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Crescimento e desenvolvimento

A adolescência engloba um processo complexo de crescimento e


desenvolvimento biopsicossocial. De acordo com definições da Organização
Mundial da Saúde e de órgãos de saúde, a adolescência abrange os 10 aos 20
anos e a juventude vai dos 15 aos 24 anos. Diferentes critérios como
crescimento, aspectos sociais e inimputabilidade penal explicam esses grupos
etários. Ter essas faixas etárias nos sistemas de informação é crucial para
dados confiáveis.

Na puberdade, ocorrem transformações físicas, como crescimento, mudanças


na composição corporal, desenvolvimento de sistemas do organismo,
maturação sexual e reorganização neuroendócrina. O crescimento estatural é
avaliado por medições regulares da estatura, com velocidades previsíveis
durante a puberdade. O crescimento ocorre das extremidades para o tronco,
com alterações nos diâmetros biacromial e biilíaco.

A idade óssea reflete a maturação óssea, usada para prever estatura final. O
desenvolvimento muscular, a medula óssea e a sequência do crescimento
também são relevantes. A muda vocal ocorre na laringe, sendo mais notável
em meninos. O crescimento de pelos axilares e faciais indica o término desse
processo.

Maturação sexual é desencadeada pelo eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal.


Nas meninas, ocorre crescimento dos seios, pelos pubianos e estirão puberal,
seguido pela menarca. Nos meninos, ocorre crescimento testicular, pelos
pubianos, crescimento do pênis e estirão pubertário.

Os critérios de Tanner classificam os estágios de desenvolvimento. É


fundamental ter essas informações nos sistemas de saúde para compreender e
cuidar adequadamente do grupo adolescente.

Consultas
Ao considerar os adolescentes como detentores de direitos, surgem princípios
fundamentais que devem guiar a interação entre profissionais de saúde e esse
grupo. Esses princípios, embora importantes, podem requerer avaliações éticas
mais profundas, pois sua aplicação não é rígida e varia conforme o contexto
dos adolescentes.
A beneficência em bioética exige que profissionais de saúde busquem o bem-
estar, evitando danos e riscos à vida sempre que possível. A não maleficência
determina que não se deve causar dano.

O princípio da autonomia em bioética exige respeito pelas decisões dos


adolescentes, desde que tenham capacidade para decidir, preservando seus
direitos fundamentais em consonância com o contexto ético e social.

A autonomia envolve a habilidade de escolher o melhor caminho, com


compreensão e deliberação coerente entre alternativas, e a liberdade de
influências controladoras.

A promoção da saúde e do autocuidado é fomentada pela autonomia.

A privacidade permite atendimento individual a adolescentes de ambos os


sexos. A confidencialidade e o sigilo asseguram que informações
compartilhadas não sejam divulgadas a pais, responsáveis ou pares sem o
consentimento explícito dos adolescentes.

A quebra de sigilo deve ser explicada em casos de risco de vida ou perigos


relevantes para eles ou terceiros, como violência sexual, ideação suicida ou
informações criminais.

Consentimento Informado e nas urgências


Todos os pacientes, incluindo adolescentes, devem dar seu consentimento
informado para procedimentos de saúde. Isso envolve receber informações
detalhadas sobre sua saúde e tratamento antes de tomar uma decisão. Se o
adolescente não pode decidir, pais ou representantes legais podem ajudar. O
consentimento é moralmente aceitável quando inclui informação, competência,
compreensão e voluntariedade.

Em situações de emergência, o consentimento informado pode ser presumido.


Se um adolescente não pode consentir e não há tempo para conseguir
permissão de pais ou responsáveis, o profissional de saúde assume o papel de
protetor.

Princípios e Acolhimento
Os princípios éticos e legais requerem atenção especial a adolescentes. Cada
consulta é uma oportunidade para abordar diversas questões. A entrevista deve
incluir a comunicação não verbal, como gestos e expressões faciais. O
acolhimento deve ser cordial e compreensivo, evitando exigências excessivas
que afastem os adolescentes. Devido à natureza do desenvolvimento,
flexibilidade em relação a horários é importante.

