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Resumo: O objetivo do presente artigo é contribuir para o debate acerca do dano causado
pelo desvio produtivo do consumidor ou dano temporal, especialmente sobre a sua natureza,
bem assim da natureza da responsabilidade do fornecedor que incorrer na prática desse tipo de
lesão, nas relações de consumo. Para tanto, reúne considerações que atestam ser o tempo
dispensado pelo consumidor, na solução de problemas gerados por maus fornecedores, um
bem jurídico. A partir da conclusão de que o tempo do consumidor é um bem jurídico,
apresenta elementos que aferem ser esse tempo uma categoria de dano autônoma e
indenizável. Outrossim, conclui que a responsabilidade do fornecedor pelo desvio produtivo
do consumidor é de natureza objetiva. A hipótese é de que o dano temporal pode se firmar
como modalidade autônoma e indenizável, com repercussões de ordem patrimonial e
extrapatrimonial, incidindo o fornecedor em responsabilidade objetiva. A pesquisa enfatizou,
sobretudo, a natureza do tempo no âmbito jurídico, ou seja, se este é um bem jurídico ou não
e, em assim sendo, se a lesão a ele configuraria categoria autônoma de dano ou apenas uma
espécie de dano moral. Para sustentar o estudo, empregou-se a pesquisa bibliográfica e
jurisprudencial, aplicando-se o método dedutivo para responder às seguintes questões: o
tempo dispensado pelo consumidor, na solução de problemas gerados por maus fornecedores,
é um bem jurídico? Em sendo um bem jurídico, a lesão a esse bem configura modalidade
autônoma indenizável ou apenas espécie de dano moral? Qual a natureza da responsabilidade
do fornecedor pela lesão a esse bem jurídico? Em síntese, as conclusões foram as seguintes: o
tempo, nas relações jurídicas, é um bem jurídico tutelável, que, uma vez lesionado, gera dano
autônomo – e não dano moral –, indenizável e enseja responsabilidade objetiva do fornecedor
que provocar a lesão.
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Acadêmico de Direito (Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas – CIESA, Manaus/Amazonas);
matrícula: 0650104369 – E-mail: pcbatista72@outlook.com.
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Orientador; Professor Mestre em ____, pela ____ - E-mail: _____.
3
Co-orientadora; Professora Mestre em Psicologia Comunitária (Centro Universitário de Ensino Superior do
Amazonas – CIESA, Manaus/Amazonas); Mestranda em Ciências Jurídicas (Universidade do Vale do Itajaí –
Univali, Itajaí/Santa Catarina); Mestranda em Ciência Política pela Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias (Portugal) – E-mail: risoleyde@posciesa.com.
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Abstract: The purpose of this article is to contribute to the debate about the damage caused
by the consumer productive deviation or temporal damage, especially about its nature, as well
as the nature of the liability of the supplier who incurs in the practice of this type of injury, in
consumer relations. To this end, it brings together considerations that attest that the time spent
by the consumer, in solving problems generated by bad suppliers, is a legal asset. Based on
the conclusion that the consumer's time is a legal asset, it presents elements that show that this
time is an autonomous and compensable category of damage. Furthermore, it concludes that
the supplier liability for the consumer productive deviation is of an objective nature. The
hypothesis is that temporal damage can be established as an autonomous and compensable
modality, with repercussions of a patrimonial and extra-patrimonial nature, with the supplier
incurring objective liability. The research emphasized, above all, the nature of time in the
legal field, that is, whether it is a legal asset or not and, if so, whether the damage to it would
constitute an autonomous category of damage or just a type of moral damage. To support the
study, the bibliographical and jurisprudential research was employed, applying the deductive
method to answer the following questions: is the time spent by the consumer in the solution of
problems generated by bad suppliers a legal asset? If it is a legal asset, does the injury to this
asset constitute an autonomous modality that can be indemnified or just a type of moral
damage? What is the nature of the supplier responsibility for the damage to this legal asset? In
summary, the conclusions were as follows: time, in legal relations, is a legal asset that can be
protected, which, once injured, generates autonomous damage - and not moral damage - that
can be indemnified and gives rise to objective responsibility of the supplier that causes the
injury.
