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Bd5 - Síndromes Metabólicas 2021

Metabolismo dos glicídios, lipídeos e proteínas


Homeostase da glicemia
• Estado absortivo
- Ingestão de alimento e liberação da insulina pelas
células β
- Iniciam-se processos de anabolismo
- Fígado absorve a glicose e a armazena na forma de
glicogênio
• Conforme a glicose e outros nutrientes são absorvidos
e utilizados pelo organismo, seus níveis abaixam,
sendo que há inibição da secreção de insulina pelas
células β e estimulação da secreção de glucagon
pelas células ⍺
• Estado pós-absortivo (jejum)
- O glucagon participa principalmente da mobilização
de reservas de energia
- Fígado quebra o glicogênio e o libera na forma de
glicose (glicogenólise)
• No processo de homeostase, existe uma intensa
comunicação entre os tecidos
- Fígado, tecido adiposo, músculo e encéfalo
- Participação de hormônios
• Pâncreas
- Órgão misto, retroperitoneal
- Apresenta uma porção exócrina
- Porção endócrina composta pelas ilhotas de Langerhans
- As ilhotas são formadas pelas células β (maioria, secretam insulina), células ⍺ (secretam glucagon), células δ
(secretam somatostatina, que inibe a liberação de insulina e glucagon) e células F (secretam polipeptídeo
pancreático)

Síntese e secreção da insulina


• Inicia-se com a transcrição de genes que codificam a insulina, seguida de tradução do RNAm no citoplasma
• Ao ser sintetizada, a insulina encontra-se, no retículo endoplasmático, na forma de pré-proinsulina
• No interior do retículo, a pré-proinsulina é clivada, dando origem à pró-insulina (hormônio polipeptídico)
• A pró-insulina apresenta uma cadeia A, um peptídeo C/peptídeo de conexão e uma cadeia B
• Em seguida, a pró-insulina passa por clivagens e por um maturação no interior de vesículas do complexo de Golgi, o
que permite liberação do peptídeo C e da molécula de insulina madura
• A insulina madura é formada pelas cadeias A e B ligadas por duas pontes dissulfeto
• A insulina também é armazenada em grânulos de secreção, que contêm a insulina madura e restos do peptídeo C
• Peptídeo C
- Biologicamente inerte
- Serve como indicador do índice de capacidade secretora da insulina
- Útil na classificação de diabetes em um paciente que já foi diagnosticado

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• Secreção de insulina
- Secretada mediante a estímulos, como a entrada de glicose na célula
- A glicose passa por glicólise e ocorre produção de ATP, o qual leva ao fechamento dos canais de potássio da
célula
- Com o fechamento dos canais de K⁺, ocorre despolarização da membrana e abertura dos canais de cálcio, sendo
que o influxo desse íon favorece a exocitose de vesículas contendo a insulina madura

• A secreção da insulina também ocorre de forma bifásica


- Fase I: liberação rápida de moléculas de insulina já formadas. Influenciada pela ingestão de glicose e de outros
nutrientes da dieta, bem como por hormônios
- Fase II: liberação lenta de novas moléculas sintetizadas. Influenciada principalmente pela glicose

• Inibição da secreção de insulina


- Situações em que há rápida necessidade de energia
- Adrenalina (SN simpático) em períodos de estresse, como febre ou infecção
- Jejum prolongado
- Exercício físico
• Cerca de 50% da insulina liberada na circulação permanece retida no fígado para exercer suas funções

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Efeitos endócrinos da insulina
• Estocagem e ingestão de nutrientes
- Promove o anabolismo
- Inibe o catabolismo
• Efeitos parácrinos
- Inibe a secreção de glucagon

• Os receptores de insulina são receptores do tipo tirosina-kinase,


formado por duas subunidades
• Quando a insulina se liga ao seu receptor, ocorre ativação do domínio
intracelular tirosina-kinase das subunidades β do receptor, o que
permite fosforilação de outras proteínas, a exemplo dos substratos
do receptor de insulina (SRIS)
• Esse processo de fosforilação também favorece a ativação de
múltiplas vias de sinalização, sendo que, ao final, são desencadeadas
as ações biológicas da insulina
• Um importante efeito desencadeado pela interação da insulina com
seu receptor é o recrutamento de moléculas transportadoras de
glicose (GLUTs) para a membrana celular, permitindo a captação de
glicose por difusão passiva facilitada
• GLUT4 (dependente da insulina): presente no tecido adiposo e no
tecido muscular
• Tecidos que não requerem insulina para captação de glicose
- Hepatócitos
- Eritrócitos
- Células do sistema nervoso
- Células da mucosa intestinal
- Células dos túbulos renais
- Células da córnea
- Alguns desses tecidos, como os hepatócitos, apresentam
moléculas GLUT2, a qual não depende da atividade da insulina para captação da glicose

