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RESUMO
1. Introdução
São vários os aspectos relacionados à família que compõem a análise dos paradigmas
existentes no decorrer da história. Um dos principais consiste no papel da mulher e do homem
enquanto líder do agrupamento, caracterizando a superioridade da mulher - matriarcado e a do
homem, o patriarcado. Houve alterações durante o desenvolvimento da família, em que ora
imperava o matriarcado, ora o patriarcado, dependendo das atribuições mais importantes
desempenhadas por um deles.
Segundo Xavier (1998), a família pode ser considerada como um lugar de
adestramento para a adequação social, consequentemente, responsável pelos conflitos
surgidos. Também se apresenta multifacetada, em decorrência das mudanças sociais.
Lispector apud Xavier (1998) enfatiza a historicidade da família como produto do
sistema social, refletindo o estado de cultura desse sistema.
O papel econômico da família exerceu predomínio, principalmente após o advento do
Capitalismo, pois, tornava-se essencial o nascimento dos filhos, que, representavam a futura
mão-de-obra a ser empregada nas fábricas.
A religião, com destaque para a Católica, influenciou sobremaneira a efetivação da
família através do casamento religioso, como forma de garantir a duração da união entre os
pais e seus filhos, outorgando à figura masculina, a autoridade, o “pátrio poder”.
O adultério representa um forte paradigma a envolver a história da família,
principalmente se for praticado pela mulher, pois, culturalmente, apenas o homem teria o
direito de possuir outras mulheres, enquanto a mulher deveria se manter fiel.
Morgan (apud Porreca, 2008), antropólogo, etnólogo, advogado e escritor norte-
americano, em seu estudo sobre a evolução das sociedades humanas de 1877, parte dos
sistemas de parentesco para reconstituir as formas de família, segundo três estados de
evolução da humanidade: a selvageria, a barbárie e a civilização.
Nas cinco espécies de família classificados pelo autor, a consangüínea, a punaluana, a
sindiásmica, a patriarcal e a monogâmica, foram desenvolvidas características próprias,
paradigmas considerados como verdade absoluta naquele determinado momento.
A característica da família consangüínea referia-se ao casamento entre irmãos e
irmãs, carnais ou colaterais no interior de seus grupos, o que marcou a promiscuidade sexual
no meio das tribos, onde ainda não existia a idéia de casamento. Não eram conhecidas as
relações de parentesco posteriormente criadas.
A família punaluana se destacava pela proibição do incesto, do casamento entre
irmãos e irmãs e a coabitação entre mãe e filho, por pertencerem ao mesmo totem, ou seja,
por terem nascido da mesma mãe. No entanto, permitia a coabitação entre pai e filha porque
predominava a matrilinearidade, o que implicava que pai e filha não pertenciam ao mesmo
totem. Essa proibição ainda é observada em povos da sociedade atual.
A família sindiásmica se originou da família punaluana, permitindo ao homem o
direito à poligamia e à infidelidade. Nessa configuração os vínculos eram frágeis, levando à
dissolução, com os filhos permanecendo sob os cuidados da mãe.
Percebemos que desde essa época a mulher assume a responsabilidade pelos filhos,
enquanto o homem adquire direitos de adultério e infidelidade, legitimados pela sociedade, de
forma paradigmática.
Dessa forma de constituição familiar surge uma nova dinâmica de convivência, nasce
a cumplicidade entre os parceiros e a proibição do pai em se casar com a própria filha. Tal
mudança diminui o direito materno com a instauração do domínio do homem, originando a
família patriarcal.
No período denominado por Morgan(apud Porreca, 2008) como civilizatório, o
termo família passou a significar um grupo social em que o chefe mantinha sob seu poder a
mulher, os filhos e certo número de escravos, com direito de vida e de morte sobre todos eles.
A partir do direito romano clássico a família passa a ser considerada “família
natural”, ou seja, baseada no casamento e no vínculo de sangue, cujo agrupamento é
constituído pelos cônjuges e filhos, caracterizado pela privacidade.
Podemos observar que, o incesto, considerado como algo natural no passado,
transformou-se num crime hediondo, contradizendo o paradigma aceito anteriormente.
Almeida apud Xavier (1998. p. 16), relata que a origem da monogamia segundo
Engels, está relacionada com a transmissão da herança do patrimônio. De forma alguma a
monogamia foi fruto do amor sexual individual, pois, o casamento assumia puramente o
aspecto convencional. O autor considerava a monogamia como a primeira forma de família
não baseada em condições naturais, mas, econômicas, do triunfo da propriedade privada sobre
a propriedade comum primitiva.
