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VIRGÍLIO
GARCIA
MOREIRA
FLÁVIA MOURA
MALINI
DRUMMOND
INTRODUÇÃO
As quedas representam uma condição muito comum no
idoso. São marcadas por sua associação a importantes
prejuízos, tanto por sua consequência física quanto
psicológica.1 Traumas, fraturas, lesões teciduais, redução
da autonomia e medo de cair (ptofobia) estão entre as
preocupações iminentes.2 Aqueles que sofrem quedas
têm maior riscos de hospitalização, institucionalização e
morte prematura.
O problema de quedas em idosos não decorre apenas de
sua alta prevalência, pois crianças e atletas certamente
também caem; é a combinação de alta frequência com
alta suscetibilidade a lesões que torna a queda muito
perigosa nessa população.3
A recuperação de lesões decorrentes de quedas em
idosos também ocorre de forma mais lenta, o que
aumenta o risco de novas quedas devido ao
descondicionamento gerado após o idoso cair e à perda
de sua capacidade funcional.3
Além disso, o impacto da queda não está restrito ao
indivíduo. É um problema de saúde pública, em que os
familiares e a sociedade são afetados, além de
representar significativo impacto socioeconômico, com
cifras de 30 bilhões de dólares ao ano nos EUA.4
No Brasil, estimativas revelam que, em 2010, 10.425
mortes foram provocadas por quedas, sendo 65,2% em
idosos. O Sistema Único de Saúde (SUS) gastou 57,61
milhões de reais com internações decorrentes de quedas
em 2009.5
Diagnosticar o indivíduo que apresenta instabilidade
postural é atuar preventivamente evitando a queda.
Nesse contexto, este artigo busca reconhecer os
aspectos epidemiológicos, etiológicos e clínicos
associados às quedas.
OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
ESQUEMA CONCEITUAL
EPIDEMIOLOGIA
idade avançada;
comprometimento das atividades de vida diária
com redução da mobilidade;
história de quedas.
A incidência de quedas aumenta com a idade e de
acordo com a capacidade funcional do idoso. Ela varia de
28 a 35% para aqueles acima de 65 anos a 42% para
aqueles acima de 75 anos na comunidade. No Brasil,
estudos populacionais apontam sua prevalência em
28%.6 No cenário das instituições de longa permanência
para idosos (ILPIs), sua prevalência pode chegar a 50%.7
A maioria das quedas acontece em domicílio e no
banheiro, sendo que 20% ocorrem no período noturno,
entre as 21 e as 7 horas.7
São consequências das quedas em idosos:
risco de institucionalização;
redução da atividade física/descondicionamento;
depressão;
ansiedade;
perda de autoestima;
restrição de atividades;
medo de quedas;
fraturas;
lesões teciduais;
internação hospitalar;
morte.
Os indivíduos que caem uma vez apresentam maior risco
de cair novamente do que aqueles que nunca caíram.
Investigações apontam que quase 60% dos idosos que
caíram no ano anterior poderão sofrer uma nova queda.
Ademais, a queda é a principal causa de morte acidental
em idosos.8 Existe uma correlação direta entre quedas e
fraturas, sendo que as quedas são responsáveis por 95%
dos casos de fratura de quadril em idosos.7
Intrínsecas Extrínsecas
LEMBRAR
Alguns fatores que contribuem para o desenvolvimento
do medo de cair são as próprias consequências das
quedas, como o medo de se machucar, de ser
hospitalizado, de não voltar a andar e de se tornar
dependente de outras pessoas para atividades
cotidianas.9,10
Na Figura 1, pode ser observada a interação entre os
processos associados ao envelhecimento, os fatores de
risco modificáveis e as consequências das quedas.
cardiovascular;
vestibular;
oftálmico;
neurológico;
muscular;
osteoarticular.
