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ANA PAULA SILVA DE MORAIS

ISABELA MIRANDA FERNANDES


RENATA CABRAL DIAS RAMOS

SAÚDE MENTAL E QUEDAS EM IDOSOS

Centro Universitário UNIFIPMoc


Montes Claros – MG
2022
ANA PAULA SILVA DE MORAIS
ISABELA MIRANDA FERNANDES
RENATA CABRAL DIAS RAMOS

SAÚDE MENTAL E QUEDAS EM IDOSOS

Centro Universitário UNIFIPMoc


Montes Claros – MG
2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3
1. DISTÚRBIOS QUE PODEM GERAR PERDA DE EQUILÍBRIO 3
1.1 RELAÇÃO DO PARKINSON COM A PERDA DE EQUILÍBRIO 4
1.2 RELAÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER COM A PERDA DE EQUILÍBRIO 8
2. COMO MEDO DE SOFRER QUEDAS PODE IMPACTAR A VIDA DOS IDOSOS 8
2.1 ANSIEDADE GERADA PELO MEDO DE SOFRER QUEDAS 9
CONCLUSÃO 13
REFERÊNCIAS 14
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INTRODUÇÃO

O envelhecimento pode ser definido como o acúmulo de danos aleatórios às moléculas


orgânicas – em especial ácido desoxirribonucléico (DNA), certas proteínas, carboidratos e
lipídios – que acaba excedendo as capacidades de auto-reparo do corpo, o que aumenta a
vulnerabilidade a doenças e causa manifestações típicas do envelhecimento, como as perdas
funcionais (GAI, et al., 2009).
Com o envelhecimento, o sistema nervoso apresenta alterações com redução no
número de neurônios, redução na velocidade de condução nervosa, redução da intensidade
dos reflexos, restrição das respostas motoras, do poder de reações e da capacidade de
coordenações (DE VITTA, 2000 apud FECHINE e TROMPIERE, 2012). O que nos leva a
grande preocupação pois de acordo com Cançado, Alanis e Horta (2013), este sistema é
formado em sua maioria por unidades morfofuncionais pós-mitóticas sem possibilidade
reprodutora.
Todavia, é preciso entender o envelhecimento também como um processo inerente à
vida, constituindo-se em fenômeno complexo que afeta o sujeito de modo particular, com
diferenças devidas a fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais (GAI, et al., 2009).

1. DISTÚRBIOS QUE PODEM GERAR PERDA DE EQUILÍBRIO

O controle do equilíbrio vai depender de três sistemas perceptivos: o vestibular, o


proprioceptivo e o visual. O vestibular faz com que ocorram as acelerações e desacelerações
angulares rápidas, sendo o mais importante para a manutenção da postura ereta. O
proprioceptivo vai permitir que o corpo tenha uma percepção dos membros no espaço em
relação à reciprocidade. O visual vai oferecer referências para a verticalidade, pois possui
duas fontes complementares de informações, sendo elas: a visão, onde a mesma situa o
indivíduo no seu ambiente por meio de coordenadas retinianas, e a motricidade ocular, que
situa o olho na órbita por meio da coordenação cefálica (CRUZ et al., 2010).
Existem evidências de que o processo do envelhecimento seja de natureza
multifatorial, dependente da programação genética e das alterações que vão ocorrendo em
níveis celular e molecular, que resultarão em sua aceleração ou desaceleração, com redução
de massa celular ativa, diminuição da capacidade funcional das áreas afetadas e sobrecarga
em menor ou maior grau dos mecanismos de controle homeostático (CANÇADO, ALANIS e
HORTA, 2013). Estas diminuições ou perdas podem ser agravadas quando associadas a
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fatores de riscos podendo levar à queda. Esta é uma das principais causas de morte acidental e
o seu risco aumenta cerca de seis vezes em pessoas com doença de Parkinson (JÚNIOR e
HECKMAN, 2013; SILVA 2019).
Gallahue e Ozmun (2005) constatam que, no período compreendido entre os 20 e 90
anos, o córtex cerebral experimenta perda de 10% a 20 % de massa, podendo ocorrer em
outras partes do cérebro prejuízo de até 50%. Assim, à medida que o cérebro envelhece, a
atividade bioquímica (neurotransmissores) é afetada frequentemente. Desta maneira, com o
envelhecimento normal, ocorre decréscimo no número de células nervosas, podendo ocorrer
variações com uma mínima perda celular em uma região e prejuízos mais pronunciados em
outras (CANÇADO, ALANIS e HORTA, 2013).
Portanto, o equilíbrio não vai depender apenas da integridade dos sistemas vestibular,
proprioceptivo e visual, mas também da integração sensorial dentro do Sistema Nervosa
Central, que irá envolver a percepção visual e espacial, tônus muscular efetivo, que se adapta
rapidamente a alterações, força muscular e flexibilidade articular. Dessa forma, a organização
sensorial irá consistir na capacidade do SNC selecionar, suprir e combinar os estímulos
vestibulares, visuais e proprioceptivos. Estas habilidades de controle postural são alteradas
com o avanço da idade, propiciando déficits nestes ajustes. Estas alterações levam a um
decréscimo na velocidade de condução das informações, tal como no processamento de
respostas, que por serem lentas e inadequadas, geram situações de instabilidades aumentando
a predisposição à quedas (CRUZ et al., 2010).

