Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. INTRODUÇÃO
1.1 O Papel da Inspeção de Equipamentos
É senso comum que os equipamentos industriais têm um período limitado de
funcionamento, conhecido como vida útil. Essa vida é limitada basicamente por dois
processos: a obsolescência e a deterioração. Esta última é o principal objeto de estudo da
atividade denominada Inspeção de Equipamentos.
Originalmente, se pensava apenas na Manutenção, aplicada de forma corretiva. Depois,
introduziu-se a modalidade preventiva, tentando antecipar as intervenções de modo a
minimizar as falhas durante a operação. O desenvolvimento industrial, todavia, aumentou
tanto a freqüência quanto a intensidade dos danos produzidos pelas falhas dos
equipamentos. Perda de vidas humanas, prejuízos financeiros e, mais recentemente, danos
ambientais e de imagem forçaram as empresas a novas atitudes.
O conceito atual de Manutenção a considera pelas óticas da confiabilidade, segurança,
proteção ambiental e economia. Gradualmente foi ficando claro que, além das equipes
responsáveis pelos projetos, reparos, operação e segurança industrial das instalações, era
fundamental reunir pessoal e tecnologia dedicados a prevenir, monitorar, controlar e analisar
os danos sofridos pelos equipamentos durante sua existência. Esse é o papel da Inspeção
de Equipamentos. Seus principais produtos acabam sendo a segurança e a confiabilidade
das instalações, preservando as pessoas, o meio ambiente e o negócio.
Equipamento “em serviço” é qualquer um que já tenha operado, podendo estar operando ou
não no momento da inspeção.
2
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
o sistema no qual estão inseridos. Essa atuação se dará, de modo contínuo, ao longo de
toda a vida útil do equipamento.
As equipes de inspeção são em geral compostas por engenheiros, técnicos industriais de
nível médio e inspetores especializados em ensaios não-destrutivos. Neste trabalho, salvo
menção em contrário, o termo “inspetor” se refere de modo genérico a qualquer um desses
profissionais ou à própria equipe.
3
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Fluidos Falhas
Pressão Reparos
O componente pode ser visível, mas não inspecionável de maneira satisfatória ou segura
com o equipamento em operação. Um exemplo disso são as tochas do sistema de
despressurização das unidades. Num complexo industrial, como uma refinaria ou plataforma
de produção, existem uma ou mais tochas, para as quais são direcionados todos os
4
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
descartes de gases combustíveis, de modo que não produzam risco de incêndio, explosão
ou intoxicação na área industrial ou seu entorno. Na extremidade da tocha fica
permanentemente aceso um piloto para promover a combustão do gás.
Devido à possibilidade de acontecer um descarte durante a inspeção, não é permitido
aproximar-se da tocha com o sistema ativo. Quando o acesso interno não for possível ou
viável, como acontece com pequenos vasos de pressão, devem ser buscadas técnicas
alternativas que compensem a falta do inspetor no interior do equipamento, como por
exemplo, videoscopia ou teste hidrostático. A inspeção parcial geralmente acontece quando
há oportunidade ou interesse de acesso a apenas uma parte do equipamento. Para efeito de
programação, a inspeção parcial não pode substituir as inspeções interna e/ou externa.
A partir daí inicia-se a inspeção propriamente dita, que consiste de uma análise das
condições físicas do equipamento. Esta produzirá recomendações, para aplicação imediata
ou futura. Deve ser calculada, levando em conta a taxa de acumulação de dano e,
conseqüentemente, a vida útil remanescente do equipamento. Pode ser necessário
recalcular sua PMTA (Pressão Máxima de Trabalho Admissível. O dispositivo de proteção
contra sobrepressão (p.ex.: válvula de segurança) deve ser calibrado em valor igual ou
inferior a este).
Caso haja, deve-se proceder à análise de falhas, a fim de compreender a natureza dos
danos e como mitigá-los. Finalmente, faz-se o registro (relatório) de todo o processo. Esse
registro conterá conclusões que orientarão a programação de inspeção, realimentando o
fluxo.
Na prática, as etapas acima se interpenetram. Por exemplo, o relatório pode ser iniciado já
na etapa de planejamento ou, o mais tardar, quando começar a análise das condições
físicas. Recomendações podem ser emitidas previamente, com base no histórico.
O inspetor deve estar “vacinado” contra algumas “doenças” que atingem muitos profissionais
desse segmento. A mais comum consiste em limitar a inspeção à descrição das condições
físicas do equipamento, compará-las com as condições “novo” e “corroído” e, a partir dessas
observações, recomendar ou não reparos.
A descrição das condições físicas é necessária, porém insuficiente para uma inspeção
adequada.
Os processos corrosivos têm influência tanto dos materiais quanto das condições do meio
ambiente, daí serem tão variados quanto podem ser as combinações desses fatores.
8
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
1.3 Origens
Os processos de deterioração podem ter várias origens, sendo parte do trabalho do inspetor
detectá-las a fim de propor as medidas necessárias a corrigir o problema. Podemos
descrevê-las genericamente comor:
9
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
1.3.3 Operacionais
• Anormalidades operacionais. Descontrole das variáveis de processo, como nível,
pressão ou temperatura podem submeter o equipamento a um grau de severidade para
o qual ele não foi projetado e levar à falha prematura.
