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Notas sobre Escola Boasiana e a cultura.

Franz Uri Boas nasceu em 09 de setembro de 1858, em Minden na


Prússia. Faleceu em 21 de dezembro de 1942 na universidade de Colombia
nos EUA ao lado de Levi-Strauss. Em 1881, concluiu seus estudos
universitários na física, com uma dissertação que tinha ênfase em psicofísica,
por meio do trabalho de observação da luz pela água, fazendo relação entre
sensações físicas e percepções psicológicas. Insatisfeito com sua carreira de
físico, mudou seu interesse para geografia e mudou-se para Berlim, onde
conheceu Adolf Bastian, considerado patriarca da antropologia alemã e então
diretor do Museum fur Volkerkunde (Museu do Folclore). Nesse momento
também estudou técnicas de medições , algo característico da antropologia
física com o medico anatomista Rudolf Virshow. Entre 1883 e 1884 estuda os
Equimós (Inuit) no Canadá com o método da observação participante. Em 1886
e muda para os EUA, se casa com Marie e vai estudar os indígenas do
Kwakiutl.
Boas, foi um migrante erudito, um intelectual, apesar de não ter tido
muitas condições financeiras. Nos seus estudos na física, já demostrava
sensível a questão humana. Pensava que a cultura, a língua, a raçã estavam
todos relacionados. Tinha em si a ideia de não renunciar a vida orgânica como
uma dimensão importante da existência. Em seus estudos faz uma crítica
contundente ao método do evolucionismo cultural, chamado por ele de “método
comparativo” ou “novo método”. Ele propôs um novo método histórico, que viria
a ser conhecida também como escola histórica cultural. Tem uma preocupação
histórica com a mente humana, refletindo a cerca de que a mente humana não
obedece a leis universais, mas que são atravessadas por questões de ordem
psicológicas e intelectuais. Propõe uma ruptura com o evolucionismo linear,
pois para essa corrente de pensamento é algo que vem de fora, já para Boas é
algo que muda, se adapta, ou seja que é dinâmico.
Em seu método, critica a ideia de que traços culturais foram
desenvolvidos em um só lugar, o que remete ao evolucionismo. Considera a
cultura como algo plástico, dinâmico e mutável. Nesse sentido, cada
experiência cultural pode ser atrelada a fatores culturais diferentes. Fez critica
o método difusionista, apesar de reconhecer a sua importância, mas
considerava sua pertinência explicativa quando possível reconstruir a história
(percurso) das transmissões culturais. Fez critica a vários determinismos:
geográfico, racial, psicológico e econômico. Ao passo que criticava esses
determinismos, fortalecia a importância do conceito de cultura como elemento
explicativo da diversidade humana.
Antes de Boas fenômenos semelhantes tinham a pressuposição de que
tinham as mesmas causas, no caso em referência a unidade psíquica da
mentalidade humana, mas Boas acha que deve se pressupor um
desenvolvimento independente ou um contato entre os povos. O novo método
que Boas propõe não faz uma comparação para retirar uma generalização, ele
diz que é necessário estudar territórios pequenos e restritos bem definidos para
comparar esses territórios e por um caminho indutivo chegar a uma
generalização. Ao contrário do método dedutivo dos evolucionistas, Boas,
defendia o método da indução empírica – evitando amarrar os fenômenos
numa camisa de força teórica. Método histórico
Antes de Boas se falava de cultura no singular como um caminho da
humanidade na evolução cultural e depois de Boas passa-se a ter a
compreensão de que existe culturas particulares em suas especificidades,
cultura no plural. Franz Boas faz critica ao evolucionismo cultural com a
pressuposição de que a unidade psíquica da humanidade seria a casualidade
psicológica única dos mesmos fenômenos, isso está bem presente no texto.
Para boas antes de supor que fenômenos aparentemente semelhantes
pudessem ser atribuídos a mesmas causas, como faziam os evolucionistas era
preciso perguntar para cada caso se não teriam se desenvolvido
independentemente ou se não transmitido de um povo a outro. Boas critica a
noção de que mesmos fenômenos tem as mesmas causas, as mesmas
origens, seja essa origem uma conexão histórica entre os povos, seja essa
origem a ideia de uma unidade psíquica da mente humana, como uma lei geral
de desenvolvimento da cultura. Os mesmos fenômenos aqui seriam então a
ideia de que uma vida futura, uma vida pós a morte, ou o xamanismo
subjacente aos povos, ou o domínio sobre o fogo, ou a invenção do arco e
flecha ou estruturas gramaticais elementares... Boas diz que quando você
classifica esses fenômenos e os agrupam essa noção de que os mesmos
fenômenos devem ter um pressuposto independente até eles e não que
tiveram as mesmas causas.
Quais as origens desses fenômenos? Como se afirmam em cada
cultura? Não é porque eles apresentam semelhanças é que eles teriam a
mesma manifestação em cada cultura, por exemplo a questão do uso das
máscaras.

