Santarém, 01 de novembro de 2023 Treinamento esportivo e a saúde na idade escolar Nessa aula vamos falar sobre o treinamento esportivo e suas implicações para a saúde de adolescentes. Os anos em torno da puberdade são os mais críticos do ponto de vista da saúde pública. O exercício e a boa nutrição nessa idade são tão importantes quanto aos 50 anos de idade, quando a perda óssea relacionada à idade torna-se mais aparente. Os ganhos de massa óssea nos três anos em torno da puberdade podem chegar a 30% da massa óssea máxima final. Aumentos adicionais de densidade mineral óssea ocorrem até pelo menos os 25 anos. O maior impacto do exercício sobre a densidade mineral óssea e a geometria óssea ideal ocorre durante esses anos de rápido crescimento. Treinamento esportivo e a saúde na idade escolar No entanto, você já deve ter percebido que tem crescido cada vez mais o número de adolescentes e jovens com comportamento sedentário no Brasil e no mundo, assim como é possível observar o aumento na quantidade de indivíduos nessa faixa etária obesos e com risco de obesidade. A atividade física/exercício físico é uma importante ferramenta no combate aos malefícios deste estilo de vida prejudicial nesta população. Com os avanços tecnológicos, meios de transportes, diminuição das áreas de lazer urbanas, aumento da criminalidade e padrões de moradia da sociedade moderna (por exemplo, a vida em condomínios fechados) torna-se cada vez mais necessária a busca de estratégias para fazer com que os adolescentes se tornam mais ativos fisicamente, visto que, os benefícios perdurarão para a vida adulta. Nesse contexto, os esportes coletivos são importantes ferramentas para a motivação destes indivíduos quanto a prática de exercícios, considerando o contexto da socialização. Preocupações em relação à saúde na adolescência As recomendações atuais de atividade física para crianças e adolescentes são de 300 minutos semanais e/ou 60 minutos diários de atividade de intensidade moderada a vigorosa. A maioria destas atividades deve ser de caráter aeróbio e intensidades vigorosas devem ser incorporadas, incluindo aquelas que fortaleçam a musculatura e a estrutura óssea, ao menos três vezes por semana (WHO, 2020). Preocupações em relação à saúde na adolescência Por outro lado, os níveis de sedentarismo têm aumentado nessa faixa etária com boa parte da população mundial não atingindo os níveis de recomendação diária, por exemplo, o que foi demonstrado por Hallal et al. (2012) que mais de 80% dos adolescentes em 55 países diferentes não atingem os 60 minutos diários. Esses fatores preocupam os profissionais da área, especialistas e as autoridades políticas cada vez mais, pois existe uma relação direta do sedentarismo/sobrepeso/obesidade em adolescentes com os riscos de desenvolver doenças não contagiosas, como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares e de desordens psicológicas. Preocupações em relação à saúde na adolescência Por sua vez, os esportes coletivos podem ser considerados uma ferramenta interessante para que crianças e adolescentes se tornem mais ativos fisicamente (ALVES; LIMA, 2008). Os esportes coletivos são praticados em nível mundial e estão enraizados na cultura popular do Brasil e são praticados por toda parte. Dessa forma, pela questão da sociabilização e pelos fatores motivacionais, esses tipos de modalidade apresentam-se como uma possibilidade de combater o sedentarismo para esta parcela da população. Além disso, a iniciação esportiva e prática sistemática podem fazer com que crianças e adolescentes busquem o aprimoramento e a especialização dentro de uma modalidade específica para uma possível carreira esportiva futura (RÉ, 2011). Sabe-se que esportes coletivos, como o futebol, voleibol e handebol são comumente praticados no Brasil. Preocupações em relação à saúde na adolescência Considerando que estas modalidades esportivas englobam movimentos como corrida, saltos e mudanças de direção, os quais requisitam principalmente a ação muscular dos membros inferiores e secundariamente os músculos de sustentação/posturais, o que dessa forma, estimulariam maior ganho ósseo (LIMA et al., 2013), as cargas exigidas durante a prática destes esportes estariam de acordo com o recomendado pela organização mundial da