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HAM 3

Aula 1
Anamnese:
• “A anamnese (do grego anamnesis significa recordação) consiste na história clínica do paciente, ou
seja, é o conjunto de informações obtidas pelo médico por meio de entrevista previamente esquemati-
zada.”
• A anamnese é a parte mais importante da medicina pois envolve o núcleo da relação profissional saúde-
doente;
• Além disso preserva o lado humano da medicina e orienta de forma correta o plano diagnóstico e
terapêutico.
• “A anamnese leva à hipótese diagnóstica em cerca de 70-80% das vezes.”
• Ambiente tranquilo
• Boa relação médico-paciente
• Apresentação
Ambiente:
• Hospital – O doente hospitalizado não está no seu habitat natural. Encontra-se doente, afastado dos
seus entes, confinado a um ambiente hostil, com pessoas desconhecidas e muitas vezes pouco preocu-
padas com a sua individualidade. Neste ambiente o doente pode apresentar-se hostil e extremamente
ansioso.
• Consultório – O ambiente do consultório é menos hostil. Entretanto, a situação nova (a doença, o
profissional saúde desconhecido etc.) promovem estimulação do sistema nervoso autónomo. A pressão
arterial e a frequência cardíaca podem estar aumentadas, as mãos húmidas e frias, o rosto ruborizado.
Início da entrevista:
• Obter Autorização
• O profissional de saúde, após se apresentar, deve deixar claro seu objetivo. Isto é feito, de forma res-
peitosa, empregando construções de frases tais como: "Gostaria muito de conversar com o senhor
acerca do motivo pelo qual o Sr. está internado (ou veio à consulta) e depois gostaria de examiná-lo".
• Após esta introdução é fundamental solicitar autorização. Caso o paciente não concorde não se deve
insistir. Deve voltar-se noutra altura.

Anamnese no Adulto:
• Identificação (ID)
• Queixa principal (QD)
• História da doença atual (HDA)
• Interrogatório sobre os diversos aparelhos (ISDA)
• Antecedentes pessoais (AP)
• Antecedentes familiares (AF)
• Hábitos e vida
• História socioeconômica, espiritual e cultural
Identificação (ID): Iniciais do nome (p. ex: S. J.), idade, sexo, cor, estado civil (solteiro, casado, viúvo), pro-
fissão, naturalidade, nacionalidade, residência atual/anteriores.
Queixa Principal (QP): Sintomas referidos pelo paciente. Sempre as palavras do paciente. Não requer SIC,
nem aspas. Por exemplo: Dor nas juntas.
História da Doença Atual (HDA): Como começou a doença? Há quanto tempo está doente? Sintomas súbi-
tos/gradativos, fatores ou situações que o desencadearam ou o acompanharam em seu início. Localização,
intensidade, periodicidade. Relação com as funções orgânicas. Como evoluiu (estável, piora, melhora)? Sin-
tomas Atuais? Tratamentos anteriores?
Dor:
1. Localização: Onde inicia a dor? Irradia para alguma outra região ou é localizada?
2. Irradiação: Para onde a dor vai, irradia, se espalha? (Usar o termo que fique melhor para o entendi-
mento do paciente).
3. Qualidade/caráter: queimação, pontada, pulsátil, cólica, constritiva, contínua, cíclica, profunda, super-
ficial.
4. Intensidade: é a dor mais forte que o Sr. já sentiu? Em uma escala de 0-10 quanto seria essa dor?
5. Duração: Após o início quanto tempo dura a dor? É constante? É intermitente?
6. Evolução: A primeira vez que o Sr. sentiu a dor já foi com a mesma força que é atualmente? Ou
Começou mais leve e foi piorando (progressiva)?
7. Relação com funções orgânicas: p. ex.: dor retroesternal associada à vômitos.
8. Fatores de agravo: Existe algo que piora a dor? (posição, alimentação, movimentação, decúbito...)
9. Fatores de alívio: Existe algo que alivia/melhora, a dor? Posição, horário do dia, movimentação, me-
dicação (qual?).
10. Fatores associados: demais fatores relacionados à dor
Interrogatório Sobre os Diversos Aparelhos e Sistemas (ISDA):
• Sintomas Gerais: febre, astenia, alteração do peso (ganho/perda, de tanto para tanto), sudorese, cala-
frios, prurido, alterações do revestimento cutâneo, alterações do desenvolvimento físico, icterícia, ci-
anose, mialgia.

