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Aluminum girl

DASARTES 116 / Capa

CHARLES RAY
DESDE A DÉCADA DE 1970, E AO LONGO DE QUASE 50 ANOS DE CRIAÇÃO, CHARLES RAY SE TORNOU UMA DAS FIGURAS MAIS MARCANTES DO CENÁRIO ARTÍSTICO INTERNACIONAL. SUA OBRA ESCULPIDA, MARCANTE, SINGULAR, INIGUALÁVEL,
IMPRESSIONA COM SUA FORÇA DE INVENÇÃO E QUESTIONAMENTO

15/02/2022Por PHILIPPE SÉNÉCHAL

Nascido em 1953, em Chicago, e agora morando em Los Angeles, Charles Ray é um dos poucos artistas de sua geração que tiveram um impacto duradouro na história da arte recente. Muito diversificada, embora limitada em quantidade, a sua obra parte de uma pergunta constantemente repetida e
modulada: “O que é a escultura?” Informado por um profundo conhecimento de sua arte, Charles Ray desenvolve uma ampla gama de respostas que vão contra qualquer significado inequívoco e qualquer interpretação imposta. Combinando, às vezes com certo humor, modelos históricos (Grécia
antiga, Renascimento italiano) e cenas ou objetos da vida cotidiana, suas esculturas, pelo espaçamento sutilmente combinado, pela sintaxe, criam o espaço que ocupam. Pela dimensão temporal de sua apreensão, que pressupõe espectadores em movimento compartilhando esse espaço, eles também
fazem parte de uma dupla duração: a de sua experiência, sempre em processo de devir, e aquela, livre e ilimitada, das ressonâncias que surgem em cada um.
Clock man, 1995

A precisão e complexidade que acompanham a criação de suas obras testemunham sua força de invenção e renovação. Ao colocar a questão do espaço no centro de sua obra, Charles Ray oferece aos visitantes uma experiência intensa e misteriosa, extremamente íntima.

“Uma escultura se encaixa no espaço-tempo de sua localização. Está integrado não só no complexo cultural que lhe é contemporâneo, mas também no do passado e do futuro. O estar ali, dentro da cultura, induz a um aqui e agora. A escultura integrada persiste não apenas materialmente, mas
também culturalmente como geradora de sentido, em relação às preocupações do presente.” (Charles Ray).

IMITAÇÃO E FICÇÃO

© Charles Ray courtesy of the artist.

Entre formalismo e reflexão sobre a representação e sobre o indivíduo, Charles Ray joga com a noção de escala e os efeitos de distorção da realidade, por vezes o mais ínfimo, uma veia que se desvanece, um olhar ausente, uma expressão suspensa… Esculturas feitas, os seres cotidianos e os
objetos tomados como modelos frustram nossos rumos, por deslocamentos e transposições imperceptíveis, por um recurso ao que o olho pode, em um primeiro olhar, conservar como uma obsessão hiper-realista, quase virtuosa, mas cujos detalhes, particularismos, ao contrário, ocultam-se para dar
à figura representada um caráter universal, até a abstração. O artista se diverte nos fazendo olhar duas vezes. Ainda mais: tanto por sua “estranha familiaridade”, sua ambiguidade, quanto por sua indizível precisão que parece destreza, as obras de Charles Ray desestabilizam, como sob o efeito de
uma alucinação, quase conseguindo abalar a própria verdade, tornando e introduzindo silenciosamente o espectador em uma forma de ficção, uma realidade fingida.
Quer trabalhe em pedra, prata ou aço, Charles Ray cria fantasmas sólidos que vêm assombrar nosso espaço.

PENSANDO ESCULTURALMENTE

Fall ‘91, 1992.

Self-portrait, 1990
Self-portrait, 1990

Charles Ray explica como, por meio de sua leitura da obra de Alberto Giacometti e suas figuras esbeltas no espaço, passou a não mais “pensar escultura”, mas a “pensar esculturalmente”. Sua prática artística coloca a questão do espaço no centro de sua pesquisa e oferece ao espectador uma
experiência mais complexa, mais misteriosa da relação com a realidade. Para Charles Ray, a escultura é o meio que estabelece a relação mais privilegiada com o espaço, explora mais eficazmente esse tensionamento, físico e psíquico. Além disso, o artista concebe esculturas capazes de atuar sobre
o espectador, em particular pela extensão do espaço vazio que exigem ao seu redor, sem distanciamento, na maioria das vezes em um nível, sem dispositivo de pedestal aparente.

