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09/08/23, 15:10 De pai para filho: 7 em cada 10 casos de TDAH são hereditários; veja os sinais em adultos e crianças - Estadão

De pai para filho: 7 em cada 10 casos de


TDAH são hereditários; veja os sinais em
adultos e crianças
Cada vez mais adultos têm descoberto o transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade após o diagnóstico dos filhos; tratamento é essencial em qualquer
etapa da vida

Por André Bernardo


09/08/2023 | 09h30

7 min de leitura

Certo dia, Gabriel, um garoto sempre alegre e falante, chegou em casa, triste e calado. Ao ser indagado sobre o que tinha acontecido na escola,
respondeu que foi chamado de “maluco” por um colega de turma. Na mesma hora, o pai pegou um dicionário e, ao lado do filho, saiu à procura
do verbete. Entre outros sinônimos, descobriu dois que considera marcantes: “diferente” e “peculiar”. “Ser diferente é o que faz a sociedade
evoluir e a torna mais democrática. Ou seja, mostrei ao Gabriel que ‘maluco’ não tinha apenas sentido negativo”, explica o escritor Eduardo
Ferrari, de 55 anos. “Quanto à outra definição, ele a usa constantemente. Quando alguém pergunta como se define, meu filho responde: ‘Sou
peculiar!’”.

Gabriel tinha apenas 5 anos quando começou a apresentar os primeiros traços de desatenção. À época, não conseguia contar de um a dez. Por
sugestão da escola, os pais o levaram a uma fonoaudióloga que, na dúvida, indicou outros especialistas. Dois anos e dezenas de consultas
depois, com psicólogos, psiquiatras e neurologistas, saiu o diagnóstico: transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

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“Toda vez que o médico falava de alguma dificuldade do Gabriel, é como se ele falasse das minhas próprias dificuldades. Assim como ele, eu
também, quando criança, tive problema de alfabetização. Também fui alfabetizado tardiamente”, relata Eduardo que não demorou para
descobrir que, a exemplo do filho, também tem TDAH.

O escritor Eduardo Ferrari, 55, descobriu ter TDAH depois que o filho, Gabriel, foi diagnosticado com o transtorno. Foto: Marcelo Chello

Casos como o de Eduardo, que descobriu ter TDAH depois do diagnóstico do filho, são “extremamente comuns”. Quem garante é o psiquiatra
Luis Augusto Rohde, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vice-presidente do Conselho Científico da
Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA). Segundo a entidade, o Brasil tem hoje cerca de 2 milhões de adultos com o distúrbio.

Quando Rohde começa a detalhar os sintomas de TDAH em crianças, como deixar tarefas pela metade, agir antes de pensar ou não parar
quieto por muito tempo, os pais costumam arregalar os olhos, incrédulos: “Nossa, você está descrevendo como eu era quando criança!”, “Peraí,
doutor, eu também sou assim!” ou “Da próxima vez, vou marcar uma consulta para mim!”.

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O coeficiente de herdabilidade do TDAH, explica o médico, é dos mais altos: 0.75. No campo da saúde mental, só perde para o do Transtorno
do Espectro Autista (TEA): 0.8. “Na fase adulta, os sintomas mais proeminentes são desatenção, procrastinação e impulsividade”, destaca. “Há
poucos adultos hiperativos. É uma característica mais presente em crianças, principalmente nos meninos”.

Foi com certo alívio que o advogado Guilherme Anders, de 51 anos, descobriu que tem TDAH. Ano passado, sua filha, Emanuela, de 22,
recebeu o diagnóstico. Ao conversar com ela sobre a condição, se identificou com alguns dos sintomas e procurou fazer uma avaliação com
uma neuropsicóloga. Não deu outra.

“Ao longo do tempo, desenvolvi estratégias para driblar os desafios do TDAH. Em alguns momentos, gasto mais energia que outras pessoas
para executar determinadas tarefas. Mesmo assim, não vejo prejuízos. Certas características podem trazer uma visão diferente das situações e
contribuir criativamente para as soluções”, filosofa Guilherme.

Testes para
diagnosticar Testes de TDAH em adultos se espalham na internet. Mas eles são
adultos com
confiáveis?
TDAH têm se
espalhado na
internet

Adultos também precisam de tratamento


Na maioria das vezes, os pais, quando descobrem que os filhos têm o transtorno, costumam aderir ao tratamento, que consiste basicamente
em remédio e psicoterapia. Mas, há exceções, alerta a psicóloga Márcia Verständig. “Alguns pais entendem que os filhos não precisam se
tratar. ‘Se eu consegui superar as dificuldades’, raciocinam, ‘meus filhos também conseguirão’. Mas, sem tratamento, o TDAH pode trazer
prejuízos. Quanto antes, melhor”, orienta a psicóloga, acrescentando que o transtorno pode ser dividido em três apresentações: déficit de
atenção (quando os portadores são mais desatentos que impulsivos), hiperatividade (quando são mais impulsivos que desatentos) e
combinado (tão impulsivos quanto desatentos).

