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Costa v.

ENEL
Docente: Prof. Daniel de Bobos-Radu
realizado por Francesca Neiva e Leonor Muge

Licenciatura em Estudos Europeus


Unidade Curricular de Direito da União Europeia
2023/2024
Caso prático Costa v. ENEL

01 O Cenário
A nacionalização do setor da
eletricidade na Itália
02 Flaminio Costa
O cidadão que contesta a
legitimidade da ENEL

03 TCI
O processo perante o
Tribunal Constitucional
italiano
04 TJUE
O envolvimento do Tribunal
Judicial da União Europeia
01.
O Cenário
A nacionalização do setor da eletricidade na Itália
● Nacionalização do setor energético em Itália considerada
a medida mas incisiva e chocante do período pós-guerra.

● Nos anos 60, a produção de energia elétrica representava


um oligopólio extremamente lucrativo em Itália.

● O Governo de centro-esquerda de Fanfani pretende


nacionalizar a eletricidade através da criação da ENEL.

● Governo promete a conversão das ações dos acionistas do


oligopólio energético até lá privado em obrigações ENEL
garantidas pelo Estado.
“O projeto da nacionalização da energia em Itália era
incompatível com os compromissos assumidos perante o
Tratado da criação da CEE” - oposição

PLI PDIUM MSI


Centro-direita Direita Extrema-direita

Partido Liberal Italiano Partido Democrático Movimento Social


Italiano da Ordem Italiano
Monárquica
LEI ENEL (nº 1643, 6/12/1962)

Embora a discordância dos


partidos da oposição, o
projeto-lei da nacionalização
foi aprovado por ambas as
Câmaras do Parlamento e
torna-se a Lei nº 1643 de 6 de
dezembro de 1962, a LEI
ENEL.
02.
Flaminio Costa
O cidadão que contesta a legitimidade da ENEL
Quem era Flaminio Costa?

Advogado Ativista Monárquico

Inscrito na Ordem dos Cliente e acionista da


Advogados de Milão Edisonvolta S.p.A, uma das
empresas de energia que foram
alvo da nacionalizção
Primavera de 1963 – Costa recebe uma
fatura de 1925 liras (99 cent.) da ENEL
em vez do seu fornecedor de eletricidade
e recusa-se a pagá-la
● Costa alega que a ENEL não tinha assumido validamente
o seu contrato de fornecimento de eletricidade, porque a
lei da nacionalização infringia tanto a Constituição como
o Tratado CEE.

● Costa foi assistido por Stendardi, outro advogado milanês


no processo de oposição à nacionalização da eletricidade.

● Costa pede, no Tribunal de Paz de Milão, que o processo


seja enviado para o Tribunal Constitucional Italiano e
para o TJUE. O Juíz de Paz apenas o enviou para o TCI.
• Costa recebe uma segunda conta de eletricidade da ENEL e
apresenta-a diante de outro Juíz de Paz, Vittorio Emanuele
Fabbri, monárquico, que finalmente a envia para o TJUE.

• Vittorio Emanuele pergunta ao TJUE se a Lei ENEL era


consistente sobre as disposições do Tratado CEE sobre
monopólios comerciais, direito de estabelecimento,
concorrência e auxílios estatais.

Art. 93º Tratado de Roma


Auxílios concedidos pelos Estados-Membros

Art. 107º nº1 TFUE


Comunicaçao
̃ da Comissão sobre a noçao
̃ de auxílio estatal
03.
TCI
O processo perante o Tribunal Constitucional Italiano
● No acórdão nº 14, de 24 de fevereiro de 1964, o TCI
rejeitou todas as objeções à constitucionalidade da Lei
ENEL.

● No que diz respeito à violação das disposições do Tratado


CEE, o TCI declarou que o art. 11º da Constituição era
meramente uma “disposoição permissiva”.

● Art. 11º CRI : “A Itália (...) consente, em condições de


paz e igualdade com outros Estados, as limitações da
soberania necessárias para uma ordem que garanta a paz
e justiça entre as nações; promove e encoraja as
organizações internacionais dirigidas para este fim.”
● O TCI acrescentou que uma violação qualquer do Tratado
CEE poderia implicar implicar a “responsabilidade do
Estado a nível internacional”, mas não poderia privar a
lei ordinária em questão da sua “plena eficácia” no
sistema interno ou determinar a sua
inconstitucionalidade.

● Uma vez que o conflito entre a Lei CEE (anterior) e a Lei


ENEL (posterior) tinha de ser resolvido segundo o
princípio LEX POSTERIOR DEROGAT PRIORI, não
havia necessidade de solicitar ao TJUE uma decisão
prejudicial sobre a interpretação do Tratado de Roma
(CEE).
04.
TJUE
O processo perante o Tribunal Judicial da União Europeia
● Stendardi, após a contestação da segunda fatura da ENEL recebida
por Costa, apresenta outro caso a um juíz diferente, como já referido,
Vittorio Emanuele Fabbri.

● Stendardi reitera a tese da inconstitucionalidade da lei ENEL e pede


que esta seja remetida para o TJUE.

● Stendarti defende que a tese da fiscalização era “difusa”, afirmado


que, se o Tribunal de Justiça da UE tivesse verificado a violação de
pelo menos uma disposição do Tratado CEE, o juíz de paz poderia
imediatamente revogar a Lei ENEL, mesmo na ausência de uma
declaração prévia de inconstitucionalidade do TCI.
● O caso foi confiado a Vittorio Emanuele Fabbri, ativista monárquico,
que o encaminhou ao TJUE e ao TCI.

● Nas suas observações ao TJUE, Stendardi reitera a sua opinião de


que os Arts. 37º, 53º, 93º e 102º do Tratado CEE eram
incompatíveis com a Lei ENEL.

● Stendardi caracteriza a Lei ENEL como uma medida nefasta para o


futuro da economia italiana e como um retorno de princípios
comunistas que punham em causa a economia de livre mercado.
Sentença

● O TJUE decidiu parcialmente a favor do Governo italiano, porque a


regra relevante do Tratado de Roma sobre um mercado sem
intervenção, era algo que a Comissão Europeia poderia usar por si só
para desafiar o governo italiano.

● Porém, como indivíduo, Costa não tinha legitimidade para contestar


a decisão, porque essa disposição do Tratado não tem efeito direto.

● Na questão anterior da capacidade de Costa levantar uma questão de


direito comunitário contra um governo nacional num processo legal
perante os tribunais desse Estado Membro, o TJUE discordou do
Governo italiano.
Sentença

Foi decidido que a legislação comunitária não seria eficaz se Costa não
tivesse podido contestar a legislação nacional com base na sua suposta
incompatibilidade com o Direito Comunitário.
Importância do Estudo do Caso

● Este caso é outra confirmação de que, nos termos do Art. 267º do


TFUE, um tribunal tem a obrigação de encaminhar os casos que
tenham chegado à instância mais alta de recurso nos seus respetivos
países, se for uma questão de aplicação do Direito da UE.
● Costa tinha assim chegado à instância mais alta de recurso.
Bibliografia

• https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/5855/pdf
• https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:61964CJ0006&from=EN
• https://es.wikipedia.org/wiki/Caso_Costa_contra_ENEL#Sentencia/
• https://eur-lex.europa.eu/legal-content/IT/TXT/PDF/?uri=CELEX:11957E/TXT

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