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Acordo Pré-Nupcial - Ane Pimentel
Acordo Pré-Nupcial - Ane Pimentel
Acabei por encontrar minha mãe na biblioteca da casa com o seu clube
do chá. Um grupo de mulheres que se reuniam uma vez por mês para traçar
eventos beneficentes e, claro, falar dos filhos e maridos. Fui expulso do local,
pois os encontros eram de mulheres e ali não cabiam homens, mas não saí sem
antes assegurar que estava tudo bem com a sua saúde e a do meu pai.
Mesmo assim sensação de que algo ruim estava por vir permaneceu.
— Sim...
Fiz o que ela esperava que eu fizesse e fodi forte e rápido. Nada tinha a
ver com a minha pressa em enfrentar o tal jantar.
— Meu amor, achei que não viria mais — minha mãe levantou-se para
me cumprimentar com um beijo e um abraço apertado.
Depois do motel, dirigi até a minha casa para tomar banho e me aprontar
para o jantar. Saí de lá trinta minutos antes do horário combinado, mas acabei
ficando preso no trânsito caótico no horário do rush.
— Querido, para mim algo doce, mas com álcool — minha mãe pediu.
Anos atrás, logo após a morte da mãe do Marcos, minha mãe decidiu
fazer um testamento e convenceu meu pai dessa ideia. De um tempo para cá, ela
vinha comentado sobre deixar uma parte de tudo que tinha para a caridade, por
isso, certo alívio me percorreu ao ouvir esse anúncio. Como eles garantiram
mais cedo que estavam bem de saúde, esse jantar só podia significar o anúncio
oficial dessa mudança e talvez informar quais os locais exatos para aplicar o
dinheiro futuramente. Ou ainda, vincular a minha participação nas ações das
instituições. O que eu faria de bom grado.
Ajudar os outros alivia a nossa dor. Não gostava de pensar sobre perder
alguém que eu amava novamente, mas sabia que era um passo importante para
a aceitação.
— Essa parte eu entendi, não precisam se preocupar. Faz tempo que sou
maior de idade — ergui as sobrancelhas.
— Uma mulher não, mas a sua esposa sim. Veja o Marcos, como ele se
tornou um homem ainda melhor depois que encontrou a Fernanda...
— Isso foi um golpe de sorte. Posso citar inúmeros amigos que a vida se
tornou um inferno depois do casamento.
— E eu posso citar, além do caso do seu melhor amigo, mais outros dez
de pessoas próximas a nós que são muito felizes.
Caralho!
Porra!
— Mãe, não quero discutir, mas para o meu bem isso não tem nada. Não
estou falando só pela herança, mas também pelo meu trabalho. Vocês estão me
obrigando a abrir mão da única coisa que aprendi a fazer.
— Você não precisa abrir mão de nada, é só se casar — meu pai via o
caso como fácil.
— Isso é um absurdo!
Havia muitos anos que aquele olhar não era dirigido a mim. Aquela
expressão que fez parte dos meus dias quando tudo aconteceu. Eu odiava o que
aquele olhar significava: pena.
— Minha filha já tem quase dois anos Gabi, achou mesmo que eu não
voltaria para o meu corpo?
— Qual é, você nunca deixou de fora nenhum detalhe sujo das suas
aventuras... — Fernanda insistiu.
— Nenhuma delas envolvia o irmão de uma das minhas amigas! — soltei.
Ergui as mãos.
Experimentei mais uns dois vestidos, mas acabei optando pelo azul
mesmo, a Fernanda decidiu-se por um vinho e a Sol ficou com um amarelo
suave, pagamos tudo e saímos de uma das mais exclusivas lojas do shopping do
Rio de Janeiro. Enquanto seguíamos no carrinho básico da Fernanda — que eu
imaginei que fosse ser trocado por um menos potente e mais “família” — eu me
distraí olhando as redes sociais. Evitei ir ao lado da Fernanda e me joguei no
banco traseiro do carro, precisava beber alguma coisa antes de começar a
lembrar do sexo quente que fiz com o irmão mais novo dela.
— Sol, co-pilota, ligue para o meu amado marido e diga que não chegarei
em casa tão cedo, diga que ele e Dita cuidem da Mari porque vou ter um dia de
meninas. Depois, ligue para a Lú e informe que estou passando para pegá-la,
sem opções para ela dizer não.
— Sim, senhora... Posso ligar para o meu marido também ou você não
deixa? — As duas riram.
— Podemos nos ver? — estranhei. Nosso acordo havia sido claro: Sexo e
nada mais. E já atingimos a quantidade de vezes combinada.
— Sim, não se preocupe. Por mais que eu saiba que assim que te ver meu
pau vibrará, esse não é um convite para sexo. Onde você tá?
— E a noite?
— Estarei trabalhando.
— Concordo com a Fernanda, só vai restar você amiga... Vai ficar para
titia? — Lú disse depois de juntar o seu celular ao da Fernanda. Sol depositou o
aparelho sem pronunciar uma única palavra. Alguém sensata nesse grupo.
— É difícil pensar em passar a vida inteira com uma única pessoa. Vocês
sabem que eu adoro uma sacanagem e a rotina de uma vida sexual me mataria
no primeiro mês. — Sorri cinicamente.
— Minha vida sexual não é rotineira, meu amor. Tá pra nascer babaca
com pegada melhor do que o meu marido... Testei antes de casar — Fernanda
gargalhou e nós acompanhamos.
— Já que você tem uma queda pelos Albuquerques, conte tudo que rolou
entre você e o meu irmãozinho.
— Não posso citar nomes. Mas eu dei uns pegas no seu irmão sim e o
novinho tem pegada — meu corpo esquentou com a lembrança — Se eu
vacilasse estaria apaixonada e sofrendo por ele estar casado.
— O Felipe é lindo e tem cara de danado, mas daí a chegar perto de fazer
Gabriela Burnier se apaixonar? Estou chocada! — Lú me encarava perplexa.
— Não precisa descrever o pau dele, ok? É meu irmão — ela revirou os
olhos — E o Alexandre? — mudou de assunto — Ele é tudo de bom e parece ter
pegada também, se fosse para pensar em ménage Gabi, eu pensaria nele e não
em você, desculpa aí. — deu de ombros sorrindo.
Sei que quando me acalmar tentarei formular uma listinha das razões
que os motivaram, mas no momento eu só quero que o mundo exploda! A
sensação de sufocamento não é metafórica, puxo o ar dos meus pulmões com
força e não encontro. Minhas mãos tremem e eu sei que preciso parar e me
controlar para que as lembranças não me invadam, para que eu não regrida e
chore no meio da rua. Ou pior, para que eu não tente bater em alguém, ou jogar
o meu carro contra um poste qualquer.
