EDcl no AgInt nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1805317 - AM
(2019/0083053-0)
RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA
EMBARGANTE : MUNICÍPIO DE MANAUS ADVOGADOS : JOSÉ LUIZ FRANCO DE MOURA MATTOS JÚNIOR - AM005517 RODRIGO MONTEIRO CUSTÓDIO - AM006452 JANARY YOSHIZO KATO YOKOKURA - AM006324 DENIEL RODRIGO BENEVIDES DE QUEIROZ - AM007391 EMBARGADO : SUPER TERMINAIS COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA ADVOGADOS : ROBINSON VIEIRA - SP098385 NICOLAU ABRAHÃO HADDAD NETO E OUTRO(S) - SP180747 FERNANDO CESAR DE SOUZA CUNHA E OUTRO(S) - DF031546 ERIC DINIZ CASIMIRO - DF063071
DECISÃO
Trata-se de embargos de declaração opostos por Município de Manaus à
decisão de fls. 1.541/1.547 (e-STJ), do eminente Ministro JORGE MUSSI, que deu provimento ao agravo interno interposto por Super Terminais Comércio e Indústria Ltda., ora embargada, "para restabelecer a decisão de fls. 1.450/1.452 (e-STJ), que admitiu os embargos de divergência, devendo as partes aguardar a oportuna inclusão do processo em pauta para apreciação do mérito" (e-STJ fl. 1.547).
O embargante esclarece que os aclaratórios buscam (i) "contribuir para a
integração da decisão embargada, em especial quanto à aparente contradição nos fundamentos constantes da r. decisão de fls. 1492-1499 e a decisão embargada" (e- STJ fl. 1.553), (ii) superar a "obscuridade acerca da questão jurídica apresentada nas razões do agravo interno interposto pela Embargada (fls. 1508-1526) e admitida pela decisão de fls. 1541-1547, qual seja, o conhecimento dos embargos de divergência para o julgamento da matéria referente à aplicação ou não do prequestionamento implícito no recurso especial interposto pela Fazenda Embargante" (e-STJ fl. 1.553) e (iii) "impedir ocorrência de preclusão sobre a matéria jurídica referente ao conhecimento dos embargos de divergência, que foi deduzida pela Embargada e admitida na decisão de fls. 1541-1547" (e-STJ fl. 1.553). Quanto às supostas obscuridade e contradição, sustenta que: A decisão embargada admitiu os embargos de divergência da Embargada
Edição nº 0 - Brasília, Publicação: quinta-feira, 01 de junho de 2023
Documento eletrônico VDA37015565 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): MINISTRO Antonio Carlos Ferreira Assinado em: 30/05/2023 18:09:14 Publicação no DJe/STJ nº 3646 de 01/06/2023. Código de Controle do Documento: e41d14af-9e3f-4f65-ad70-c395cf444cc0 sob o fundamento que não tem "como razoável que a simples diferença entre a natureza do prequestionamento aplicado por órgãos colegiados diversos desta Corte, seja suficiente à inadmissão sumária de recurso que visa pacificar a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça". Ocorre que a jurisprudência da Corte Especial sobre a matéria deduzida no presente caso informa que são incabíveis embargos de divergência quando o acórdão indicado como divergente contém tese de prequestionamento ficto e o acórdão embargado admite o prequestionamento implícito. [...] No caso, importante ressaltar a diferença dos institutos do prequestionamento implícito e ficto. O julgado de Minas Gerais, informado como paradigma na decisão embargada, trata de prequestionamento ficto, não implícito, que é o objeto do presente caso. A jurisprudência da Corte Especial é no sentido de que a divergência deve ter interpretação restritiva e não ampliativa, bem como entende inviável a rediscussão sobre técnica de conhecimento nos casos em que a admissibilidade foi chancelada pelo próprio órgão fracionário do STJ. [...] No presente caso, a decisão embargada reconhece a diferença entre os institutos presentes nos acórdãos embargado e paradigma. Ademais, há contradição entre as duas decisões (fls. 1492-1499 e 1541- 1547) proferidas nos autos do recurso sub examine, situação que também provoca obscuridade nos fundamentos da segunda decisão [...] [...] Logo, há contradição e obscuridade na decisão ora embargada, uma vez que, na decisão anterior (fls. 1492-1499), proferida pelo Exmo. Ministro Relator Jorge Mussi, ficou consignado que: "No acórdão embargado, portanto, aplicou-se a figura do prequestionamento implícito, que na esteira da jurisprudência desta Casa, se configura 'quando a matéria tratada no dispositivo legal for apreciada e solucionada pelo Tribunal de origem, de forma que se possa reconhecer qual norma direcionou o decisum objurgado'". Por fim, a decisão embargada incorre em contradição ao admitir os embargos de declaração, sendo que a decisão de fls. 1492-1499 esclarece que "No caso posto, do cotejo entre os referidos arestos (acórdão embargado e o REsp n. 1.639.314/MG, da Terceira Turma), não se verifica a presença de similitude fática, a ponto de autorizar o avanço no mérito do recurso uniformizador". (e-STJ fls. 1.554/1.558.)
Pede o conhecimento e provimento dos embargos de declaração para
"sanar a contradição e obscuridade apontadas nas razões recursais" (e-STJ fl. 1.558).
