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UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

Faculdade de Geociência e Ambiente

O Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz

Gestão Ambiental e Desenvolvimento Comunitário

Azarias Armando Nhari

Oliva D. Alexandre Nur

Tomás Samuel Gavisse

Judite Eduardo Tembe

Ângela da Síria Saraiva

Eugénio José

Matheus Gogó

Tete, Agosto de 2023


Azarias Armando Nhari

Oliva D. Alexandre Nur

Tomás Samuel Gavisse

Judite Eduardo Tembe

Ângela da Síria Saraiva

Eugénio José

Matheus Gogó

O Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz

Trabalho de Carácter Avaliativo a ser apresentado na


cadeira de Temas Transversal II, no curso de Gestão
Ambiental e Desenvolvimento Comunitário com
habilitação a ecoturismo no Departamento de
Ciências da Terra e Meio Ambiente.

Msc. Carlos Constatino

Tete, Agosto de 2023


Índice
1 Introdução............................................................................................................................ 4

1.1 Objectivos: ................................................................................................................... 4

1.1.1 Geral ..................................................................................................................... 4

1.1.2 Específicos ............................................................................................................ 4

1.2 Metodologia ................................................................................................................. 4

2 O REFERENCIAL DE EDUCAÇÃO PARA A SEGURANÇA, A DEFESA E A PAZ .. 5

2.1 Contextualização histórica sobre o referencial de educação para a segurança, a defesa


e a paz ..................................................................................................................................... 5

2.2 O referencial de educação para a segurança, a defesa e a paz ..................................... 7

2.2.1 Organização e Estrutura do Referencial ............................................................... 9

2.2.2 Operações de Paz ................................................................................................ 10

2.2.3 Nação .................................................................................................................. 10

2.2.4 Paz ...................................................................................................................... 10

2.2.5 O Enquadramento Curricular da Educação para a Cidadania ............................ 11

2.2.6 A Segurança, a Defesa e a Paz – Funda mentos Científicos .............................. 12

2.2.7 Educação e Cultura de Paz e Não-Violência ...................................................... 13

3 Conclusão .......................................................................................................................... 15

4 Referências Bibliográficas ................................................................................................ 16


4

1 Introdução
O presente trabalho tem como tema Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e Paz.

A defesa, a segurança e a paz, mais do que direitos, são uma responsabilidade de todos»,
afirmou o Secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello.

A segurança, a prosperidade e o bem-estar têm constituído, ao longo da história, aspirações


humanas fundamentais. A paz, corolário da segurança, é condição para a prosperidade e
desenvolvimento e, nessa medida, é basilar às atividades humanas para a vivência em
sociedade. (Kolbert, 2014, p. 249).

O Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz é um documento orientador que


tem por objetivo facilitar a inserção das temáticas de segurança, defesa e paz no sistema
educativo nacional, interrogando-as e interpelando-as

O Referencial de Educação Para a Segurança, a Defesa e a Paz parte deste reconhecimento para
abordar um conjunto de temas através dos quais se procura sensibilizar os mais jovens para os
fatores que condicionam e promovem a segurança das pessoas e dos Estados.

A segurança é, antes de mais, um ato de precaução ou de dissuasão, isto é, tem uma lógica de
prevenção, procurando evitar que ameaças e riscos se concretizem, e, se tal não for possível,
reagir com o fim de os debelar. Em qualquer dos casos, o seu propósito é sempre o de obviar a
que os riscos e as ameaças perturbem, constranjam e destruam uma dada sociedade. (Nussbaum,
1998, apud Marina Torres, 2011, p. 71).

