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Ética e Deontologia  Do grego ethiké [epistéme], «a

ciência relativa aos costumes», pelo


Ética e a Psicologia latim ethĭca-, «idem».
 Deontologia: estudo dos deveres
especiais de uma situação,
 O exercício da prática da psicologia: particularmente dos deveres das
diversas profissões
Conhecimento  Competências  Ao  Do grego déon, déontos, «o dever»
serviço dos outros + lógos, «tratado» + -ia

Linhas orientadoras para a prática:


Ética e seu significado
 Respeito -> Cuidar -> Sentido de
profissionalismo e responsabilidade  “… ética como uma categoria do
 As questões éticas emergem: espírito e do pensamento humano
 Os psicólogos não são menos que os (…) categoria esta que norteia o desejo
clientes; e o comportamento subsequente
o Pessoas com personalidades, segundo determinados valores
valores, vidas privadas, conflitos positivos …”
pessoais...  “Para serem eticamente defensivos, é
preciso demonstrar que os atos com
 O psicólogo deve influenciar, base no interesse pessoal são
transformar e mudar a perspetiva do compatíveis com princípios éticos de
cliente. bases mais amplas, pois a noção de
 Consegue-o fazer através de ética traz consigo a ideia de alguma
mecanismos reguladores, códigos coisa maior que o individual. Se vou
éticos e deontológicos e códigos de defender a minha conduta em bases
conduta. éticas, não posso mostrar apenas os
 Identificar e diferenciar -> benefícios que ela me traz. Devo
comportamentos com implicações reportar-me a um público maior.”
éticas  “Parte da Filosofia que se ocupa dos
costumes, da moral, dos deveres do
Homem; ciência que trata da
Definição do conceito e epistemologia ambivalência entre o bem e o mal e
estabelece o código moral de conduta”
 Ética: FILOSOFIA disciplina que  “Ética es un término genérico que
procura determinar a finalidade da puede abarcar varias formas de entender
vida humana e os meios de a y explicar la vida moral. Algunos
alcançar, preconizando juízos de enfoques son normativos (es decir,
valor que permitem distinguir entre o presentan criterios sobre lo que son
bem e o mal malas y buenas acciones); otros son
 princípios morais por que um
descriptivos (es decir, informan sobre lo
indivíduo rege a sua conduta que la gente cree y cómo actúa) …”
pessoal ou profissional; código  Deriva do grego “éthos” ou do latim
deontológico “ethica” (significa modo de ser ou
 Moral
carácter)
 ciência da moral  Domínio da filosofia que tem por
objetivo o juízo de apreciação que
distingue o bem e o mal, o profissional, daí que muitas das vezes
comportamento correto e o incorreto os termos ética e deontologia são
 “Ciência da Moral” utilizados indiferentemente.
 Elaboração científica da moral  Alguns códigos não apresentam
 Tem subjacente normas, valores funções normativas e vinculativas,
morais e regras oferecendo apenas uma função
 O caracter só faz sentido de ser reguladora.
julgado ou não quando temos uma  Ex: Princípios éticos da Associação
personalidade expressa (aquilo que é dos Psicólogos Portugueses –
observável). meramente um instrumento
 Só julgamos comportamentos que são consultivo.
repetidos.  Embora os códigos pretendam oferecer
uma reserva moral ou uma garantia
de conformidade com os Direitos
Ética Éthos Caractér Humanos, estes podem, por vezes,
constituir um perigo de
monopolização de uma determinada
Conjuntos de Personalide
área ou grupo de questões, relativas a
Hábitos Atos toda a sociedade, por um conjunto de
Expressa
Repetidos
profissionais.
 As respostas para os dilemas éticos
Deontologia nunca têm uma resposta certa, uma
vez que a própria ética também não é
 Das palavras gregas “déon, déontos” -
preto no branco. É sempre necessário
dever e “lógos” - discurso ou tratado.
analisar os prós e contras de cada
 tratado do dever ou o conjunto de
decisão que pode ser tomada.
deveres, princípios e normas
adotadas por um determinado
grupo profissional Emergência da Ética e da Deontologia
 A deontologia é uma disciplina da em Psicologia
ética, adaptada ao exercício de uma
profissão. Até ao séc. XVIII A partir do séc. XIX
Hospício Hospital Psiquiátrico
Louco Doente mental
Códigos éticos e deontológicos Afastamento do Intervenção
 Construídos com base nas declarações sujeito terapêutica
universais e esforçam-se por traduzir Indiferenciação das Classificação das
o sentimento ético expresso nestas, perturbações mentais entidades
adaptando-o, no entanto, às psicopatológicas
particularidades de cada país e de Espaços comuns Espaços individuais -
cada grupo profissional. individualidade
 Propõem linhas orientadoras da
prática profissional e sanções,
segundo princípios e procedimentos  Foucault faz uma observação paralela
explícitos, para os infratores da mesma. para o estabelecimento prisional:
 Os códigos de ética são dificilmente criação de celas individuais  nova
separáveis da deontologia conceção do individuo.
Moral
Nova arquitetura  Necessidade de vigiar/
observar  Algum conhecimento daquele
sujeito (registo de observações isoladas)  Ética
Acumulação do saber  Formação de uma
nova ciência
Comportamen
to

 Assim, é com base nas práticas sociais  Moral  “conjunto de valores e


que é possível: regras de ação propostas aos
 Arquivar; indivíduos e aos grupos por intermédio
 Saber; de diversos aparelhos prescritos,
 E desenvolver novas disciplinas. como a família, as instituições
educativas, as igrejas, as religiões e a
própria ciência”.
 Determinada ética é construída
 Surge uma necessidade de
produção, de acumulação e de com base numa moral estabelecida.
transmissão de conhecimento
(questão de investigação)  De acordo com as Teorias de
Interacionismo
 Simbólico, o processo pelo qual um
 Nasce a ideia de Homem (Ciências ato é considerado imoral é
Humanas): determinado pelas interações entre
 Psiquiatria; os indivíduos e os grupos, no
 Psicologia; sentido de persuadir outros
 Pedagogia; indivíduos e grupos acerca da
 Sociologia; conotação negativa de determinados
atos
 Assim, nas interações sociais, são os
Sujeito bio-psico-social outros que classificam os nossos atos
como morais ou imorais.
 Um “código moral” preexistente na
Ética, Moral e Norma sociedade faz com que
espontaneamente ou informalmente
 Ética  sistema estabelecido de determinados atos, e por interação
crenças controladoras do social, sejam rotulados como imorais.
comportamento e baseado numa
determinada moral.
 Ethos coletivo (Espinosa, 1992):  Norma  define-se pelas expetativas,
Acumulação de saberes pragmáticos crenças e comportamentos
sobre o que deve ser o BEM e o MAL estabelecidos formal ou
na vida coletiva. informalmente pelos grupos.
 Moral  determina o tipo de ética que  As normas são os comportamentos que
vamos tomar face a um a maioria dos membros do grupo ou de
comportamento. uma determinada subcultura acreditam
ou percecionam, realizando-se com
maior ou menor frequência.
Concluindo, os Códigos de Ética e
Deontologia de Psicologia têm subjacente
 Códigos de Ética:
uma conceção moral do sujeito.
Apesar das variações no cumprimento e
Qual a legitimidade de um código de ética?
especificidade, a maior parte dos códigos
 Necessidade do psicólogo, antes de se éticos profissionais partilham aspetos
apoiar em qualquer código de ética, essenciais:
fazer uma reflexão/ introspeção
 promover o bem-estar e proteção dos
acerca dos seus próprios valores,
indivíduos;
princípios morais, normas... (cidadão
 manutenção da competência;
ético).
 proteger a confidencialidade e/ou
 O psicólogo deve estar consciente do privacidade;
seu dever ético (profissional ético)  o atuar responsavelmente; evitar a
exploração;
 proteger a integridade da profissão
Princípios Éticos
através de uma conduta exemplar.
Psicologia  Código Ético  Relação
diferente das relações puramente o Gerais, prescritivos  nem sempre
comerciais providenciam resposta a conflitos
éticos em circunstâncias específicas.
 Guiar a conduta profissional dos o Por vezes, não lidam adequadamente
psicólogos; com certas contradições que surgem.
 Passo essencial na profissionalização o Psicólogos incorrem em
de uma profissão, desde 2011; responsabilidades éticas com os seus
 Os Princípios Éticos especificam os clientes, assim
direitos e responsabilidade dos como com a sua profissão e os seus
profissionais nas suas relações com os colegas  dificuldade em proteger e
outros e com as pessoas a quem satisfazer as necessidades legítimas de
prestam os seus serviços, incluindo um todos os setores, simultaneamente.
conjunto de procedimentos, normas e
valores comuns. Para a APPORT, um código tem os
seguintes objetivos:
1. Guiar os psicólogos na sua conduta,
 Princípios Éticos: pensamento, planeamento e resolução
 Procuram assim estabelecer como de dilemas éticos, ou seja, advoga a
proteger o bem-estar da variedade prática de uma ética reativa e
de públicos, como: proactiva;
 clientes/utentes/pacientes (das 2. Proteger os utentes e sujeitos dessa
diferentes áreas); atividade, indivíduo(s) ou grupo(s), de
estudantes; danos potenciais decorrentes do
 instituições; exercício da mesma;
 supervisores; 3. Preservar a manutenção da confiança
 empregados e empregadores; pública na prática e ciência
 participantes de investigações profissional;
(humanos ou animais); 4. Servir como base para o
 sociedade em geral; desenvolvimento de códigos de
 psicólogos; conduta e diretrizes mais específicas.
