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QUEDAS

VIRGÍLIO
GARCIA
MOREIRA
FLÁVIA MOURA
MALINI
DRUMMOND

 INTRODUÇÃO
As quedas representam uma condição muito comum no
idoso. São marcadas por sua associação a importantes
prejuízos, tanto por sua consequência física quanto
psicológica.1 Traumas, fraturas, lesões teciduais, redução
da autonomia e medo de cair (ptofobia) estão entre as
preocupações iminentes.2 Aqueles que sofrem quedas
têm maior riscos de hospitalização, institucionalização e
morte prematura.
O problema de quedas em idosos não decorre apenas de
sua alta prevalência, pois crianças e atletas certamente
também caem; é a combinação de alta frequência com
alta suscetibilidade a lesões que torna a queda muito
perigosa nessa população.3
A recuperação de lesões decorrentes de quedas em
idosos também ocorre de forma mais lenta, o que
aumenta o risco de novas quedas devido ao
descondicionamento gerado após o idoso cair e à perda
de sua capacidade funcional.3
Além disso, o impacto da queda não está restrito ao
indivíduo. É um problema de saúde pública, em que os
familiares e a sociedade são afetados, além de
representar significativo impacto socioeconômico, com
cifras de 30 bilhões de dólares ao ano nos EUA.4
No Brasil, estimativas revelam que, em 2010, 10.425
mortes foram provocadas por quedas, sendo 65,2% em
idosos. O Sistema Único de Saúde (SUS) gastou 57,61
milhões de reais com internações decorrentes de quedas
em 2009.5
Diagnosticar o indivíduo que apresenta instabilidade
postural é atuar preventivamente evitando a queda.
Nesse contexto, este artigo busca reconhecer os
aspectos epidemiológicos, etiológicos e clínicos
associados às quedas.

 OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 reconhecer o problema das quedas e suas


consequências em idosos;
 discutir a prevalência de quedas e suas limitações;
 identificar os principais fatores de risco e as
medidas de prevenção de quedas;
 selecionar os principais instrumentos de
rastreamento de quedas nos cenários de atenção
ao idoso;
 descrever a abordagem diagnóstica para os
principais fatores de risco associados às quedas;
 escolher as intervenções terapêuticas para a
prevenção de quedas.

 ESQUEMA CONCEITUAL

 EPIDEMIOLOGIA

Queda é definida como o deslocamento não intencional


do corpo para um nível inferior à posição inicial, com
incapacidade de correção em tempo hábil, determinado
por circunstâncias multifatoriais, comprometendo a
estabilidade.1
São três as principais características sociodemográficas
associadas às quedas:

 idade avançada;
 comprometimento das atividades de vida diária
com redução da mobilidade;
 história de quedas.
A incidência de quedas aumenta com a idade e de
acordo com a capacidade funcional do idoso. Ela varia de
28 a 35% para aqueles acima de 65 anos a 42% para
aqueles acima de 75 anos na comunidade. No Brasil,
estudos populacionais apontam sua prevalência em
28%.6 No cenário das instituições de longa permanência
para idosos (ILPIs), sua prevalência pode chegar a 50%.7
A maioria das quedas acontece em domicílio e no
banheiro, sendo que 20% ocorrem no período noturno,
entre as 21 e as 7 horas.7
São consequências das quedas em idosos:

 risco de institucionalização;
 redução da atividade física/descondicionamento;
 depressão;
 ansiedade;
 perda de autoestima;
 restrição de atividades;
 medo de quedas;
 fraturas;
 lesões teciduais;
 internação hospitalar;
 morte.
Os indivíduos que caem uma vez apresentam maior risco
de cair novamente do que aqueles que nunca caíram.
Investigações apontam que quase 60% dos idosos que
caíram no ano anterior poderão sofrer uma nova queda.
Ademais, a queda é a principal causa de morte acidental
em idosos.8 Existe uma correlação direta entre quedas e
fraturas, sendo que as quedas são responsáveis por 95%
dos casos de fratura de quadril em idosos.7

 ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO


ASSOCIADOS
As quedas com frequência são multifatoriais. A presença
de doenças crônicas pode afetar os sistemas de controle
da marcha e do equilíbrio. De maneira didática, os fatores
de risco para as quedas podem ser divididos em causas
intrínsecas e extrínsecas (Quadro 1).
Quadro 1
CAUSAS INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS DE
QUEDAS

Intrínsecas Extrínsecas

 Idade avançada  Polifarmácia (> 4


 Sexo feminino medicações)
 Medo de quedas  Uso de drogas
 Alterações podais psicoativas
 Incontinência  Intoxicação ou
urinária e fecal suspensão
 Depressão abrupta de
 Sarcopenia medicações
 Síndrome de  Uso de calçados
fragilidade inadequados
 Hipotensão  Uso de lentes de
 Comprometimento correção visual
sensorial (visual, (bifocais ou
vestibular, auditivo, multifocais)
neurológico)  Isolamento social
 Comprometimento  Hospitalização
da marcha (doença  Iluminação
de Parkinson, inadequada do
hemiplegia, ambiente
osteoartrite)  Presença de
tapetes no
ambiente
 Ausência de
aparatos de
proteção em
locais de risco
(banheiro,
quarto)
Fonte: Elaborado pelos autores.
As situações mais comuns de quedas em idosos são

 levantar-se ou sentar-se em cadeiras;


 subir ou descer escadas;
 levantar-se da cama (camas altas ocasionam
maior risco de quedas);
 andar sobre superfícies escorregadias, como no
banheiro e na cozinha;
 pegar um objeto que está no chão.
Apesar de existirem circunstâncias nas quais o medo de
quedas pode ser considerado um fator protetor, quando,
por exemplo, impede que o indivíduo se arrisque em
situações que poderiam provocar quedas, em outras,
esse medo pode ser exagerado ou desproporcional em
relação ao estímulo. Esse temor, então, leva a
consequências deletérias à saúde dos idosos, interferindo
na qualidade de vida, no conforto emocional e no
desempenho do indivíduo, restringindo sua participação
social e provocando isolamento.9,10
O medo de quedas pode ocorrer também em idosos que
nunca caíram.

LEMBRAR
Alguns fatores que contribuem para o desenvolvimento
do medo de cair são as próprias consequências das
quedas, como o medo de se machucar, de ser
hospitalizado, de não voltar a andar e de se tornar
dependente de outras pessoas para atividades
cotidianas.9,10
Na Figura 1, pode ser observada a interação entre os
processos associados ao envelhecimento, os fatores de
risco modificáveis e as consequências das quedas.

SNC: sistema nervoso central.


Figura 1 — Processos associados ao envelhecimento,
fatores de risco e consequências das quedas.
Fonte: Adaptada de Fasano e colaboradores (2012).11
 MARCHA, EQUILÍBRIO E ENVELHECIMENTO
FISIOLÓGICO
A marcha em seres humanos pode ser definida como
um padrão de locomoção bípede, sendo uma atividade
complexa, que envolve diversos sistemas.12 Para um
bom funcionamento da marcha e do equilíbrio, são
essenciais os seguintes sistemas:8

 cardiovascular;
 vestibular;
 oftálmico;
 neurológico;
 muscular;
 osteoarticular.
Com o envelhecimento, as alterações mais evidentes
ocorrem durante o apoio unipodal, que se encontra
fisiologicamente reduzido em indivíduos mais
velhos.8 Essa alteração associa-se à redução da
segurança no ato de caminhar, prejudicando a
estabilidade da marcha.
Há diferença entre marcha e mobilidade.
A marcha refere-se à locomoção pelo uso dos membros
inferiores, em uma atividade que projeta o centro de
gravidade à frente do corpo. Já a mobilidade não está
relacionada com essa projeção, mas sim com a
habilidade do indivíduo de se posicionar no ambiente,
sem restrição.13
Dois componentes são fundamentais para a execução da
marcha:13

 equilíbrio (capacidade de assumir uma postura e


se manter estável);
 locomoção (habilidade em iniciar e manter o
mecanismo rítmico dos passos).
Uma habilidade importante e necessária para uma
marcha segura é a capacidade de manter o equilíbrio ao
caminhar, que se encontra comprometida nos idosos.
Eles em geral demonstram

 aumento do balanço corporal na posição


ortostática;
 inabilidade de apresentar reações de passo
efetivas em situações de perturbações;
 dificuldade em manter o controle de seu centro de
massa e pressão relativos a seu limite de
estabilidade.14
As reações de passo variam de acordo com as
perturbações impostas durante a marcha.14 Desse modo,
pode-se dividir o ciclo da marcha em duas grandes fases:

 fase de apoio, quando um dos pés está em


contato com o solo;
 fase de balanço, quando um dos pés está fora do
solo.