1.1 Objectivos:
1.1.1 Geral
• Abordar sobre a referencial de educação para a segurança, a defesa e a paz;

1.1.2 Específicos
• Abordar como comportamento humano é moldado por meio da educação;
• Sintetizar sobre impactos da falta de segurança, defesa e paz em sociedade;

1.2 Metodologia
Para a compilação do trabalho usou-se os seguintes métodos de pesquisa científica:
• Revisão bibliográfica, na qual consistiu em consultas de obras já publicadas, segundo
(Gil, 1991).
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2 O REFERENCIAL DE EDUCAÇÃO PARA A SEGURANÇA, A DEFESA E A


PAZ
2.1 Contextualização histórica sobre o referencial de educação para a segurança, a
defesa e a paz
Há dois tempos na história e na vida do Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa
e a Paz, um primeiro momento que vai da assinatura do protocolo entre o Ministério da Defesa
e o Ministério da Educação e Ciência (à época), em 15 de novembro de 2012 e a experiência
piloto para a sua implementação em meio escolar nos três agrupamentos de Concelho de Baião,
Vale de Ovil, Eiriz e Sudeste de Baião, no ano letivo de 2015-2016, com o robusto empenho
do município local; um segundo momento, em que através de sucessivos protocolos-quadro ou
protocolos de cooperação, de 2016 a 2019, entre alguns municípios dos distritos da área
metropolitana de Lisboa e do Distrito do Porto e ainda com os municípios de Viseu, Vila Real,
Viana do Castelo, Castelo-Branco e Faro e o Ministério da Defesa, o Ministério da Educação,
o Ministro-adjunto, a Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade (Ministério da
Presidência e Modernização Administrativa) e a Secretaria de Estado das Autarquias Locais
(Ministério da Administração Interna), com o fito de replicar o projeto-piloto de Baião, no qual
se tinham conjugado a intervenção do Instituto da Defesa Nacional, das escolas e do município.

Com a assinatura do protocolo entre o Ministério da Defesa e o Ministério da Educação e


Ciência, em 15 de novembro de 2012, criaram-se as condições para que pudessem ser inseridas
no sistema educativo nacional matérias relacionadas com a defesa nacional e a segurança
global. Para o Ministério da Educação, o modo como se pretendiam integrar estes
conhecimentos e competências, que tinham um carácter transversal e de projeto, passava pela
elaboração de referenciais (e não de novos currículos) que os professores pudessem manusear
de uma forma mais livre, para promover entre os alunos esses saberes: “Os referenciais de
educação para a cidadania não constituem, contudo, guias ou programas prescritivos, mas
instrumentos de orientação e apoio que, no âmbito da autonomia de cada estabelecimento de
educação e ensino, podem ser utilizados e adaptados em função das opções a definir em cada
contexto, enquadrando as práticas a desenvolver no quadro da educação para a cidadania. De
natureza e utilização flexível (...) constitui-se como guia para a implementação (...) da educação
para a cidadania em meio escolar, podendo ser utilizado em contextos muito diversificados, no
seu todo ou em parte, sequencialmente ou não” (Duarte, Baptista e Santos, 2014, p. 8).

É assim que aparecerá o Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz. A


elaboração deste Referencial coube a uma equipa conjunta, oriunda do Instituto da Defesa
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Nacional – pelo Ministério da Defesa Nacional – e da Direção-geral de Educação – pelo


Ministério da Educação e Ciência –, tal qual acontecia com outros referenciais, com equipas
criadas em moldes semelhantes conforme o tema de cada um (Duarte, Baptista e Santos, p. 7).
Em agosto de 2014 era, por despacho do Secretário de Estado da Educação, oficializado o
Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz para implementação no sistema
educativo nacional.

É a partir do movimento da Escola Nova (EN) que surge a primeira iniciativa sólida de reflexão
e ação educativa pela paz. Pelo seu caráter internacionalista e pela amplitude do modelo
pretendido de educação para a paz, as experiências dessa escola, vão desde o enfoque dos
grandes problemas sociais à transformação do meio escolar.

Ela dirigia suas críticas tanto aos métodos e propostas didáticas da escola tradicional como à
sua contribuição na militarização da infância e da juventude. Dessa forma, considera-se a escola
como a instituição que pode afastar a guerra e, ao mesmo tempo, ser responsável por ela.
(Beltrame, 2007: 26)

