Você está na página 1de 3

INDEFERIMENTO LIMINAR DE PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA ALIENAÇÃO DE

PRÉDIO

Proc. nº

Nos presentes autos vem Maria Paula … requerer, na qualidade de legal representante
da menor Rafaela …, autorização para proceder à alienação do prédio urbano sito na
Rua …, nº 11, descrito na Conservatória do Registo Predial de … sob o nº 00123-0, e
inscrito na matriz respetiva sob o nº 302.

Alega a requerente que tal prédio foi adjudicado à menor no âmbito do inventário
judicial que correu termos sob o nº … no extinto 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial de …,
e que pretende proceder à sua alienação para, com o produto da venda, amortizar o
empréstimo contraído para a aquisição de um outro imóvel, também adjudicado à
menor no mesmo processo de inventário.

A questão que se suscita, desde logo, nos presentes autos, é a de saber se a decisão
sobre o pedido da autorização legalmente exigida para a prática de atos pelo legal
representante do menor, tendo havido processo de inventário, é da competência do
Ministério Público.

No caso em apreço estamos perante um processo de autorização a um representante


legal de um incapaz para praticar um ato que legalmente depende dessa autorização -
cfr. artºs 124° e 1889°, nº 1, al. a), ambos do Código Civil.

Ora, o artº 1014º, nº 4, do Código de Processo Civil determina que "O pedido é
dependência do processo de inventário, quando o haja, ou do processo de interdição".
Trata-se de um processo de jurisdição voluntária que, logicamente, e por correr por
apenso a um processo judicial, é da competência de um tribunal judicial.

Pese embora o D.L. nº 272/2001, de 13 de outubro, tenha determinado a transferência


da competência decisória em processos cujo principal rácio é a tutela dos interesses
dos incapazes ou ausentes, do Tribunal para o Ministério Público, nomeadamente nos
casos de autorização para a prática de atos, o certo é que o nº 2 do artº 2º deste
diploma estabelece que o disposto no nº 1 do mesmo artigo não se aplica às situações
previstas na alínea b), quando esteja em causa autorização para outorgar em partilha
extrajudicial e o representante concorra à sucessão com o seu representado, sendo
necessário nomear um curador especial, bem como nos casos em que o pedido de
autorização seja dependente de processo de inventário ou de interdição". (sublinhado
nosso).

Tal norma visa a salvaguarda da unidade jurisdicional, por forma a assegurar a


intervenção do magistrado judicial nas situações em que anteriormente já tomara
posição, nomeadamente no respeitante à partilha de herança a que concorrera algum
incapaz ou ausente.

A al. b) do artº 21º do citado Decreto-Lei confirma esta ideia de continuidade da


intervenção judicial, uma vez que não revogou o disposto no artº 1014º deste diploma
que, assim, se mantém em plena vigência.

Assim, sempre que tenha corrido termos um processo de inventário ou um processo de


interdição, e ainda que estes estejam findos, as autorizações pretendidas pelo legal
representante do incapaz terão que ser requeridas por apenso àqueles autos.

Vejam-se neste sentido, por todos, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 18


de Novembro de 2004, (relator Araújo Barros), e do Tribunal da Relação do Porto, de 5
de Maio de 2005 (relator Oliveira Vasconcelos).

Nos termos do disposto no artº 96º do Código de Processo Civil a infração das regras
de competência em razão da matéria determina a incompetência absoluta do tribunal.

Por sua vez, determina o artº 99º, nº 1, do mesmo diploma legal que a verificação da
incompetência absoluta implica a absolvição do réu da instância ou o indeferimento
em despacho liminar.
Pelo exposto, indefere-se liminarmente o requerido.

Custas a cargo do requerente, pelo mínimo legal.

Registe e notifique.

A Magistrada do Ministério Público

_____________________________________________

Você também pode gostar