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Tradução por:
JULIA BARROS
1
Ver Robert A. Baruch Bush & Joseph P. Folger, The Promise Of Mediation: responding to conflict
through empowerment and recognition. Jossey-Bass, (1994); Robert A. Baruch Bush & Joseph Folger, La
Promesa De Mediación, Granica, 1996; Robert A. Baruch Bush & Joseph P.Folger, The promise of
mediation: the transformative approach to conflict, Jossey-Bass, 2005; Joseph P. Folger & Robert A.
Baruch Bush, Designing Mediation: Approaches to Training and Practice within a Transformative
Framework, Institute for the Study of Conflict Transformation, 2001.
2
Para um exemplo de como differente modelos colocam em prática diferentes concepções dos
mesmos conceitos, veja Dorothy Della Noce, Seeing Theory in Practice: An Analysis of Empathy in
Mediation, 15 Negotiation Journal 271-301, 1999.
novas “ferramentas” para a caixa de ferramentas profissional, ao aprender estratégias
individuais e descontextualizadas (ex.: técnicas de comunicação, truques, dicas e
métodos). Esta abordagem da “caixa de ferramentas”, de aprender e praticar
mediação, era considerada profícua porque capacitava os praticantes a recorrer a um
conjunto de táticas intervencionistas e a fazer uso deste conjunto em diferentes
situações ou acontecimentos na sessões de mediação.
O problema com a metáfora do toolbox e o tipo de prática de mediação que
suscita é que ignora o fato de que toda ferramenta serve a um propósito.
Qualquer técnica de mediação pode ser utilizada para uma grande variedade de
objetivos dependendo das metas implícitas ou explícitas do mediador ao utilizá-las.
Um caucus, por exemplo (a reunião com um dos mediandos), pode ser utilizado
pelo mediador para motivar um participante intransigente a questionar o seu
posicionamento. No caucus, o mediador pode se sentir mais confortável para estimular
o participante relutante a sair de sua posição radical porque este estímulo pode ser
feito sem que o outro participante saiba. Alternativamente, o caucus pode ser usado
pelo mediador para ajudar a parte a pensar a respeito do que ele ou ela quer falar, ou
não, para a outra pessoa nas negociações durante uma sessão conjunta. No primeiro
caso, o mediador usa o caucus para ajudar a parte a decidir o que ele ou ela quer dizer
ou fazer, tendo portanto uma função de empoderamento.3 No segundo caso, o caucus é
utilizado para influenciar ou convencer a parte a mudar sua posição a respeito da
questão em discussão. Estas são visões muito diferentes de como o mediador deve
fazer uso das reuniões individuais. Estas diferentes práticas, relacionadas ao
comportamento do mediador durante as reuniões particulares, baseiam-se em
concepções muito diferentes do próposito central do mediador na condução da sua
prática.
A maioria dos mediadores acredita que precisa ter domínio da escuta. A
habilidade da escuta também nunca está desvinculada do seu propósito. Os
mediadores sempre ouvem os mediandos com um objetivo em mente, e fazem uso
destas informações para atingir algum objetivo que conceberam em relação aos
mediandos para intervir no conflito. A escuta do mediador pode ter grande variedade
de propósitos: diagnosticar as questões dos mediandos, identificar necessidades
subjacentes, afastar os participantes do processo de um posicionamento
aparentemente ilógico ou auto destrutivo, desconstruir a narrativa pessoal ou resumir
o que disseram para que possam refletir a respeito de suas próprias visões e as visões
do outro.
Cada uma destas atitudes ao escutar, reflete uma intenção muito diferente e
portanto levam o mediador a encaminhar o seu trabalho de maneira diferente. Estas
intenções geradas a partir da escuta estão vinculadas ao escopo da própria mediação.
A Mediação Transformativa abordou essa necessidade cabal de esclarecer qual
é a meta subjacente da prática da mediação.
3
Nota da Tradução: a expressão é um anglicismo, não existe no dicionário ainda. Implica em uma
ação ou atitude que confere poder; torna a pessoa mais autoconfiante.