Renovação educativa e renovação pedagógica agiram de modo constante e entrelaçado no


curso do século XX, consignando ao pedagógico uma feição cada vez mais rica, mais incisiva,
masi sofisticada também. O itinerário dessa maturação foi complexo, atingiu muitos setores e
seguiu muitos caminhos, entre os quais devem ser destacados, em particular: 1. a aventura das
“escolas novas” e do ativismo, que inaugurou um novo modo de pensar a educação; 2. a
presença das grandes filosofia-ideologias que agiram sobre a elaboração teórica e sobre a
prática educativo-escolar (como o idealismo italiano, o pragmatismo americado, o marxismo
europeu e soviético); 3. o modelo totalitário de educação; 4. as elaborações do personalismo,
como posiçào que relança os princípios cristãos da educação, radicando-os justamente na crise
contemporânea; 5. o crescimento científico da pedagogia e a nova relação que a liga à filosofia;
6. as características da pedagogia e da educação nos países não-europeus, sobretudo do Terceiro
Mundo, nos quais assume um papel e uma feição muito diferentes em relação aos resultados
europeus e norte-americanos. (1999, p. 512).

Uma segunda fase de implementação do Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa


e a Paz seria induzida pelo projeto-piloto de Baião, no ano letivo de 2015-2016.

O projeto-piloto de Baião constituiu-se como um projeto tripartido com três parceiros, a Câmara
Municipal de Baião, os agrupamentos de escolas de Concelho de Baião – Vale de Ovil, Eiriz e
Sudeste de Baião – e o Instituto da Defesa Nacional. A Câmara Municipal contribuiria para o
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projeto com o poder de influência que detinha, nomeadamente integrando o referencial no


Projeto Educativo Municipal, com algum sustento financeiro e apoio logístico, nomeadamente
em transportes para visitas de estudo do projeto-piloto.

As escolas assegurariam a integração do Referencial no Projeto Educativo de Escola e no Plano


Anual de Atividades, a nomeação de um ou dois responsáveis pela implementação do
referencial em cada escola e a inserção das matérias de segurança e defesa e paz nas disciplinas
de complemento curricular, em geral, ligadas à educação para a cidadania.

2.2 O referencial de educação para a segurança, a defesa e a paz


Nas sociedades complexas e globalizadas em que vivemos, os indivíduos são expostos a
ameaças e riscos. Risco e ameaça são, todavia, distintos. Ao contrário desta última, que envolve
intencionalidade (havendo implícita ou explicitamente a intenção de pôr em perigo outrem), o
risco é um perigo emergente (no sentido em que pode emergir, mas só o é quando emerge). É
habitual identificar como riscos aspetos como as alterações climáticas ou as pandemias que
geram emergências complexas. Entre as principais ameaças, cada vez mais de natureza global,
podem identificar-se o terrorismo transnacional, a pirataria, a criminalidade organizada, a
proliferação de armas de destruição massiva, o ciberterrorismo ou a cibercriminalidade.
Crescentemente, têm vindo também a ser identificadas novas ameaças de natureza híbrida,
articulando meios convencionais, desinformação ou utilização hostil de novas tecnologias.
(Baptista 1999, p.509)

A Segurança visa justamente antecipar e confrontar as situações de risco e ameaças com que as
sociedades se confrontam, nomeadamente as tensões, que, no sistema internacional, decorrem
da dialética entre a cooperação e o conflito. A segurança é, antes de mais, um ato de precaução
ou de dissuasão, isto é, tem uma lógica de prevenção, procurando evitar que ameaças e riscos
se concretizem, e, se tal não for possível, reagir com o fim de os debelar. Em qualquer dos
casos, o seu propósito é sempre o de obviar a que os riscos e as ameaças perturbem, constranjam
e destruam uma dada sociedade. Por isso, é possível pensar a segurança como uma
emancipação, libertando os indivíduos e as sociedades de constrangimentos que condicionem
a sua autonomia e o seu domínio de cidadania Segurança, Defesa e Paz integra o conjunto de
domínios que constam da Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania (ENEC).

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) e o Ministério da Defesa Nacional (MDN)


celebraram um protocolo de cooperação em 15 novembro de 2012, com vista a promover a
divulgação dos valores e das matérias da segurança e da defesa nacional no ensino básico e
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secundário, nomeadamente, através da sua introdução no âmbito da Educação para a Cidadania.


Isto conduziu à aprovação, em 2014, do Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e
a Paz.

