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*Como é a vida do deficiente visual e seu dia a dia em uma sociedade exclusiva — Texto: Uma
sociedade mais justa é a sociedade onde todas as pessoas que fazem parte são contempladas em
todos sentidos. Já para os deficientes visuais, a sociedade não é justa. O preconceito parece
aumentar mais a cada dia. Algumas situações exemplificam bem. Se o deficiente visual vai
procurar emprego, é rejeitado porque não enxerga e a empresa não quer saber de se adaptar
para recebê-lo. Na escola a criança cega não tem amigos de verdade e muitas vezes nem de
mentira, ou o que se chama de amigo por interesse. O deficiente visual também é cobrado por
não responder mensagens de imagens, mas como ele vai falar qualquer coisa sobre uma
imagem, sendo que ele não a viu? Tem muitas outras situações que são injustas para com uma
pessoa com deficiência visual. A pessoa fala: “Tadinho, não enxerga. Como vai fazer alguma
coisa?” Essa de ver o cego como um coitado sem noção magoa demais. Será que uma pessoa
que enxerga gostaria de ser chamada de coitada só porque para ler materiais impressos precisa
de luz ligada, enquanto o cego faz tudo sem ligar a luz? É isso mesmo. O fato de ser cego tem
lá o lado positivo que quem enxerga não consegue ver. Eu não ligo a luz para nada. A não ser
que vá tirar uma foto e para ler algo com meu aplicativo smart braile, um app para android que
tem a função de scanner. Fora essas coisas que dependem de câmera eu não ligo a luz. Hoje,
temos a possibilidade de contar com a ajuda da tecnologia, é um grande passo, mas a
tecnologia, precisa melhorar muito ainda. Bengala inteligente, óculos que lê, lysa cão-guia
robô, celulares, entre outras coisas, fazem parte do que já foi produzido para los ajuda, apesar
de os preços serem altos demais e poucos cegos poderem ter acesso. Tudo isso por causa das
empresas que não querem patrocinar produtos de acessibilidade para deficientes visuais, mas
quando se trata de produtos não acessíveis todas empresas brigam para patrocinar.
“No início pensava que não iria conseguir avanços com essas crianças, avanços
motores, cognitivos, afetivos, mas hoje o que mais me realiza é ver o potencial deles
serem multiplicados, eles são simplesmente incríveis...”(Professora A)
A partir da análise dessas falas, percebe-se que a inserção de alunos com deficiência visual
em especial nas aulas de Educação Física necessita de uma preparação mais específica, ou seja,
da presença de um profissional da área. Porém, sabe-se que apenas a presença de um
profissional da Educação Física, não é a solução para a inclusão. De acordo com Lima (2001),
a inclusão de deficientes visuais requer, além da estimulação de uma preparação profissional de
qualidade, na qual seriam fornecidas informações sobre metodologias e estratégias de ensino
que auxiliasse no processo inclusivo do aluno deficiente visual, deve também buscar as
adaptações que podem ser realizadas nas aulas de Educação Física, bem como em seus recursos
esportivos e recreativos.
Através dos resultados constatamos que a representação predominante das professoras sobre
a Inclusão é positiva, pois através da interpretação das falas das participantes da pesquisa ficou
evidenciado que o processo de inclusão de pessoas cegas no contexto escolar é um processo em
longo prazo e traz benefícios ao aluno incluído, aos seus colegas e principalmente para a
professora que necessita estar sempre em busca de soluções para os desafios enfrentados no dia
a dia da sua práxis pedagógica. É o que ficou evidenciado na fala das professoras:
“É um processo longo, é uma construção e uma aprendizagem diária, todos
ganham, os alunos incluídos ganham o direito a cidadania, já os seus colegas,
aprendem a respeitar os limites das outras pessoas e nós professores trabalharmos
com alunos cegos, ah! Nossa aprendizagem é constante...” (Professora B)
O princípio da inclusão defende que a sociedade deve fornecer as condições para que todas
as pessoas tenham a possibilidade de ser um agente ativo na sociedade. Desse modo, temos
como pré-requisito a reestruturação da sociedade para que a pessoa portadora de deficiência
consiga exercer seus direitos. As ações inclusivas devem estar presentes em todos os aspectos
da vida do indivíduo, tais como no campo educacional, laboral, esportivo, recreativo, entre
outros (SASSAKI, 1997; STAINBACK E STAINBACK 1999)
Quanto questionadas sobre os ganhos motores dos alunos com deficiência visual com a
inclusão, percebemos que as participantes da pesquisa relatam que está havendo uma resposta
excelente desses alunos. O que pode ser observado nas falas a seguir:
“Hoje vejo sua coordenação motora bem desenvolvida, também a agilidade, tanto
no movimento como na escrita está cada vez melhor. Percebo que a vivência com as
outras crianças, em especial nas aulas que envolvem o movimento esta contribuindo
muito para que este aluno exerça a sua independência” (Professora B)
“Percebo que há muita vontade, por parte do aluno incluído de ser aceito pelo
grupo, essas pessoas, pelo menos as que eu tenho contato, são muito receptíveis ao
contato com seus pares sem deficiência visual e também se adaptam facilmente as
situações propostas, se respeitarmos o seu ritmo, é claro. .” (Professora B)
As colaboradoras concordam que não é nada fácil a realização com resultados positivos, do
processo de inclusão de alunos com deficiências visuais, mesmo assim relatam que hoje em
dia, se sentem preparadas e que a busca por atividades novas e leituras especializadas é uma
constante no seu fazer pedagógico. Como comenta uma das professoras o que mais gratifica é
ver o desenvolvimento de nosso aluno, seja ele motor, social, afetivo ou psicológico. E ver que
nós auxiliamos nesse processo. Conforme Lieberman e Houston-Wilson (1999) é ponto chave
para o sucesso do processo de inclusão que o educador compreenda que seu aluno cego, desde
que receba informações e auxílios necessários, está capacitado para realizar as mesmas
atividades que o aluno não-deficiente. Assim o professor deve estar atento para as adaptações
necessárias no ambiente para a realização prática das atividades propostas.