As equipes de saúde devem ser facilmente identificáveis para os adolescentes,


com crachás e ambientes bem sinalizados. Isso facilita a busca por
informações e orientações.

Ações Preventivas na Consulta a Adolescentes


As visitas regulares de adolescentes e suas famílias aos serviços de saúde
oferecem oportunidades significativas, conforme a Associação Médica
Americana (1997):

 Reforçar promoção de saúde.


 Identificar comportamentos de risco.
 Promover imunizações adequadas.
 Fomentar diálogo aberto sobre saúde.
 Sensibilizar adolescentes para saúde sexual e reprodutiva.

É fundamental fornecer informações sobre crescimento físico, desenvolvimento


psicossocial e sexual, incentivando a participação ativa nas decisões de
cuidados de saúde. Benefícios da atividade física regular devem ser
ressaltados, com cautela sobre a preparação física e proteção em esportes
radicais.

Esclarecimentos sobre saúde bucal, nutrição adequada e benefícios da


alimentação saudável são necessários. Consultas são oportunidades para
aconselhamento sobre práticas sexuais seguras, com ênfase no uso de
preservativos para prevenir doenças sexualmente transmissíveis e HIV.
Também é uma chance de discutir afeto, prazer nas relações amorosas e
alertar sobre riscos de violência ou exploração sexual.

Dificuldades escolares e profissionais são temas relevantes, abordados de


maneira criativa. Materiais educativos são úteis para ações preventivas, mas
precisam ser adaptados às realidades locais para atingir objetivos.
Resumidamente, consultas a adolescentes são oportunidades valiosas para
fornecer orientações abrangentes e sensíveis, cobrindo diversos aspectos de
bem-estar e prevenção.

Características do Profissional de Saúde no Atendimento a Adolescentes


O profissional de saúde que atende adolescentes deve estar disponível, ser
atencioso e não autoritário, compreendendo as perspectivas do adolescente.
Ele deve evitar preconceitos e julgamentos, especialmente em temas
sensíveis, como sexualidade e uso de drogas. Além disso, é fundamental
buscar atualização técnica constante na área de atuação.

Dinâmica da consulta
Na consulta, é ideal que haja dois momentos: um com o adolescente sozinho e
outro com um familiar/responsável. A entrevista com o responsável ajuda a
entender a dinâmica familiar e a história do adolescente. Entrevistá-lo sozinho
permite que ele exponha sua perspectiva e aborde questões sigilosas. Durante
a consulta, é importante usar instrumentos como medidas antropométricas e
estágios puberais para registro. Os dados da anamnese e do exame físico
devem ser anotados na Caderneta de Saúde do Adolescente e em formulários
específicos do serviço.

Anamnese
Na anamnese, o profissional de saúde deve ir além do motivo que trouxe o
adolescente ao serviço, buscando entender o jovem de maneira abrangente.
Isso inclui avaliar suas mudanças físicas e emocionais, relações familiares e
sociais, atividades de lazer, experiências passadas com a saúde e suas
expectativas para o atendimento. É importante enfrentar e compreender
eventuais barreiras de comunicação que possam surgir durante a anamnese,
buscando resolver ou encaminhar caso necessário. Os dados coletados
guiarão a criação do Projeto Terapêutico Singular, que envolve o profissional de
saúde, o adolescente e, quando possível, a família, para desenvolver
estratégias de cuidado.
Exame físico
O exame físico é uma tarefa desafiadora para profissionais de saúde menos
experientes, principalmente devido à falta de treinamento específico durante a
formação médica ou de enfermagem. Isso é agravado pela desconfortável
necessidade de lidar com o corpo em desenvolvimento dos adolescentes. O
direito do adolescente de optar por ter um familiar presente durante o exame
deve ser respeitado, podendo ser necessária a presença de um membro da
equipe em certas situações.
Explicar antecipadamente o procedimento do exame é crucial para tranquilizar
e reduzir a ansiedade do adolescente, que frequentemente teme encontrar
resultados anormais. O exame físico também pode ser uma oportunidade para
abordar questões educacionais sobre o corpo, incluindo instruções para
autoexames e higiene pessoal.