A partir de 2020, a Direção-Geral da Educação, em parceria com o Instituto de Defesa Nacional


e o Centro Nacional de Cibersegurança, decidiu proceder à revisão e atualização do Referencial
publicado em 2014, por forma a fazer destacar o novo ordenamento curricular e, igualmente,
as mudanças decorrentes de uma crescente digitalização do mundo atual, por um lado. Por
outro, para que os mais jovens adquiram comportamentos em matéria de Segurança, Defesa e
Paz, o presente documento tem como finalidade apoiar a Escola atual no desenvolvimento de
um currículo que é muito mais do que um espaço de transmissão de saberes e conhecimentos.
Neste sentido, pretende contribuir para o enquadramento das práticas e para o desenvolvimento
de princípios, valores, atitudes e competências, em consonância com a legislação em vigor,
nomeadamente o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, o DL 55/2018,
articulado com o DL 54/2018 e a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania.

Segundo refere Eurydice P.76, 2017, este referencial, concebido no âmbito da Estratégia
Nacional de Educação para a Cidadania, consubstanciada ao nível da Escola com a Estratégia
de Educação para a Cidadania da Escola, visa, assim, ser um documento essencial para que o
domínio Segurança, Defesa e Paz alcance espaço curricular para uma abordagem integrada e
holística, fazendo conexões entre os conhecimentos de natureza disciplinar, as estratégias de
ensino e a defesa dos valores de uma cultura de segurança e paz através da articulação de
conhecimentos, capacidades, atitudes e valores postos em ação na comunidade educativa:

“Para que a educação para a cidadania seja interdisciplinar, holística e participativa,


necessita de uma abordagem escolar integrada [whole of school approach] (…). Uma
educação para a cidadania abrangente implica que o processo envolve uma mudança
sistémica a nível de escola para incorporar quer o ethos quer as ações da democracia e
da cidadania ativa na governação das escolas e na sua cultura, no seu planeamento e
monitorização, ensino, aprendizagem e também na comunidade mais vasta (…) “

A educação para a cidadania deve incorporar necessariamente “experiências reais de


participação e de vivência da cidadania”, sendo de importância decisiva o reconhecimento de
que as diferentes aprendizagens a promover:

“[se] alicerçam no desenvolvimento de competências cognitivas, pessoais, sociais e


emocionais, ancoradas no currículo e desenvolvidas num ciclo contínuo e em progressão
9

de “reflexão-antecipação-ação”, em que as/os alunas/os aprendem através dos desafios


da vida real, indo para além da sala de aula e da escola, e tomando em consideração as
implicações das suas decisões e ações, tanto para o seu futuro individual como coletivo.”

2.2.1 Organização e Estrutura do Referencial


Na sequência das mudanças legislativas atrás referidas e em conformidade com o atrás exposto,
o Referencial de Educação Para a Segurança, a Defesa e a Paz sofreu uma importante
reorientação em relação ao dispositivo adotado em 2014, com a inclusão de novas temáticas e
a reformulação de outras, mantendo-se, contudo, tanto quanto possível, a estrutura original.
(Eurydice P.76, 2017)

Assim, encontra-se organizado por níveis de educação e por ciclos de ensino – educação
préescolar, 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e ensino secundário –, segundo um modelo de
estruturação homólogo ao longo dos ciclos e níveis atrás referidos, tendo sido identificados,
pelo Grupo de Trabalho que elaborou o presente documento, 7 temas globais, em contraste com
os concebidos em 2014. (RSDP, 2014)

Para melhor compreensão, confrontamos as duas estruturas, devendo sublinhar-se que, na


versão de 2022, todos os temas são explorados em qualquer nível de educação e ciclo de ensino:

Tabela 1: Organização e Estrutura do Referencial

Fonte: RSDP, 2014


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O Referencial de Educação Para a Segurança, a Defesa e a Paz inclui dois quadros:

➢ O primeiro é apresentado uma síntese dos resultados de aprendizagem por tema;


➢ No segundo identificam-se os temas, subtemas e objetivos propostos para cada um dos
níveis e ciclos de educação e ensino.

