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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO

CURSO DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS COM HABILITAÇÃO EM


HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO

Anastáncia António Morreira


Augusta Celestino Brage
Faúzia Rafique Mussa Omar
Joaquim Paulo Manuel
Júlia Albino Mbulo
Neima das Dores Feliciano M. Nhamiri
Neyde Matias Daniel Semente
Osvalda António Sevene
Paulo Zacarias José

Perspectiva Desenvolvimental, Ecológica, e


Construtivista do Desenvolvimento Vocacional

BEIRA
OUTUBRO, 2023
1

Anastáncia António Morreira


Augusta Celestino Brage
Faúzia Rafique Mussa Omar
Joaquim Paulo Manuel
Júlia Albino Mbulo
Neima das Dores Feliciano M. Nhamiri
Neyde Matias Daniel Semente
Osvalda António Sevene
Paulo Zacarias José

Perspectiva Desenvolvimental, Ecológica, e


Construtivista do Desenvolvimento Vocacional

Trabalho de pesquisa a ser apresentado ao


departamento de Economia e Gestão,
delegação da Beira, curso de Gestão de
Recursos Humanos com habilitação em
Higiene e Segurança No Trabalho para
avaliação na disciplina de Orientação
Vocacional e Profissional.

Docente: Dra. Odília Vilanculo Mussuei

BEIRA
OUTUBRO, 2023
2

ÍNDICE
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO.................................................................................................. 3

1.1 Introdução .................................................................................................................... 3

1.2 Objectivos .................................................................................................................... 3

1.2.1 Objectivo Geral..................................................................................................... 3

1.2.2 Objectivos Específicos ......................................................................................... 3

1.3 Métodos de procedimento ............................................................................................ 4

CAPITULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 5

2.1 Conceitos Básicos ........................................................................................................ 5

2.1.1 Orientação Vocacional ......................................................................................... 5

2.1.2 Perspectiva Desenvolvimentista do Desenvolvimento Vocacional...................... 5

2.1.3 Perspectiva Ecológica do Desenvolvimento Vocacional ..................................... 5

2.1.4 Perspectiva construtivista do Desenvolvimento Vocacional ................................ 6

2.2 Perspectiva Desenvolvimentista do Desenvolvimento Vocacional ............................. 6

2.2.1 Estágios/Ciclo de Vida do Desenvolvimento Vocacional .................................... 6

2.3 Perspectiva Ecológica do Desenvolvimento Vocacional............................................. 8

2.3.1 O sujeito na Perspectiva Ecológica ...................................................................... 8

2.4 Perspectiva Construtivista do Desenvolvimento Vocacional ...................................... 9

2.4.1 O Sujeito na Perspectiva Construtivista ............................................................. 11

2.4.2 Estratégias ........................................................................................................... 11

2.4.3 Projecto de Vida ................................................................................................. 12

2.4.4 Competências ..................................................................................................... 13

CAPÍTULO III: CONCLUSÃO ............................................................................................... 15

3.1.1 Conclusão ........................................................................................................... 15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 16


3

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

1.1 Introdução
O presente trabalho de pesquisa visa abordar acerca da Perspectiva
Desenvolvimental, Ecológica, Construtivista do Desenvolvimento Vocacional com objectivo
de conhecer a sua incidência na vida do individuo. A orientação vocacional é um processo
realizado através de actividades ou testes com o objectivo de identificar aptidões, habilidades
e vocações do individuo, orientando-o para uma vida produtiva no mercado de trabalho. Para
compreender a orientação ou desenvolvimento vocacional é necessário que se busque um
pouco de suas origens históricas, momento em que as escolhas eram feitas para velar o bem
comum, até o surgimento das necessidades. O presente texto desenvolve as bases teóricas
da perspectiva aplicadas à orientação profissional. Esse enfoque visa oferecer
uma análise integrada e contextualizada dos diferentes elementos que intervém no
processo de escolha profissional e da inserção do jovem no mercado de trabalho.