1.1 RELAÇÃO DO PARKINSON COM A PERDA DE EQUILÍBRIO

A Doença de Parkinson (DP) é um transtorno neurológico progressivo e complexo,


caracterizada pela degeneração, especialmente, das células da parte compacta da substância
nigra, a qual é responsável pela produção de dopamina no cérebro. A perda de 60% dos
neurônios da substância nigra e 80% da dopamina do corpo estriado correspondem ao início
das manifestações clínicas (PINHEIRO, 2013).
Estudos demonstram que o processo de envelhecimento está interligado a essa
afecção, devido à perda de neurônios dopaminérgicos com o passar dos anos. A DP
inicialmente pode afetar apenas um lado do corpo, sendo que à medida que a doença progride,
pode envolver o corpo todo, diminuindo as habilidades motoras dos indivíduos portadores
(XAVIER, 2020).
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Souza et al. (2011) e SILVA (2013) reafirmam as considerações acima e acrescentam


exemplos de fatores ambientais tais como a exposição a pesticidas, herbicidas, manganês,
mercúrio e solventes que podem degenerar a dopamina.
A Doença de Parkinson representa 80% dos casos de parkinsonismo (síndrome que se
manifesta por bradicinesia acrescida de pelo menos mais um dos sinais a seguir: tremor,
rigidez e instabilidade postural), acomete preferencialmente pessoas com idade superior a 50
anos, a incidência e a prevalência aumentam com o avançar da idade. A incidência tem
aumentado cerca de 1,5% em indivíduos acima de 65 anos de idade e 2,5% nos acima de 85
anos de idade. A prevalência é de aproximadamente 550 por 100.000 aos 70 anos de idade. A
idade é o mais consistente fator de risco, e as mulheres têm um acometimento maior do que os
homens. A doença de Parkinson, a demência e a doença do neurônio motor devem superar o
câncer e ser a segunda causa de morte dos idosos no ano de 2040 (PINHEIRO, 2013).
O diagnóstico é obtido através de histórico do paciente e resultados de exames
neurológicos, já que não apresenta marcadores biológicos e nem resultados significantes
provenientes de ressonância magnética e tomografia computadorizada. Outra forma de
diagnóstico possível, é a análise de massa danificada de neurônios dopaminérgicos situados
na parte compacta da substância negra no mesencéfalo. A perda deste tipo de neurônios causa
carência de dopamina no sistema nervoso, já que é a principal área de síntese deste
neurotransmissor, trazendo diversas consequências, sendo uma das principais, o
comprometimento do corpo estriado, que é responsável pelo controle de movimentos
voluntários já iniciados e planejamento motor (TEIXEIRA e CARDOSO, 2004; FERRAZ,
2004; BARBOSA e SALLEM, 2005; CLETO, 2020).
A Doença de Parkinson, é caracterizada pela presença de sinais clínicos cardinais
como bradicinesia, tremores em repouso, rigidez e instabilidade postural, (PINHEIRO, 2013;
OLIVEIRA, 2013; TEIXEIRA; CARDOSO, 2004 apud CLETO, 2020). Pinheiro (2013)
discorre abaixo sobre cada um dos sinais cardinais apresentados:
A bradicinesia é a característica mais comum da doença de Parkinson no idoso.
Traduz-se pelo alentecimento ou dificuldade de iniciar o movimento voluntário ou
automático. Dependendo da parte do corpo acometida, teremos uma série de sinais e sintomas