2.2.2 Operações de Paz


Hoje em dia é comum que os mandatos das missões incluam a reconstrução das instituições do
Estado, a promoção do Estado de Direito, a facilitação da entrega de assistência humanitária, a
monitorização e promoção dos direitos humanos, o apoio aos processos políticos nacionais e
locais, a supervisão de cessar-fogos, o desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) de
ex-combatentes, a reforma do setor de segurança, bem como uma série de programas de
construção da paz em colaboração com outros parceiros, prestando atenção especial às
necessidades e participação de mulheres e crianças. (Nussbaum, 1998, apud Marina Torres,
2011, p. 71).

O Secretário-Geral Boutros-Ghali apresentou, em 1992, uma proposta de reforma das Nações

Unidas, conhecida como Agenda para a Paz. Em resultado deste relatório, novos termos como

"diplomacia preventiva", "state-building" e "peacemaking" entraram no léxico das atividades


da ONU. O relatório destacou quatro conceitos: diplomacia preventiva, peacemaking,
manutenção da paz (peacekeeping) e construção da paz pós-conflito.

2.2.3 Nação
Dois seres humanos pertencem a uma mesma Nação se e só se partilharem a mesma cultura, a
qual representa, por seu turno, um sistema de ideias, signos, associações, bem como modos de
comportamento e comunicação.

Dois seres humanos pertencem à mesma Nação se e só se se reconhecem como pertencentes à


mesma nação. Por outras palavras, as nações fazem os homens. As nações são artefactos de
convicções, lealdades e solidariedades dos homens. Uma simples categoria de indivíduos (…)
transforma-se numa nação, se e quando os membros dessa categoria se reconhecem firmemente
uns aos outros. (Gellner, E., 1993. Nações e nacionalismo. Lisboa: Gradiva, p. 19).

2.2.4 Paz
Vale a advertência de Galtung: “a cultura da paz não é um conjunto de representações pacíficas
e não violentas da realidade. O teste de validade de uma cultura da paz faz-se no modo como
ela afeta o comportamento num conflito.” Nesse sentido, Galtung defende que “a paz é a
11

condição para transformar os conflitos de modo criativo e não-violento. (...) A paz é um


contexto para uma forma construtiva de abordar um conflito (...). “

2.2.5 O Enquadramento Curricular da Educação para a Cidadania


A importância da Educação para a Cidadania, componente transversal do currículo, determinou,
de acordo com os princípios orientadores consagrados no Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de
julho, o estabelecimento de conteúdos e orientações programáticas que, de facto, se
consubstanciaram no documento Linhas Orientadoras da Educação para a Cidadania, aprovado
e divulgado em dezembro de 2012, e nos Referenciais de Educação para as diversas áreas
temáticas enunciadas nesse documento orientador. (LOEC, 2014)

A Educação para a Segurança e a Defesa, uma das áreas temáticas da Educação para a
Cidadania, ficou, desde então, associada à Educação para a Paz, dada a especificidade da sua
natureza e a significativa confluência de objetivos com a própria Educação para a Paz.

De acordo com a importância que o Ministério da Educação e Ciência reconhece a esta área
curricular, e em conformidade com os princípios que devem reger a educação para a cidadania,
os referenciais de educação têm, desde o início, vindo a ser produzidos em colaboração com
outros organismos e instituições públicas e com diversos parceiros da sociedade civil. Para a
elaboração deste Referencial de Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz, o Ministério da
Educação e Ciência (MEC) e o Ministério da Defesa Nacional (MDN) celebraram um protocolo
de cooperação em 15 de novembro de 2012. Para a conceção deste Referencial foi criada uma
equipa que integrou elementos da Direção-Geral da Educação (DGE) e elementos do Instituto
da Defesa Nacional (IDN).

Os referenciais de educação e outros documentos orientadores constituem guias de abordagem


das diferentes dimensões da cidadania nos diversos espaços em que, na escola, esta componente
do currículo se concretiza.