 Ex: - Normas e diretrizes específicas
das várias especialidades da psicologia. Princípio B: Competência
5. Assistir ao julgamento de queixas em
relação a psicólogos/as.  Os psicólogos têm obrigação de
 Um organismo responsável (...) exercer a sua prática profissional com
para investigar as alegações, base em conhecimentos técnicos e
julgar se o comportamento em científicos de modo a cumprir os
causa é aceitável e determinar que pressupostos de uma intervenção
procedimento corretivo a aplicar psicológica.
 (...) código fornece ajuda para  Na sua conduta profissional, o
realizar tal julgamento. psicólogo deve ter consciência das
suas necessidades específicas, sendo o
próprio o melhor juiz da sua
Princípios Deontológicos no uso dos competência.
testes e na avaliação psicológica – doc.
APPORT.
Princípio C: Responsabilidade
 Os princípios gerais, ao contrário dos
padrões éticos, são aspiracionais por  Os psicólogos devem estar conscientes
natureza: o seu intuito é o de guiar e das suas responsabilidades
inspirar os psicólogos no sentido dos profissionais e científicas para com a
mais elevados ideais éticos da sociedade, comunidades específicas e
profissão. salvaguardar o bem-estar da pessoa.
 Princípio A: Respeito pela  Devem avaliar o nível de fragilidade
dignidade e direitos da pessoa; dos seus clientes de forma a pautar as
 Princípio B: Competência; suas intervenções pelo respeito
 Princípio C: Responsabilidade; absoluto dignificando a sua atividade.
 Princípio D: Integridade;
 Princípio E: Beneficência e Não-
Princípio D: Integridade
Maleficência.
Princípio A: Respeito pela dignidade e direitos da  Os psicólogos procuram promover a
pessoa fidelidade, a honestidade e a
veracidade na ciência, ensino e
 Os psicólogos devem respeitar a prática da psicologia.
dignidade e os direitos de todas as  Nesta atividade os psicólogos devem
pessoas e de cada um e promover a prevenir e evitar os conflitos de
autonomia e autodeterminação do seu interesse pessoal, profissional e
cliente. institucional, dilemas ou pedidos não
 O psicólogo tem obrigação de olhar a razoáveis de clientes quando estes
pessoa como um ser único, diferente surjam e contribuir para a sua
de todos os outros, com vontade resolução tendo por base as suas
própria e sendo respeitada no seu obrigações profissionais.
contexto relacional.
 Devem eliminar os fatores que daí
podem surgir e não participar Princípio E: Beneficência e Não-Maleficência
intencionalmente ou condenando as
atividades dos outros baseados em  Os psicólogos procuram sempre o
preconceitos. benefício daqueles para quem
trabalham, evitando sempre ações 4. Avaliação Psicológica – Pretende que
que lhes possam ser nefastas. seja um processo compreensivo,
 Na sua conduta, os psicólogos tentam diversificado, justo, respondendo a
sempre assegurar o bem-estar e os necessidades objetivas de informação
direitos daqueles com quem e salvaguardando o respeito pela
interagem profissionalmente e outras privacidade da pessoa.
pessoas relacionadas, assim como o  Competência específica no uso de
bem-estar de animais envolvidos na técnicas e instrumentos. Exceções
investigação. ao consentimento informado para a
 Consentimento informado do cliente avaliação. Proteção e segurança de
antes de contactar colegas psicólogos materiais de avaliação. Entrevistas
que acompanharam anteriormente o de devolução dos resultados e
cliente. interpretações. Pedido de segunda
 Quando ocorrem conflitos opinião (relações profissionais).
relacionados com as obrigações e Com quem partilhar os resultados da
deveres do psicólogo, devem procurar avaliação psicológica?
resolvê-los de uma forma responsável 5. Prática e Intervenção Psicológica – A
e que evite ou minimize eventuais prática e intervenção psicológicas
situações danosas ao doente. devem ser um exercício informado,
rigoroso e responsável da Psicologia,
bem como o respeito pelas diferenças
Princípios Específicos individuais e consentimento
informado.
1. Consentimento Informado – O cliente
 Evidência científica. Competência
foi informado sobre o ato psicológico,
específica. Minorias culturais.
honorários, confidencialidade e
Relações múltiplas. Instalações.
limites éticos e legais e expressa o seu
Intervenção à distância. Honorários
acordo de uma forma livre. Pode a
e presentes.
qualquer momento interromper a
6. Ensino, Formação e Supervisão
relação profissional com o psicólogo.
Psicológica – Obedecem ao
2. Privacidade e Confidencialidade – O
cumprimento do Código
psicólogo tem o dever de garantir a
Deontológico.
privacidade e confidencialidade de
 Supervisão – consentimento
toda a informação em relação ao seu
informado, relações múltiplas
cliente, incluindo a existência da
7. Investigação – Os psicólogos devem
própria relação.
assegurar o bem-estar dos
 Privacidade dos registos (O que
participantes e ter em conta o
registar? Quem pode aceder? Tempo
princípio da responsabilidade social.
de guarda dos registos?) Limites da
 Não causar danos. Potenciais
confidencialidade? Trabalho em
riscos e benefícios da participação.
equipa? Caso de crianças ou grupos
Participação voluntária –situações
vulneráveis? Direito de escusa?
de participação em contexto de
3. Relações Profissionais – Os psicólogos
avaliação académica. Capacidade de
podem, e sendo conveniente,
consentimento. Esclarecimento pós
colaborar com outros profissionais.
–investigação obrigatório no caso
 Encaminhamento de clientes?
de usar o engano na investigação.
Autonomia profissional?
Responsabilidade profissional?
Comunicação de resultados. Crédito 4. Privacidade e Confidencialidade
autoral. 5. Divulgação e outras declarações
8. Declarações públicas - As públicas
declarações prestadas nos meios de 6. Registo de Atividades, Arquivos de
comunicação social ou noutro âmbito documentos e Honorários
devem ter por base o respeito pelas 7. Educação e Treino
regras deontológicas da profissão e os 8. Investigação e Publicação
princípios éticos. 9. Avaliação
 Competência. Responsabilidade. 10.Terapia
Casos particulares.

Processo de tomada de decisão


Ethical Principles of Psychologists and  6 passos orientadores:
Code of Conduct (APA, 2017)
1º Identificação o das questões eticamente
 Princípios gerais: relevantes  2º Cursos de ação  3º
 Princípio A: Beneficência e Não
Avaliação dos riscos e benefícios  4º
maleficência Escolha e implementação do curso de
 Princípio B: Fidelidade e
ação 5º Avaliação dos resultados  6º
Responsabilidade Assumir a responsabilidade pelas
 Princípio C: Integridade
consequências
 Princípio D: Justiça
 Princípio E: Respeito pelos direitos
e dignidade humana  (...) em processos de tomada de
decisão ética difícil consultem colegas
e/ou estruturas da Associação (...)
Princípio D: Justiça
 A complexidade do processo de
 Os psicólogos reconhecem que a tomada de decisão ética não permite
honestidade e a justiça permitem a uma hierarquização rígida dos
todas as pessoas ter acesso e beneficiar princípios éticos.
das contribuições de Psicologia, e de  POR EXEMPLO, quando o bem estar
igual modo receber a qualidade dos individual parece estar em conflito com
processos, procedimentos e serviços o benefício da sociedade.
que são conduzidos pelos psicólogos.  desejável encontrar um modo de
 Os psicólogos praticam julgamentos beneficiar a sociedade que não viole o
racionais e tomam precauções para respeito e a responsabilidade para
assegurar que os seus potenciais com as pessoas singulares.
juízos/viés, as fronteiras da sua  Em alguns casos, a resolução pode
competência e as limitações da sua depender da consciência pessoal.
experiência não levem ou justifiquem  resulta de um processo de decisão
práticas desajustadas. baseado num grupo coerente de
princípios que possam ser sujeitos a
escrutínio.
Regras de Ética
1. Resolução de Questões Éticas
Lei da Saúde Mental
2. Competência
3. Relações Humanas
 Estabelece os princípios gerais da  A realização de intervenção
política de saúde mental; psicocirúrgica exige, além do prévio
 Regula o internamento compulsivo consentimento escrito, o parecer
dos portadores de anomalia psíquica, escrito favorável de dois médicos
designadamente das pessoas com psiquiatras designados pelo Conselho
doença mental Nacional de Saúde Mental.
