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Paralisia Cerebral
Quais sintomas podem ser observados em uma criança e que podem apontar para a presença de
algum grau de paralisia cerebral? Como a dieta deste grupo pode influenciar diretamente no
desenvolvimento de doenças bucais?
Você irá conhecer neste recurso a prevalência da PC no Brasil e no mundo, as possíveis causas e a
importância do diagnóstico precoce, os sinais e sintomas que compõem seu quadro clínico, os possíveis
tratamentos e as comorbidades. Além disso, será discutido como a PC pode afetar a manutenção da
higiene, a dificuldade na mastigação e em cuspir. Este material também abordará que dieta é suscetível à
proliferação de bactérias na cavidade bucal, o desenvolvimento inadequado da oclusão, os procedimentos
para atendimento especializado, o uso de medicação e a importância de se atender em uma Unidade de
Atenção Primária.
A Paralisia Cerebral (PC) ou encefalopatia crônica não progressiva foi descrita pela primeira vez
em 1861 por William John Little como sendo um distúrbio caracterizado por espasticidade nos membros
superiores e inferiores de algumas crianças nos primeiros anos de vida. A PC é uma desordem não
progressiva do tônus muscular, da postura e da movimentação involuntária decorrente de lesão cerebral
durante o período de desenvolvimento fetal ou infantil.
Etiologia
A paralisia cerebral (PC) engloba um grupo heterogêneo quanto à etiologia, aos sinais clínicos e
à severidade de comprometimentos. Qualquer agente capaz de interferir no desenvolvimento do sistema
nervoso central do período fetal à primeira infância pode ser considerado fator etiológico da Paralisia
Cerebral:
Quadro clínico
Quadro clínico
Tratamento e Acessibilidade
Tratar os diferentes tipos de hipertonia que podem interferir na função, cuidado e higiene e melhorar a dor
sempre que for necessário é função de equipes, que geralmente incluem ortopedia, cirurgia, medicina
física e reabilitação, neurocirurgia, fisioterapia e órteses
1- Com relação à educação, é imprescindível levar em conta o grau de prejuízo motor e a presença
de comorbidades. Além das dificuldades motoras, possuir graus significativos de comprometimento
intelectual e deficiências sensoriais (visuais e/ou auditivas) pode representar desafios em uma
classe regular de ensino11. Lembrando que a inclusão em classes regulares de ensino deve
proporcionar acessibilidade plena, ou seja, eliminar as barreiras para a plena participação do aluno
considerando suas necessidades específicas.
2- A Lei n° 13.146, de 06 de julho de 2015 - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência) distingue a limitação funcional da deficiência, colocando que
a deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e barreiras comportamentais e
ambientais que impedem sua participação plena e eficaz na sociedade de forma igualitária.
Saúde Bucal do paciente com Paralisia Cerebral
As alterações de tônus e postura características da PC podem afetar significativamente a saúde
bucal, levando a alterações das estruturas orofaciais, ao desenvolvimento de hábitos parafuncionais e a
dificuldades para alimentação e higiene bucal. A seguir vamos conhecer algumas das dificuldades
encontradas por esse grupo ao realizar os cuidados bucais necessários:
1- Os movimentos involuntários, reflexos orais patológicos, espasticidade dos músculos
mastigatórios e o comprometimento intelectual comprometem a qualidade dos cuidados de
higiene bucal e constituem uma barreira para o atendimento odontológico. A ausência de
coordenação motora afeta a habilidade para realizar a higiene bucal e o déficit cognitivo torna
mais difícil a cooperação para que um cuidador a realize adequadamente.
2- Outro fator agravante é que devido à movimentação anormal da musculatura mastigatória,
crianças com PC podem apresentar disfagia (dificuldade para deglutição), o que leva à retenção
prolongada de alimentos na cavidade bucal e ao uso de dieta pastosa e geralmente
cariogênica, além de episódios de aspiração.
3- A alta frequência de doença periodontal em crianças com PC ocorre pelos mesmos fatores que
as predispõe à cárie dentária: acúmulo de biofilme dentário devido à dificuldade na condução
da higiene bucal diária, disfunção motora orofacial e uso de drogas antiepiléticas,
particularmente a fenitoína, que contribui para o crescimento gengival (hiperplasia gengival) e
para o sangramento associado. Além disso, devido à disfagia (dificuldade para deglutir), a
maioria faz uso de medicamentos na forma de xarope, o que pode interferir na quantidade e
qualidade da saliva, e ainda contém açúcar, contribuindo para o aumento do risco de cárie.