O uso de máscaras é encontrado num grande número de


povos. A origem do costume não é absolutamente clara em
todos os casos, mas podem-se distinguir com facilidade
algumas formas típicas de uso. As máscaras são usadas para
enganar os espíritos quanto à identidade daquele que as usa.
O espírito da doença que pretende atacar a pessoa não a
reconhece quando ela está de máscara, e esta serve, assim,
como proteção. Em outros casos a máscara representa um
espírito personificado pelo mascarado, que, dessa forma,
afugenta outros espíritos hostis. Outras máscaras, ainda, são
comemorativas. O mascarado encarna uma pessoa morta cuja
memória deve ser relembrada. Máscaras também são
empregadas em representações teatrais para ilustrar incidentes
mitológicos.! (BOAS, F. p.31. 2006)

A máscara pode se firmar com funções diferentes entre os povos.


Devemos ter um pressuposto de um desenvolvimento independente, deve se
isolar e classificar ou as causas ou as variantes externas geográficas e as
varientas internas da mentalidade de cada povo.
Também a constatação da formação do mesmo resultado, por exemplo
a formação de tribos, deve ser levado em consideração se essa formação se
deu pela associação de tribos ou pela desintegração de uma tribo, essas
diferenças devem ser levadas em consideração. Boas está dizendo que não
devemos comparar os resultados, mas sim os processos de desenvolvimentos
e que primeiros devemos estudar a cultura dos costumes detalhados de um
povo com relação a sua cultura total numa área delimitada, para num método
indutivo comparar com outras áreas também limitadas para poder pensar uma
lei geral que governa a cultura.

É preciso observar, no entanto, que a principal contribuição


para a antropologia cultural não foi como formalizador de
teorias; seu papel foi acima de tudo o de crítico de teorias
então consagradas, como o evolucionismo e o racismo. Com
isso, abriu caminho para que outros antropólogos - muitos
deles, seus alunos - desenvolvessem as implicações
decorrentes da percepção da relatividade das formas culturais
sob as quais os homens têm vivido. (CASTRO, C. p. 18. 2006)

A concepção boasiana de cultura tem como fundamento um


relativismo de fundo metodológico, baseado no
reconhecimento de que cada ser humano vê o mundo sob a
perspectiva da cultura em que cresceu - em uma expressão
que se tornou famosa, ele disse que estamos acorrentados aos
"grilhões da tradição". (CASTRO, C. p. 18. 2006)

Quando esclarecemos a história de uma única cultura e


compreendemos os efeitos do meio e das condições
psicológicas que nela se refletem, damos um passo adiante,
pois podemos então investigar o quanto essas ou outras
causas contribuíram para o desenvolvimento de outras
culturas. Assim, quando comparamos histórias de
desenvolvimento, podemos descobrir leis gerais. Esse método
é muito mais seguro do que o comparativo, tal como ele é
usualmente praticado, porque, em lugar de uma hipótese sobre
o modo de desenvolvimento, a história real forma a base de
nossas deduções. (Franz Boas. p.37. 2006)

O método histórico atingiu uma base mais sólida ao abandonar


o princípio enganoso de supor conexões onde quer que se
encontrem similaridades culturais. O método comparativo, não
obstante tudo o que se vem escrevendo e dizendo em seu
louvor, tem sido notavelmente estéril com relação a resultados
definitivos. Acredito que ele não produzirá frutos enquanto não
renunciarmos ao vão propósito de construir uma história
sistemática uniforme da evolução da cultura, e enquanto não
começarmos a fazer nossas comparações sobre bases mais
amplas e sólidas, que me aventurei a esboçar. (Franz Boas.
p.39. 2006)

Diante do exposto, é possível considerar Boas como pioneiro no método


etnográfico, pois suas experiências no campo foram realizadas com critério de
observação participante trinta e nove anos antes de Malinovski. Ainda sobre o
trabalho de campo, podemos considerar que os textos partilhados demonstram
um tanto do caráter linguístico das análises de Boas, falando sobre seus
estudos com as tribos, no qual o autor argumenta que essas tribos deveriam
ser estudadas umas em relação as outras, ou seja, “que só alguém que
compreenda o leste, poderá compreender plenamente o Oeste”.

Nos textos vemos o campo do autor permear por pesquisas sobre


dialetos, com classificação dos troncos linguísticos de diferentes povos.
Pesquisas de cunho da antropologia física no qual contem descrições sobre
características físicas dos sujeitos observados.

Referencias

BOAS, Franz. 2004 [1896] [1920]. “As limitações do método comparativo” e “os
métodos da etnologia”. Pp. 25-52, Em: Antropologia cultural / Franz Boas;
textos selecionados, apresentação e tradução, Celso Castro. - 2.ed. - Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed.

BOAS, Franz. 2004. “Parte III: Uma amostra do trabalho de campo de Boas”
pp. 111-160. Em: STOCKING, George (org) - A formação da antropologia
americana 1883-1911-Contraponto _ Editora UFRJ (2004).

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