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DE ORIGEM
VEGETAL
Introdução
Cereais são as plantas cultivadas por seus frutos (do tipo cariopse) comes-
tíveis, normalmente chamados grãos e são na maior parte gramíneas,
compondo uma família com mais de 6 mil espécies. São alimentos nutri-
tivos com alta porcentagem de amido, e utilizados como matérias primas
para a produção de farinhas e muitos produtos alimentícios. O amido,
quando processado passa por diversas transformações bioquímicas que
interferem nas características sensoriais dos alimentos, especialmente a
textura.
Neste capítulo, você vai conhecer as principais características de
diversos tipos de cereais e algumas transformações bioquímicas que
acontecem com o amido durante o processamento.
Estrutura Descrição
Arroz 65 16 2
Milho 64 10 5
Trigo 70 11 2
Trigo
O trigo é o cereal mais produzido em muitas partes do mundo e pertence à
família Triticum que possui milhares de espécies como T. Aestivum e o trigo
mais duro T. durum que é o de maior importância comercial.
O trigo é cultivado tanto no inverno como no verão e por possuir várias
espécies e variedades, sua adaptação é maior em vários tipos de solo e de
clima. Os maiores países produtores de trigo são os Estados Unidos, China,
Rússia, Índia, Paquistão e outros.
A maior parte do trigo produzido é utilizada para o consumo humano
devido às suas propriedades e variedades de preparações, que podem ser feitas
a partir dele, como macarrão, pães, massas, bolos e biscoitos.
6 Bioquímica de cereais
Arroz
O arroz é um cultivo muito importante, pois faz parte da alimentação base de
muitos povos, especialmente dos asiáticos. A maior produção de arroz se destina
ao consumo humano, incluindo cereais matinais e farinhas. No Japão, também
é utilizado para a produção de saquê (bebida fermentada à base de arroz).
Há grande variedade de tipos de arroz; porém, apenas algumas são produ-
zidas largamente, como o arbóreo, para preparação de risotos; o cateto, mais
parecido com grãos de arroz integral; o selvagem com grãos muito finos e
pericarpo negro e o jasmine, aromático empregado na culinária tailandesa.
Os tipos de grãos de arroz também podem ser classificados quanto ao
estágio de refino sendo empregados em três apresentações a seguir.
Milho
A espécie Zea mays L., também conhecida como milho é originado do hemis-
fério oeste. Além de ser uma forma barata de se produzir amido, é também
considerado a maior fonte de energia animal. Apesar de existirem variedades
diferentes, poucas são consumidas, como milho verde, milho doce e pipoca,
porém há muitas formas de se consumir o milho, por exemplo, tortilhas, fa-
rofas, mingaus, cremes, cuscuz, bolos e também in natura. O maior produtor
de milho é os Estados Unidos e muita pesquisa tem sido realizada através da
engenharia genética para aprimorar a produção.
Bioquímica de cereais 7
Aveia
A aveia apresenta o maior teor lipídico entre os cereais porque o gérmen é retido
(8,5g de lipídeo/100g). Este cereal pode ser cultivado tanto em climas secos
como em climas úmidos e tem sido basicamente produzido para a alimentação
animal. Uma pequena porção é destinada ao consumo humano, como a aveia
para mingaus e bolos; flocos de aveia e a farinha de aveia.
Para produzir os flocos de aveia é necessário realizar a descorticação dos
grãos, e após tratamento térmico, uma laminagem os transforma em flocos.
A aveia também é usada para outras funções que não fazem parte da
culinária como cosméticos e adesivos. Há muitas espécies diferentes e a mais
comum é a aveia branca (A. sativa L.).
Centeio
O centeio (Secale cereale) é uma planta dura que geralmente cresce em tem-
peraturas frias, onde outros cereais não conseguem se desenvolver. O centeio
também pode crescer em altas altitudes. Os maiores produtores são a Rússia,
a Polônia e Alemanha.
O grão de centeio é mais largo que o trigo, mas com extremidades mais
afiladas. O centeio é utilizado para produzir farinhas que posteriormente serão
utilizadas na preparação de pães. Também é utilizado na produção de álcool,
como whisky e vodka, além de ser usado para alimentar animais.
