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06/08/2023, 01:07 Quatro Cinco Um: a revista dos livros - Chimamanda Ngozi Adichie sobre liberdade de expressão

Política (br/categorias/politica)

Um recorte da história de livros


perigosos
Cronologia de violações à liberdade de expressão e censura de títulos no
Brasil e no mundo

Redação Quatro Cinco Um


(br/autores/redacao-quatro-cinco-um) 24fev2023 10h18 (01abr2023 06h36)

Julie Christie em cena do filme Fahrenheit 451, dirigido por François Truffaut Universal Pictures/Getty
Images

Desde que uma parte considerável da população mundial passou a ser alfabetizada e
ter acesso à leitura, detentores de poder identificam a força das palavras e lançam
tentativas de suprimir a liberdade de expressão e o acesso a livros e ideias. Por anos,
a Bíblia não pôde ser publicada em outra língua que não o latim, para evitar que os
leigos fizessem suas próprias interpretações do texto religioso. Ao longo do século Privacidade - Termos

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passado, diversas perseguições estavam relacionadas ao conteúdo religioso ou ao


posicionamento político das obras. Infelizmente, essa mentalidade persecutória não
ficou no passado — desde julho de 2021, cerca de 1.650 títulos foram banidos em
alguma instância pública nos Estados Unidos, atitude que repercute também no
Brasil, principalmente em relação a obras que abordam temas como racismo, sexo,
sexualidade e gênero.

1637
1º livro banido nos EUA
The New English Canaan, do advogado inglês Thomas Morton, é considerado o
primeiro livro a ser explicitamente banido na história dos Estados Unidos. A obra
traz críticas severas aos costumes puritanos e aos colonizadores da América do Norte
e é considerada pelo governo “um ataque aos bons costumes” e “desafiador às
autoridades vigentes”, além de herético. Um exemplar da primeira edição foi leiloado
pela Christie’s por US$ 60 mil em 2019.

1922
Ulysses proibido
A obra-prima de James Joyce, Ulysses, tem a sua publicação e venda proibidas nos
Estados Unidos. Segundo os censores, o romance tinha teor obsceno, além de conter
pornografia e blasfêmia. Somente em 1933, por decisão do juiz John M. Woolsey, a
proibição foi revogada. Na decisão, o juiz afirma que “embora descreva relações
sexuais, mesmo que desagradáveis, a literatura séria deve ter a permissão de
expressá-las”.

1937
Jorge Amado na fogueira
Em Salvador, Bahia, as autoridades do Estado Novo, ditadura comandada por Getúlio
Vargas, queimam em uma fogueira 1,8 mil livros supostamente simpatizantes do
comunismo. A maioria era assinada por Jorge Amado, incluindo 808 exemplares de
seu recém-lançado Capitães da areia.

1953
Fahrenheit 451
Publicado em outubro de 1953, no auge da campanha de caça aos comunistas liderada
pelo senador Joseph McCarthy, o romance de Ray Bradbury
(https://www.quatrocincoum.com.br/br/resenhas/l/um-panorama-de-nossos-medos)
é um retrato distópico da sociedade norte-americana, no qual o pensamento crítico é
reprimido e os livros são proibidos e queimados. O título é uma referência à
temperatura de combustão do papel — 451º Fahrenheit (ou 233º Celsius) — e inspirou
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o nome da revista dos livros


(https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/cinema/o-brilho-incendiario-dos-
livros).

Leia também: O brilho incendiário dos livros


(https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/cinema/o-brilho-incendiario-dos-livros)

1968
Ditadura militar
É instaurado no Brasil o AI-5. Durante a vigência do Ato Institucional, são censurados
no país cerca de quinhentos filmes, 450 peças de teatro, duzentos livros, cem revistas
e quinhentas letras de música.

No ano da criação do Ato, uma bomba explode contra o portão da editora Civilização
Brasileira, no Rio de Janeiro. Os autores do atentado são simpatizantes da Aliança
Anticomunista Brasileira, segundo panfletos encontrados no local. A editora teve
dezenas de livros apreendidos pela polícia do Rio de Janeiro.