LEMBRAR
A duração do ciclo da marcha é estabelecida da seguinte
forma: o ciclo inicia quando o calcanhar de um dos pés
entra em contato com o solo e termina quando esse
mesmo pé entra em contato com o solo novamente.15
A fase de apoio compreende 60% do ciclo da marcha, e
a fase de balanço, 40%. Dentro dessas fases, existem
algumas subfases. A fase de apoiocompreende apoio
inicial, resposta à carga, apoio médio e apoio final. Já
a fase de balançocompreende pré-balanço, balanço
médio e balanço final.15
No processo de envelhecimento, ocorre um declínio das
habilidades psicomotoras, o que inclui alterações
posturais e de equilíbrio, que irão alterar a marcha.13 A
marcha segura e efetiva é um marcador de
independência ao longo dos anos. O desempenho da
marcha é um preditor de sobrevivência e qualidade de
vida, assim como de declínio cognitivo e quedas, ou seja,
pode ser considerado como um marcador de saúde
global.16 Dificuldades na marcha podem ser consideradas
como um sexto “sinal vital” na avaliação do idoso.17
A velocidade da marcha (VM) é a medida mais utilizada
na prática clínica e na pesquisa, por ser simples, fácil e
de baixo custo, além de não requerer equipamentos
sofisticados. É também preditora de tempo de internação,
mortalidade, demência, quedas e incapacidade
funcional.18 No entanto, apesar da importância e da
facilidade de se avaliar a VM, ela pode não ser sensível a
alterações iniciais e, por isso, há a necessidade de se
avaliar outros parâmetros.
Um parâmetro que vem sendo estudado mais
recentemente é a variabilidade do comprimento do passo,
que pode estar alterada em idosos, mesmo sem lesão
neurológica ou doenças específicas que possam explicar
tal alteração. Um sistema neural saudável é necessário
para que não haja flutuações durante a caminhada e,
consequentemente, exista menor variabilidade.19,20

Quanto maior a variabilidade, menor a estabilidade


durante a marcha, aumentando o risco de quedas. O
aumento da variabilidade pode estar relacionado com
patologias do sistema nervoso que ainda se encontram
em fase subclínica. Por meio de técnicas modernas de
neuroimagem, tem sido encontrada associação entre
variabilidade e redução do volume cerebral total e
diminuição de integridade da substância branca
cerebral.19,20
As áreas que vêm sendo estudadas como correlatas são
gânglios basais, hipocampo, áreas motoras e funções
executivas, principalmente o domínio da atenção.
Portanto, a variabilidade da marcha deve ser considerada
como um processo patológico, e não como algo próprio
do processo de envelhecimento.19,20
São alterações fisiológicas da marcha durante o
envelhecimento:

 aumento da fase de duplo apoio;


 redução da fase de apoio unipodal;
 redução da VM;
 perda do balanço normal dos braços;
 diminuição da rotação pélvica e de joelho;
 redução da cadência da marcha (número de
passos por minuto);
 diminuição da altura e do comprimento dos
passos;
 diminuição da flexão plantar;
 aumento da base de suporte;
 dificuldade para girar sobre o próprio eixo;
 dificuldade para mudar velocidades e direções
durante a marcha;
 dificuldade para realizar tarefa dupla.
A adoção de hábitos saudáveis de vida é capaz de
comprimir o surgimento de várias dessas alterações
fisiológicas.

 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE
DESEMPENHO FÍSICO, EQUILÍBRIO, MARCHA
E MOBILIDADE
Os instrumentos para identificar a habilidade funcional e
o desempenho da marcha e do equilíbrio fornecem
objetividade à investigação clínica, proporcionam
medidas quantitativas do desempenho físico e fazem
parte do arsenal investigativo do idoso que cai.
Existem muitos instrumentos para se avaliar risco de
quedas, o equilíbrio e a marcha em idosos. Deve-se
escolher um instrumento apropriado e que atenda às
necessidades específicas do paciente, tenha boa
aplicabilidade prática, ou seja, apresente baixo custo e
seja de fácil aplicação, e que seja válido para ser utilizado
no Brasil, com estudos que avaliem suas propriedades
psicométricas. Além disso, deve-se ter um espaço físico
adequado e o material necessário.
Outro ponto fundamental é reavaliar o paciente ao longo
do tempo, para que se possa mensurar a eficácia do
instrumento e o melhor planejamento das intervenções
necessárias. Ao escolher o instrumento, deve-se
ter prática e treinamentopara aplicá-lo.
A seguir, são apresentados os instrumentos mais
utilizados na prática clínica. Para alguns, será descrito
como realizar sua aplicação e pontuação.

TESTE DE ALCANCE FUNCIONAL


O teste de alcance funcional (functional reach test) é
utilizado para avaliar a estabilidade anteroposterior,
medindo o deslocamento máximo anterior do indivíduo
com o braço estendido, sem mover os pés.

O paciente deverá estar em posição ortostática, com os


membros inferiores levemente abduzidos, descalço, com
a coluna o mais ereta possível, o olhar no horizonte, os
braços em extensão a 90° e o hemicorpo direito próximo
à parede. A partir dessa posição, solicita-se que se
estique o máximo possível para a frente.
A excursão do braço desde o início até o final é medida
por uma fita métrica fixada na parede no sentido
horizontal ao lado do paciente, na altura do acrômio. Para
a aferição, a extremidade do terceiro metacarpo pode ser
utilizada como marcação de partida até o alcance
máximo. Valores inferiores a 15cm são indicativos de
risco de queda.
Pontuação do teste:

0: incapaz de alcançar.
1: atinge ≤ 15cm.
2: atinge > 15cm, mas < 25cm.
3: atinge > 25cm.

ÍNDICE DE MARCHA DINÂMICA


O índice de marcha dinâmica (dynamic gait index) avalia
o equilíbrio durante a marcha em diferentes tarefas
funcionais. É constituído de oito tarefas funcionais,
incluindo

 marcha em superfície plana;


 mudança de VM;
 marcha com movimentos horizontais da cabeça;
 marcha com movimentos verticais da cabeça;
 passar por cima de obstáculo;
 contornar obstáculos;
 marcha e giro sobre o próprio eixo corporal;
 subir e descer degraus.
Pontuação total do teste: 24 pontos.21

Ponto de corte: ≤ 19 pontos, isto é, associado com


quedas.21
Marcha em superfície plana

Instrução ao paciente: ande em sua velocidade normal,


daqui até a próxima marca (6 metros).
Após o teste de marcha em superfície plana, deve-se
assinalar a menor categoria que se aplica:

 (3) normal: anda 6 metros, sem dispositivos de


auxílio, em boa velocidade, sem evidência de
desequilíbrio, com a marcha em padrão normal;
 (2) comprometimento leve: anda 6 metros, em
velocidade lenta, com a marcha com mínimos
desvios, ou utiliza dispositivos de auxílio à
marcha;
 (1) comprometimento moderado: anda 6 metros,
em velocidade lenta, com a marcha em padrão
anormal e evidência de desequilíbrio;
 (0) comprometimento grave: não consegue andar
6 metros sem auxílio, com grandes desvios da
marcha ou desequilíbrio.