Dirigir não é uma opção viável, por isso peguei o telefone e vasculhei a
longa agenda tentando saber para quem ligar. Meu esquema de transa casual é
simples, mas nesse momento não consigo me concentrar nos detalhes que ficam
ao lado do contato e acabo discando para a Rafaela. Ela atende no segundo
toque.
— Oi Alexandre.
Foi fácil entender então porque ela dirigiu até seu apartamento e não
para um motel. Foda-se!
— Fiquei surpresa com a sua ligação e... — Começou assim que passamos
pela porta.
Não há nada que me faça mais feliz do que me perder no corpo de uma
mulher!
— O que você quer primeiro: meus lábios, minha língua, meus dedos ou
meu pau bem fundo?
— Hummm...
Usei três dedos para penetrá-la e suguei seu grelo para minha boca,
usando lábios e língua. Ela gritou alto e foi música para os meus ouvidos. Fodi
ritmicamente, fazendo meus dedos entrarem e saírem. Uma, duas, dez vezes.
Minha língua trabalhou em círculos, subiu e desceu em lambidas enquanto a
Rafaela chiava, gemia e remexia. Ela estava quase lá... sentia sua boceta apertar
meus dedos. Lambuzei o dedo do meio da minha mão livre em seu líquido e
enfiei em seu ânus, ela se contraiu e seu corpo tremeu. A mulher gozou
gritando.
Amor.
Ela sorriu e beijou minha boca antes de sair do meu colo e se ajoelhar no
chão. Tirou o preservativo como quem desembrulha um presente de natal e
lambeu os lábios para me provocar. Quando começou a lamber meu saco, soube
que ela conseguiria. Ao enfiar metade do meu pau na boca sem engasgar, o
prazer já percorria meu corpo em ondas suaves. Nada como um bom boquete
para fazer um homem esquecer o próprio nome. Ela me masturbou
rapidamente com uma das mãos, acariciando meu saco com outra e para
completar, sugava e babava. Segurei seu cabelo e afastei suas mãos, sentindo
meu sangue correr mais rápido. Fodi fundo levantando os quadris, ela arregalou
os olhos em súplica, mas eu só parei quando minha porra inundou a sua boca.
A Rafaela quis que eu passasse a noite, mas dispensei. Minha mente
ainda estava a mil e nem o sexo tinha feito com que eu relaxasse. Saí da sua casa
quase as duas horas da madrugada, ela me levou até meu carro na porta do
restaurante onde jantei com meus pais. São três e dez e ainda estou no mesmo
lugar.
— Espero que você tenha um bom motivo para me ligar a essa hora, filho
da puta — a voz do meu amigo estava arrastada e rouca.
— Está em cana? — ele falou alto — Não se preocupe amor, é o Alê — ele
sussurrou, provavelmente havia acordado a Fernanda.
— No meu carro.
— Ok.
— Ainda não entendi por que você está usando roupão rosa, ser pai de
menina fez aflorar sua sensibilidade?
— Se tá te incomodando eu posso tirar — ameaçou — Vesti a primeira
coisa que estava perto e que cabia em mim, mas se seu desejo é me ver nu... —
ameaçou abrir o roupão.
— Só porque você casou não significa que todos ao seu redor devam
casar!
— Advogado não é mágico, mas sou bom no que faço e vou estudar seu
caso. Ah e só vou fazer isso porque sou seu amigo, o advogado da sua família é
outro. Só trabalho para a Albuquerque's.
— Eu sei, valeu.
— Não, vou para minha casa. Valeu mesmo, volte para o lado da sua
esposa gostosa.
Pensei em contratar alguém para fingir ser minha esposa, mas ter um
filho com ela era impossível. Talvez, propor um acordo a alguma das minhas
fodas, deixando claro que nos separaríamos. Ter um filho com alguém que eu
conhecesse parecia menos ruim do que com uma atriz qualquer. Mas quem, em
sã consciência, aceitaria isso? Casar e engravidar. Uma lista de mulheres que
dariam o golpe da barriga por uma pensão gorda passou pela minha mente.
Talvez essa fosse a solução. Tudo devidamente registrado em um acordo pré-
nupcial.
Senti uma pontada de alívio com essa ideia. Em seguida, uma avalanche
de culpa. Colocar um filho no mundo e não o criar não é o que quero. Tampouco
casar e constituir família, mas isso precisa ser feito da maneira menos errada.
Preciso de alguém que me ajude nessa loucura, uma amiga, alguém que pense
como eu e...
— Sim, não se preocupe. Por mais que eu saiba que assim que te ver meu
pau vibrará, esse não é um convite para sexo. Onde você tá? — fui sincero.
— E a noite?
— Estarei trabalhando.
— Eu vou encontrar você hoje, não importa a hora — estava
determinado a convencê-la.
— Olha só, Alexandre Fragoso na Carpe Vita, que honra! — ela disse
sorrindo.
— Faz tempo que eu queria vir, mas sabe como é, faltava tempo... — dei
de ombros.
— Se queria uma foto minha no seu celular era só pedir que eu enviava...
Nu — ela gargalhou e se aproximou.
— Certo Alê, estou curiosa para saber o que o trouxe até mim. E você me
disse que não era sexo.
— Disse antes de ver sua bunda nesse vestido. Vamos dançar? Depois a
gente vai até sua sala e...
— Aqui estamos — ela abriu a porta da sua sala. Era sóbria e mediana,
acho que ela passava mais tempo no andar de baixo. Não havia muito sobre ela
no ambiente.
Aquilo estava perdendo a graça. Quando você ouve uma piada boa pela
primeira vez, ri muito. Quando o humorista repete ou tenta explicar, acaba com
a graça. Era exatamente assim que estava acontecendo, a graça estava se
esvaindo do ambiente tão rapidamente quanto fumaça ao apagarmos um
cigarro.
— Vá em frente.
— Eu tenho que casar. Meus pais fizeram uma manobra jurídica para me
obrigar, se não o fizer saio do testamento e todo o dinheiro fica para instituições
de caridade — seus olhos não deixaram os meus enquanto proferia as palavras.
— Drama barato comigo não cola! Por que não os convence do contrário
ou interdita os velhos? — soltei sem querer, eu nunca faria aquilo com meus
pais — Desculpe pela interdição, descarte a ideia.
Não respondi.
— Posso adorar seu corpo sempre que você quiser — sussurrou antes de
circular minha orelha com a ponta da língua — Sei que você adora uma pegada
forte, mas um carinho às vezes faz bem.