A lista de malefícios em crianças é extensa e abrange conflitos familiares, notas baixas e poucos amigos. Em adultos, a situação não é diferente.
No caso de Eduardo, diagnosticado com mais de 45 anos, o TDAH causou, entre outros estragos, empregos perdidos e amizades desfeitas. Até
um casamento de mais de 20 anos esteve por um fio.

“Quando eu soube que tinha TDAH, entendi um monte de coisas. A irritabilidade, por exemplo. É bastante comum em adultos com diagnóstico.
Por essas e outras, sofri preconceito, fui hostilizado e até falaram mal de mim”, lamenta Eduardo, que recebeu também o diagnóstico de
Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), incluído no último Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (DSM-5).

Como desconfiar do TDAH


Para descobrir se o paciente tem TDAH, o pediatra, psiquiatra ou neurologista aplica um questionário, elaborado pela Associação Americana
de Psiquiatria (APA, em inglês), com 18 sintomas, nove de desatenção e nove de hiperatividade e impulsividade. Se a criança ou adolescente
apresenta, no mínimo, 12 deles, seis de desatenção e seis de hiperatividade e impulsividade, e o adulto, dez, sendo cinco de cada, liga o sinal
amarelo.

Se esses sintomas estão presentes antes dos 12 anos, causam problemas em dois ambientes diferentes (casa e escola, por exemplo) e trazem
prejuízos à vida pessoal, familiar, acadêmica e profissional, acende o alerta vermelho. Ainda não inventaram exame laboratorial ou de imagem
que ajude a detectar o distúrbio que, segundo estimativas, atinge 5% da população infanto-juvenil e 2,5% da adulta.

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Mas, atenção: não é porque o filho (ou a filha) tem TDAH que o pai (ou a mãe) será obrigado a ter. É o que explica o psiquiatra Elton Yoji
Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), em São Paulo. “Nem toda pessoa desatenta, por exemplo, tem diagnóstico de TDAH.
Em alguns casos, essa desatenção pode ser resultado de uma situação rotineira ou estressante. Em outros, pode ser sintoma dos mais variados
transtornos, como ansiedade ou depressão. É preciso tomar cuidado para não banalizar o diagnóstico. Diagnósticos excessivos podem levar a
tratamentos desnecessários”, adverte o médico.

Gabriel virou protagonista de uma trilogia escrita pelo próprio pai sobre TDAH. Foto: Marcelo Chello

E os adultos que não têm filhos? Como saber se têm TDAH e não foram diagnosticados na infância? Bem, neste caso, é bom seguir algumas
pistas. Distraídos, agitados e irritadiços, todos nós, em algum momento de nossas vidas, podemos ser. O que distingue o sujeito avoado, que
vive com a cabeça nas nuvens ou no mundo da lua, daquele com transtorno é o prejuízo. Uma coisa é você esquecer de realizar uma tarefa
importante porque está exausto, mas se lembrar dela na manhã seguinte. Outra, completamente diferente, é nunca terminar de fazer o que
começou. E, por essa razão, perder prazos, pagar multas e levar broncas.

A exemplo de Eduardo e Guilherme, o empresário Ricardo Andrez, de 51 anos, também só descobriu o distúrbio depois do diagnóstico da filha,
Beatriz, de 11 anos. Logo no início de sua vida escolar, quando começaram a surgir as primeiras dificuldades, a orientadora sugeriu o apoio de
uma psicopedagoga. De especialista em especialistas, a família chegou ao veredicto em 2021.

“Não tinha conhecimento de que o TDAH poderia ser uma condição hereditária”, admite Ricardo. “Aprendemos a ‘contornar’ as armadilhas.
Como eu costumo me esquecer de algumas tarefas, faço uso de post-its e os deixo em lugares visíveis para me lembrar. Levamos uma vida
completamente normal, sem limitações ou qualquer tipo de problema”, orgulha-se.

Quanto ao Gabriel, o menino do início da reportagem, ele virou protagonista de uma trilogia escrita pelo próprio pai e ilustrada por Paulo
Stocker: Elétrico (2019), Distraído (2020) e Falante (2021), todos da Literare Books. Hoje, aos 15 anos, lê e escreve bem, é criativo,
responsável e talentoso, e demonstra forte aptidão pelo desenho.

“Não queria fazer um livro técnico ou didático. Queria combater o preconceito. Mostrar que o TDAH não é um mito. Há quem pense que não
existe, mas já foi comprovado cientificamente que sim. Quanto ao Gabriel, ele se orgulha muito de ter inspirado as histórias. É como se ele
também tivesse escrito os livros”, brinca.
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