Idealmente, o exame físico completo deve ser realizado na primeira consulta,


começando pela cabeça e terminando nos pés. Isso inclui avaliação visual,
exame de pele, avaliação da coluna vertebral, exame genital e outros. Pressão
arterial também deve ser medida anualmente, conforme protocolos de controle.
Saúde mental
Durante a adolescência, é importante detectar precocemente transtornos de
saúde mental, muitos dos quais podem estar relacionados a doenças
sistêmicas. Uma abordagem multidisciplinar é fundamental para um manejo
adequado.

Os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Caps'i) foram criados em


2002 para fornecer atenção em saúde mental a crianças e adolescentes,
financiados pelo SUS. Sua equipe é composta por profissionais de diversas
disciplinas, com foco no atendimento a casos graves e na organização da
demanda em saúde mental.

Os Caps'i têm como prioridade o atendimento a autistas, psicóticos e aqueles


com prejuízos psicossociais graves. Eles também atendem crianças e
adolescentes com necessidades relacionadas ao uso de drogas.

Para ampliar a atuação da Atenção Básica em Saúde Mental, foram criados os


Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) em 2008. Essas equipes
integradas por profissionais de diversas áreas prestam apoio matricial às
equipes de Saúde da Família e Atenção Básica, compartilhando práticas e
saberes em saúde nos territórios sob sua responsabilidade.

O apoio matricial em saúde busca oferecer retaguarda especializada e suporte


técnico-pedagógico às equipes de referência, complementando as abordagens
hierarquizadas tradicionais. Isso contribui para a qualidade do atendimento a
problemas de saúde.

Depressão e violência autoinfligida/suicídio


Depressão na adolescência é uma síndrome caracterizada por humor
persistente perturbado e comportamento disfuncional, incluindo tristeza,
isolamento, problemas de sono e perda de interesse em atividades. Cerca de
60% dos adolescentes relatam sentimentos depressivos, mais comuns em
mulheres.

Causas incluem problemas interpessoais, dificuldades escolares, autoimagem


negativa e fatores familiares. Escutar o adolescente e, se necessário, envolver
profissionais de saúde mental dos Nasf, é crucial.
A autolesão e suicídio são sérios problemas. O suicídio é a terceira causa
principal de morte entre adolescentes do sexo masculino. Tentativas de suicídio
são frequentes e envolvem métodos como overdoses e enforcamento.

Os riscos de suicídio podem ser individuais, familiares e sociais, incluindo baixa


autoestima, problemas familiares, isolamento social e influência de grupos
conflitantes. É vital abordar pensamentos suicidas e avaliar o risco.

Em ambos os casos, interconsulta com profissionais de saúde mental dos Nasf


ou referência para especialistas é recomendada.

Sexualidade
A sexualidade é uma dimensão essencial da vida humana, influenciada por
fatores biológicos, psicológicos, culturais e sociais. Não se limita à reprodução,
englobando expressões emocionais, relações afetivas e desejos pessoais.

Os direitos sexuais e reprodutivos são fundamentais para uma vivência


saudável da sexualidade. Eles garantem escolhas respeitosas de parceiros,
expressão livre da orientação sexual, acesso a informações e educação sexual,
e autonomia na decisão de ter filhos.

Muitos grupos enfrentam desafios na vivência da sexualidade, incluindo


LGBTQ+, profissionais do sexo e pessoas com HIV/aids. O conceito de gênero
também é crucial, destacando as construções sociais ligadas aos papéis de
gênero e necessidade de relações equitativas.