Introdução
Enfrentar problema causado por fornecedor não é um fato relevante em si, nas
relações de consumo, haja vista que o dito progresso econômico intensifica de tal modo essas
relações que seria inocente imaginar a inexistência ou a ocorrência mínima. Torna-se
relevante quando o fornecedor procrastina intoleravelmente, desarrazoadamente a solução do
problema ou mesmo se furta à responsabilidade de solucioná-lo tempestivamente, fazendo
com que o consumidor disponha de parcela demasiada de seu tempo, desvie o tempo que
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dedicaria a outras atividades para assumir deveres e custos do fornecedor 4, visando a minorar
a lesão.
4
DESSAUNE, Marcos. Teoria aprofundada do desvio produtivo do consumidor: o prejuízo do tempo
desperdiçado e da vida alterada. 2. ed. rev. e ampl. Vitória: Edição Especial do Autor, 2017, p. 31.
5
Art. 18. [...]. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
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Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-
se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de
serviço e de produtos duráveis.
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Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do
serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e
de sua autoria.
4
Diante do contexto ora descrito, este artigo almeja contribuir para o debate acerca
do dano causado pelo desvio produtivo do consumidor, também denominado dano temporal
ou, ainda, dano existencial, sobretudo acerca do tratamento dispensado ao elemento “tempo
usurpado do consumidor” nas relações de consumo, ou seja, objetiva ampliar o debate sobre a
configuração desse tempo como um bem jurídico, e um bem jurídico indenizável sempre que
a lesão ultrapassar a barreira do tolerável, bem assim sobre a natureza da responsabilidade do
fornecedor ou prestador de serviço. Para tanto, reúne considerações e resultados obtidos em
estudos elaborados por doutrinadores que se debruçaram sobre o assunto e na jurisprudência.
No que respeita à categorização, o principal argumento para não considerar o dano temporal
como espécie de dano moral reside no fato de o elemento “tempo” não configurar um direito
de personalidade, por não estar estritamente ligado a alguém, como, por exemplo, os direitos à
honra e à imagem, não atendendo, portanto, os critérios da teoria da dupla inerência dos
direitos de personalidade.
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Palavra grega que significa “reciprocidade de prestações”. É comum referir-se a contratos bilaterais como
sendo contratos sinalagmáticos, posto que geram obrigações para ambos os contratantes, como nos contratos de
compra e venda, de locação, de transporte e outros.
7
Impende ressalvar, antes de mais nada, aquelas situações do cotidiano que trazem
uma sensação de perda de tempo, mais que devem ser toleradas, tais como a espera de
atendimento em consultórios médicos e dentários e outros compromissos que demandam um
tempo que o consumidor gostaria de dedicar a outras atividades. Definitivamente, não são
essas as situações que inviabilizam a vida com mais liberdade e mais qualidade de vida
(ANDRADE, 2008, p. 10-11).
Forte nessas razões, Dessaune (2019, p. 105-106) passa, então, a definir o que
vem a ser o desvio produtivo do consumidor:
Não lhe restando uma alternativa de ação melhor no momento, e tendo noção ou
consciência de que ninguém pode realizar, simultaneamente, duas ou mais
atividades de natureza incompatível ou fisicamente excludentes, o consumidor,
impelido por seu estado de carência e por sua condição de vulnerabilidade, despende
então uma parcela do seu tempo, adia ou suprime algumas de suas atividades
planejadas ou desejadas, desvia as suas competências dessas atividades e, muitas
vezes, assume deveres operacionais e custos materiais que não são seus. O
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Tal é a disposição dessa sociedade na busca por resultados rápidos que se fala até
na existência de um verdadeiro culto à velocidade (KRZNARIC, 2013, p. 119-131 apud
ROSA; MAIA, 2019, p. 28), seja na indústria, no comércio ou no setor de serviços, mas que
está presente, em maior ou menor grau, nas mais diversas áreas do viver humano. Ocorre que,
esse culto à velocidade é mais evidente do lado do fornecedor, do lado da produção, ao passo
que, do ângulo do consumidor, o tempo para a resolução dos problemas que se originam da
relação de consumo pode até mesmo ser desprezado, segundo a doutrina de Bergstein (2019,
p. 94).
É nesse contexto, portanto, que o tempo disponível, ou seja, aquele tempo em que
o cidadão não está engajado nas atividades produtivas do mercado, se torna um fator de
primeira necessidade, essencial para a convivência familiar, para a vida sentimental, para o
descanso, para a dedicação aos estudos, para o lazer. Enfim, torna-se um fator de qualidade de
vida e, em última análise, de saúde.