• Condições operacionais agressivas. Podem ser do projeto original, quando se prevê a
vida útil para aquela condição, ou decorrentes de modificações no processo, muitas
vezes não bem avaliadas, que tendem a encurtar a mesma. Aqui se enquadra a maioria
dos processos que o inspetor encontra ao longo de sua carreira.
• Condições ambientais agressivas. Além dos fluidos internos, a própria atmosfera, seja
industrial, urbana, marinha ou mista é um meio corrosivo importante.
10
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
2.1 Fratura
Nas instalações industriais os equipamentos são normalmente projetados para trabalhar em
regime elástico, uma vez que deformações plásticas são permanentes e podem causar
transtornos, desde interferências entre equipamentos ou componentes próximos até a perda
total. Ao ser submetido a uma tensão, o material responde com deformação ou fratura. As
tensões de carregamento podem ser de tração, torção ou compressão (as versões
inglesas desses termos são “falsas amigas”: stress = tensão; strain = deformação; tension =
tração). De maneira simplificada, podemos dividir as fraturas em dúcteis ou frágeis.
As fraturas dúcteis caracterizam-se pela existência de deformação plástica acentuada. Para
materiais altamente dúcteis, as partes separadas não se encaixam.
As fraturas frágeis não apresentam deformação plástica. Assim pode-se “juntar os cacos” e
observar o aspecto da peça original.
11
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
12
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Na primeira foto, temos um navio da classe Liberty, lançado ao mar em 1941, que falhou
instantaneamente. Na segunda temos a ruptura de uma ponte metálica no Canadá,
acontecida em 1951. A estrutura rompeu de forma frágil numa noite de inverno (-30 °C),
num momento em que a ponte não estava sequer submetida a uma grande solicitação.
Taxas de carregamento elevadas não dão tempo suficiente para o material deformar,
favorecendo a fratura frágil. Variações bruscas de pressão ou temperatura são um exemplo.
Tensões de tração ou compressão favorecem os mecanismos de clivagem (separação) em
detrimento do cisalhamento (deslizamento), característico de resposta a tensões de torção.
Concentradores de tensão são potenciais iniciadores de trincas.Quanto menores forem a
espessura ou a resistência mecânica do material, mais dúctil ele tende a ser.
2.2 Fadiga
Trata-se de um processo físico que intuitivamente quase todos conhecem, por já terem
alguma vez tentado (e conseguido) romper um fio de arame dobrando-o alternadamente
várias vezes. A fadiga, tecnicamente, é a falha causada pela aplicação de tensões de tração
cíclicas a uma estrutura, ocorrida em níveis de tensão muito abaixo do limite de
escoamento. As falhas por fadiga são perigosas porque têm caráter predominantemente
frágil, podendo, portanto ocorrer de modo repentino.
O processo compreende três fases: inicialmente, uma pequena trinca se forma em algum
ponto de elevada concentração de tensões. A seguir, a trinca progride gradativamente de
13
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Marcas de catraca.
Superfícies de fratura por fadiga.
O aspecto de uma superfície danificada por fadiga é bastante característico: uma região
brilhante que apresenta estrias paralelas, arredondadas e concêntricas, indicando o local de
origem da falha. Corresponde aos estágios iniciais de propagação do defeito. Essas marcas
são conhecidas como marcas de praia. A outra região é bastante rugosa e irregular,
indicando a seção onde a fratura ocorre por um mecanismo frágil (fase final). Nesta, as
marcas podem ter aspecto radial ou de “V” (marcas de sargento), indicando em ambos os
casos a origem do dano. Uma indicação que surge quando há tensões de torção presentes
é a marca de catraca.
Pode ser observado e é intuitivo que o tempo até a falha depende do nível de tensão
aplicado e do número de ciclos. Porém, materiais tais como os metais ferrosos e o titânio
possuem um limite de fadiga, ou seja, um valor de tensão abaixo do qual não há
propagação de trincas por fadiga mesmo que o número de ciclos tenda a infinito.
Evidentemente, isso vale para o início do processo. Depois de iniciada, uma trinca de fadiga
14
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Fornos que operam em condições normais sofrem poucos ciclos térmicos e dificilmente
apresentam esse tipo de deterioração. Porém, a ocorrência de diversas paradas de
emergência, onde ainda por cima o resfriamento é muitas vezes brusco, somada à
existência de gradientes térmicos acentuados (oriundos por exemplo de aquecimento
localizado de regiões dos tubos devido à incidência de chama), proporcionam o número de
ciclos necessário para o surgimento da falha. A fadiga térmica é observada em diversos
equipamentos além dos fornos: caldeiras, conversores de craqueamento e tambores de
coque estão entre eles.
2.3 Deformação
Praticamente todo equipamento metálico sofre deformações, conseqüência da ductilidade
própria desses materiais. Porém, existem casos em que esse fenômeno é extremo. Um dos
exemplos é o colapso de equipamentos pela produção de pressões negativas (vácuo) no
seu interior. Esse processo pode ocorrer com qualquer equipamento, sendo mais comum
em tanques de armazenamento. O esgotamento do tanque gera um vazio no interior do
vaso ou tanque que deve ser preenchido por algum outro fluido, um gás, por exemplo.