saúde (OMS). Ainda podemos salientar que, grande ênfase tem sido dada aos efeitos da atividade esportiva sobre a massa óssea e a possibilidade de prevenção da osteoporose em época futura, uma vez que o exercício físico vigoroso exerce um papel fundamental no processo de ganho de massa óssea (CADORE et al., 2005). Preocupações em relação à saúde na adolescência Considere você que os mecanismos de carga, impostos pelos exercícios, aumentam a densidade mineral óssea, independentemente do sexo e da idade dos indivíduos que os praticam (SNOW et al., 2001). O número de adolescentes envolvidos em práticas desportivas tem aumentado sensivelmente nos últimos anos. Por isso, precisamos ter em mente a necessidade de conhecer os eventos que marcam a puberdade e a variabilidade individual em que eles ocorrem, isso é de suma importância para o profissional que trabalhará com os esportes coletivos voltados para essa faixa etária. O estresse contínuo, que pode ser provocado com a prática, resulta em adaptações morfológicas, tais como: aumento da espessura cortical e maior conteúdo ósseo na inserção músculo-tendínea. Esse ganho de massa óssea pode prevenir complicações futuras, como por exemplo, a osteoporose (SILVA; TEIXEIRA; GOLDBERG, 2003). O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes Veja que no gráfico (A) aproximadamente 50% das crianças e adolescentes no Brasil parecem ser sedentárias. Enquanto que, no gráfico da parte de baixo (B) podemos ver que mais de 20% destas estão obesas. Este é um dado preocupante e que precisa de profunda reflexão de nossa parte, e atitudes na busca de melhorar este quadro. O esporte pode ser um grande aliado nessa luta. O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes A adolescência é um período da vida permeado por profundas mudanças biopsicossociais. De acordo com a OMS, a fase da adolescência compreende a faixa etária entre 10 e 19 anos. Um dos principais fenômenos da puberdade é o pico de crescimento em estatura, acompanhado da maturação biológica (amadurecimento) dos órgãos sexuais e das funções musculares (metabólicas), além de importantes alterações na composição corporal, as quais apresentam importantes diferenças entre os gêneros (RÉ, 2011). Estudos com crianças e adolescentes têm demonstrado o benefício da atividade física no estímulo ao crescimento e desenvolvimento, prevenção da obesidade, incremento da massa óssea, aumento da sensibilidade à insulina, melhora do perfil lipídico, diminuição da pressão arterial, desenvolvimento da socialização e da capacidade de trabalhar em equipe (CADORE et al., 2005; ALVES; LIMA, 2008; LIMA et al., 2013). Nesse sentido, os esportes coletivos podem contribuir de grande maneira para que adolescentes atinjam esses benefícios da atividade física (LIMA et al., 2013), tanto os físicos quanto os psicossociais, visto que as interações entre indivíduos (“eu e o companheiro de equipe”, “eu e o adversário”, “eu e o professor/treinador”, “eu e os pais/família”) são maximizadas. O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes A puberdade é um período fundamental para a aquisição da massa óssea. O aumento da densidade mineral óssea durante a puberdade é devido primariamente à expansão do tamanho ósseo em função do crescimento físico e, posteriormente, pelo aumento da espessura da cortical (CADORE et al., 2005). Em adolescentes atletas, o pico de massa óssea pode apresentar maior incremento, em virtude do estresse mecânico imposto aos ossos pelo exercício físico praticado (SNOW et al., 2001; MATTA et al., 2013). O tecido ósseo é dinamicamente responsivo à demanda funcional que lhe é imposta, o que gera alterações de sua massa e força. Essas mudanças resultam da força gravitacional e da ação intensa dos músculos ligados aos ossos (SNOW et al., 2001). A resposta adaptativa do osso dependerá, portanto, da magnitude da carga e da frequência de aplicação, que são regularmente repetidas, desencadeiam efeitos osteogênicos. O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes A massa óssea responde por cerca de 80% da variação na força óssea, mas outros fatores, como geometria óssea, arquitetura interna e propriedades mecânicas também afetam a força de um osso específico (LIMA et al., 2013). Durante a atividade física, a