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10/01/2024, 16:19 TDAH: quando a desatenção é diagnosticada na vida adulta — Humanista

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TDAH: quando a desatenção é


diagnosticada na vida adulta
Comum em crianças, o transtorno também afeta adultos e causa prejuízos sociais
e emocionais; diagnóstico e tratamento são fundamentais em qualquer idade.

11 JUL, 2023

Déficit de atenção pode prejudicar atividades no trabalho ou estudos. Imagem: reprodução/Centro Cultural do Ministério da Saúde.

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10/01/2024, 16:19 TDAH: quando a desatenção é diagnosticada na vida adulta — Humanista

O TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção) é uma


condição muito relacionada às crianças. Até os 12 anos,
idade limite para o desenvolvimento do transtorno,
agitação, “viver no mundo da lua” ou um desempenho que
LAISE JERGENSEN
deixa a desejar na escola muitas vezes acendem o alerta de
pais e professores, que buscam o diagnóstico para os mais 
novos. Estudos apontam que apesar da expressiva
prevalência em crianças (estima-se que atinge até 6% da
população infantil), o TDAH pode persistir na vida adulta,
afetando em média 2,5% de pessoas em todo o mundo.

Não é falta de atenção. Enfrentar um foco disperso ou


dificuldade para aprender algum assunto difícil não
classifica uma pessoa com TDAH. O transtorno vai além:
afeta um indivíduo necessariamente a partir da infância,
refletindo sempre em um desempenho cognitivo abaixo do
esperado. Nos adultos, notas baixas na vida acadêmica
são muito comuns, assim como dificuldades no
trabalho, que inclusive causam uma maior tendência a
demissões, espontâneas ou não, em pessoas com o
transtorno.

Por causar menos danos emocionais diretos que outros


transtornos psicológicos, o TDAH é ignorado ou pouco
percebido por muitos dos portadores ao longo da vida
adulta, o que causa prejuízos sociais e afetivos secundários
significativos. O diagnóstico é um grande desafio – não é
feito a partir de testes laboratoriais e necessita de
profissionais de saúde qualificados no transtorno para
alcançar uma boa precisão. O diagnóstico e,
posteriormente, o tratamento garantem maior qualidade de
vida aos pacientes, com quem o Humanista conversou

O transtorno na vida adulta


Os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade
acompanham na vida adulta dois terços das crianças com
TDAH, segundo a ABDA (Associação Brasileira de
Déficit de Atenção). Maitê Schneider, psicóloga que
pesquisa o TDAH na UFRGS, aponta que há diferenciações
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na expressão do transtorno em adultos. A apresentação


hiperativa, por exemplo, é mais comum entre as crianças.
Ou seja, no início da infância os sintomas motores têm
maior prevalência, enquanto na vida adulta ficam mais
evidentes as questões mentais.

A autoestima também é um grande diferenciador do
transtorno na fase adulta. “O TDAH é um dos transtornos
que mais afetam a autoestima das pessoas, porque é muito
difícil esconder o transtorno. As pessoas percebem.
Começa, então, uma sensação de incompetência, de ser
incapaz. Vai ser provavelmente um adulto, que, se não tiver
acompanhamento, vai sentir a autoimagem rebaixada”,
explica a psicóloga.

Cairê Moreira é designer 3D de moda, consultor de


inovação da Renner está elencado na Forbes Under 30,
lista que destaca os mais brilhantes jovens, com potencial
transformador para o mundo. Lidando com o TDAH desde
os 9 anos, em alguns momentos teve a autoestima
impactada.

“Toda a minha construção da minha vida, eu não quis


aceitar tanto. Foi só nesses últimos dois anos que eu fui
entendendo melhor quais são as coisas positivas com as
quais eu poderia trabalhar”, explica o designer. “Eu sinto
muita insegurança em relacionamento, muita insegurança
no trabalho, sentindo que cometo erros toda hora. Achei
que eu nunca ia dar certo na vida”, desabafa Cairê.

O motion designer Luan Ott, também percebeu os


impactos na autoestima, que foram potencializados por um
diagnóstico que só aconteceu perto dos 30 anos de idade.
“Tu começar a se sentir burro. Estuda, estuda e não
consegue lembrar de nada. Eu vivia fazendo cursos que eu
não lembrava de nada. A partir da medicação, tive silêncio
na minha cabeça”, comenta.

Estudos apontam que em 75% dos casos em adultos, o


TDAH é acompanhado de comorbidades. Entre elas estão a
depressão, a ansiedade, o alcoolismo e a dependência
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química, o distúrbio do sono e diferentes transtornos


alimentares. Na vida social, pessoas com o transtorno
tendem a ser vistas como desorganizadas, preguiçosas,
esquecidas e lentas. A realidade é que o diagnóstico e o
tratamento apropriado reduzem os sintomas e devolvem o
controle e autoestima de muitos pacientes. 

Diagnóstico tardio
Muitas crianças não têm o diagnóstico. Algumas passam a
vida inteira sem descobrir o TDAH. Outras, no entanto, a
partir da vida adulta conseguem perceber algumas
disfuncionalidades próprias e, juntamente com o acesso ao
conhecimento, percebem a necessidade de procurar ajuda.