 Os direitos referidos nas alíneas c), d) e
e) do n.º 1 são exercidos pelos
Direitos e deveres do utente representantes legais quando os
doentes sejam menores de 14 anos ou
a) Ser informado, por forma adequada,
não possuam o discernimento
dos seus direitos, bem como do plano
necessário para avaliar o sentido e
terapêutico proposto e dos seus efeitos
alcance do consentimento
previsíveis;
b) Receber tratamento e proteção, no
respeito pela sua individualidade e
Internamento Compulsivo
dignidade;
c) Decidir receber ou recusar as Princípios Gerais:
intervenções diagnósticas e
1. O internamento compulsivo só
terapêuticas propostas, salvo quando
pode ser determinado quando for a
for caso de internamento compulsivo
única forma de garantir a
ou em situações de urgência em que a
submissão a tratamento do
não intervenção criaria riscos
internado e finda logo que cessem os
comprovados para o próprio ou para
fundamentos que lhe deram causa.
terceiros;
2. O internamento compulsivo só pode
d) Não ser submetido a
ser determinado se for proporcional
eletroconvulsivoterapia sem o seu
ao grau de perigo e ao bem
prévio consentimento escrito;
jurídico em causa.
e) Aceitar ou recusar, nos termos da
3. Sempre que possível o internamento
legislação em vigor, a participação em
é substituído por tratamento em
investigações, ensaios clínicos ou
regime ambulatório.
atividades de formação;
4. As restrições aos direitos
f) Usufruir de condições dignas de
fundamentais decorrentes do
habitabilidade, higiene, alimentação,
internamento compulsivo são as
segurança, respeito e privacidade em
estritamente necessárias e
serviços de internamento e estruturas
adequadas à efetividade do
residenciais;
tratamento e à segurança e
g) Comunicar com o exterior e ser
normalidade do funcionamento do
visitado por familiares, amigos e
estabelecimento, nos termos do
representantes legais, com as
respetivo regulamento interno.
limitações decorrentes do
funcionamento dos serviços e da
natureza da doença;
Pressupostos:
h) Receber justa remuneração pelas
atividades e pelos serviços por ele 1. O portador de anomalia psíquica grave
prestados; que crie, por força dela, uma situação
i) Receber apoio no exercício dos de perigo para bens jurídicos, de
direitos de reclamação e queixa. relevante valor, próprios ou alheios,
de natureza pessoal ou patrimonial, e  60% dependem dos valores, das
recuse submeter-se ao necessário variáveis individuais -
tratamento médico pode ser internado experiências, personalidade.
em estabelecimento adequado.
2. Pode ainda ser internado o portador
de anomalia psíquica grave que não  O tipo profissional de cada psicólogo
possua o discernimento necessário (qualidades pessoais, crenças,
para avaliar o sentido e alcance do conhecimentos, valores e experiências
consentimento, quando a ausência de de vida) moldam a identidade do
tratamento deteriore de forma mesmo (intimamente ligada à
acentuada o seu estado identidade individual e à identidade
social)
Legitimidade
Características/traços pessoais que
1. Tem legitimidade para requerer o influenciam positivamente o desenrolar
internamento compulsivo o da prática psicológica
representante legal do portador de
anomalia psíquica, qualquer pessoa A. Bem-estar: a capacidade e o interesse
com legitimidade para requerer a sua em promover o bem-estar do outro
interdição, as autoridades de saúde  Intencionalidade – disposição da
pública e o Ministério Público. minha personalidade em promover
2. Sempre que algum médico verifique no o bem-estar no outro,
exercício das suas funções uma independentemente daquilo que
anomalia psíquica com os efeitos sabemos acerca do sujeito.
previstos no artigo 12.º pode  Ajudar os outros não envolve
comunicá-la à autoridade de saúde somente o dar apoio, mas levar o
pública competente para os efeitos do sujeito a procurar caminhos
disposto no número anterior. alternativos, com o objetivo de
3. Se a verificação ocorrer no decurso de atingir o bem-estar.
um internamento voluntário, tem B. A habilidade de estar presente para
também legitimidade para requerer o os outros
internamento compulsivo o diretor  Estar presente na experiência de
clínico do estabelecimento dor e alegria.
C. Reconhecer e aceitar o próprio poder
pessoal
O psicólogo enquanto pessoa e profissional  Qual o nosso poder face ao outro?
 Consciência que podemos exercer
 Para além das técnicas e dos saberes uma ENORME influência, de
 o psicólogo transporta os seus forma direta, sobre o
valores, cognições e características comportamento e as atitudes do
pessoais (qualidades humanas, outro.
experiências pessoais, traços de  O psicólogo deverá tomar
personalidade). consciência do seu poder 
 Segundo Frank (1991) num contexto de Ajudar os pacientes a descobrir a
consulta ou de psicoterapia: sua própria autonomia e
 40% das transações dos conteúdos competência.
derivam do saber e da técnica –  Reconhecer o nosso poder face ao
formação; outro
 maior controlo das nossas J. Sentido de humor, sem humilhar ou
comportamentos, atitudes e gozar com o cliente. Tem a função de
opiniões; fortalecer a relação
 maior cautela na transmissão de  Sucesso da relação psicoterapêutica
determinados conceitos, atitudes, depende em 60% destas variáveis
opiniões, sugestões, … (Frank, 1991).
D. Desenvolver um estilo pessoal
enquanto psicólogo/a
 Envolve a identidade pessoal.  Tomada de consciência que os seus
E. Promover uma vulnerabilidade e conflitos pessoais, defesas e
autoabertura face a novas vulnerabilidades podem interferir no
perspetivas, opiniões e atitudes trabalho com o Outro  Exercício de
 Idiossincrasia tomada de consciência da sua própria
 Promover abertura personalidade
individual/pessoal capacidade
em integrar a diferença
 um dos principais objetivos do Benefícios da atividade de Psicólogo/a
psicólogo é promover estas
1. Pertencer a uma classe social;
capacidades no cliente/paciente.
2. Participar nas mudanças da
 deve estar apto a trabalhar com
personalidade dos outros (ex.: eu fiz
diferentes tipos de personalidade,
parte de um processo de mudança);
de atitudes, de opiniões,…
3. Manter relações fortes/profundas
F. Autorrespeito: reforçando as mais
com as pessoas;
valias pessoais sem sobrevalorizar
4. Ter o prazer de ajudar o outro a
excessivamente os insucessos.
encontrar caminhos alternativos
G. Psicólogo como modelo: Consciência
mais eficazes;
que funciona como um modelo para o
5. A terapia é uma oportunidade para
outro (relacionada com a questão da
o psicólogo se autoavaliar (ou
influência/poder).
autovalidar);
 Este terá a perceção que existe
6. Entre outros..
alguém com quem se pode
identificar.
 aumenta as probabilidades de
Quando o/a psicólogo/a tem uma
sucesso da intervenção.
postura de:
H. Capacidade para aceitar e expressar
todos os equívocos/erros decorrentes  alguém que se considera indispensável
da sua ação. para o outro,
 Quando erra deve  alguém que deve resolver os
assumir/expressar claramente que problemas do outro,
errou;  alguém que pensa que resolve os
 Não deve usar mecanismos problemas do outro,
defensivos;  alguém que dá as respostas concretas
 Ser honesto. como o outro deve agir,
I. Orientação para a autorrealização e  traduz uma necessidade que o
crescimento, não só face aos conceitos psicólogo tem de aceitação e de
teóricos, mas também face à sua admiração.
personalidade.
 potencia a dependência no Cinco indicadores do processo de
cliente/paciente porque projeta transferência:
neste as suas necessidades,
1. Quando o psicólogo é visto como a
essencialmente a validação
pessoa ideal ou um ser perfeito.
pessoal.
Problema ético: se utiliza o cliente
Trabalho em benefício do meu cliente ou para validar o seu ego (devido a uma
para o meu próprio benefício? influência da personalidade ou do
comportamento do psicólogo).
 Podendo originar uma relação de forte
2. Quando o cliente perceciona o
dependência:
psicólogo como o expert, o que sabe
 potencia a criação do fenómeno de
tudo, aquele que tem as respostas
transferência;
certas (pode ser uma iniciativa isolada
 potencia a projeção no outro das
do cliente ou despoletada pela
necessidades do psicólogo –
personalidade do psicólogo).
contratransferência
 Problema ético: dependência;
diminui o sentido de
responsabilidade e a autonomia.
Os processos de Transferência e
3. Quando o psicólogo é visto como o
Contratransferência
cuidador: atuam no papel de
 Transferência desamparado, desprotegido, e
 Contratransferência sentem-se como se não pudessem agir
1. Estes dois processos ocorrem de uma por eles próprios. Podem mesmo
forma universal em todas as relações procurar ser tocados ou abraçados
humanas (Gelso & Cárter, 1985, cit. in pelo psicólogo.
Corey et al., 1988).  Problema ético: dependência;
2. Intimamente relacionados com as diminui o sentido de
questões de identificação. responsabilidade, autonomia e
3. As implicações éticas não é a individuação – contraproducente
existência destes dois processos mas a para o processo de construção
forma como o psicólogo lida ou tenta individual, para o processo de
lidar com eles. autonomia.