Os parâmetros transformativos foram construídos a partir de um propósito
ideológico claramente colocado para o mediador, e demonstram como um conjunto de
habilidades intervencionistas específicas, pode ser consistentemente utilizado para dar
suporte à realização deste propósito explícito e transformativo.4 Neste sentido, a
mediação transformativa desafiou o pressuposto comum no campo da mediação de
que colecionar e ter domínio das técnicas ou ferramentas de comunicação e
simplesmente colocá-la em prática, é uma abordagem efetiva para tornar-se um
praticante competente. Em vez disso, os parâmetros transformativos enfatizam a
necessidade de se ter um propósito claro como fundamentação para o uso de qualquer
conjunto de habilidades que os mediadores possuam e que tornar-se um praticante
competente significa estar ciente e dedicado a um propósito claro para a prática.
4
Joseph. P. Folger & Robert A. Baruch Bush, Developing Transformative Training: A View from the
Inside. Designing Mediation: Approaches to Training and practice within a Transformative Framework,
168-182. Joseph P. Folger & Robert A. Baruch Bush, eds. 2001.
5
Nota da Tradução: Procedimentos usualmente utilizados no sistema Common Law e não tem
correspondência aos métodos na Civil Law. Os métodos mencionados não existem no sistema jurídico
brasileiro e não possuem equivalência, exceto é claro, processos judiciais e arbitragem.
pelos outros. Por este motivo, juizes e árbitros são necessários para resolver os
conflitos para as pessoas. Ademais, os métodos mais formais também pressupõe que
os mediandos estão envolvidos nos seus próprios pontos de vista e não podem
considerar ou reconhecer as perspectivas e situações do outro. Juizes e árbitros
precisam então levar em conta várias perspectivas ao decidir um resultado ou os
termos do acordo para uma disputa. Estes pressupostos estabelecem a necessidade de
juízes e árbitros conterem os conflitos ao tomar decisões por eles e limitar a interação
entre eles. Em contraste, o potencial único da mediação se baseia na visão mais
otimista da capacidade das pessoas de lidarem com os seus próprios conflitos. Esta é a
visão que a abordagem transformativa busca adotar na afirmação do seu propósito e
na realização da sua prática.6Este compromisso absoluto com esta visão preserva a
singularidade da mediação e o seu valor como possibilidade e alternativa.
6
Joseph P. Folger & Robert A. Baruch Bush, Transformative Mediation and Third Party
Intervention: Ten Hallmarks of a Transformative Approach to Practice, 13, Mediation Quarterly, 263-278,
1996.
propósito do mediador não é o de formatar resultados ou escolhas, e sim de apoiar mudanças na interação entre as
mediandos da mediação, permitindo a realização de delimitar a sua conversa.9Em alguns casos, os mediandos
escolhas esclarecidas e sustentáveis baseadas numa maior discordam a respeito das regras e precisam falar sobre
compreensão das questões envolvidas e das pessoas ali essas diferenças ou sobre a importância de tê-las. O
envolvidas também. mediador facilita essa discussão para ajudar as mediandos
Esta abordagem pressupõe que, se a interação no conflito a compreenderem as diferentes visões a respeito de como
é apoiada e facilitada por um mediador treinado, os querem ter a
mediandos são capazes de encontrar o equilíbrio entre o
fortalecimento e clareza individual (empoderamento) e a
conexão social (reconhecimento) que pode ter sido 7
Bush and Folger, supra note 1 at 251.
perdida na espiral descendente da interação decorrente 8Folger and Bush, supra note 5, at 30-31; Folger & Bush, Ideology,
do conflito. A mudança na interação destrutiva permite Orientations to Conflict, and Mediation Discourse. New Directions in
que as pessoas presas em questões emocionais e Mediation. Joseph P. Folger and Tricia Jones, eds., 1994.
desagregadoras possam recorrer a sua capacidade 9
Para uma descrição da abertura de uma sessão de mediação
inerente de ação e conexão humana para enfrentar os transformativa veja Sally Pope, Beginning the Mediation: Party
desafios difíceis que o conflito cria. Isso significa que Participation Promotes Empowerment and Recognition. Designing
apesar dos mediadores terem um papel definido no apoio Mediation: approaches to training and practice within a transformative
framework, 85-95. Joseph P. Folger and Robert A Baruch Bush, eds.,
à transformação da interação do conflito, o controle do 2001.
mediador sobre as questões e a expressão das mediandos
é contraproducente, porque diminui a oportunidade para
os mediandos perceberem as suas próprias capacidades
humanas de um maior auto empoderamento e
reconhecimento interpessoal. Em outras palavras, a
diretividade e controle do mediador inviabilizam as metas
da prática transformativa.7
10
Para uma discussão da inter-relação do processo de mediação e o conteúdo das disputas das
mediandos, veja Joseph P. Folger Who Owns What in Mediation? Seeing the Link Between Process and
Content. Designing Mediation: approaches to training and practice within a transformative framework,
55-61, Joseph P. Folger & Robert A. Baruch Bush, eds., 2001.