Quando isso não ocorre, o equipamento fica sujeito a pressões externas para as quais não
foi projetado, sofrendo o colapso. Esse fenômeno pode também ser causado por uma
grande condensação interna, como do vapor d’água usado para purga (“steam-out”).
Molas de suportes ou válvulas de segurança podem, pelo seu próprio uso, acabar sofrendo
deformações permanentes incompatíveis com suas finalidades.
17
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
As deformações podem também ter origem em reparos mal sucedidos. O aporte térmico
excessivo ou mal distribuído pode deformar (“ovalizar”) de tal maneira um equipamento que
sua remontagem se torna impossível. Apertos excessivos também podem provocar
deformações inaceitáveis, como em conexões que tenham suas sedes de vedação
deformadas ou desalinhadas, provocando vazamentos.
O deslocamento dos fluidos através das tubulações e vasos não se dá sem atrito, e existe a
natural perda de espessura associada a essa movimentação. Fluxos turbulentos,
multifásicos e com sólidos em suspensão produzem maior desgaste.
deterioração das fornalhas são comuns aos fornos tubulares. Os altos-fornos siderúrgicos
constituem um grupo particular que não será estudado aqui. Os principais componentes dos
fornos tubulares são:
• Serpentina de processo;
• Serpentina de utilidades;
• Queimadores;
• Suportes dos tubos;
• Sopradores de fuligem ;
• Revestimentos refratário e isolante térmico;
• Chaparia;
• Dutos de gases e chaminé;
• Sistema de pré-aquecimento de ar com os gases de combustão;
• Sistema de pré-aquecimento de carga com os gases de combustão.
3.2 Combustíveis
Os combustíveis empregados nos fornos industriais podem ser:
• Gases (gás natural, residual);
• Líquidos (óleos, nafta, emulsões);
• Sólidos (carvão).
Os gases combustíveis podem ser naturais (extraídos diretamente das reservas no subsolo)
ou residuais (subprodutos do refino de petróleo). Consistem numa mistura de
hidrocarbonetos leves e outros gases como hidrogênio (H2) e gás sulfídrico (H2S).
Óleos combustíveis normalmente usados são produtos de baixo valor comercial, alta
viscosidade e peso molecular, contaminados por metais e compostos de enxofre. Para
manter sua fluidez, devem ser mantidos em temperaturas elevadas. Emulsões são misturas
de um tipo especial de sabão com resíduos ultrapesados, como o asfalto que é um óleo
ultrapesado, resíduo da extração com solvente das frações mais leves do resíduo de vácuo.
O produto utilizado para pavimentação é o cimento asfáltico de petróleo. São misturados
com vapor d’água nos queimadores, para formar uma neblina que se permita a melhor
combustão.
20
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Pouco empregado industrialmente como fonte específica de calor no Brasil, o carvão ainda é
uma matriz energética importante em países como o Reino Unido e os EUA. Apresenta
contaminação similar à dos óleos combustíveis.
Nos combustíveis encontra-se a raiz de diversos processos corrosivos em equipamentos
sujeitos à chama, observados na superfície externa dos tubos, nos suportes, queimadores e
no próprio refratário.
As explosões de fornalhas em geral se devem a alguma falha na queima do combustível
empregado, formando uma mistura explosiva no interior da câmara.
21
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
22
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
3.5 Fluência
É informação corrente que a deformação que um material metálico sofre quando submetido
a uma determinada tensão de tração é função apenas desta (para um carregamento
estático). É a famosa Lei de Hooke, em geral exemplificada através de molas. Existe uma
deformação reversível (elástica) e, acima de certo limite (limite de escoamento), ocorre
deformação permanente. Mas este é o comportamento clássico, a temperaturas ordinárias.
As temperaturas elevadas, porém, a partir do patamar de aproximadamente 40% da
temperatura absoluta de fusão, o comportamento do material passa a sofrer também a
influência do tempo de exposição e da própria temperatura. Isso significa que um
determinado componente (por exemplo, um tubo de forno), submetido a temperaturas
elevadas e tensionado pela pressão interna do fluido poderá apresentar deformações de
caráter permanente, lentas e progressivas, capazes de levá-lo à ruptura. Isso ainda que a
tensão inicial seja inferior ao limite de escoamento do material. Essa é a condição normal, já
23
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
que nunca um forno seria projetado para operar com tensões acima do limite de
escoamento de seus componentes.
As tensões aplicadas, associadas à temperatura, favorecem os fenômenos de difusão no
interior do metal, permitindo o surgimento de pequenos vazios que tendem a crescer cada
vez mais, a menos que sejam removidas as causas. Esse é o processo de fluência.
Uma curva típica de fluência indica a existência de três estágios: no primeiro, a taxa de
crescimento da deformação é decrescente. Esta fase normalmente está contida na primeira
campanha, quando há predominância de processos de encruamento do material. A seguir,
entram em cena as transformações metalúrgicas que equilibram os efeitos do encruamento
e o material se deforma segundo uma taxa aproximadamente constante. Essa é
normalmente a fase mais longa da vida do equipamento.
Na terceira etapa, a qual nunca se quer atingir, a taxa de deformação passa a ser crescente
devido à coalescência das descontinuidades internas, que levarão rapidamente à ruptura.
