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1. A decisão recorrida fez errada interpretação e aplicação do artº 125° do CPA, que
assim sai violado.
2. O entendimento expresso na sentença recorrida pressupõe igualmente uma errada
interpretação e aplicação do artº 66° do Decretolei n° 59/99, que sai igualmente
violado.
3. Ao pronunciarse sobre o estabelecimento de critérios de classificação, o douto
acórdão recorrido viola também o princípio da independência de poderes enunciado
no artº 3° do CPTA, que assim é violado.
*
A Recorrida E..., SA contraalegou, concluindo como segue:
*
Com dispensa de vistos substituídos pela entrega das competentes cópias aos
Exmos. Senhores Juízes Desembargadores Adjuntos, vem para decisão, em
conferência – cfr. artº 707º nºs 2 e 3 CPC ex vi artº 140º e 36º nº 2 CPTA
Remetese e dáse por reproduzida a matéria de facto julgada provada pelo Tribunal
a quo por não impugnada nem objecto de alterações ex officio – artº 716º nº 3 ex vi
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*
DO DIREITO
“(..)
4.6. No que respeita ao dever de fundamentar, diz o Ac. do STA de 1/4/03, proc. n°
0323/03: "há que ter presente que o nosso ordenamento jurídico não consagra uma
concepção estritamente substancialista coincidente "com a justificabilidade ou com
a conformidade ao direito" (Vieira de Andrade, "O Dever de Fundamentação
Expressa de Actos Administrativos", p. 11).
"A exigência de fundamentação diz respeito ao modo de exteriorização formal do
acto administrativo e não à validade substancial do respectivo conteúdo ou
pressupostos" (acórdão STA de 2001.12.19 rec° n° 47 774), sendo que o que
importa é o "esclarecimento das razões da decisão, no sentido da sua
determinabilidade e não o sentido da sua indiscutibilidade ou da sua conveniência"
(Vieira de Andrade, ob.cit, p. 236 e acórdão STA de 2002.07.04 rec° n° 616/02
11).
Nesta perspectiva instrumentalista a suficiência da fundamentação aferese pelo
critério da compreensibilidade do destinatário médio.
Fixados estes parâmetros, importa saber se, no caso concreto, a fundamentação
contextualmente externada é de natureza a esclarecer o interessado do percurso da
autoridade recorrida até à decisão, das valorações que fez e do que conheceu, de
molde a que este fique informado das razões do acto e do seu conteúdo.
Definidos assim os critérios da fundamentação, vejamos se eles foram respeitados
no caso concreto.
Da leitura do relatório da comissão e do seu aditamento conseguemse compreender
parte das razões das afirmações do relatório constantes.
Face ao conjunto de aspectos que a comissão entendeu como penalizadores,
conseguese compreender porque razão esses aspectos são penalizadores.
Contudo, a razão pela qual foi classificada a autora Etermar com 4 valores, as
autoras Irmão Cavaco e Seth Lda. 7 valores, nos aspectos da memória
descritiva e processos construtivos a adoptar, apesar de obviamente terem a ver
com a valoração negativa que foi dada a diversos aspectos da proposta de cada uma,
constitui um iter não cognoscível nem perceptível pela leitura da acta.
Porque razão a Etermar teve 4 e não 5 ? ou 6 ? ou 3 ?
Qual o critério para se chegar aos 4 concretos valores finais.
Ou seja, conseguese entender porque razão um determinado aspecto da proposta é
penalizado, não se consegue é entender porque razão é penalizado numa
determinada quantificação.
Sobre isto o relatório da comissão é completamente omisso.
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Nada diz.
Assim sendo, porque ficamos sem conseguir apreender a razão da classificação
final, a mesma está ferida de anulabilidade por falta de fundamentação arts°
123 e 135, ambos do CPA.
5. Conclusão:
Por tudo quanto vem de ser exposto, Acordam os Juízes que compõem este
Tribunal em julgar a presente acção de contencioso précontratual intentada por
ETERMAR Empresa de obras Terrestres e Marítimas, SA e por Irmãos Cavaco,
SA, SETH Sociedade de Empreitadas e Trabalhos Hidráulicos, SA contra o
Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território provada e procedente, e
declaramos anulado o despacho de 28.04.2004 pelo qual foi autorizada a
adjudicação da empreitada subjudice ao Consórcio CPTP/Mota & Companhia, SA
(..)”
1. deficiente fundamentação – equiparação da obscuridade, imprecisão ou
incompletude da motivação do acto à falta de motivação – artºs. 123º nº 2 e
125º nº 2 CPA;
de deveres de competência, devendo têlo feito; deste modo “(..) é preciso que as
fórmulas usadas não deixem dúvidas, nem quanto à vontade de apropriação dos
fundamentos contidos noutro acto ou documento nem quanto à extensão dessa
concordância (..)” (4).
