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Universidade do Estado do Pará – UEPA

Curso de Educação Física

Disciplina: Treinamento esportivo e escola

Treinamento esportivo e a saúde na idade


escolar

Prof. Dr. Rodrigo Batalha Silva


Santarém, 01 de novembro de 2023
Treinamento esportivo e a saúde na idade escolar
Nessa aula vamos falar sobre o treinamento esportivo e suas implicações para a saúde
de adolescentes. Os anos em torno da puberdade são os mais críticos do ponto de
vista da saúde pública. O exercício e a boa nutrição nessa idade são tão importantes
quanto aos 50 anos de idade, quando a perda óssea relacionada à idade torna-se mais
aparente. Os ganhos de massa óssea nos três anos em torno da puberdade podem
chegar a 30% da massa óssea máxima final. Aumentos adicionais de densidade
mineral óssea ocorrem até pelo menos os 25 anos. O maior impacto do exercício sobre
a densidade mineral óssea e a geometria óssea ideal ocorre durante esses anos de
rápido crescimento.
Treinamento esportivo e a saúde na idade escolar
No entanto, você já deve ter percebido que tem crescido cada vez mais o número de
adolescentes e jovens com comportamento sedentário no Brasil e no mundo, assim
como é possível observar o aumento na quantidade de indivíduos nessa faixa etária
obesos e com risco de obesidade. A atividade física/exercício físico é uma importante
ferramenta no combate aos malefícios deste estilo de vida prejudicial nesta população.
Com os avanços tecnológicos, meios de transportes, diminuição das áreas de lazer
urbanas, aumento da criminalidade e padrões de moradia da sociedade moderna (por
exemplo, a vida em condomínios fechados) torna-se cada vez mais necessária a busca
de estratégias para fazer com que os adolescentes se tornam mais ativos fisicamente,
visto que, os benefícios perdurarão para a vida adulta. Nesse contexto, os esportes
coletivos são importantes ferramentas para a motivação destes indivíduos quanto a
prática de exercícios, considerando o contexto da socialização.
Preocupações em relação à saúde na adolescência
As recomendações atuais de atividade física para crianças e adolescentes são de 300
minutos semanais e/ou 60 minutos diários de atividade de intensidade moderada a
vigorosa. A maioria destas atividades deve ser de caráter aeróbio e intensidades
vigorosas devem ser incorporadas, incluindo aquelas que fortaleçam a musculatura e a
estrutura óssea, ao menos três vezes por semana (WHO, 2020).
Preocupações em relação à saúde na adolescência
Por outro lado, os níveis de sedentarismo têm aumentado nessa faixa etária com boa
parte da população mundial não atingindo os níveis de recomendação diária, por
exemplo, o que foi demonstrado por Hallal et al. (2012) que mais de 80% dos
adolescentes em 55 países diferentes não atingem os 60 minutos diários. Esses fatores
preocupam os profissionais da área, especialistas e as autoridades políticas cada vez
mais, pois existe uma relação direta do sedentarismo/sobrepeso/obesidade em
adolescentes com os riscos de desenvolver doenças não contagiosas, como câncer,
diabetes, doenças cardiovasculares e de desordens psicológicas.
Preocupações em relação à saúde na adolescência
Por sua vez, os esportes coletivos podem ser considerados uma ferramenta
interessante para que crianças e adolescentes se tornem mais ativos fisicamente
(ALVES; LIMA, 2008). Os esportes coletivos são praticados em nível mundial e estão
enraizados na cultura popular do Brasil e são praticados por toda parte. Dessa forma,
pela questão da sociabilização e pelos fatores motivacionais, esses tipos de modalidade
apresentam-se como uma possibilidade de combater o sedentarismo para esta parcela
da população. Além disso, a iniciação esportiva e prática sistemática podem fazer com
que crianças e adolescentes busquem o aprimoramento e a especialização dentro de
uma modalidade específica para uma possível carreira esportiva futura (RÉ, 2011).
Sabe-se que esportes coletivos, como o futebol, voleibol e handebol são comumente
praticados no Brasil.
Preocupações em relação à saúde na adolescência
Considerando que estas modalidades esportivas englobam movimentos como corrida,
saltos e mudanças de direção, os quais requisitam principalmente a ação muscular dos
membros inferiores e secundariamente os músculos de sustentação/posturais, o que
