Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
IMAGEM DA
MAMA
MASCULINA
TATIANE MENDES
GONÇALVES DE
OLIVEIRA
BÁRBARA NOGUEIRA CARACAS
DE SOUZA
INTRODUÇÃO
O rastreamento e o diagnóstico de patologias mamárias em mulheres são bem
estabelecidos e frequentes na rotina do radiologista. Entretanto, para pacientes
masculinos, a avaliação dos sintomas mamários é comumente acompanhada de
dúvidas sobre a necessidade de exame de imagem complementar e qual método deve
ser realizado inicialmente nos diferentes cenários.
Quando o exame físico não é capaz de confirmar alteração benigna ou quando existem
características suspeitas para neoplasia, a mamografia (MMG) e a ultrassonografia
(USG) têm papel fundamental na investigação diagnóstica. Muito embora a maioria
das patologias mamárias em homens seja benigna, como ginecomastia ou
pseudoginecomastia, é fundamental reconhecer os aspectos de imagem suspeitos que
podem representar câncer de mama.
OBJETIVOS
ESQUEMA CONCEITUAL
EMBRIOLOGIA
A MMG possui alta sensibilidade (S) de 94,7%, especificidade (E) de 94,8% e alto valor
preditivo negativo (VPN) de 99,7% na avaliação da mama masculina, o que justifica sua
escolha para a avaliação inicial por imagem na maioria dos pacientes do sexo
masculino. A MMG identifica corretamente ginecomastia, caracteriza mais facilmente
outras lesões benignas, como a necrose gordurosa, e ainda tem maior acurácia no
diagnóstico e na mensuração da extensão de calcificações suspeitas.2
pele;
gordura;
ductos;
estroma;
vasos (artérias, veias e linfáticos);
feixes nervosos.
Benignas Malignas
Tumor de células da
granulares
Tumor desmóide
Schiwannoma
Hemangioma
PSEUDOGINECOMASTIA
GINECOMASTIA
Quadro 2
CAUSAS DE GINECOMASTIA
Obesidade (aumento
da conversão
periférica)
Tumores das células de
Aumento dos níveis de Leydig ou Sertoli
estrogênio Tumores produtores
de gonadotrofinas
coriônicas
Tumores
adrenocorticais
Síndrome de
Klinefelter
Sequela de orquite
Orquiectomia
Redução dos níveis de
Doença
testosterona
hipotalâmica/hipofisária
Síndrome da
resistência
androgênica
LEMBRAR
Ginecomastia nodular
Definida por tecido mamário radiodenso retroareolar com aspecto nodular “em leque”
que se correlaciona ao aparecimento recente, com menos de um ano,
histologicamente apresentando proliferação ductal florida com estroma inflamatório e
edematoso.
Ginecomastia dendrítica
Definida por tecido mamário radiodenso retroareolar com aspecto “em chama”.
À USG, observa-se tecido hipoecoico retroareolar formando projeções digitiformes
(Figura 5A e B).
Ginecomastia difusa
CISTO EPIDÉRMICO
LIPOMA
HEMATOMA
história de trauma;
distúrbio da coagulação;
uso de anticoagulante oral.
ESTEATONECROSE
ABSCESSO SUBAREOLAR
Apenas no Brasil, entre 2005 e 2015, calculam-se cerca de 1.521 mortes relacionadas
ao câncer de mama em homens.14 Nos Estados Unidos, foram estimados 2.550 novos
casos em 2018, com 480 mortes, contra 400 mortes relacionadas a câncer testicular ou
380 mortes secundárias ao câncer peniano, por exemplo.15
O câncer de mama masculino surge mais tardiamente do que o feminino, com média
de idade de 70 anos, e menos de 6% dos casos ocorrendo em homens abaixo dos 40
anos.1 Além da senilidade, outros fatores de risco incluem
LEMBRAR
A história familiar de câncer de mama e ovário está presente em cerca de 20% dos
homens com diagnóstico de câncer de mama e se correlaciona ao surgimento de
doença em pacientes mais jovens. A mutação do gene supressor de tumor BRCA
aumenta o risco relativo para neoplasia de mama e de outros sítios (como ovário,
pâncreas, cólon e próstata) e está presente em cerca de 10–28% dos homens com
diagnóstico câncer de mama (mais frequentemente a mutação BRCA2).13,16
Nos homens com BRCA2 mutado, o risco acumulado de desenvolver câncer de mama
(aos 70 anos) é de 6,8%, significando um aumento do risco relativo de cerca de 80
vezes, porém ainda com risco absoluto menor do que o da população feminina sem
fatores de risco, que apresenta risco médio de 11%.13,14,17
Neoplasias de mama triplo negativas (TN) definidas como tumores que não
expressam RE, RP e HER-2 são raramente encontradas no sexo masculino. Outros
genes específicos como, por exemplo, o EMSY e o PALB2 são mais frequentemente
expressos nas neoplasias de mama masculina do que nas neoplasias de mama
feminina13 (Tabela 1).