4. Quando o cliente vê o psicólogo como
Transferência: alguém que serve para validar as suas
 é o processo inconsciente pelo qual os opiniões e atitudes: é defensivo,
clientes projetam no psicólogo os seus cauteloso, reservado e poderá estar
sentimentos e atitudes, que possuem constantemente a testar o psicólogo.
em relação a pessoas significativas das Significa que o cliente só aceita
suas vidas (amor, raiva, ódio, medo, trabalhar com o psicólogo se estiver
ambivalência, dependência, entre de acordo com o que ele diz.
outros).  Problema ético: validação do
 quando o cliente toma o eigenwelt (mundo próprio) do
comportamento do psicólogo como cliente.
modelo e age sempre de acordo com o 5. Quando o cliente vê o psicólogo como
mesmo; alguém que não tem identidade,
 pode ser desencadeado pela desejos, necessidades ou problemas.
personalidade do psicólogo. Alguém que funciona sempre numa
vertente técnica, como uma 2. Necessidade constante de reforço e
“máquina”. aprovação
 Quando o psicólogo não se envolve,  O psicólogo procura criar um
quando se fecha, o cliente não se ambiente em que o cliente está
sente envolvido, não se identifica sempre a agradecer, a mostrar
com o psicólogo e torna-se uma agradabilidade do seu trabalho.
relação muito distante.  o psicólogo não irá confrontá-lo,
 Problema ético: pouco nem entrar em conflito para obter
envolvimento do cliente e obriga o apenas reforços positivos;
psicólogo a tomar consciência da  impede/inibe o técnico de
sua personalidade, motivações e introduzir o conflito, disputa de
necessidades. falsas crenças.
 o psicólogo deverá ter consciência 3. Rever-se no cliente
das suas próprias necessidades,  torna-se um problema ético
motivações e reações pessoais. quando o psicólogo identifica-se de
tal forma com os problemas do
Caso contrário:
cliente que perde a objetividade.
 Menor qualidade do seu desempenho Torna-se incapaz de separar os
profissional; seus sentimentos dos sentimentos
 Foca-se nestes aspetos da do cliente..
transferência, no decurso da terapia,  poderá ocorrer igualmente que o
em vez de ajudar os clientes a resolver psicólogo veja nos pacientes
os seus conflitos, problemas traços/características que não
gosta em si.
4. Desenvolvimento de sentimentos
Contratransferência românticos ou sexuais pelo cliente,
 É o processo inconsciente pelo qual o vice-versa ou mútuos
psicólogo se projeta no cliente, isto é,  o problema não está nos
quando lhe atribui reações emocionais sentimentos de atração, mas como o
e atitudes semelhantes às quais o psicólogo lida com eles.
psicólogo mantém na sua vida  os sentimentos podem ser
privada. implícitos (sente, mas não expressa)
 Torna-se um problema ético quando ou explícitos (sente e expressa).
as necessidades e os conflitos pessoais 5. Postura compulsiva em fornecer
do psicólogo são de tal ordem conselhos
irresolúveis que fazem perder a  posição muitas vezes reforçada
objetividade na prática psicológica. pelo cliente que representa o
psicólogo como alguém que tem
Seis indicadores de Contratransferência uma resposta imediata e certa para
1. Superproteção os seus problemas pessoais.
 perceção do cliente como frágil e  o psicólogo ocupa uma posição da
totalmente incapaz de tomar as superioridade e é visto como o
suas próprias decisões; detentor da verdade.
 protege-o de experienciar dor e 6. Desejo de desenvolvimento de
ansiedade. relações sociais com os pacientes.
 dependência do cliente;
passividade.
Os direitos do cliente  promover o sentido de autonomia,
responsabilidade e capacidade de
 Qual o papel do psicólogo
tomada de decisão;
relativamente aos direitos do cliente?
 consciência do que esperam dele e o
 informar os clientes acerca dos
que esperar do psicólogo – gestão de
seus direitos e responsabilidades.
expetativas;
 Poderá o psicólogo prometer ao  compromisso do psicólogo com o
cliente que tudo o que ele disser é cliente;
confidencial?  prevenir questões éticas.
 consciência das questões éticas e
legais relativamente à  3 aspetos cruciais
confidencialidade e quais os seus
1. Capacidade do paciente em tomar
limites.
decisões conscientes.
 o psicólogo tem o dever de
 caso esta capacidade esteja
proteger o cliente e os outros que
comprometida, deverá ser um
podem ser diretamente afetados
familiar ou tutor legal assumir
por ele.
a responsabilidade do
consentimento informado;
2. Compreensão da informação: o
Direito ao Consentimento Informado
psicólogo deverá transmitir a
 desenvolvimento de procedimentos de informação de forma clara e
forma a ajudar o paciente a fazer certificar-se que o paciente
escolhas/ opções informadas. compreendeu.
 (…) entende-se por consentimento  benefícios e riscos do processo;
informado a escolha de  risco de abandonar a terapia;
participação voluntária do cliente  alternativas ao processo;
num ato psicológico, após ser-lhe 3. Voluntarismo: o paciente consente
dada informação sobre a natureza em entrar livremente no processo
e curso previsível desse mesmo ato, de tomada de decisão (terá de estar
os seus honorários (quando psicologicamente e legalmente
aplicável), a confidencialidade da capaz de dar este consentimento).
informação dela decorrente, bem
como os limites éticos e legais da  Informações que devem ser
mesma. Esse consentimento transmitidas ao cliente:
significa que é reconhecida à pessoa  circunstâncias que podem afetar as
a capacidade de consentir, que esta decisões do cliente em
foi informada apropriadamente aderir/propor-se a um processo
quanto à natureza da relação terapêutico.
profissional, e que expressou o seu  responsabilidades do psicólogo face
acordo livremente. (…) o direito ao cliente.
geral de iniciar e de interromper  possibilidade de uma hospitalização
ou terminar, em qualquer involuntária.
momento, a relação profissional  possibilidade de ser forçado a ser
com o psicólogo (CDOPP, 2011). submetido a certos tratamentos
 Objetivos médicos e terapêuticos.
 objetivos da confidencialidade e
privacidade.
 possibilidades de sucesso e limites  outros sistemas de ajuda: terapias,
da intervenção. associações, atividades, linhas de
atendimento, apoio.

1. Processo terapêutico
Premissa:
 Informar acerca dos objetivos e
técnicas – ideias gerais, mas claras,  Os clientes estão profundamente
acerca dos procedimentos e envolvidos na relação interpessoal e
objetivos, das possibilidades de têm o direito de esperar que tudo o que
mudança, custos pessoais, como eles disserem será mantido em
por exemplo o aumento da privado.
consciência poderá causar elevados  Se procurarmos desenvolver o
níveis de dor e ansiedade, e sentimento de confiança e de
financeiros, … abertura, temos o dever e obrigação
2. Serviços prestados e experiência ética de manter a confidencialidade
profissional Informar caso a das relações e das transações de
intervenção seja assumida por um conteúdo.
psicólogo em formação.  Contudo, existem circunstâncias em
3. Custos da terapia que a confidencialidade pode ser
4. Duração da terapia quebrada.
 Complexidade do caso;  Confidencialidade – responsabilidade
 A decisão última do término do ética dos profissionais de saúde mental
processo terapêutico será sempre em proteger e salvaguardar os
do paciente. clientes da divulgação não autorizada
5. Consultoria com outros profissionais de informação dada no processo e
 privacidade da sua identidade contexto terapêuticos.
6. Direito a aceder a relatórios e a
registos Código deontológico da OPP (2011):
7. Direito de refutar e discutir um  “Os psicólogos têm a obrigação de
diagnóstico ou categorização clínica assegurar a manutenção da
 partilhar a privacidade e confidencialidade de
informação/diagnósticos com toda a informação a respeito do seu
clientes, instituições, como escolas, cliente, obtida direta ou
tribunais, seguradoras, … indiretamente, incluindo a existência
8. Sessões gravadas ou filmadas da própria relação, e de conhecer as
 dar a conhecer e explicar todo o situações específicas em que a
procedimento, como serão usadas, confidencialidade apresenta algumas
quem terá acesso a elas, … limitações éticas ou legais”.
 direito à recusa.
9. Relações interpessoais American psychological association – apa
 atendimento a pessoas conhecidas – (2003):
ou familiares;  “Os psicólogos têm a obrigação
 importância da “distância
primordial em respeitar a
terapêutica” e da objetividade. confidencialidade da informação
10.Alternativas terapêuticas obtida de uma pessoa no decurso do
seu trabalho como Psicólogos. A
informação somente deve ser revelada
com o consentimento do cliente ou do  Importante salientar que o privilégio
seu representante legal, exceto nas pertence ao cliente e existe para a sua
circunstâncias em que a não revelação proteção, não para a proteção do
resulta num claro perigo para o cliente terapeuta.
ou outras pessoas. Oportunamente, os
Limites da comunicação privilegiada:
Psicólogos informam o cliente acerca
dos limites legais da confidencialidade”  numa perícia judicial – ex.: numa
 Privacidade - A liberdade dos avaliação psicológica. o quando
indivíduos em por eles próprios psicólogo faz uma avaliação de um
escolher o momento e as provável risco de suicídio.
circunstâncias, assim como a  quando o cliente inicia um processo
extensão, em que as suas crenças, contra o terapeuta, por exemplo por
comportamentos e opiniões são má prática profissional.
partilhadas com os outros (Siegel,  quando o cliente é menor e é vítima de
1979). um crime – ex.: abusos, maus-tratos.