Conclusão
Esse estudo tem como objetivo de pesquisa analisar os sentimentos que permeiam o
processo de inclusão de alunos portadores de deficiência visual na percepção de
professores do Ensino Fundamental: Anos Iniciais. Com base nos resultados encontrados
neste estudo, ficou evidenciado que:
Quando questionadas sobre os sentimentos que permeiam o processo de inclusão
percebemos que no início de suas carreiras sentiram insegurança e medo, medo de não
saber se a maneira que interagiam com os alunos cegos era a maneira correta, em
especial no que se refere às aulas de Educação Física;
As participantes da pesquisa têm um entendimento de Inclusão no Contexto Escolar,
como sendo uma maneira de dar oportunidade de convívio social, uma prática de
constante aprendizagem, sendo um exercício de cidadania, percebe também o processo
de inclusão como uma prática positiva;
As professoras participantes da pesquisa afirmam que são grandes os ganhos motores de
deficientes visuais incluídos no contexto escolar. Quando bem estimuladas essas
crianças conseguem índices de desenvolvimento motor semelhante às crianças sem
deficiência. Quanto aos ganhos psicológicos as professoras visualizam grandes
progressos relacionados à socialização, auto-confiança, entre outros, concluindo assim
que essa vivência da criança portadora de deficiência visual no contexto escolar acarreta
algumas modificações ou adaptações ambientais, mas que o resultado na sua maioria é
compensador e positivo.
"O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em que todos os alunos devam
aprender juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que
apresentem. As escolas inclusivas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos
seus alunos, adaptando aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um
bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização
escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as
respectivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios de serviços para satisfazer
o conjunto de necessidades especiais na escola".
A cegueira é um diamante à literatura, dado que a ausência da visão, total ou parcial, permite ao
escritor estabelecer uma relação particular e profunda da vida. Ao escrever, o deficiente visual
caminha pelo desconhecido com tranquilidade, sendo capaz de perceber com agudeza os
detalhes e diferenças entre as circunstâncias que envolvem os fatos. A cegueira não lhe é
silenciosa, tem a voz narrativa da inteligência emocional e espiritual com que percebe o
mundo. O cego capta a realidade com os olhos da sensibilidade. Vou citar alguns escritores que
ficaram cegos ao longo da vida e revolucionaram a literatura. Tenho certo cuidado em citar
Homero, autor de duas obras fundadoras da literatura universal, Ilíada e Odisseia, visto que não
há comprovação da autoria dos seus poemas e pouco se sabe sobre a sua história. Conta-se que
em Ítaca, ilha grega do Mar Mediterrâneo, Homero coletou dados para escrever sobre a vida de
Ulisses, entretanto, nessa estadia, teve uma grave doença nos olhos que o cegou. Os poemas de
Homero datam do século VIII ou IX a.C. e foram transmitidos através da tradição e recitação
oral. Durante sua vida, Homero viajava de cidade em cidade, cantando seus poemas épicos nas
cortes dos reis e nos acampamentos de guerreiros. Luís de Camões, poeta português,
considerado um dos maiores representantes da literatura em países de língua portuguesa,
nasceu no século XIV, estudou filosofia e tornou-se poeta. Depois, soldado, perdeu um olho
numa batalha no norte da África e teve que se afastar das atividades militares. Então, escreveu
“Os Lusíadas”, obra de poesia épica, que ofereceu à língua portuguesa dignidade cultural e
política. Jorge Luis Borges, poeta, contista, ensaísta e crítico literário argentino é considerado
como um dos melhores escritores do século XX. Ele ficou cego depois dos cinquenta anos
devido a uma degeneração genética na retina. Mesmo sem a visão continuou a criar contos,
vagando entre a filosofia e a fantasia, escrever poesias com lirismo e elaborar ensaios com rigor
acadêmico. Outros autores, como Aldous Huxley e James Joyce também foram deficientes
visuais e nos presentearam com a profundidade com que captaram o mundo. Por fim, encerro a
coluna com uma frase de Clarice Lispector: “É necessário certo grau de cegueira para poder
enxergar determinadas coisas.”
Nota: "Não poderia deixar de ressaltar que o corpo humano tem capacidade extraordinária para
adaptar-se às situações diversas e adversas, tornando-se apto a sobreviver e a interagir nos
ambientes naturais e sociais. Um estudo publicado na “Plos One”, revista científica online,
publicada pela Public Library of Science, que apresenta pesquisas primárias nas áreas da
ciência e da medicina, divulgou um estudo que mostra as diferenças anatômicas, funcionais e
estruturais entre pessoas cegas e as que não possuem deficiências visuais. Os pesquisadores do
Schepens Eye Research Institute of Massachusetts Eye and Ear observaram que as diferenças
estão associadas com a audição, olfato, tato e cognição de modo a capacitar o cérebro a
compensar a ausência da informação visual. Sem a informação visual, as áreas motoras,
auditivas e de linguagem são mais demandadas, fazendo com que o cérebro encaminhe para
essas e outras áreas as informações não recebidas e amplie o aumento dos outros sentidos. O
deficiente visual vê com o cérebro quase por inteiro".