Tabela 1
DIFERENÇAS HISTOLÓGICAS E IMUNO-HISTOQUÍMICAS
DO CARCINOMA MAMÁRIO EM HOMENS E EM
MULHERES
Câncer de Câncer de
mama em mama em
homens mulheres
LEMBRAR
Até 20% dos tumores de mama no homem podem se apresentar com margens
circunscritas, simulando lesão provavelmente benigna. Nesse contexto, salienta-se
que, se nas mulheres os nódulos com características de imagem provavelmente
benignas representam, na maioria das vezes, fibroadenoma, nos homens as patologias
lobulares, incluindo o fibroadenoma, são raras, e a categoria 3 do ACR BI-RADS® tem
mostrado risco de malignidade entre 17,4–21%. Esse risco supera os 2% estabelecidos
para essa categoria, e a biópsia dessas lesões pode ser a melhor recomendação na
população masculina.9,20,21
METÁSTASES MAMÁRIAS
As metástases para a mama são raras e compreendem apenas 0,5–3% das lesões
malignas da mama, com predomínio no sexo feminino, e com apenas 5% ocorrendo
nos homens. Os tumores primários que mais frequentemente podem disseminar para
a mama são2,12
melanoma;
linfoma não Hodgkin;
pulmões;
sarcomas;
rins;
estômago;
próstata.
PACIENTES TRANSGÊNERO
Assim, o paciente transgênero masculino, que nasceu com sexo feminino e tem
identidade de gênero masculina, tem risco de desenvolver câncer de mama
semelhante ao das mulheres de nascimento. A necessidade de rastreamento
dependerá do estágio clínico-social. Se há preservação da mama, a estratégia de
rastreamento deve ser mantida; entretanto, quando a paciente optou por
adenomastectomia e faz uso de androgênio, o rastreamento mamográfico pode não
ser necessário em decorrência da redução de risco de desenvolvimento do câncer de
mama.
Já a paciente transgênero feminino, que nasceu com sexo masculino e tem identidade
de gênero feminina, apresenta risco de desenvolver câncer de mama semelhante aos
homens de nascimento. Apesar da história de exposição ao uso de estrogênio exógeno
e bloqueadores de androgênios (que conceitualmente aumentam o risco de câncer de
mama), os poucos estudos existentes mostram que não há aumento da incidência de
câncer de mama nesse subgrupo.25
Atualmente, uma opção é o rastreamento mamográfico bianual para transgêneros
femininos a partir dos 50 anos quando há uso de estrogênio superior a 5 anos, IMC
maior do que 35 ou história familiar de câncer de mama e ovário.25
1. Chau A, Jafarian N, Rosa M. Male breast: clinical and imaging evaluations of benign and malignant entities
with histologic correlation. Am J Med. 2016 Aug;129(8):776–91.
2. Kim SH, Kim YS. Ultrasonographic and mammographic findings of male breast disease. J Ultrasound Med. 2019
Jan;38(1):243–52.
3. Lattin GE Jr, Jesinger RA, Mattu R, Glassman LM. From the radiologic pathology archives: diseases of the male
breast: radiologic-pathologic correlation. Radiographics. 2013 Mar-Abr;33(2):461–89.
4. Sonnenblick EB, Salvatore M, Szabo J, Lee KA, Margolies LR. Incremental role of mammography in the
evaluation of gynecomastia in men who have undergone chest CT. AJR Am J Roentgenol. 2016
Aug;207(2):234–40.
5. Niell BL, Lourenco AP, Moy L, Baron P, Didwania AD, Heller SL, et al. ACR appropriateness criteria® evaluation
of the symptomatic male breast. J Am Coll Radiol. 2018 Nov;15(11):S313–S20.
6. Johnson RE, Murad MH. Gynecomastia: pathophysiology, evaluation, and management. Mayo Clin Proc. 2009
Nov;84(11):1010–5.
7. Foo ET, Lee AY, Ray KM, Woodard GA, Freimanis RI, Joe BN. Value of diagnostic imaging for the symptomatic
male breast: Can we avoid unnecessary biopsies? Clinical imaging. 2017 Sep–Oct;45:86–91.