“Sobre os temas das minhas obras, quando eu era um jovem escultor, muitas vezes observava a escultura modernista, mas nunca entendi o assunto; mais recentemente, comecei a perceber que, para muitos escultores desta geração, o verdadeiro significado do seu trabalho não estava nos materiais
que utilizavam (como vigas ou pregos) mas na relação que estabeleciam com estes materiais.” (Charles Ray)

PROCESSO CRIATIVO

Baled truck, 2021

Seja o trabalho produzido em aço, fibra de vidro, alumínio, cimento, papel, aço polido, a prática de Charles Ray recorre a vários processos, entre o trabalho artesanal e a tecnologia industrial de ponta. “Um artista trabalha com as mãos”, afirma antes de especificar que “hoje os tempos mudaram, e
na realidade trabalho com as mãos de vinte pessoas”.
Charles Ray trabalha lentamente, com um prazer de experimentação, uma atenção meticulosa aos detalhes cujos arrependimentos, hesitações, esforços ele esconde. A busca pelo seu tema, o teste de técnicas, materiais e escalas, a produção de diferentes versões, a meticulosa pós-produção… muitas
vezes exigem anos de trabalho. Cada etapa é metodicamente pensada, cuidadosamente calibrada e executada em um processo imutável: primeiro em argila, depois em papel machê, em fibra de vidro e, finalmente, no material escolhido.

Em sua criação, Ray mantém pouquíssimas técnicas de execução tradicionais, como modelagem em argila para os contornos ou a escultura direta para madeira. Os outros processos são radicalmente novos. Eles incluem scans de fotografias resultando em modelos 3D, fundições em Forton MG,
uma mistura de gesso reforçado com fibra de vidro e disponível desde 1990, e, para as estátuas finalizadas, uma moldura de aço inox definindo todo o volume, depois revestida com fibra de vidro e tinta branca. O mais incrível é a produção das esculturas apenas em aço: uma vez concluída a
digitalização, um bloco de metal é atacado por uma usinagem extremamente lenta, controlada por computador, na oficina de seu amigo Mark Rossi, um lugar paradoxalmente chamado de Handmade. Ao contrário de tudo o que sabemos sobre escultura em metal, as peças não são, portanto,
fundidas, mas cortadas; portanto, elas têm um peso considerável.

Sleeping Woman,
2012

Charles Ray ainda afirma esculpir ao longo do tempo. Convencido de que o tempo age sobre a escultura tanto quanto o artista, ele às vezes toma emprestado da filosofia alemã o termo Zeitgeist, que significa literalmente “espírito dos tempos”, ou seja, o que faz a escultura feita tanto pelo artista
quanto pela época e certo determinismo que impõe. Encontramos essa questão da temporalidade com Sleeping Woman (2012), que representa uma mulher afro-americana adormecida em um banco, onde o tempo biológico do sono é suspenso pela eternidade em um tempo que se torna geológico.

O CORPO DO ARTISTA: FANTASIA/SEXUALIDADE

Charles Ray faz de seu corpo um material essencial em seu trabalho, colocando-o em ação ou utilizando manequins à sua imagem. Este é o primeiro material disponível para o próprio artista. Este uso é alimentado pelos seus primórdios performativos e pelas esculturas que cria recorrendo ao seu
empenho físico, à escala do seu próprio corpo, como a peça Plank I & II, 1973, uma obra composta por duas fotografias em preto e branco que documentam a sua ação deitado sobre a parede.

Plank I, 1973.

Famoso por suas esculturas, o artista americano também faz uso da fotografia, como No (1992). Este autorretrato é uma fotografia de uma estátua de cera hiper-realista modelada na imagem do artista: olhando para o espaço, braços cruzados, enquanto espera para ser fotografada. É uma imagem de
uma imagem. A simplicidade do resultado final – um instantâneo que parece banal – dissolve o esforço, o virtuosismo, o tempo, da realização da obra. Encontramos aí o gosto de Charles Ray pelo questionamento da representação, da encarnação, da dissimulação e do gesto artístico.
No, 1992.

Em um exercício clássico de escultura – a representação de figuras em grupo – e na forma de personagens engajados no que parece ser um encontro de sexo, o artista se encena novamente: seu próprio corpo nu, oito vezes “clonado” em várias poses, explícito, cria uma ilusão pornográfica. Este é o
famoso trabalho intitulado Oh Charley, Charley, Charley… criado em 1992. Esses “manequins” de si mesmo participam de uma “ginástica” de gestos fixos e figuras desarticuladas. Para além do seu carácter muito provocador, envolvendo fantasia de autossexualidade e espírito de escárnio, a obra
mobiliza um conjunto de referências à história da escultura e em particular à questão da figuração e da inscrição do grupo no espaço: várias personagens empenhadas em uma ação comum sem diferenciação espacial – ou o mínimo possível – entre seu ambiente e o espectador.

Oh Charley, Charley,
Charley, 1992.

“Talvez os moldes do meu corpo e a crueza da figuração tragam a quantidade certa de artesanato para contribuir com a intencionalidade da escultura. Mas nada de mim é revelado. Masturbo minha identidade e meus desejos permanecem hermeticamente protegidos dos outros. Le Baiser, a soberba
escultura em pedra de Brancusi, une dois amantes. Minha escultura é o reverso dessa moeda de amor e afirma sem rodeios que não há outra.” (Charles Ray).

Philippe Sénéchal é curador e


professor de história da arte
moderna na Universidade de
Picardie Jules Verne.

CHARLES RAY • CENTRE POMPIDOU


• PARIS • 16/2 A 20/6/2022

CHARLES RAY: FIGURE ROUND •


MET MUSEUM • NOVA YORK •
31/1 A 5/6/2022

Centtr Pompidou, CHARLES RAY, escultura, Met Museum, nova York, paris

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