Mudança de velocidade da marcha

Instrução ao paciente: comece andando no seu passo


normal (por 1,5 metro). Quando eu falar “rápido”, ande o
mais rápido que puder (por 1,5 metro); quando eu falar
“devagar”, ande o mais devagar que puder (por 1,5
metro).
Após o teste de mudança de VM, deve-se assinalar a
menor categoria que se aplica:

 (3) normal: é capaz de alterar a VM sem perda do


equilíbrio ou desvios, mostra diferença significativa
na marcha entre as velocidades normal, rápida e
devagar;
 (2) comprometimento leve: é capaz de mudar de
velocidade, mas apresenta discretos desvios da
marcha, ou não tem desvios, mas não consegue
mudar significativamente a VM, ou utiliza um
dispositivo de auxílio à marcha;
 (1) comprometimento moderado: só realiza
pequenos ajustes na VM, ou consegue mudar a
velocidade com importantes desvios, ou muda de
velocidade e perde o equilíbrio, mas consegue
recuperá-lo e continuar andando;
 (0) comprometimento grave: não consegue mudar
de velocidade, ou perde o equilíbrio e procura
apoio na parede, ou precisa ser amparado.

Marcha com movimentos horizontais (rotação) da cabeça

Instrução ao paciente: comece andando no seu passo


normal. Quando eu disser “olhe para a direita”, vire a
cabeça para o lado direito. Continue andando para a
frente até que eu diga “olhe para a esquerda”; então, vire
a cabeça para o lado esquerdo e continue andando.
Quando eu disser “olhe para a frente”, continue andando
e volte a olhar para a frente.
Após o teste de marcha com movimentos horizontais
(rotação) da cabeça, deve-se assinalar a menor categoria
que se aplica:

 (3) normal: realiza as rotações da cabeça


suavemente, sem alteração da marcha;
 (2) comprometimento leve: realiza as rotações da
cabeça suavemente, com leve alteração da VM,
ou seja, com mínima alteração da progressão da
marcha, ou utiliza dispositivo de auxílio à marcha;
 (1) comprometimento moderado: realiza as
rotações da cabeça com moderada alteração
da VM, diminui a velocidade, ou cambaleia, mas
se recupera e consegue continuar andando;
 (0) comprometimento grave: realiza a tarefa com
grave distúrbio da marcha, ou seja, cambaleando
para fora do trajeto (cerca de 38cm), perde o
equilíbrio, para, procura apoio na parede, ou
precisa ser amparado.

Marcha com movimentos verticais (rotação) da cabeça

Instrução ao paciente: comece andando no seu passo


normal. Quando eu disser “olhe para cima”, levante a
cabeça e olhe para cima. Continue andando para a frente
até que eu diga “olhe para baixo”; então, incline a cabeça
para baixo e continue andando. Quando eu disser “olhe
para a frente”, continue andando e volte a olhar para a
frente.
Após o teste de marcha com movimentos verticais
(rotação) da cabeça, deve-se assinalar a menor categoria
que se aplica:

 (3) normal: realiza as rotações da cabeça sem


alteração da marcha;
 (2) comprometimento leve: realiza a tarefa com
leve alteração da VM, ou seja, com mínima
alteração da progressão da marcha, ou utiliza
dispositivo de auxílio à marcha;
 (1) comprometimento moderado: realiza a tarefa
com moderada alteração da VM, diminui a
velocidade, ou cambaleia, mas se recupera e
consegue continuar andando;
 (0) comprometimento grave: realiza a tarefa com
grave distúrbio da marcha, ou seja, cambaleando
para fora do trajeto (cerca de 38cm), perde o
equilíbrio, para, procura apoio na parede, ou
precisa ser amparado.

Marcha e giro sobre o próprio eixo corporal (pivô)

Instrução ao paciente: comece andando no seu passo


normal. Quando eu disser “vire-se e pare”, vire-se o mais
rápido que puder para a direção oposta e permaneça
parado de frente para esse ponto (seu ponto de partida).
Após o teste de marcha e giro sobre o próprio eixo
corporal, deve-se assinalar a menor categoria que se
aplica:

 (3) normal: gira o corpo com segurança em até 3


segundos e para rapidamente sem perder o
equilíbrio;
 (2) comprometimento leve: gira o corpo com
segurança em um tempo maior que 3 segundos e
para sem perder o equilíbrio;
 (1) comprometimento moderado: gira lentamente,
precisa dar vários passos pequenos até recuperar
o equilíbrio após girar o corpo e parar, ou precisa
de dicas verbais;
 (0) comprometimento grave: não consegue girar o
corpo sem segurança, perde o equilíbrio, precisa
de ajuda para se virar e parar.

Passar por cima de obstáculo

Instrução ao paciente: comece andando em sua


velocidade normal. Quando chegar ao obstáculo (uma
caixa de sapatos), passe por cima dele, não o contorne, e
continue andando.
Após o teste de passar por cima de obstáculo, deve-se
assinalar a menor categoria que se aplica:

 (3) normal: é capaz de passar por cima da caixa


sem alterar a VM, não há evidência de
desequilíbrio;
 (2) comprometimento leve: é capaz de passar por
cima da caixa, mas precisa diminuir a VM e ajustar
os passos para conseguir realizar a tarefa com
segurança;
 (1) comprometimento moderado: é capaz de
passar por cima da caixa, mas precisa parar e
depois transpor o obstáculo, e pode precisar de
dicas verbais;
 (0) comprometimento grave: não consegue
realizar a tarefa sem ajuda.

Contornar obstáculos

Instrução ao paciente: comece andando na sua


velocidade normal, para contornar os obstáculos (dois
cones). Quando chegar no primeiro cone (cerca de 1,8
metro), contorne-o pela direita. Continue andando e
passe pelo meio dos cones. Ao chegar no segundo cone
(cerca de 1,8 metro depois do primeiro), contorne-o pela
esquerda.
Após o teste de contornar obstáculos, deve-se assinalar a
menor categoria que se aplica:

 (3) normal: é capaz de contornar os cones com


segurança, sem alteração da VM, e não há
evidência de desequilíbrio;
 (2) comprometimento leve: é capaz de contornar
ambos os cones, mas precisa diminuir o ritmo da
marcha e ajustar os passos para não bater neles;
 (1) comprometimento moderado: é capaz de
contornar os cones sem bater neles, mas precisa
diminuir significativamente a VM para realizar a
tarefa, ou precisa de dicas verbais;
 (0) comprometimento grave: é incapaz de
contornar os cones; bate em um deles ou em
ambos, ou precisa ser amparado.

Subir e descer degraus

Instrução ao paciente: suba estas escadas como você


faria em sua casa (ou seja, usando o corrimão, se
necessário). Quando chegar ao topo, vire-se e desça.
Após o teste de subir e descer degraus, deve-se
assinalar a menor categoria que se aplica:

 (3) normal: alterna os pés e não usa o corrimão;


 (2) comprometimento leve: alterna os pés, mas
precisa usar o corrimão;
 (1) comprometimento moderado: coloca os dois
pés em cada degrau e precisa usar o corrimão;
 (0) comprometimento grave: não consegue
realizar a tarefa com segurança.

ESCALA DE EQUILÍBRIO DE BERG


A escala de equilíbrio de Berg avalia o desempenho do
equilíbrio funcional em 14 tarefas comuns à vida diária.
Cada item possui uma escala ordinal de cinco
alternativas que variam de 0 a 4 pontos, onde 0 significa
incapaz, e 4, independente.
Pontuação do teste:

A pontuação total oscila entre 0 e 56 pontos.


