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Elementos de Máquinas II

Noções fundamentais de engrenagens


Parte II

Prof. Dr. William Maluf 1


3. Principais processos de fabricação

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Processos comuns
• Existem diversos processos de fabricação de engrenagens.

• A escolha do processo a ser utilizado depende de fatores como grau de automatização


desejado, tamanho dos lotes, precisão, nível de acabamento, tipo de engrenagem a ser
fabricada, custos de fabricação, tempo de produção, mão de obra qualificada, etc.

• Fresagem (Milling): https://youtu.be/ye2wumdIsBQ?t=9 ; https://www.youtube.com/watch?v=u5c-xeVtr9I

• Fresa caracol (Hobbing): https://www.youtube.com/watch?v=yK7LVm6cOSY

• Skiving: https://www.youtube.com/watch?v=EefFxEGVbWo

• Processo Fellows: https://www.youtube.com/watch?v=fU01NlP-dNI

• Centros de usinagem: https://www.youtube.com/watch?v=yLbpj9kOUkg


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4. Interferência, correção e tipos de
engrenamento

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Interferência entre dentes

Pinhão
Circunferência de
base do pinhão
Adendo
longo
Diâmetros
primitivos X Y
Z Adendo
Circunferência de curto
base da coroa Coroa

Modificado de Norton, cap. 12.

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O3
Interferência entre dentes w3 Engrenagem
movida 3
Círculo base
Essa porção do dente Zona de interferência
não segue uma curva
evolvente

Círculos de
adendo

Zona de interferência
Círculo base
Essa porção do dente
não segue uma curva Engrenagem
evolvente motora 2 Shigley, cap. 13.

Sentido do
Elementos de Máquinas II movimento w2
Prof. Dr. William Maluf O2 6
Interferência entre dentes
• Esse contato entre partes dos dentes não conjugados (interferência) é prejudicial.
• Considere a próxima figura (extraída do livro do Shigley), com duas ECDRs (𝛼 = 14,5° ).
• A motora, 2, gira no sentido horário. Os pontos iniciais e finais de contato são “A” e “B”, e estão
na linha de ação. Os pontos de tangência da linha de pressão com os círculos de base C e D
estão localizados dentro do intervalo definido de A-B.
• O contato acontece quando o flanco do dente motor toca o topo do dente movido no ponto A.
Esse ponto está localizado em uma região na qual a curva evolvente ainda não foi iniciada. De
tal maneira que o contato acontece abaixo do círculo de base da engrenagem 2, cujo perfil do
dente não é evolvente.
• O efeito real é que o perfil evolvente do dente da engrenagem movida tende a arrancar
material da porção não evolvente do perfil do dente da engrenagem motora.
• Isso acontece novamente quando os dentes abandonam o contato. O contato deveria terminar
em “D” ou antes. Se isso não ocorre, a interferência entre dentes se faz presente.
• Durante a fabricação, pode-se remover a região que causará interferência (undercutting ou
adelgaçamento). Entretanto, isso significa remover material do dente, o que pode fragiliza-lo.
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O3
Interferência entre dentes w3 Engrenagem
• O número mínimo de dentes do pinhão movida 3
(Zmin) para que não haja interferência entre Círculo base
um par de ECDR com i=1 (Z1=Z2): Essa porção do dente Zona de interferência

2∙𝑘 2 𝛼
não segue uma curva
𝑍𝑚𝑖𝑛 = ∙ 1 + 1 + 3 ∙ sen evolvente
3 ∙ sen2 𝛼

• De acordo com o livro do Shigley, capítulo


Círculos de
13, o fator k assume os seguintes valores: adendo
• Dentes com adendo longo: k=1
• Dentes com adendo curto: k=0,8
Zona de interferência
• Para ECDRs nas quais Z1=Z2, com dentes de Círculo base
altura completa e ângulo de pressão 20º: Essa porção do dente
não segue uma curva Engrenagem
2∙1
𝑍𝑚𝑖𝑛 = ∙ 1 + 1 + 3 ∙ sen2 20° = 12,3 𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 evolvente motora 2
3 ∙ sen2 20°
Sentido do
𝑍Elementos de 𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
Máquinas→II𝑍𝑚𝑖𝑛 = movimento w2 8
𝑚𝑖𝑛 = 12,3 13 𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠Prof. Dr. William Maluf O2 Shigley, cap. 13.
Interferência entre dentes
• A remoção de material (adelgaçamento) ocorre durante a fabricação.