parkinsonianos: fácies inexpressivas ou hipomimia, fala hipofônica, micrografia, não balançar
o membro superior ao caminhar, acúmulo de saliva na cavidade bucal, aumento do tempo para
realizar as refeições, dificuldade de realizar as atividades de vida diária (AVD).
A rigidez muscular é plástica e representada por uma resistência à movimentação
passiva dos membros, pescoço e tronco. Traduz–se pela fragmentação do movimento, este
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não ocorre de forma contínua e sim entrecortada, como uma roda dentada; os músculos do
segmento são afetados como um todo.
O tremor de repouso ainda é o primeiro sintoma reconhecido em 70% dos indivíduos
portadores de doença de Parkinson, pelos próprios indivíduos, seus familiares e os médicos
assistentes, favorecendo dessa maneira o não diagnóstico, principalmente nos muito idosos,
em quem o tremor pode estar ausente. Geralmente, o tremor é assimétrico, acometendo um ou
mais membros. A forma mais característica é a de movimentos rítmicos dos dedos das mãos,
semelhante ao ato de contar dinheiro ou de rolar pílulas. O tremor tende a piorar com o
estresse e desaparecer durante o sono.
A instabilidade postural é decorrente das alterações dos reflexos posturais,
ocasionando maior número de quedas e podendo, com a evolução da doença, não permitir que
o idoso possa levantar-se ou manter-se de pé sem assistência.
Além dos sinais cardinais, podemos encontrar as manifestações motoras e outras
alterações características da Doença de Parkinson, descritas a seguir por Pinheiro (2013):
A postura parkinsoniana é flexionada para frente na fase inicial pode não ser notada,
porém, com a evolução, a cabeça e o tronco ficam fletidos ventralmente, os braços estão à
frente do corpo; cotovelos e joelhos flexionados acabam por configurar a postura
parkinsoniana. A marcha parkinsoniana caracteriza-se por um deslocamento em bloco, com
passos curtos e arrastados, sem a participação dos movimentos dos braços. Pode ocorrer a
festinação da marcha, que são passos curtos e rápidos quase sem deslocamento que vão
aumentando progressivamente sua amplitude, até conseguir andar. Tendo em vista que esses
dois fatores por si só agregados já propicia o indivíduo a risco de quedas pelo desvio do
centro de gravidade e a diminuição do equilíbrio.
O Bloqueio motor ou freezing corresponde à impossibilidade extrema e súbita de
iniciar ou continuar um movimento, mais evidente durante a marcha, ao passar por uma porta
ou transpor uma linha ou obstáculo no solo. O bloqueio motor associado à perda dos reflexos
posturais é responsável pela alta prevalência de quedas e maior incidência de fratura de
quadril nas pessoas idosas.
Os transtornos do humor têm alta prevalência na doença de Parkinson. A depressão
maior pode acometer 17%, depressão menor, 22% e distimia, 13%. Há declínio cognitivo não
tão grave quanto o observado na doença de Alzheimer, porém, cerca de 15% a 20%
desenvolvem demência, em fases mais tardias.
De acordo com Pinheiro (2013), o tratamento desta Doença visa a aplicação de
medidas farmacológicas e não farmacológicas, sendo que na primeira, pode haver o uso de
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medicamento(s) combinados ou isolados, além de medidas não farmacológicas tais como