4- A doença do refluxo gastroesofágico é outro problema comum em crianças com PC, causando
regurgitação, vômito e aspiração, que propiciam a ocorrência de erosões de esmalte dentário,
além de pneumonias de repetição. A erosão do esmalte pode afetar dentes decíduos e
permanentes, sendo mais comumente afetados os molares superiores, os molares inferiores e
os incisivos superiores
5- A baba parece ser consequência de uma disfunção na coordenação dos mecanismos de
deglutição e abertura da boca, decorrente de paralisia pseudobulbar. Ocorre em até 30% das
crianças com PC e pode piorar com algumas drogas antiepilépticas, como o clonazepam,
levando à síndrome de aspiração e irritações na pele.
6- O bruxismo é um problema comum em crianças com PC, particularmente naquelas com déficits
motores e cognitivos severos. Os mecanismos exatos que causam o desenvolvimento desse
hábito não são totalmente conhecidos, no entanto, é provavelmente um comportamento
autoestimulatório ou pode estar relacionado à propriocepção anormal no periodonto.
7- Déficits motores, epilepsia e má oclusão, com sobressaliência aumentada e lábios
incompetentes representam riscos que predispõem ao trauma dental, com ocorrência de lesão
facial e fraturas dentárias.
Além dos desafios já comentados, crianças com PC têm um risco aumentado de apresentar
defeitos no desenvolvimento do esmalte, hipoplasias, localizadas simetricamente em ambos os dentes
incisivos decíduos e primeiros molares permanentes.
A má oclusão tem sido relatada com frequência crescente em crianças com PC, mais comumente a
má oclusão de classe II, com mordida cruzada posterior e mordida aberta anterior22. Causadas por
respiração bucal e incompetência labial, estas anormalidades se agravam com a idade20.
É importante, ainda, observar que, devido aos problemas de saúde (em algumas situações, até
hospitalizações frequentes), às dificuldades de deslocamento dos responsáveis com suas crianças e à
dificuldade de realizar um acompanhamento odontológico regular, é possível ocorrer inobservância dos
cuidados bucais, agravando a condição da saúde bucal de pacientes com PC. O alto risco de cárie e a
doença periodontal no paciente com PC são decorrentes de uma somatória de fatores. Além da
incoordenação motora, que compromete a capacidade de autocuidado, comorbidades associadas à PC
também colaboram, como por exemplo:
A disfagia faz com que o paciente utilize uma dieta pastosa e rica em carboidratos (cariogênica);
A epilepsia, em que a medicação anticonvulsivante predispõe a alterações gengivais, se for na forma
de xarope, provavelmente, contém açúcar.
CONFORTO E SEGURANÇA: Dispositivos para posicionamento ou contenção podem ser utilizados para
oferecer conforto e segurança no atendimento, desde que haja a necessidade e após outras tentativas de
gerenciamento do comportamento. A assistência dos pais e de um auxiliar odontológico também são
necessárias quando da realização de alguns procedimentos, como a tomada radiográfica. A maioria dos
dispositivos utilizados para a estabilização de pacientes com PC é utilizada na fisioterapia e adaptados
para a odontologia. Pacientes menores com espasticidade mais grave envolvendo a cabeça e o pescoço
podem ser melhor avaliados quando posicionados no colo dos pais, cabendo ao cirurgião-dentista verificar
qual posição e adaptações se fazem necessárias.
DISPOSITIVOS: A boca deve ser mantida aberta com o uso de abridores bucais para evitar que
movimentos involuntários e o fechamento brusco coloquem em risco a segurança do paciente e do
profissional. Há no mercado odontológico vários dispositivos para esta finalidade, assim como são
mencionados na literatura outros itens confeccionados pelo cirurgião-dentista para uso clínico ou no
domicílio. É importante observar que estes dispositivos devem ser passíveis de esterilização ou serem de
uso único quando em consultório ou de desinfecção para o uso doméstico.
Não há contraindicações de tipos de anestésicos para pessoas com PC, devendo-se verificar a
possibilidade de interação com medicações em uso ou a presença de comorbidades, além de se atentar
para as doses máximas, de modo a não ultrapassar o valor individual para cada usuário:
1- -Um bom dispositivo de sucção deve estar disponível, pois as pessoas com PC têm um risco
aumentado de aspirar a água dos instrumentos rotatórios, resíduos de materiais restauradores,
detritos da preparação do dente ou até mesmo um dente extraído. Cuidados odontológicos devem
ser realizados precocemente com a ajuda dos pais ou de cuidadores, devendo o cirurgião-dentista
orientar sobre as técnicas adequadas de escovação, a utilização de dentifrícios fluoretados e fio
dental e sobre a importância de uma dieta controlada.