Para um mesmo material, a deformação por fluência será tanto maior quanto maiores forem
a tensão e a temperatura.
24
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
25
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
No estado líquido, essas cinzas se tornam extremamente agressivas para o metal, pois
solubilizam parcialmente a camada de óxido e, por serem ótimos eletrólitos, facilitam a
difusão de oxigênio e de cargas. Esta que é a essência do mecanismo de corrosão dos
metais a temperaturas elevadas.
3.7 Oxidação
A atmosfera no interior dos fornos reúne, principalmente, oxigênio (O2), óxidos diversos,
como de enxofre (SOx), nitrogênio (NOx) e carbono (COx), além de particulados, vapor
d’água e nitrogênio (N2). Seu caráter é oxidante, sendo o oxigênio o principal agente de
corrosão externa dos tubos.
O ataque ao metal forma uma camada de produto de corrosão fina e mais ou menos
aderente que tende a crescer com a continuação do processo corrosivo. Em um caso
extremo, esta camada atinge um tamanho crítico e desagrega-se, expondo novamente a
superfície metálica. A esse processo chamamos “escamação” (scalling). A perda de
espessura será maior do lado voltado para a chama, por ser esse o lado de maior
temperatura. Deve haver, portanto, atenção na seleção dos pontos para medição de
espessura.
Para operar nas condições dos fornos, são normalmente utilizadas ligas contendo teores de
cromo (Cr) tanto maiores quanto mais severas forem às condições operacionais
(principalmente quanto à temperatura). O cromo confere ao aço uma camada de óxido mais
estável e menos condutora (a principal razão da apassivação observada nos aços
inoxidáveis está na baixa condutividade iônica do filme de óxido, que dificulta a difusão de
cargas), dificultando o progresso da oxidação. O níquel (Ni) reduz as diferenças de
coeficientes de dilatação entre o metal e o óxido, dificultando a escamação. O molibdênio
(Mo), além da resistência à fluência, ajuda a estabilizar a camada de óxido.
26
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
3.8 Carbonetação
O carbono tem facilidade de difundir-se nos aços em temperaturas elevadas. O cromo
presente nas ligas é atacado preferencialmente, gerando carbonetos que precipitam nos
contornos de grão. O material perde resistência à corrosão e tende a perder espessura
rapidamente. Esse processo acontece de modo significativo a partir de 500 ºC.
Queimadores de gás, construídos em aço austenítico, podem sofrer carbonetação, pois o
níquel catalisa o craqueamento dos hidrocarbonetos gerando carbono. Este se difunde para
o interior da liga. Havendo passagem de ar para o queimador, a atmosfera passa de
redutora a oxidante, produzindo a rápida oxidação do carbono presente. Como essa reação
é altamente exotérmica, chega por vezes a fundir o metal. Essa deterioração é conhecida
como “dust corrosion (corrosão fuliginosa)” - pelo resíduo pulverizado que deixa.
27
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
V2O5
Onde a temperatura ambiente estiver abaixo do ponto de orvalho do ácido, este condensa e
ataca a superfície.
A chaparia do forno ou caldeira é um dos componentes passíveis de sofrer ataque por
condensação ácida, quando os gases de combustão conseguem se difundir através de
trincas no refratário. Como existe um gradiente térmico ao longo deste, em algum ponto a
temperatura fica abaixo do ponto de orvalho e acontece o ataque ao material cerâmico, à
chaparia e aos dispositivos de ancoragem. Sendo estes constituídos de aço inoxidável,
forma-se um par galvânico entre eles e as chapas. Com a corrosão nos pontos de solda dos
grampos com a chaparia, toda a parede de refratários pode desabar. A condensação e
posterior solidificação desses gases, entre a chaparia e o refratário, também favorece a
queda deste.
O pré-aquecedor de ar do tipo regenerativo (PAR), por ter contato com os gases às menores
temperaturas do sistema, é o que mais sofre com este tipo de corrosão. Os módulos de
troca térmica (cestos), mesmo sendo fabricados em aço patinável (com adição de nióbio ou
cobre para aumentar sua resistência à oxidação), têm vida útil de cerca de dois anos, mas o
ganho obtido com a economia de energia compensa plenamente o custo do material.
Juntas de expansão, independente de serem fabricadas em aço carbono ou inoxidável,
sofrem severa corrosão se atingidas pelo ácido sulfúrico.
Os próprios tubos de fornos e caldeiras podem ser atingidos por este processo em
operação, geralmente por alguma falha de projeto ou condição não prevista. Houve fornos
cujos tubos furaram em campanha por ter havido alteração na sua bateria de pré-
aquecimento, baixando a temperatura da carga que entrava na serpentina. Isso fez
baixarem também as temperaturas de parede dos tubos, permitindo o ataque.
A corrosão por condensação ácida segue um padrão com um máximo de corrosividade
cerca de 30 ºC abaixo do ponto de orvalho, uma queda produzida pela diluição e outro
máximo na faixa do ponto de orvalho da água. As taxas de corrosão acompanham
rigorosamente a taxa de condensação do ácido sulfúrico.