Com o envelhecimento, as alterações mais evidentes
ocorrem durante o apoio unipodal, que se encontra
fisiologicamente reduzido em indivíduos mais
velhos.8 Essa alteração associa-se à redução da
segurança no ato de caminhar, prejudicando a
estabilidade da marcha.
Há diferença entre marcha e mobilidade.
A marcha refere-se à locomoção pelo uso dos membros
inferiores, em uma atividade que projeta o centro de
gravidade à frente do corpo. Já a mobilidade não está
relacionada com essa projeção, mas sim com a
habilidade do indivíduo de se posicionar no ambiente,
sem restrição.13
Dois componentes são fundamentais para a execução da
marcha:13
LEMBRAR
A duração do ciclo da marcha é estabelecida da seguinte
forma: o ciclo inicia quando o calcanhar de um dos pés
entra em contato com o solo e termina quando esse
mesmo pé entra em contato com o solo novamente.15
A fase de apoio compreende 60% do ciclo da marcha, e
a fase de balanço, 40%. Dentro dessas fases, existem
algumas subfases. A fase de apoiocompreende apoio
inicial, resposta à carga, apoio médio e apoio final. Já
a fase de balançocompreende pré-balanço, balanço
médio e balanço final.15
No processo de envelhecimento, ocorre um declínio das
habilidades psicomotoras, o que inclui alterações
posturais e de equilíbrio, que irão alterar a marcha.13 A
marcha segura e efetiva é um marcador de
independência ao longo dos anos. O desempenho da
marcha é um preditor de sobrevivência e qualidade de
vida, assim como de declínio cognitivo e quedas, ou seja,
pode ser considerado como um marcador de saúde
global.16 Dificuldades na marcha podem ser consideradas
como um sexto “sinal vital” na avaliação do idoso.17
A velocidade da marcha (VM) é a medida mais utilizada
na prática clínica e na pesquisa, por ser simples, fácil e
de baixo custo, além de não requerer equipamentos
sofisticados. É também preditora de tempo de internação,
mortalidade, demência, quedas e incapacidade
funcional.18 No entanto, apesar da importância e da
facilidade de se avaliar a VM, ela pode não ser sensível a
alterações iniciais e, por isso, há a necessidade de se
avaliar outros parâmetros.
Um parâmetro que vem sendo estudado mais
recentemente é a variabilidade do comprimento do passo,
que pode estar alterada em idosos, mesmo sem lesão
neurológica ou doenças específicas que possam explicar
tal alteração. Um sistema neural saudável é necessário
para que não haja flutuações durante a caminhada e,
consequentemente, exista menor variabilidade.19,20
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE
DESEMPENHO FÍSICO, EQUILÍBRIO, MARCHA
E MOBILIDADE
Os instrumentos para identificar a habilidade funcional e
o desempenho da marcha e do equilíbrio fornecem
objetividade à investigação clínica, proporcionam
medidas quantitativas do desempenho físico e fazem
parte do arsenal investigativo do idoso que cai.
Existem muitos instrumentos para se avaliar risco de
quedas, o equilíbrio e a marcha em idosos. Deve-se
escolher um instrumento apropriado e que atenda às
necessidades específicas do paciente, tenha boa
aplicabilidade prática, ou seja, apresente baixo custo e
seja de fácil aplicação, e que seja válido para ser utilizado
no Brasil, com estudos que avaliem suas propriedades
psicométricas. Além disso, deve-se ter um espaço físico
adequado e o material necessário.
Outro ponto fundamental é reavaliar o paciente ao longo
do tempo, para que se possa mensurar a eficácia do
instrumento e o melhor planejamento das intervenções
necessárias. Ao escolher o instrumento, deve-se
ter prática e treinamentopara aplicá-lo.
A seguir, são apresentados os instrumentos mais
utilizados na prática clínica. Para alguns, será descrito
como realizar sua aplicação e pontuação.
0: incapaz de alcançar.
1: atinge ≤ 15cm.
2: atinge > 15cm, mas < 25cm.
3: atinge > 25cm.