contração muscular promove um aumento da atividade osteoblástica na região óssea próxima aos locais onde os músculos se inserem, levando ao aumento da mineralização óssea. Por outro lado, a ausência de contração muscular causa significativa perda óssea, porém, considere você que o exercício físico realizado próximo ao pico máximo da velocidade de crescimento, ou seja, no início da puberdade, é mais efetivo para potencializar o ganho de massa óssea (ALVES; LIMA, 2008; RÉ, 2011). O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes Com relação ao esporte, a adolescência reveste-se de grande importância, não somente por aspectos específicos da prescrição de exercícios físicos a essa faixa de idade, como para todo o contexto biopsicossocial, que envolve esse período da vida. Esse é um período em que o contexto é muito importante, e as amizades e os modismos ditados pela sociedade são de extrema importância para o indivíduo. Nesse sentido, o “conceito de beleza do magro e forte” devem ser trabalhados juntamente com a inserção do adolescente nas atividades esportivas para evitar desequilíbrios entre o exercício e os hábitos nutricionais (ALVES; LIMA, 2008). O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes Essa insatisfação com a imagem corporal pode induzir os adolescentes à busca de atividades esportivas de alta intensidade e grande volume de treinamento, com ingestão calórica inadequada, também como valorização do corpo e da imagem idealizados, a serem atingidos, muitas vezes, a qualquer custo. Na combinação de exercício físico intenso e baixa ingestão calórica, a prática esportiva competitiva e intensa associada a um gasto energético excessivo estimula a liberação de citocinas, como interleucina-1 (IL-1), IL-6 e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), os quais poderiam inibir o eixo GH/IGF-1 e interferir nos processos de crescimento (ALVES; LIMA, 2008). O esporte e suas implicações para a saúde de adolescentes Snow et al., (2001) relatam que, em estágios iniciais da puberdade, a repercussão óssea ao estímulo da sobrecarga é pouco significativa, enquanto que, em fases mais avançadas da maturidade sexual, o padrão hormonal conjugado à atividade esportiva conduz a maior deposição de massa óssea nos locais específicos dos estímulos musculares. A densidade mineral óssea atinge cerca de 90% do seu pico no final da segunda década. Observe que, um quarto do osso adulto é acumulado durante os dois anos de pico de velocidade de crescimento. Fatores endógenos e exógenos participam desse processo. Entre os fatores endógenos vamos destacar para vocês os seguintes: genética, raça e o aumento dos hormônios anabólicos associados à puberdade. Em relação aos fatores exógenos (ambientais), destacam-se o exercício e a nutrição, com adequado aporte de cálcio na dieta (ALVES; LIMA, 2008). O esporte coletivo e os processos de crescimento de adolescentes , possibilidades de intervenção Adolescentes devem realizar diariamente, pelo menos, 60 minutos de atividade física e/ou desportiva em uma intensidade moderada a vigorosa e pelo menos três vezes por semana de exercícios de força muscular capazes de promover um desenvolvimento muscular e ósseo saudável (WHO, 2020). Por outro lado, a interação social/ambiental nos dias de hoje é muito diferente, podendo ser facilmente constatado nas alterações do estilo de vida da população jovem, que vão desde uma diminuição das atividades ao ar livre a um aumento do tempo passado em casa e com atividades sedentárias ligadas ao uso da tecnologia, aumento da ingestão calórica e perda da qualidade do sono (GUEDES et al., 2002; SEABRA et al., 2008; HALLAL et al., 2012). O esporte coletivo e os processos de crescimento de adolescentes , possibilidades de intervenção Dessa forma, é preciso pensar em maneiras de incluir essa parcela da população em atividades físicas que sejam prazerosas para estes indivíduos (SEABRA et al., 2008), que façam com que o fator motivacional e social tenha efeito na permanência dos adolescentes em programas de treinamento (ALVES; LIMA, 2008). Os profissionais de educação física precisam buscar envolvimento com políticas públicas que proporcionem possibilidades de espaços que façam com que exercícios se tornem uma prática habitual dos jovens (GUEDES