No Acórdão sob recurso afirmase que “(..)a razão pela qual foi classificada a
autora Etermar com 4 valores, as autoras Irmão Cavaco e Seth Lda. 7 valores, nos
aspectos da memória descritiva e processos construtivos a adoptar, apesar de
obviamente terem a ver com a valoração negativa que foi dada a diversos aspectos
da proposta de cada uma, constitui um iter não cognoscível nem perceptível pela
leitura da acta. (..)”, motivo porque, ao não se “(..) conseguir apreender a razão da
classificação final, a mesma está ferida de anulabilidade por falta de fundamentação
arts° 123 e 135, ambos do CPA. (..)”.
O mesmo é dizer que o despacho de 28.04.2004 pelo qual foi autorizada a
adjudicação da empreitada foi anulado por obscuridade da fundamentação do
relatório de avaliação das propostas a cargo da “comissão de análise das
propostas”, órgão cujas competências estão determinadas no artº 60º nº 1, DL
59/99, 2.3.
Todavia, o modo como o júri exerceu a competência de avaliação, expresso no
relatório da Comissão junto aos autos a fls. 285 a 346 e levado ao probatório do
acórdão por transcrição integral no ponto 9, constitui matéria que não é
jurisdicionalmente sindicável salvo circunstâncias específicamente determinadas na
lei e que, no caso dos presentes autos, não se verificam.
No que importa ao caso em apreço, para efeitos de sindicabilidade jurisdicional do
agir da Administração Pública cumpre distinguir a margem de livre decisão
administrativa no uso de poderes discricionários da chamada “discricionariedade
técnica”.
Pelo que vem dito, assiste razão ao Recorrente nas questões suscitadas nas
conclusões sob os itens 1 a 3 das conclusões, cumprindo revogar o acórdão e
manter, por válido e eficaz, o despacho de 28.04.2004.
***
Lisboa, 16.MAR.2006,
(Teresa de Sousa)
(Xavier Forte)
(1) Artº 268º nº 3 CRP – Os actos administrativos estão sujeitos a notificação aos
interessados, na forma prevista na lei, e carecem de fundamentação expressa e
acessível quando afectem direitos ou interesses legalmente protegidos.
(2) Esteves de Oliveira , Costa Gonçalves e Pacheco de Amorim, Código de
Procedimento Administrativo – Anotado, 2ª edição Almedina, págs, 589/590 .
(3) Esteves de Oliveira, Lições de Direito Administrativo, Outubro/1980, págs 663
e 796 –“(..) não é requisito legal da fundamentação do acto a sua exactidão, ou seja,
a veracidade ou realidade dos factos e a correspondência das normas invocadas ao
direito (..) a exactidão dos motivos não respeita a elementos formais do acto, mas
sim aos seus elementos de fundo ou substanciais (..) quando os fundamentos ou os
motivos do acto explicam, só por si, clara e logicamente a decisão mas são factual
ou jurídicamente falsos ou erróneos temos ilegalidade, mas não por vício de forma;
se os motivos invocados correspondem aos factos e ao direito mas não justificam só
por si, clara e logicamente, a decisão tomada, temos vício de forma (..)”.
(4) Mário Esteves de Oliveira, Pedro Costa Gonçalves, J. Pacheco de Amorim,
Código do Procedimento Administrativo, Almedina 2ª edição, pág. 603, nota IV.
(5) Mário Esteves de Oliveira e Rodrigo Esteves de Oliveira, Concursos e outros
procedimentos de adjudicação administrativa – das fontes às garantias, Almedina,
2003, págs. 134 a 142. ;
(6) ( Marcelo Rebelo de Sousa, Lições de Direito Administrativo, Vol. I, Lex,
1999, págs. 107/108.)
(7) Bernardo Diniz de Ayala, O (défice) de controlo judicial da margem de livre
decisão administrativa, Lex, 1995, pág. 83.
(8) Bernardo Diniz de Ayala, O (défice) de controlo judicial da margem de livre
decisão administrativa, Lex, 1995, pág. 87.
(9) Mário Esteves de Oliveira, Lições de direito administrativo, 1980, págs.
355/368, 439 e 616/624.
(10) Sérvulo Correia, Legalidade e autonomia contratual nos contratos
administrativos, Almedina, Teses, 1987, págs.491/492.
(11) Sérvulo Correia, Legalidade e autonomia contratual nos contratos
administrativos, Almedina, Teses, 1987, págs.171/172, 321, 476/477.
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