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Filosofia de São Tomás de Aquino

Por
Ximenes
– Posted on 13 de fevereiro de 2015Publicado em: Aprendiz

FILOSOFO OCULTO

Tomás de Aquino

Tomás de Aquino é indubitavelmente o maior teólogo da Igreja, e por isso mesmo,


recebeu os títulos de Doutor Angélico, Doutor Comum, Doutor Universal. Embora
sendo uma eminência teológica, esta não ofuscou a sua excelência filosófica. Muitas
vezes a sua sabedoria filosófica é esquecida, pois é citado quase sempre, como emérito e
incomparável teólogo, ficando oculta, a sua grandeza filosófica. Entretanto, as XXIV
Teses escritas por ele, e denominadas de “Teses Tomistas” , são lembradas justamente
para revelar a autêntica filosofia de São Tomás. E tanto é assim, que a filosofia do
grande mestre e teólogo marcou um espaço definido, sendo considerada como uma
legítima filosofia, denominada de“filosofia aristotélico-tomista”. Como afirmam os
grandes Mestres, não se pode deixar de reconhecer que Tomás de Aquino seguiu as
trilhas de Aristóteles, mas ele reformulou de tal modo e com tal sabedoria os
ensinamentos do sábio grego, que arquitetou outra filosofia, a sua própria filosofia.

Basta considerar como ele com discernimento, soube introduzir naquela filosofia, os
conceitos da criação das coisas por Deus, da temporalidade da matéria-prima, e também
do próprio ser, conduzindo as idéias até as últimas consequências, bem mais distante do
que aquilo que o Filósofo Grego apenas esboçara. É uma filosofia realista.
O Tomismo parte da realidade das coisas, não de idéias imaginadas, e delas, conclui
todo um sistema coordenado por teses. Em outras palavras: o Tomismo se originou da
percepção sensível do mundo, e depois tirou dela, no plano abstrativo da inteligência,
um conjunto harmonioso de teses. O Papa Leão XIII, na Encíclica “Aeterni Patris”,
descreve a filosofia de Tomás de Aquino: “O Doutor Angélico buscou as conclusões
filosóficas nas razões principais das coisas, que têm grandíssima extensão e conserva
em seu seio o germe de quase infinitas verdades, para serem desenvolvidas em tempo
oportuno e com imensa quantidade de frutos pelos mestres dos tempos posteriores”.

“As razões principais das coisas”, é o ponto de partida da Filosofia Tomista. Das coisas
que existem, percebidas pelos sentidos humanos, depois de conceituadas e analisadas
pela inteligência, Tomás de Aquino eleva as considerações até as explicações últimas
das mesmas. E é subindo das percepções mais primitivas das coisas, que São Tomás
chega à certeza do Supremo Criador de todas as coisas. Caminhando pelas mudanças
das coisas, da causalidade existente entre elas, da contingência, das perfeições, e da
ordem harmoniosa das mesmas, ele caminhando por cinco vias, atinge a sublimidade, a
suma perfeição, a existência de DEUS.

Tomás afirmava, que a verdade não tem dono, pertence a todos, é de todos, e
acrescentava que: “toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do ESPÍRITO
SANTO”, e diante das diversas opiniões dos filósofos, ele dizia: “não olhes por quem
são ditas, mas o que dizem”.

O Papa Paulo VI com felicidade descreveu a filosofia Tomista como aquela que abrange
o Ser “Tanto no seu valor universal, como nas suas condições essenciais”. Ao que o
Papa João Paulo II acrescentou dizendo em belos termos que: “esta filosofia poderia ser
chamada filosofia da proclamação do Ser, um autêntico canto em honra daquilo que
existe”.

Três Papas declararam que “A Igreja fez sua, a doutrina de São Tomás de Aquino”.

Por outro lado, como é compreensível, Tomás de Aquino não elaborou sozinho a sua
filosofia, não a construiu extraída da sua genial inteligência, mas recebeu contribuição
dos helênicos Platão e Aristóteles, dos israelitas Avicebron e Maimônides, dos árabes
Avicena e Averróis, dos Padres da Igreja, sobretudo de Santo Agostinho, da metafísica
implícita na Revelação, as quais estudou profundamente, e com o seu agudíssimo
espírito iluminado pela Luz de DEUS, uniu a herança recebida de seus predecessores às
suas contribuições pessoais, formulando a sua admirável Filosofia Tomista. A essência
deste Realismo está condensada nas XXIV Teses Tomistas.