Contornar obstáculos
Tarefas Pontuação
1. Da posição sentada para (4) Capaz de se
a posição de pé. levantar sem utilizar
Instruções: Por favor, as mãos e se
levante-se. Tente não usar estabilizar de forma
as mãos como suporte. independente.
(3) Capaz de se
levantar de forma
independente
utilizando as mãos.
(2) Capaz de se
levantar utilizando
as mãos após
diversas tentativas.
(1) Necessita de
ajuda mínima para
se levantar ou se
estabilizar.
(0) Necessita de
ajuda moderada ou
máxima para se
levantar.
2. Permanecer em pé sem (4) Capaz de
apoio. permanecer em pé
Instruções: Por favor, fique com segurança por 2
em pé, durante 2 minutos. minutos.
(3) Capaz de
permanecer em pé
por 2 minutos com
supervisão.
(2) Capaz de
permanecer em pé
por 30 segundos
sem apoio.
(1) Necessita de
várias tentativas
para permanecer em
pé por 30 segundos
sem apoio.
(0) Incapaz de
permanecer em pé
por 30 segundos
sem apoio.
Observação: Se o paciente for capaz de
permanecer em pé por 2 minutos sem apoio,
deve-se registrar o número total de pontos no item
número 3 e continuar com o item número 4.
3. Permanecer sentado sem (4) Capaz de
apoio nas costas, mas com permanecer sentado
os pés apoiados no chão ou com segurança e
em um banquinho. com firmeza por 2
Instruções: Por favor, fique minutos.
sentado sem apoiar as (3) Capaz de
costas, com os braços permanecer sentado
cruzados, por 2 minutos. por 2 minutos com
supervisão.
(2) Capaz de
permanecer sentado
por 30 segundos.
(1) Capaz de
permanecer sentado
por 10 segundos.
(0) Incapaz de
permanecer sentado
sem apoio durante
10 segundos.
4. Da posição de pé para a (4) Senta-se com
posição sentada. segurança com o
Instruções: Por favor, uso mínimo das
sente-se. mãos.
(3) Controla a
descida utilizando
as mãos.
(2) Utiliza a parte
posterior das pernas
contra a cadeira para
controlar a descida.
(1) Senta-se de
forma independente,
mas tem descida
sem controle.
(0) Necessita de
ajuda para se sentar.
5. Transferências. (4) Capaz de se
São arrumadas cadeiras transferir com
perpendicularmente ou segurança com o
uma de frente para a outra uso mínimo das
para uma transferência em mãos.
pivô. (3) Capaz de se
Instruções: Por favor, transferir com
transfira-se de uma cadeira segurança com o
com apoio de braço para uso das mãos.
uma cadeira sem apoio de (2) Capaz de se
braço, e vice-versa. transferir seguindo
orientações verbais
e/ou supervisão.
(1) Necessita de
uma pessoa para
ajudar.
(0) Necessita de
duas pessoas para
ajudar ou
supervisionar para
realizar a tarefa com
segurança.
6. Permanecer em pé sem (4) Capaz de
apoio, com os olhos permanecer em pé
fechados. por 10 segundos
Instruções: Por favor, fique com segurança.
em pé e feche os olhos por (3) Capaz de
10 segundos. permanecer em pé
por 10 segundos
com supervisão.
(2) Capaz de
permanecer em pé
por 3 segundos.
(1) Incapaz de
permanecer com os
olhos fechados
durante 3 segundos,
mas se mantém em
pé.
(0) Necessita de
ajuda para não cair.
7. Permanecer em pé sem (4) Capaz de
apoio, com os pés juntos. posicionar os pés
Instruções: Por favor, junte juntos de forma
seus pés e fique em pé sem independente e
se apoiar. permanecer por 1
minuto com
segurança.
(3) Capaz de
posicionar os pés
juntos de forma
independente e
permanecer por 1
minuto com
supervisão.
(2) Capaz de
posicionar os pés
juntos de forma
independente e
permanecer por 30
segundos.