Glucagon
• Hormônio contrarregulador da insulina
- Juntamente com adrenalina, cortisol e GH
• Hormônio peptídico liberado a partir do pró-glucagon, o qual é expresso no pâncreas, células entero-endócrinas e
cérebro
• O pró-glucagon, dependendo de onde é formado, pode dar origem a três substâncias diferentes
- Glucagon (células ⍺ pancreáticas)
- GLP-1 (células entero-endócrinas)
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- Oxintomodulian (células entero-endócrinas)
- Cada substância apresenta uma atividade específica
• O glucagon age na manutenção dos níveis de glicose sanguínea, pela ativação da glicogenólise e da gliconeogênese
hepáticas
• Ações
- Aumenta a mobilização de glicose e de ácidos graxos livres
- Glicogenólise
- Captação de aminoácidos no fígado para gliconeogênese
- Lipólise com formação de corpos cetônicos (cetogênese - uso de ácidos graxos que são liberados para oxidação
e produção de energia)

• O glucagon também apresenta seu receptor de membrana


- Não apresenta atividade tirosina-kinase
- Receptor que participa da ativação da adenilato-ciclase, com aumento da produção de AMPc (segundo
mensageiro)
- O AMPc contribui para a fosforilação de enzimas e outras proteínas específicas

Incretinas
• Também participam da homeostase da glicose
• As incretinas favorecem um aumento da secreção da insulina
• Produção das incretinas
- São liberadas rapidamente após a ingestão de glicose (15 min)
- Célula K (jejuno): liberação de GIP (peptídeo insulinotrópico dependente de glicose)
- Célula L (íleo-cólon): liberação de GLP-1
• Outros efeitos
- Inibem a secreção de glucagon
- Reduzem o esvaziamento gástrico
- Reduzem a ingestão de alimentos

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Estado absortivo
• 2 a 4h após uma refeição normal
• Aumento de glicose, aminoácidos e triglicérides na circulação sanguínea
• Aumento da secreção de insulina e diminuição na liberação de glucagon
• A mudança na relação entre insulina/glucagon favorece a disponibilidade de
substratos circulantes que participam do período anabólico
• Assim, ocorre síntese de triglicérides, glicogênio e de proteínas
• Os tecidos usam a glicose como combustível
• Fígado
- Centro de distribuição de nutrientes
- A partir da drenagem venosa intestinal e pancreática pelo sistema porta-
hepática, os nutrientes absorvidos chegam ao fígado
- O fígado também apresenta grande concentração de insulina (50%)
- Assim, há captação de carboidratos, lipídeos e maioria dos aminoácidos

Metabolismo de carboidratos
• 60 de cada 100g de glicose são trazidos pelo sistema porta-hepático
• Aumento da fosforilação da glicose pela enzima glicoquinase/hexoquinase,
o que dá origem à glicose-6P
• Com seu aumento, a glicose-6-fosfato pode
- Ser convertida em glicogênio pela ação da enzima glicogênio sintase
- Inativar a enzima glicogênio-fosforilase, impedindo glicogenólise
• Aumento da atividade da via das pentoses-fosfato
- Ocorre por conta do aumento da glicose-6P
- Produção de NADPH
- Permite que ocorra lipogênese (uso de 5 a 10% da glicose metabolizada)
• Aumento da glicólise
- Conversão em acetil-CoA, o qual pode ser usado para síntese de ácidos graxos, para fornecer energia ou pode ser
oxidado no ciclo do ácido cítrico
• Inibição da gliconeogênese
- Inativação da piruvato-carboxilase (primeiro passo da gliconeogênese)