11
Folger & Bush, supra note 5, at 31-32.
12
Veja por exemplo, Jay Folberg and Allison Taylor, Mediation: A comprehensive guide to
resolving conflicts without litigation. Jossey-Bass, 1984; Kathy Domenici, Mediation: empowerment in
conflict, Waveland Press, 1996. A visão típica da abordagem com fases pode incluir: abertura do
mediador; storytelling; identificação de necessidades subjacentes; encontrar o lugar comum, redação do
acordo.
estabelecidas não são utilizadas na prática transformativa, a cada momento da sessão.13 Essas fases tiram o foco da
porque esse modo de trabalhar não ajuda e não estimula interação e instigam a adoção de uma “macro-visão” das
o mediador a manter-se focado na interação que acontece questões e tópicos. Esta visão estimula a adoção de
agendas e metas pré-estabelecidas antes que os diferente à medida em que se desenrola a interação dos
mediandos possam expressar suas visões e se escutarem. mediandos no processo. Deste modo, os mediandos
O mediador acaba fazendo um diagnóstico a partir do seu
ponto de vista e enfatiza mais os pontos de acordo do que
os de desacordo. Todas estas intervenções diretivas são 13
passíveis de acontecer quando os mediadores dependem Dorothy Della Noce, Mediation as a Transformative Process: Insights
on Structure and Movement. Designing Mediation: Approaches to
de um mapa das fases do processo para guiar sua prática Training and Practice within a Transformative Perspective, 71-84.
durante a sessão de mediação. O modelo de fases coloca oJoseph P. Folger & Robert Baruch Bush, eds., 2001.
mediador na posição de “guiar” as mediandos no 14
Já que grande parte dos modelos de fases do processo de mediação
processo, porque direciona a interação das mediandos de culmina com uma fase de acordo escrito, o pressuposto é de que o
acordo com o “mapa” do mediador que determina para mediador precisar chegar num acordo para “completar”as fases. Isso
aonde deve ir a interação.14 Essas fases fundamentam a faz com que o mediador se sinta compelido a fazer com que as
mediandos cheguem necessáriamente a um acordo.
prática diretiva na mediação, prática esta que afasta o foco
da interação e deprecia o controle dos mediandos sobre o
direcionamento da sua própria disputa.
Na visão transformativa da prática, o foco do mediador
está nos padrões que se desvelam à medida em que a
interação acontece – não em fases pré-estabelecidas.
Estes padrões são construídos pelas mediandos assim que
começam a interagir, e eles mudam e evoluem no
desenrolar da reunião. O mediador trabalha com esses
padrões e ajuda nos vários pontos de facilitação:
levantamento de questões, discussão de como a conversa
está sendo feita, a expressão dos respectivos pontos de
vista, esclarecimento das atitudes e sentimentos a
respeito dos assuntos e as decisões a respeito da
importância de cada pauta.
Muitas vezes a comunicação no conflito evolui em espirais
de interação durante a sessão da mediação, construídas a
partir do histórico dessa interação. Os mediandos
discutem questões logo no início da mediação e depois
retomam as mesmas questões (ocasionalmente, várias
vezes) e posteriormente têm conversas com outra
qualidade a respeito dessas questões durante a mesma
reunião. A natureza da conversa muda por conta do que
acontece na reunião incluindo novas informações trocadas
entre as mediandos, o aumento na clareza pessoal a
respeito das questões e uma compreensão maior da
perspectiva alheia. Este tipo de acontecimento pode
mudar a natureza da conversa das mediandos a respeito
dos mesmos tópicos ou questões quando “reaparecerem
na mediação. Os mediadores transformativos estão
sempre atentos a estas espirais de interação no conflito.
Esperam a emergência destas espirais de interação na
sessão e muitas vezes apontam para os mediandos como
as mesmas questões estão sendo discutidas de forma
Formatado: Português (Brasil)
enxergam a evolução da interação no conflito e como isso afeta seu ponto de vista
pessoal e o processo de tomada de decisão.
Mediadores permitem e apoiam segmentos ininterruptos de interação entre as
mediandos.