1970-76
Censura no Brasil
1970 É aprovado o decreto-lei que permite a censura prévia no país.
1972 O jornal O Estado de S. Paulo passa a ser censurado previamente por uma equipe
instalada na redação.
1974 Rasga coração, última peça escrita por Oduvaldo Vianna Filho, é censurada.
1976 O romance Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, considerado “atentatório à moral
e aos bons costumes”, é proibido de circular no Brasil. O jornal Opinião, que teve 221
dos seus 230 números feitos sob censura prévia, sofre um atentado a bomba.

1982
Resistência às proibições
A Semana dos Livros Proibidos é criada nos Estados Unidos. O evento surge como
reação a um aumento repentino de ameaças à liberdade de expressão em escolas,
livrarias e bibliotecas. Durante a Semana, até hoje realizada no mês de setembro, o
Departamento de Liberdade Intelectual da Associação Americana de Bibliotecas
apresenta listas de livros ameaçados compiladas a partir de reportagens e de
denúncias de professores e bibliotecários de todas as regiões do país.

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1986
Um Nobel em chamas
Durante a ditadura de Pinochet, no Chile, 15 mil exemplares do livro A aventura de
Miguel Littín clandestino no Chile, de Gabriel García Márquez, são queimados após
serem confiscados no porto de Valparaíso. Os livros apreendidos deveriam ser
entregues à editora chilena que publicava as obras de García Márquez, vencedor do
Nobel de Literatura em 1982. A reportagem literária conta as complicações do
cineasta Miguel Littín, que estava exilado desde o golpe de 1973.

1988-93
Versos satânicos (https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/politica/nada-sera-
sagrado)
1988 O romance de Salman Rushdie é publicado.
1989 O aiatolá Ruhollah Khomeini emite um edito religioso recompensando quem
matasse o escritor e seus editores por cometerem blasfêmia. Rushdie sofre tentativa
de homicídio em Londres.
1991 O tradutor italiano de Versos satânicos, Ettore Capriolo, é atacado em sua casa em
Milão. O tradutor japonês Hitoshi Igarashi é esfaqueado e morto na Universidade de
Tsukuba, onde lecionava.
1993 O editor norueguês William Nygaard é baleado ao sair de sua casa, em Oslo.

2019
Beijo gay na Bienal
Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, então prefeito da cidade,
manda fiscais da prefeitura recolherem a HQ Vingadores: a cruzada das crianças, que
traz na capa dois homens se beijando. O prefeito anuncia que censuraria o livro, mas
o STF derruba a medida que autorizava a prefeitura carioca a censurar obras no
evento.

Leia também: A censura na Bienal do Rio e nos tempos da ditadura


(https://www.quatrocincoum.com.br/br/colunas/c/livros-contra-o-autoritarismo)

2021
Estados censores
Autoridades de 26 estados norte-americanos lançam ações para banir livros em
escolas e bibliotecas públicas. Desde então, cerca de 1.650 títulos foram censurados.
De acordo com a ong de defesa à liberdade de expressão Pen America, proibições

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atingem principalmente livros que abordam identidade racial e de gênero,


sexualidade, temática lgbtqia+, justiça social, racismo, violência e suicídio. Defensores
dos vetos alegam que os banimentos protegem as crianças.

2022
Ano desafiador
Meio sol amarelo, de Chimamanda Ngozi Adichie, é banido de salas de aula em
Hudsonville, Michigan. A HQ Maus, de Art Spiegelman, sofre proibições
(https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/direitos-humanos/silenciar-nao-faz-
sumir) no Tennessee. Gender Queer, graphic novel de Maia Kobabe
(https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/literatura-infantojuvenil/questao-de-
genero) em que ela conta se descobrir não binárie e não bissexual, torna-se o livro
mais banido dos Estados Unidos. Em agosto, Salman Rushdie é esfaqueado no palco
de um festival literário em Chautauqua, Nova York, prestes a falar, justamente, sobre
liberdade de expressão.

Leia também: Chimamanda Ngozi Adichie sobre liberdade de expressão


(https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/politica/sobre-liberdade-de-expressao)

Veja todo o conteúdo da edição #67 (br/current_new/67)

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