Assim, o desenvolvimento vocacional deve ser visto como um aspecto relacionado


directamente ao desenvolvimento geral do individuo, pois os problemas de escolhas e
ajustamento profissional são no fundo, problemas de ajustamento pessoal.

O presente trabalho baseia-se no método bibliográfico e está estruturado em três


Capítulos, o primeiro da introdução que visa estabelecer as considerações iniciais bem como
os objectivos, o segundo capítulo da fundamentação teórica onde encontra-se o
desenvolvimento do trabalho, ou seja, toda a informação bibliográfica usada para a
prossecução da mesma e, por fim o terceiro capítulo que visa estabelecer as considerações
finais do assunto tratado.

1.2 Objectivos
1.2.1 Objectivo Geral
 Analisar a Perspectiva Desenvolvimental, Ecológica, Construtivista do
Desenvolvimento Vocacional do individuo.

1.2.2 Objectivos Específicos


 Conceitualizar Orientação Vocacional e suas Perspectivas;
 Descrever Estágios/Ciclo de Vida do Desenvolvimento Vocacional;
 Identificar O sujeito nas Perspectiva Em Estudo;
 Estabelecer as Estratégias e Competências das Perspectiva Em Estudo
4

 Explicar a Perspectiva Desenvolvimental, Ecológica, Construtivista do


Desenvolvimento Vocacional do individuo.

1.3 Métodos de procedimento


Para a elaboração deste trabalho usou-se o método bibliográfico que segundo
Fonseca (2002), qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que
permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existe porem pesquisas
científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referencias
teóricas publicadas com o objectivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre
o problema a respeito do qual se a resposta.
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2 CAPITULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceitos Básicos


2.1.1 Orientação Vocacional
Segundo Witorski (1998), o termo “ vocação” deriva do latim “vocatione ou vocare”,
significando acto de chamar (como por exemplo, referindo-se ao chamamento divino,
ressaltando a ideia de ser convocado à existência e cumprir uma missão pessoal nela ou
escolha.
O termo “vocacional”, segundo Almeida, (1999), refere-se ao talento, tendência, jeito
para determinada arte ou actividade.

No entender de (Imaginário, 1998), o termo vocacional refere-se à vertente escolar,


educativa, formativa.

Segundo Freire (1994 citado por Lisboa, 2008), entende-se por orientação vocacional
um campo amplo onde diferentes profissionais actuam no sentido de facilitar o crescimento
das pessoas.

Segundo Lucchiari (1993 citado por José, 2015), orientação vocacional é a facilidade
de escolha ao aluno, auxiliando-o na compreensão da sua situação de vida, inclusive nos
aspectos pessoais, familiares e sociais.

2.1.2 Perspectiva Desenvolvimentista do Desenvolvimento Vocacional


Segundo Primi et al, (2000), é a perspectiva que procura definir os estágios do
desenvolvimento vocacional que antecedem a maturidade vocacional, entendida como a
capacidade que o sujeito desenvolve para resolver tarefas relacionadas à sua carreira
profissional, inclusive na compreensão dos factores que dificultam na escolha de uma
profissão.

2.1.3 Perspectiva Ecológica do Desenvolvimento Vocacional


Segundo Bronfenbrenner (1996) é a perspectiva que considera o ser humano
indissoluvelmente unido a seu meio, como uma unidade em funcionamento, onde
o ambiente é tão activo e tão modificador de possibilidades e de projectos pessoais, como
o sujeito capaz também de modificar seu ambiente.
6

2.1.4 Perspectiva construtivista do Desenvolvimento Vocacional


Segundo Azevedo (1998), é a perspectiva que afirma que o desenvolvimento
vocacional processa-se ao longo da história de vida do indivíduo, através das relações que o
sujeito psicológico estabelece com os segmentos diversificados da realidade, sob forma de
encontros, experiências, contactos, questionamentos e significados, implicando a
desconstrução de projectos anteriores e a reconstrução de novos investimentos.