8. Sonnenblick EB, Margolies LR, Szabo JR, Jacobs LM, Patel N, Lee KA. Digital breast tomosynthesis of
gynecomastia and associated findings — a pictorial review. Clinical imaging. 2014 Sep–Oct;38(5):565–70.
9. Adibelli ZH, Oztekin O, Gunhan-Bilgen I, Postaci H, Uslu A, Ilhan E. Imaging characteristics of male breast
disease. Breast J. 2010 Sep–Oct;16(5):510–8.
10. Tangerud Å, Potapenko I, Skjerven HK, Stensrud MJ. Radiologic evaluation of lumps in the male breast. Acta
Radiol. 2016 Jul;57(7):809–14.
11. Rong X, Zhu Q, Jia W, Ma T, Wang X, Guo N, et al. Ultrasonographic assessment of male breast diseases.
Breast J. 2018 Jul;24(4):599–605.
12. Mango VL, Goodman S, Clarkin K, Wynn RT, Friedlander L, Hibshoosh H, et al. The unusual suspects: a review
of unusual benign and malignant male breast imaging cases. Clinical imaging. 2018 Jul–Aug;50:7–85.
13. Gao Y, Heller SL, Moy L. Male breast cancer in the age of genetic testing: an opportunity for early detection,
tailored therapy, and surveillance. RadioGraphics. 2018 Sep–Oct;38(5):1289–311.
14. Maselli-Schoueri JH, Affonso-Kaufman FA, Sette CVM, Figueiredo FWS, Adami F. Time trend of breast cancer
mortality in BRAZILIAN men: 10-year data analysis from 2005 to 2015. BMC cancer. 2019;19(1):23.
15. Siegel RL, Miller KD, Jemal A. Cancer statistics, 2016. CA Cancer J Clin. 2016 Jan–Feb;66(1):7–30.
16. Frank TS, Deffenbaugh AM, Reid JE, Hulick M, Ward BE, Lingenfelter B, et al. Clinical characteristics of
individuals with germline mutations in BRCA1 and BRCA2: analysis of 10,000 individuals. J Clin Oncol. 2002
Mar;20(6):1480–90.
17. Lee MV, Katabathina VS, Bowerson ML, Mityul MI, Shetty AS, Elsayes KM, et al. BRCA-associated cancers:
role of imaging in screening, diagnosis, and management. Radiographics. 2017 Jul–Aug;37(4):1005–23.
18. Tai YC, Domchek S, Parmigiani G, Chen S. Breast cancer risk among male BRCA1 and BRCA2 mutation carriers.
J Natl Cancer Inst. 2007 Dec;99(23):1811–4.
19. Charlot M, Béatrix O, Chateau F, Dubuisson J, Golfier F, Valette P, et al. Pathologies of the male breast. Diagn
Interv Imaging. 2013 Jan;94(1):26–37.
20. Gupta P, Foshee S, Garcia-Morales F, Gray T. Fibroadenoma in male breast: case report and literature review.
Breast dis. 2012;33(1):4–8.
21. Muñoz Carrasco R, Alvarez Benito M, Muñoz Gomariz E, Raya Povedano JL, Martínez Paredes M.
Mammography and ultrasound in the evaluation of male breast disease. European radiology. 2010
Dec;20(12):2797–805.
22. Yuan WH, Li AFY, Chou YH, Hsu HC, Chen YY. Clinical and ultrasonographic features of male breast tumors: a
retrospective analysis. PloS one. 2018;13(3):e0194651.
23. Doyle S, Steel J, Porter G. Imaging male breast cancer. Clin Radiol. 2011 Nov;66(11):1079–85.
24. Iuanow E, Kettler M, Slanetz PJ. Spectrum of disease in the male breast. AJR Am J Roentgenol. 2011
Mar;196(3):W247–59.
25. Maglione KD, Margolies L, Jaffer S, Szabo J, Schmidt H, Weltz C, et al. Breast cancer in male-to-female
transsexuals: use of breast imaging for detection. AJR Am J Roentgenol. 2014 Dec;203(6):W735–40.
Como citar a versão impressa deste documento
Oliveira TMG, Souza BNC. Avaliação por imagem da mama masculina. In: Colégio Brasileiro de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem; Melo-Leite AF, Zapparoli M, organizadores. PRORAD Programa de Atualização em
Radiologia e Diagnóstico por Imagem: Ciclo 9. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2020. p. 61–91. (Sistema de
Educação Continuada a Distância, v. 4)