Na prática transformativa, enfatiza-se o apoio a mudanças na interação entre os
mediandos em conflito. Logo, os mediadores tomam cuidado para não impedir ou
atrapalhar essa interação. O mediador não está ali para se certificar de que entendeu
as questões ou pontos de vista das mediandos e sim para ajudar os mediandos a
esclarecerem o que querem dizer e colocar enquanto tomam decisões a respeito das
questões que os separam. Os mediadores não conseguem trabalhar com a interação
das mediandos se eles impedem os mediandos de falarem entre si ou se enfatizam a
importância de dirigirem a palavra continuadamente para o mediador ao longo do
processo. Isso significa que os mediadores transformativos precisam se sentir
confortáveis numa interação difícil no conflito- interação que geralmente se baseia na
falta de empoderamento dos mediandos e na dificuldade de enxergar a perspectiva do
outro.
Mediadores facilitam a expressão emocional à medida em que ocorrer a
interação entre as mediandos
Em alguns modelos de prática, a expressão de emoção dos mediandos é vista
como uma ameaça para resultados bem sucedidos ou produtivos. A expressão
emocional é vista como sendo inconsistente com o processo racional de resolução de
problemas, que é considerado fundamental na intervenção efetiva. Na prática
transformativa, a expressão emocional é vista como corolário inerente da interação no
conflito.15 Todos os conflitos significativos são considerados emocionais para os
mediandos de alguma forma, ou até certo ponto. A emocionalidade integra a
experiência do conflito e é um meio através do qual os mediandos se expressam. Negar
esta característica do conflito é ignorar a natureza da experiência das mediandos nos
seus conflitos a respeito de questões difíceis. Mediadores transformativos aprendem a
trabalhar com a emocão no conflito, contando com a mesma abordagem da
transformação da interação das mediandos que usam quando ajudam os mediandos a
encarar questões importantes, ou quando falar sobre como a comunicação está se
dando entre eles.
Mediadores dão foco e apoiam as oportunidades de maior empoderadamento e
reconhecimento entre os mediandos que surgirem nesta interação
Ao longo do processo, os mediadores transformativos sustentam o foco na
expressão de fraqueza dos mediandos (ex: expressões de falta de clareza, confusão,
incerteza etc.) enquanto interagem a respeito das questões ou tópicos que os dividem.
O mediador trabalha com as expressões destes estados de fraqueza e autoabsorção
para ajudar as mediandos a se movimentarem para um maior empoderamento e
reconhecimento. Este movimento é geralmente composto de pequenos passos
incentivadores. Os mediadores contam com um conjunto de habilidades de
15
Folger and Bush, supra note 5 at 28.
comunicação sempre almejando atingir o propósito da prática transformativa:
propiciar, empoderar mudanças na qualidade da interação no conflito ao fomentar o
empoderamento e o reconhecimento.
Apesar do foco no empoderamento e reconhecimento ajudar os mediadores a
evitar a abordagem diretiva prematuramente focada na resolução e no acordo, isso não
significa que os mediandos que participam da mediação transformativa não firmem
acordos. Pesquisas a respeito da prática transformativa indicam que os mediandos
“resolvem”– equacionam ou liquidam suas questões aproximadamente em 60-65% do
tempo.16 A mediação transformativa oferece um fórum para os mediandos tratarem
das questões e o suporte para avançarem sem que o mediador imponha ou dirija
qualquer resultado. Portanto, quando as questões são resolvidas, os mediandos é que
construíram suas próprias soluções para seus próprios problemas e estabeleceram seus
próprios acordos. O foco persistente na interação e não no possível acordo é que
garante que os acordos tenham sido criados pelos próprios mediandos.
16
Cynthia J. Halberlin, Transforming Workplace Culture Through Mediation: Lessons Learned
from Swimming Upstream, 18 Hofstra Labor and Employment Law Journal, 375-383 (2001); Para outros
resultados da implementação da mediação transformativa veja: Lisa Bingham & M. Cristina Novac,
Mediation’s Impact on Formal Discrimination Complaint Filing: Before and After the REDRESS Program at
the United States Postal Service, 221 Review of Public Personnel Administration, 2001.
James R. Antes, Joseph P. Folger & Dorothy Della Noce, Transforming Conflict in the Workplace:
Documented Effects of the USPS REDRESS Program, 18 Hofstra Labor and Employment Law Journal, 429-
467 (2001).