2.2 Perspectiva Desenvolvimentista do Desenvolvimento Vocacional


De acordo com Primi et al. (2000), a corrente desenvolvimental surgiu em 1952 com
o pioneirismo de Ginzberg e seus colaboradores. Nessa abordagem, procura definir os
estágios do desenvolvimento vocacional que antecedem a maturidade vocacional, entendida
como a capacidade que o sujeito desenvolve para resolver tarefas relacionadas à sua carreira
profissional, inclusive na compreensão dos factores que dificultam na escolha de uma,
salientando que essa escolha vocacional não é um acontecimento específico que ocorre em um
dado momento da vida, mas um processo evolutivo que ocorre ao longo da vida, da infância à
senectude, ao longo de uma curva até ao fim da existência, nestes diferentes estágios, tarefas
ou fases que irão fazer com que o indivíduo realize uma série de compromissos que abordam
as suas necessidades e oportunidades oferecidas a ele pelo ambiente social.

Segundo Oliveira (2006), a ideia central da perspectiva desenvolvimentista,


defendida de modo particular por Super e retomada por Lassance, Paradido e Silva, consiste
na premissa de que o desenvolvimento vocacional ocorre associado ao desenvolvimento
pessoal, se desenrola ao longo de todo o ciclo de vida.

Segundo Gothard (1985), Donald Super foi um dos primeiros teóricos dessa
abordagem e um dos pesquisadores percursores nos estudos do desenvolvimento vocacional.
Ele afirma que o pressuposto subjacente a esta abordagem é que uma maneira de compreender
o que uma pessoa irá fazer no futuro, é entender o que ele fez no passado. Também postula
que para entender o que ele fez no passado, deve-se analisar as sequências de eventos e o
desenvolvimento de características, a fim de verificar os temas recorrentes e as tendências
subjacentes.

2.2.1 Estágios/Ciclo de Vida do Desenvolvimento Vocacional


Segundo Coimbra (1997), o desenvolvimento vocacional se divide através de cinco
estágios ou maxi-ciclos de vida:
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 Crescimento (infância);
 Exploração (adolescência);
 Estabelecimento ou fixação (idade adulta);
 Permanência ou manutenção (maturidade);
 Declínio (velhice).

Para ele, esse processo ocorre através de cinco etapas que facilitam o
desenvolvimento de atitudes e comportamentos específicos:

 Cristalização: formulação de ideias e implementação das preferências ocupacionais;


 Especificação: tomada de uma decisão específica;
 Implementação: início da vida profissional;
 Estabilização: se estabelecer na área ocupacional escolhida;
 Consolidação: Firmação da experiência profissional.

Segundo Kidd (2006), numa formulação mais recente, incorporou quatro etapas e,
dentro de uma, várias subfases que seguem uma ordem estabelecida. Estas etapas
desenvolvimentais seriam exploração, cristalização, especificação e realização. Vale salientar
que cada subfase compreende objectivos que o indivíduo deve alcançar e exigindo certas
habilidades intelectuais e atitudes cognitivas. São elas:

 A tarefa de exploração é caracterizada pela actividade exploratória e pela definição de


autoconceitos vocacionais;
 A tarefa de cristalização corresponde ao processo de ordenar, organizar a informação
obtida por si mesmo e sobre o campo profissional, excluir certas opções, afunilar o
campo das preferências, resultando em uma preferência profissional provisória;
 A tarefa de especificação leva o indivíduo a redimensionar sua preferência provisória
em fixa;
 A tarefa de realização permite que o indivíduo materialize o projecto profissional
escolhido, iniciando os estudos na área ou buscando emprego na ocupação escolhida
por ele.