• Cabeça e pescoço
1. Face, pescoço: dor, alteração dos cabelos, pelos.
2. Olhos: sensação de corpo estranho, queimação ou ardência, dor ocular e cefaleia, prurido, lacrimeja-
mento ou epífora, sensação de olho seco, xantopsia, iantropsia, cloropsia, alucinações visuais, verme-
lhidão, diminuição da acuidade visual (ambliopia ou amaurose), diplopia, fotofobia, nistagmo, esco-
toma e secreção (purulenta, aquosa...).
3. Ouvidos: diminuição da acuidade auditiva, dor, otorreia, otorragia, prurido, disacusia (hipoacusia, sur-
dez e anacusia), zumbidos, vertigem e tontura.
4. Nariz: espirros, rinorreia, obstrução, epistaxe, alteração na fonação, diminuição do olfato.
5. Boca e anexos: alterações do apetite, sialose, halitose, glossalgia, sangramento (gengival, lingual).
6. Tireoide: dor, nódulos.
7. Linfonodos: dor, adenomegalia. Características do nódulo: localização, tamanho, mobilidade, consis-
tência, sensibilidade, alterações na pele, volume, textura, quantidade.
• Sistema Cardiovascular:
1. Coração: dor, palpitações, dispneia, intolerância aos esforços, tosse e expectoração, chieira, hemoptise,
desmaio (síncope e lipotimia), alteração do sono, cianose, edema, astenia e posição de cócoras.
2. Artérias: dor, modificações da cor e da temperatura da pele, alterações tróficas e edema.
3. Veias: dor, alterações tróficas (celulite, hiperpigmentação, eczema, úlceras e dermatofibrose), hemor-
ragias e hiperidrose.

• Sistema Respiratório:
1. Nariz e Cavidades paranasais: dor, espirro, alterações do olfato, obstrução nasal, rinorreia ou corri-
mento nasal, epistaxe, dispneia e alterações da fonação.
2. Faringe: odinofagia, dispneia, disfagia, tosse (frequência, tonalidade, presença ou não de expectoração
– seca ou produtiva, relação com o decúbito, período em que predomina) e halitose.
3. Laringe: dor, dispneia, alterações da voz, tosse e pigarro.
4. Traqueia, brônquios, pulmões e pleura: dor torácica, tosse, expectoração (volume, cor, transparência e
consistência – serosa, mucoide, purulenta e hemoptoica), hemoptise (precedida por náusea e vômito?),
vômica, dispneia (aos grandes, médios, pequenos esforços ou repouso – paroxística noturna, ortopneia,
platipneia, trepopneia), chieira, cornagem e tiragem.
5. Diafragma e mediastino: dor, soluço e dispneia.

• Sistema Gastrointestinal:
1. Cavidade bucal: dor, halitose e sangramento gengival. Alterações de apetite (polifagia ou hipororexia.
Inapetência ou anorexia).
2. Esôfago: disfagia, odinofagia, pirose, dor esofagiana, regurgitação, eructação, soluço, sialose e hema-
têmese.
3. Estômago: dor, náuseas, vômitos, dispepsia e pirose.
4. Intestino delgado: diarreia, esteatorréia, dor, distensão abdominal, flatulência e dispepsia, hemorragia
digestiva (hematêmese, enterorragia e melena).
5. Cólon, reto e ânus: dor, diarreia, obstipação, sangramento anal, prurido anal, distensão abdominal,
náuseas, vômitos, anemia e emagrecimento.
6. Fígado, vesícula e vias biliares: dor, icterícia, náuseas e vômitos.
7. Pâncreas: dor, náuseas e vômitos, icterícia, diarreia e esteatorreia.
• Rins e Vias urinárias: alterações miccionais (hesitação, urgência, modificação do jato urinário, reten-
ção urinária, incontinência), alteração do volume e do ritmo urinário (oligúria, anuria, poliúria, disúria,
polaciúria, frequência, noctúria), alterações da cor da urina (hematúria, hemoglobinúria, mioglobinú-
ria, porfirinúria, urina turva), alterações do cheiro da urina, odor, edema e febre.
• Ossos: dor e deformidades.
• Articulações: dor, rigidez pós-repouso, artrite, crepitação articular e algumas manifestações sistêmicas,
principalmente febre, astenia, perda de peso e anorexia.
• Coluna vertebral: dor, rigidez muscular.
• Músculos: fraqueza muscular, dificuldade para andar, mialgia
• Sistema nervoso: transtornos da consciência, dor de cabeça, dor na face, tontura e vertigem, convulsões
e outros movimentos involuntários, ausências, automatismos, amnésia, transtornos visuais, transtornos
auditivos, manifestações digestivas, alterações da sensibilidade, da motilidade voluntária e da marcha,
transtornos esfincterianos, transtornos do sono, transtornos das funções cerebrais superiores e do es-
tado mental.
Antecedentes pessoais (AP):