17
Folger & Bush, supra note 5 at 169.
18
Dorothy Della Noce, Robert A. Baruch Bush and Joseph P. Folger, Clarifying the Theoretical
Underpinnings of Mediation: Implications for Practice and Policy, 3 Pepperdine Dispute Resolution. Law
Journal 39-66 (2002).
compreensões experienciais destes conceitos e examinam o empoderamento e o reconhecimento e também o impacto
valor de cada um e a inter-relação entre eles no conflito.19 que estas mudanças têm sobre a transformação na
interação das mediandos. Os mediadores precisam ser
– Reconhecer as pequenas mudanças em direção ao capazes de apoiar mudanças na interação com clareza, no
entendimento a respeito de como estas mudanças se within a Transformative Framework, 112-132. Joseph P. Folger and Robert
desenvolvem e se somam com a passagem do tempo, A. Baruch Bush, eds., 2001.
20
independentemente dos resultados específicos da sessão de No treinamento de mediação transformativa, as técnicas de
mediação. comunicação não são ensinadas sem ter um propóstio claro para o uso
das mesmas. Deste modo, as técnicas de comunicação são sempre
– Aprender a antecipar e a trabalhar com uma interação aplicadas com um propósito específico, relacionados as metas
difícil, no conflito que ocorre quando os mediandos complementares: empoderamento e reconhecimento e a relação entre
eles.
encontram-se no estado de fraqueza e autocentramento. Os
mediadores sentem-se confortáveis para facilitar uma
interação difícil e controlam seus impulsos de conter o
conflito, mais do que apoiar a sua transformação…
– Praticar habilidades específicas de comunicação que
apoiam mudanças em direção a um maior empoderamento
e reconhecimento. Os mediadores dominam uma série de
habilidades (espelhamento, resumo, checking ou verificação
etc.) e aprendem que cada técnica pode ser utilizada para
apoiar empoderamento e/ou reconhecimento.20
– Aprender quando intervir enquanto a interação se
desenrola. Os mediadores aprendem a importância do fluxo
e a espiral da interação das mediandos e quando devem
intervir neste fluxo. Isso requer um equilíbrio delicado de
intervenções e de contenção.
19
Para ilustrações a respeito de como identificar empoderamento e
reconhecimento na interação no conflito ver Janet Kelly Moen, Donna
Turner Hudson, James R. Antes, Erling O. Jorgensen, and Linda H.
Hendrikson, Identifying Opportunities for Empowerment and Recognition Formatado: Inglês (Estados Unidos)
in Mediation. Designing Mediation: Approaches to Training and Practice
mediandos não continuarão se relacionando e não terão qualquer interação futura. A
interação dos mediandos é o cerne de qualquer conflito não importa qual a duração de
tempo da interdependência. A qualidade desta interação no conflito é relevante para a
experiência vivida e para os resultados criados pelas mediandos.
Um locatário e o proprietário precisam interagir para decidir como tratar das
despesas de uma reforma necessária no apartamento, mesmo que o locatário decida
sair do apartamento imediatamente depois da mediação. O conflito de um paciente
com um administrador de hospital ou médico se desenvolve através da interação entre
eles, mesmo que o paciente nunca mais veja o administrador ou médico após o
término do caso. Um cliente que tem uma queixa contra o dono de uma loja precisa
interagir com o lojista a respeito de como a queixa será abordada mesmo que o cliente
tenha a intenção de jamais voltar aquele estabelecimento. O foco no empoderamento
e reconhecimento é importante em todas estas disputas enquanto os mediandos
encaram as questões porque a qualidade da interação é essencial para o
desenvolvimento e evolução destes conflitos. Em suma, o foco na mediação
transformativa é o de apoiar mudanças na qualidade da interação não obstante a
duração da relação entre as mediandos.