(1) Necessita de
ajuda para se
posicionar, mas é
capaz de
permanecer com os
pés juntos durante
15 segundos.
(0) Necessita de
ajuda para se
posicionar e é
incapaz de
permanecer nessa
posição por 15
segundos.
8. Alcançar à frente com o (4) Pode avançar à
braço estendido frente mais que
permanecendo em pé (teste 25cm com
de alcance funcional). segurança.
Instruções: Levante o braço (3) Pode avançar à
a 90º. Estique os dedos e frente mais que
tente alcançar à frente o 12,5cm com
mais longe possível (a segurança.
medida registrada é a (2) Pode avançar à
distância que os dedos frente mais que 5cm
conseguem alcançar a com segurança.
inclinação). (1) Pode avançar à
frente, mas necessita
de supervisão.
(0) Perde o
equilíbrio na
tentativa, ou
necessita de apoio
externo.
9. Pegar um objeto do chão (4) Capaz de pegar
a partir de uma posição em o objeto com
pé. facilidade e
Instruções: Por favor, segurança.
pegue o objeto que está em (3) Capaz de pegar
frente a seus pés. o objeto, mas
necessita de
supervisão.
(2) Incapaz de pegar
o objeto, mas se
estica até ficar a
2–5cm dele e
mantém o equilíbrio
de forma
independente.
(1) Incapaz de pegar
o objeto,
necessitando de
supervisão enquanto
está tentando
realizar a tarefa.
(0) Incapaz de
realizar a tarefa, ou
necessita de ajuda
para não perder o
equilíbrio ou cair.
10. Virar-se e olhar para (4) Olha para trás de
trás por cima dos ombros ambos os lados com
direito e esquerdo enquanto uma boa
permanece em pé. distribuição de peso.
Instruções: Por favor, vire- (3) Olha para trás
se para olhar diretamente somente de um lado;
atrás de você por cima de o lado contrário
seu ombro esquerdo sem demonstra menor
tirar os pés do chão. Faça o distribuição do peso.
mesmo por cima do ombro (2) Vira somente
direito. para os lados, mas
mantém o
equilíbrio.
(1) Necessita de
supervisão para
virar.
(0) Necessita de
ajuda para não
perder o equilíbrio
ou cair.
11. Girar 360º. (4) Capaz de girar
Instruções: Por favor, gire 360º com segurança
sobre si mesmo em 4 segundos ou
(cronometrar). Faça uma menos.
pausa. Gire em sentido (3) Capaz de girar
contrário. 360º com segurança
somente para um
lado em 4 segundos
ou menos.
(2) Capaz de girar
360º com segurança,
mas lentamente.
(1) Necessita de
supervisão próxima
ou orientações
verbais.
(0) Necessita de
ajuda enquanto gira.
12. Posicionar os pés (4) Capaz de
alternadamente em permanecer em pé
degrau/banquinho de forma
enquanto permanece em pé independente e com
sem apoio. segurança,
Instruções: Por favor, toque completando 8
cada pé alternadamente no movimentos em 20
degrau/banquinho segundos.
(cronometrar). Continue (3) Capaz de
até que cada pé tenha permanecer em pé
tocado o degrau/banquinho de forma
quatro vezes. independente e
completar 8
movimentos em
mais de 20
segundos.
(2) Capaz de
completar 4
movimentos sem
ajuda.
(1) Capaz de
completar mais de 2
movimentos com o
mínimo de ajuda.
(0) Incapaz de
realizar a tarefa, ou
necessita de ajuda
para não cair.
13. Permanecer em pé sem (4) Capaz de colocar
apoio, com um pé à frente. um pé
Instruções: Coloque um pé imediatamente à
à frente do outro na mesma frente do outro de
linha. Se achar que não irá forma independente
conseguir, coloque um pé e permanecer por 30
um pouco mais à frente do segundos.
outro e levemente para o (3) Capaz de colocar
lado. um pé um pouco
mais à frente do
outro, levemente
para o lado, de
forma independente,
e permanecer por 30
segundos.