Já, segundo Gothard (1985), a realização dessas etapas e o cumprimento delas irão
permitir que a pessoa avance em seu processo de amadurecimento vocacional gerando, desta
maneira, um desenvolvimento das habilidades intelectuais e atitudes cognitivas requeridas.
Em todas as fases, o cliente está envolvido activamente no processo de avaliação e o objectivo
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é uma solução cooperativa e realista. Esse modelo de activação do desenvolvimento


vocacional irá fornecer actividades e experiências para o desenvolvimento de cada subfase, as
quais irão agregar conhecimento ao longo da vida académica do indivíduo. A base central
dessa abordagem é a fase de vida profissional do indivíduo, por isso, vai determinar o tipo de
abordagem a ser adoptada pelo orientador profissional. Assim, com jovens em
desenvolvimento de carreira, o profissional estará menos preocupado com a escolha, mas
preocupado com o desenvolvimento da sua “prontidão com a escolha”. Enfim, a teoria e a
investigação de Super contribuíram com novos conceitos à literatura profissional, relacionada
com as investigações de carreira, incluindo termos como maturidade e adaptação na carreira,
que definem as tarefas, as variáveis afectivas e cognitivas, relacionadas com a preparação dos
indivíduos para a exploração e escolha na adolescência e, com a planificação e adaptação à
mudanças na vida adulta. A teoria do desenvolvimento é vista como o sistema mais completo
e coerente em ajudar os clientes com problemas em escolha de carreira.

2.3 Perspectiva Ecológica do Desenvolvimento Vocacional


Segundo Coimbra (1997), a teoria ecológica nasce dos estudos da Biologia e se
expande na antropologia e sociologia. Na área da Psicologia e da Educação foi Kurt Lewin,
fundador da teoria topológica, ou de campo, o pioneiro em transpor os pressupostos
biológicos, na explicação do comportamento humano, definindo o mesmo como produto da
interacção de forças ou valências entre o sujeito e o ambiente. Seus pressupostos serviram de
base para estudos actuais com este enfoque, entre eles pode-se citar:
a Ecologia do Desenvolvimento Humano, a Ecologia Social, a Psicologia Ambiental, e o
Enfoque ecológico contextual da Psicologia Comunitária. Essas teorias de bases ontológicas,
epistemológicas e metodológicas afins, conformam o chamado Paradigma Ecológico das
Ciências Sociais.

2.3.1 O sujeito na Perspectiva Ecológica


Segundo Bronfenbrenner (1996), o ser humano, na perspectiva ecológica, é
considerado indissoluvelmente unido a seu meio, como uma „unidade em funcionamento.
O ambiente é tão activo e tão modificador de possibilidades e de projectos pessoais, como
o sujeito capaz também de modificar seu ambiente. A leitura separada de sujeito e meio,
fragmenta a realidade, descontextualiza o indivíduo do ambiente, e poderá levar a
uma visão parcial do fenómeno em estudo.
O autor afirma de forma radical que o sujeito não escolhe a profissão,
ele que é escolhido pela sociedade. Essa posição parte do determinismo social, em posição
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oposta ao determinismo individual, essas posições extremas revelam partes importantes,


mais parciais da realidade em estudo.
Ainda segundo este autor, o planeamento da carreira se faz imprescindível,
a prospectiva das dificuldades e das solicitações do mercado de trabalho também
é necessária, além do estudo das motivações e expectativas do sujeito. Se olharem os
outros países, a orientação profissional é focalizada visando sobretudo para que os
jovem possam conseguir emprego, dedicando-se à implementação de programas de inserção
dos jovens no trabalho. É aquilo que o autor lembra aos orientadores para cuidar de não
estar alimentando uma ilusão nos jovens, por estarmos diante de uma sociedade diferente,
onde vez mais os empregos são inexistentes, as profissões mudam e o mundo do trabalho
terá uma configuração diferente da actual. Passamos a desenvolver alguns conhecimentos
básicos da teoria ecológica, sua estrutura e seus princípios, ajudando a estabelecer um
marco teórico explicativo válido que atinja os objectivos que toda orientação profissional
se propõe.
2.4 Perspectiva Construtivista do Desenvolvimento Vocacional
Segundo Coimbra (1997), apesar dos contributos que as várias perspectivas
apresentadas proporcionaram à investigação para a compreensão e transformação da realidade
vocacional, a perspectiva histórica construtivista, ao considerar que os projectos vocacionais
não se descobrem mas se constroem nos contornos das oportunidades que os contextos
histórico-sociais viabilizam ou impossibilitam, pode surgir como uma proposta integradora,
capaz de avançar respostas plausíveis deixadas em aberto pelo projecto global da
modernidade, que sublinhava as dimensões da racionalidade em detrimento das dimensões
mais emocionais e experienciais.