Resultados menores ou iguais a 45 pontos são preditivos
de quedas.
O Quadro 2 apresenta a escala de equilíbrio de Berg.
Quadro 2
ESCALA DE EQUILÍBRIO DE BERG

Tarefas Pontuação
1. Da posição sentada para (4) Capaz de se
a posição de pé. levantar sem utilizar
Instruções: Por favor, as mãos e se
levante-se. Tente não usar estabilizar de forma
as mãos como suporte. independente.
(3) Capaz de se
levantar de forma
independente
utilizando as mãos.
(2) Capaz de se
levantar utilizando
as mãos após
diversas tentativas.
(1) Necessita de
ajuda mínima para
se levantar ou se
estabilizar.
(0) Necessita de
ajuda moderada ou
máxima para se
levantar.
2. Permanecer em pé sem (4) Capaz de
apoio. permanecer em pé
Instruções: Por favor, fique com segurança por 2
em pé, durante 2 minutos. minutos.
(3) Capaz de
permanecer em pé
por 2 minutos com
supervisão.
(2) Capaz de
permanecer em pé
por 30 segundos
sem apoio.
(1) Necessita de
várias tentativas
para permanecer em
pé por 30 segundos
sem apoio.
(0) Incapaz de
permanecer em pé
por 30 segundos
sem apoio.
Observação: Se o paciente for capaz de
permanecer em pé por 2 minutos sem apoio,
deve-se registrar o número total de pontos no item
número 3 e continuar com o item número 4.
3. Permanecer sentado sem (4) Capaz de
apoio nas costas, mas com permanecer sentado
os pés apoiados no chão ou com segurança e
em um banquinho. com firmeza por 2
Instruções: Por favor, fique minutos.
sentado sem apoiar as (3) Capaz de
costas, com os braços permanecer sentado
cruzados, por 2 minutos. por 2 minutos com
supervisão.
(2) Capaz de
permanecer sentado
por 30 segundos.
(1) Capaz de
permanecer sentado
por 10 segundos.
(0) Incapaz de
permanecer sentado
sem apoio durante
10 segundos.
4. Da posição de pé para a (4) Senta-se com
posição sentada. segurança com o
Instruções: Por favor, uso mínimo das
sente-se. mãos.
(3) Controla a
descida utilizando
as mãos.
(2) Utiliza a parte
posterior das pernas
contra a cadeira para
controlar a descida.
(1) Senta-se de
forma independente,
mas tem descida
sem controle.
(0) Necessita de
ajuda para se sentar.
5. Transferências. (4) Capaz de se
São arrumadas cadeiras transferir com
perpendicularmente ou segurança com o
uma de frente para a outra uso mínimo das
para uma transferência em mãos.
pivô. (3) Capaz de se
Instruções: Por favor, transferir com
transfira-se de uma cadeira segurança com o
com apoio de braço para uso das mãos.
uma cadeira sem apoio de (2) Capaz de se
braço, e vice-versa. transferir seguindo
orientações verbais
e/ou supervisão.
(1) Necessita de
uma pessoa para
ajudar.
(0) Necessita de
duas pessoas para
ajudar ou
supervisionar para
realizar a tarefa com
segurança.
6. Permanecer em pé sem (4) Capaz de
apoio, com os olhos permanecer em pé
fechados. por 10 segundos
Instruções: Por favor, fique com segurança.
em pé e feche os olhos por (3) Capaz de
10 segundos. permanecer em pé
por 10 segundos
com supervisão.
(2) Capaz de
permanecer em pé
por 3 segundos.
(1) Incapaz de
permanecer com os
olhos fechados
durante 3 segundos,
mas se mantém em
pé.
(0) Necessita de
ajuda para não cair.
7. Permanecer em pé sem (4) Capaz de
apoio, com os pés juntos. posicionar os pés
Instruções: Por favor, junte juntos de forma
seus pés e fique em pé sem independente e
se apoiar. permanecer por 1
minuto com
segurança.
(3) Capaz de
posicionar os pés
juntos de forma
independente e
permanecer por 1
minuto com
supervisão.
(2) Capaz de
posicionar os pés
juntos de forma
independente e
permanecer por 30
segundos.
(1) Necessita de
ajuda para se
posicionar, mas é
capaz de
permanecer com os
pés juntos durante
15 segundos.
(0) Necessita de
ajuda para se
posicionar e é
incapaz de
permanecer nessa
posição por 15
segundos.
8. Alcançar à frente com o (4) Pode avançar à
braço estendido frente mais que
permanecendo em pé (teste 25cm com
de alcance funcional). segurança.
Instruções: Levante o braço (3) Pode avançar à
a 90º. Estique os dedos e frente mais que
tente alcançar à frente o 12,5cm com
mais longe possível (a segurança.
medida registrada é a (2) Pode avançar à
distância que os dedos frente mais que 5cm
conseguem alcançar a com segurança.
inclinação). (1) Pode avançar à
frente, mas necessita
de supervisão.
(0) Perde o
equilíbrio na
tentativa, ou
necessita de apoio
externo.
9. Pegar um objeto do chão (4) Capaz de pegar
a partir de uma posição em o objeto com
pé. facilidade e
Instruções: Por favor, segurança.
pegue o objeto que está em (3) Capaz de pegar
frente a seus pés. o objeto, mas
necessita de
supervisão.
(2) Incapaz de pegar
o objeto, mas se
estica até ficar a
2–5cm dele e
mantém o equilíbrio
de forma
independente.
(1) Incapaz de pegar
o objeto,
necessitando de
supervisão enquanto
está tentando
realizar a tarefa.
(0) Incapaz de
realizar a tarefa, ou
necessita de ajuda
para não perder o
equilíbrio ou cair.
10. Virar-se e olhar para (4) Olha para trás de
trás por cima dos ombros ambos os lados com
direito e esquerdo enquanto uma boa
permanece em pé. distribuição de peso.
Instruções: Por favor, vire- (3) Olha para trás
se para olhar diretamente somente de um lado;
atrás de você por cima de o lado contrário
seu ombro esquerdo sem demonstra menor
tirar os pés do chão. Faça o distribuição do peso.
mesmo por cima do ombro (2) Vira somente
direito. para os lados, mas
mantém o
equilíbrio.
(1) Necessita de
supervisão para
virar.
(0) Necessita de
ajuda para não
perder o equilíbrio
ou cair.
11. Girar 360º. (4) Capaz de girar
Instruções: Por favor, gire 360º com segurança
sobre si mesmo em 4 segundos ou
(cronometrar). Faça uma menos.
pausa. Gire em sentido (3) Capaz de girar
contrário. 360º com segurança
somente para um
lado em 4 segundos
ou menos.
(2) Capaz de girar
360º com segurança,
mas lentamente.
(1) Necessita de
supervisão próxima
ou orientações
verbais.
(0) Necessita de
ajuda enquanto gira.
12. Posicionar os pés (4) Capaz de
alternadamente em permanecer em pé
degrau/banquinho de forma
enquanto permanece em pé independente e com
sem apoio. segurança,
Instruções: Por favor, toque completando 8
cada pé alternadamente no movimentos em 20
degrau/banquinho segundos.
(cronometrar). Continue (3) Capaz de
até que cada pé tenha permanecer em pé
tocado o degrau/banquinho de forma
quatro vezes. independente e
completar 8
movimentos em
mais de 20
segundos.
(2) Capaz de
completar 4
movimentos sem
ajuda.
(1) Capaz de
completar mais de 2
movimentos com o
mínimo de ajuda.
(0) Incapaz de
realizar a tarefa, ou
necessita de ajuda
para não cair.
13. Permanecer em pé sem (4) Capaz de colocar
apoio, com um pé à frente. um pé
Instruções: Coloque um pé imediatamente à
à frente do outro na mesma frente do outro de
linha. Se achar que não irá forma independente
conseguir, coloque um pé e permanecer por 30
um pouco mais à frente do segundos.
outro e levemente para o (3) Capaz de colocar
lado. um pé um pouco
mais à frente do
outro, levemente
para o lado, de
forma independente,
e permanecer por 30
segundos.
(2) Capaz de dar um
pequeno passo de
forma independente
e permanecer por 30
segundos.
(1) Necessita de
ajuda para dar o
passo, porém
permanece por 15
segundos.
(0) Perde o
equilíbrio ao tentar
dar um passo ou
ficar de pé.
14. Permanecer em pé (4) Capaz de
sobre uma perna. levantar uma perna
Instruções: Fique em pé de forma
sobre uma perna o máximo independente e
que puder sem se segurar permanecer por
(cronometrar). mais que 10
segundos.
(3) Capaz de
levantar uma perna
de forma
independente e
permanecer por
5–10 segundos.
(2) Capaz de
levantar uma perna
de forma
independente e
permanecer por 3–4
segundos.
(1) Tenta levantar
uma perna, mas é
incapaz de
permanecer por 3
segundos, embora
permaneça em pé de
forma independente.
(0) Incapaz de
realizar a tarefa, ou
necessita de ajuda
para não cair.
Fonte: Adaptado de Miyamoto e colaboradores (2004).22

AVALIAÇÃO DA MOBILIDADE ORIENTADA


PELO DESEMPENHO
A avaliação da mobilidade orientada pelo desempenho
(do inglês, performance oriented mobility
assessment [POMA]) é um instrumento bastante utilizado
para avaliar o equilíbrio e a marcha em idosos. Ela é feita
por meio da análise das mudanças de posição, das
respostas a perturbações externas, dos movimentos da
marcha realizados no dia a dia e das respostas a
intervenções.