Os referidos documentos podem, portanto, ser utilizados no quadro:

i. Da dimensão transversal da Educação para a Cidadania, em contexto de ensino e de


aprendizagem de qualquer disciplina ou área disciplinar, nos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do
ensino básico e no ensino secundário e também no âmbito da educação pré-escolar,
tendo em conta as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar;
12

ii. Da oferta de componentes curriculares complementares nos 2.º e 3.º ciclos do ensino
básico, desde que criada pela escola, em função da gestão do crédito letivo, de acordo
com o estipulado no Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho;
iii. Da oferta complementar do 1.º ciclo do Ensino Básico, nos termos previstos no
Decreto-Lei n.º 91/2013, de 10 de julho, que introduziu alterações ao Decreto-Lei n.º
139/2012, de 5 de julho;
iv. Do desenvolvimento de projetos e atividades que tenham como objetivo contribuir para
a formação pessoal e social dos alunos, em articulação com o projeto educativo de cada
agrupamento de escolas/escola não agrupada.

Os referenciais de educação para a cidadania não constituem, contudo, guias ou programas


prescritivos, mas instrumentos de orientação e apoio que, no âmbito da autonomia de cada
estabelecimento de educação e ensino, podem ser utilizados e adaptados em função das opções
a definir em cada contexto, enquadrando as práticas a desenvolver no quadro da educação para
a cidadania. De natureza e utilização flexível, o Referencial de Educação para a Segurança, a
Defesa e a Paz constituem-se como guia para a implementação desta dimensão da educação
para a cidadania em meio escolar, podendo ser utilizado em contextos muito diversificados, no
seu todo ou em parte, sequencialmente ou não. (SHELER, 200)

De acordo com o documento Linhas Orientadoras da Educação para a Cidadania, a área


temática da Educação para a Segurança, a Defesa e a Paz pretende evidenciar o contributo
específico dos órgãos e estruturas de defesa para a afirmação e preservação dos direitos e
liberdades civis, bem como a natureza e as finalidades da sua atividade em tempo de paz, e
ainda contribuir para a defesa da identidade nacional e para o reforço da matriz histórica de
Portugal, nomeadamente como forma de consciencializar a importância do património cultural,
no quadro da tradição universal de interdependência, solidariedade e paz entre os povos do
Mundo. (SHELER, 200)

Realçam-se ainda a dimensão preventiva e a dimensão dissuasiva das modernas e ampliadas


conceções de segurança.

2.2.6 A Segurança, a Defesa e a Paz – Funda mentos Científicos


As comunidades políticas organizam-se com vista a assegurarem aos seus cidadãos o bem-estar
e a segurança (fundamento da paz). A segurança e o seu corolário, a paz, relacionam-se com o
bem-estar, dado que uma das componentes deste é a garantia de uma vida o mais possível
preservada de riscos e de perigos. A complexidade do mundo contemporâneo,
13

concomitantemente com o desenvolvimento de um nível de bem-estar cada vez mais elevado,


engendra igualmente os riscos e os perigos com que as sociedades se têm de confrontar.

A noção de segurança deve ser, consequentemente, concetualizada de forma abrangente. Por


sua vez, o intenso desenvolvimento industrial e tecnológico produziu um avolumar de riscos
tecnológicos industriais, a que acrescem os riscos ambientais, fruto do denominado
aquecimento global, que as sociedades têm de acautelar. Por fim, a forte aglomeração de
populações em torno de megacidades e de grandes regiões urbanas elevou os riscos que os
desastres naturais, como terramotos e maremotos, podem produzir. (SHELER, 200)

2.2.7 Educação e Cultura de Paz e Não-Violência


Educação e Cultura de Paz e Não-Violência interagem constantemente, pois se esta última
orienta, guia e marca metas e horizontes educativos, a primeira possibilita – na sua perspectiva
ética – a construção de novos modelos culturais. A educação é o agente mais poderoso para a
mudança cultural e para o progresso social, pois permite o desenvolvimento integral da pessoa.
Se a Cultura de Paz e Não-Violência inspira os valores que devem constituir os fins e os
conteúdos da educação, esta última é o instrumento para construir tal Cultura. A educação pode
guiar o desenvolvimento de uma cultura para alcançar as aspirações pacíficas. (Harber, 1997)

A Cultura de Paz e de Não-violência não é um conceito abstrato, mas o resultado de um amplo


processo de reflexão e de ação, fruto de uma atividade contínua em favor da paz em diferentes
contextos. A educação, neste processo, ocupa um importante papel, pois é através dela que uma
sociedade alcança um padrão mais elevado de desenvolvimento humano e supera os
preconceitos que nos separam uns dos outros. É através da educação que se estabelece relações
baseadas na cooperação e na participação, se aprende e se compreende o mundo em que
vivemos, se desenvolve as habilidades e as capacidades necessárias para nos comunicarmos, se
fomenta o respeito pelos direitos humanos e se ensina e aprende as estratégias para resolver os
conflitos de maneira pacífica.