Para este autor, dentro do quadro geral histórico/construtivista, o desenvolvimento


vocacional processa-se ao longo da história de vida do indivíduo, através das relações que o
sujeito psicológico estabelece com os segmentos diversificados da realidade, sob forma de
encontros, experiências, contactos, questionamentos e significados, implicando a
desconstrução de projectos anteriores e a reconstrução de novos investimentos. Esta
actividade desconstrutiva/reconstrutiva aponta para uma reconceptualização do
desenvolvimento vocacional como uma narrativa que se vai escrevendo e reescrevendo no
itinerário histórico social do indivíduo, nas coordenadas de “pequenos” projectos viáveis, e
não como um projecto único e certo da tradicional visão linear do desenvolvimento
vocacional, com as crenças a ela associadas e que já foram anunciadas anteriormente:
inatismo, descoberta, previsão (certeza) e racionalidade.
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Coimbra (1997), afirma que esta reconceptualização do desenvolvimento vocacional


vincula-nos a um ponto de vista desenvolvimental e construtivista do funcionamento
psicológico vocacional, porque estes processos nos remetem para novos pontos de partida e
para sucessivas reconstruções da relação do sujeito com o mundo, implicando reorganizações
do sistema pessoal. Assim, a exploração e o investimento, neste ponto de vista, surgem como
os dois processos psicológicos fundamentais que nos ajudarão a compreender de forma mais
adequada o desenvolvimento vocacional, porque é mediante a exploração, através da relação
que o sujeito estabelece com os segmentos da realidade física e social pela procura,
questionamento e experienciação, que o sujeito transforma e reconstrói os seus investimentos
vocacionais. Esta forma possível de compreensão do desenvolvimento vocacional, não única e
consensual porque coexiste, em pé de igualdade com as anteriores enunciadas, nas práticas
correntes de orientação no nosso País e no espaço Europeu, parece-nos ser a mais adequada.
Por isso a assumimos, pelas seguintes razões:

a) É a que está mais de acordo com a lógica do funcionamento psicológico, porque


considera que a emoção, a cognição e a acção são elementos do mesmo continuum e
que as clivagens entre eles são artificiais, isto é, racionais e não psicológicas; ou seja,
significa que o conhecimento e a cognição podem ser percebidos, em termos mais
latos, como a integração da emoção e da acção;

b) A raiz psicológica desta perspectiva permite uma leitura integradora das várias
dimensões do funcionamento psicológico que intervêm no processo das escolhas, ou
seja, a relação que o sujeito estabelece com o mundo é, simultaneamente, afectiva,
cognitiva e indissociável da acção;

c) É a perspectiva que melhor nos pode facilitar a ultrapassagem da ideia de um único e


grande projecto de vida que tem subjacentes visões lineares, unidireccionais e
ascendentes das trajectórias vocacionais, inadequadas à complexidade do
funcionamento individual e social;

d) Propõe-nos, em alternativa, uma concepção do desenvolvimento vocacional,


multidimensional, recorrente, eventualmente cíclico, a nível processual, compatível
com a noção de incerteza, na abertura a múltiplas possibilidades, implicando uma
atitude dinâmica de questionamento e de exploração, no seio da qual vão emergindo
pequenos projectos que se vão reformulando, conduzindo sucessivamente a outros,
num processo constante de construção pessoal.
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Para Coimbra (1997), esta abordagem histórica e construtivista do desenvolvimento