O desejo é algo com que eu lido bem. Moldo, exploro e desfruto. É meu
melhor campo de atuação, sempre que deixo meus instintos primitivos virem à
tona, sinto-me livre. E nesse momento eu era só instinto. Minha mente
evaporando, enquanto meu corpo estava prestes a transbordar.
— Não me oponho a receber um beijo desse por dia, durante 365 dias...
— as palavras saíram quando ele beijou meu pescoço.
Desde que a boate inaugurou me vejo envolvida nos eventos até o último
fio de cabelo platinado, vou para meu apartamento em São Paulo em raras
oportunidades, por isso gasto rios de dinheiro num hotel de luxo que já virou
quase a minha casa. Enquanto a sensação de liberdade prevalecer, continuarei
aqui. Um dia de cada vez. Se eu me sentir presa ao trabalho, a um espaço ou a
um ser humano: rompo as correntes e corro. Ou voo. Como teria feito depois do
sexo excitante que rolou entre mim e o casalzinho Feline, Felipe e Aline.
preparei tudo para voar para Las Vegas, mas precisei adiar por causa da Lú. Ela
casará no próximo sábado, e eu embarcarei no dia seguinte.
— Ora, ora... Veio vestida para matar! — ele observou cada curva do meu
corpo. Estava usando um macacão preto de tecido que possui mangas longas,
assim como as pernas. O detalhe está no decote que se estende até próximo ao
umbigo. Dei uma volta e quando o encarei ele sorri — Porra, Gabi!
— Achei que, a essa altura, você soubesse que para matar eu me dispo —
ele gargalhou e eu me sentei — Estou passando aqui para confirmar a minha
viagem, embarco domingo.
— Sei como é — ele sabia mesmo. Se tem uma pessoa que entenda meu
modo de viver e sentir, essa pessoa era Felipe Albuquerque — Por falar em se
sentir foda, acho que não te agradeci ainda pelo presente de aniversário.
— Vou sugerir que ela tente com dois homens — ergui uma sobrancelha
e esperei a reação ciumenta. Ele pareceu ponderar.
— Acho justo... Mas não serei eu a sugerir — piscou — Carpe Vita, Gabi!
— Vai ficar foda! Acho que era exatamente isso que faltava nesse seu
corpo maravilhoso. Já sabe onde vai fazer?
— Quando tiver pronta, é provável que meus gritos não fiquem bons em
vídeo...
Os braços tatuados indicam que ele gostava de dor ou que dói muito
pouco. Virei a garrafinha de bebida e deixei o líquido queimar para amortecer a
dor que sentiria.
O primeiro toque é o que dói mais. Seu psicológico espera uma dor muito
forte, mas no fim das contas dá para suportar. Talvez a bebida tenha aliviado
um pouco. Mantive-me imóvel pelo máximo de tempo que pude, estava prestes
a pedir uma pausa para beber mais alguns goles quando ele desligou o barulho
infernal.
— Depois de umas duas horas pode tirar o plástico. Deixe-a livre por
umas vinte e quatro horas. Depois disso use uma pomada dermo-restauradora
— assenti — Ah e evite praia e piscina por uns quinze dias.
Saí da sala logo depois dela e voltei para o bar. Pisquei para o barman
que me encarava desde que me aproximei do balcão, os meus olhos azuis
causam esse efeito hipnótico e assim, tanto quanto um cliente VIP, estou sendo
atendido em poucos minutos.
Xeque.
A qualquer custo.
— Bom dia Odete, vejo que está com um brilho no olhar. Já sei... O
Manoel compareceu ontem à noite! — ela bateu no meu ombro, sorrindo sem
graça. Odete era a mais velha funcionária da empresa. Era com ela que eu ficava
quando meu pai me levava para visitar seu trabalho, tínhamos uma relação de
avó e neto.
— Você não toma jeito, menino — sorriu com as maçãs do rosto rosadas.
— Bom dia filho, bom dia Odete — meu pai entrou na sala com seu traje
típico, fizesse chuva ou sol ele sempre ia a empresa usando calça social e camisa
de tecido longa, nos pés os sapatos italianos pretos, seus preferidos.
— Odete, peça por favor três cafés e água — ela assentiu antes de se
retirar.
— Não acho que uma boate seja um local propício para achar uma
esposa — meu pai opinou.
Não resisti quando ouvi o sarcasmo em sua voz. Uma coisa era os meus
pais acharem que eu preciso casar e impor esse maldito contrato. Outra
totalmente diferente, era esse advogado de merda se meter na minha vida.
— Tudo bem, senhor Maia. O Alexandre está nervoso com a sua atual
situação.
— Vá se foder!
— Alexandre, chega! — meu pai bradou — Rafael, queira nos dar licença
por dois segundos e iniciaremos a reunião — ele se retirou e meu pai continuou
— Percebo que você está irritado com toda a situação...
— Nós te amamos.
Maya Soares estava parada a minha frente usando uma calça jeans justa
e uma camiseta preta com a frase Fuck off! (foda-se!) estampada, mas foram os
peitos dela que chamaram a minha atenção. Extremamente modelados pela
camiseta e, pelo que notei, sem o auxílio de um sutiã. Os bicos ouriçados
indicavam isso. Usava ainda óculos aviador e seus cabelos castanho escuros
ondulados estavam soltos e pareciam levemente bagunçados. O sorriso era
capaz de derreter/esquentar até o Polo Norte. Se eu não estivesse acostumado a
esses sorrisos, estaria de quatro agora por essa mulher. Ela tirou os óculos e
seus olhos cor de mel deslizaram sobre o meu corpo acomodado na cadeira do
restaurante. Levantei e estendi a mão, o sorriso permanecia no seu rosto como
um belo cartão de visitas
— Não seja por isso — me aproximei ainda mais e toquei nossos rostos.
O segundo beijo foi perto da boca — Devidamente apresentados, podemos nos
sentar — puxei a cadeira para que sentasse e sentei à sua frente.
— Não sei como me deixaram entrar aqui, sério! Acho que os saltos
deram uma salvada no figurino "acordei e saí de casa". Se eu tivesse me
preparado causaria uma impressão melhor.
— Você está linda. Champanhe?
— Não foi para saborear essa deliciosa lagosta que viemos aqui.
— Acho que não entendi — ingeriu todo o conteúdo da taça de uma vez.
— Podemos reduzir esse tempo um pouco... e isso pode até ser piada de
mau gosto, mas é real. Acertaremos um bônus maravilhoso quando tivermos
um filho.
— Maya, eu dou o que você quiser: uma casa no seu nome, carro do ano,
viagem para o exterior, qualquer coisa que você pedir. Você só vai precisar
manter a aparência...