intervenções multidisciplinares fonoaudiólogo, nutricionista e fisioterapeuta.
Pinheiro (id ibidem) ainda relata quanto à esta última, que não há dúvidas na presente
data, dos benefícios desta na doença de Parkinson. Os programas específicos desenvolvidos, a
partir dos conhecimentos relacionados com a fisioterapia neurológica, melhoram o
desempenho motor e a qualidade de vida dos pacientes. Há ganho na força muscular,
flexibilidade, com melhora do equilíbrio, postura e redução da bradicinesia e rigidez.
Além dos fatores motores, os quais são de extrema importância, deve-se atentar para
os possíveis fatores não motores em que a pessoa com DP também pode estar acometida e que
a levam ao quadro de risco de quedas. Entre eles, pode-se citar: hipotensão ortostática, pelo
uso de medicamentos tanto sedativos como para a própria doença, o que pode ter a hipotensão
como um efeito adverso, ansiedade, devido a quedas anteriores, alterações cognitivas e ainda
fatores ambientais de forma geral (FASANO et al., 2017; SILVA, 2019)).
Silva (2019) citando os autores abaixo relata que além do uso da terapia
medicamentosa, segundo Alvarez et al. (2016), existe também a possibilidade do uso de
terapias como o Grupo de Ajuda Mútua, que por meio de sua metodologia cuidativa grupal,
os participantes, com um mesmo problema e sofrimento, ajudam-se mutualmente e se
fortalecem, conseguindo diminuir os medos e as angústias em relação ao possível
comprometimento da doença, como por exemplo a experiência de quase queda ou queda, para
melhora eficiente da sua condição.
Segundo Lord et al. (2017), as quedas são fatores importantes para quem sofre com a
doença e além de ser multidimensional e complexa, podem estar associadas a características
como idade, comprometimento cognitivo, problemas de marcha, equilíbrio e gravidade da
doença.
Por fim, o tratamento para a DP deve-se basear no controle dos sintomas e diminuição
do avanço da doença, sendo que para que seja realizada a escolha mais adequada do
medicamento, é necessário que seja levado em conta à sintomatologia do paciente, estágio da
doença, sua idade, presença de efeitos colaterais, medicamentos em uso e os custos ao
paciente, visando sempre uma melhora na qualidade de vida e prevenção de acidentes, tais
como, quedas que como várias pesquisas evidenciaram, elas costumam ser recorrentes em
pacientes com esta patologia devido aos sinais e sintomas apresentados agregados às
alterações desencadeadas no organismo do paciente (RIEDER et al., 2010; SILVA, 2013).
8

1.2 RELAÇÃO DA DOENÇA DE ALZHEIMER COM A PERDA DE EQUILÍBRIO

O aumento da população idosa no Brasil gera uma crescente prevalência de doenças


crônico-degenerativas, quando se considera a idade como fator de risco (RAMOS et al.,
1987). As associações das várias afecções aumentam os riscos de quedas, do desenvolvimento
de demências, imobilismo e iatrogenias, que comprometem a independência e a autonomia,
gerando incapacidades, institucionalização e óbito (RAMOS et al., 1993; RAMOS, 1997;
RAMOS et al., 2001).
A prevalência de demências está relacionada com o envelhecimento da população
mundial. A doença de Alzheimer (DA), atualmente, representa 60% das demências
diagnosticadas (LOGIUDICE, 2002). As quedas nos idosos têm etiologia multifatorial:
fatores intrínsecos do próprio paciente (físicos e comportamentais) e riscos ambientais.

LoGiudice D. Dementia: an update to refresh your memory. Intern Med J. 2002;


32:353-40. Wolfson LI, Whipple R, Amerman P, Kleinberg A. Stressing the postural
response: a quantitative method for testing balance. J Am Geriatr Soc. 1986; 34:845-50.
Os quadros demenciais favorecem a ocorrência de quedas, pelas perdas funcionais da
marcha e do controle postural (WOLFSON et al., 1986; BUCHNER e LARSON, 1987;
WOOLEY et al., 1992; FRANSSEN et al., 1999; O’KEEFFE et al., 1996).
A capacidade de executar determinadas tarefas diminui com o aumento da idade. Um
idoso é capaz de manter o equilíbrio corporal quando está concentrado na realização desta
atividade específica, mas pode não ser capaz quando precisa realizar tarefas múltiplas, de
forma concomitante. A divisão da atenção para várias atividades pode gerar dificuldades de
desempenho e desequilíbrio (SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT, 2003).
Vários autores citam a importância da atenção na manutenção do controle postural e
sua estreita relação com a idade e habilidades de cada pessoa (WOOLLACOTT E
SHUMWAY-COOK, 2002). Os autores definem atenção como a capacidade do indivíduo de
processar uma informação.