• Gestação e nascimento
• Desenvolvimento psicomotor e neural
• Desenvolvimento sexual
• Alergia
• Cirurgia
• Traumatismo
• Doenças sofridas pelo paciente
• Estado de saúde (quando vivos) dos pais e irmãos do paciente; cônjuge, filhos (se houver).
• Se houver alguém doente na família, esclarecer a natureza da enfermidade; falecimento (causa e idade).

Hábitos de Vida (HV):


• Alimentação
• Uso de bebidas alcoólicas, tabaco
• Anabolizantes e anfetaminas
• Uso de drogas ilícitas
• Atividades físicas
• História ocupacional
História Socioeconômica, espiritual e cultural:
• Não envolvem somente grau de escolaridade, mas abrangem a religiosidade, as tradições, crenças, os
mitos, a medicina popular, relação familiar, comportamentos e hábitos alimentares.

Anamnese Pediátrica
COMO FAZER A ANAMNESE PEDIÁTRICA:
1. Não falar com criança como se fosse criança e sim como médico
2. Não transmitir opiniões ou pensamentos para a criança
3. Não rir do que a criança diz a menos que a intenção dela seja essa
4. Não tentar ser engraçado ou divertido sempre
5. Não provocar criança que não conhece
6. Com lactentes pequenos, estabelecer contato olho-a-olho
Componentes da AP:
1. Identificação
2. Queixa Principal
3. História da Moléstia Atual
4. Interrogatório sobre os diversos aparelhos
5. História obstétrica e neonatal
6. Situação nutricional
7. Imunização
8. Desenvolvimento neuropsicomotor
9. Hábitos de vida
10. Doenças, acidentes e internações
11. Antecedentes familiares
12. Composição familiar e condições sociais
Identificação (ID): Nome, Data de nascimento, Sexo, Cor, Naturalidade, Procedência, Nome do acompanhante
no momento da consulta + ocupação

QP: quando houver; escrever com as próprias palavras

HMA:

• Início e evolução da doença, sintomas associados, medicamentos utilizados.


• Escrever em ordem cronológica e linguagem técnica
• Intervir e investigar quando necessário

Interrogatório sobre os diversos aparelhos:


• Pele
• Subcutâneo (aparecimento de nódulos)
• Cabeça, respiratório (cansaço), CV (cianose? Cansaço quando está mamando? edema? fica quieta no
colo?), digestivo (frequência que troca a fralda; aspecto do coco? Regurgitação? Dificuldade de de-
glutição; quais alimentos?),
• Gênito-urinário (quantas fraldas trocam por dia? Cor da urina (importante para saber como está a hi-
dratação da criança)?
• Neurológico: DNPM, padrão de comportamento (calma, agitada), personalidade (séria, extrovertida),
comportamento (dentro e fora de casa)
História Obstétrica e Neonatal (HON):
1. Gravidez foi planejada ou aconteceu?
2. Tipo de parto
3. Tempo de gestação
4. Fez pré-natal: Quantas consultas
5. Fumou? Bebeu? Usou drogas?
6. Intercorrências clínicas da gestação: HAS, DM, acidentes, doenças pregressas que se agravam durante
a gestação, hipotireoidismo, LES;
7. Uso de medicações
8. Testes sorológicos: HIV, sífilis, Hepatite B, toxoplasmose, HTLV.
9. Idade da mãe: mãe muito nova terceiriza cuidado do filho; mãe mais velha aumenta risco de doenças
genéticas
10. Grupo sanguíneo e Rh
11. Local do nascimento
12. Condições de nascimento: peso, comprimento, PC, apgar de 1’ e 5’
13. Necessidade de internamento (UTI- neo, semi-intensiva) ou AC (alojamento conjunto) logo após o
nascimento e alta junto com a mãe ( se precisou ficar internado por mais tempo qual foi o motivo)
Situação Nutricional pregressa e atual (SN):

• Amamentação exclusiva ao seio e quanto tempo?