Na POMA, devem ser dadas as seguintes instruções ao


paciente: gostaria que o Sr. fizesse vários tipos de
movimentos e atividades. Primeiro, descreverei e
mostrarei cada movimento ao Sr. Por favor, tente fazer
cada movimento e eu estarei te acompanhando em cada
um deles. Contudo, se o Sr. não se sentir seguro para
realizar algum movimento, me avise e nós iremos para o
próximo. Você tem alguma dúvida, antes de
começarmos?
Pontuação do teste:

O ponto de corte sugerido é de 46 pontos.


No Quadro 3, são apresentadas as atividades e a
pontuação da POMA II.
Quadro 3
AVALIAÇÃO DA MOBILIDADE
ORIENTADA PELO DESEMPENHO
(POMA II)

Atividades Pontuação
Equilíbrio
1. Sentando-se (0) Incapaz de se sentar sem
ajuda, ou cai na cadeira
(retrocede, aparenta
insegurança), ou se senta fora
do centro da cadeira.
(1) Capaz, mas não entra nos
critérios de 0 ou 2.
(2) Senta-se em um movimento
suave e seguro e termina
colocando o quadril no fundo
da cadeira e as coxas alinhadas
no centro da cadeira.
2. Equilíbrio (0) Inclina-se acentuadamente
sentado para o lado ou para a frente, ou
começa a escorregar da
cadeira.
(1) Inclina-se ligeiramente, ou
apresenta uma pequena
distância do quadril para o
fundo da cadeira.
(2) Está acomodado em
posição vertical e estável.
3. Levantando- (0) Incapaz de se levantar da
se cadeira sem ajuda, ou começa a
perder o equilíbrio, ou realiza
mais de três tentativas.
(1) Capaz de se levantar, mas
realiza três tentativas.
(2) Capaz de se levantar com
uma ou duas tentativas.
4. Equilíbrio (0) Está instável, o que é
imediato em demonstrado por cambalear,
postura de pé movimento dos pés, oscilação
de tronco, apoio em objetos ou
início de queda.
(1) Está estável, mas usa
andador ou bengala para o
movimento, ou dá poucos
passos, mas é capaz de se
manter sem se apoiar em um
objeto.
(2) Parece estável sem se
apoiar em um objeto.
5. Equilíbrio em (0) Incapaz, ou reluta em fazer
pé, com os pés o movimento, ou sai da posição
lado a lado antes de 3,99 segundos.
(1) Capaz de manter a postura
por 4,01 a 9,99 segundos, ou
usa bengala, andador ou outro
apoio.
(2) Capaz de ficar de pé com os
pés juntos sem se apoiar por 10
segundos.
6. Teste de (0) Começa a cair.
equilíbrio (1) Dá dois ou mais passos
compensatório para trás.
(2) Dá menos de dois passos
para trás e se mantém estável.
7. Apoio na (0) Incapaz de tentar; agarra
perna direita qualquer objeto se coloca o pé
no chão antes de 3 segundos.
(1) Capaz de se manter em pé
por 3,01 a 4,99 segundos.
(2) Capaz de se manter na
posição por 5 segundos.
8. Apoio na (0) Incapaz de tentar; agarra
perna esquerda qualquer objeto se coloca o pé
no chão antes de 3 segundos.
(1) Capaz de se manter em pé
por 3,01 a 4,99 segundos.
(2) Capaz de se manter na
posição por 5 segundos.
9. Posição em
semitandem (0) Incapaz de manter a
posição; começa a cair ou fica
na posição por 3,99 segundos
ou menos.
(1) Capaz, mas mantém a
posição (sem mover os pés) por
4 a 9,99 segundos.
(2) Capaz de manter a posição
(sem mover os pés) por 10
segundos.
10. Posição em (0) Incapaz de manter a
tandem posição; começa a cair ou fica
na posição por 3,99 segundos
ou menos.
(1) Capaz, mas mantém a
posição (sem mover os pés) por
4 a 9,99 segundos.
(2) Capaz de manter a posição
(sem mover os pés) por 10
segundos.

11. Curvando-se (0) Incapaz, ou não se dispõe a


tentar (exceto em cirurgia
recente de catarata); incapaz de
se levantar sem ajuda, ou
ultrapassa a contagem de 10
segundos.
(1) Capaz, mas realiza mais de
uma tentativa, para se levantar
em menos de 10 segundos
(qualquer impulso do corpo ou
dos braços é considerado
tentativa).
(2) Capaz de se abaixar e se
levantar em uma tentativa e em
menos de 10 segundos.
(9) Sofreu cirurgia de catarata
(este item não será incluído na
pontuação total).
12. Posição na (0) Incapaz, ou apoia-se em um
ponta dos pés objeto antes de 3 segundos.
(1) Capaz e não se apoia em
um objeto, mas um calcanhar
toca o chão antes de 3
segundos.
(2) Capaz de manter a posição
por 3 segundos.
13. Posição nos (0) Incapaz, ou apoia-se em um
calcanhares objeto antes de 3 segundos.
(1) Capaz e não se apoia em
um objeto, mas um calcanhar
toca o chão antes de 3
segundos.
(2) Capaz de manter a posição
por 3 segundos.
Equilíbrio — transferências
14. De pé para (0) Incapaz de fazer o
sentado movimento sem ajuda; joga-se
na cama/sofá, cai de costas, ou
cai para os lados, ou senta-se
próximo da borda da
cama/sofá.
(1) Capaz de fazer o
movimento sem cair ou sentar
próximo da borda da
cama/sofá, mas o movimento
não é suave ou estável para
justificar uma pontuação de 2.
(2) Capaz de se sentar na
cama/sofá em movimento
suave e seguro e termina com o
quadril longe da borda da
cama/sofá.
15. De sentado (0) Incapaz de se deitar sem
para deitado ajuda (incluindo pernas), ou
fica próximo da borda da
cama/sofá ou realiza mais de 3
tentativas.
(1) Capaz de se deitar sem
ajuda e não se deita próximo da
borda da cama/sofá, porém
realiza mais de 3 tentativas.
(2) Realiza 1 ou 2 tentativas e
não se deita na borda da
cama/sofá.
16. De deitado (0) Incapaz de passar da
para sentado posição deitada para sentada
sem ajuda, ou realiza mais de 3
tentativas (p. ex., cai de costas
ou não consegue pôr as pernas
para fora da cama/sofá), ou fica
próximo à borda da cama/sofá,
ou escorrega para fora.
(1) Capaz de passar da posição
deitada para sentada, mas
realiza 3 tentativas (p. ex., cai
ou tem dificuldade em colocar
as pernas para fora da
cama/sofá).
(2) Capaz de passar da posição
deitada para sentada em 1 ou 2
tentativas e não fica próximo
da borda da cama/sofá.
17. De sentado (0) Incapaz de se levantar da
para de pé cama/sofá sem ajuda, ou
começa a perder o equilíbrio,
ou realiza mais de 3 tentativas.
(1) Capaz de se levantar, mas
realiza 3 tentativas.
(2) Capaz de se levantar com 1
ou 2 tentativas.
Marcha — chão sem carpete
1. Início (0) Há qualquer hesitação, ou o
indivíduo realiza mais de uma
tentativa para começar a andar.
(1) Começa a andar em 1
tentativa e não hesita.
2. Trajetória (0) Dois ou mais movimentos
do pé desviam mais de 15cm
da trajetória.
(1) Não se encaixa no critério
de 0 ou 2.
(2) Caminha em linha reta.
3. Passos em (0) Perde o equilíbrio, quase
falso cai, ou tem mais de 2 passos
em falso ou tropeços.
(1) Um ou 2 passos em falso ou
tropeços.
(2) Não apresenta nenhum
passo em falso, nem tropeça.
4. Dar a volta (0) Quase cai ou mostra-se
muito instável.
(1) Não se encaixa no critério
de 0 ou 2.
(2) Mostra-se estável e seguro.
5. Marcha com (0) Começa a cair a qualquer
obstáculos momento durante o percurso,
ou é incapaz de passar ou
contorna qualquer um dos
obstáculos, ou tem mais de 2
passos perdidos.
(1) Capaz de passar sobre todos
os obstáculos, mas mostra
instabilidade ou hesitação, ou
realiza 1 ou 2 passos em falso.
(2) Capaz de passar sobre os 4
obstáculos da tarefa, sem
qualquer passo em falso ou
instabilidade.
Marcha — chão com carpete ou solo
1. Início (0) Há qualquer hesitação, ou o
indivíduo realiza mais de uma
tentativa para começar a andar.
(1) Começa a andar em 1
tentativa e não hesita.
2. Trajetória (0) Dois ou mais movimentos
do pé desviam mais de 15cm
da trajetória.
(1) Não se encaixa no critério
de 0 ou 2.
(2) Caminha em linha reta.
3. Passos em
falso (0) Perde o equilíbrio, quase
cai, ou tem mais de 2 passos
em falso ou tropeços.
(1) Um ou 2 passos em falso ou
tropeços.
(2) Não apresenta nenhum
passo em falso, nem tropeça.
4. Dar a volta (0) Quase cai ou mostra-se
muito instável.
(1) Não se encaixa no critério
de 0 ou 2.
(2) Mostra-se estável e seguro.
5. Marcha com (0) Começa a cair a qualquer
obstáculos momento durante o percurso,
ou é incapaz de passar ou
contornar qualquer um dos
obstáculos, ou tem mais de 2
passos perdidos.
(1) Capaz de passar sobre todos
os obstáculos, mas mostra
instabilidade ou hesitação, ou
realiza 1 ou 2 passos em falso.
(2) Capaz de passar sobre os 4
obstáculos da tarefa, sem
qualquer passo em falso ou
instabilidade.
Fonte: Adaptado de Ishizuka (2008).23

