Você está na página 1de 2

LEITURA: O PALHAÇO E O PSICANALISTA

TÓPICO: ESCUTANDO PELA PRIMEIRA VEZ


DIFICULDADE DE LEITURA: FÁCIL

RESUMO

O texto relata um caso de um estudante de psicanálise durante consulta com uma senhora.
Ela chega no consultório afirmando sentir uma terrível dor de dente. A priori, o psicanalista imagina
que a senhora tenha se enganado e que apenas errou o prédio, tendo em vista que a clínica
odontológica ficava em frente ao consultório. No entanto, ela diz que recebeu a recomendação de ir
ao psicólogo pelos próprios dentistas, tendo em vista sua longa jornada de descoberta do porquê da
dor sem justificativa e não obter respostas. Daí começam as tentativas de fazer com que essa
paciente explique melhor sobre esse tal dente, mas ela persiste em ser direta e resumida quanto ao
seu problema: apenas uma dor de dente que não passa há sete anos. Ela não estava lá para ouvir
conselhos ou palavras de apoio, apenas queria saber sobre aquela dor de dente e como fazer para
passar, lhe mostrando seus exames e tudo que já tinha em mãos sobre o caso.
Diante disso, o estudante percebeu que o método de identificar o problema pela abordagem
que ele conhecia (tentando saber mais sobre ela) não estava sendo eficaz e passa a insistir numa
abordagem mais direta, até conseguir extrair mais informações e, enfim, fazer com que a paciente
finalmente falasse mais a respeito. É aí onde ele percebe que tudo que a senhora tentara mostrar no
início da sessão e que ele ignorava por se tratarem de informações mais odontológicas do que
psicológicas eram exatamente as respostas que ele precisava para desvendar seu caso. O dente
não estava lá, havia sido extraído. E de repente sua mente clareia as ideias.
A partir disso, ele passa a trabalhar em cima dessa informação e descobre que aquela dor de
dente, na verdade, tinha relação com uma série de perdas que a paciente havia sofrido na época da
extração (separação, perda do filho...) e que toda essa história havia se transformado num meio dela
criar sua vida social, contando-a para conseguir aproximar-se das pessoas. Sua conclusão: Dores
são uma espécie de memória simbólica de passagens da vida de alguém.
ANÁLISE PESSOAL

O estudante inicia a consulta com uma abordagem simples e muito conhecida por ele, já que
estava diante de uma situação inesperada e que ele ainda não tinha tantas informações, o famoso
“conte-me mais sobre você, fale-me mais sobre isso”. O problema não está em iniciar com essa
abordagem, mas persistir nela, uma vez que ele já tinha observado que a paciente não estava apta a
ter uma conversa mais aprofundada sobre o assunto naquele momento, tornando o diálogo mais
cansativo. Quando ele decide mudar para uma abordagem mais direta, da defensiva para o ataque,
ele percebe que pode adequar seu método de modo que deixe a senhora mais familiarizada com a
situação e, assim, mais confortável para falar.
Outro erro importante de destacar foi o fato de não considerar as informações que ela trouxe à
sessão (exames, laudos, imagens, mostrar onde era a dor), mesmo que fossem dados clínicos. Ele
mesmo assume o deslize quando cita que “eu tinha um programa na cabeça que era fazê-la falar de
si [...] louco para obedecer ao que a instituição esperava de mim”, ou seja, um método mais
engessado. Quando ele passa a dar importância ao que ela estava tentando mostrar, ele percebe
que a informação que ele queria estava bem diante de seus olhos, bastava ouvir.
O “saber ouvir”, nesse e em diversos casos, não está escondido atrás de métodos ou de
simplesmente escutar o que o paciente traz à sessão. Foi no ato de notar, de ser empático, de usar
a compaixão ao invés da piedade, do “levar em consideração” que ele conseguiu ouvir. O ouvir é um
conjunto de práticas que usam outros sentidos além da audição e é nisso que a psicanálise trabalha.

Você também pode gostar