(2) Capaz de dar um
pequeno passo de
forma independente
e permanecer por 30
segundos.
(1) Necessita de
ajuda para dar o
passo, porém
permanece por 15
segundos.
(0) Perde o
equilíbrio ao tentar
dar um passo ou
ficar de pé.
14. Permanecer em pé (4) Capaz de
sobre uma perna. levantar uma perna
Instruções: Fique em pé de forma
sobre uma perna o máximo independente e
que puder sem se segurar permanecer por
(cronometrar). mais que 10
segundos.
(3) Capaz de
levantar uma perna
de forma
independente e
permanecer por
5–10 segundos.
(2) Capaz de
levantar uma perna
de forma
independente e
permanecer por 3–4
segundos.
(1) Tenta levantar
uma perna, mas é
incapaz de
permanecer por 3
segundos, embora
permaneça em pé de
forma independente.
(0) Incapaz de
realizar a tarefa, ou
necessita de ajuda
para não cair.
Fonte: Adaptado de Miyamoto e colaboradores (2004).22
Atividades Pontuação
Equilíbrio
1. Sentando-se (0) Incapaz de se sentar sem
ajuda, ou cai na cadeira
(retrocede, aparenta
insegurança), ou se senta fora
do centro da cadeira.
(1) Capaz, mas não entra nos
critérios de 0 ou 2.
(2) Senta-se em um movimento
suave e seguro e termina
colocando o quadril no fundo
da cadeira e as coxas alinhadas
no centro da cadeira.
2. Equilíbrio (0) Inclina-se acentuadamente
sentado para o lado ou para a frente, ou
começa a escorregar da
cadeira.
(1) Inclina-se ligeiramente, ou
apresenta uma pequena
distância do quadril para o
fundo da cadeira.
(2) Está acomodado em
posição vertical e estável.
3. Levantando- (0) Incapaz de se levantar da
se cadeira sem ajuda, ou começa a
perder o equilíbrio, ou realiza
mais de três tentativas.
(1) Capaz de se levantar, mas
realiza três tentativas.
(2) Capaz de se levantar com
uma ou duas tentativas.
4. Equilíbrio (0) Está instável, o que é
imediato em demonstrado por cambalear,
postura de pé movimento dos pés, oscilação
de tronco, apoio em objetos ou
início de queda.
(1) Está estável, mas usa
andador ou bengala para o
movimento, ou dá poucos
passos, mas é capaz de se
manter sem se apoiar em um
objeto.
(2) Parece estável sem se
apoiar em um objeto.
5. Equilíbrio em (0) Incapaz, ou reluta em fazer
pé, com os pés o movimento, ou sai da posição
lado a lado antes de 3,99 segundos.
(1) Capaz de manter a postura
por 4,01 a 9,99 segundos, ou
usa bengala, andador ou outro
apoio.
(2) Capaz de ficar de pé com os
pés juntos sem se apoiar por 10
segundos.
6. Teste de (0) Começa a cair.
equilíbrio (1) Dá dois ou mais passos
compensatório para trás.
(2) Dá menos de dois passos
para trás e se mantém estável.
7. Apoio na (0) Incapaz de tentar; agarra
perna direita qualquer objeto se coloca o pé
no chão antes de 3 segundos.
(1) Capaz de se manter em pé
por 3,01 a 4,99 segundos.
(2) Capaz de se manter na
posição por 5 segundos.
8. Apoio na (0) Incapaz de tentar; agarra
perna esquerda qualquer objeto se coloca o pé
no chão antes de 3 segundos.
(1) Capaz de se manter em pé
por 3,01 a 4,99 segundos.
(2) Capaz de se manter na
posição por 5 segundos.
9. Posição em
semitandem (0) Incapaz de manter a
posição; começa a cair ou fica
na posição por 3,99 segundos
ou menos.