Na adolescência, a sexualidade se manifesta através de sensações corporais,


desejos e relacionamentos. Fatores como experiências familiares, influência de
grupos e valores culturais moldam a expressão sexual dos adolescentes.
Políticas de saúde devem abordar as necessidades sexuais e reprodutivas dos
jovens, respeitando sua diversidade e promovendo a educação sexual.

A saúde sexual é parte integrante da qualidade de vida e bem-estar, mas nem


sempre é adequadamente abordada em políticas de saúde. Os serviços de
saúde também precisam se adaptar às necessidades específicas dos
adolescentes, valorizando sua singularidade e promovendo uma abordagem
integral.
Abordagem sobre o tema da sexualidade
O profissional de Saúde deve adotar uma abordagem imparcial e sensível em
relação à sexualidade dos adolescentes, evitando preconceitos ou influências
morais e religiosas. Deve ser um ouvinte aberto às escolhas dos adolescentes,
ajudando-os a lidar com desafios comuns nessa fase. A linguagem utilizada
deve ser precisa e respeitosa, evitando gírias.

A orientação sobre sexualidade deve ser baseada em informações científicas


claras, abordando as mudanças no corpo, sensações sexuais, masturbação,
curiosidade e ato sexual. É fundamental enfatizar o caráter íntimo e consentido
do ato sexual, destacando a responsabilidade associada a ele.

A abordagem deve considerar a diversidade étnica, racial e de orientação


sexual, respeitando diferentes culturas e tradições. O conceito de dignidade
sexual deve ser incluído, promovendo o respeito pelos direitos sexuais e
reprodutivos como parte dos Direitos Humanos, garantindo proteção e
autonomia aos adolescentes.

A compreensão saudável da sexualidade, respeitando direitos e relações


equitativas entre gêneros, deve ser parte das ações educativas para
adolescentes, preferencialmente antes da primeira experiência sexual.

Toda a abordagem deve preservar a privacidade e a confidencialidade,


respeitando a autonomia dos adolescentes e construindo uma relação de
confiança com os profissionais de saúde.

Práticas educativas
A educação em sexualidade e saúde reprodutiva é essencial para a formação
dos adolescentes, facilitando a troca de informações e a prática do sexo
seguro. A escola desempenha um papel fundamental nesse sentido, sendo um
espaço privilegiado para promover a saúde e prevenir doenças.

A abordagem deve ser baseada no conhecimento prévio dos estudantes,


professores e funcionários, buscando desenvolver a capacidade de
interpretação do cotidiano e a adoção de comportamentos saudáveis. A
colaboração entre escolas, unidades de saúde e atenção básica é crucial para
discussões construtivas e escuta qualificada.
Abrir canais de comunicação com os jovens fortalece a autonomia e o
autocuidado. Projetos de vida devem ser discutidos para abordar saúde sexual
e reprodutiva. A escola e os serviços de saúde integrados formam uma rede de
proteção, oferecendo espaços para diálogo sobre sexualidade e prevenção de
riscos.

O Programa Saúde na Escola (PSE), uma parceria entre os Ministérios da


Saúde e Educação, promove a integração da Estratégia Saúde da Família com
a educação básica e a saúde escolar. Ações educativas devem respaldar o
planejamento reprodutivo, o pré-natal e as consultas pós-parto nas Unidades
Básicas de Saúde (UBS), considerando as necessidades dos adolescentes.

Promover saúde entre adolescentes e jovens significa valorizar seus projetos


de vida, envolver sua participação e autonomia, e oferecer apoio sem
moralismos ou opressão. É essencial garantir seus direitos e incluí-los como
sujeitos ativos no processo de cuidado e proteção.
Referência bibliográfica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações Programáticas e Estratégicas. Proteger e cuidar da saúde de
adolescentes na atenção básica / Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. –
2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2018. 233 p. : il.

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