em 06/05/2013.
11
“O dano moral indenizável não pressupõe necessariamente a verificação de sentimentos humanos
desagradáveis como dor e sofrimento”.
15

dano moral em sentido amplo – o mesmo que rendeu a possibilidade de cumular


indenizações de dano estético e moral em sentido restrito.

Marques e Bergstein (2016, op. cit.) pontificam a preocupação da doutrina


especializada em responder se o dano temporal é categoria autônoma ou não. Eis o que dizem
a respeito:

Não há dúvida de que o tempo é valor na sociedade atual e compõe o dano


ressarcível nas relações de consumo, de modo que a sua perda não pode mais ser
qualificada como “mero aborrecimento normal”, como inerente a cada relação
contratual de consumo, - pela honra de consumir - estaria a ‘perda’ desnecessária e
desrazoável de tempo. Atualmente a doutrina especializada preocupa-se em
responder se esse dano extrapatrimonial teria uma natureza autônoma ou se o mais
adequado seria considerá-lo como elemento intrínseco ao dano moral.

Avançamos bastante nesse aspecto da proteção do consumidor, prova disso é que


decisões responsabilizando fornecedores pela imposição da perda do tempo do
consumidor já são encontradas em diversos Estados brasileiros, como, por exemplo,
nos Tribunais de Justiça do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, do Paraná, de São
Paulo, do Distrito Federal e do Maranhão. O Superior Tribunal de Justiça já revelou
sinais de preocupação com o tempo do consumidor ao decidir, por exemplo, que
“configura dano moral, suscetível de indenização, quando o consumidor de veículo
zero quilômetro necessita retornar à concessionária por diversas vezes para reparo
de defeitos apresentados no veículo adquirido.”

Destarte, a título de exemplo, veem o dano temporal como espécie de dano moral:

a) Farias, Netto e Rosenvald (2020, p. 210), que se alinham ao entendimento de


que a lesão ao tempo não configura categoria autônoma, podendo caracterizar dano moral ou
material, e, eventualmente, até a ambos;
b) Garcia (2010, p. 67), para quem a reparação ao consumidor pela perda de seu
tempo livre, por interferência do fornecedor, é “outra forma interessante de indenização por
dano moral”;
c) Andrade (2009, p. 102), segundo o qual a perda do tempo livre amplia o
conceito de dano moral;
d) Teixeira e Augusto (2015, p. 198), reconhecem a importância do tempo na
vida das pessoas, mas, em se tratando de perda do tempo útil do consumidor, a veem como
nova modalidade de dano moral.

Por outro lado, há os que defendem o dano temporal como categoria autônoma.
Exemplifica-se com os seguintes autores:

a) Borges (2017, p. 204), que assimila o dano temporal como nova categoria de
dano autônomo;
16

b) Maia (2013, p. 26-28), que classifica o dano temporal como categoria lesiva
autônoma em “consequência do sistema aberto de tutela da dignidade da pessoa humana e de
responsabilização civil”;
c) Silva Neto (2015, p. 139-162) vislumbra o tempo como “valor reparável
isoladamente”, classificando-o como “subcategoria própria”;
d) Rigoni e Goldschmidt (2019, p. 71) adotam a tese de que o dano temporal é
espécie de “dano imaterial autonomamente reparável”.

Aqui, defende-se a tese da autonomia do dano temporal, isto é, o dano causado


pela usurpação indevida do tempo é categoria autônoma, desvinculada do dano moral. A
peculiaridade argumentativa para categorizar autonomamente o dano temporal reside na ideia
de que o tempo não é dotado da duplicidade de inerência como o são os direitos de
personalidade, que fundamentam o dano moral em sentido estrito, segundo Farias, Netto e
Rosenvald (2020, p. 187). A propósito dos direitos de personalidade, depreende-se que
constituem essências do dano moral.

Assim sendo, o primeiro argumento para não considerar o dano temporal como
espécie de dano moral está relacionado à dupla inerência dos direitos de personalidade.
Segundo essa teoria, a pessoa não é objeto da relação jurídica, é, sim, sujeito da relação
jurídica. Porém, nos direitos de personalidade, aspectos da pessoa podem figurar como objeto
da relação jurídica. Significa dizer que os direitos de personalidade estão não só ligados a
alguém, mas estão também ligados ao objeto da relação. Essa dupla inerência não aparece no
elemento constitutivo do dano temporal, qual seja, o próprio tempo. O tempo não está ligado
a alguém, como a honra e a imagem, por exemplo, mas pode ser objeto da relação jurídica,
como já vem admitindo a doutrina e a jurisprudência, a exemplo do que ocorre nas relações
jurídicas de consumo.