— Nada mudará.
— Comigo não rola! Tenho uma pessoa que cuida de mim, me banca e
não preciso me algemar. Mas posso indicar umas amigas...
— Como posso salvar seu dia? — ela lambeu os lábios, minha perna foi
tocada por seu pé que subiu em direção a minha virilha.
— A sobremesa...
Quem sou eu para não atender a uma ordem dessa? Já que a gostosa não
estava disponível para ser esposa, eu iria conferir se tudo que disseram dela era
real.
Batidas fortes na porta nos fizeram perceber que teria que ser rápido.
Mulheres, primeiro.
Chegou o grande dia. As flores estão por todos os lugares em que meu
olhar repousa. Os vestidos longos desfilam para tomar seus acentos. Muitos
sorrisos e cochichos. Em toda festa tem gente que está lá para dividir a alegria
da comemoração e outros que, por inveja, maldade ou mal humor, vão apenas
para observar e procurar defeitos. É o que duas mulheres fazem nesse
momento. Os dois pares de olhos não se fixam em nada específico. Dão voltas e
fazem ziguezague em busca do motivo para cochichar e quando encontraram
soube que não seria para falar mal. Notei o momento exato em que as duas o
avaliaram. Se surpreenderam com os olhos claros, cobiçaram o corpo e
voltaram ao belo rosto que eu conhecia bem. Meu par tinha chegado e vinha em
minha direção. As duas fofoqueiras ficaram boquiabertas e com certeza
querendo ser eu naquele momento.
— Isso tudo foi para estar ao meu lado no altar? — perguntei quando
Felipe se aproximou e me abraçou.
— Dizem que eu fico muito bem de terno — se gabou segurando as
lapelas — E é claro que você concorda. O que está fazendo aqui sozinha? Cadê o
restante da quadrilha do salto alto e gloss?
— Vim dar uma volta e ver a decoração, mas já estou voltando. Acho que
a cerimonialista vai nos matar. Cadê a Aline?
— Foi sentar com o Gui antes que ele disparasse por aí — sorri e assenti
— Vamos lá? Estou louco pra ver a Mari.
— Seu pai? Eu escolho tudo e te deixo gata e você atribui todo meu
esforço ao seu pai? Vou chorar! — Fernanda fez drama — Nove meses
carregando uma criatura que idolatra o babaca do pai!
— Cuidado para não amassar a roupa, amorzinho. Tia Lú tem que te ver
linda!
Minha "aversão" (não é bem isso, mas vamos chamar assim por falta de
palavra melhor) ao casamento poderá ser justificada, por algum expert em
relações, pelo fato de meus pais não serem casados. Em defesa deles: eles
tentaram. Meus pais se pegaram, por muito tempo, até eu nascer. Aí eles
decidiram tentar uma coisa nova, pensando no meu bem, e decidiram morar
juntos. Conviveram pelo máximo de tempo que foi possível, mas assim que
acharam que eu não teria problemas psicológicos ocasionados pelo trauma da
separação, decidiram seguir caminhos separados. Depois disso meu pai já casou
4 vezes oficialmente, ou seja, ele acredita no casamento, né? Já a minha mãe
parece que agora encontrou o amor da vida dela (procurou bastante), está
casada com meu padrasto há quatro anos.
— Vou pedir para a mamãe ficar de olho no Gui. Duvido que ela se
negue. Quero curtir a festa com a Aline — Felipe sorriu abobalhado.
— Não rouba minha ideia, fedelho. Vou falar com ela agora! — Fernanda
retrucou.
Movo o rosto para o outro lado e me deparo com a Sol e o João Pedro
trocando carícias e cochichos. Desvio novamente o olhar e a cena seguinte se
resume em Marcos e Fernanda sorrindo de algo que a Mari falava, ambos
olhavam-se apaixonados. Lú e Emerson pousam para as fotos pós-cerimônia, o
mesmo olhar estava presente entre os dois, bem como o sorriso de felicidade.
Sinto-me sufocada. E antes que eu perceba uma lágrima solitária escapa do meu
olho.
Já havia um bom tempo em que eu tinha dado uma fugida das fotos e das
famílias de comercial de margarina. A festa estava acontecendo num espaço
para eventos aberto, com muito verde e ao lado de um rio. Nesse momento, eu e
minha taça de champanhe estávamos apreciando a vista.
— Você é direta.
— Ah, mas eu estou feliz. Vamos para a minha casa? — Os dedos dele se
moviam lentamente sobre o tecido do meu vestido, na altura da minha cintura.
Aproximei-me ainda mais.
Ele girou fazendo com que meu corpo ficasse recostado no carro. Uma
mão firme segurou a minha coxa exposta pela fenda do vestido. Conforme os
dedos subiam, o calor aumentava. Meu corpo reagiu ao toque tão bem quanto o
fogo se espalha em um pedaço de papel. Rápido e certeiro. O sugar constante de
línguas, sempre bem-vindo, embriagou os meus sentidos. Abri o botão da calça
social e enfiei minha mão dentro da cueca. Joseph gemeu contra a minha boca
quando comecei a masturbá-lo. Levantou o meu vestido até a minha cintura e
eu usei a minha outra mão para mantê-lo ali. Libertei o pau. Ele afastou a minha
calcinha. Tirou o preservativo do bolso da calça e o vestiu rapidamente. Enlacei
sua cintura com uma perna, ele entrou na minha boceta.
— Rápido! — pedi.
Ele obedeceu, mas não era o suficiente. Usei meus dedos para
impulsionar o meu prazer, com os movimentos já conhecidos manipulei o
clitóris enquanto ele entrava e saía.
Pago o táxi e deixo o motorista feliz com o generoso troco. Faço check-in
e subo para a minha maravilhosa suíte. Banheira de hidromassagem e celular:
vamos a caça, Gabriela.
Amo as redes sociais. Amo mais ainda a facilidade para as novas relações
que elas proporcionam. Há um aplicativo em especial que pode ser muito útil
quando se viaja. Através de um match, dois usuários com alguns interesses em
comum podem se conhecer. É como um cardápio online. Você deixa claro do
que gosta e no que se interessa, as opções aparecem e você escolhe. Se
compararmos a pedir comida, é basicamente igual. No fim, a mecânica é a
mesma de ir até um bar e azarar os caras, a diferença é que aqui você filtra o boy
antes de começar a azaração. Ou seja, já é meio caminho andado. E
convenhamos que como acabei de chegar, saber as opções enquanto relaxo é
totalmente viável.
Observei os perfis. Dei match num galego com fotos de um corpo incrível.