(1) Capaz, mas mantém a
posição (sem mover os pés) por
4 a 9,99 segundos.
(2) Capaz de manter a posição
(sem mover os pés) por 10
segundos.
10. Posição em (0) Incapaz de manter a
tandem posição; começa a cair ou fica
na posição por 3,99 segundos
ou menos.
(1) Capaz, mas mantém a
posição (sem mover os pés) por
4 a 9,99 segundos.
(2) Capaz de manter a posição
(sem mover os pés) por 10
segundos.
60 a 69 anos: 9 segundos;
70 a 79 anos: 9,1 a 10,2 segundos;
80 a 99 anos: 10,3 a 12,7 segundos.
Equilíbrio
Pés juntos ( ) Manteve por 10
segundos (1)
Não manteve por 10
segundos (0)
Não tentou (0)
Semitandem ( ) Manteve por 10
segundos (1)
Não manteve por 10
segundos (0)
Não tentou (0)
GAITRITE®
O sistema de avaliação da marcha humana, GAITRite®,
automatiza a medida temporal (tempo) e espacial
(distância) dos parâmetros da marcha por uma passarela
(tapete) conectada a um computador. A passarela
eletrônica contém sensores em sua largura e seu
comprimento, totalizando 16.128.27
O GAITRite® é portátil, podendo ser colocado sobre
qualquer superfície plana. Requer configuração e tempo
de teste mínimo e não exige a colocação de quaisquer
dispositivos sobre o paciente (Figura 2A–D).27
Figura 2 — A–D) GAITRite®.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Diversos parâmetros podem ser obtidos, entre eles:27
BAROPODOMETRIA COMPUTADORIZADA
A baropodometria computadorizada realiza
uma avaliação biomecânica dos pés, identificando as
alterações biomecânicas nos pés, tanto em repouso
quanto durante a marcha. O estudo da pisada em
repouso e durante a marcha contribui para a identificação
de medidas passíveis de correção e proteção.
Quadro 6
ANAMNESE DO IDOSO COM QUEDAS
Onde caiu?
O que fazia no momento da queda?
Alguém presenciou a queda?
Faz uso de benzodiazepínicos,
antidepressivos, anticolinérgicos,
hipoglicemiantes, medicações
cardiológicas ou apresenta polifarmácia?
Houve introdução de algum novo fármaco
ou alteração em suas dosagens?
Faz uso de bebida alcoólica?
Houve crise convulsiva ou perda da
consciência?
Houve queda nos últimos meses? Em caso
positivo, permaneceu caído por mais de 5
minutos sem conseguir se levantar
sozinho?
Houve mudança recente no estado
mental?
Fez avaliação oftalmológica no ano
anterior?
Há fatores de risco ambientais?
Fonte: Elaborado pelos autores.
O exame físico do idoso que cai é elemento essencial na
investigação das possíveis causas da queda. Para isso, a
ênfase em alguns segmentos é de muita relevância.
A mensuração da pressão arterial nas posições deitado,
sentado e em pé pode habilitar o investigador quanto ao
reconhecimento de hipotensão ortostática, sendo que
uma redução de mais de 20mmHg na pressão sistólica
geralmente é considerada uma hipotensão ortostática
significativa.
A gênese da hipotensão ortostática pode estar presente
nos indivíduos saudáveis, mas, em especial, naqueles
que perderam condicionamento em decorrência de
imobilidade ou mesmo insuficiência venosa.
Desidratação, perda aguda de sangue ou efeito colateral
de fármacos também podem ser responsáveis por essa
condição desencadeando as quedas.
A verificação da acuidade visual deve ser avaliada, pois a
não adequação visual pode ser responsável por
instabilidade postural e possível queda.
A história de perda de consciência pode levar à suspeita
de evento cardíaco (arritmias) ou mesmo causas
neurológicas. Em caso de evento cardíaco, o profissional
deve se concentrar na investigação de arritmias e sinais
de estenose aórtica. Ambas as condições são graves,
porém tratáveis desde que suspeitas ao exame físico.