dessa forma, estimulariam maior ganho ósseo (LIMA et al., 2013), as cargas exigidas
durante a prática destes esportes estariam de acordo com o recomendado pela
organização mundial da saúde (OMS). Ainda podemos salientar que, grande ênfase
tem sido dada aos efeitos da atividade esportiva sobre a massa óssea e a possibilidade
de prevenção da osteoporose em época futura, uma vez que o exercício físico vigoroso
exerce um papel fundamental no processo de ganho de massa óssea (CADORE et al.,
2005).
Preocupações em relação à saúde na adolescência
Considere você que os mecanismos de carga, impostos pelos exercícios, aumentam a
densidade mineral óssea, independentemente do sexo e da idade dos indivíduos que os
praticam (SNOW et al., 2001). O número de adolescentes envolvidos em práticas
desportivas tem aumentado sensivelmente nos últimos anos. Por isso, precisamos ter
em mente a necessidade de conhecer os eventos que marcam a puberdade e a
variabilidade individual em que eles ocorrem, isso é de suma importância para o
profissional que trabalhará com os esportes coletivos voltados para essa faixa etária. O
estresse contínuo, que pode ser provocado com a prática, resulta em adaptações
morfológicas, tais como: aumento da espessura cortical e maior conteúdo ósseo na
inserção músculo-tendínea. Esse ganho de massa óssea pode prevenir complicações
futuras, como por exemplo, a osteoporose (SILVA; TEIXEIRA; GOLDBERG, 2003).
O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes
Veja que no gráfico (A)
aproximadamente 50% das
crianças e adolescentes no Brasil
parecem ser sedentárias.
Enquanto que, no gráfico da
parte de baixo (B) podemos ver
que mais de 20% destas estão
obesas. Este é um dado
preocupante e que precisa de
profunda reflexão de nossa
parte, e atitudes na busca de
melhorar este quadro. O esporte
pode ser um grande aliado nessa
luta.
O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes
A adolescência é um período da vida permeado por profundas mudanças
biopsicossociais. De acordo com a OMS, a fase da adolescência compreende a faixa
etária entre 10 e 19 anos. Um dos principais fenômenos da puberdade é o pico de
crescimento em estatura, acompanhado da maturação biológica (amadurecimento) dos
órgãos sexuais e das funções musculares (metabólicas), além de importantes
alterações na composição corporal, as quais apresentam importantes diferenças entre
os gêneros (RÉ, 2011). Estudos com crianças e adolescentes têm demonstrado o
benefício da atividade física no estímulo ao crescimento e desenvolvimento, prevenção
da obesidade, incremento da massa óssea, aumento da sensibilidade à insulina,
melhora do perfil lipídico, diminuição da pressão arterial, desenvolvimento da
socialização e da capacidade de trabalhar em equipe (CADORE et al., 2005; ALVES;
LIMA, 2008; LIMA et al., 2013). Nesse sentido, os esportes coletivos podem contribuir
de grande maneira para que adolescentes atinjam esses benefícios da atividade física
(LIMA et al., 2013), tanto os físicos quanto os psicossociais, visto que as interações
entre indivíduos (“eu e o companheiro de equipe”, “eu e o adversário”, “eu e o
professor/treinador”, “eu e os pais/família”) são maximizadas.
O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes
A puberdade é um período fundamental para a aquisição da massa óssea. O aumento
da densidade mineral óssea durante a puberdade é devido primariamente à expansão
do tamanho ósseo em função do crescimento físico e, posteriormente, pelo aumento
da espessura da cortical (CADORE et al., 2005). Em adolescentes atletas, o pico de
massa óssea pode apresentar maior incremento, em virtude do estresse mecânico
imposto aos ossos pelo exercício físico praticado (SNOW et al., 2001; MATTA et al.,
2013). O tecido ósseo é dinamicamente responsivo à demanda funcional que lhe é
imposta, o que gera alterações de sua massa e força. Essas mudanças resultam da
força gravitacional e da ação intensa dos músculos ligados aos ossos (SNOW et al.,
2001). A resposta adaptativa do osso dependerá, portanto, da magnitude da carga e
da frequência de aplicação, que são regularmente repetidas, desencadeiam efeitos
osteogênicos.
O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes
A massa óssea responde por cerca de 80% da variação na força óssea, mas outros
fatores, como geometria óssea, arquitetura interna e propriedades mecânicas também