2- Deve ser considerada, ainda, a utilização de agentes antissépticos, como clorexidina em solução
aquosa a 0,2%, associada à remoção mecânica do biofilme com escova manual. Outra
possibilidade para incentivar o autocuidado é a adaptação dos cabos das escovas com a utilização
de dispositivos encontrados no mercado ou realizados pelo cirurgião-dentista, com a utilização de
resina acrílica, silicone, resina epóxi ou outros materiais, com o objetivo de melhorar a preensão.
Dentifrícios fluoretados com pelo menos 1000 ppm de fluoreto de sódio devem ser prescritos sempre
com recomendação em relação à quantidade. Mesmo que estas crianças tenham dificuldade para cuspir,
os benefícios do flúor no meio bucal são maiores que o risco do desenvolvimento de fluorose. Aqueles que
não possuírem a condição de cuspir, os responsáveis podem, com auxílio de uma fralda ou gaze
umedecida, remover os detritos da higienização evitando a deglutição acidental.
Nestas situações, avaliações feitas por profissionais que ofertam cuidado à pessoa com deficiência
na área da Odontologia, assim como por anestesistas e neurologistas, são necessárias antes do
procedimento.
Muitos medicamentos podem ser usados para induzir a sedação, incluindo benzodiazepínicos e óxido
nitroso. Observe abaixo:
1- Caso a pessoa já faça uso de algum medicamento com efeito sedativo, este pode ser utilizado
adequando-se o horário da ingestão de acordo com o horário da consulta, com a vantagem de
que já são conhecidos os seus efeitos. Quando da prescrição de benzodiazepínicos, deve-se
considerar que em pelo menos 5% dos casos ocorre efeito rebote.
2- Com relação à sedação com óxido nitroso/oxigênio, a técnica nem sempre pode ser aplicada,
pois, por apresentarem comprometimento intelectual severo ou porque têm respiração bucal ou
mista, muitas das crianças com PC não aceitam a máscara facial.
3- Quando houver indicação para anestesia geral, uma criteriosa avaliação pré-operatória deve
ser realizada juntamente com o médico anestesista. Para a realização do procedimento, a
intubação nasotraqueal facilita o acesso à cavidade bucal, devendo a saturação de oxigênio ser
monitorada e as vias aéreas protegidas com tamponamento da orofaringe durante todo o
procedimento.
4- Os cuidados pós-operatórios incluem manter o paciente sob monitoramento até que ele seja
capaz de responder a comandos verbais ou se tornar plenamente consciente. A prescrição de
medicação depende dos procedimentos realizados. É importante observar que, ao realizar
procedimentos sob contenção física, sedação ou anestesia geral, deve-se realizar uma
avaliação pré-operatória completa, bem como garantir que os pacientes estejam cientes dos
riscos e que o consentimento livre e esclarecido tenha sido obtido.
A Política Nacional de Saúde Bucal ampliou o acesso aos serviços de saúde bucal, com a
implantação dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO), instituídos pela Portaria nº 599,
publicada pelo Ministério da Saúde em 2006.
5- Pessoas com Deficiência que tiverem dificuldades em serem atendidas nos CEO devido às
necessidades de tratamentos mais complexos, dificuldades de deslocamento à Unidade de Saúde,
alterações sistêmicas que representem alto risco para o atendimento ambulatorial, atendimentos
cirúrgicos de urgência ou na impossibilidade de gerenciamento comportamental serão
encaminhadas para a Atenção Terciária, para anestesia geral ou sedação.
Considerações Finais
Neste e-book, você pôde conhecer mais sobre a Paralisia Cerebral (PC) e os desafios encontrados para o
seu atendimento e tratamento em saúde bucal. A PC pode ser causada por diferentes fatores em
momentos diferentes entre a gestação e a primeira infância (fatores pré-natais, fatores perinatais ou
fatores pós-natais). Pode vir acompanhada, também, de outras comorbidades, como epilepsia e déficit
intelectual.
Conhecendo como a Paralisia Cerebral pode ser diagnosticada, seus efeitos no desenvolvimento das
capacidades físicas e a consequente influência em aspectos sociais e emocionais, espera-se que o
profissional esteja preparado para trabalhar com essa população, se utilizando de procedimentos e
instrumentos que o auxiliem na resolução da demanda.