TIMED GET UP AND GO


O teste Timed Get Up and Go (TGUG) avalia
a mobilidade e o equilíbrio, sendo amplamente utilizado
por ser de fácil aplicação. O teste quantifica em quantos
segundos o idoso levanta de uma cadeira, caminha 3
metros, vira, volta rumo à cadeira e senta novamente.
Pode-se utilizar uma versão modificada
do TGUGassociado a uma tarefa cognitiva para se avaliar
a influência da demanda atencional sobre o equilíbrio dos
idosos.
No TGUG, é normal para adultos saudáveis um tempo
até 10 segundos; entre 10,01 e 20 segundos, considera-
se um tempo normal para idosos frágeis ou com
deficiência, os quais tendem a ser independentes na
maioria das atividades da vida diária; com mais de 20,01
segundos gastos para a realização da tarefa, é
necessária uma avaliação mais detalhada do indivíduo
para verificar o grau de comprometimento funcional.
Outra forma de avaliar o TGUG foi sugerida por um
estudo mais recente, que leva em consideração a idade
do indivíduo:24,25

 60 a 69 anos: 9 segundos;
 70 a 79 anos: 9,1 a 10,2 segundos;
 80 a 99 anos: 10,3 a 12,7 segundos.

SHORT PHYSICAL PERFORMANCE


BATTERY
O instrumento Short Short Physical Performance
BatteryPhysical Performance Battery (SPPB) foi
desenvolvido com o apoio do National Institute on Aging
for the Established Populations for Epidemiologic Studies
of the Elderly (EPESE) nos EUA. Esse instrumento é
composto por três testes que avaliam, na sequência:

 o equilíbrio estático em pé (pés juntos,


semitandem, tandem — 10 segundos em cada
posição);
 a VM em passo habitual, medida em dois tempos
em determinado percurso de ida e volta e
indiretamente (2,4; 3 ou 4 metros);
 a força muscular dos membros inferiores por meio
do movimento de se levantar de uma cadeira e se
sentar nela cinco vezes consecutivas e sem o
auxílio dos membros superiores.
O Quadro 4 apresenta o SPPB.
Quadro 4
TESTE SHORT PHYSICAL
PERFORMANCE BATTERY

Equilíbrio
Pés juntos ( ) Manteve por 10
segundos (1)
Não manteve por 10
segundos (0)
Não tentou (0)
Semitandem ( ) Manteve por 10
segundos (1)
Não manteve por 10
segundos (0)
Não tentou (0)

Tandem ( ) Manteve por 10


segundos (2)
Não manteve por 3 a
9,99 segundos (1)
Manteve por menos de
3 segundos (0)
Não tentou (0)
Resultado do teste: ( )
VM (VM/4 metros)
Tentativas ( ) 1 tentativa (1)
2 tentativas (2)
Tempo:_____ segundos Não conseguiu/recusou
Velocidade:_____ m/s caminhar (0) —
velocidade 0m/s
Se o tempo for > 8,70
segundos (1) —
velocidade ≤ 0,46m/s
Se o tempo for de 6,21
a 8,70 segundos (2) —
velocidade > 0,46 a
0,64m/s
Se o tempo for de 4,82
a 6,20 segundos (3) —
velocidade > 0,64 a
0,83m/s
Se o tempo for < 4,82
segundos (4) —
velocidade > 0,83m/s
Apoios ( ) Nenhum (0)
Bengala (1)
Outro (2)
Resultado do teste: ( )
Teste sentar e levantar
Pré-teste: Sim (1)
Não (2)
Levantou sem usar os
braços ( ) Não conseguiu se
levantar 5x ou tempo
do teste > 60 segundos
(0)
Se o tempo do teste for
de 16,70 segundos ou
mais (1)
Se o tempo do teste for
de 13,70 a 16,69
segundos (2)
Se o tempo do teste for
de 11,20 a 13,69
segundos (3)
Se o tempo do teste for
de 11,19 segundos ou
menos (4)
Resultado do teste: ( )
Pontuação completa para o SPPB

Pontuação total do teste de equilíbrio: _____


pontos
Pontuação do teste de VM: _____ pontos
Pontuação do teste de sentar e levantar: _____
pontos
Pontuação total: _____ pontos (somar os pontos
acima)
Classificação do desempenho por pontuação

0 a 3 pontos: incapacidade ou desempenho muito


ruim
4 a 6 pontos: desempenho baixo
7 a 9 pontos: desempenho moderado
10 a 12 pontos: desempenho bom
VM: velocidade da marcha; SPPB: Short Physical
Performance Battery.
Fonte: Adaptado de Freire e colaboradores (2012).26
O SPPB fornece o tempo de percurso em 4 metros.
Como a VM é um parâmetro importante na avaliação
funcional do idoso, pode-se aproveitar para realizar o
cálculo da distância sobre o tempo e, assim, obter o valor
da VM.

GAITRITE®
O sistema de avaliação da marcha humana, GAITRite®,
automatiza a medida temporal (tempo) e espacial
(distância) dos parâmetros da marcha por uma passarela
(tapete) conectada a um computador. A passarela
eletrônica contém sensores em sua largura e seu
comprimento, totalizando 16.128.27
O GAITRite® é portátil, podendo ser colocado sobre
qualquer superfície plana. Requer configuração e tempo
de teste mínimo e não exige a colocação de quaisquer
dispositivos sobre o paciente (Figura 2A–D).27
Figura 2 — A–D) GAITRite®.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Diversos parâmetros podem ser obtidos, entre eles:27

 comprimento do passo e da passada;


 tempo do passo e da passada;
 tempo de apoio simples;
 tempo de apoio duplo;
 velocidade;
 cadência;
 variabilidade do tempo;
 comprimento da passada.

BAROPODOMETRIA COMPUTADORIZADA
A baropodometria computadorizada realiza
uma avaliação biomecânica dos pés, identificando as
alterações biomecânicas nos pés, tanto em repouso
quanto durante a marcha. O estudo da pisada em
repouso e durante a marcha contribui para a identificação
de medidas passíveis de correção e proteção.

ESCALA DE EFICÁCIA DE QUEDAS


A escala de eficácia de quedas–internacional em idosos
brasileiros (do inglês, Falls Efficacy
Scale–International–Brasil [FES–I–BR]) mensura
a preocupação em cair ao realizar 16 atividades do
cotidiano.