Pode ainda surgir à pergunta, por terem sido As XXIV Teses formuladas pela Igreja e
por ela propostas, se a uma pessoa que confesse outro credo religioso diferente do
católico, lhe serão aceitáveis as XXIV Teses de São Tomás de Aquino? Evidentemente
teremos uma resposta positiva, porque essas teses limitam-se ao campo da filosofia
formulada pela razão natural. Ademais, as que se referem à temporalidade do mundo, à
imortalidade da alma, á dualidade corpo e alma, à doutrina da criação, embora sejam
afirmadas na Revelação, poderão ser descobertas pela própria razão natural. As Teses se
limitam, às filosofias que prescindem da teologia e das verdades religiosas, dos
mistérios e dogmas da fé.
O PRIMEIRO ESCRITO

Tomás escreveu entre os anos de 1252 a 1253, quando ainda era jovem, um opúsculo:
“O Ente e a Essência”. Nele, aborda questões metafísicas, explicando o percurso da
consciência humana entre a sensação e a concepção. Ele afirmava: aquilo que cai
imediatamente no alcance do saber humano é composto. O homem se eleva do
composto ao simples, do posterior ao anterior. A essência existe no intelecto. A
substância composta é matéria e forma. A forma e a matéria, quando tomadas em si,
isoladamente, sem a preocupação do entendimento racional, são incognoscíveis, ou seja,
não podem ser conhecidas, mas existem caminhos para a investigação das
possibilidades. O intelecto quando está isento de pensamentos materiais, revela que
nada pode ser mais perfeito do que aquilo que confere o ser humano. São Tomás é
famoso por ter cristianizado Aristóteles, à semelhança do que fez Agostinho com Platão,
ele transformou o pensamento daquele sábio num padrão aceitável pela Igreja Católica.
Isto, apesar de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, e de ser a sua obra
original, autônoma e independente de dogmas, ela está em harmonia com o saber
contido na Sagrada Escritura.

Tomás de Aquino afirmava que podemos conhecer DEUS pelos seus efeitos, porque
ELE , o SENHOR, é o último numa escala evolutiva, e a causa de todas as coisas. Antes
de DEUS vêm os Anjos, e antes desses, os homens. Ele comenta o gênero e a espécie,
que pertencem à essência, pois “o todo” está no indivíduo. A essência tem dois modos,
um modo dela própria, e o outro, nada é verdadeiramente dela, senão o que lhe cabe
como ela própria. Por exemplo o homem, por ser homem, será sempre racional (isto é
próprio do homem e de todos os seres humanos). Mas o branco e o preto não são noções
exclusivas da humanidade, não são verdadeiramente dos humanos. (Isto porque, existem
muitas raças e não somente homens brancos e pretos). A diferença da essência da
substância compostas e simples é que a composta tem forma e matéria, e a simples é
apenas forma. A inteligência possui potência e ato. Tomás de Aquino afirma que a
essência de DEUS é o seu próprio Ser.
Suas obras teológicas têm muitos aspectos filosóficos. Por exemplo, recordemos a sua
clássica afirmação, de que o homem possui uma capacidade, concedida por DEUS, de
distinguir naturalmente o certo e o errado. Ele não tinha uma visão muito positiva da
mulher, como Aristóteles, que dizia ser o homem mais ativo, criativo e doador de
energia vital na concepção, enquanto a mulher é receptora e passiva. Mas aceitava a
idéia do filósofo grego, acreditando que aqueles dizeres estavam de acordo com o que
estava na Bíblia, no versículo do Gênesis, o qual afirma que a mulher derivou de uma
costela do homem. Por outro lado, as Sagradas Escrituras ensinam como viver segundo
a vontade de DEUS, e dela, Tomás exauriu os seus argumentos sobre a vida moral. Ele
com inteligência e discernimento demonstra que não há conflito entre a fé e a razão. O
conhecimento verdadeiro é uma adição que se acresce a inteligência para o objeto (que
se estuda) ser bem compreendido. Apesar de DEUS ser a causa de tudo, ELE não age
diretamente nos fatos (nos acontecimentos) de sua criação. Mas a Providência Divina
existe e governa o mundo, pois ELE, o SENHOR, é absoluto e necessário a vida. Sem
ELE, o mundo é vazio e a existência é efêmera. A felicidade do homem só pode ser
encontrada NELE, na contemplação da Verdade e seguindo o Divino caminho.

A memória nasce pelo acúmulo de lembranças, e a lembrança nasce da experiência.


Mas o homem se eleva ao raciocínio e produz a arte. A filosofia é um conhecimento das
causas dos fenômenos. Assim a filosofia deve considerar o senso comum e tem um
aspecto coincidente com a teologia: seu saber provém da Sabedoria Divina. A Sabedoria
Divina deve ser cultivada através da fé, dizia Tomás, e isso é comum entre os teólogos.
Ele distingue na natureza o ser real e o ser da razão. O ser real existe independente de
qualquer consideração da razão. O ser da razão é aquele que apesar de existir em
representação, não pode ser independente do pensamento de quem o concebe. Assim a
lógica humana só existe no conceito, e não na realidade. Por outro lado, a alma é
imortal, pois é imaterial, e tudo que é imaterial é imortal.