Segundo Cláudia Lima Marques, citada por Bergstein (2019, p. 79), na sociedade
de consumo nada é “casual”, tudo é negócio, tudo é valor. Assim, “o tempo do fornecedor é
valorado como custo ou ônus econômico, de modo que, para efeitos de tutela dos agentes
vulneráveis nos mercados, não há dúvidas que o tempo do consumidor também é valor”.
Bergstein (2019, p. 79-80), de per si, tece o seguinte raciocínio acerca do tempo:
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Para Bergstein (2019, p. 80), portanto, o tempo tem relevância jurídica e, na seara
do direito consumerista, há que proteger a percepção subjetiva desse fator, posto que finito –
pelo só fato de constituir elemento constitutivo da própria existência –, escasso e não
renovável. Noutro dizer, ao se atribuir valor jurídico para o tempo no âmbito das relações de
consumo, em especial para o tempo injustamente usurpado do consumidor, pelo fornecedor,
está-se protegendo “os efeitos que a espera injustificadamente prolongada, que a desídia do
parceiro contratual produz no ser humano privado da liberdade de escolher a maneira como
preferiria dispor daquele intervalo.
Borges e Maia (2019, p. 202-203), por sua vez, entram no debate asseverando que
o tempo é valioso, não desperdiçável, não retornável e, muitas vezes, tem-se a percepção de
que transcorre a passos largos, de modo que o Direito não pode ficar alheio a essa questão.
Lembram que a própria Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LXXVIII, atribui valor ao
tempo ao assegurar a todos, no âmbito judicial e administrativo, o direito fundamental à
razoável duração do processo, e que, indiretamente, atribui valor ao tempo ao conferir o
direito social ao lazer, em seu art. 6º. Lembram, ainda, que há até pouco tempo a
jurisprudência tratava o desvio produtivo do consumidor como “mero dissabor da vida”,
entendimento que vem mudando paulatinamente.
Ora, a ciência jurídica tem origem no conflito. Logo, se o direito que assiste o
consumidor de dispor de seu tempo livre da forma que bem lhe convier for tolhido pela
interferência do fornecedor, causando frustração, prejudicando a paz psicológica, interferindo
na liberdade, violando a autodeterminação própria da existência, provocando um dano
existencial ao consumidor, difícil é não admitir que esse tempo não seja um bem jurídico.
Isto posto, é sensato ter em conta que a consciência da finitude da vida, se por um
lado enxerga o tempo como um fenômeno natural que vulnera sobremaneira o ser humano;
por outro, vislumbra o tempo também como um fenômeno social, que tem o condão de
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É esta a razão pela qual Teixeira e Augusto (2015, p. 198) entendem tratar-se de
um “verdadeiro bem jurídico” merecedor de tutela, pelo Direito, sempre que lesado. Referidos
autores assim se posicionaram: “Reconheceu-se, ainda que tardiamente, a importância do
tempo na vida das pessoas, passando-se a considerá-lo como verdadeiro bem jurídico,
merecedor da devida tutela jurídica, vedando-se qualquer prática capaz de lesar tal bem”.
Nessa mesma linha de raciocínio, todavia por outras palavras, Terra (2015, p. 219)
pontua o seguinte: “o chamado desvio produtivo de tempo, ou perda do tempo livre, não
decorre da identificação de novo interesse juridicamente tutelado, senão de lesão a interesse
há muito protegido pelo ordenamento jurídico brasileiro: a liberdade”. Ou seja, para Terra, no
ordenamento jurídico pátrio o tempo disponível do consumidor está abrangido pelo direito à
liberdade, garantido no caput do art. 5º da Constituição Federal em vigor.
Iniciando pelo Código Civil, diploma legal que essencialmente rege o direito
comum, disciplina o modo de ser e de agir das pessoas, verifica-se que nele inexiste definição
de dano, tampouco enumera as lesões a serem tuteladas pelo ordenamento jurídico, do que se
extrai que o legislador fez a opção por um “sistema aberto”, que se caracteriza apenas por
uma cláusula geral de reparação de danos. Isto porque, segundo Farias, Netto e Rosenvald
(2020, p. 655), “O dano pode violar não só direitos subjetivos, mas também interesses
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legítimos. Abarca não só danos diretos e tangíveis, mas também quebras razoáveis de
expectativas ou frustrações de confiança, entre outras dimensões possíveis”.