afetam a força de um osso específico (LIMA et al., 2013). Durante a atividade física, a
contração muscular promove um aumento da atividade osteoblástica na região óssea
próxima aos locais onde os músculos se inserem, levando ao aumento da mineralização
óssea. Por outro lado, a ausência de contração muscular causa significativa perda
óssea, porém, considere você que o exercício físico realizado próximo ao pico máximo
da velocidade de crescimento, ou seja, no início da puberdade, é mais efetivo para
potencializar o ganho de massa óssea (ALVES; LIMA, 2008; RÉ, 2011).
O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes
Com relação ao esporte, a adolescência reveste-se de grande importância, não
somente por aspectos específicos da prescrição de exercícios físicos a essa faixa de
idade, como para todo o contexto biopsicossocial, que envolve esse período da vida.
Esse é um período em que o contexto é muito importante, e as amizades e os
modismos ditados pela sociedade são de extrema importância para o indivíduo. Nesse
sentido, o “conceito de beleza do magro e forte” devem ser trabalhados juntamente
com a inserção do adolescente nas atividades esportivas para evitar desequilíbrios
entre o exercício e os hábitos nutricionais (ALVES; LIMA, 2008).
O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes
Essa insatisfação com a imagem corporal pode induzir os adolescentes à busca de
atividades esportivas de alta intensidade e grande volume de treinamento, com
ingestão calórica inadequada, também como valorização do corpo e da imagem
idealizados, a serem atingidos, muitas vezes, a qualquer custo. Na combinação de
exercício físico intenso e baixa ingestão calórica, a prática esportiva competitiva e
intensa associada a um gasto energético excessivo estimula a liberação de citocinas,
como interleucina-1 (IL-1), IL-6 e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), os quais
poderiam inibir o eixo GH/IGF-1 e interferir nos processos de crescimento (ALVES;
LIMA, 2008).
O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes
Snow et al., (2001) relatam que, em estágios iniciais da puberdade, a repercussão
óssea ao estímulo da sobrecarga é pouco significativa, enquanto que, em fases mais
avançadas da maturidade sexual, o padrão hormonal conjugado à atividade esportiva
conduz a maior deposição de massa óssea nos locais específicos dos estímulos
musculares. A densidade mineral óssea atinge cerca de 90% do seu pico no final da
segunda década. Observe que, um quarto do osso adulto é acumulado durante os dois
anos de pico de velocidade de crescimento. Fatores endógenos e exógenos participam
desse processo. Entre os fatores endógenos vamos destacar para vocês os seguintes:
genética, raça e o aumento dos hormônios anabólicos associados à puberdade. Em
relação aos fatores exógenos (ambientais), destacam-se o exercício e a nutrição, com
adequado aporte de cálcio na dieta (ALVES; LIMA, 2008).
O esporte coletivo e os processos de crescimento de
adolescentes , possibilidades de intervenção
Adolescentes devem realizar diariamente, pelo menos, 60 minutos de atividade física
e/ou desportiva em uma intensidade moderada a vigorosa e pelo menos três vezes por
semana de exercícios de força muscular capazes de promover um desenvolvimento
muscular e ósseo saudável (WHO, 2020). Por outro lado, a interação social/ambiental
nos dias de hoje é muito diferente, podendo ser facilmente constatado nas alterações
do estilo de vida da população jovem, que vão desde uma diminuição das atividades ao
ar livre a um aumento do tempo passado em casa e com atividades sedentárias ligadas
ao uso da tecnologia, aumento da ingestão calórica e perda da qualidade do sono
(GUEDES et al., 2002; SEABRA et al., 2008; HALLAL et al., 2012).
O esporte coletivo e os processos de crescimento de
adolescentes , possibilidades de intervenção
Dessa forma, é preciso pensar em maneiras de incluir essa parcela da população em
atividades físicas que sejam prazerosas para estes indivíduos (SEABRA et al., 2008),
que façam com que o fator motivacional e social tenha efeito na permanência dos
adolescentes em programas de treinamento (ALVES; LIMA, 2008). Os profissionais de
educação física precisam buscar envolvimento com políticas públicas que proporcionem
possibilidades de espaços que façam com que exercícios se tornem uma prática