A outra razão para tanto, parte do pressuposto de que o menosprezo ao tempo do


consumidor inviabiliza o mero desfrutar da vida, só ou juntamente com a família ou amigos,
que inclui o lazer e os cuidados com a saúde para um desfrute melhor (por exemplo,
caminhar, viajar de férias com a família ou amigos, apenas gozar do convívio familiar,
consultar um médico ou um advogado, etc.), ou mesmo a realização de outros compromissos
julgados mais importantes ou prioritários para a realização pessoal ou profissional (por
exemplo, estudos, cursos de capacitação, aprendizado de um novo ofício, etc.), ao passo que o
17

dano moral é o que ofende direitos extrapatrimoniais relacionados à personalidade humana,


tais como os direitos à honra, à imagem e à privacidade.

6. A responsabilidade civil objetiva do fornecedor pelo dano decorrente do


desvio do tempo produtivo do consumidor

O objetivo maior do Direito é por ordem na sociedade, garantindo, assim, um


convívio harmonioso entre as pessoas.

A violação de um dever jurídico ou, de outra forma, a lesão a um direito, sujeita o


agente a responsabilização. É função primária da responsabilidade civil obrigar uma pessoa
perante a outra quando, na relação existente entre elas, houver violação de direito.

Alhures, já se defendeu que o desvio do tempo produtivo do consumidor, pelo


fornecedor, provoca dano quando ultrapassa o limite do tolerável, assim como admitiu-se que
o tempo disponível do consumidor pode se revelar um bem jurídico reparável quando
usurpado indevidamente pelo fornecedor, o que dá ensejo à responsabilização civil se ficar
caracterizado o dano, sendo certo que este é elemento essencial da responsabilidade civil.
Assim sendo, a pergunta que se faz é em qual espécie de responsabilidade civil incorre o
fornecedor que causou dano ao consumidor por desvio do tempo produtivo deste.

Antes de adentrar na espécie de responsabilização que recai sobre o fornecedor,


recorre-se à lição de Cavalieri Filho (2019, p. 31) acerca dos tipos de responsabilidade civil.
Eis o que diz esse eminente doutrinador:

4.3 Responsabilidade subjetiva e objetiva

A ideia de culpa está visceralmente ligada à responsabilidade, por isso que, de regra,
ninguém pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o
dever de cautela em seu agir. Daí ser a culpa, de acordo com a teoria clássica, o
principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva.

O Código Civil de 2002, em seu art. 186 (...), manteve a culpa como fundamento da
responsabilidade subjetiva. A palavra culpa está sendo empregada aqui em sentido
amplo, lato sensu, para indicar não só a culpa strictu sensu, como também o dolo.

Por essa concepção clássica, a vítima só obterá a reparação do dano se provar a


culpa do agente, o que nem sempre é possível na sociedade moderna. O
desenvolvimento industrial, proporcionado pelo advento do maquinismo e outros
inventos tecnológicos, bem como o crescimento populacional geraram novas
situações que não podiam ser amparadas pelo conceito tradicional de culpa.

Importantes trabalhos vieram, então, à luz na Itália, na Bélgica e, principalmente, na


França sustentando uma responsabilidade objetiva, sem culpa, baseada na chamada
teoria do risco, que acabou sendo também adotada pela lei brasileira em certos
18

casos, e agora amplamente pelo Código Civil no parágrafo único do seu art. 927, art.
931 e outros [...].

Isto posto, verifica-se que o risco é inerente às relações de consumo e, por isso
mesmo, a doutrina aponta para a responsabilidade civil objetiva nesse tipo de relação. Isto
porque é dever indeclinável do fornecedor atuar no mercado “mediante a observância
imperativa de normas de ordem pública e de interesse social” (SANTANA, 2019, p. 93) Sobre
esse tema, recorre-se, novamente, à doutrina de Cavalieri Filho (2019, p. 31):

4.4 Responsabilidade nas relações de consumo

Em cumprimento ao disposto na Constituição Federal, que em seu art. 5º, XXXII,


determina que o “Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor, em
março de 1991 entrou em vigor o Código de Defesa do Consumidor, cuja disciplina
provocou uma verdadeira revolução em nossa responsabilidade civil.

[...].

E como tudo ou quase tudo em nossos dias tem a ver com o consumo, é possível
dizer que o Código de Defesa do Consumidor trouxe a lume uma nova área de
responsabilidade civil – a responsabilidade nas relações de consumo –, tão vasta
que não haveria nenhum exagero em dizer estar hoje a responsabilidade civil
dividida em duas partes: a responsabilidade tradicional e a responsabilidade nas
relações de consumo.