Conversei por algum tempo e notei que o cara tinha um humor legal, o que
resultou em já ter um encontro marcado! O nome do cara? Henry. Estava há
menos de quatro horas nessa cidade e já me sentia maravilhosamente bem.
O carro alugado da vez é uma limousine, bem comum nas ruas de Vegas.
Afinal, costuma-se sair em grupos grandes e as pessoas gastam sem dó nesse
lugar. Há algo de libertador em deixar milhares de dólares nessa cidade, é a
única explicação que consigo achar.
Uns cinco drinques depois, minha bexiga pediu por banheiro. Enfrentei a
longa fila para poder finalmente me sentir leve. Já em frente ao amplo espelho
retoquei o batom cor de vinho, ao meu lado uma mulher fazia o mesmo. O anel
gigante no dedo da mão direita era notável e atraiu o meu olhar. O design é um
tanto simples, mas exclusivo, naquela peça a atenção era na enorme pedra de
diamante. Por curiosidade observei que ela ostentava esmeraldas num colar e
nos brincos. As joias não combinam e juntas eram exageradas, mas a intenção
ali é mostrar para causar inveja e não expor bom gosto.
— Did you like it, my dear? (Você gostou, minha querida?) — ela
perguntou num inglês sofrível.
— Foi o meu homem que me deu! E de onde veio esses, virá muito mais
— ela piscou e falou em português.
Tiffany? A vadia era uma golpista clara. O nome, assim como seu inglês e
seu gosto para roupas e joias eram péssimas escolhas. Feitas para chamar
atenção e atrair os homens, eu jurava que o Alexandre fosse um pouco mais
inteligente que isso. A mão dela estava estendida em minha direção e não
restava outra alternativa além de aceitá-la e sorri. Se ele estava tão desesperado
assim para casar, boa sorte.
— Prazer, Tiffany.
— Sair daqui Gabi, o que pensou que seria? — senti seu hálito quente
bem próximo a minha boca. Sua mão apertou firmemente minha cintura, estava
escuro, mas ainda assim fechei os olhos preparada para o inevitável beijo.
Notei Tiffany curvar-se sobre a mesa para fazer sua aposta de forma
insinuosa, atraindo propositalmente a atenção dos homens para os seus
generosos seios. Seu noivo estava distraído olhando o ambiente ao redor.
— Vamos lá!
Uma grande tática dos cassinos era a oferta de distrações. Isso fazia com
que os clientes gastassem mais dinheiro. A principal distração para os
apostadores era, obviamente, a bebida. Os garçons estavam sempre a postos
enchendo e trocando os copos e taças. Em algumas rodadas eu já havia ingerido
drinks o suficiente para fazer a minha cabeça começar a girar. Em compensação
estava elétrica para continuar apostando.
A roleta era o jogo que atraía mais iniciantes. E mulheres. A sedução dela
era a pura sorte. Mas como a maioria deve saber, havia truques além da
probabilidade. Assim, perdi muito mais que ganhei. Mas quem se importava? A
alegria líquida fluía em mim! Seguimos para a boate no segundo andar, rindo de
qualquer coisa.
Daí em diante não consigo descrever o que aconteceu. Mas com toda
certeza bebemos muito mais. Provavelmente até que nos expulsaram do lugar.
Nunca mais eu vou beber na minha vida! Juro por tudo que é mais sagrado.
Ok, já jurei isso antes, mas dessa vez é sério. Vou até me ajoelhar quando eu
consegui abrir os olhos.
A ressaca era uma das coisas com as quais eu nunca me acostumaria, por
mais que fosse uma velha conhecida. A dor de cabeça que sentia naquele
momento era a junção de todas as outras que já tive na vida. A intensidade da
dor só perdia para a que sentia quando estava com cólica, esta já me levou ao
hospital. Abri os olhos apenas para fechá-los novamente, os sinos da catedral
pareciam soar nas minhas têmporas. Tentei me mover, mas não conseguia.
Voltei a abrir os olhos assustada. Não consigo me mover? Ai meu Deus!
Com muito esforço movi o pescoço e notei que estava imobilizada por
um corpo masculino. Menos mal, minha mente já estava pensando em paralisia.
Não fazia ideia de quem era o homem ao meu lado. Um braço forte estava
passado sobre o meu tronco, amassando meus peitos. Uma perna completava o
serviço de me prender à cama.
— Bom dia.
— Podemos tomar café aqui no quarto? Minha cabeça está doendo — ele
não se moveu.
Ele levou as duas mãos ao rosto e esfregou os olhos e o que eu vi ali fez
meu coração disparar. Por favor, não. Para confirmar as minhas suspeitas olhei
para a minha mão esquerda e perdi a capacidade de fala. Não é possível...
Ai caralho!
— Isso não pode ter valor legal. Eu nem me lembro disso, anular vai ser
muito fácil. Nem consumamos, né? — ele ergueu uma sobrancelha sugestiva —
ok, então peço o divórcio. Ligo para o meu advogado e resolvo.
— Acha mesmo que ela vai querer casar comigo depois do que
aconteceu? Eu troquei de noiva, Gabriela. E agora eu já tenho uma esposa.
Ela focou meu rosto e sorriu. Eu deveria ter saído correndo, nada de bom
poderia vir por aí.
— Você precisa ver a sua cara agora — a risada dela foi sonora —
Alexandre você estava desesperado, um homem desesperado é capaz de fazer
loucuras. Inclusive casar com uma mulher com uma placa luminosa escrita
"golpista", como a Tiffany. Não estou feliz e nem satisfeita com essa situação,
errei ontem quando casei com você. Mas posso tentar prolongar esse erro por
mais um tempo, desde que deixemos as coisas claras.
— Não preciso do seu dinheiro e não acho justo que você tenha qualquer
direito sobre o meu. Nós casamos com qual regime de bens?
— Ótimo. Apesar de também não fazer questão de nada do que possa ter
a partir de ontem — ela sorriu — podemos morar separados?
— Não seria o ideal. Precisa ficar claro para você que ninguém jamais
poderá saber que nosso casamento é um acordo. Meus pais estão de olho. O
filho da puta do advogado estava me investigando e seguindo meus passos,
inclusive.
Ela estremeceu.
— Trezentos e sessenta e cinco dias de prisão. Nunca mais vou beber...
Foi, de longe, a minha maior burrada.
— Sem sexo.
— Você não pode estar falando sério, Gabriela — levantei e foi a minha
vez de andar de um lado para o outro.