Cavalieri Filho (2019, p. 104) vai mais além, pontifica que não se tem uma
definição legal de dano no direito pátrio e que, no seu entender, o critério correto ou ponto de
partida é conceituar o dano pela sua causa, pela sua origem, atentando-se para o bem jurídico
atingido, para o objeto da lesão, esta a razão pela qual conceitua o dano,
[...] como sendo lesão a um bem ou interesse juridicamente tutelado, qualquer que
seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem
integrante da personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade, etc.
Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí
a conhecida divisão do dano em patrimonial e moral.
Em verdade, por mais que existam críticas à autonomia do dano temporal, (1) o
conceito de dano moral utilizado constantemente pelo STJ, vinculado à dor
psicológica, e (2) a aceitação da cumulação de danos morais e estéticos (Enunciado
Sumular n. 387/STJ), permitem concluir que há abertura do sistema normativo à
percepção do dano temporal enquanto categoria autônoma no âmbito do conceito do
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“As informações e orientações equivocadas prestadas ao administrado que pretende reabilitar a sua Carteira
Nacional de Habilitação, que causam a perda do tempo útil, frustrações, aborrecimentos e despesas ensejam a
compensação e ressarcimentos pelos danos morais e materiais causados.” (TJ-RJ – APL 0021431-
38.2010.8.19.0066, Rel. Des. Rogério de Oliveira Souza, j. 16/04/2013, 9ª Câmara Cível, publicação em
28/09/2013).
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“Evidente abuso perpetrado pelo fornecedor do serviço que enseja a restituição dos valores pagos e a
compensação pelos danos morais sofridos. Descumprimento dos serviços que gera perda de tempo útil,
frustrações e chateações que poderiam ser evitadas com boa vontade e a devida informação sobre a quantidade
de dados que disponibiliza ao usuário e o preço correspondente.” (TJ-RJ – APL 0023805-56.2012.8.19.0066,
Rel. Des. Rogério de Oliveira Souza, j. 16/04/2013, 9ª Câmara Cível, publicação em 06/05/2013.
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“O dano moral indenizável não pressupõe necessariamente a verificação de sentimentos humanos
desagradáveis como dor e sofrimento”.
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Destarte, a título de exemplo, veem o dano temporal como espécie de dano moral:
Por outro lado, há os que defendem o dano temporal como categoria autônoma.
Exemplifica-se com os seguintes autores:
a) Borges (2017, p. 204), que assimila o dano temporal como nova categoria de
dano autônomo;
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b) Maia (2013, p. 26-28), que classifica o dano temporal como categoria lesiva
autônoma em “consequência do sistema aberto de tutela da dignidade da pessoa humana e de
responsabilização civil”;
c) Silva Neto (2015, p. 139-162) vislumbra o tempo como “valor reparável
isoladamente”, classificando-o como “subcategoria própria”;
d) Rigoni e Goldschmidt (2019, p. 71) adotam a tese de que o dano temporal é
espécie de “dano imaterial autonomamente reparável”.
Assim sendo, o primeiro argumento para não considerar o dano temporal como
espécie de dano moral está relacionado à dupla inerência dos direitos de personalidade.
Segundo essa teoria, a pessoa não é objeto da relação jurídica, é, sim, sujeito da relação
jurídica. Porém, nos direitos de personalidade, aspectos da pessoa podem figurar como objeto
da relação jurídica. Significa dizer que os direitos de personalidade estão não só ligados a
alguém, mas estão também ligados ao objeto da relação. Essa dupla inerência não aparece no
elemento constitutivo do dano temporal, qual seja, o próprio tempo. O tempo não está ligado
a alguém, como a honra e a imagem, por exemplo, mas pode ser objeto da relação jurídica,
como já vem admitindo a doutrina e a jurisprudência, a exemplo do que ocorre nas relações
jurídicas de consumo.
A ideia de culpa está visceralmente ligada à responsabilidade, por isso que, de regra,
ninguém pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o
dever de cautela em seu agir. Daí ser a culpa, de acordo com a teoria clássica, o
principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva.