Na “Suma contra os Gentios” (os Gentios eram os pagãos e os maometanos), ele faz
uma exposição completa da religião católica, identificando a verdade que existe nela.
Essa Suma trata de DEUS e de Suas Obras, da fé no Mistério da SANTÍSSIMA
TRINDADE, da Encarnação, dos Sacramentos e da Vida Eterna. DEUS é a verdade
pura, sem falsidade, Vontade que existe em SI e para SI, e neste processo estende a Sua
Divina Vontade para o que não é a Sua Essência. O que não é a Essência Divina, são as
coisas criadas por DEUS, pois DEUS é tudo. Não tem ódio, não quer o mal, e suas
entranhas dão Vida a um Amor Absoluto e Eterno, vibrante, caloroso e indestrutível.

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Na “Suma Teológica”, que é a sua obra mais importante, ele estabelece as relações entre
a ciência e a fé, e entre a filosofia e a teologia. Originando da revelação, a teologia é a
ciência suprema, da qual a filosofia é serva ou auxiliar. À filosofia se desenvolve de
conformidade com a razão, e por isso mesmo, lhe cabe demonstrar a existência e a
natureza de DEUS.

Ele afirma que não podemos ter de DEUS, uma idéia clara e absolutamente distinta,
porque nada existe na inteligência, que antes tenha estado nos sentidos humanos. Por
exemplo, se sentimos a presença de uma pequena pomba, que nossos olhos vêem, nosso
raciocínio recebe aquela informação dos sentidos e compreende que estamos vendo uma
pequena pomba.
Assim, para provar a existência de DEUS, ele procede a “posteriori”, partindo não da
idéia de DEUS, mas dos efeitos por ele produzidos, formulando cinco argumentos, ou

seja, propondo cinco vias:

1) O movimento existe e é uma evidência para os nossos sentidos; ora, tudo o que se
move é acionado por um motor; se esse motor, por sua vez, é movido, precisará de uma
força para impulsioná-lo, e, assim, indefinidamente, o que é impossível concebermos, se
não houver um primeiro motor ou uma força geradora, que movimente aquele primeiro
motor. E esta “força” existe, é a Vontade de DEUS.

2) Há uma série de diferentes causas que produzem variados efeitos, ao mesmo tempo;
ora, não é possível produzir indefinidamente uma série de causas; logo, terá que haver
uma causa primeira, não causada pelo homem, e que portanto, provêm da força de
DEUS.

3) Todos os seres são finitos e contingentes, pois não têm em si próprios a razão de sua
existência – são e deixam de ser; ora, se são todos contingentes, em determinado tempo
deixariam todos de ser e assim, nada existiria, o mundo ficaria vazio, o que é um
absurdo; logo, os seres contingentes implicam na existência do ser necessário, que é
DEUS, que tudo providencia.

4) Os seres finitos alcançam todos os determinados graus de perfeição, mas nenhum é a


perfeição absoluta; logo, há um ser sumamente perfeito, causa de todas as perfeições,
que é DEUS.

5) A ordem do mundo implica em que os seres tendam todos para um fim, não em
virtude de um acaso, mas da inteligência que os dirige; logo, há um ser inteligente que
os dirige; logo, há um ser inteligente que ordena a natureza e a encaminha para seu fim;
esse ser inteligente é DEUS.
Complemento Racional: No mar e nos rios, existe uma quantidade notável de diferentes
espécies de peixes, que se reproduzem por sua própria natureza. Como surgiram os
primeiros peixes, aqueles que colocaram os primeiros ovos para que nascessem todos os
outros na sequência da vida? Foi a Vontade Magnânima e Amorosa de Um DEUS
Poderoso e Eterno quem colocou os primeiros peixes no rio e no mar.

HOMEM, ALMA E O CONHECIMENTO

Para Tomás de Aquino, o homem é corpo e alma inteligente, incorpórea (ou imaterial),
e se encontra, no universo, entre os Anjos e os animais. Princípio vital, a alma é a parte
do corpo organizado que tem a vida em plenitude.

Contestando o platonismo e a tese das idéias inatas, Tomás de Aquino observa que se a
alma tivesse de todas as coisas um conhecimento inato, não poderia esquecê-lo, e, sendo
natural que esteja unida a um corpo, não se explica porque seja o corpo a causa desse
esquecimento.

Para Tomás, conhecer não é se lembrar, como pretendia Platão, mas extrair, por meio do
intelecto, a forma e o conhecimento que se acha contida nos objetos sensíveis e
particulares. Do conhecimento depende o apetite, ou o estimulo e desejo, a natural
inclinação da alma pelo bem.

O homem, só pode desejar o que conhece, razão pela qual há duas espécies de apetites
ou desejos: os sensíveis e os intelectuais. Os primeiros, são relativos aos objetos
sensíveis, e produz as paixões, cuja raiz é o amor. Os segundos ou intelectuais,
produzem a vontade, apetite da alma em relação a um bem que lhe é apresentado pela
inteligência como tal.

Seguindo Aristóteles, Tomás de Aquino diz que: “para o homem, o bem supremo é a
felicidade, que não consiste na riqueza, nem nas honrarias, nem no poder, e nem em
nenhum bem criado, mas na contemplação do absoluto, ou na visão da essência Divina,
realizável somente na outra vida, e com a graça de DEUS, pois excede as forças
humanas”.

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