• De acordo com Shigley, em pares de ECDR que possuem número de dentes diferentes entre si,
o Zmin do pinhão para não haver interferência é ser calculado por:
2∙𝑘 2 + 1 + 2 ∙ 𝑖 ∙ sen2 𝛼
𝑍𝑚𝑖𝑛 = ∙ 𝑖 + i
1 + 2 ∙ 𝑖 ∙ sen2 𝛼
Engrenagem Circunferência de
• A maior coroa que operará com um pinhão de base da engrenagem

ECDR especificado sem interferência é: Círculos de


2 referência
𝑍𝑚𝑖𝑛 ∙ sen2 𝛼 − 4 ∙ 𝑘 2
𝑍𝑐𝑜𝑟𝑜𝑎𝑠𝑒𝑚 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑓𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = Circunferência de
4 ∙ 𝑘 − 2 ∙ 𝑍𝑚𝑖𝑛 ∙ sen2 𝛼 Pinhão base do pinhão
Adelgaçamento
Interferência
• Ex.: pinhão Z=13 dentes → coroa Z=16 dentes. A região do dente abaixo da circunferência
de base não segue o perfil evolvente Norton, cap. 12.

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Interferência entre dentes
• Existe uma regra prática, que é útil para 2
calcular o número mínimo de dentes do 𝑍𝑚𝑖𝑛 =
sen2 𝛼
pinhão (Zmin) em situações nas quais
desconhece-se a relação de transmissão (i).

• De tal maneira que pode-se criar uma tabela simplificada (e um


gráfico) que serve para uma consulta rápida e inicial de referência.

Ângulo de Zmin
pressão (a) [dentes]
14,5º 32
15º 30
20º 17
35º 6

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Interferência entre dentes
• O adelgaçamento é recomendado quando o número de dentes de uma engrenagem é muito
pequeno.

• A remoção de material leva ao enfraquecimento da resistência do dente!

Engrenagem com perfil de Engrenagens que


dente normal sofreram
adelgaçamento

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Interferência entre dentes
Engrenagem com
adelgaçamento

Engrenagem com
perfil de dente
normal

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Interferência entre dentes
Engrenagem com
perfil de dente Engrenagens que sofrendo
normal adelgaçamento durante
processo de fresamento
(hobbing)

Ferramenta de
fresamento (hobbing)

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Correção de perfil de dentes
• É uma melhoria que pode ser feita no perfil teórico do dente ou ao remover material durante a
usinagem dos dentes da engrenagem. Recomenda-se fazer correção se: Z1 < Zmin

• Esta melhoria deve ser prevista na fase de projeto, portanto não se trata de um conserto ou
um reparo feito na engrenagem.

• Com a correção de perfil pode-se obter:


•  da espessura de base, permitindo maior resistência e transmissão de maiores esforços
•  da interferência na usinagem e no engrenamento
• Melhoria do deslizamento sobre os perfis e duração da vida devido à diminuição da pressão específica
(transmissão mais silenciosa)
• Possibilidade de adaptação do engrenamento às condições impostas e montagem das rodas a uma distância
entre centros pré-fixada, ou seja, ajuste da distância teórica entre eixos (a) para a distância real de
operação/funcionamento (a´)
• Aumento na resistência mecânica à flexão (medida pelo critério de Lewis) ou falha superficial por desgaste
(medida pelo critério de Hertz)

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Correção de perfil de dentes

Coeficiente de deslocamento
da ferramenta (é uma fração
do módulo)

Deslocamento
Módulo
da ferramenta
𝑣 =𝑥∙𝑚
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Correção de perfil de dentes

𝑍 < 𝑍𝑚𝑖𝑛 → 𝑥 > 0


𝑣 𝑣 A ferramenta deve ser afastada da engrenagem

Fresamento (milling):
𝑍 > 𝑍𝑚𝑖𝑛 → 𝑥 < 0
ferramenta de corte A ferramenta deve ser avançada para a engrenagem

𝑍𝑚𝑖𝑛 − 𝑍
𝑥=
𝑍𝑚𝑖𝑛
Coeficiente de deslocamento da
ferramenta (é uma fração do módulo) https://www.youtube.com/watch?v=vDf0lEN3ekg