Código deontológico da opp (2011): quando o/a psicólogo/a determina que o
cliente necessita de hospitalização por
 “Os psicólogos recolhem e registam perturbação mental ou psicológica.
apenas a informação estritamente  quando a informação é dada num
necessária sobre o cliente, de acordo contexto de processo judicial.
com os objetivos em causa”.  quando o paciente revela a sua
American psychological association – apa intenção de cometer um crime ou
– (2003): quando podem ser avaliados como
perigosos para a sociedade ou para
 A informação obtida (…) é discutida eles próprios.
somente em contextos que tenham fins
exclusivamente profissionais e com Quais as circunstâncias em que se quebra
pessoas que conheçam a problemática a confidencialidade?  Não há uma
do cliente em causa. Os relatórios resposta absoluta para esta pergunta.
escritos ou orais apresentam apenas Contudo, o psicólogo deverá revelar
os dados importantes para serem certas informações quando:
avaliados e todo o esforço é feito para
evitar a invasão da privacidade  provocar risco de danos para o
cliente;
 há uma situação em que o cliente se
Comunicação privilegiada poderá tornar um perigo para si e
para os outros;
 É um direito legal que protege o  quando o próprio cliente pede a
cliente de não ser revelada anulação da confidencialidade;
informação confidencial num  quando o tribunal requer informação
procedimento legal, sem a sua relativa à relação terapêutica.
autorização.
 Nos E.U.A, o cliente adquire autoridade
legislativa - adquire autoridade em O dever ético de proteger o cliente
decidir se a informação será divulgada
ou não.  Dever de proteger as outras pessoas
de pacientes potencialmente perigosos
e os pacientes de si próprios, por
exemplo, no comportamento de  já não fala tanto nisso, não
suicídio. verbaliza, não expressa
 já é uma coisa adquirida;
1. Dever de proteger potenciais vítimas  já não pede ajuda.
 Normalmente, o psicólogo incorre  Explorar os planos e as fantasias
em questões éticas (de certo modo suicidas, porque há planos sem
graves) quando: lógica
 não diagnostica corretamente a E. Se tem comportamento alcoólico ou
perigosidade do cliente; abuso de drogas.
 não avisa as potenciais vítimas  Aumenta o risco de suicídio de 1/3
do comportamento perigoso do a 1/4 dos casos.
cliente; F. Estar atento aos chamados
 confia em pacientes perigosos; comportamentos de finalização:
 dá altas prematuramente a  quando os sujeitos se despedem dos
pacientes perigosos. amigos,
 quando se afastam de coisas
Procedimentos: Counseling center
pessoais, rever os amigos
procedures for dealing with threats &
 Muito associado à alínea D) – já está
Issues and ethics in the helping professions
o plano orquestrado
2. Dever de proteger pacientes suicidas G. Género masculino. Segundo Pope,
 o psicólogo tem obrigação ética em através de estudos epidemiológicos, o
proteger o cliente de si próprio suicídio é três vezes mais bem
sucedido no homem.
Linhas gerais/guia que possibilitam
H. Viver sozinho.
diagnosticar o comportamento suicida
 Nos E.U.A., ocorre o dobro dos
 Comportamento de alerta é o suicídios em indivíduos solteiros.
comportamento que normalmente leva I. Desemprego.
o sujeito ao suicídio (Fugimuna, 1985; J. História de internamento ou
Pope, 1986) tratamento psiquiátrico.
A. Expressões verbais diretas e abertas K. Clientes sem uma boa rede social de
(dizer que se quer matar). apoio.
B. Tentativas prévias de suicídio: 80%  Relaciona-se com a alínea H. Além
dos suicidas já tentaram pelo menos da existência, avaliar a qualidade.
uma vez
Importante:
C. Diagnóstico claro de depressão:
 Pelo menos, 20% de maior  O psicólogo deve conhecer todos os
probabilidade. mecanismos e procedimentos comuns
 Estar atento a, por ex., a utilizar para prevenir o suicídio
dificuldade ao nível do sono, (internamento).
desesperança, desespero,  Não tomar o caso sozinho - trabalhar
autoconceito e autoestima baixos, se possível em equipa ou pedir
D. Indagar ou investigar se tem um opinião a outros profissionais.
plano de suicídio:
 quanto mais claro e definitivo for o
plano, mais séria será a situação. Valores do psicólogo
 Quando a pessoa já tem um plano
Valores
definitivo:
 Etimologicamente a palavra provém de  Propõe um conjunto de 10 valores base
“valere”, ou seja, o que tem custo ou que se encontram distribuídos numa
valor. matriz em função da proximidade ou
 Podem ser considerados como distância entre si
internalizações de representações ou  Não é aconselhável que o psicólogo
crenças morais, que regulam o coloque de parte os seus valores na
indivíduo e o guiam nas suas ações prática profissional.
 Conceito ligado à noção de preferência  Os valores são intrínsecos e difíceis de
ou de seleção dissociar e fazem parte da nossa
 Das várias definições propostas, forma de estar e agir, influenciando
constatam-se algumas caraterísticas direta e indiretamente o nosso
frequentemente utilizadas para definir comportamento, quer a nível pessoal
valores, nomeadamente: como profissional.
1. Os valores são crenças, indissociadas  Os psicólogos devem refletir acerca do
muitas vezes das emoções. seu quadro de valores e de que forma
2. Os valores são uma constructo estes podem colidir clientes (Corey et
motivacional – metas desejáveis que al., 2015)
as pessoas se esforçam para alcançar  Seymour (1982) refere que devemos
3. Os valores transcendem ações e estar cientes, admitir, e tentar
situações específicas – são objetivos compreender totalmente o impacto
abstratos. dos [nossos] valores pessoais
 Diferente de normas e atitudes, que
geralmente se referem a ações
específicas, objetos ou situações. Relações duais, gestão de limites e
4. Os valores orientam a seleção ou a conflitos de interesse
avaliação de ações, políticas, pessoas
Relações duais
e eventos. Ou seja, os valores servem
como padrões ou critérios.  Uma relação dual ou múltipla ocorre
5. Os valores são ordenados por quando o psicólogo assume dois ou
importância - sistema ordenado de mais papéis, simultânea ou
prioridades de valor que nos sequencialmente, junto de um cliente
caracterizam como indivíduos ou de alguém que lhe é próximo.
 Várias relações podem ocorrer quer
durante a intervenção ou depois da
 São adotados pessoal e socialmente relação terapêutica ter terminado (Zur,
numa conduta que tende a persistir e a 2014).
durar ao longo da vida.  Os papéis em causa podem ser apenas
 Base dos nossos compromissos e lutas profissionais (e.g., terapeuta e colega
pois expressam os sentimentos e os de trabalho) ou envolver uma
propósitos da vida de cada um. combinação com papéis não
 Diferentes posições discutem se os profissionais (e.g., terapeuta e amigo
psicólogos deverão trazer para a prática da esposa).
da psicologia os seus próprios valores.  As relações múltiplas podem ser de
 Schwartz (1992, 1994) elaborou uma vários tipos, incluindo as de natureza
teoria de valores humanos, conhecida e sexual, social, familiar, institucional,
validada em mais de 50 países. financeira ou de negócios; e podem
ocorrer entre terapeuta e clientes, c.estabelece outra relação no futuro
estudantes ou supervisionandos. com o paciente ou uma pessoa
aproximada deste.
Relações múltiplas - OPP
 O psicólogo restringe-se de entrar
5. Prática e intervenção psicológicas numa relação múltipla se esta não vier
5.8. Relações múltiplas. Os psicólogos não a melhorar a objetividade, a
devem estabelecer uma relação competência ou efetividade no
profissional com quem mantenham ou desempenho das suas funções como
tenham mantido uma relação prévia de psicólogo, ou arrisca a explorar ou
outra natureza. Do mesmo modo, não causar dano ao paciente com o qual
devem desenvolver outro tipo de tem uma relação profissional
relações com os seus clientes ou com A ética das relações duais
pessoas próximas dos seus clientes. Em
qualquer circunstância a relação  Os vários códigos de ética advertem
profissional deve ser salvaguardada em para os potenciais problemas de uma
relação a qualquer outra entretanto relação múltipla advertindo contra
estabelecida, sendo os psicólogos qualquer envolvimento que possa:
 Prejudicar o julgamento e a
responsáveis por qualquer prejuízo que
possa vir a ocorrer nesse contexto. objetividade;
 Afetar a capacidade de prestar
6. Ensino, formação e supervisão serviços eficazes;
psicológicas  Resultar em prejuízo ou em
6.7. Relações múltiplas. Os docentes, exploração dos clientes.
formadores, supervisores ou  Todavia, as relações múltiplas não-
orientadores não se envolvem em sexuais não são não éticas, a não ser
relações românticas ou sexuais com os que explorem ou prejudiquem o
estudantes, formandos, supervisionados cliente (Corey et al., 2011).
ou estagiários com os quais possam ser Diferentes perspetivas
uma autoridade em termos avaliativos. Do
mesmo modo, devem evitar outro tipo de  Zur (2008) considera que as relações
relações que possam diminuir a múltiplas são comuns, inevitáveis e
objetividade do processo de avaliação. normais em muitos contextos.