2. COMO MEDO DE SOFRER QUEDAS PODE IMPACTAR A VIDA DOS IDOSOS

As quedas constituem grave problema para o indivíduo idoso visto que suas
consequências, como fraturas e outras lesões corporais bem como o medo de cair, podem
resultar em auto-restrição nas atividades da vida diária, favorecendo a imobilidade e
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acelerando o declínio físico associado ao envelhecimento. O termo ptofobia é usado para


designar a reação fóbica a manter-se em pé e a andar, relacionada ao medo de cair mesmo não
havendo nenhuma anormalidade neurológica ou ortopédica, o indivíduo não consegue andar
sem apoiar se, além de perder a auto-estima e se isolar socialmente (MAIA, et al., 2011).
A partir dos anos 80, o medo da queda foi reconhecido na comunidade científica como
um problema de saúde para os idosos, tendo em vista que, na literatura, encontram-se várias
razões que podem levar o indivíduo idoso a desenvolver a ptofobia, tais como perda de
confiança na habilidade de equilíbrio e preocupação com as quedas e suas seqüelas.
Intervenções no sentido de prevenir e eliminar o medo da queda em idosos são importantes
para manter uma boa qualidade de vida na velhice, evidenciando que a psicoterapia e a
reabilitação física têm sido medidas importantíssimas para tratamento (GAI, et al., 2009).

2.1 ANSIEDADE GERADA PELO MEDO DE SOFRER QUEDAS

Segundo o DSM-5, os transtornos de ansiedade abrangem um amplo espectro de


condições, caracterizados por medo excessivo e persistente, ansiedade, preocupação e/ou
comportamento de fuga. Podem ser classificados em perturbação de ansiedade generalizada,
perturbação de pânico, perturbação de ansiedade social, perturbação de ansiedade de
separação, agorafobia e fobias. Anteriormente, segundo o DSM-4, figuravam também as
perturbações obsessivo-compulsivas, as perturbações dissociativas e as perturbações de stress
agudo e de stress pós-traumático, que posteriormente assumiram capítulos diferentes
(CROCQ, 2017; GUEDES, 2020).
A American Psychiatric Association distingue ansiedade de medo, sendo este último a
resposta emocional a uma ameaça real e iminente, enquanto que a ansiedade é uma
antecipação a uma ameaça futura e imaginária (XI, 2020).
Segundo um ponto de vista evolutivo, a ansiedade pode desempenhar um papel
benéfico e adaptativo, permitindo um crescimento pessoal, assim como um desenvolvimento
físico e mental (XI, 2020; GUEDES, 2020) Porém, quando a ansiedade se torna intensa e
prolongada, assume uma conotação patológica (CASTILLO et al.; GUEDES, 2020).
De acordo com Fabrício, Rodrigues, Costa Júnior (2004) com os quais corrobora
Brasil (2007), as quedas geralmente têm etiologia multifatorial e seus fatores causadores são
classificados como: intrínsecos, os decorrentes de alterações fisiológicas relacionadas ao
envelhecimento, a doenças e efeitos causados pelo uso de fármacos; e extrínsecos, que são
fatores que dependem de circunstâncias sociais e ambientais que criam desafios ao idoso.
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Estes fatores interagem como agentes determinantes e predisponentes, tanto para quedas
acidentais quanto para quedas recorrentes. Esta complexidade da etiologia das quedas,
associada às graves consequências geradas por estas, impõem aos profissionais de saúde o
grande desafio de identificar os possíveis fatores de risco e tratar os fatores etiológicos e
comorbidades presentes (RUBENSTEIN, 2001; MAIA et al., 2011).
As quedas em idosos são um problema frequente com importantes consequências
físicas, psicológicas e sociais (VARAS et al., 2006; MAIA et al., 2011). É caracterizada como
um evento em que o indivíduo vai ao solo sem intencionalidade, a um nível mais baixo em
que ocupava anteriormente, com ou sem perda da consciência, sem ter a capacidade de
corrigir a situação em tempo hábil (JÚNIOR e HECKMAN, 2013; SILVA, 2019).
Cerca de 30% dos indivíduos com mais de 65 anos de idade caem ao menos uma vez
por ano, dos quais a metade de forma recorrente (TINETTI, 2003; LIU et al., 2004; MAIA et
al., 2011). Essa taxa aumenta para 40% entre os idosos com mais de 80 anos e 50% entre os
que residem em instituições de longa permanência. As mulheres tendem a cair mais que os
homens até os 75 anos de idade, a partir dessa idade as frequências se igualam. Dos que caem,
cerca de 2,5% requerem hospitalização e desses, apenas metade sobreviverá após um ano.
(BRASIL, 2007)
Pessoas de todas as idades apresentam risco de sofrer queda, porém, para os idosos,
elas possuem um significado muito relevante, pois podem levá-los à incapacidade, injúria e
morte. Seu custo social é imenso e se torna maior quando o idoso tem diminuição da
autonomia e da independência ou passa a necessitar de institucionalização (FABRÍCIO,
RODRIGUES, COSTA JÚNIOR, 2004).
Brasil (2007) ainda cita fatores que predispõem ao risco de quedas: idosos com mais
de 80 anos; sexo feminino; imobilidade; quedas precedentes; equilíbrio diminuído; marcha
lenta e com passos curtos; baixa aptidão física; fraqueza muscular de membros inferiores e
membros superiores (hand grip); polifarmácia; uso de sedativos, hipnóticos e ansiolíticos,
alterações cognitivas e doença de Parkinson, além de fatores relacionados ao meio ambiente
(ambientes inseguros e mal iluminados, mal planejados construídos, com barreiras
arquitetônicas) além dos comportamentos e atividades.
Dentre as principais consequências decorrentes das quedas, encontram-se as fraturas,
que parecem imputar ao idoso maior vulnerabilidade a novos episódios, independentemente
de sua frequência (Perracini, 2002). Dentre os vários impactos supracitados, outras
consequências das quedas, encontram-se lesões na cabeça, ferimentos graves, ansiedade,
11