— Estou falando sério. Precisamos deixar claro para nossa mente e para
os nossos corpos, por mais deliciosos que sejam, que isso é um acordo. Uma
transação — ergui as sobrancelhas — Esqueça essa última palavra. Estou
fazendo um favor para você, aceitando essa loucura. Não vou foder contigo. Essa
é a condição.
— Que fique claro que estou sendo obrigado a concordar com isso — eu
disse, por fim.
Fim de jogo.
Agora que a mulher aceitou permanecer casada, eu não correria o risco
de dar brecha para que mudasse de ideia. Voltaríamos ao Brasil no mesmo voo,
o mais rápido possível. Consultei a sua opinião e ela prontamente aceitou.
Parecia querer começar com o teatro e se livrar de mim o quanto antes.
Aproveitei o tempo para responder alguns e-mails, mas não pude deixar
de notar quando uma jovem morena se aproximava. Ela usava uma calça jeans
justa que moldava seu corpo e um top branco que apertava os seios grandes.
Trazia no braço uma jaqueta de couro preta e a tiracolo uma bolsa gigante. Não
me admiraria se ela retirasse de lá uma cartola, além do próprio coelho.
— Como assim? Não posso beber uma taça de champanhe? Isso aqui é ou
não a primeira classe?
— Que inferno até aqui ele tenta me controlar! — reclamou alto atraindo
a atenção dos presentes.
— Mas...
— Ufa! — Sorri.
— Penetra!
— É o seu caso?
— Não! — ela riu alto — Sou a mais enlouquecida das mulheres. Por isso
me negaram champanhe.
Minha cabeça estava melhor, mas meu corpo precisava de muitas horas
de sono tranquilo. Apesar de viajar na primeira classe, voos longos sempre
acabavam comigo. Principalmente os de volta. A empolgação da ida me ajudava
a ignorar o trajeto.
Suspirei aliviada quando pisei fora do aeroporto. Havia um motorista
nos aguardando antes mesmo que eu conseguisse trocar o chip do meu
aparelho celular.
— Por favor, Gabi — disse baixinho — O que mais eu posso fazer para
você entrar nesse carro?
Droga!
Por quanto tempo vou conseguir resistir ao toque desse homem? Isso eu
descobriria depois. O plano agora era: entrar no carro, me trancar em um
quarto e dormir por muitas horas. Descansada eu conseguiria pensar melhor.
Seguindo os comandos básicos do plano, sentei no banco traseiro do
carro com o Alexandre ao meu lado. Não demorou para que chegássemos numa
mansão. Amanhã eu olharia cada detalhe, no momento queria me afastar do
cheiro desse homem. Adentramos juntos no ambiente, na sala, uma mulher de
meia idade usando uma roupa bege nos aguardava com expectativa. Ele
provavelmente avisou da nossa chegada.
Finalmente só!
Do Elvis Presley.
— Meu filho eu... Ohhhhhhhh — abri os olhos de uma vez para ver em
que circo estava metida.
— Bom dia querida, acho que esse não é o momento mais adequado, mas
esses são os meus pais — ele riu e beijou minha nuca.
Eu não sou uma mulher tímida, mas senti meu rosto esquentar diante da
situação.
Comemorar o que? Será que ele havia avisado sobre o nosso casamento?
Sentamos à mesa que estava realmente caprichada. Digna dos melhores
restaurantes cinco estrelas. Bela comemoração. Apesar disso, não havia
empregados por perto no momento. Os pais dele estavam se servindo, peguei
algumas fatias de melão e melancia para iniciar o desjejum. Meu estômago
ainda se recuperando da ressaca.
— Sim!
— Não! — eu neguei.
Mas respondemos ao mesmo tempo. Droga, não dava para voltar atrás.
— Sim e não — ele sorriu tranquilo — Dizem que o tempo é relativo, não
é? Para mim é como se a conhecesse há anos, mas na verdade nos conhecemos
ano passado.
— Mãe...
— Você é meu único filho, não podia fazer uma coisa dessas.
A gente não deveria mentir assim para eles. Olhei de soslaio para
Alexandre que parecia ler os meus pensamentos, seu olhar era tristonho.
— Alexandre, você deve estar muito feliz em ver as duas mulheres da sua
vida se dando bem não é mesmo?
Presente? De casamento?
— Claro que precisava, vamos buscar lá no carro — Alê olhou para mim
como se calculasse se deveria deixar eu e sua mãe a sós. Sorri em resposta
afirmativa e eles saíram.
— Entendo sim — sorriu — Mas até onze e cinquenta e nove ainda será
aniversário dele e tenho certeza que você saberá como presenteá-lo.
Agora não daria mais para voltar atrás. Já havia envolvido os pais dele.
Parece que o destino estava começando a me ajudar. Não contava com a
aparição dos meus pais tão repentinamente. Mas essa foi a melhor solução para
os possíveis problemas que surgiriam durante o nosso primeiro dia de volta ao
Rio.
Uma boa dose de shampoo foi necessária para massagear meu couro
cabeludo e desviar meus pensamentos para a Gabi nua. Pernas torneadas,
barriga seca e seios médios empinados e atrevidos, como a dona. Como homem,
sou amante das belas mulheres e ninguém em sã consciência pode negar a
beleza de Gabriela Burnier. Se vestida ela era um espetáculo, nua era de fazer
qualquer um babar.
— Não parecia que você precisava de ajuda... E achei que homens feitos
não batessem punheta no banho. Estou surpresa.
— Isso não vai ser fácil... — seus dedos desceram pelos músculos do meu
abdômen — Você deveria ser menos gostoso para facilitar essa relação.
Eu sorri devagar.
Ela deu um passo para trás, apanhou a toalha e a jogou sobre mim.
— Você não me disse que hoje era o seu aniversário. Sua mãe me
perguntou o que eu comprei para o meu marido! Sorte sua que eu não faço jus
às piadas sobre loiras e respondi rápido que ainda não havia tido tempo de
comprar.
— Você passa longe de ser uma loira burra, Gabi. Que horas eu deveria
ter comentado sobre a data que nasci? Você também não me disse quando é o
seu aniversário.
— Seus pais me viram nua! Você armou para que eu não tivesse como
sair dessa. Jogou sujo, Alexandre.
— Eu não sabia que eles viriam, não é um costume tomar café da manhã
comigo no dia do meu aniversário — o olhar que me lançou era de quem não
acreditava em nenhuma palavra do que eu dizia — Estou falando sério. Se eu
tivesse armado isso, teria feito de uma maneira em que dormíssemos na mesma
cama, eles quase nos pegaram em quartos separados. Não esqueça que sou o
mais interessado em convencê-los.
— Não gostei de mentir para a sua mãe — ela se jogou na minha cama,
fitando o teto — Ela acha que ganhou uma filha. Aliás, você pode me dizer o
nome deles?
