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Boleka: Um Discípulo do Profeta Gentileza

Sempre admirei o trabalho de Geraldo Majela de Mesquita, o professor


Boleka. Andréa da turma Pelourinho foi a primeira a elogiar esse grande artista
e arte-educador para mim, ainda nos anos 90, ao tempo da banda Mayoma.
Mayoma era um sucesso local.

Boleka, além de músico popular, é também professor junto a mim na


escola Wilson Lopes, bem como tem a sua própria escola de música. Ele conta
que Boleka, originalmente nome artístico, agora é o seu nome verdadeiro.
Geraldo virou apelido, brinca ele. Junto de sua escola de música e seu trabalho
nas escolas, ele é um importante agitador cultural local. Ele foi o primeiro a me
falar do trabalho de Eduardo Lucas Andrade, escritor, psicólogo e meu atual
editor. Ele me emprestou o seminal livro Psicanálise e Educação, de autoria de
Eduardo.

Recentemente, Boleka redigiu um ótimo artigo para a Rede Futura de


Ensino, chamado Hierofanias da Arte: A Escrita e a Intervenção Cultural do
Profeta Gentileza, texto onde ele analisa uma figura fascinante: o profeta
Gentileza. José Datrino, o chamado Profeta Gentileza, assim como a forma
como ele inscreveu na cidade do Rio de Janeiro o seu pensamento e sua vida.
Trata-se de figura que originou lendas em torno dele. Ele vivia nas ruas do Rio
de Janeiro pregando a gentileza e bondade, oferecendo flores aos passantes.
Para expressar-se, ele pintou nos muros do Viaduto do Caju mensagens que
traduziam seu pensamento: ele se dizia Jesus de Nazaré e queria ensinar o
caminho do perdão como sendo o caminho da verdade e da moral aos seres
humanos.

Gentileza recebeu uma revelação divina (hierofania) e a partir dela


apresenta um princípio universal: a “gentileza”, que é o que ele prega no dia a
dia. Ele acredita na gentileza como um absoluto, ou seja, uma solução para os
problemas presentes e pretéritos da humanidade.

Gentileza, uma figura ao mesmo tempo marginal e muito presente na


cidade, produziu uma obra que tornou-se patrimônio cultural do Rio de Janeiro.
Gentileza pintou murais que lhe deram prestígio social de artista urbano. Ele
transmitia seu pensamento através da pregação nos sinais e esquinas, assim
como tinha sua própria roupa e sua escrita peculiar. Após ter seus escritos
apagados como se fossem pichações comuns, fato que gerou polêmica, obteve
apoio de um movimento que obrigou a prefeitura do Rio a restaurar a obra. Ele
também foi um inspirador de obras artísticas: duas canções de artistas da MPB
foram dedicadas a ele: Gentileza de Gonzaguinha e uma canção homônima de
Marisa Monte. Sua trajetória mostra como uma figura lendária (e
evidentemente um indivíduo acometido de transtorno mental), em conflito,
inclusive, com as religiões estabelecidas, obteve grande aceitação social como
artista.

Boleka é um discípulo do profeta Gentileza e sempre difunde a máxima


aos alunos: gentileza gera gentileza. Eu sou grande admirador do trabalho de
Boleka e até postei a canção Quarta-Feira de Cinzas, de sua autoria, em meu
canal do youtube, que pode ser vista no seguinte link:
<<https://www.youtube.com/watch?v=W6p7n-Atxc4>>.

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