habitual dos jovens (GUEDES et al., 2002; RÉ, 2011; HALLAL et al., 2012), visto que,
boa parte desta população parece desconhecer os efeitos dos esportes e do exercício
físico sobre sua saúde óssea (KOPP et al., 2013).
O esporte coletivo e os processos de crescimento de
adolescentes , possibilidades de intervenção
A adolescência é uma fase de intensas transformações não só físicas, como também de
valores e crenças que podem ter consequências na vida adulta. Estimular nossos
alunos à prática de atividade física na idade escolar será de extrema importância
contra a epidemia de inatividade física na vida adulta. O esporte coletivo moderno
transformou-se em um novo meio de comunicação entre os indivíduos. É um
sentimento participativo, interativo e interpretativo que se multiplica em diferentes
culturas e etnias (RÉ, 2011). O esporte coletivo tem um grande impacto nos hábitos
culturais desportivos dos nossos dias, o que provoca uma enorme atração para sua
prática a muitas crianças e adolescentes (MATTA et al., 2013). Por sua vez, o ensino de
uma modalidade na perspectiva educacional deve promover o desenvolvimento
humano, por meio da inclusão social e da produção cultural esportiva, numa relação
interdependente entre o esporte em questão e a ludicidade (KOPP et al., 2013).
O esporte coletivo e os processos de crescimento de
adolescentes , possibilidades de intervenção
Seabra et al., (2001) ressaltam a importância da diferenciação entre idade biológica e
idade cronológica no planejamento de um programa de atividade física para uma
população de adolescentes. Para tal, é necessária a avaliação dos estágios de
maturação. A classificação em função da idade biológica possibilita distinguir, de forma
mais clara, as adaptações morfológicas e funcionais resultantes de um programa de
treinamento das modificações observadas no organismo decorrentes do processo de
maturação, principalmente intensificado durante a puberdade (CADORE et al., 2005).
Além disso, possibilita evitar que adolescentes com as mesmas idades cronológicas,
mas com diferentes graus de maturidade, sejam colocados lado a lado em atividades
esportivas. Isso geraria um sentimento de frustração no adolescente derrotado que
poderia influenciar todo seu relacionamento com os demais do seu grupo ou faixa
etária.
O esporte coletivo e os processos de crescimento de
adolescentes , possibilidades de intervenção
A prática esportiva dos adolescentes está associada à prática de seus pais e o gênero
dos pais exerce efeitos distintos em tal fenômeno. Fernandes et al. (2011)
demonstraram que em ambos os gêneros, o envolvimento dos pais foi associado com
um maior engajamento por parte do adolescente em práticas esportivas, mas o
envolvimento materno foi associado apenas com a atividade física no sexo feminino.
Para Kopp et al. (2013), não devemos ver a adolescência simplesmente como um
estágio biológico e psicológico do desenvolvimento humano, pois esta visão percebe a
adolescência a partir da perspectiva que menospreza a interação juvenil e a sua
produção social. Precisamos nos preocupar como são produzidos os espaços que criam
práticas e promovem relações características e típicas da modernidade e das
transformações operadas nesse estágio de vida (ALVES; LIMA, 2008; RÉ, 2011).
O esporte coletivo e os processos de crescimento de
adolescentes , possibilidades de intervenção
Por fim, queremos apresentar este último estudo de Lima et al. (2001), que observou
em meninos de 12 a 18 anos, que praticavam esportes de impacto, como basquetebol,
aumento significativo na densidade mineral óssea na coluna lombar e no fêmur
proximal, quando comparados com um grupo de adolescentes que praticavam esportes
com carga ativa, tais como polo aquático e natação. Entretanto, ambos os grupos
apresentavam densidade mineral óssea superior à do grupo de adolescentes que não
praticavam esporte algum. Assim, precisamos considerar que a prática do esporte pode
ser um potente modulador da massa óssea durante a infância/adolescência e este
ganho adicional de massa óssea na infância/ adolescência pode influenciar
positivamente a saúde óssea na idade adulta (LIMA et al., 2013).
Referência

SALVADOR, P. C. N.; SALVADOR, A. F.; TEIXEIRA, A. S. Treinamento


desportivo em educação física. 1ª ed. Indaial: Uniasselvi, 215 p.,
2017.

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