 Zur (2011) concebe as relações duais
Relações múltiplas - APA como casos particulares de quebra de
3. Relações humanas limites - “Boundary crossings” - uma
vez que implicam desvios do quadro
3.05 .Relações múltiplas habitual de intervenção, podendo
 Uma relação múltipla existe quando configurar:
o/a psicólogo/a: i. Abusos - casos em que passam a
a. estabelece um papel profissional considerar-se violações dos limites;
com o cliente e ao mesmo tempo ii. Meros incidentes com
tem outro papel com mesma consequências variáveis;
pessoa; iii. Parte integrante e intencional de
b. tem uma relação com uma pessoa uma intervenção eficaz, em que os
próxima daquela com quem o implicados devem estar conscientes
psicólogo tem uma relação dos novos contornos da relação, e
profissional;
clarificar os seus papéis e os escolares e alunos/as (recreio, festas
objetivos da intervenção. escolares, visitas de estudo).
 Já Herlihy e Corey (2006) concluem  Na opinião de Orchin (2004), uma
que não existe um claro consenso em sessão fora do setting terapêutico,
relação às relações múltiplas não- pode ser uma maneira apropriada
sexuais. de criar rituais para marcar
 As relações duais têm sido olhadas transições, celebrar as conquistas,
com prudência e, genericamente, e incentivar a transformação do
tendem a ser desencorajadas nos cliente.
códigos de ética das diversas profissões  Também segundo Zur (2008) existem
ligadas à saúde mental e devem ser vantagens das experiências fora do
evitadas, a não ser que haja alguma contexto terapêutico, tais como as
justificação clínica. visitas domiciliárias, terapia em
 Os motivos principais parecem ser o contexto aventura e/ou outdoor (e.g.,
risco de que o diferencial de poder acompanhar viagem de avião num
inerente à relação terapêutica e à cliente com fobia a aviões)
situação de vulnerabilidade de quem a  Segundo Corey et al. (2011) estas
procura potenciem violações dos situações de realização de atividades
limites terapêuticos – tais como, a não tradicionais com os clientes
exploração do cliente em termos devem ser devidamente informadas e
sexuais e/ou comerciais discutidas aquando da realização do
consentimento informado.
Serão todas as relações duais
Violações de limites vs Quebra de limites
prejudicais?
 Violações de limites - “Boundary
 As relações duais não são, por si só,
violations”
prejudiciais e não constituem má
 As relações duais que envolvem
prática; ao contrário, o inadequado
relações sexuais e de exploração
uso do “poder”, prejudicando,
são consideradas violações graves
causando dano ou explorando o cliente
de limites (APA, 2002; Zur, 2014).
não é ético
 São sempre prejudiciais para o
 Em certas circunstâncias, podem ser
cliente e, por consequente, são
admitidas com baixo risco ou mesmo
antiéticas e representam más
com vantagens para a intervenção,
práticas profissionais
mas devendo ser evitadas quando
 Violação de limites ≠ quebra de
desnecessárias e, principalmente,
limites.
sempre que exista motivo para crer que
possam ser prejudiciais
 Quebras de limites -“Boundary
 As relações múltiplas frequentemente,
crossings”
decorrerem do desejo explícito ou
 Traduzem-se em alterações no
implícito do cliente e da vontade
papel profissional.
genuína do profissional de ajudá-lo,
 As quebras de limites podem ser
transporta o problema para lá do
benéficas para o cliente, em certas
plano meramente ético ou deontológico,
circunstâncias (Orchin, 2004; Zur,
remetendo para as dinâmicas
2008):
transferenciais e contratransferências.
 Exemplo: Encontros fora do setting
terapêutico entre psicológos/as
 Relações múltiplas de natureza desconfortos inerentes à quebra de
romântica ou sexual com clientes em limites com os clientes.
terapia são sempre antiéticas e  Diferentes formas de relações
causam graves danos ao cliente múltiplas
B. Troca pelos serviços profissionais
Tomar decisões sobre relações
 Quando um cliente é incapaz de pagar
múltiplas...
a terapia, é possível que possa existir
 Gottlieb e Younggren (2004) um acordo de troca, troca de bens ou
recomendam que os profissionais serviços em vez de valores monetários.
reflitam acerca das seguintes questões  A troca deve ser avaliada dentro de
antes de tomar decisões sobre relações um contexto cultural, dado que em
múltiplas: algumas culturas, e especialmente,
 Iniciar um relacionamento, além do em meios rurais, a troca é uma
profissional é necessário, ou devo prática aceitável.
evitá-lo? - Avaliar a necessidade da  A troca deve ser satisfatória para
relação dual. ambas as partes.
 Pode a relação múltipla causar danos  Seria capaz de aceitar uma colcha
ao cliente? – Avaliar os riscos. feita pela sua cliente que não tendo
 Há algum risco da relação múltipla como pagar a terapia e sentindo um
interferir na relação terapêutica? – grande desconforto com essa
Avaliar os riscos. realidade, insiste em oferecer-lha?
 Se parece improvável causar danos, ✓ Esta pode ser uma forma de manter
será a relação adicional benéfica? - a dignidade da pessoa.
Avaliar os benefícios.  Segundo o código deontológico da
 Posso avaliar esta questão APA (2002):
objetivamente? – Refletir sobre a
sua capacidade para ser objetivo. 6.05. Permutar com clientes. Permutar é a
 Qual o parecer de outros/as colegas? aceitação dos bens, serviços, ou outras
– Consultar os colegas remunerações não monetárias dos
clientes em troca de serviços
Diferentes formas de relações múltiplas psicológicos. Os psicólogos poderão
A. Gestão das relações múltiplas em permutar apenas se isso (1) não for
pequenas comunidades clinicamente contraditório, e (2) o
 Os profissionais que trabalham em resultado do acordo não for explorativo.
pequenas comunidades, incluindo as C. Dar ou receber presentes
comunidades rurais, muitas vezes tem
de misturar vários papéis e funções  São poucos os códigos éticos e
profissionais - ser psicólogo, vizinho, deontológicos que se referem ao dar e
amigo, ser cliente de mercearia, ser receber presentes no âmbito da relação
doente do médico do centro de saúde terapêutica. A maioria dos autores
que é seu cliente, etc... prefere avaliar individualmente estas
 Nestas circunstâncias, podemos situações ao invés de estabelecer regras
considerar que a relação múltipla é gerais.
evitável?  É consensual que pode ser
 Em pequenas comunidades, o problemático aceitar presentes em
profissional deve antecipar a fases iniciais do processo terapêutico
frequência, e até os possíveis
dado que pode ser um precursor para terapêutica incluem: surpresa, culpa,
a criação de limites débeis. ansiedade, medo de perder o
 Todavia, em algumas culturas, controle, medo de ser criticado,
pequenos presentes são sinal de confusão sobre limites, funções e
respeito e demostram gratidão ações.
D. Relações sociais com clientes ou ex-  Haverá alguma distinção entre o
clientes psicólogo se sentir sexualmente atraído
 São poucos os códigos éticos e pelo cliente e estar preocupado com
deontológicos que se referem às essa atração?
relações sociais com os clientes ou ex-  Há diferença entre sentir uma
clientes. atração sexual pelo cliente e estar
 Será que as relações sociais com preocupado com essa atração.
clientes interferem necessariamente  Importância de monitorizar esses
com a relação terapêutica? sentimentos - se ocorrem
 A maioria dos autores defende que o frequentemente, será necessário
acompanhamento psicológico e a discuti-los no âmbito da terapia
amizade não devem coexistir e que pessoal ou da supervisão.
aceitar amigos como clientes ou  Terapeutas que tenham dificuldade
envolver-se socialmente com clientes em estabelecer limites apropriados
pode ter um efeito negativo no na sua vida pessoal, estão mais
processo terapêutico, na amizade, ou propensos a deparar-se com
em ambos. problemas no estabelecimento
 Estabelecer uma relação de amizade adequado de limites com os
com ex-clientes pode impossibilitar, clientes.
no futuro, e se necessário a realização  Para minimizar a probabilidade de
do acompanhamento profissional. transgressões sexuais, implica que o/a
E. Atrações sexuais na relação cliente- terapeuta:
terapeuta  Aprenda a reconhecer as atrações
 Serão as atrações sexuais expectáveis sexuais e de que forma deve lidar
em terapia? com esses sentimentos de forma
 Um estudo pioneiro sobre o tema, Pope construtiva.