et al., 2002; RÉ, 2011; HALLAL et al., 2012), visto que, boa parte desta população parece desconhecer os efeitos dos esportes e do exercício físico sobre sua saúde óssea (KOPP et al., 2013). O esporte coletivo e os processos de crescimento de adolescentes , possibilidades de intervenção A adolescência é uma fase de intensas transformações não só físicas, como também de valores e crenças que podem ter consequências na vida adulta. Estimular nossos alunos à prática de atividade física na idade escolar será de extrema importância contra a epidemia de inatividade física na vida adulta. O esporte coletivo moderno transformou-se em um novo meio de comunicação entre os indivíduos. É um sentimento participativo, interativo e interpretativo que se multiplica em diferentes culturas e etnias (RÉ, 2011). O esporte coletivo tem um grande impacto nos hábitos culturais desportivos dos nossos dias, o que provoca uma enorme atração para sua prática a muitas crianças e adolescentes (MATTA et al., 2013). Por sua vez, o ensino de uma modalidade na perspectiva educacional deve promover o desenvolvimento humano, por meio da inclusão social e da produção cultural esportiva, numa relação interdependente entre o esporte em questão e a ludicidade (KOPP et al., 2013). O esporte coletivo e os processos de crescimento de adolescentes , possibilidades de intervenção Seabra et al., (2001) ressaltam a importância da diferenciação entre idade biológica e idade cronológica no planejamento de um programa de atividade física para uma população de adolescentes. Para tal, é necessária a avaliação dos estágios de maturação. A classificação em função da idade biológica possibilita distinguir, de forma mais clara, as adaptações morfológicas e funcionais resultantes de um programa de treinamento das modificações observadas no organismo decorrentes do processo de maturação, principalmente intensificado durante a puberdade (CADORE et al., 2005). Além disso, possibilita evitar que adolescentes com as mesmas idades cronológicas, mas com diferentes graus de maturidade, sejam colocados lado a lado em atividades esportivas. Isso geraria um sentimento de frustração no adolescente derrotado que poderia influenciar todo seu relacionamento com os demais do seu grupo ou faixa etária. O esporte coletivo e os processos de crescimento de adolescentes , possibilidades de intervenção A prática esportiva dos adolescentes está associada à prática de seus pais e o gênero dos pais exerce efeitos distintos em tal fenômeno. Fernandes et al. (2011) demonstraram que em ambos os gêneros, o envolvimento dos pais foi associado com um maior engajamento por parte do adolescente em práticas esportivas, mas o envolvimento materno foi associado apenas com a atividade física no sexo feminino. Para Kopp et al. (2013), não devemos ver a adolescência simplesmente como um estágio biológico e psicológico do desenvolvimento humano, pois esta visão percebe a adolescência a partir da perspectiva que menospreza a interação juvenil e a sua produção social. Precisamos nos preocupar como são produzidos os espaços que criam práticas e promovem relações características e típicas da modernidade e das transformações operadas nesse estágio de vida (ALVES; LIMA, 2008; RÉ, 2011). O esporte coletivo e os processos de crescimento de adolescentes , possibilidades de intervenção Por fim, queremos apresentar este último estudo de Lima et al. (2001), que observou em meninos de 12 a 18 anos, que praticavam esportes de impacto, como basquetebol, aumento significativo na densidade mineral óssea na coluna lombar e no fêmur proximal, quando comparados com um grupo de adolescentes que praticavam esportes com carga ativa, tais como polo aquático e natação. Entretanto, ambos os grupos apresentavam densidade mineral óssea superior à do grupo de adolescentes que não praticavam esporte algum. Assim, precisamos considerar que a prática do esporte pode ser um potente modulador da massa óssea durante a infância/adolescência e este ganho adicional de massa óssea na infância/ adolescência pode influenciar positivamente a saúde óssea na idade adulta (LIMA et al., 2013). Referência
SALVADOR, P. C. N.; SALVADOR, A. F.; TEIXEIRA, A. S. Treinamento
desportivo em educação física. 1ª ed. Indaial: Uniasselvi, 215 p., 2017.