A Mediação Transformativa apoia qualquer decisão dos mediandos a respeito
das suas questões ou relacionamento
A Mediação Transformativa vem se consolidando com um grande apelo porque
permite uma maior compreensão e clareza a respeito das questões e auxilia a tomada
de decisão a respeito das questões que separam os mediandos. Transformar a
interação no conflito durante a mediação não significa que os mediandos
necessariamente continuem sua relação após o término da mediação. A continuidade
ou não da relação depende da decisão das mediandos. Em alguns casos, um ou todos
os mediandos optam por romper a relação ou se distanciarem por conta do resultado
da sua participação na mediação. Se o mediador insistir que os mediandos mantenham
ou recuperem a relação, isso é uma violação do princípio do ‘empoderamento’ que
fundamenta o modelo transformativo. Os mediandos sempre decidem se a relação
continuará ou não. Decisões sobre relacionamentos são tratadas da mesma maneira
que decisões a respeito de outras questões. A distinção da mediação transformativa é
que os mediandos ao decidirem porventura encerrar a sua relação, esta decisão será
tomada com maior clareza, compreensão e calma. Não será resultado de um impulso
confuso ou reativo. A qualidade da interação é diferente e mais construtiva já que
foram apoiados pelo processo transformativo para tomar essa decisão.
A Mediação Transformativa pode ter efeitos positivos para além da participação
dos mediandos nas sessões de mediação
A Mediação Transformativa vem sendo adotada em alguns contextos
institucionais e organizacionais porque oferece a possibilidade de “upstream effects”.21
O líder do programa para Disputas Discriminatórias entre Funcionários do Correio
Americano criou o termo “upstream effects” para descrever um conjunto de
21
N.T. Pode ser traduzido como “efeito contracorrente”.
resultados possíveis que o processo de mediação transformativa pode gerar.22 Neste
programa organizacional nacional, 3.000 mediadores externos foram treinados na
abordagem transformativa para conduzir a mediação numa ampla variedade de
disputas funcionário-funcionário e funcionário-gestor. O termo “upstream effects” se
referia à possibilidade de que a experiência do funcionário na mediação transformativa
pode potencialmente ter um impacto positivo nas interações organizacionais futuras
após deixarem a sala de mediação. A esperança era de que a experiência coletiva dos
que participam no processo de mediação poderia, ao longo do tempo, ajudar a
transformar a cultura do ambiente de trabalho como um todo.23
A natureza da prática transformativa tornou a possibilidade de upstream effects
uma expectativa razoável. A Mediação Transformativa oferece uma experiência que
permite que as pessoas encontrem novas maneiras de interagir diante das diferenças
pessoais, incompatibilidade e iniquidade, e os desafios diários da vida no trabalho. A
linha transformativa possibilita os upstream effects porque foi criada para apoiar as
pessoas no seu empenho ao enfrentar questões difíceis, sem ser dirigido ou avaliado
por uma terceira parte. É o engajamento dos mediandos com o seu próprio conflito na
mediação apoiada por um habilidoso interventor que possibilita o desenvolvimento
pessoal daqueles que participam no processo de mediação transformativa. Pesquisas
realizadas a respeito dos efeitos do programa do Correio Americano sugerem que os
upstream effects ocorreram nessa organização através da participação de funcionários
e gestores na mediação transformativa.24
22
Cynthia J. Halberlin supra note 12 at 377.
23
Esta meta foi particularmente importante para esta organização porque a cultura do Correio
era notóriamente adversarial e negativa. Os possíveis efeitos postitivos na cultura organizacional foi
importante para líderes no Correio que financiaram este programa de mediação.
24
Jonathan F. Anderson & Lisa Bingham, Upstream Effects from Mediation of Workplace
Disputes: Some Preliminary Evidence from the Unted States Postal Service, 48 Labor Law Journal, 607-
608, 1997.
Contudo, como qualquer questão ou tópico que os mediandos podem levantar
na mediação, questões culturais, étnicas ou raciais são facilitadas pelo mediador se os
mediandos decidirem que estas questões são importantes e devem ser abordadas na
conversa. Não é responsabilidade do mediador identificar ou apontar estas questões se
os participantes não as trouxerem. Mas a liberdade que os mediandos têm de discutir
as questões que querem discutir e a disposição dos mediadores de trabalharem com
qualquer uma das questões cria a possibilidade de abordar crenças arraigadas ou
pontos de vista que os mediandos acreditam ser o âmago do seu conflito.25 Líderes de
diversos programas de mediação comunitária, adotaram a mediação transformativa
porque enxergaram nela um meio de efetivamente trabalhar com tipos de conflitos
culturais e étnicos que caracterizam muitas das disputas nos bairros e nas comunidades
que servem.
25
Para uma ilustração da mediação transformativa que envolve questões raciais, veja o Caso da
Casa Roxa Purple House case in Bush and Folger, supra note 4, 131- 214.