— Não sei. Acho que não chega a cem — larguei a toalha e vesti uma
cueca.
Ela observou enquanto uma calça jeans escura e uma camisa azul
marinho cobriram meu corpo. Quando borrifei perfume e terminei de pentear
os cabelos, ela verbalizou:
— Vai sair?
Anos depois passei a desejar ardentemente tal data para que pudesse
comemorar a dois. As surpresas femininas conseguem superar todas as nossas
expectativas. Eu amava o meu aniversário. Até que passei a odiar, por não ter
mais motivos para amar.
Entorno mais uma vez o copo cheio do líquido que afoga as dores:
Whisky. Não sinto mais o ardor que a bebida causava no começo. Mais da
metade da garrafa já se foi, de qualquer forma. Mas ainda não estou bêbado o
suficiente, pois noto uma mulher se aproximar da mesa em que estou sentado
sozinho, no fundo do bar anexo a uma boate movimentada. Ela para em frente à
mesa, dando-me a visão de belas cochas expostas num vestido branco colado.
Quadris largos e cintura fina, seios grandes e... Cabelos cacheados volumosos.
Conheço-a de algum lugar.
— Claro que conhece, você descobriu que sou penetra nas suas festas.
Por sinal, tô sabendo que vai rolar nesse fim de semana — ela pegou meu copo
e bebeu metade do conteúdo e depois o encarou — Puro? Dia ruim?
— Ficou pensativo, rei da balada? Desse jeito vou achar que seu apelido
é uma farsa.
Quando ela levantou e rebolou de pé, eu já estava duro. Puxei seu corpo
de costas para mim e deixei claro que ela tinha conseguido me animar. Fui
empurrando seu corpo entre os outros para que pudéssemos andar, sem nos
separar. Ela continuou dançando e se esfregando até que chegamos na saída. No
estacionamento, continuamos andando na mesma posição, mas ela com as mãos
para trás já abria o botão da minha calça jeans. Destravei a porta do fundo do
Ranger Rover e ela engatinhou de quatro, suspendendo o vestido.
Mesmo zonzo era visível que sua calcinha fio dental era minúscula e que
aquele rabo grande merecia mais atenção do que eu seria capaz de dar nesse
momento. Senti dificuldade para esticar o preservativo com rapidez, o que a fez
rir alto por estar esperando naquela posição. Apenas por isso meti sem
nenhuma preliminar. Ela gritou e me empurrou de volta.
Meu pescoço doía. Senti ao tentar mexê-lo. E meu quarto estava claro e
quente demais, podia notar sem abrir os olhos. Será que esqueci de ligar o ar-
condicionado? Abri os olhos para perceber que o ar estava ligado sim, mas não
resfriava porque o sol estava batendo no meu rosto, passando pelo vidro do
para-brisa. A chave estava na ignição.
Se eu fosse uma golpista essa hora você estaria sem carro, sem celular e
sem dignidade alguma. Me ligue para agradecer. Quero convite pra festinha.
B. Penetra - 98803-0069
Eram cinco da manhã quando entrei e casa, tudo estava silencioso. Passei
pela ampla sala e caminhei em direção a cozinha, minha boca estava seca,
precisava de água. Antes de chegar até lá, vi a mesa de jantar posta para duas
pessoas. Nada muito romântico, mas muito mais elaborado do que a Carmem
costuma fazer para mim sozinho. Flores na mesa, souplast e louças especiais.
Será que a Gabi ia jantar comigo?
E é isso que faço por cerca de meia hora. Quando decido que minha cama
é o melhor lugar do mundo.
Não acredito que quarenta e oito horas com uma aliança na mão
esquerda, um aniversário e uma pseudosogra carinhosa foram suficientes para
me fazer de otária. Como não sabia como lidar com meu novo estado civil diante
dos outros, optei por passar o dia na casa do Alexandre. Com o celular
desligado, só por precaução. Assim, conhecendo e me familiarizando, andei
pelos arredores da mansão para notar que, ao contrário do que pensei, ela não
fazia parte de um condomínio fechado. Era como a casa dos pais da Fernanda
em São Paulo, imensa e com muros como um condomínio, mas só havia uma
única casa. Sem vizinhos para espiar sua vida. Além da piscina, havia um espaço
com gramado para jogar futebol society e uma sauna. Bastante espaço de lazer
para apenas uma pessoa. A casa era grande e espaçosa, o quarto do Alexandre
era o maior dos três e o único que possuía um closet. Acho que eu deveria exigir
ficar nele, sem o dono do quarto, para o bem da minha saúde mental e das
minhas novas convicções.
Passei boa parte do tempo na piscina, mas fui interrompida pela Carmem
que me serviu almoço lá mesmo. Ela insinuou, discretamente, que poderia
preparar um jantar especial para o aniversário do patrão. Não vi problemas
nisso e até me animei sugerindo o cardápio, afinal eu também ia desfrutar do
jantar. Tomei banho e me arrumei, como sempre, não era porque ia jantar em
casa que me apresentaria de qualquer forma. Pensei até num presentinho para
o Alê. Desde que eu determinasse que seria apenas dessa vez, poderíamos
finalmente ter a nossa noite de núpcias. Na verdade, eu não aguentava mais e
precisava dar para alguém. Essa tensão toda desde Vegas somada ao fato de ver
aquele homem nu mexia com meus hormônios e eu nunca fui de negar-me nada.
Ela estava errada, claro. E a lágrima que escorreu pelo meu rosto era
fruto da TPM maldita que me acompanha todo mês, da raiva de ter me metido
nessa merda e feito o primeiro papel de otária na pele de esposa. Mas esse seria
o primeiro e o último papel de trouxa.
Eu sou
A carinha das noitadas
Curto as madrugadas
Bebendo uma gelada
Não gosto
De ter hora marcada
Pra voltar pra casa
Eu gosto de virar
As noites nas baladas
Lú, achei que ainda estivesse em lua de mel, se está dando tempo de
sentir a minha falta tem algo errado por aí kkkkkk
Fernanda enviou e acertou na mosca, como sempre. Ela só não fazia ideia
do tamanho da mosca.
Sempre tem ;)
Conta!
Diz!
Vocês vão saber já, já. Preciso terminar de arrumar umas
coisas, só apareci para que parassem de chorar. Beijos ;*
— Isso — Dhi apontou para a amiga — é falta de pau. Por isso eu vivo
de bom humor e a nossa chefinha também, né?