Metabolismo de lipídeos
• Aumento da síntese de ácidos graxos
- Maior disponibilidade de substratos, como acetil-CoA e NADPH derivados do metabolismo da glicose
- Assim, ocorre ativação da enzima acetil-CoA carboxilase e formação do malonil-CoA
• Aumento da síntese de triacilgliceróis
- Acetil-CoA é sintetizado de novo
- Hidrólise dos triacilgiceróis presentes nos quilomicrons
- Os quilomicrons remanescentes que alcançam o fígado são hidrolisados e podem formar a VLDL

Metabolismo de aminoácidos
• Aumento na degradação dos aminoácidos
- Quantidade de aminoácidos que chega pela dieta é maior do que a quantidade para usada na síntese de proteínas
- Excesso de aminoácidos na corrente sanguínea promove desaminação no fígado, sendo que os esqueletos de
carbono restantes são usados para síntese de piruvato, acetil-Coa ou como intermediários do ciclo de Krebs
- Se necessário, os esqueletos de carbono também são usados para obtenção de energia ou síntese de ácidos
graxos
• Aumento da síntese proteica
- Reposição de proteínas que, eventualmente, foram consumidas durante o período pós-absortivo anterior

Tecido adiposo
• Depósito dos estoques energéticos
• Também tem a capacidade de distribuir moléculas combustíveis, juntamente com o fígado
• Um adipócito pode ter seu volume quase inteiramente ocupado por uma única gotícula de triglicérides
• Metabolismo de carboidratos
- Aumento do transporte de glicose para dentro dos adipócitos
- Aumento da glicólise, com função sintética (formação do glicerol-fosfato), o que leva à síntese de triacilgliceróis
- Aumento da atividade da via das hexoses-monofastos (via das pentoses-fosfato), com produção de NADPH e
síntese de ácidos graxos

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• Metabolismo de lipídeos
- Aumento da síntese de ácidos graxos: pela síntese de novo de acetil-CoA, após um período de jejum, ou por meio
da gordura da dieta (quilomicrom) ou VLDL disponibilizado pelo fígado
- Aumento da síntese de triglicérides: VLDL ou quilomicrons fornecem ácidos graxos ao tecido adiposo, sendo alvos
da ação da lipase lipoproteica. Os adipócitos não tem glicerol-quinase, sendo que o glicerol-3-fosfato que
participa da síntese de TG é obtido pelo metabolismo da glicose
- Inibição da degradação de triacilgliceróis, uma vez que a lipase sensível a hormônio está inibida

Tecido muscular esquelético


• Em repouso, consome cerca de 30% do oxigênio fornecido ao corpo, sendo que, durante exercício vigoroso, esse
consumo pode ser de até 90%
• Metabolismo de carboidratos
- Aumento do transporte de glicose: glicose é fosforilada pela hexoquinase, formando glicose-6P que fornecerá
energia às células
- Aumento da síntese de glicogênio
• Metabolismo de lipídeos
- A glicose é a principal fonte de energia
- VLDL e quilomicrons são transformados em ácidos graxos e atuam como combustíveis secundários
• Metabolismo dos aminoácidos
- Aumento da síntese proteica: aumento da captação de aminoácidos no período absortivo (refeição com proteína),
reposição de proteínas degradas desde a refeição anterior
- Aumento na captação de aminoácidos ramificados, como leucina, isoleucina e valina, os quais são usados para
síntese proteica e/ou de substratos energéticos

Encéfalo
• Representa 2% do peso corporal do adulto, consumindo cerca de 20% do oxigênio no repouso
• Utiliza energia em uma taxa constante
• Glicose é a principal fonte combustível
• Metabolismo de carboidratos
- Uso exclusivo da glicose como combustível (cerca de 140g por dia)
• Metabolismo de lipídeos
- Contribui muito pouco para a produção de energia

Estado pós-absortivo/jejum
• Diminuição da disponibilidade de glicose, aminoácidos e triacilgliceróis
• Diminuição da secreção de insulina e aumento da secreção de glucagon
• Intensa troca de substratos entre fígado, tecido adiposo, músculos e encéfalo
• Prioridades
- Manter adequados os níveis plasmáticos de glicose, uma vez que encéfalo e outros tecidos são altamente
dependentes dela
- Mobilizar ácidos graxos do tecido adiposo, o que resulta na síntese de corpos cetônicos