Veremos que a responsabilidade estabelecida no Código de Defesa do Consumidor é


objetiva, fundada no dever e segurança do fornecedor em relação aos produtos e
serviços lançados no mercado de consumo, razão pela qual não seria também
demasiado afirmar que, a partir dele, a responsabilidade objetiva, que era exceção
em nosso Direito, passou a ter um campo de incidência mais vasto do que a própria
responsabilidade subjetiva.

E assim, também, Schreiber (2019, p. 644). Veja-se:

A Constituição de 1988 abriu novos caminhos, não apenas por força da previsão de
hipóteses específicas (art. 7º, XXVIII; art. 21, XXIII; art. 37, § 6º), mas, sobretudo,
pela inauguração de uma nova tábua axiológica, mas sensível à adoção de uma
responsabilidade que, dispensando a culpa, se mostrasse fortemente comprometida
com a reparação dos danos em uma perspectiva marcada pela solidariedade social.
Atento à nova axiologia constitucional, o Código de Defesa do Consumidor veio
instituir a responsabilidade objetiva do fornecedor de produtos ou serviços, criando
um sistema de responsabilização livre do fator subjetivo da culpa e abrangente de
um vasto campo de relações na sociedade contemporânea.

Santana (2019, p. 87 e 94), ao analisar a responsabilidade civil do fornecedor com


o intuito de provar que a relação de consumo está envolta na teoria do risco, consignou:

A dificuldade de demonstração da culpa e a injustiça da responsabilidade subjetiva


motivaram o esforço doutrinário para a elaboração da teoria do risco e a consequente
responsabilização objetiva. O dever de reparar o dano na forma preconizada pela
teoria do risco decorre de uma imposição legal, prescindindo-se da perquirição do
elemento subjetivo na responsabilidade civil.
19

[...]

Antonio Herman de Vasconcellos Benjamin ensina que a proteção do consumidor


tem duas órbitas distintas de preocupações. A garantia da incolumidade físico-
psíquica é o primeiro aspecto da proteção. É a tutela da saúde e segurança do
consumidor e visa resguardar a vida e a integridade física contra os acidentes de
consumo que os produtos e serviços possam provocar.

[...]

A segunda forma de proteção do consumidor volta-se exclusivamente para o aspecto


patrimonial. A atividade do fornecedor deve corresponder à legítima expectativa do
consumidor, bem como não atentar contra os interesses econômicos deste.

Em síntese, só aparentemente a usurpação indevida do tempo do consumidor para


além do limite do tolerável carece de prova de culpa, posto que, como bem ressalta a doutrina,
o fornecedor tem o dever de observar que as relações de consumo são regidas por normas de
ordem pública e de interesse social e que a proteção do consumidor decorre da natureza
dessas normas, ou seja, cumpre ao fornecedor resguardar a vida e a integridade físico-psíquica
do consumidor contra acidentes de consumo, assim como assegurar a legítima expectativa
deste quanto à segurança e a qualidade dos produtos e serviços postos no mercado.

Considerações Finais

A par dos objetivos geral e específicos estabelecidos e à luz dos resultados obtidos
no levantamento bibliográfico, o estudo constatou, de início, que definir dano moral é tarefa
árdua e que, no cenário brasileiro, vem cabendo à jurisprudência dizer quais agressões
ensejam danos de tal natureza. Isto porque não há, na legislação pátria, uma definição de dano
moral. Até há projetos de lei com esse objetivo, tramitando nas Casas Legislativas federais,
mas essa não deveria ser uma preocupação do legislador, sendo mais apropriada à doutrina.

Contrariamente, o dano causado pelo desvio produtivo do consumidor – dano


temporal – vem trilhando um caminhar diferente. A doutrina pátria despertou o tema, vem
tentando conceituá-lo e categorizá-lo, e a jurisprudência, timidamente, ainda, vem acolhendo
a tese de que a usurpação indevida do tempo livre do consumidor, pelo fornecedor ou
prestador de serviço, merece guarida do direito sem, no entanto, conceituá-lo. Quanto à
categorizá-lo, o Judiciário vem preferindo enquadrá-lo no que já está melhor estabelecido, ou
seja, categorizá-lo como espécie de dano moral.

Nesse caminhar, constatou-se que já houve até mesmo tentativa parlamentar, não
de conceituar dano temporal nem de categorizá-lo, mas de, pelo menos, estabelecer em lei que
20

a lesão ao tempo livre do consumidor estaria abrangida nos danos morais a serem
eventualmente reparados e, desse modo, seria ressarcida, como foi o caso do Projeto de Lei n.
7.356/201512, arquivado em 31/01/2015, do então Deputado Federal pelo Amazonas, Carlos
Souza, que acrescentava o parágrafo único ao art. 6º da Lei n. 8.078/1990 (Código de Defesa
do Consumidor).