A embargada, Super Terminais Comércio e Indústria Ltda., apresentou
impugnação, asseverando que "os embargos alegam supostas obscuridades e contradições externas à decisão. Não alegam vícios internos ao julgado" (e-STJ fl. 1.565). Com isso, o Município pretenderia "rediscutir a decisão, mas por via inadequada" (e-STJ fl. 1.567).
Reafirma haver similitude fático-jurídica e divergência entre os casos
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Documento eletrônico VDA37015565 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): MINISTRO Antonio Carlos Ferreira Assinado em: 30/05/2023 18:09:14 Publicação no DJe/STJ nº 3646 de 01/06/2023. Código de Controle do Documento: e41d14af-9e3f-4f65-ad70-c395cf444cc0 confrontados.
É o relatório.
Decido.
Com efeito, inexistem contradição e obscuridade que devam ser sanadas.
A decisão ora embargada, para acolher o agravo interno e admitir os
embargos de divergência, adotou a seguinte fundamentação: Conquanto tenha afirmado na referida decisão, a ausência de similitude fática entre os acórdãos embargado e paradigma, não tenho como razoável que a simples diferença entre a natureza do prequestionamento aplicado por órgãos colegiados diversos desta Corte, seja suficiente à inadmissão sumária de recurso que visa pacificar a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Vale lembrar, que a interpretação acerca do prequestionamento para fins de admissibilidade do recurso especial, seja ele implícito ou tácito, é matéria que provoca discussões não apenas na jurisprudência do STJ, mas na própria doutrina que trata do tema, mormente após as alterações promovidas pelo novel digesto processual. (e-STJ fl. 1.547.)
Conforme se pode verificar, a decisão encontra-se fundamentada, expondo-
se o motivo pelo qual os embargos de divergência deveriam ser admitidos. Em tal contexto, eventual erro de julgamento deverá ser retificado no momento adequado ou na via própria, não em embargos de declaração.
De todo o modo, quanto ao último item dos aclaratórios, revela-se
necessário esclarecer, como postulado, que os requisitos de admissibilidade – questão de ordem pública – poderão e deverão ser reapreciados pelo colegiado, o qual não está vinculado à decisão do Relator, ora embargada, que expressamente restabeleceu o decisum que admitiu os embargos de divergência em juízo meramente provisório (cf. e-STJ fls. 1.450/1.452 e 1.547), não se podendo falar em preclusão pro judicato. Sobre o tema, para ilustrar: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE ENTRE OS ACÓRDÃOS COTEJADOS. INADMISSIBILIDADE. EXECUÇÃO. INCLUSÃO DE VERBA NÃO PREVISTA NA DECISÃO EXEQUENDA. IMPOSSIBILIDADE. [...] AUSÊNCIA DE PRECLUSÃO QUANTO AO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA 4. Respeitosamente, divirjo do eminente Relator quanto ao conhecimento dos Embargos. Em seu voto, entendeu ele que essa questão preliminar estaria preclusa, uma vez que não houve recurso contra a decisão que admitiu os Embargos em juízo provisório.
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Documento eletrônico VDA37015565 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): MINISTRO Antonio Carlos Ferreira Assinado em: 30/05/2023 18:09:14 Publicação no DJe/STJ nº 3646 de 01/06/2023. Código de Controle do Documento: e41d14af-9e3f-4f65-ad70-c395cf444cc0 5. Ocorre que essa primeira decisão foi substituída por posterior julgamento monocrático – a decisão ora agravada –, que avançou sobre o mérito, podendo, assim, ser questionada na totalidade por Agravo Interno. Ademais, os pressupostos de admissibilidade recursal constituem matéria de ordem pública, que o colegiado pode sempre rever. [...] CONCLUSÃO 11. Agravo Interno provido, em respeitosa divergência com o judicioso voto do eminente Relator, para não se conhecer dos Embargos de Divergência. (AgInt nos EREsp n. 1.194.697/MS, Relator originário Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Relator para acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe 3/8/2021 – grifei.)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PRECLUSÃO PRO JUDICATO. INOCORRÊNCIA. COTEJO ANALÍTICO ENTRE O ACÓRDÃO EMBARGADO E O ARESTO PARADIGMA. NÃO DEMONSTRAÇÃO. SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA. [...] 2. O exame da admissibilidade dos embargos de divergência não se sujeita à preclusão pro judicato, podendo o relator unipessoalmente rever seu posicionamento inicial acerca da presença dos pressupostos recursais. Precedente. [...] 4. Agravo interno não provido. (AgInt nos EREsp n. 956.942/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, DJe 20/11/2019.)
AGRAVO INTERNO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. NÃO
CONHECIMENTO. SIMILITUDE FÁTICO-JURÍDICA. NÃO CONFIGURADA. AUXÍLIO CESTA ALIMENTAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. [...] 2. Embora inicialmente admitidos os embargos de divergência, após o processamento do feito para sua devida instrução, o relator poderá, em nova análise dos autos, abordar os pressupostos extrínsecos e/ou intrínsecos deste recurso uniformizador. Não há falar em preclusão pro judicato, inexistindo afronta às disposições do Código de Processo Civil e ao Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. [...] 7. Agravo interno desprovido. (AgInt nos EREsp n. 1.653.157/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, CORTE ESPECIAL, DJe 29/10/2019.)
Ante o exposto, ACOLHO PARCIALMENTE os embargos de declaração
para esclarecer que, posteriormente, inclusive no julgamento perante o colegiado, os requisitos de admissibilidade poderão e deverão ser reapreciados. Publique-se e intimem-se. Brasília, 30 de maio de 2023.
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