Pergunta-se ao idoso qual é sua preocupação a respeito


da possibilidade de cair, enquanto realiza algumas
atividades.

Instrução ao paciente: Se o Sr. atualmente não faz a


atividade citada (p. ex., alguém vai às compras para o
Sr.), responda de maneira a mostrar como se sentiria em
relação a quedas caso realizasse tal atividade.
Pontuação do teste:

A FES possui pontuação variando de 1 a 4, sendo o total


de 64 pontos.

Resultado igual ou superior a 23 está relacionado com


quedas esporádicas, e igual ou superior a 31, com
quedas recorrentes.
O Quadro 5 apresenta a FES.
Quadro 5
ESCALA DE EFICÁCIA DE QUEDAS

Atividades Nem um Um pouco Muito Extremamente


pouco preocupado preocupado preocupado
preocupado
Limpar a casa (1) (2) (3) (4)
(passar pano,
aspirar o pó ou
tirar a poeira)

Vestir ou tirar (1) (2) (3) (4)


a roupa
Preparar (1) (2) (3) (4)
refeições
simples
Tomar banho (1) (2) (3) (4)
Ir às compras (1) (2) (3) (4)
Sentar ou (1) (2) (3) (4)
levantar de
uma cadeira
Subir ou descer (1) (2) (3) (4)
escadas
Caminhar pela (1) (2) (3) (4)
vizinhança
Pegar algo (1) (2) (3) (4)
acima de sua
cabeça ou do
chão
Ir atender ao (1) (2) (3) (4)
telefone antes
que pare de
tocar
Andar sobre (1) (2) (3) (4)
superfície
escorregadia
(p. ex., chão
molhado)
Visitar um (1) (2) (3) (4)
amigo ou
parente
Andar em (1) (2) (3) (4)
lugares cheios
de gente
Caminhar (1) (2) (3) (4)
sobre
superfície
irregular (com
pedras,
esburacada)
Subir ou descer (1) (2) (3) (4)
uma ladeira
Ir a uma (1) (2) (3) (4)
atividade
social (p. ex.,
ato religioso,
reunião de
família ou
encontro no
clube)
Fonte: Adaptado de Camargos e colaboradores (2010).28
 ABORDAGEM DO PACIENTE
Grande parte das quedas em idosos evolui com traumas
locais, hematomas e complicações levesque muitas
vezes não são reportados ao profissional de saúde.
Idosos podem se mostrar relutantes em informar sobre
quedas devido aos estigmas de incapacidade e até
redução de sua autonomia. Entretanto, 10% das quedas
cursam com fraturas. Para aqueles acima de 60 anos,
83% das fraturas foram causadas por quedas.4

De forma habitual, o profissional de saúde deve perguntar


anualmente sobre a existência ou não de quedas no ano
anterior. A abordagem do paciente que apresenta um
único episódio de quedas é diferente daquela do paciente
que cai repetidas vezes.29
Na Figura 3, é apresentada a recomendação de
rastreamento proposta pela Sociedade Americana e
Inglesa de Geriatria e Gerontologia.
Figura 3 — Recomendação de rastreamento.
Fonte: Adaptada de Panel on Prevention of Falls in Older
e colaboradores (2011).29
Parte essencial da avaliação do idoso que cai é
compreender as circunstâncias pertinentes associadas ao
evento. Como, onde e quando a queda ocorreu são
perguntas essenciais para direcionar a investigação dos
fatores envolvidos e/ou desencadeantes.
Deve-se questionar sobre o que o paciente estava
fazendo antes da queda e se percebeu algum sintoma
(tontura, sensação de mal-estar, alterações visuais,
taquicardia, etc.). Da mesma forma, deve-se verificar se
houve troca recente de medicações ou mesmo acréscimo
ou retirada de algum fármaco. Entre outros elementos,
devem-se identificar as morbidades que o paciente
apresenta e as medicações em uso habitual, além de
avaliar seu grau de mobilidade.
No Quadro 6, são apresentadas as perguntas que devem
fazer parte da anamnese do paciente idoso com quedas.

Quadro 6
ANAMNESE DO IDOSO COM QUEDAS

 Onde caiu?
 O que fazia no momento da queda?
 Alguém presenciou a queda?
 Faz uso de benzodiazepínicos,
antidepressivos, anticolinérgicos,
hipoglicemiantes, medicações
cardiológicas ou apresenta polifarmácia?
 Houve introdução de algum novo fármaco
ou alteração em suas dosagens?
 Faz uso de bebida alcoólica?
 Houve crise convulsiva ou perda da
consciência?
 Houve queda nos últimos meses? Em caso
positivo, permaneceu caído por mais de 5
minutos sem conseguir se levantar
sozinho?
 Houve mudança recente no estado
mental?
 Fez avaliação oftalmológica no ano
anterior?
 Há fatores de risco ambientais?
Fonte: Elaborado pelos autores.
O exame físico do idoso que cai é elemento essencial na
investigação das possíveis causas da queda. Para isso, a
ênfase em alguns segmentos é de muita relevância.
A mensuração da pressão arterial nas posições deitado,
sentado e em pé pode habilitar o investigador quanto ao
reconhecimento de hipotensão ortostática, sendo que
uma redução de mais de 20mmHg na pressão sistólica
geralmente é considerada uma hipotensão ortostática
significativa.
A gênese da hipotensão ortostática pode estar presente
nos indivíduos saudáveis, mas, em especial, naqueles
que perderam condicionamento em decorrência de
imobilidade ou mesmo insuficiência venosa.
Desidratação, perda aguda de sangue ou efeito colateral
de fármacos também podem ser responsáveis por essa
condição desencadeando as quedas.
A verificação da acuidade visual deve ser avaliada, pois a
não adequação visual pode ser responsável por
instabilidade postural e possível queda.
A história de perda de consciência pode levar à suspeita
de evento cardíaco (arritmias) ou mesmo causas
neurológicas. Em caso de evento cardíaco, o profissional
deve se concentrar na investigação de arritmias e sinais
de estenose aórtica. Ambas as condições são graves,
porém tratáveis desde que suspeitas ao exame físico.
Quanto às causas neurológicas, uma pesquisa cuidadosa
por sinais focais, fraqueza, muscular, espasticidade,
rigidez e mesmo sinais de neuropatia periférica deve ser
realizada em conjunto com a investigação cognitiva com
testes pertinentes. Anormalidades cerebelares, tremores
e síndrome extrapiramidal devem ser abordados.
Deve-se ter atenção quanto à presença de deformidades
podais, como úlceras, joanetes e calos, e ajustes do
calçado; eles podem contribuir para o reconhecimento ao
exame físico da causa de queda.
No Quadro 7, são listados os itens essenciais e
peremptórios do exame físico do idoso com quedas.
Quadro 7
ASPECTOS ESSENCIAIS DO EXAME
FÍSICO DO PACIENTE COM QUEDAS

 Avaliação de hipotensão ortostática e pós-


prandial
 Verificação da acuidade visual e dos
movimentos oculomotores
 Avaliação auditiva
 Exame do aparelho cardiovascular
 Exame do aparelho musculoesquelético
 Exame neurológico acurado
 Avaliação cognitiva
 Exame dos pés e dos calçados
Fonte: Elaborado pelos autores.
O uso de exames complementares dependerá
diretamente da história clínica apresentada pelo idoso e
demais informantes. A análise de eletrólitos e demais
exames sanguíneos podem ser úteis se houver suspeita
de doença sistêmica em atividade. Se hipóteses
neurológicas forem pertinentes, pode ser feito o uso de
imagens do sistema nervoso central. Entretanto, não
existe nenhum exame laboratorial ou de imagem
específico protocolado para o idoso com quedas.30

 INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS
Grande parte das quedas é causada por uma interação
conjunta entre fatores intrínsecos e extrínsecos. De forma
geral, a primeira abordagem é intervir nas possíveis
causas orgânicas que desencadearam a queda.
Uma história clínica acurada será capaz de identificar
os fatores gerais envolvidos nas quedas. A presença de
uma testemunha do evento pode ser bastante útil,
esclarecendo, por exemplo, se o idoso escorregou ou
perdeu a consciência, o local da queda e o que fazia
antes da queda.
Quanto aos fatores extrínsecos, é importante identificar
onde a queda ocorreu e se é possível a modificação dos
agentes agressores. Já existem protocolos estabelecidos
para a identificação de fatores de risco quando a queda
ocorre em domicílio.31
No Quadro 8, são apresentados os elementos essenciais
na modificação dos agentes agressores.31
Quadro 8
ORIENTAÇÕES DE SEGURANÇA DO
IDOSO EM DOMICÍLIO

