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Introdução ao Direito Civil e Teoria Geral
do Direito Civil – A Personalidade Jurídica
e as Pessoas (Parte 01)
Disciplina: Introdução ao Direito Civil e Teoria Geral do Direito Civil – A Personalidade
Jurídica e as Pessoas (Parte 01)
Autoria: Fernanda Carvalho Leão Barretto
Estudo de Caso
1. Caso
Jonito compareceu ao seu escritório de advocacia e, na primeira reunião presencial entre
vocês, lhe relatou a seguinte situação: em 2013, Jonito, recém-saído de uma empresa
privada onde trabalhou por 05 anos, contraiu um empréstimo junto a seu amigo, Carbônico,
no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), para conseguir estruturar seu novo negócio,
um restaurante. Ocorre que o negócio deu errado, e Jonito não conseguiu saldar sua dívida
com Carbônico. Carbônico, então, entrou com um processo de cobrança contra ele, e
agora, no processo de execução, ele soube que o credor requereu a penhora do
apartamento de 2 quartos em que residem há 06 anos sua ex-esposa Clarinda, com quem
foi casado por 10 anos, e as 3 filhas do ex-casal, de 07, 05 e 03 anos. Jonito informou, ainda,
que vive em outro imóvel, um quarto e sala, também de propriedade dele, com sua nova
companheira, Marita, que está gravida de 05 meses do primeiro filho do casal. Ademais,
Jonito lhe relatou que ambos os imóveis são guarnecidos por bens móveis básicos, como
mobília, geladeira e televisão, e por uma coleção de obras de quadros de pintores
brasileiros famosos, como Candido Portinari e Di Cavalcanti, herança de seu pai. Por fim,
desejando aproveitar o ensejo da consulta com você, Jonito lhe relatou outra situação:
durante 4 anos, Anacleide trabalhou como empregada doméstica para ele e sua ex-
companheira Clarinda, no apartamento no qual ela reside com suas três filhas. Ocorre que
Anacleide foi despedida por ele, ano retrasado, e ingressou com uma ação para ver
adimplidos direitos trabalhistas, como férias e horas extras não pagas, que também já está
em fase de execução.
3.Objetivos
Gerais
• Desenvolver o autoaprendizado, bem como o senso crítico.
Específicos
• Compreender a conexão do tema com outros ramos do Direito na prática, a exemplo
do Direito de Família.
4. Atividades
Considerando as informações contidas no enunciado, o Desafio Profissional deverá ser
desenvolvido com a devida análise dos fatos narrados e a elaboração das peças processuais
cabíveis.
MADALENO, Rolf. Direito de família / Rolf Madaleno. 7.ª ed. rev., atual. e ampl. Rio
de Janeiro: Forense, 2017.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10ª ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
DIAS, Maria Berenice. Alimentos aos bocados. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013.
TARTUCE, Fernanda. Processo civil no direito de família: Teoria e Prática. 2ª ed. rev.,
atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.
ARAUJO JÚNIOR, Gediel Claudino de. Prática no direito de família / Gediel Claudino
de Araujo Júnior. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.
5. Resolução
Diante do caso em questão, você deve elaborar dois Embargos à Execução – um
direcionado ao Juízo Cível, outro ao Juízo Trabalhista – haja vista que há dois processos em
curso, nos termos do art. 914 e seguintes do Código de Processo Civil.
Pelo que se deduz da jurisprudência mais atual acerca do bem de família, tem-se
que os dois imóveis devem ser considerados como impenhoráveis, tendo em vista
que em um deles habitam a ex-esposa do devedor e parte de sua prole e, no
outro, residem ele próprio e sua atual companheira, gravida do filho do casal.
Assim, embora a Lei 8009/90, que rege o bem de família legal, determine que: “Art.
5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se
residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para
moradia permanente” (grifou-se), sabe-se, conforme explanado no texto que
acompanha a aula, que o Superior Tribunal de Justiça tem ampliado a extensão da
proteção do bem de família, que já foi reconhecido, inclusive, em favor da pessoa
solteira, conforme entendimento exarado na súmula 364 STJ. Em 2014, o relator do
ERSP nº 1.216.187-SC, o Min. Arnaldo Esteves Lima, vaticinou que "deve ser dada a
maior amplitude possível à proteção consignada na lei que dispõe sobre o bem de
família (Lei nº 8.009/1990), que decorre do direito constitucional à moradia
estabelecido no caput do art. 6º da CF, para concluir que a ocupação do imóvel por
qualquer integrante da entidade familiar não descaracteriza a natureza jurídica do
bem de família(...) “basta uma pessoa da família do devedor residir para obstar a
constrição judicial” (grifou-se).
Sobre esse ponto, embora o direito civil, no art. 2 do CC, estabeleça que o nascituro
só tem personalidade jurídica se nascer com vida, parte significativa da doutrina
entende de forma distinta, atribuindo a ele personalidade jurídica desde a
concepção, conforme se vê no texto que acompanha a aula e que dispõe sobre as
divergências entre as teorias explicativas da personalidade jurídica do nascituro.
Ademais independentemente da controvérsia doutrinaria, a lei e jurisprudência,
com base na segunda parte do mesmo art. 2 do CC, reconhecem ampla proteção ao
nascituro, atribuindo-lhe direitos como alimentos (lei 11.804/08), herança (CC,
art.1.798, doação(CC, art. 542) e seguro DPVAT em caso de perda do feto por
acidente automobilístico (STJ. 4ª Turma. Resp 1.415.727-SC, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 4/9/2014 (Info 547)), dentre outros. Assim, embora não se
tenha conhecimento de decisão judicial relacionando o nascituro ao bem de família,
seguindo a linha do exposto no item A) e tomando por base a ampla gama de
direitos que o nascituro vem titularizando, ele deve ser reconhecido como membro
da família do devedor e destinatário da proteção do bem de família.
Conforme o disposto no texto que acompanha essa aula, você deve esclarecer que a
LC 150/2015, em seu art. 46 das “Disposições Gerais”, revogou expressamente o
inciso I, do art. 3º, da lei 8.009/90, conhecida como “Lei do Bem de Família (Legal)”,
tornando o imóvel habitado pelo devedor, ou por sua família, absolutamente
impenhorável por dívidas oriundas de créditos de trabalhadores da própria
residência e das respectivas contribuições previdenciárias. Nesse caso, ainda que a
ex-funcionária vença a demanda trabalhista contra ele, os imóveis (e os móveis que
guarnecem a residência do seu cliente) que forem considerados bem de família não
poderão ser penhorados para a satisfação dessa dívida.