Fígado
• Metabolismo de carboidratos
- Diminuição da secreção de insulina e aumento da secreção de glucagon
- Incialmente, ocorre degradação do glicogênio (10 a 18h)
- Em seguida, ocorre gliconeogênese a partir de aminoácidos, glicerol e lactato
- Esses processos permitem a manutenção da glicemia durante o jejum noturno ou períodos mais prolongados
- Maior velocidade de produção quando o estoque de glicogênio está em depletado
• Metabolismo dos lipídeos
- Aumento da oxidação de ácidos graxos para fornecimento de maior fonte energética para o fígado no estado pós-
absortivo
- Aumento da síntese de corpos cetônicos, principalmente de 3-hidroxibutirato (se inicia durante os primeiros dias
de jejum)
- Podem ser usados como fonte de combustível por muitos tecidos, incluindo o encéfalo
- Reduz a necessidade de gliconeogênese e poupa a perda de proteína essenciais

Tecido adiposo
• Metabolismo dos carboidratos
- A diminuição do transporte de glicose para os adipócitos causa redução da síntese de ácidos graxos e de
triglicérides
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• Metabolismo de lipídeos
- Aumento da degradação de triglicerídeos: influenciada pela ação de catecolaminas, como a noradrenalina, o que
ativa a lipase sensível a hormônio e permite a hidrólise de TG
- Liberação de ácidos graxos: hidrólise de TG leva à liberação de ácidos graxos na circulação, os quais serão
usados como combustível. O glicerol proveniente da hidrólise também é liberado na corrente sanguínea e é usado
como precursor para a gliconeogênese ou convertido em acetil-CoA para o ciclo do ácido cítrico
- Diminuição da captação de ácidos graxos: diminuição da atividade da lipase lipoproteica (associada à queda de
insulina), o que reduz a disponibilidade de ácidos graxos e síntese de TG

Tecido muscular esquelético


• No repouso, os ácidos graxos são a principal fonte energética
• Durante o exercício, incialmente é o usado o glicogênio e, em seguida, a glicose-6P
• No exercício intenso, a glicose-6P é usada na via da glicólise anaeróbia, com produção de lactato
• À medida que as reservas de glicose se esgotam, os ácidos graxos livres passam a ser usados, sendo que há
mobilização de triglicérides do tecido adiposo
• Metabolismo de carboidratos
- A redução de insulina afeta a translocação de GLUT4, fazendo com a captação de glicose diminua
• Metabolismo de lipídeos
- 2 primeiras semanas de jejum: ácidos graxos e corpos cetônicos são usados como combustíveis
- 3 semanas de jejum: diminuição do consumo de corpos cetônicos e oxidação quase exclusiva de ácidos graxos. O
aumento do nível de corpos cetônicos resulta em seu consumo pelo encéfalo
• Metabolismo de proteínas
- Primeiros dias de jejum: rápida quebra da proteína muscular, com fornecimento de aminoácidos para o fígado e
ocorrência da gliconeogênese (alanina e glutamina)
- Várias semanas: diminuição da velocidade da proteólise e declínio na necessidade de glicose pelo encéfalo (uso
de corpos cetônicos)

Encéfalo
• Primeiros dias de jejum
- Glicose como principal fonte de energia (gliconeogênese hepática)
• 2 a 3 semanas
- Consumo de corpos cetônicos e de glicose
- Diminuição da necessidade de catabolismo proteico para gliconeogênese
• As mudanças metabólicas que ocorrem no jejum asseguram que todos os tecidos tenham um adequado aporte
energético

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Hipoglicemia
• Ocorre em situações nas quais o organismo não é capaz de manter a homeostase da glicose
• Emergência médica
• Tríade de Whipple
- Sintomas e sinais que indiciam hipoglicemia
- Nível de glicose plasmática concomitante de ≤45mg/dl
- Reversibilidade dos sintomas com administração da glicose
• Sintomas adrenérgicos
- Ansiedade, palpitação tremor e sudorese
• Neuroglicopenia (<40mg/dl)
- Resulta em prejuízo da função cerebral, causando cefaleia, confusão, fala arrastada convulsões, coma e morte
• Tratamento
- Repor a glicose: 15 a 20g
- Administração de glucagon
- Análogos da somatostatina (usados em situações de hipoglicemia persistente)

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