Todos os espaços:
 Remover tapetes soltos
 Manter somente tapetes com bordas
seguras
 Remover móveis baixos e objetos do chão
 Reduzir a desordem
 Garantir iluminação ambiental adequada
no período noturno
 Colocar frisos e corrimão em escadas
 Eliminar assentos baixos
 Evitar passar cera em assoalho
 Ter um telefone com mobilidade para o
caso de acidentes
 Ter cuidado com animais de estimação no
domicílio
Banheiro:
 Colocar barras de apoio na banheira e no
chuveiro, além do vaso sanitário
 Usar tapetes de borracha na banheira e no
chuveiro
 Retirar tapetes do chão quando não
estiverem em uso
 Usar assento elevado no vaso sanitário
Fora de casa:
 Reformar calçadas danificadas
 Colocar corrimão em escadas e trechos
com degraus
 Realizar a poda de arbustos
 Garantir iluminação adequada

Fonte: Adaptado de Cader e colaboradores (2014).32


A partir da observação da complexidade de elementos
que podem estar envolvidos com a queda, Chang e
colaboradores (2004) realizaram uma revisão sistemática
da literatura identificando as principais intervenções para
sua prevenção.33 Da mesma forma, outros autores
observaram que algumas intervenções
preventivas apresentavam um potencial de redução de
quedas de até 20%.34,35
A avaliação multifatorial das quedas recomenda o acesso
a informações objetivas e subjetivas sobre sete eixos:33

 marcha e equilíbrio;
 uso de medicações;
 alterações visuais;
 hipotensão ortostática;
 comprometimento cognitivo;
 capacidade funcional;
 ambiente em domicílio.
Para indivíduos com alterações na marcha e no
equilíbrio, intervenções fisioterapêuticas, programas de
exercícios individualizados, bem como uso de aparatos
de apoio à marcha, são medidas que deverão ser
implementadas.
A revisão criteriosa das medicações é elemento
essencial, dada a prevalência de iatrogenia nessa
população, além de interações
medicamentosasinterferindo diretamente nos
mecanismos de coordenação da marcha e do equilíbrio
(Quadro 9).

Quadro 9
MEDICAÇÕES COM RISCO POTENCIAL
PARA QUEDAS

 Hipnóticos sedativos
 Antidepressivos
 Antipsicóticos
 Anticolinérgicos
 Antiparkinsonianos
Fonte: Elaborado pelos autores.
A verificação da acuidade visual pode ser realizada por
meio de testes simples ou avaliação oftalmológica
periódica.
A hipotensão ortostática é causa potencial de quedas,
sendo definida como redução da pressão sistólica de
20mmHg ou diastólica de 10mmHg após 3 minutos na
posição ortostática.
A frequência cardíaca também deve ser mensurada, já
que a elevação de mais de 20 batimentos por minuto
saindo da posição sentada para a ortostática pode sugerir
hipovolemia, que deve ser cuidadosamente avaliada. A
associação dessa condição com inadequação
medicamentosa é significativa.
Alterações cognitivas estão associadas a baixo
julgamento, diminuição da atenção, medo de quedas e
distúrbios viso-espaciais. A abordagem do idoso portador
de déficit cognitivo deve ser cuidadosa. Isso também é
válido para a capacidade funcional do indivíduo. A
dificuldade em executar tarefas habituais do dia a dia
pode gerar medo de cair, e a incapacidade funcional, por
si só, já é fator de risco para quedas.
O ambiente em domicílio também deve ser avaliado,
tendo em vista que a maioria das quedas costuma
ocorrer nesse local.

INTERVENÇÕES MEDICAMENTOSAS
A suplementação de vitamina D parece estar associada à
prevenção de quedas pela melhora da força muscular e
do equilíbrio naqueles indivíduos que apresentam déficit
dessa substância. Entretanto, existe um conflito de
evidências se a suplementação pode influenciar a
incidência de quedas.30 Estudos longitudinais apresentam
que níveis de 25OHD abaixo de 10ng/mL são, de forma
independente, associados a quedas.36
A pluralidade de fatores que geram confusão é muito
grande nesses estudos — níveis basais de vitamina D,
idade, comorbidades, perfil físico e funcional.36
Apesar de serem necessários mais estudos, dados
cumulativos sugerem que a vitamina D pode trazer um
benefício de proteção contra quedas, com até 5% de
redução do risco. No entanto, uma revisão recente da
Cochrane concluiu que a suplementação não reduz a
taxa de quedas ou o risco de quedas em idosos da
comunidade que não apresentam carência dessa
substância.36

EXERCÍCIOS
Os exercícios devem focar em treino de equilíbrio,
fortalecimento muscular, otimização da mobilidade, treino
de marcha e transferências. Deve-se dedicar ao menos
50% do tempo de uma sessão de treinamento aos
exercícios de equilíbrio, que devem ser instituídos de
forma progressiva.

O objetivo dos exercícios é proporcionar ao idoso um


nível funcional que o permita ter uma marcha
considerada segura e estável. Devem incluir diferentes
superfícies de apoio, terrenos irregulares, apoio unipodal,
obstáculos, inclinações, giros sobre o próprio corpo e
sobre objetos e treino de tarefa dupla, focando na
melhora do equilíbrio estático e dinâmico.
Circuitos funcionais devem ser realizados, com o
treinamento de atividades nas quais o idoso se exponha
a riscos, como alcançar objetos, subir e descer escadas,
carregar objetos e realizar tarefas domésticas. A
frequência ideal seria de ao menos 2 vezes por semana,
incluindo orientação para a prática de exercícios
domiciliares.
A prática de exercícios irá permitir que o idoso crie ou
aperfeiçoe estratégias sensoriais, aumente sua
orientação no espaço e desenvolva estratégias motoras,
permitindo maior controle de seu centro de massa em
situações de perturbações externas.

EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO
O fornecimento de educação e informação aos idosos,
cuidadores e familiares tem como objetivo permitir a
implementação e a continuidade das estratégias de
prevenção de quedas.
Deve-se permitir ao paciente o acesso adequado a
recursos como equipamentos e a utilização de
dispositivos de auxílio à marcha, orientar sobre a
necessidade da realização do programa de exercícios,
promover habilidades seguras, ensinar o idoso a
reconhecer situações de riscos ambientais e orientar o
uso de calçado adequado. Deve-se também orientar
sobre a possibilidade de tratamento psicoterápico para
idosos que restringem suas atividades devido ao medo
de cair.

 CONCLUSÃO
A queda é uma condição com alta prevalência no
envelhecimento. Independentemente do cenário onde o
indivíduo se encontra (comunidade, enfermaria, domicílio
ou ILPI), sua expressão é um marco de possíveis
declínios para o idoso.
A busca ativa e o rastreamento periódico são parte
integrante da avaliação geriátrica preventiva. Uma vez
identificados mecanismos intrínsecos ou extrínsecos
causais, a intervenção é peremptória.
O uso de instrumentos de avaliação é de grande valia,
pois traz objetividade às observações e a possibilidade
de comparações futuras verificando a resposta às
intervenções terapêuticas. A história clínica é um
elemento essencial para a abordagem da queda, e todo o
arsenal complementar é direcionado a partir das
observações colhidas junto à anamnese e ao exame
físico.
A instabilidade postural é uma síndrome geriátrica e,
quando as quedas se tornam frequentes, pode ser
identificada como um fator de risco de morte para quem
sofre a queda.

 REFERÊNCIAS

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Como citar a versão impressa deste documento

Moreira VG, Drummond FMM. Quedas. In: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; Cunha UGV, Cabrera M,
organizadores. PROGER Programa de Atualização em Geriatria e Gerontologia: Ciclo 4. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2018.
p. 111–51. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 1).

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