Na história da família brasileira, há que se destacar o autor Gilberto Freyre e sua obra
Casa Grande e Senzala, de 1933, que definiu a família patriarcal rural como célula mater na
formação da sociedade brasileira. Nessa época imperava o paradigma em que a família se
apresentava como agrária, escravocata e híbrida. Em sua obra o autor destaca a importância
da casa grande e da senzala na formação sociocultural brasileira.
Segundo Antonio Cândido apud Porreca (2008), a família brasileira era constituída por
um núcleo central e outro periférico, em que o central era ocupado pelo casal e os filhos
legítimos e o periférico pelos agregados, negros, as concubinas e seus filhos ilegítimos.
Porreca (2008) relata que o modelo de família patriarcal, oriundo da colonização e
adaptado às condições brasileiras, foi disseminada pelo país por força do pensamento social
da época, principalmente no nordeste açucareiro.
Acrescentamos que, como resultado da aceitação desse modelo familiar pela
sociedade, instalou-se o paradigma assentado na condição de “sensação de verdade”,
consolidando-se a chamada família matrifocal (Porreca, 2008), em que o pai só está presente
como genitor, mas não como pai. Ainda perdura em nosso país essa forma de família.
Já na classe trabalhadora assalariada o modelo familiar era centrado na liderança do
pai de família e na dona-de-casa, com o padrão hierárquico centrado no pai. (Porreca, 2008).
Dessa forma, a família brasileira se originou da tradição colonial e patriarcal, com
destaque ao domínio masculino e submissão feminina, e que a formação da raça mestiça
(hibridismo) ocorreu com grande dose de abuso.
Com o advento da industrialização o paradigma da família assume nova forma, pois os
membros precisam abandonar a convivência em busca do trabalho, uma vez que a produção
doméstica deixa de ser a fonte de subsistência.
Ocorre, então, o declínio do poder patriarcal e as fortes mudanças dos paradigmas,
principalmente os religiosos, provocando transformações nas relações de gênero, aumento da
autonomia dos componentes da família, maior abertura para as práticas sexuais, desmembrada
do compromisso com a reprodução.
De acordo com levantamentos efetuados em Pires (2004) et al, distinguimos algumas
definições a respeito de família considerada multiproblemática:
- Famílias isoladas (Powell & Monahan): com ênfase ao retraimento social e ausência
de apoio nos momentos difíceis da vida familiar, independente da classe social;
- Famílias excluídas (Thierney 1976): caracterizadas pela separação em relação aos
contextos parental, institucional e social;
- Famílias suborganizadas (Aponte 1976): designadas como aquelas com alguma
lacuna nos graus de constância e diferenciação da organização estrutural do sistema familiar,
diferente das desorganizadas, referentes a formas inadequadas de organização;
- Famílias associais (Voiland 1962): apresentam comportamentos sociais desviantes;
- Famílias desmembradas (Minuchin et al. 1967): são pontuadas por limites difusos ou
indefinidos;
- Famílias diluídas (Colapinto 1995): dificuldades em respeitar os limites de vários
subsistemas e na relação com o exterior;
- Famílias multiparentais (Fulmer 1989): dispersamento da função parental por várias
figuras.
Além dessa classificação organizada por Pires, existe uma variedade de denominações
a respeito das configurações atuais de família, retratando a liberdade de escolha das pessoas
ou necessidade de sobrevivência, em que os papéis do homem e da mulher assumem posições
diversas.
A NOB-SUAS (Brasil, 2009) destaca as mudanças radicais ocorridas na organização
das famílias, relacionadas à ordem econômica, à organização do trabalho, à revolução na área
da reprodução humana, à mudança de valores e à liberalização dos hábitos e dos costumes,
bem como ao fortalecimento da lógica individualista em termos societários. Dentre essas
mudanças observa-se um enxugamento dos grupos familiares (famílias menores), uma
variedade de arranjos familiares (monoparentais, reconstituídas), além dos processos de
empobrecimento acelerado e da desterritorialização das famílias gerada pelos movimentos
migratórios.
Diante dessas reflexões históricas, apresentamos, a seguir, o Serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família –PAIF.
4. Considerações finais
REFERÊNCIAS
JOSÉ FILHO, Mário. A família como espaço privilegiado para a construção da cidadania.
Franca: Ed. UNESP/FHDSS, 2002. (Série dissertações e teses, n. 5).
PORRECA, Wladimir. Família: sujeito social geradora de capital social familiar. Franca:
UNESp, 2008. Tese de Doutorado. Serviço Social.
XAVIER, Elódia. Declínio do Patriarcado. Rio de Janeiro: Ed. Record: Rosa dos Ventos,
1998.