A Cultura da Paz e Não-violência exige passar de um modelo de educação institucionalizada a


um modelo de sociedade educativa. Consequentemente, é preciso mudar a forma de entender o
conceito de cidadania. É preciso entendê-la como algo que vai além de um conjunto de direitos
e deveres consagrados pelas leis. As mudanças aceleradas evidenciam que o exercício da
cidadania não implica somente dispor de direitos políticos, civis e sociais, mas também
participar das mesmas condições que os demais no consumo cultural, no manuseio da
14

informação e no acesso aos espaços públicos. A globalização e a terceira revolução industrial


colocaram no centro do desenvolvimento o conhecimento e a informação.

Estas mudanças alteraram as formas do exercício da cidadania e indicam novas funções aos
sistemas educacionais. A educação pode democratizar o acesso ao conhecimento garantindo a

igualdade econômica, mas não pode assegurar no futuro tal igualdade. Atualmente, Segundo
Braslavsky (2006), as tendências que caracterizam nosso mundo neste início do século XXI
determinam quais serão os desafios da educação:

a. A existência de uma sociedade com dois tipos de cidadãos (os que consomem e os
excluídos) implica garantir uma educação que permita a todos aproveitar os bens da
sociedade e buscar, ao mesmo tempo, alternativas para acabar com as desigualdades;
b. A presença de novas formas de violência relacionadas com este tipo de sociedade
emergente, a marginalização ou a diversidade cultural impõem um modelo educativo
capaz de estabelecer um diálogo intercultural sincero e gerir pacificamente os conflitos;
c. O conhecimento progride em grande velocidade e muda em sua estrutura, por isso a
educação não pode se restringir a transmitir um conhecimento defasado; e
d. A democratização das sociedades exige que a educação seja mais participativa e
democrática, aberta à comunidade.
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3 Conclusão
Findo a realização do presente trabalho concluiu-se que o referencial de educação para a
segurança, a defesa e a paz responde a uma urgência. Numa sociedade de cidadãos, a quem
incumbe ter uma palavra decisiva sobre a governação, e em que as questões de segurança, de
defesa e da paz são interpelações fundamentais a perduração da própria comunidade política,
não podem os seus membros eximir-se ao estudo e ao conhecimento daquelas matérias.

Educar estrategicamente os cidadãos, para que sejam sensibilizados para as questões de


segurança e defesa que afetam a paz possam igualmente, de forma ponderada, ter uma palavra
decisiva sobre as políticas que moldam a estratégica nacional e a ação estratégica do Estado.

Todo sistema de educação precisa adotar mecanismos e modalidades de ensino para moldar a
mentalidade do homem com uma visão não centralizada no presente e não ambiciosa.
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4 Referências Bibliográficas

BRASLAVSKY, C. Diez Factores para una Educación de Calidad para Todos en el Siglo XXI.
Revista Electrónica Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio en Educación. 4(2e), p.
84-101, 2006. Disponível em: http://www.rinace.net/arts/vol4num2e/art5.pdf. Acesso em 02
Fev. 2010.

SCHELER, Max. El puesto del hombre en el cosmos. La idea de la paz perpetua y el

pacifismo. Barcelona: Alba Editorial, 2000.

HARBER, Clive: L’efficacité des écoles, l’education pour la democratie et la no-violence.


Paris: UNESCO, 1997. Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0011/001112/111227Fb.pdf Acessado em: 02 Fev. 2010.

Kolbert, E., 2014. The Sixth Extinction. An Unnatural History. London: Bloomsbury.

EURYDICE. Comissão Europeia EACEA. PP.76. 2017

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