26
N.T. aqui entendido também como protagonistas, atores ou partes interessadas
27
Para discussões e crítica a respeito da prática e implementação da mediação, veja, por
exemplo, Deborah Hensler, Suppose It’s Not True: Challenging Mediation Ideology 1 Journal of Dispute
Resolution 81-99, 2002. Bernard Mayer, Beyond neutrality: confronting the crisis in conflict resolution,
Jossey-Bass, 2004; Bush supra note 3.
programas de mediação não poderão prosperar no longo prazo se a prática da
mediação não for guiada por metas claras e alternativas, e se o processo de mediação
não demonstrar seu valor único.
A Mediação Transformativa oferece uma abordagem única centrada no poder
da interação humana para libertar o potencial inerente do empoderamento e
reconhecimento nas pessoas. A década de experiência com o desenvolvimento e
implementação da prática transformativa em diversos contextos sugere que muitos
clientes e stakeholders institucionais se identificam com o próposito central desta
perspectiva. Muitos stakeholders institucionais, incluindo juizes, administradores de
programas e gerentes organizacionais, muitas vezes se tornam apoiadores
entusiasmados da mediação Transformativa quando entendem o fundamento
conceitual e o ideário desta abordagem e observam seu impacto nos conflitos e nas
vidas dos disputantes que participam deste processo. Mas é responsabilidade dos
praticantes e líderes no campo da mediação a articulação do propósito transformativo
da mediação na sua prática.28 No longo prazo, o sucesso da mediação- como coração
do movimento de resolução alternativa de disputa – repousará na habilidade do campo
da mediação de ter uma visão, articular e dar continuidade a um processo de resolução
de conflito guiado por metas claras, singulares e, sobretudo, poderosas.
28
Para uma discussão de como as metas singulares da mediação podem ser implementadas nas
cortes e em outros contextos institucionais, veja Dorothy Della Noce, Joseph P. Folger and James R. Antes,
Assimilative, Autonomous, or Synergistic Visions: How Mediation Programs in Florida Address the
Dilemma of Court Connection 3 Pepperdine Dispute Resolution Law Journal, 11-38, 2002.
FOLBERG, Jay; & TAYLOR, Allisonr. Mediation: a comprehensive guide to
resolving conflicts without litigation, Jossey-Bass, 1984; Kathy Domenici, Mediation:
Empowerment in Conflict, Waveland Press, 1996.
HALBERLIN, Cynthia J, Transforming Workplace Culture through Mediation:
Lessons Learned from Swimming Upstream, 18 Hofstra Labor and Employment Law
Journal, 375-383, 2001.
HENSLER, Deborah Hensler, Suppose It’s Not True: Challenging Mediation
Ideology 1 Journal of Dispute Resolution 81-99, 2002. Bernard Mayer, Beyond
Neutrality: Confronting the Crisis in Conflict Resolution, Jossey-Bass, 2004.
NOCE, Dorothy Della, Mediation as a Transformative Process: Insights on
Structure and Movement. Designing Mediation: Approaches to Training and Practice
within a Transformative Perspective, 71-84. Joseph P. Folger & Robert Baruch Bush,
eds., 2001.
______., Joseph P. Folger and James R. Antes, Assimilative, Autonomous, or
Synergistic Visions: How Mediation Programs in Florida Address the Dilemma of Court
Connection 3 Pepperdine Dispute Resolution Law Journal, 11-38, 2002.
______., Seeing Theory in Practice: An Analysis of Empathy in Mediation, 15
Negotiation Journal 271-301, 1999.
______., Robert A. Baruch Bush and Joseph P. Folger, Clarifying the Theoretical
Underpinnings of Mediation: Implications for Practice and Policy, 3 Pepperdine Dispute
Resolution Law Journal 39-66, 2002.
______., ANTES, James R, FOLGER, Joseph P., Transforming Conflict in the
Workplace: Documented Effects of the USPS REDRESS Program, 18 Hofstra Labor and
Employment Law Journal, 429-467, 2001.
POPE, Sally, Beginning the Mediation: Party Participation Promotes
Empowerment and Recognition. Designing Mediation.
PESQUISAS DO EDITORIAL
Veja também Doutrina
• Os meios alternativos de resolução de conflitos e a busca pela pacificação
social, de Marco Aurélio Gumieri Valério – RDPriv 69/15-27 (DTR\2016\23053); e
• Recent practices of China in mediation and arbitration of consumer disputes,
de Wei Dan – RDC 107/125-141 (DTR\2016\24083).