Quanto às causas neurológicas, uma pesquisa cuidadosa
por sinais focais, fraqueza, muscular, espasticidade,
rigidez e mesmo sinais de neuropatia periférica deve ser
realizada em conjunto com a investigação cognitiva com
testes pertinentes. Anormalidades cerebelares, tremores
e síndrome extrapiramidal devem ser abordados.
Deve-se ter atenção quanto à presença de deformidades
podais, como úlceras, joanetes e calos, e ajustes do
calçado; eles podem contribuir para o reconhecimento ao
exame físico da causa de queda.
No Quadro 7, são listados os itens essenciais e
peremptórios do exame físico do idoso com quedas.
Quadro 7
ASPECTOS ESSENCIAIS DO EXAME
FÍSICO DO PACIENTE COM QUEDAS
INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS
Grande parte das quedas é causada por uma interação
conjunta entre fatores intrínsecos e extrínsecos. De forma
geral, a primeira abordagem é intervir nas possíveis
causas orgânicas que desencadearam a queda.
Uma história clínica acurada será capaz de identificar
os fatores gerais envolvidos nas quedas. A presença de
uma testemunha do evento pode ser bastante útil,
esclarecendo, por exemplo, se o idoso escorregou ou
perdeu a consciência, o local da queda e o que fazia
antes da queda.
Quanto aos fatores extrínsecos, é importante identificar
onde a queda ocorreu e se é possível a modificação dos
agentes agressores. Já existem protocolos estabelecidos
para a identificação de fatores de risco quando a queda
ocorre em domicílio.31
No Quadro 8, são apresentados os elementos essenciais
na modificação dos agentes agressores.31
Quadro 8
ORIENTAÇÕES DE SEGURANÇA DO
IDOSO EM DOMICÍLIO
Todos os espaços:
Remover tapetes soltos
Manter somente tapetes com bordas
seguras
Remover móveis baixos e objetos do chão
Reduzir a desordem
Garantir iluminação ambiental adequada
no período noturno
Colocar frisos e corrimão em escadas
Eliminar assentos baixos
Evitar passar cera em assoalho
Ter um telefone com mobilidade para o
caso de acidentes
Ter cuidado com animais de estimação no
domicílio
Banheiro:
Colocar barras de apoio na banheira e no
chuveiro, além do vaso sanitário
Usar tapetes de borracha na banheira e no
chuveiro
Retirar tapetes do chão quando não
estiverem em uso
Usar assento elevado no vaso sanitário
Fora de casa:
Reformar calçadas danificadas
Colocar corrimão em escadas e trechos
com degraus
Realizar a poda de arbustos
Garantir iluminação adequada
marcha e equilíbrio;
uso de medicações;
alterações visuais;
hipotensão ortostática;
comprometimento cognitivo;
capacidade funcional;
ambiente em domicílio.
Para indivíduos com alterações na marcha e no
equilíbrio, intervenções fisioterapêuticas, programas de
exercícios individualizados, bem como uso de aparatos
de apoio à marcha, são medidas que deverão ser
implementadas.
A revisão criteriosa das medicações é elemento
essencial, dada a prevalência de iatrogenia nessa
população, além de interações
medicamentosasinterferindo diretamente nos
mecanismos de coordenação da marcha e do equilíbrio
(Quadro 9).
Quadro 9
MEDICAÇÕES COM RISCO POTENCIAL
PARA QUEDAS
Hipnóticos sedativos
Antidepressivos
Antipsicóticos
Anticolinérgicos
Antiparkinsonianos
Fonte: Elaborado pelos autores.
A verificação da acuidade visual pode ser realizada por
meio de testes simples ou avaliação oftalmológica
periódica.
A hipotensão ortostática é causa potencial de quedas,
sendo definida como redução da pressão sistólica de
20mmHg ou diastólica de 10mmHg após 3 minutos na
posição ortostática.