vocacional remete-nos para um conceito estrutural e abrangente de competência geral em que
o “saber-fazer” está alicerçado numa auto-organização proactiva complexa a totalidade do
sistema pessoal do sujeito que, face aos desafios dos contextos sociais de vida se vai
transformando, ao longo do desenvolvimento, com um sentido de competência pessoal e
social (“saber-transformar-se”) actualizando, num processo de desconstrução/reconstrução, os
recursos pessoais e sociais. Sublinha-se, claramente, as competências transversais que são
transferidas para novos contextos e novas tarefas, verificando-se uma generalização das
competências específicas adquiridas, não numa lógica de acrescentar mas de transformação.
Isto é, pretende-se que os vários saberes sejam construídos e integrados, surgindo como uma
síntese e não como uma justaposição, como uma reconstrução processual e não como uma
simples adição de skills discretos. Assim, visam-se objectivos mais alargados de tornar o
sujeito competente, privilegiando-se a competência geral como suporte e núcleo das
específicas, valorizando-se, para além do “saber-fazer”, “saber-ser” e “saber-transformar-se”.

2.4.1 O Sujeito na Perspectiva Construtivista


Para Coimbra (1997), dentro do quadro geral histórico/construtivista, o
desenvolvimento vocacional processa-se ao longo da história de vida do indivíduo, através
das relações que o sujeito psicológico estabelece com os segmentos diversificados da
realidade, sob forma de encontros, experiências, contactos, questionamentos e significados,
implicando a desconstrução de projectos anteriores e a reconstrução de novos investimentos.
Esta actividade desconstrutiva/reconstrutiva aponta para uma reconceptualização do
desenvolvimento vocacional como uma narrativa que se vai escrevendo e reescrevendo no
itinerário histórico social do indivíduo, nas coordenadas de “pequenos” projectos viáveis, e
não como um projecto único e certo da tradicional visão linear do desenvolvimento
vocacional, com as crenças a ela associadas e que já foram anunciadas anteriormente:
inatismo, descoberta, previsão (certeza) e racionalidade.

2.4.2 Estratégias
Segundo Coimbra (1997), fazendo uma breve alusão às estratégias mais adequadas
para a promoção da competência global, no âmbito da perspectiva histórica e construtivista,
sublinha-se a realização de experiências reais (role-taking) exploração da relação com o
mundo do trabalho, em que as dimensões relacionais e humanas se sobrepõem às tecnológicas
e instrumentais, em que momentos de acção/diferenciação são alternados com momentos de
reflexão/integração no contexto de uma relação segura, apoiante, mas também desafiante.
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Para este autor, as estratégias de intervenção em orientação emergentes desta


conceptualização remetem-nos preferencialmente para actividades de exploração que
facilitem experiências de contacto/relação com o mundo da formação, do trabalho e da
realidade social proporcionadas nos contextos de vida como a família, escola, grupo de pares,
tempos livres, nos media e na comunidade. Estas actividades de exploração podem ser
realizadas, inclusive, recorrendo a meios mais clássicos tais como inventários de interesses
profissionais, documentos escritos sobre formação e trabalho ou em outros suportes
multimédios e informáticos refere-se à exploração indirecta (representação simbólica da
realidade) utilizados, embora de modo diverso nas práticas que decorrem das outras formas de
conceptualização do problema mencionadas anteriormente; contudo, os objectivos e forma de
utilização não visam desocultar mediante a manutenção e cristalização das características
inatas ao sujeito nem instruir pelo combate da ignorância através da informação, mas visam a
transformação, mediante o questionamento, o conflito pela construção de novos significados
que o sujeito vai construindo e reorganizando, de forma idiossincrática, sobre o mundo do
trabalho e da formação. De salientar que é na rede de relações interpessoais envolvidas nas
experiências indirectas e, sobretudo, directas de exploração, e no contexto de relações
experienciadas como apoiantes e seguras, que as significações são construídas e o
desenvolvimento vocacional ocorre.

