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Considere os mini-casos a seguir extraídos de Assis e Fonseca (2017):

CASO A – “Júlia, mulher, em situação de pobreza, de 30 anos, lésbica, que migra do


Nordeste do país e busca apoio em um CRAS de um estado do Centro-Oeste do Brasil,
muito fragilizada por ter sido vítima de preconceito na comunidade. Vem acompanhada
de 3 filhos advindos de um primeiro relacionamento heterossexual. Sua companheira
Fernanda trabalha e recebe um salário mínimo, também é nordestina, não possui filhos
e é quase trinta anos mais velha. Julia cuida dos três filhos. O casal não possui casa
própria e desejam saber como podem se inscrever no Programa Minha Casa Minha Vida,
pois necessitam mudar de casa pela situação de preconceito enfrentada. Dos três filhos,
duas são meninas, de 7 e 10 anos, e o menino, de 12 anos possui deficiência física
(porém nunca ouviu falar do Benefício de Prestação Continuada). As meninas possuem
histórico de abuso sexual do antigo companheiro que Julia deixou no Nordeste, fugindo
da relação fisicamente abusiva que mantinha com ele no relacionamento conjugal. Teve
apoio dos vizinhos no custeio de sua passagem de ônibus para o Centro-oeste para
tentar ‘ganhar a vida’ no novo local de moradia. Estranh a a diferença dos antigos vizinhos
em relação aos vizinhos atuais, do ponto de vista da solidariedade e ajuda mútua. Julia
não consegue entender porque estão sendo discriminados. Nem sequer os filhos de Julia
são poupados, pois as crianças comentam as piadas que escutam diariamente sobre o
fato de terem duas “mães”.

CASO B: Em um serviço de acolhimento institucional para adultos, uma mulher trans


comunica, no primeiro atendimento de acolhida, a sua identidade de gênero e que utiliza
um nome social - Paula. A unidade de acolhimento em questão possui alojamentos para
mulheres, para homens e para o público LGBTI. O profissional que atendeu Paula
inicialmente não levou em consideração a questão da identidade de gênero,
encaminhando-a para o alojamento masculino e sem registrar o seu nome social. Ao
ingressar no alojamento, a usuária começou a sofrer com chacotas LGBTFÓBICAS e
atitudes hostis dos outros usuários do serviço. Um dos usuários mais antigos empurrou
Paula para fora do alojamento e a mandou de volta para a sala de acolhida. Ao retornar
à sala de acolhida inicial e procurar o mesmo profissional que a havia orientado, o seu
atendimento foi modificado e redirecionado para o alojamento LGBTI. No dia seguinte,
Paula evadiu-se do serviço.

Quais os tipos de violência sofridos em ambos os casos?

No caso A fica evidenciada a violência estrutural, comunitária e institucional. Júlia


também sofre discriminação por sua orientação sexual. Os profissionais que a
atenderam precisam atuar em várias frentes para lidar com as questões oriundas da
pobreza, migração e discriminação que ela e a companheira sofrem em decorrência da
orientação sexual que possuem. A falta de conhecimento sobre os direitos sociais que
dispõem é também notada. Há também histórico de violência familiar (tanto em relação
à Júlia – violência física – como em relação às filhas – violência sexual), ainda que não
esteja ocorrendo no momento. Será que há alguma consequência ainda que fragiliza
essas usuárias? Será que há demanda de encaminhamento para apoio à saúde mental?
Ou para iniciar um processo de responsabilização do antigo companheiro de Júlia?

No caso B trata-se de uma situação de violência interpessoal existente no contexto


institucional, que não respeitou a especificidade apontada pela usuária e a fez passar
por situação discriminatória. A evasão do serviço gera mais situações de vulnerabilidade
e risco para Paula.

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