et al. (1986) concluiu que:  Conheça a diferença entre ter uma
 Somente 13% terapeutas nunca atração sexual e atuar em
tinham sido atraídos por qualquer conformidade com essa atração.
cliente.  Termine a relação terapêutica
 A maioria (82%) nunca havia quando os sentimentos sexuais
considerado o envolvimento sexual ocorrem objetivamente
real com o cliente. F. Contato sexual com clientes e ex-
 A maioria (93,5%) relataram nunca clientes
ter tido relações sexuais com os seus  A questão do contacto erótico em
clientes. terapia não é uma simples questão de
 A tendência para tratar esse assuntos ter ou não ter relações sexuais com um
como tabu torna difícil para os cliente.
terapeutas reconhecer e aceitar  Os terapeutas podem:
atrações para com os clientes  Ter fantasias sexuais com os seus
 As reações mais comuns dos clientes;
terapeutas perante a atração na relação  Seduzir os clientes;
 Influenciar os clientes a focarem-se  Julga que valerá a pena o risco de tocar
em sentimentos sexuais em relação os/as clientes?
a eles/as;  Apesar de ser uma das mais
 Estabelecer aproximações e controversas formas de “quebra de
contatos físicos. limites”, o contato físico é muitas
 Pode ser também considerado uma vezes apropriado e pode ter valor
violação da lei. terapêutico significativo
 As consequências mais comuns nos  O toque do psicólogo pode ser uma
clientes perante o envolvimento sexual expressão genuína de carinho e
com o/a terapeuta são devastadoras e compaixão, ou pode ainda ser uma
incluem: falta de confiança no sexo forma de satisfazer necessidades
oposto e na psicoterapia, depressão, próprias do terapeuta.
raiva, devastação, rejeição,  A necessidade do toque deve ser
sentimentos de exploração e/ou avaliado tendo em conta: o cliente,
abandono. o setting profissional, a orientação
 As características do/a profissional teórica do psicólogo e a qualidade
que inicia contatos sexuais com da relação terapêutica.
clientes remete-nos para a existência de  O toque deve ser um ato
um ou mais problemas pessoais: espontâneo, uma forma de
vulnerabilidade, crises na sua vida expressar suporte emocional e uma
pessoal a nível sexual ou afetiva, honesta expressão dos sentimentos
sentimentos de fracasso, necessidade do psicólogo.
de amor, dificuldade de controlar Conflitos de interesses
impulsos, isolamento, depressão, etc...
 O contato sexual entre psicólogos e  De acordo com o códido
clientes é visto como claramente deontológico da OPP (2011):
antiético e sinónimo de má prática 5.Prática e intervenção psicológicas
profissional.
 Todos os códigos de ética profissional 5.7. Conflitos de interesse. Os psicólogos
contemplam proibições específicas ao devem prevenir e evitar eventuais
contato sexual com clientes: conflitos de interesse.
 5.9. Relações românticas ou sexuais.
 De acordo com o código de ética da
Os psicólogos não se envolvem em APA (2002):
relações românticas ou sexuais 3.relações humanas.
com os clientes (OPP, 2011). 3.06. Conflitos de interesses. Os
 10.05. Intimidades sexuais com
psicólogos restringem-se a
clientes ainda em terapia. Os desempenharem um papel
psicólogos não se envolvem profissional quando interesses ou
sexualmente com clientes em relações pessoais, científicas,
terapia (APA, 2002). profissionais, legais ou financeiras
G. Contactos físicos não eróticos com os podem: (1) danificar a sua
clientes objetividade, competência ou
efetividade no desempenho das suas
 Será que o contato físico com os/as funções como psicólogo; (2)
clientes é apropriado, podendo ter um danificar a sua relação
valor significativo? profissional, expondo o paciente
ou a organização.
 Exemplos de conflitos de interesse  Na psicoterapia, a relação psicólogo-
que dão origem a problemas éticos: cliente adquire características
 Quando o psicólogo usa em seu particulares e constitui a base da
benefício o papel de cuidador dado prática profissional.
pelo cliente, criando assim,  Apesar das diferentes abordagens
dependência emocional e efetiva, terapêuticas, o papel da relação
diminuindo a autonomia, a terapêutica na prática profissional
responsabilidade e o processo de ocupa um lugar central.
individualização do cliente.  Poucas relações humanas atingem, de
 Quando o psicólogo usa e abusa da uma forma rápida, um nível de
fragilidade e vulnerabilidade proximidade tão grande como ocorre
física, emocional e psicológica da/o na psicoterapia, ainda que essa
cliente, nomeadamente através de caraterística seja de sentido único, pois
contatos sexual, satisfazendo desta é do cliente que se espera que partilhe
forma as suas fantasias íntimas. os seus sentimentos, comportamentos e
 Quando o psicólogo usa a carência pensamentos íntimos, pelo menos
efetiva do/a cliente para alcançar aqueles se relacionam com a resolução
envolvimentos românticos e do problema
encontros íntimos dentro e fora do  O paciente expõe a sua intimidade e o
contexto terapêutico, criando falsas terapeuta usa a sua pessoa como o
expetativas para o cliente, sempre e principal instrumento de trabalho.
só com o intuito de satisfazer as suas  Quais as questões éticas que podem
necessidades. emergir?
 Quando o psicólogo usa as relações  Privacidade (terapeuta e cliente)
sociais com os seus clientes com o  Valores pessoais
intuito de aumentar a diminuta  Dependência
rede de amigos que possui.  Processos de transferência e
 Quando o psicólogo faz todo o tipo contratransferência
de investimentos inoportunos para  Disponibilidade interna do terapeuta
manter o cliente em terapia  …
mesmo sabendo que ele já não
necessita, com interesses
económicos e financeiros  Uma intervenção malconduzida
poderá ter um potencial altamente
nocivo, exigindo uma
Ética na Psicoterapia responsabilidade e uma atenção
redobradas por parte do profissional.
 Psicoterapia – processo de intervenção
 Ricou (2004) refere os seguintes
complexo e exigente, implicando
aspetos a ter em especial atenção no
formação específica, supervisão e
âmbito da psicoterapia:
terapia pessoal de acordo com o
 Consentimento informado.
modelo no qual se pretende
 Intervenções em crianças e
especializar.
adolescentes - consentimento e
 O psicoterapeuta deverá intervir
confidencialidade
utilizando as técnicas e saberes às
 Neutralidade
quais se encontra devidamente
 Relação com clientes difíceis
formado e preparado, adequando-as a
cada caso (Ricou, 2004).
 Relações duais e conflitos de relação às problemáticas com que se
interesses depara, deve garantir a isenção de
 Psicoterapia familiar e de grupo preconceitos, valores pessoais e
 Intervenção à distância sociais e opções individuais (Rosa,
2010).
 Muitas vezes os clientes pretendem
Consentimento informado alguém que os encoraje na sua
decisão, com um propósito
 Momento e espaço para que sejam
inconsciente de partilha de
colocadas as questões sobre o
responsabilidade.
processo de avaliação/tratamento,
 Respeitar a autonomia do cliente
assim como receber informações sobre
significa reconhecer que ninguém
o setting terapêutico, tratamento,
melhor do que o próprio poderá saber
potenciais riscos e tratamentos
qual a melhor opção a tomar.
alternativos, limites da
confidencialidade, honorários, ...  Quando questionar os valores do
cliente?
Intervenções em crianças e adolescentes
 Art.º 38, número 3, do Código Penal
(2002): “o consentimento só é eficaz se Relação com clientes difíceis
for prestado por quem tiver mais de 16  Clientes intimidantes ou mesmo
anos e possuir o discernimento perigosos, aqueles que faltam
necessário para avaliar o seu sentido e sistematicamente às consultas ou não
em que o presta alcance no momento”. pagam os honorários correspondentes,
↘ Devemos mesmo assim pedir o os que passam ao ato com facilidade, os
consentimento à criança? E no que são muito dependentes e
adolescente será diferente? constantemente fazem contactos
 Sendo legítimo o direito aos menores de telefónicos com preocupações
aprovarem ou não a intervenção, assim urgentes, ou mesmo que ameaçam a
como o direito à privacidade, o que família do terapeuta.
deverão fazer os profissionais em  Que questões éticas podem emergir?
situações onde os interesses das  Terapeuta deve tomar consciência
crianças não vão ao encontro dos dos seus limites pessoais e
interesses dos pais? profissionais;
 Ricou (2004) refere “o que estamos a  Deve estar consciente que podem
discutir é o processo de descortinar o emergir sentimentos negativos
melhor para a pessoa, naquela para com os clientes;
circunstância”  Quando confrontado com estas
 Importante definir as regras da relação situações, abordar o cliente, o mais
com a criança/adolescente e com os cedo possível, por forma a
pais, informando-os e discutindo, se explorarem, em conjunto, as
possível separadamente, sobre a motivações e soluções possíveis.
importância da privacidade e as
regras da confidencialidade.