O valor do ponto de orvalho do ácido sulfúrico (ou de qualquer outra substância) não é
constante, mas função de condições operacionais, como teores de enxofre no combustível e
de metais no óleo e excesso de ar. Aproximadamente, quanto maiores esses teores, mais
28
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
alto será o ponto de orvalho e mais crítica a situação para o equipamento (haverá mais
regiões com temperaturas abaixo desse ponto).
Poucos materiais utilizados na indústria resistem ao ataque pelo ácido sulfúrico condensado
nesses ambientes. Tentativas de utilização de aços-liga ou inoxidáveis em geral
fracassaram. Somente ligas de altíssimo custo, como o Hastelloy C-276 (58% Ni, 16%
Cr, 16% Mo, 5% Fe, 4% W), revelaram bom desempenho. Por isso, a maneira mais indicada
de combater esse processo corrosivo é evitar as condições que permitam a condensação
ácida.
30
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
31
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Os cloretos são perigosos quando são do tipo hidrolisável (gerando HCl como nos sistemas
de topo) ou não. Seu ataque geralmente se caracteriza por corrosão alveolar ou puntiforme.
A corrosão do aço pela água forma preferencialmente a magnetita, óxido negro com
características protetoras:
2 Fe + O2 Fe3O4 + 4 H2
Mas quando o meio é aerado temos a formação da hematita, óxido avermelhado pouco
resistente ao ataque por cloretos. Daí o ataque localizado.
32
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
33
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
As taxas de corrosão iniciais são altas, mas caem gradativamente com a formação de um
filme de sulfeto ferroso (FeS) que é insolúvel e, por ser formado na superfície do material,
adere a este dando uma certa proteção ao metal base. Esta película é mais estável em pH
ligeiramente alcalino (cerca de 7,5 a 8,5) e em correntes com baixas velocidade e
turbulência.
O H2S naturalmente se concentrará nas frações mais leves, ou seja, no sistema de topo e,
conseqüentemente, na seção de estabilização da nafta. Pode aparecer em correntes mais
pesadas que a nafta, se houver decomposição térmica de compostos de enxofre mais
pesados contidos naqueles cortes. Essas condições podem ocorrer no sistema de vácuo.
34
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Em meio aquoso, a reação química entre um ácido e uma base dá como produtos sal e a
própria água. Se o ácido e a base forem eletrólitos fortes e estiverem nas proporções
corretas, restarão na solução apenas os produtos. Se ao menos um deles for um eletrólito
fraco, haverá um equilíbrio em que as quatro espécies estarão presentes, assim
representado:
neutralização
HA (aq) + BOH (aq) AB (?) + H2O (l)
hidrólise
Hidrólise é o nome genérico de qualquer reação em que uma ligação química é quebrada
pela ação da água. Quando um sal oriundo de ao menos um eletrólito fraco é dissolvido em
água, temos ao final o equilíbrio acima. Chamamos essa reação de hidrólise do sal e
dizemos que o mesmo é hidrolisável.
O petróleo bruto normalmente contém salmoura emulsificada. Esta é removida através da
dessalgação. O óleo recebe injeção de um produto químico desemulsificante e de água,
entrando em um vaso (a dessalgadora) dotado de eletrodos onde é aplicado um campo
elétrico capaz de promover o coalescimento da gotículas d’água dispersas no óleo,
separando então a maior parte da fase aquosa por decantação. O petróleo efluente da
dessalgadora ainda contém alguma água e um certo teor de sais, inclusive cloretos. Dentre
eles, são especialmente perigosos os cloretos hidrolisáveis, ou seja, aqueles que podem
reagir com a água regenerando o ácido e a base originais. Destacam-se os cloretos de
cálcio e magnésio:
O HCl liberado é gasoso, indo também para o sistema de topo. É também um ácido (muito
mais forte e solúvel em água que o H2S). Como esperado, também ataca o aço sem
formação de filme protetor:
35
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
O FeCl2 é um sal de ácido forte (HCl) e base fraca [Fe(OH)2]. Sua hidrólise regenera o ácido.
Quando há presença de H2S dissolvido, temos uma reação concorrente com produtos
semelhantes:
Havendo presença simultânea de uma fase orgânica (neste caso, hidrocarbonetos) e outra
aquosa, a maioria das substâncias corrosivas tende a passar para a água, por ter maior
afinidade com esta. Por ser essa fase mais densa, isso provoca corrosão preferencial das
geratrizes inferiores de tubulações e vasos de pressão. O inspetor deve estar atento para
essa possibilidade.
Solventes polares (como a água) têm maior afinidade por outras substâncias polares (como
sais iônicos, etanol ou ácido acético). Solventes pouco polares (como hidrocarbonetos),
dissolverão mais facilmente substâncias semelhantes.
Permutadores de calor do tipo casco-e-feixe são os mais comuns em sistemas de topo
(também se usam “air-coolers”), e seus feixes tubulares são atacados principalmente nas
regiões onde se inicia a troca térmica e, portanto, a condensação. É comum ocorrerem
falhas dos tubos por corrosão-erosão externa. Deve ser dada especial atenção às regiões
vizinhas das chapas quebra-jato e próximo à furação das chicanas, onde a velocidade
naturalmente é mais alta. Há casos em que os cascos também são severamente erodidos,
nas laterais próximas da entrada de carga.