A frequência cardíaca também deve ser mensurada, já
que a elevação de mais de 20 batimentos por minuto
saindo da posição sentada para a ortostática pode sugerir
hipovolemia, que deve ser cuidadosamente avaliada. A
associação dessa condição com inadequação
medicamentosa é significativa.
Alterações cognitivas estão associadas a baixo
julgamento, diminuição da atenção, medo de quedas e
distúrbios viso-espaciais. A abordagem do idoso portador
de déficit cognitivo deve ser cuidadosa. Isso também é
válido para a capacidade funcional do indivíduo. A
dificuldade em executar tarefas habituais do dia a dia
pode gerar medo de cair, e a incapacidade funcional, por
si só, já é fator de risco para quedas.
O ambiente em domicílio também deve ser avaliado,
tendo em vista que a maioria das quedas costuma
ocorrer nesse local.
INTERVENÇÕES MEDICAMENTOSAS
A suplementação de vitamina D parece estar associada à
prevenção de quedas pela melhora da força muscular e
do equilíbrio naqueles indivíduos que apresentam déficit
dessa substância. Entretanto, existe um conflito de
evidências se a suplementação pode influenciar a
incidência de quedas.30 Estudos longitudinais apresentam
que níveis de 25OHD abaixo de 10ng/mL são, de forma
independente, associados a quedas.36
A pluralidade de fatores que geram confusão é muito
grande nesses estudos — níveis basais de vitamina D,
idade, comorbidades, perfil físico e funcional.36
Apesar de serem necessários mais estudos, dados
cumulativos sugerem que a vitamina D pode trazer um
benefício de proteção contra quedas, com até 5% de
redução do risco. No entanto, uma revisão recente da
Cochrane concluiu que a suplementação não reduz a
taxa de quedas ou o risco de quedas em idosos da
comunidade que não apresentam carência dessa
substância.36
EXERCÍCIOS
Os exercícios devem focar em treino de equilíbrio,
fortalecimento muscular, otimização da mobilidade, treino
de marcha e transferências. Deve-se dedicar ao menos
50% do tempo de uma sessão de treinamento aos
exercícios de equilíbrio, que devem ser instituídos de
forma progressiva.
EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO
O fornecimento de educação e informação aos idosos,
cuidadores e familiares tem como objetivo permitir a
implementação e a continuidade das estratégias de
prevenção de quedas.
Deve-se permitir ao paciente o acesso adequado a
recursos como equipamentos e a utilização de
dispositivos de auxílio à marcha, orientar sobre a
necessidade da realização do programa de exercícios,
promover habilidades seguras, ensinar o idoso a
reconhecer situações de riscos ambientais e orientar o
uso de calçado adequado. Deve-se também orientar
sobre a possibilidade de tratamento psicoterápico para
idosos que restringem suas atividades devido ao medo
de cair.
CONCLUSÃO
A queda é uma condição com alta prevalência no
envelhecimento. Independentemente do cenário onde o
indivíduo se encontra (comunidade, enfermaria, domicílio
ou ILPI), sua expressão é um marco de possíveis
declínios para o idoso.
A busca ativa e o rastreamento periódico são parte
integrante da avaliação geriátrica preventiva. Uma vez
identificados mecanismos intrínsecos ou extrínsecos
causais, a intervenção é peremptória.
O uso de instrumentos de avaliação é de grande valia,
pois traz objetividade às observações e a possibilidade
de comparações futuras verificando a resposta às
intervenções terapêuticas. A história clínica é um
elemento essencial para a abordagem da queda, e todo o
arsenal complementar é direcionado a partir das
observações colhidas junto à anamnese e ao exame
físico.
A instabilidade postural é uma síndrome geriátrica e,
quando as quedas se tornam frequentes, pode ser
identificada como um fator de risco de morte para quem
sofre a queda.
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Como citar a versão impressa deste documento
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