Cevada
A cevada, Hordeum vulgare, é uma planta tolerante em muitas condições
climáticas e de solo, é cultivada desde 15.000 anos a.C.. No Brasil, a produção
de cevada está concentrada na região Sul, devido ao clima mais ameno e onde
o sistema de cultivo é tradicional na agricultura familiar.
O principal mercado da cevada no mundo é a alimentação animal, com
66% da produção mundial utilizada como forrageira e ração para criações
de animais.
Apenas uma pequena produção de cevada é destinada à alimentação hu-
mana, sendo a produção de cerveja e malte os mais conhecidos; além de ter
inúmeras utilidades, como aplicada na composição de farinhas ou flocos para
panificação e derivados, na produção de medicamentos, na formulação de
produtos dietéticos e cafés.
8 Bioquímica de cereais
Cereais integrais
O consumo de cereais integrais deve ser sempre priorizado devido à maior
quantidade de nutrientes e também pela presença de fibras que podem auxiliar
na prevenção de doenças crônicas, especialmente as cardiovasculares. O
consumo de cereais integrais ainda não é tão comum pela população devido
à falta de hábito e também pela certa dificuldade de preparo. A presença da
aleurona que cobre o endosperma traz algumas características para a seleção
e preparo de alimentos:
Gelatinização
Em água fria, o amido é insolúvel. Entretanto, quando aquecidas, as molé-
culas iniciam um processo vibratório intenso, ocorrendo quebra das pontes
de hidrogênio intermoleculares. Este processo descrito na Figura 3 permite a
entrada de água que promove a gelatinização do amido.
10 Bioquímica de cereais
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Dextrinização
A dextrinização do amido é a hidrólise provocada pelo aquecimento prolon-
gado ou pela ação de substâncias ácidas e/ou básicas. Este processo conduz
a uma alteração estrutural do amido através do rompimento gradativo das
membranas liberando dextrina.
Em termos nutricionais, a dextrinização ajuda a melhorar a digestão do
amido. Para a tecnologia, os amidos dextrinizados têm como principais apli-
cações: espessamento; textura das preparações; retenção da umidade em
produtos empanados, que necessitam suportar altas temperaturas no momento
da fritura; agente selante em confeitos, para não permitir que o açúcar se
desprenda do centro do confeito e migre para o exterior, e encapsulamento
de aromas na forma de pó.
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Retrogradação
A retrogradação é um fenômeno complexo e varia de acordo com diversos
fatores, como: temperatura e tempo de armazenamento; pH; fonte de amido;
presença de outros componentes (lipídeos, eletrólitos e açúcares) e condições
de processamento.
Quando é armazenado e resfriado, o amido gelatinizado pode sofrer o
fenômeno denominado de retrogradação. Com o passar do tempo, as moléculas
do amido vão perdendo energia e as ligações de hidrogênio tornam-se mais
fortes, assim, as cadeias começam a reassociar-se num estado mais ordenado.
Essa reassociação culmina com a formação simples de duplas hélices, resul-
tando no enredamento ou na formação de zonas de junção entre as moléculas,
formando áreas cristalinas. Como a área cristalizada altera o índice de refração,
o gel vai se tornando mais opaco à medida que a retrogradação se processa.
Como consequência, a viscosidade da pasta aumenta, convertendo-se num
sistema viscoelástico turvo ou em concentrações de amido suficientemente
altas num gel elástico opaco.
Este é um fenômeno decorrente da reaproximação das moléculas pela re-
dução de temperatura durante o resfriamento do gel, ocorrendo formação de
pontes de hidrogênio intermoleculares e liberação de água existente entre as
moléculas (sinérese). O processo de retrogradação tem maior propensão de
ocorrer em amidos com altos teores de amilose, resultando em contração,
aumento da firmeza e aumento da opacidade gel. Esta é uma característica
indesejável para a maioria dos produtos, por exemplo, é a principal causa
de envelhecimento de pães. No entanto, alguns alimentos, como flans, pudins
e manjares têm este fator como aliado.
A repetição de ciclos congelamento-descongelamento acelera drasticamente
a retrogradação e a sinérese. Porém, a principal influência da retrogradação
Bioquímica de cereais 13
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16 Bioquímica de cereais