• Idade do desmame e condições: o que foi usado como alimentação complementar
• Qualidade e quantidade dos alimentos ofertados
• Número de refeições: como eram oferecidos os alimentos, quais alimentos eram, preferências alimen-
tares, perguntar o que a criança comeu no dia anterior para ter uma ideia
• Pesquisar intolerâncias ou alergias alimentares na criança e família
Desenvolvimento neuropsicomotor:

• Quais os marcos de DNPM esperados para a idade do paciente?


• Idade que sorriu, sustentou a cabeça, sentou, engatinhou, andou, falou?
• Gracinhas: bate palma? Dá tchau? Solta beijo?
• Quantidade e qualidade do sono?
• Controle dos esfíncteres: geralmente a partir dos 2 anos
• Sociabilidade
• Escolaridade e aproveitamento escolar

OBS: crianças abaixo de 2 anos de idade, caso haja algum atraso, deve-se pesquisar se é um problema
de estímulo ou é decorrente de doenças.

Rotina de Vida (RV):


• Como passa o dia, onde passa o dia
• Interação com adultos e crianças: crianças até 2 anos de idade tendem a brincar sozinhas
• Tipo de atividades e brincadeiras
• Uso de televisão e computador: abaixo de 2 anos- não utilizar aparelhos com tela. Acima disso, no
máximo 1h por semana
• Se está na escola ou creche
Imunização:
• Verificar a carteira de vacina: se não estiver completa, perguntar o por que e encaminhar
• Verificar sinal da BCG
• Informações sobre reações vacinais
Antecedentes Patológicos:
• Infecções
• Doenças próprias da infância
• Procedimentos cirúrgicos
• Alergias
• Faz uso de algum medicamento?
Antecedentes Familiares:
• Doenças na família
• Idade, sexo e estado de saúde dos irmãos
• Idade e estado de saúde dos pais
Composição Familiar e Condições Sociais:
• Condições da habitação
• Quem mora na casa, onde a criança dorme (até 6 meses deve dormir no berço, próximo a cama dos
pais)
• Escolaridade dos pais, profissão
• Uso de cigarro, álcool, drogas por criança ou adulto
Prontuário médico na pediatria:
• Sigilo médico: observar se existe algum comportamento que o paciente está desconfortável com a mãe,
perguntar se quer conversar com o médico sozinho.
• As informações são confidenciais, a não ser que a informação coloque em risco a vida da criança; em
casos de violência, deve-se denunciar para o ministério público
Deve constar:

• Registro da consulta
• Legibilidade
• Identificação dos profissionais que realizaram o atendimento
• Assinatura do médico e CRM

Prontuário SOAP
O Registro Clínico Orientado por Problema - SOAP é um acrônimo para Subjetivo, Objetivo, Avaliação e
Plano, concebido com a ideia de acompanhar o paciente de forma longitudinal, estruturando as anotações do
registro clínico nesses 4 itens:
S SUBJETIVO: Registramos aqui as informações baseadas na experiência da pessoa que está sendo atendida.
Podemos anotar além das queixas, os sentimentos. Motivo do atendimento, anamnese, problema(s) apresen-
tado(s).
O OBJETIVO: Informações aferidas do ponto de vista médico ficam neste espaço. Dados do exame físico
e/ou resultados dos exames complementares.
A AVALIAÇÃO:

• Aqui fica algo similar ao Hipóteses Diagnósticas quando comparamos ao modelo tradicional de regis-
tro, este é o espaço para incluímos o(s) problema(s) evidenciado(s) na consulta relacionando-o(s) com
sua resolução ou não (diabetes descompensada, hipertensão arterial controlada, etc.)
• Caso não haja elementos para elaborar um diagnóstico preciso durante a consulta, aqui podem ser
reproduzidos novamente os sinais/sintomas mais pertinente para sua linha de raciocínio clínico (Ex.:
cefaleia hemicrania pulsátil há 24 horas, febre isolada há três dias, etc.).
P PLANO: A proposta terapêutica elaborada pelo médico deve encontrar-se neste item; medicações prescritas,
solicitações de exames complementares, orientações realizadas, encaminhamentos e pendências para o pró-
ximo atendimento, ou seja, um plano de ação para o seu paciente.