2.4.3 Projecto de Vida


Segundo Coimbra (1997), a relação constitui-se como a base segura a partir da qual
os sujeitos exploram a sua relação com o mundo, constroem significados para os seus
projectos de vida e levam a cabo um processo de construção pessoal, tornando-se competente
face aos constrangimentos da existência humana; ou seja, é num contexto de vinculação
percebido como seguro que o sujeito encontra as condições favoráveis para a expressão de
sentimentos, exploração e integração das suas experiências e o suporte necessário para o risco
envolvido na experimentação de novas alternativas de pensar, sentir e agir sobre a realidade.
Para este autor, o termino este contributo de reflexão assumindo que a opção teórica
e metodológica histórica e construtivista de compreensão do desenvolvimento vocacional
parece ser a mais útil e adequada à promoção das competências nucleares exigidas para
responder aos fenómenos emergentes de um mundo global, em que a incerteza, a
imprevisibilidade e o caos se constituem como as marcas identitárias que configuram as
sociedades ditas desenvolvidas e onde os critérios de verdade e validade do projecto da
modernidade entraram em falência, para dar passagem inevitável à lógica das possibilidades e
da viabilidade.
13

No entanto, Para Coimbra (1997), face ao cenário da instabilidade e da escassez face


ao trabalho e ao emprego, devido, entre outras causas, às transformações tecnológicas,
implicando uma reorganização do tecido empresarial e à globalização e interdependência das
economias, gerando despedimentos em crescendo, uma das questões centrais da actualidade,
nos sectores mais emergentes da economia, é identificar o núcleo duro de novas competências
de que o jovem deve ser portador quando entra no mercado do trabalho. Provavelmente,
movidos por esta preocupação, também nós académicos, formadores, empregadores,
instituições governamentais e não governamentais preocupados na resolução dos problemas
da formação/ trabalho/emprego, parceiros sociais (sindicatos...) e profissionais de orientação
escolar e profissional, nos reunimos para reflectir sobre a conceptualização e as estratégias
mais adequadas para a construção de competências pessoais e profissionais para o
trabalho (objecto deste II Encontro Internacional de Formação Norte de Portugal/Galiza).
Embora o leque de competências específicas valorizadas pelos empregadores seja alargado
(por ex., domínio da leitura, escrita, cálculo actualizado; capacidade de iniciativa e
criatividade; autonomia no trabalho e trabalhar em equipa; capacidade de aprender sempre,
sendo capaz de resolver novos problemas; saber definir um projecto e avaliar os resultados;
capacidade de recolher, tratar e utilizar informação pertinente; saber ouvir e integrar pontos de
vista; ter uma forte cultura organizacional; possuir auto-estima, motivação e vontade de
prosseguir o desenvolvimento pessoal e social; capacidade de empreendimento), as mais
valorizadas são as de tipo geral e transversais, o que a OCDE denomina por “competências
gerais e transferíveis”, pois são estas que garantem a estrutura das competências específicas.

2.4.4 Competências
Segundo Coimbra (1997), a promoção destas competências Gerais e transferíveis que
tornam o sujeito competente emergem das relações significativas que os sujeitos estabelecem
com os contextos de vida ao longo do desenvolvimento, havendo contextos que proporcionam
e viabilizam essas possibilidades e outros que os inviabilizam, reproduzindo a cultura
dominante do ghetto e perpetuando as desigualdades de oportunidades. Ora, a escola é um dos
contextos onde o sujeito passa longo tempo da sua vida, o que não significa, à partida, que
seja um contexto desafiante e de qualidade que promova o desenvolvimento do sujeito
competente para os confrontos da sua existência, nomeadamente quando faz apelo, nos seus
processos de aprendizagem, à repetição, ao enciclopedismo liceal, à recepção passiva dos
saberes, ao conformismo, à competição desenfreada dos resultados acentuando as
desigualdades de oportunidades. Só um projecto formativo que valorize a participação activa
dos formandos, orientada para a criatividade, para a cooperação solidária, para a
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experimentação na abertura ao espírito de pesquisa e às novas tecnologias, para o


desenvolvimento de projectos e actividades participadas na abertura à comunidade poderá
oferecer oportunidades de aprendizagem de saberes que sejam significativos e estruturadores
que promovam competências gerais e transferíveis. Estas são as competências menos
efémeras e mais adequadas a um contexto social e político cada vez mais turbulento que faz
exigências a vários processos de reactualização e de reinvenção. Os mais equipados são os
que garantirão o seu emprego, porque são competentes para o recriar e o transformar.
15