O Código Civil de 2002, em seu art. 186 (...), manteve a culpa como fundamento da
responsabilidade subjetiva. A palavra culpa está sendo empregada aqui em sentido
amplo, lato sensu, para indicar não só a culpa strictu sensu, como também o dolo.
casos, e agora amplamente pelo Código Civil no parágrafo único do seu art. 927, art.
931 e outros [...].
Isto posto, verifica-se que o risco é inerente às relações de consumo e, por isso
mesmo, a doutrina aponta para a responsabilidade civil objetiva nesse tipo de relação. Isto
porque é dever indeclinável do fornecedor atuar no mercado “mediante a observância
imperativa de normas de ordem pública e de interesse social” (SANTANA, 2019, p. 93) Sobre
esse tema, recorre-se, novamente, à doutrina de Cavalieri Filho (2019, p. 31):
[...].
E como tudo ou quase tudo em nossos dias tem a ver com o consumo, é possível
dizer que o Código de Defesa do Consumidor trouxe a lume uma nova área de
responsabilidade civil – a responsabilidade nas relações de consumo –, tão vasta
que não haveria nenhum exagero em dizer estar hoje a responsabilidade civil
dividida em duas partes: a responsabilidade tradicional e a responsabilidade nas
relações de consumo.
A Constituição de 1988 abriu novos caminhos, não apenas por força da previsão de
hipóteses específicas (art. 7º, XXVIII; art. 21, XXIII; art. 37, § 6º), mas, sobretudo,
pela inauguração de uma nova tábua axiológica, mas sensível à adoção de uma
responsabilidade que, dispensando a culpa, se mostrasse fortemente comprometida
com a reparação dos danos em uma perspectiva marcada pela solidariedade social.
Atento à nova axiologia constitucional, o Código de Defesa do Consumidor veio
instituir a responsabilidade objetiva do fornecedor de produtos ou serviços, criando
um sistema de responsabilização livre do fator subjetivo da culpa e abrangente de
um vasto campo de relações na sociedade contemporânea.
[...]
[...]
Considerações Finais
A par dos objetivos geral e específicos estabelecidos e à luz dos resultados obtidos
no levantamento bibliográfico, o estudo constatou, de início, que definir dano moral é tarefa
árdua e que, no cenário brasileiro, vem cabendo à jurisprudência dizer quais agressões
ensejam danos de tal natureza. Isto porque não há, na legislação pátria, uma definição de dano
moral. Até há projetos de lei com esse objetivo, tramitando nas Casas Legislativas federais,
mas essa não deveria ser uma preocupação do legislador, sendo mais apropriada à doutrina.
Nesse caminhar, constatou-se que já houve até mesmo tentativa parlamentar, não
de conceituar dano temporal nem de categorizá-lo, mas de, pelo menos, estabelecer em lei que
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a lesão ao tempo livre do consumidor estaria abrangida nos danos morais a serem
eventualmente reparados e, desse modo, seria ressarcida, como foi o caso do Projeto de Lei n.
7.356/201512, arquivado em 31/01/2015, do então Deputado Federal pelo Amazonas, Carlos
Souza, que acrescentava o parágrafo único ao art. 6º da Lei n. 8.078/1990 (Código de Defesa
do Consumidor).
Neste particular, o presente estudo concluiu, com base em dois argumentos, que
há razões para que o dano temporal venha a se firmar como categoria autônoma de dano, ou
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Art. 6º [...]. Parágrafo único. A fixação do valor devido a título de danos morais levará em consideração,
também, o tempo despendido pelo consumidor na defesa de seu direito e na busca de solução para a
controvérsia.
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seja, que reúne condições para se emancipar da categoria genérica “dano moral”, a qual está
estritamente relacionada aos direitos de personalidade, tais como direito à intimidade, à vida
privada, à honra e à imagem. O primeiro argumento está relacionado à teoria da dupla
inerência dos direitos de personalidade. Segundo essa teoria, a pessoa não é objeto da relação
jurídica, mas, sim, sujeito. Porém, nos direitos de personalidade, aspectos da pessoa podem
figurar como objeto da relação jurídica. Significa dizer que os direitos de personalidade estão
não só ligados a alguém, mas estão também ligados ao objeto da relação. Essa dupla
inerência não aparece no elemento constitutivo do dano temporal, qual seja, o próprio
tempo. O tempo não está ligado a alguém, mas pode ser objeto da relação jurídica.
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