Você está na página 1de 4

I.

SISTEMAS SUCESSÓRIOS: A reserva absoluta da legítima


De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2017), existem 03 (três) modalidades de sistemas
de sucessão, são eles:

1.1. Sistema da Liberdade Testamentária


Segundo este modelo, o direito sucessório seria uma manifestação pura da autonomia privada,
em que o autor da herança teria a plena liberdade de dispor, como quisesse, do seu
património, independentemente da existência de herdeiros próximos.

Se amealhou os seus bens, durante a vida, teria todo o direito de fazer com eles o que bem
entendesse, não se admitindo a interferência de terceiros ou do próprio Estado.

1.2. Sistema da Concentração Absoluta ou Obrigatória


Diametralmente oposto ao primeiro tipo, este modelo pretende que toda a herança seja
deferida a apenas um sucessor. Trata-se de sistema superado, utilizado no passado, quando
havia ainda o totalidade ou maior parte, era deferida ao filho mais velho.

Na Bíblia, há várias referências aos direitos de primogenitura, como dupla herança (Dt 21,17),
supremacia entre os irmãos e chefia da família (Gn 27,29.40; 49,8), havendo vezes, como no
caso de Jacó e de Judá (Gn 27,30-37; 49,4-8), em que este direito não foi respeitado.

1.3. Sistema da Divisão Necessária


De acordo com este modelo, o autor da herança teria apenas uma relativa margem de
disponibilidade dos seus bens, caso existissem herdeiros considerados necessários. Vale dizer,
em havendo sucessores desta categoria, parte da herança obrigatoriamente lhes tocaria, não
sendo permitido ao seu titular, mesmo em vida, dispor da quota reservada.

O sistema adoptado pelo Direito Moçambicano é este último, o da divisão necessária,


conforme observamos dos dispositivos 116, 117, 118, 163 da Lei n.º 23/2019, de 23 de
Dezembro, Lei das Sucessões em Moçambique.

1
Com isso, o legislador limitou a liberdade de testar do autor da herança em favor dessa
categoria de herdeiros, podendo, apenas, a outra metade da herança ser objecto de disposição
de vontade.

Embora haja críticas em relação aos supramencionados dispositivos legais, visto que, no
entender destes, a restrição ao direito do titular do património afronta ao direito constitucional
de propriedade (Art. 82 da CRM), o qual é composto pelas faculdades de usar, gozar, fruir,
dispor e reivindicar a coisa, e, tal limitação colidiria com a faculdade real de disposição, essa
foi a opção escolhida pelo legislador infraconstitucional.

II. OBJETO DA SUCESSÃO: O HERDEIRO E O LEGATÁRIO

De acordo com o critério do objecto da sucessão, importa distinguir:


1- Sucessão universal mortis causa: herança. O herdeiro recebe bens indeterminados, e por
isso é um sucessor a título universal.

2- Sucessão singular mortis causa: legado. O legatário vai receber bens determinados e por
isso é um sucessor a título singular.

Os sucessores podem ser herdeiros ou legatários (art. 6), sendo o segundo conceito
praticamente apenas aplicável à sucessão testamentária.

O critério legal de distinção assenta na determinação ou indeterminação dos bens


deixados: o sucessor será herdeiro se recebe bens indeterminados (art. 6/1) ou será legatário
se recebe bens certos e determinados (art. 6/1).

2
3.1 Legatário

O legatário sucede em bens determinados, no sentido de que apenas sucede em certos bens
com exclusão dos restantes bens do decujos. O legatário é um sucessor a título singular.

O título de vocação do legatário só o chama à sucessão de certos bens, o legatário só pode


receber a totalidade do objecto a que foi chamado, mas nunca mais do que esse objecto.

1- Será qualificado como legatário, quem sucede em bens certos e determinados, mas não
necessariamente bens especificados ou designados concretamente. Por isso, por termos bens
certos e determinados, teremos legado se o sucessor for chamado a suceder em
universalidades de facto.

Exemplo: Se A deixar a B o seu rebanho ou biblioteca. Os bens deixados não são


especificados concretamente, mas são determinados.

2- Património autónomo é quando dentro do património geral de uma pessoa, existe uma
massa de bens ou valores patrimoniais submetidos a um tratamento jurídico particular e
unitário. Por isso no caso da herança testamentária ou de doação mortis causa de um
património autónomo, estamos perante um legado.

3- Estabelecimento comercial: a herança do estabelecimento só abrange os bens que fazem


parte da organização que o estabelecimento comercial constitui e não de quaisquer outros
bens do testador. Há nesta unidade jurídica um conjunto de bens integrados funcionalmente
que estão determinados a um certo centro de imputação de interesses. Logo, trata-se de um
legado.

4- Usufruto (art. 6/4 e 55): a herança de usufruto ou de quota da herança é considerada


legado. O usufrutuário não sucede na totalidade ou numa quota da herança, mas apenas
adquire por morte um direito determinado que, embora possa abranger um conjunto
indeterminado de bens, não inclui o direito de propriedade sobre a raiz desses bens. Adquire
assim, o usufrutuário, um direito determinado, com exclusão de todos os outros direitos.

3
3.2 Herdeiro
O herdeiro não é chamado a suceder em bens determinados, e o seu direito estende-se à
totalidade da herança ou a uma quota-parte dela. Por isso, o herdeiro é um sucessor a título
universal.

O título de vocação do herdeiro chama-o à totalidade das relações jurídicas que constituem
objecto da devolução sucessória.

Os herdeiros sucedem (art. 6):


1- Na totalidade do património
2- Quota do património do falecido (bens indeterminados);
3- No remanescente dos bens do falecido, não havendo especificação destes.

O remanescente da herança é aquilo que efectivamente resta da quota disponível da herança


ou de toda a herança, no caso de não haver herdeiros legitimários. Não há aqui uma sucessão
em bens certos e determinados, mas sim num conjunto indeterminado de bens.

Você também pode gostar