3 CAPÍTULO III: CONCLUSÃO

3.1.1 Conclusão
Da abordagem teórica e metodológica conclui-se que o desenvolvimento vocacional
não é um momento estático, é um processo que decorre desde que o individuo ou criança
começa a dar os primeiros passos de aprendizagem, é uma atitude que inclui um processo
contínuo de mudança da personalidade e a falta de decisão vocacional tem influenciado as
escolhas dos cursos dos adolescentes na saída de um ciclo para o outro e a orientação
vocacional constitui uma oportunidade de autoconhecimento, de alinhamento entre
habilidades, características pessoais e profissão, do sentido significativo do trabalho e da
relação trabalho e projecto de vida do indivíduo. Contudo, o desenvolvimento da orientação
vocacional só pode ser alcançado mediante um tratamento científico dirigido aos aspectos
teóricos, práticos e metodológicos que caracterizam este processo. Este desenvolvimento deve
ter em conta o seu carácter complexo e contínuo que inicia desde a infância e se intensifica
nos momentos cruciais em que o indivíduo tem que decidir o seu futuro profissional.

Portanto, ocorre com frequência nos adolescentes e jovens que quando chegam ao
momento de decidir o caminho a seguir na vida enfrentam diferentes contradições, entre o que
fazer, como fazer, o que ser, quer dizer, não sabem que caminho profissional escolher. Isto
pode estar condicionado, em grande medida, pela ineficiente orientação vocacional que vão
recebendo durante os anos dos seus estudos e nestes casos, a responsabilidade de orientar
adequadamente ou reorientar a imagem do futuro que o adolescente o jovem deve ter, está a
cargo dos factores educativos como a família, a escola, as organizações sociais e
governamentais, cujo trabalho deve dirigir-se a informar, desenvolver e transformar o estudo
das qualidades e formações psicológicas com Objectivos de propiciar a tomada de decisões,
expressada numa autodeterminação da esfera profissional
16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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Ensino Superior. Relatório de Investigação. Braga: Universidade de Minho, Centro de
Estudo em Educação e Psicologia;

2. Azevedo, J. (1998). Voos de borboleta: Escola, trabalho e profissão. Porto: Asa;

3. Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano. Porto Alegre,


Artes Médicas;

4. Coimbra, J. L. (1997). Estratégias cognitivo-desenvolvimentais em consulta


psicológica interpessoal. Prova complementar das provas de doutoramento. Porto:
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação;

5. Fonseca, J. J. S. (2002). Metodologia de pesquisa científica. Fortaleza: UEC, Apostila;

6. Gothard, W. (1985). Guia Vocacional: teoria e prática. New York: Croom Helm;

7. Imaginário, L. (1998). Adaptação/reinserção profissional dos adultos pouco


escolarizados. Lisboa: Observatório do Emprego e Formação Profissional;

8. José, A. M. (2015). Diagnóstico de Orientação Vocacional dos Alunos: (Tese de


Licenciatura). Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla. Lubango;

9. Kidd, J. (2006). Understanding Career Counselling: Theory, research and practice.


London: Sage Publications Ltd;

10. Lisboa, M. D. (2008). Orientação Vocacional/ocupacional Projeto Profissional e


compromisso com o eixo Social. Rio de Janeiro;

11. Oliveira, M. C. (2006). Modelo Desenvolvimentísta de avaliação e orientação de


carreira proposto por Donald Super. Revista Brasileira de Orientação
Profissional,v,7.n.2,2006. Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S1679- 33902006000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Acesso em
25 Outubro. 2023., p.11- 18;

12. Primi, R., Munhoz, A. M., Bighetti, C., Di Nucci, L., Pellegrini, M., & Moggi, M.
(2000). Desenvolvimento de um Inventário de Levantamento das Dificuldade da
Decisão Profissional. Psicologia, Reflexão e Crítica, 13(3), 451-463;

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