Nesse sentido, verificou-se que especialmente doutrinadores consumeristas vem


trabalhando intensa e decididamente no intuito de não só aferir se o tempo do consumidor é
um bem jurídico e de estabelecer as balizas do que seja o dano causado pelo desvio indevido
desse tempo, com vista à solução de problemas causados por fornecedores, mas também de
apurar se é reparável e de definir qual a natureza da responsabilidade civil de quem lhe der
causa. Saber se o tempo injustamente usurpado do consumidor é um bem jurídico é o primeiro
passo, posto que o direito só o protegerá se essa natureza for reconhecida.

Assim, de acordo com os objetivos específicos traçados, constatou-se que já há


forte tendência entre doutrinadores em acolher a tese de que o tempo desviado dos
consumidores para resolver problemas provocados por fornecedores é um bem jurídico
(Alguns usam o termo “valor jurídico”), quanto mais porque não retorna (não pode ser
restabelecido), não pode ser desperdiçado, atinge todos sem distinção. Aduzem, ainda, que é
direito inalienável do cidadão-consumidor dispor de seu tempo como bem entender, sobretudo
de seu “tempo livre”, e não tentando, infrutiferamente, solucionar problemas causados por
terceiros, em razão de ineficiência, incompetência ou ato ilícito.

Constatou-se, também, que a doutrina se divide entre qualificar o dano decorrente


do tempo injustamente desviado do consumidor ou como modalidade autônoma, ou como
espécie de dano moral. Entre os doutrinadores, principalmente entre os novos doutrinadores,
há tendência majoritária em categorizá-lo como modalidade autônoma, ao passo que
doutrinadores menos progressistas preferem qualificar o dano temporal como espécie de dano
moral, seguindo a linha de entendimento que vem sendo traçada pela jurisprudência, em
especial a do Superior Tribunal de Justiça.

Neste particular, o presente estudo concluiu, com base em dois argumentos, que
há razões para que o dano temporal venha a se firmar como categoria autônoma de dano, ou

12
Art. 6º [...]. Parágrafo único. A fixação do valor devido a título de danos morais levará em consideração,
também, o tempo despendido pelo consumidor na defesa de seu direito e na busca de solução para a
controvérsia.
21

seja, que reúne condições para se emancipar da categoria genérica “dano moral”, a qual está
estritamente relacionada aos direitos de personalidade, tais como direito à intimidade, à vida
privada, à honra e à imagem. O primeiro argumento está relacionado à teoria da dupla
inerência dos direitos de personalidade. Segundo essa teoria, a pessoa não é objeto da relação
jurídica, mas, sim, sujeito. Porém, nos direitos de personalidade, aspectos da pessoa podem
figurar como objeto da relação jurídica. Significa dizer que os direitos de personalidade estão
não só ligados a alguém, mas estão também ligados ao objeto da relação. Essa dupla
inerência não aparece no elemento constitutivo do dano temporal, qual seja, o próprio
tempo. O tempo não está ligado a alguém, mas pode ser objeto da relação jurídica.

O segundo argumento parte do pressuposto de que o menosprezo ao tempo do


consumidor inviabiliza o mero desfrutar da vida ou mesmo a realização de outros
compromissos julgados mais importantes ou prioritários para a realização pessoal ou
profissional, ao passo que o dano moral é o que ofende direitos extrapatrimoniais relacionados
à personalidade humana, como os anteriormente citados.

Outrossim, o presente estudo concluiu que apesar das oscilações acerca do


respaldo para a concessão de indenização por dano temporal, se fundado na teoria do dano
moral ou em categoria autônoma de dano, com prevalência do primeiro, esse tempo
injustamente desviado é, sim, reparável mediante indenização compensatória, que é aquela
que não busca restaurar o estado de coisas anterior ao dano, porquanto impossível, mas
compensar o sofrimento do consumidor injustamente submetido à via crucis de ter que dispor
de seu tempo, livre ou não, para resolver problemas gerados por maus fornecedores.
Pontifica-se, no entanto, que esse desvio do tempo do consumidor há de ser aquele que
ultrapassa a barreira do tolerável para que seja reparável.

Por fim, chegou-se à conclusão que o fornecedor, ao submeter o consumidor à


perda injusta de tempo na solução de problemas que causou, incorre em responsabilidade civil
de natureza objetiva, espécie que prescinde de culpa, na medida em que, pelo fato de a relação
de consumo estar envolta na teoria do risco, é dever indeclinável do fornecedor atuar no
mercado “mediante a observância imperativa das normas de ordem pública e de interesse
social” previstas no Código de Defesa do Consumidor e, desse modo, cabendo a ele o dever
de resguardar a vida e a integridade físico-psíquica do consumidor, garantindo a legítima
expectativa deste quanto à segurança e a qualidade dos produtos e serviços postos no
mercado.
22

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