depressão e o chamado “medo de cair” (medo de subsequentes quedas), que também pode
acometer idosos que nunca caíram (TINETTI, 1994; MAIA, 2011).
Historicamente, psicólogos e psiquiatras diferenciam a ansiedade-estado e a ansiedade
traço. O elemento divergente dos dois tipos de ansiedade é a sua duração: a ansiedade-estado
é uma resposta aguda a uma ameaça iminente, que pode ser desencadeada por estresse agudo,
enquanto que a ansiedade-traço é crônica, pois é expressa durante a vida do indivíduo, sendo
por isso considerada uma característica da sua personalidade. Entre os diversos fatores
etiológicos da ansiedade, as situações de estresse assumem um papel de destaque. Os
acontecimentos e experiências de vida estressantes tendem a precipitar, em primeira instância,
sintomas de ansiedade (DAVIU et al., 2019; GUEDES, 2020).
O medo de uma nova queda tem alta frequência entre os estudos, sendo identificado
com uma taxa de variação entre 44 a 88,5%; o abandono de atividades teve uma variação de
12 a 25,9% e a perda de autonomia foi encontrada em um estudo (14%). Os números de
lesões, torções, contusões, ferimentos (superficiais) e surgimento de outras doenças foram
citados na maioria dos artigos presentes nesta revisão, com uma variação de 1 a 56% (MAIA
et al. 2011)
O medo de cair, embora seja mais prevalente em idosos caidores, também está
presente na população idosa sem histórico de queda. Nossos achados revelaram a prevalência
de queda de 35,7% e a do medo de cair de 43%. É amplamente discutido que o medo de cair
pode desempenhar papel protetor à ocorrência de quedas, à medida que a baixa autoeficácia
para evitar o evento limitaria o idoso à exposição em situações de grande risco. Em
contrapartida, o medo excessivo é capaz de desencadear um ciclo vicioso ao levar o idoso à
restrição funcional e as suas consequências como diminuição da força muscular e alterações
na marcha, que levariam, por sua vez, ao aumento do risco de quedas (FALSARELLA,
GASPAROTTO, COIMBRA 2014; MOREIRA 2016; CRUZ, DUQUE e LEITE 2017,
VIEIRA 2013; FIORITTO, CRUZ e LEITE, 2020).
Dessa forma, ambientes físicos adequados proporcionam ao idoso maior
independência e segurança, pois quando este encontra barreiras no ambiente há tendência ao
isolamento social, depressão, declínio funcional e consequente aumento do medo de cair.
Cerca de 30% dos idosos limitam a realização de AVD devido ao medo de cair tendo em vista
que, no presente estudo, o medo de cair manteve associação independente com o alto risco de
queda (OR=12,13; IC95% =2,21; 66,76) (FIORITTO, CRUZ E LEITE, 2020).
No estudo de Cruz, Duque e Leite (2017), o medo de cair se mostrou mais frequente
em idosos que apresentaram dificuldade para andar, o que corrobora com os achados da
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presente pesquisa. É provável que sujeitos que relatem dificuldades para andar já apresentem
certo declínio da capacidade funcional e alterações neuromotoras. Essas alterações prejudicam
a segurança e eficácia da deambulação e comprometem a autoconfiança desses idosos em
evitar quedas, gerando uma base para construção do medo.
Falsarella, Gasparotto e Coimbra (2014), Cruz, Duque e Leite (2017) apud Fioritto,
Cruz e Leite (2020) relatam que a necessidade de ajuda para andar através tanto de auxílio
humano quanto de dispositivo auxiliar manteve-se associada ao alto risco de queda no modelo
final do presente estudo. Ao passo que a ajuda para andar é uma estratégia que visa otimizar a
mobilidade e aumentar a segurança do idoso durante a locomoção, nem sempre ela cumpre tal
objetivo e como mostram alguns estudos, pode aumentar o risco de queda.
Diante do exposto fica esclarecido alguns fatores e consequências que impactam
negativamente a vida do idoso por vezes lhe impondo medo, este instintivo ao ser humano
diante dos perigos servindo de proteção, mas que quando exacerbado se torna patológico
podendo levar a um quadro de ansiedade. Esta pelas análises concluídas pode atuar como
causa primária ou secundária de quedas, sendo esta pela antecipação de medos/perigos
estimulando os sistemas endócrinos de alerta (adrenalina, noradrenalina) causando muitas
vezes reações biológicas inesperadas que somadas aos declínios funcionais da senilidade
(redução de massa muscular, redução acuidade visual e auditiva, etc.) podem se constituir em
quedas e aquelas, através dos medicamentos ministrados quando o quadro de ansiedade já está
instalado e diagnosticado, tais como o uso de antidepressivos/ansiolíticos benzodiazepínicos
que segundo Frank (2013) podem levar agitação, distúrbio psicomotor, alteração cognitiva ou
até depressão respiratória e os não-benzodiazepínicos que podem gerar efeitos colaterais ou
adversos tais como tonturas, cefaleias e vômitos podendo potencializar o risco de quedas no
idoso. Estas quando repetidamente podem levar a uma cascata de efeitos indesejados desde o
medo de realização das atividades diárias ou até ao enclausuramento por medo de sair e cair
que podem levar a um maior declínio funcional por inatividade e agravar ainda mais o quadro
descrito.
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CONCLUSÃO