Caso Clínico:
1ª Consulta:
S – Dor no peito há 4 dias sem irradiação e medo de ataque cardíaco
O – PA 160x100mmHg, BNF sem sopro, ritmo cardíaco regular
A – Dor torácica atípica, pico hipertensivo e medo de ataque cardíaco
P – Analgésico e solicitação de ECG e MAPA; orientar sobre dieta
hipossódica, prática de exercícios físicos regulares e perda de peso; retornar para consulta após resultado dos
exames solicitados
2ª Consulta:
S – Paciente refere alívio da dor
O – ECG sem alterações
A – Dor torácica resolvida
P – Orientar MEV, com prática de exercícios físicos, dieta saudável e perda de peso; se o MAPA viesse com
resultado positivo para HAS, prescreveria uma medicação (ex; Losartana)

SPIKES
• A comunicação entre o médico e o paciente pode influenciar a adesão ao tratamento e a satisfação com
o atendimento realizado.
• Além disso, o médico não tem sempre notícias boas.
• Para ajudá-lo a comunicar más notícias, foram criados protocolos, como o mnemônico SPIKES, um
passo a passo para que o médico lembre de pontos importantes a serem trabalhados ao longo desse
tipo de situação.
Armadilhas – comportamentos a serem evitados:

• Sentir-se responsável por manter a esperança do paciente.


• Ignorar seus próprios sentimentos.
• Fazer suposições sobre o que o paciente sabe ou não sabe.
• Assumir que a cura é a sua meta para todos os pacientes.
• Conversar demais (sem espaço para o diálogo), “dar palestras”.
Introdução:

• Ao ficar internado em um hospital, o sujeito, agora chamado de “paciente” enfrenta uma nova reali-
dade, sua rotina e suas vontades são deixadas de lado e um novo mundo de exames e hábitos passa a
reinar.
• Toda a vivência hospitalar vem acompanhada de medo da morte e do desconhecido, tornando-a mar-
cante para o paciente.
• Quando há o avanço da doença ou se desde o início ela se apresenta como ameaça a vida, o médico
não só deve comunicar isso ao paciente e sua família, mas comunicar uma má notícia.
• O médico muitas vezes não sabe lidar com o sofrimento emocional do paciente, pode fazer promessas
falsas de cura (mentira piedosa), ou uma transmissão abrupta e sem muitas explicações ou perspectivas
de futuro, prejudicando toda a relação terapêutica.
• A comunicação deve não apenas abarcar o que o paciente precisa saber, mas ser realizada de forma
apropriada, assegurando que ele compreendeu a informação, preocupando-se com sua reação afetiva
e com a retenção da informação.
• O médico muitas vezes considera-se o único responsável por seu paciente e, apesar de dividir as infor-
mações, carrega a responsabilidade da decisão.
• Atualmente, um outro modelo de comunicação está ganhando espaço, o compartilhado.
• Para isso, novos protocolos foram estabelecidos, porém todos seguem uma mesma ideia: começar com
uma preparação inicial, em que o próprio médico deve se preparar, ter em mente o que sabe da doença
e de possibilidades de cuidado, encontrar um espaço reservado e calmo para que essa conversa ocorra;
• Identificar quem o paciente quer que esteja presente, apresentar-se e saber até onde ele e sua família
entendem o que está acontecendo; falar de forma franca e com compaixão, tocar as pessoas, lidar com
o silêncio e as lágrimas; ter um plano de metas e manter-se à disposição para futuras dúvidas ou novas
conversas.
O Protocolo SPIKES:
É um mnemônico de seis passos que pode proporcionar mais segurança ao médico no momento de dar uma
má notícia e que apresenta quatro objetivos principais:
• Saber o que o paciente e seus familiares estão entendendo da situação como um todo (ajuda o médico
a saber por onde começar);
• Fornecer as informações de acordo com o que o paciente e sua família suportam ouvir;
• Acolher qualquer reação que pode vir a acontecer;
• Por último, ter um plano.