Relações duais e conflitos de interesses
Neutralidade
 Lidar com relações múltiplas tendo por
 O terapeuta deverá manter a
base que o psicólogo intervém com o
neutralidade e uma certa distância em
cliente a partir da informação que este  Outros aspetos relevantes e cruciais, e
lhe transmite. Numa relação múltipla, o até exigência da OPP e da FEAP, em
psicólogo múltipla as fontes de psicoterapia:
informação.  É uma das melhores formas de
 Como agir caso o psicólogo tenha enriquecer a competência
conhecimento por um dos seus clientes profissional;
que um outro corre algum tipo de  É um espaço para analisar as
perigo (e.g., risco de suicídio)? crenças, atitudes, características
 Presentes? Aceitar ou não? Quais as de personalidade e
motivações subjacentes? Gratidão ou comportamentos que podem afetar
manipulação? E dar presentes ao os clientes e o processo
cliente? terapêutico.
 Ser um profissional competente
exige formação contínua e
Psicoterapia familiar e de grupo supervisão periódica.
 Importante contextualizar o processo, Outros aspetos relevantes e cruciais, e até
esclarecer o papel do terapeuta (de exigência da OPP e da FEAP, em
mediador) na relação com cada um dos psicoterapia
indivíduos, o uso da informação,
 Objetivos:
questões da privacidade e
(1) Promover o crescimento e o
confidencialidade,...
desenvolvimento do supervisando;
(2) Proteger o bem-estar dos clientes;
(3) Monitorizar o desempenho do
Psicoterapia e outras formas de
supervisionando;
intervenção à distância
(4) Empoderar o processo de auto-
 As obrigações dos serviços prestados supervisão do supervisionando.
deverão ser as mesmas da terapia  Um processo de supervisão eficaz e
face a face. eticamente responsável implica um
 Contudo, há maiores dificuldades: balanço adequado por parte do
 comunicação; perde-se a supervisor entre criar oportunidades
comunicação não verbal – de desenvolvimento profissional para o
fundamental nas relações humanas; supervisionando e proteger o bem-
 maior tempo para o estar dos clientes (Corey et al., 2015).
estabelecimento de uma relação de
confiança;
 limites da disponibilidade do Terapia pessoal
terapeuta;
 Quanto melhor o terapeuta se conhece
 confidencialidade (e.g., quem
e resolve os seu conflitos e problemas
poderá ver os e-mails);
pessoais, mais capaz estará de lidar
 avaliação psicológica;
com sentimentos, emoções e
 em situações de risco como
experiências mais dolorosas.
proceder?
 Maior consciência dos processos
 ..
transferenciais.
Supervisão  O estar ou ter estado no lugar do
cliente aumentam consideravelmente a
empatia e, consequentemente, o e memórias podem ser manuseados e
sucesso terapêutico. explorados.” (Gabbard, 2005, pp. 60 e
 Questões práticas na psicoterapia e 61)
possíveis dilemas éticos:  Devemos estar sempre dispostos a
 O que se diz ao paciente quando ele atender o cliente?
está na sala de espera? Dizemos o  Anotações ao longo da consulta?
seu nome?  Falamos com os familiares?
 O que fazer face a perguntas  Cumprimentamos o paciente no caso de
inesperadas (ou não)? o encontrarmos em outros contextos?
 Importante estar preparado para
este tipo de questões e, nalguns
casos, até as antecipar. Ética e Avaliação Psicológica
 Respondemos a perguntas pessoais?
 Explorar a importância da  O psicólogo precisa de ter consciência
resposta para o paciente – o do poder e da influência que pode
próprio terapeuta tem direito à sua exercer sobre a vida do cliente, seja
privacidade. indivíduo, casal, família, grupo,
 Como proceder nas faltas? instituição, empresa, comunidade
 Qual a duração? Ficar mais (Luepnitz, 1998).
tempo? Como proceder quando a  A avaliação psicológica é um ato
paciente se atrasa? exclusivo da psicologia e um elemento
 Honorários? distintivo da autonomia técnica dos
 Terapeutas mais inexperientes Psicólogos relativamente a outros
tendem a ter dificuldades em cobrar. profissionais, devendo a sua
Porquê? divulgação junto do público ser
 O que não é pago não vale muito? evitada (acesso e uso de instrumentos
 São um lembrete que o relacionamento
de avaliação psicológica são restritos a
terapêutico não é uma relação de psicólogos).
amizade.  Um processo de avaliação psicológica
 A terapia deve envolver alguma medida
obedece a procedimentos específicos
de sacrifício por parte do cliente. que implicam:
(1) a competência para escolher os
 Contacto físico?
 A relação terapêutica é assimétrica? instrumentos apropriados ao
 Os limites devem ser rígidos ou objetivo da avaliação,
(2) o conhecimento e a experiência ao
flexíveis?
nível da aplicação e da cotação dos
Limites instrumentos selecionados e
(3) a competência para interpretar e
 “…criam um invólucro dentro do qual o
terapeuta pode ser empático, caloroso integrar os resultados de uma
e responsivo, e estabelecer um forma útil e compreensiva;
ambiente de acolhimento onde o  Os testes psicológicos devem ser
paciente se sinta compreendido e entendidos como instrumentos
validado. (…) de modo semelhante, os auxiliares de recolha de dados que
limites na terapia criam um contexto juntamente com os outros dados
seguro no qual terapeuta e paciente recolhidos e organizados pelo
podem entrar em uma área de ação onde psicólogo auxiliem na compreensão da
sentimentos, perceções, pensamentos problemática a estudar, de forma a
facilitar a tomada de decisões. Não
podem nunca substituir a relação legitimidade ao processo, e torna mais
entre o profissional e o cliente. complexa a obtenção de um
 A avaliação psicológica resulta da consentimento realmente informado.
interpretação dos resultados dos  Os resultados da avaliação pertencem,
instrumentos utilizados em função de por direito, à pessoa que foi objeto da
um conjunto de variáveis como sejam mesma. Se solicitado, o psicólogo
o objetivo da avaliação, variáveis que deverá entregar ao seu cliente os
os testes implicam, características da resultados das suas provas, mas sem
pessoa avaliada (incluindo diferenças incluir o enunciado das mesmas, de
individuais linguísticas, culturais ou forma a limitar a sua utilização
outras) e situações ou contextos que abusiva, colocando ênfase no facto de
podem reduzir a objetividade ou estas só terem utilidade se interpretadas
influenciar os juízos formulados, pelo por um profissional de psicologia.
que apenas podem ser levados a cabo  À organização a que pertence o sujeito
por psicólogos qualificados com base avaliado, apenas diz respeito saber o
em formação atualizada, e em parecer do psicólogo quanto à
experiência e treino específico; adequação, ou não, da pessoa para a
 Os instrumentos utilizados foram função destinada, garantindo a melhor
objeto de investigação científica qualidade possível do processo
prévia fundamentada e incluem avaliativo.
estudos psicométricos relativos à  A primeira pessoa a tomar
validade e fiabilidade dos seus conhecimento dos resultados de uma
resultados; avaliação deve ser o próprio, devendo
 O propósito fundamental é de que um ser discutida e autorizada toda a
profissional competente utilize os informação que se pretende revelar a
testes de forma apropriada, com qualquer outro profissional, ainda que
profissionalismo, respeito pela ética e tenha sido este último a solicitar a
direitos do cliente. avaliação.
 A ênfase da avaliação psicológica deve  É impossível a avaliação psicológica
ser colocada na interpretação proporcionar certezas, pelo que
realizada pelo profissional, pelo que quaisquer que sejam os resultados, eles
não poderão ser inquestionáveis e são baseados em dúvidas. Logo, a
absolutos. informação deve ser comunicada ao
 A avaliação psicológica obriga a cliente com extrema cautela!
obtenção de um consentimento
informado, livre e esclarecido, no qual
sejam discutidas todas as limitações Relatórios psicológicos
inerentes ao processo, incluindo todas
 Os relatórios psicológicos resultantes
as questões relacionadas com a
de um processo de avaliação
confidencialidade.
psicológica, devem ser documentos
 São poucos os instrumentos de
escritos objetivos, rigorosos e
avaliação psicológica adaptados,
inteligíveis para o destinatário;
estandardizados, e aferidos para a
 Do relatório de avaliação psicológica
população portuguesa, o que pode
deve fazer parte a identificação dos
levar o profissional a cair na tentação
instrumentos utilizados, os resultados
de utilizar instrumentos não
objetivos, a respetiva interpretação,
adaptados e aferidos, o que retira
bem como o prognóstico e um
conjunto De sugestões no sentido da
promoção do bem-estar do sujeito
avaliado;
 A linguagem a utilizar deve ser
cuidada, rigorosa e objetiva, de forma
a evitar a possibilidade de
interpretações erradas (evitar rótulos
estigmatizantes)
 Os relatórios de avaliação psicológica
incluem sempre como elemento de
identificação o nome do Psicólogo e o
número da respetiva cédula
profissional, no seio da Ordem dos
Psicólogos Portugueses, bem como
será sempre aconselhável a utilização
da vinheta identificativa (OPP, 2019).

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