A psicóloga Maitê explica que um dos motivos para um


diagnóstico tardio é o estímulo adequado durante a infância
para um bom desempenho escolar, camuflando sintomas
em uma espécie de compensação. Na vida adulta, as
demandas aumentam e, na incapacidade de sustentar esse
rendimento, ficam evidentes os sinais do transtorno.

Para as mulheres, o diagnóstico é ainda mais complexo e


restrito. Para responder às expectativas sociais
relacionadas ao gênero, as meninas tendem a camuflar
melhor os sintomas de TDAH, demonstrando mais
interesse pelos estudos, enquanto os meninos têm mais
permissão para expressar a hiperatividade, por exemplo. A
ABDA explica que, anteriormente, acreditava-se em uma
maior prevalência da condição entre os meninos. Hoje, com
maior percepção da intersecção entre saúde e fatores
sociais, as pesquisas apontam que o TDAH não afeta
homens e mulheres de forma igual.

A situação também fica evidente nos recortes de classe e vai


além da falta de acesso à informação e aos serviços de
saúde. “É uma condição bastante relacionada à classe média
atualmente. Muitas vezes, as pessoas com menos renda
fazem trabalhos que necessitam de menor performance
cognitiva, trabalhos bastantes manuais. Por vários motivos,
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o TDAH não é visto em pessoas com maiores dificuldades


sociais”, explica Eugênio Horácio Grevet, médico psiquiatra
coordenador do ambulatório para adultos do ProDAH –
Programa de Transtornos de Déficit de
Atenção/Hiperatividade.

Criatividade
Em busca de estratégias para lidar com o TDAH na vida
adulta, o designer Cairê decidiu explorar a criatividade e o
hiperfoco em áreas específicas, comportamento frequente
em pessoas com o transtorno. “Quando eu percebi que o
meu hiperfoco era justamente nessa área de estratégia, de
conseguir soluções para problemas complexos, foi uma
mudança de chave”, conta o designer.

Considerado um profissional do futuro, Cairê Moreira é referência na área de


moda e tecnologia | Créditos: Divulgação

Cairê conta que, a partir do momento que elaborou o


potencial de um pensamento menos linear, conversou com
lideranças da Renner, empresa na qual trabalha
atualmente, sobre a necessidade de ser um profissional que
cria, que constrói o que ainda não existe. A companhia
entendeu e, em busca de aproveitar talentos sob uma nova
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perspectiva, criou um setor de Inovação. “Eu tenho uma


visão ampliada. Consigo ver muito mais cenários que a
maioria das pessoas. Eu brinco com a minha equipe que
parece que eu vivo futuro, passado e presente. Tudo ao
mesmo tempo”, complementa.

Indo na contramão dos estigmas, estudos apontam que
pessoas com TDAH são mais criativas. Isso porque a
dispersão de pensamento, característica do transtorno,
aumenta a suscetibilidade a novas ideias. Não por
coincidência, as pessoas com a condição que conversaram
com o Humanista (Luan Ott e Cairê Moreira) ocupam
posições relacionadas à criatividade no mercado de
trabalho. A criatividade é vista não só como uma
característica das pessoas com TDAH, como também uma
vantagem a ser explorada por elas para gerar valor nas
relações pessoais, no mercado de trabalho e nas expressões
artísticas. Personalidades como Will Smith, Jim Carrey e
Justin Timberlake são exemplos de artistas bem-sucedidos
que falam abertamente sobre o transtorno.

Em um curta-metragem de animação, Daniel Martínez Lara


e Rafa Cano Méndez expressam o funcionamento da
criatividade em pessoas com TDAH.

O artista Daniel Cancello fez o seu funcionamento cognitivo


virar música, com a canção “TDAH”. Escute:

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E o diagnóstico?

O psiquiatra Eugênio explica que a perda do foco em


atividades da rotina que são menos prazerosas,
esquecimentos e distrações frequentes, e afetação do
desempenho acadêmico ou no trabalho são sinais de
alerta, principalmente quando existe relação com
sintomas na infância.

Com o ProDAH, a UFRGS e Hospital de Clínicas são


precursores na criação de ambulatórios especializados
para pessoas com TDAH. Idealizado em 1999, o
ambulatório específico para adultos está em
funcionamento desde 2002. Lá são atendidas de forma
gratuita pessoas com suspeita de TDAH, que também
participam dos estudos promovidos pelo projeto. Os
pacientes podem solicitar uma avaliação com a
secretária Vanice pelo telefone (51) 99712-8294. Há
uma lista de espera, e os pacientes são contatados de
acordo com o andamento das pesquisas.

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ProDAH, projeto da UFRGS e do Hospital de Clínicas dedicado ao ensino,


pesquisa e atendimento a pacientes com o transtorno | Créditos: Hospital de
Clínicas/Divulgação

O ProDAH faz o encaminhamento para a rede pública


de saúde quando há diagnóstico, mas também é
possível conseguí-lo por meio CAPS (Centro de
Atenção Psicossocial), ou pelos convênios, conforme o
artigo 10 da Lei de Planos de saúde (n° 9.656/98).
Ainda, segundo a Política Nacional de Proteção
dos Direitos da Pessoa com Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade
(TDAH), empresas, públicas ou privadas, com mais
de 10 mil empregados tenham equipe de recursos
humanos capacitada para lidar com pessoas
diagnosticadas com TDAH.

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O Humanista é o jornal laboratório da Faculdade de Biblioteconomia e


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