36
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
A reação ocorre tanto em fase gasosa como aquosa. O cloreto de amônio formado pode se
depositar em alguns pontos do sistema, gerando obstruções e corrosão sob depósitos (o sal
pode ser hidrolisado, regenerando o HCl):
Embora o NH4Cl seja um sal branco, os depósitos por ele formados geralmente são escuros,
devido à presença de óxidos, sulfetos e resíduos de hidrocarbonetos.
Nas seções de destilação atmosférica de unidades de craqueamento (ver seção 4.2), a
neutralização acima ocorre espontaneamente, pois o amoníaco já está presente no efluente
do reator (derivado do nitrogênio da carga).
O controle do pH é mais eficiente se utilizarmos o NH3 em solução aquosa (amônia). Uma
alternativa semelhante é a reciclagem de água amoniacal, como a já citada existente nos
37
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
É bom estar atento ao fato de que a adição de soda significa aumentar o teor de metais na
corrente de petróleo, potencializando problemas tais como corrosão por cinzas fundidas,
envenenamento de catalisadores, formação de depósitos de sal, etc. A própria soda
cáustica é capaz de promover processos corrosivos, como a corrosão sob tensão no aço
carbono, conhecida como fragilidade cáustica. Repare que a soda não é injetada como
neutralizante, embora até o faça em parte com os ácidos orgânicos, porque não sendo
volátil não se juntará às correntes de topo.
38
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
“degraus” que pode ser visto freqüentemente nesses casos. Outras morfologias observadas
são em forma de sulcos, esta típica de corrosão-erosão, alveolar e uniforme.
Os produtos de corrosão (naftenatos) são solúveis na corrente de hidrocarbonetos, o que
faz com que a corrosão naftênica não deixe resíduos. Esse processo tem uma curiosa
sinergia com a sulfetação, o ataque pelos compostos de enxofre a altas temperaturas. Este
fenômeno se dá na ausência de água líquida, distintamente do que acontece nos sistemas
de topo. Os compostos de enxofre sofrem decomposição térmica liberando H2S em fase
gasosa, corrosivo para o Fe a altas temperaturas. Até certo ponto há inibição da
corrosividade, atribuída à formação de películas protetoras de sulfetos. Para teores mais
elevados de enxofre o ataque se agrava. Por isso, embora o molibdênio seja o elemento de
liga mais responsável pela resistência à corrosão naftênica, é necessário também
incrementar o teor de cromo para conferir ao material resistência à sulfetação. Ao contrário
desses elementos, o níquel é facilmente atacado pelos ácidos naftênicos, não havendo
ganho com sua adição.
As formas de controlar a corrosão naftênica são, principalmente:
• Misturar óleos a fim de obter IAT reduzido e teores não excessivamente baixos de
enxofre;
• Adaptar metalurgicamente as unidades, incrementando os teores de Cr e Mo. Tem
sido muito utilizado o Inox 317 (3-4% Mo).
• Monitorar as plantas através de radiografia complementada por ultra som,
provadores de corrosão e análises de IAT, Fe2+ e Ni2+.
A corrosão naftênica pode atingir unidades à jusante da UDAV. Há relatos desse processo
em sistemas de hidrotratamento de dísel (HDT) e coqueamento retardado (UCR). Existe
também a possibilidade de ocorrência em unidades de desasfaltação e craqueamento
catalítico.
Nas UCCFs somente pode haver corrosão naftênica no sistema de aquecimento da carga,
uma vez que o craqueamento destrói os ácidos naftênicos.
40
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
CO C + CO2
41
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Nas temperaturas e pressões parciais dos gases presentes nos regeneradores, o caráter
oxidante predomina (equilíbrio da reação acima deslocado para a direita). O ideal é que, por
projeto, a zona de oxidação mais intensa se localize na região das pernas dos ciclones. Isso
porque, naquelas condições, mesmo os aços inoxidáveis “enferrujam”.
• EROSÃO/ABRASÃO: os catalisadores de craqueamento são do tipo zeolítico, uma
família de alumino-silicatos com estrutura cristalina altamente ordenada (célula-base
tetraédrica, como no diamante) e de elevada porosidade, importante para as reações
químicas de craqueamento. Porém, essa estrutura também é responsável pela
elevada dureza do material, tornando-o um poderoso agente erosivo-abrasivo
quando fluidizado, como ocorre neste processo de refino. Além de utilizar em alguns
componentes revestimentos metálicos de elevada dureza (como carboneto de
tungstênio), os materiais refratários também precisam ser resistentes à
erosão/abrasão (na verdade, na maioria dos casos são esses materiais que
protegem a chaparia), sendo mais utilizados concretos altamente densos como o
RESCO. A maior incidência de falhas por erosão/abrasão se dá nas válvulas,
“stripper” do reator, foles das juntas de expansão e ciclones, além das conexões de
injeção de vapor e “torch-oil” no regenerador.
A morfologia das trincas pode ser intergranular (propagada ao longo dos contornos de grão)
ou transgranular (através dos grãos). Alguns processos só se dão de uma forma e outros
podem variar dependendo de sutis diferenças no trinômio material/tensão/meio.