É de extrema relevância a identificação precoce e estudo dos fatores de risco que


predispõem o paciente idoso à queda, sejam eles da própria senescência ou advindos de
doenças neurodegenerativas (senilidade), poli medicamentos, medo, ansiedade e outros, pois,
através desta, as chances de obter maior sucesso nas intervenções se elevam, em particular
naqueles que, além do risco de queda, apresentem também risco aumentado de sofrerem
lesões graves decorrentes da mesma.
Neste sentido, os estudos e conhecimento do fisioterapeuta deverão perpassar por uma
lógica mais ampla que vai além dos conhecimentos biomecânicos e fisiológicos que
permeiam as disfunções cinesiológicas-funcionais, mas também observar os fatores sociais,
ambientais e psíquicos envolvidos em torno do processo, para que o mesmo seja capaz de
delinear e implementar estratégias preventivas e de reabilitação visando assegurar além do
tratamento, a concretização do princípio fundamental da dignidade humana almejado por
todos, inserido na Constituição Federal de 1988 e nos preceitos do Sistema de Saúde vigente,
podendo assim, melhorar como um todo a qualidade de vida do paciente nesta fase tão
importante, porém tão complexa de sua vida.
14

REFERÊNCIAS

BRASIL. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Brasília, 2007. – Ministério da Saúde


-Secretaria de Atenção à Saúde - Departamento de Atenção Básica - 1.a edição 1.a
Reimpressão, Série A. Normas e Manuais Técnicos Cadernos de Atenção Básica, n. 19,
Disponível em:
<https://www.saude.sc.gov.br/index.php/informacoes-gerais-documentos/atencao-basica/nucle
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de-atencao-basica-pessoa-idosa/file> Acessado em: 29 de set. de 2022.

BUCHNER, D. M.; LARSON, E. B. Falls and fractures in pacients with Alzheimer – type
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CANÇADO, Flávio Aluizio Xavier, ALANIS, Laura Magalhães, HORTA, Marcos de Lima.
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Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. Cap.11.
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CLETO, Luiz Eduardo Senedese. A influência da dieta no tratamento e prevenção de doenças


neurodegenerativas. 2020. TCC Curso de Nutrição - Centro Universitário de Brasília –
UNICEUB Faculdade de Ciências da Educação e Saúde.

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