S – Setting up: Preparando-se para o encontro


• Treinar antes é uma boa estratégia. Prepara-se para a entrevista relendo as informações sobre o paci-
ente, exames, procedimentos, consultorias e tratamentos. Pensar sobre o que vai ser discutido com o
paciente.
• Procure por um lugar calmo e que permita que a conversa seja particular.
• Sentar e convidar a família a sentar demonstrando disponibilidade e respeito.
P – Perception: Percebendo o paciente

• É fundamental iniciar descobrindo o que o paciente/ família já sabe de sua condição. Iniciar com per-
guntas abertas sobre o que o paciente sabe até agora, o que ele pensa.
I – Invitation: Convidando para o diálogo

• Identifique até onde o paciente quer saber do que está acontecendo, se quer ser totalmente informado
ou se prefere que um familiar tome as decisões por ele. Isso acontece! Se o paciente deixar claro que
não quer saber detalhes, mantenha-se disponível para conversar no momento que ele quiser.
K – Knowledge: Transmitindo as informações

• Transmitir as informações de maneira clara, objetiva e sensível. Utilizar linguagem leiga adaptada ao
nível intelectual e cultural de cada um. Evitar eufemismos que podem causar confusão. Fornece a
informação aos poucos, numa velocidade que permita a assimilação pelo paciente/família.
• Permitir períodos de pausas e silêncios para que a família possa refletir sobre o que foi dito ou fazer
perguntas.

E – Emotions: Expressando emoções

• O paciente e a família podem reagir de diversas formas, podem demonstrar medo, ansiedade, tristeza,
negação ou raiva.
• Ajudar a família a passar por essas emoções e manter a calma. Além disso, deve-se lembrar que o
médico também vai experimentar uma série de sentimentos durante a entrevista.
• Não começar a conversa sem estar preparado para apoiar o paciente emocionalmente

S – Strategy and Summary: Resumindo e organizando estratégias


• Resumir a informação facilita o entendimento e esclarece dúvidas. Estabelecer um comprometimento
com o alívio de sintomas e compartilhar preocupações. Elaborar juntamente com a família um plano a
ser seguido, que inclua exames futuros, planos alternativos e opções de tratamento.

• É importante deixar claro para o paciente que ele não será abandonado, que existe um plano ou trata-
mento, curativo ou não.
Comunicação de más notícias em pediatria
• Demonstrar sentimentos em determinadas situações não é errado, e sim, considerado pelos pais muito
adequado.
• Pais de crianças que morreram de forma traumática descreveram que a sensibilidade e a empatia no
momento de dar a notícia foram mais importantes que o contato prévio com o profissional ou a sua
profissão.
• Várias pesquisas descreveram a opinião dos pais de como foi e como deveria ser a comunicação mé-
dico-família
• Disponibilidade: a queixa mais comum foi a falta de disponibilidade dos médicos para ouvir as famílias
e responder seus questionamentos. Os pais apreciaram quando os médicos sentaram para conversar e
demonstraram atenção.
• Honestidade e afeto: a maioria dos pais manifestou o desejo de informação completa sobre o estado
de seus filhos, fornecida de maneira franca e simples. Os pais querem informação clara e direta, mas
transmitida de forma sensível e ao mesmo tempo com compaixão.
• Ocultar informação e dar falsas esperanças: quando os pais sentiram que o médico estava retendo
informação ou sendo muito otimista, sentiram-se muitas vezes enganados, com raiva, resultando em
quebra de confiança no médico.
• Vocabulário e velocidade da informação: os pais desejavam receber informações compreensíveis e
preferiam que fossem evitados termos técnicos.

• Informações contraditórias: muitas vezes diferentes membros da equipe assistencial forneciam infor-
mações contraditórias, isso dificultava a confiança no tratamento e o entendimento da real situação da
criança.
• Linguagem corporal: os pais desconfiavam dos médicos que não estabeleciam contato visual ou que
diziam uma coisa, mas que se comportavam como se fosse outra. É importante ter um comportamento
que esteja de acordo com a notícia e o conteúdo informado.
• Identificar quais componentes estão agravando uma situação em especial é importante para resolver
as barreiras de comunicação e facilitar a busca de soluções para cada caso.

• Comunicar más notícias não é uma tarefa fácil. O objetivo do protocolo SPIKES é, de alguma maneira,
organizar este momento, ajudando profissionais e pacientes a manter uma comunicação clara e aberta.
• “ser capaz de prestar atenção a si mesmo é pré-requisito para ter a capacidade de prestar atenção aos
outros; sentir-se bem consigo mesmo é a condição necessária para relacionar-se com os outros”.

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