As trincas intergranulares são explicadas pela teoria dos caminhos ativos preexistentes:
quando há alterações microestruturais tais como segregação ou precipitados nos contornos
de grão, estes se tornam anódicos em relação ao restante do material, havendo aí corrosão
preferencial. É o que ocorre, por exemplo, em aços austeníticos sensitizados (ver seção
3.10).
As trincas transgranulares são tratadas pela teoria dos caminhos ativos gerados por
deformação: na ausência de caminho preexistente, pode ocorrer quebra da película
protetora causada por uma deformação do material, permitindo o processo corrosivo através
do grão. A partir daí, repete-se a concentração de tensões na ponta da trinca, propagando o
defeito.
A CST mostra de modo muito interessante as diferenças de comportamento entre diversos
materiais em diferentes meios. Instalações industriais próximas ao mar muitas vezes
utilizam água salgada como fluido de resfriamento em seus equipamentos. Sendo o aço
carbono corroído com certa severidade pela água do mar, qual o material mais adequado
para utilizar em seus feixes tubulares? Aços baixa-liga, como o 5% Cr - ½ % Mo, muito bons
para atmosferas gasosas oxidantes, têm desempenho medíocre nesses meios, sofrendo
corrosão alveolar mais severa que o próprio aço carbono. A escolha recai sobre os latões,
43
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
ligas Cu-Zn com boa ductilidade e alta condutividade térmica. Porém, em sistemas com
altas concentrações de NH3, eles sofrem CST, com as trincas surgindo mais freqüentemente
nas regiões de mandrilagem (mais tensionadas). Não podendo utilizar os latões, poder-se-ia
pensar em aços inoxidáveis? Bem, os aços inoxidáveis austeníticos resistem facilmente a
meios contendo amônia, mas são facilmente trincados na forma transgranular por meios
contendo cloretos. A alternativa tem sido a utilização de tubos de titânio ou, mais
recentemente, de aços inoxidáveis de estrutura dúplex (austenoferríticos), como o SAF-2205
da SANDVIK.
O teor de cloretos contidos na água utilizada em testes hidrostáticos deve ser controlado
(quando em testes de equipamentos contendo aços austeníticos) abaixo de 50 ppm, valor
acima do qual há risco de CST. Outras fontes de cloretos podem ser a atmosfera marinha e
revestimentos (isolamento térmico e tintas). A temperaturas mais elevadas (até 300 ºC) o
teor de cloretos necessário para provocar CST em aços austeníticos pode ser muito menor.
• CST Assistida pelo H2S (“Sulfide Stress Cracking). As áreas frias de UCCFs
apresentam CST em estojos de tampos flutuantes de permutadores de calor e, em
geral, nas ZTAs de juntas soldadas. Grande parte desse sistema exige tratamento
térmico de alívio de tensões (TTAT) após soldagem, com dureza do metal de solda
limitada a 200 HB. Ela se distingue do ataque descrito na seção 4.1.1 somente pela
presença de tensões de tração e maior tempo de contato, mas seu resultado é bem
distinto. Por isso este dano é mais comum em vasos acumuladores e menos em
tubulações. Nele há uma interação com o hidrogênio gerado na reação de corrosão.
• Danos pelo Hidrogênio. O hidrogênio gasoso está presente em vários processos,
desde os de refino do petróleo até a indústria alimentícia. Nos casos que estudamos,
deve ser feita distinção entre o hidrogênio molecular (H2) e o atômico [H].
Os dois processos acima também são conhecidos como “fratura induzida pelo
hidrogênio – ”hydrogen-induced cracking - HIC”. Caso haja tensões atuantes, estas podem
orientar a direção de propagação das trincas. A denominação então passa a ser “fratura
induzida pelo hidrogênio orientada pela tensão” – “stress-oriented hydrogen-induced
cracking - SOHIC”.
• Fragilização pelo Hidrogênio (“Hydrogen Embrittlement”). Aços de alta resistência
mecânica perdem tenacidade quando saturados de hidrogênio, ficando susceptíveis
à CST. O hidrogênio tem a característica de se difundir para as zonas de
concentração de tensões, como a ponta de um entalhe, reduzindo a capacidade do
material sofrer deformação plástica – sua tenacidade. Esse fenômeno é observado,
por exemplo, em estojos de tampos flutuantes de permutadores de calor e em juntas
soldadas que operam com H2S. Os estojos devem sofrer tratamento térmico de
recozimento e as regiões a serem soldadas pré-aquecidas pelo tempo que for
necessário para remover o hidrogênio do interior do metal. Por ser geralmente
desencadeada em meios contendo H2S, esse processo é muitas vezes chamado
“sulfide stress cracking – SSC”.
• Ação Conjugada Cianeto-Amônia-H2S. Nas seções de recuperação de gases de
unidades de UCCFs existe um processo interativo entre essas espécies químicas
altamente danoso para os equipamentos.
45
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
Por isso, equipamentos sujeitos a esse ataque devem ser lavados e neutralizados
internamente nas paradas, como é feito com as serpentinas de fornos e caldeiras. As
46
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
fraturas têm morfologia intergranular. Importante lembrar que os ácidos politiônicos também
atacam o aço carbono, embora neste caso não seja caracterizada CST.