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Correção de perfil de dentes

Elementos
Elementos de
de Máquinas
Máquinas II
II
ME6520 / NM8520 / ME8520
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Correção de perfil de dentes

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Correção de perfil de dentes
• Comparação entre 3 engrenagens, todas com a=20º, Z=10 dentes.
Cremalheira usada na correção
de perfil Cremalheira usada na correção de Cremalheira usada na correção
perfil de perfil

v v

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Correção de perfil de dentes
• A correção do perfil dos dentes pode causar mudanças no engrenamento (a razão de contato, a geometria de
deslizamento dos dentes, modificação da distância teórica entre centros a´). Não necessariamente vai causar.
• De tal maneira que o ângulo de pressão (a) estimado no projeto, pode sofrer uma mudança geométrica. De tal
forma que para algumas engrenagens corrigidas existe um ângulo de pressão de funcionamento (a´).
𝑚 𝑎´ 𝑐𝑜𝑠 𝛼 𝑎 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝛼
𝑎 = ∙ 𝑍1 + 𝑍2 𝑎´ = 𝑎 + 𝑚 ∙ 𝑥1 + 𝑥2 = 𝛼´ = cos −1
2 𝑎 𝑐𝑜𝑠 𝛼´ 𝑎´
• No cálculo da razão de contato (ou grau de recobrimento), considera-se αa1 e αa2 como sendo os ângulos de ação
(equivalente ao ângulo do arco de ação) do pinhão (1) e da coroa (2):
𝑍1 ∙ cos 𝛼 ∙ cos 𝛼´
𝛼𝑎1 = cos −1
𝑍1 + 𝑍2 ∙ cos 𝛼 − 𝑍2 ∙ cos 𝛼´ + 2 ∙ 1 − 𝑥2 ∙ cos 𝛼´
𝑍2 ∙ cos 𝛼 ∙ cos 𝛼´
𝛼𝑎2 = cos −1
𝑍1 + 𝑍2 ∙ cos 𝛼 − 𝑍1 ∙ cos 𝛼´ + 2 ∙ 1 − 𝑥1 ∙ cos 𝛼´
• A fórmula para calcular a razão de contato de engrenagens passa a ser:
𝑍1 𝑍2
𝜀 = 𝜀1 + 𝜀2 = ∙ 𝑡𝑎𝑛 𝛼𝑎1 − 𝑡𝑎𝑛 𝛼 ´ + ∙ 𝑡𝑎𝑛 𝛼𝑎2 − 𝑡𝑎𝑛 𝛼 ´
2∙𝜋 2∙𝜋
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• Caso não haja correção (x1=x2=0), ou a seja uma correção que x1=-x2: a=a´; a=a´
Correção de perfil de dentes

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Tipos de engrenamento
• Em alguns casos de correção dos dentes: a ≠ a´.

• A correção pode implicar em um afastamento ou aproximação dos centros dos eixos.

• Distância real de operação/funcionamento (a´)