• Corrosão Atmosférica. As atmosferas industriais são obviamente mais agressivas
que o normal, ainda mais quando há a proximidade com o mar. Em toda parte, a
umidade presente provoca corrosão onde a proteção não é suficiente. Um dos
processos mais comuns na indústria é a corrosão sob isolamento. Muitas tubulações
têm temperaturas de projeto elevadas, mas na prática operam frias ou são pouco
utilizadas (por exemplo, trechos longos à montante de válvulas de segurança e
linhas de vapor para “steam-out” de vasos), e quando o material isolante (em geral,
silicato de cálcio) encharca, desencadeia a corrosão do material. Esse processo é
agravado por traçadores de vapor (“steam-tracings”) inoperantes ou furados, pois
estes geralmente são construídos em cobre, formando um par galvânico altamente
desfavorável ao aço. Os processos de corrosão atmosférica são também
potencializados por vazamentos de linhas que incidem sobre outras.
Linhas e vasos que operam a baixas temperaturas têm isolamento especial, à base de
poliuretano pré-moldado ou expandido (melhor). Uma camada de material selante (barreira
de vapor) é aplicada para evitar a condensação da umidade do ar, mas descontinuidades
tais como as geradas por conexões e instrumentos são pontos fracos que podem levar à
falha do isolamento. A linha (ou vaso) opera então sempre “suada”, favorecendo a corrosão.
Se o material das linhas ou vasos for aço inoxidável austenítico, pode ocorrer corrosão sob
tensão sob isolamento em atmosferas contendo cloretos (como as marinhas), sendo muitas
vezes o próprio isolamento a fonte dos cloretos. Quanto mais agressiva for a atmosfera
(como as de unidades de tratamento de águas residuais), maior cuidado deve haver com a
pintura dos equipamentos, havendo histórico de linhas condenadas exclusivamente por
corrosão externa.
Com a evolução da instrumentação (inclusive para monitoração da corrosão), passou a ser
necessário proteger os contatos (de cobre) dos equipamentos eletrônicos, sob pena de
haver pane dos sistemas de controle do processo devido ao ataque pelo H2S. A solução é
purificar o ar refrigerado das salas desses equipamentos.
d’água, o que exige a posterior separação de uma fase rica (em solvente) da pobre
(que contém principalmente água). Os produtos de degradação do solvente (as mais
das vezes, ácidos orgânicos) vão se acumulando ao longo do processo e passam
para a fase aquosa, tornando-a muito corrosiva. Foram observadas, em unidades de
recuperação de metil isobutil cetona (MIBC), taxas de corrosão de até 10 milímetros
por ano.
• Unidades de Tratamento com Alcoolaminas. Essas unidades são muito comuns em
refinarias, para remoção de gases ácidos (principalmente H2S e CO2) de correntes
gasosas ou líquidas. As aminas mais comuns são a DEA (dietanolamina) e a MEA
(monoetanolamina). O processo se baseia na formação de ligações químicas fracas
entre a amina e o gás ácido. Após entrar em contato com a corrente a ser purificada,
a amina rica é regenerada por simples aquecimento, tornando-se ativa mais uma vez
(pobre). A degradação por oxidação leva à formação de ácidos orgânicos (como o
fórmico, acético e oxálico) que não são regeneráveis, reduzindo a atividade do
inventário de amina. A corrosividade do meio cresce porque aumenta o teor médio
de gases ácidos nas correntes de amina e porque esses ácidos formados, além de
atacar o ferro, formam sais complexos (quelatos) preferencialmente ao FeS protetor.
Os gases ácidos liberados são altamente corrosivos quando em fase aquosa.
Quando ligada a uma UCCF, esta unidade herda os processos corrosivos típicos da
área fria.
48
Curso de Inspetor de Equipamentos
Causas de Deterioração de Equipamentos
5. BIBLIOGRAFIA
[1] Damage Mechanisms Affecting Fixed Equipment in the Refining Industry, American
Petroleum Institute, 1st ed., 2003.
[2] GENTIL, Vicente. Corrosão, 3a ed. revista, LTC, Rio de Janeiro, 1996.
[3] TELLES, Pedro C. Silva. Materiais para Equipamentos de Processo, 5a ed.,
Interciência, Rio de Janeiro, 1994.
[4] RAMANATHAN, Lalgudi V. Corrosão e seu Controle, Hemus, São Paulo.
[5] JAMBO, Hermano Cezar Medaber, Corrosão – Monitoração e Controle, apostila
Petrobras, 2004.
[6] CHAINHO, Antonio Carlos. Causas de Deterioração de Equipamentos, apostila
Petrobras, 1994.
[7] ___Expectativa de Vida e a Inspeção de Equipamentos, apostila Petrobras, 1994.
[8] KARDEC, Alan e LAFRAIA, João – Gestão Estratégica e Confiabilidade,
Qualitymark/Abraman, Rio de Janeiro, 2002.
[9] CALLISTER Jr., William D. Materials Science and Engineering, an introduction, 3rd
ed., Wiley, New York, 1994.
[10] ATKINS, Peter e LORETTA, Jones. Princípios de Química, Bookman, Porto Alegre,
2001.
[11] Metals Handbook, volume 11 – Failure Analysis and Prevention, 9th ed., American
Society for Metals, Ohio, 1986.
49
Curso de Inspetor de Equipamentos