𝒎
𝒂´ = 𝒂 + 𝒎 ∙ 𝒙𝟏 + 𝒙𝟐 = ∙ 𝒁𝟏 + 𝒁𝟐 + 𝒎 ∙ 𝒙𝟏 + 𝒙𝟐
𝟐

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Tipos de engrenamento
• Existem 3 tipos de engrenamento de acordo conforme a ISO 21771:2007:
• Zero (sem correção): a distância real entre eixos (a´) é igual à distância teórica (a). Então:
• a=a´; 𝛼 = 𝛼´
• Z1 ≥ Zmin e Z2 ≥ Zmin
• x1=x2=0
• V-Zero: a distância real entre eixos (a´) é igual à distância teórica (a). Então:
• a=a´; 𝛼 = 𝛼´
• Z1 < Zmin e Z2 ≥ Zmin 𝑚 −1
𝑎 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝛼 𝑍𝑚𝑖𝑛 − 𝑍
𝑎 = ∙ 𝑍1 + 𝑍2 𝛼´ = cos 𝑥=
• 𝑍1 + 𝑍2 ≥ 2 ∙ 𝑍𝑚𝑖𝑛 2 𝑎´ 𝑍𝑚𝑖𝑛
• x1=-x2
• ℎ𝑎1 + ℎ𝑎2 = 2 ∙ 𝑚 𝑎´ = 𝑎 + 𝑚 ∙ 𝑥1 + 𝑥2
• V: a distância entre eixos real (a´) é alterada em relação à distância teórica (a). Então:
• a≠a´; 𝛼 ≠ 𝛼´; x1≠x2 ; se a´>a: V positivo; se a´<a: V negativo.
• Nota: se a≠a´ as condições de número de dentes abaixo não precisam ser verdadeiras*
• Z1 < Zmin e Z2 < Zmin
• 𝑍1 +de𝑍Máquinas
Elementos 2 <2∙𝑍 II 𝑚𝑖𝑛 Prof. Dr. William Maluf *Veja explicação no próximo slide 23
Tipos de engrenamento
• Comentário específico sobre o engrenamento V
• Há situações reais nas quais foi feita a correção do perfil independente da mesma ter sido
necessário por conta do número de dentes (Z1 < Zmin ).

• Se isso ocorreu, pode ter ocorrido alteração em “a”. Se ocorreu a alteração da distância dentre
eixos, o engrenamento é V. Será considerado V positivo se a´>a, e V negativo se a´<a.

• Regra geral: se a≠a´, trata-se de engrenamento V.

• Um dos motivos para tal correção é que uma adequada distribuição dos fatores de
deslocamento x1 e x2 aumenta a capacidade de carga do engrenamento.

• Adicionalmente, em algum exercício pode não ter sido fornecida a distância a´ ou não ser
possível determiná-la.

• Só nesses casos faz-se a comparação entre Z1 < Zmin .


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Tipos de engrenamento
Algoritmo de verificação de tipo de engrenamento
• A referência geométrica de montagem (a´) está disponível ou pode ser calculada
• Se a´=a, então o engrenamento ou é Zero (sem correção) ou V-Zero. Para determinar
qual deles é, basta comparar Z1 com Zmin. Se:
• Z1 ≥ Zmin : Zero
• Z1 < Zmin : V-Zero
• Se a´≠a: V

• A referência geométrica de montagem (a´) não está disponível e não pode ser
calculada
• Basta comparar Z1 com Zmin. Se:
• Z1 ≥ Zmin : Zero
• Z1 < Zmin : precisa fazer verificações adicionais sobre as outras condições/dados do exercício para
escolher entre:
• V-Zero
• V
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Coroa (Z2)
Tipos de engrenamento
Z1 ≥ Zmin e Z2 ≥ Zmin Engrenamento Zero a=a´; 𝛼 = 𝛼´; x1=x2=0

Z1 < Zmin e Z2 ≥ Zmin Engrenamento V-Zero a=a´; 𝛼 = 𝛼´; x1=−x2

Z1 < Zmin e Z2 < Zmin Engrenamento V a≠a´; 𝛼 ≠ 𝛼´; x1≠x2

a´ > a a´ < a
V positivo V negativo
Pinhão (Z1)
2∙𝑘 2 + 1 + 2 ∙ 𝑖 ∙ sen2 𝛼
𝑍𝑚𝑖𝑛 = ∙ 𝑖 + i
1 + 2 ∙ 𝑖 ∙ sen2 𝛼
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Coroa (Z2)
Tipos de engrenamento
Engrenamento
a´ está
Sim! Zero Compare Z1 Se: Z1 ≥ Zmin
disponível
Sim com Zmin
ou pode a´=a?
ser
Não! Engrenamento Se: Z1 < Zmin
𝑎´ calculada?
V-Zero

Engrenamento V

Pinhão (Z1) a´ > a a´ < a Engrenamento


V positivo V negativo Zero
𝑚
𝑎 = ∙ 𝑍1 + 𝑍2 Se: Z1 ≥ Zmin
2 Compare Z1 Faça avaliações
com Zmin adicionais no
𝑎´ = 𝑎 + 𝑚 ∙ 𝑥1 + 𝑥2 Se: Z1 < Zmin exercício para
2∙𝑘 escolher entre
𝑍𝑚𝑖𝑛 = ∙ 𝑖 + i2 + 1 + 2 ∙ 𝑖 ∙ sen2 𝛼
V-Zero ou V
1 + 2 ∙ 𝑖 ∙ sen2 𝛼
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