Solteira, sozinha
Na pista pra negócio
Tá de boa, soltinha
Não tá querendo sócio
Ela é tipo de mulher independente
Que não pede carona e nunca vai dormir carente
— Quase não acreditei quando te vi, achei que só voltaria semana que
vem! Não ia falar com seu sócio? — Ele se aproximou para ser ouvido.
— Voltei mais cedo, mas hoje estou de folga — mostrei o copo seco —
Por sinal, você poderia pedir ao Dhi outro desses?
— Pra você eu sirvo de garçom — ele se afastou levando meu copo e só
então eu notei que o cara que me observava segurava um celular na minha
direção.
Que porra é essa? O idiota estava tirando uma foto minha? Ele notou que
eu vi e guardou o aparelho no bolso enquanto se misturava entre as outras
pessoas. Estava prestes a segui-lo quando alguém segurou meu braço esquerdo.
— Onde vai com tanta pressa? — Quando ouvi aquela voz fechei os olhos
para não gritar de volta — Gabriela?
— Tenho vários fãs, mas esse não parecia um deles. Passou um tempão
me encarando, além de estar usando terno em uma boate.
Sua mão escorregou pelo meu braço até chegar na minha mão.
— Onde está sua aliança? — fingi que não ouvi — Acho que sei quem é o
cara, onde está a porcaria da aliança?
— Quem é o cara? — tentei soltar minha mão, mas ele a segurou com
força.
Quem esse imbecil pensa que é para sair contando sobre meu estado
civil?
E quem era o cara da foto? E por que o Alexandre veio atrás de mim? Eu
queria apenas aproveitar a minha noite!
— Achei ter ouvido você dizer que não beberia mais, depois de acordar
casada comigo.
— Claro que sim, mas ainda preciso saber da sua aliança — ele ergueu
apenas uma sobrancelha e sacou o celular do bolso, mexendo até virar a tela
para mim — Era esse o cara?
— Faz parte do jogo, Gabriela. Se ele estava atrás de você e tirando fotos
é importante que eu saiba o que ele registrou.
Mais uma vez ele me segurou, só que dessa vez me encostou na parede.
— Se você precisa ficar com alguém, eu lhe faço esse favor — ele disse
antes de amassar minha boca com a dele. Sua língua tentou invadir a minha
boca, mas eu a prendi entre os dentes e apertei com força. Ele se afastou e eu o
soltei — Porra, Gabi!
Passei pelo Felipe que tentou me deter, mas não conseguiu, saí em
disparada para fora da boate. Ouvi passos correndo atrás de mim, andei rápido
até o carro destravando antes mesmo de me aproximar.
— Como imaginei, você saiu com meu carro — ele chegou até mim antes
que eu pudesse fechar a porta do motorista. Coloquei a chave na ignição, mas
não consegui sair antes que ele sentasse no banco do carona — Jura que ia
embora e me deixar?
— Ok, vou ficar calado até chegarmos em casa. Não arranhe meu carro
— pediu e eu senti vontade de jogar o Ranger Rover contra um poste, mas não o
fiz. Dirigi em alta velocidade até chegar naquela prisão de luxo.
— Faça alguma coisa útil, leve tudo que tiver no carro lá pra dentro —
bati a porta com o máximo de força que eu pude e o deixei lá sentado.
Tudo bem, se é o que você quer. Abri a porta usando calcinha e sutiã
pretos de renda, virei para dar a visão da minha bunda com o fio dental e andei
até minha bolsinha jogada no chão. Abaixei para pegá-la me empinando e
abrindo levemente as pernas. Quando me virei ele estava no meio do quarto me
encarando.
— Você quer conversar sobre o que? Eu tinha planos para agora — ela
falou enquanto andava até a cama. Sentou, ajeitou os travesseiros na cabeceira e
se recostou com muita suavidade.
— Seja mais específico — ela pediu com tanta calma que eu estranhei.
Mas o golpe veio no gesto: suavemente ela usou os dedos de uma mão para
passear pelo pescoço, enquanto os da outra tocavam a parte superior aos seios.
Meus olhos custaram a se mover dos seios para o rosto dela que me
encarava.
Meus olhos percorreram cada centímetro dela. As unhas dos pés eram
ressaltadas por um esmalte vermelho. As pernas torneadas e sem pelos
pareciam macias, apertei as mãos na poltrona para não tocá-las. A boceta estava
totalmente depilada. Gabriela não tinha um grama de gordura na barriga, seu
umbigo fundo chamava a minha língua e eu mantive a boca fechada para não
babar. Na costela direita, posicionada uns três dedos abaixo do seio, ela tinha
feito uma tatuagem. Isso era uma novidade para a qual eu não havia atentado, o
que é perdoável considerando que meus pais irromperam no quarto quando a
vi sem roupa. Quando ficamos juntos anteriormente o corpo dela era imaculado,
nenhuma tatuagem fazia parte da perfeição.
Gabi usava o polegar para fazer círculos no local onde ficava o clitóris e
bem devagar inseria o dedo do meio dentro de si. Eu acompanhava o seu ritmo
como se fosse o meu próprio pau a entrar e sair daquele lugar molhado. Ela
juntou o dedo ao lado para ajudá-la a dar prazer e acelerou os círculos,
provavelmente já desejando o orgasmo.
Dividir seu espaço com alguém já não é uma tarefa fácil, piora quando o
ser é do sexo feminino. Não dá para ignorar a presença de uma mulher
dividindo o mesmo teto que você. Ainda mais quando a mulher que está a
poucos metros da sua cama é Gabriela Burnier. É irresistível de olhar a loira
andando pela casa com roupas curtas e insinuosas. É impossível não querer cair
na piscina e nadar junto com ela, desatar cada laço do seu minúsculo biquíni
branco...
— Entre — respondo.
— O senhor Marcos está lá embaixo, disse que tentou ligar para o seu
celular.
Droga! O Marcos ainda não podia ver a Gabi, geraria uma confusão sem
fim com direito a visita da Fernanda e interrogatório. Ainda não tínhamos
planejado nossa história oficial. Passei rápido pela funcionária e desci as
escadas correndo.
— Velho, achei que estivesse morto! — meu amigo disse assim que
cheguei a sala de estar.
— É o funcionário da manutenção.
— Imbecil!
— Alê não se ilude! Se a sua casa de praia não fosse feita para
impressionar, adeus.
— Bons tempos! Hoje o máximo que você faz é contar quantos sorrisos
consegue arrancar da Mari.
— Deprimente, deprimente...
— A situação me fez mentir. Não sou uma mentirosa nata, talvez a Tiffy
exercesse esse papel melhor.
— Será uma festa repleta de gente bonita e você não precisará ficar ao
meu lado 24 horas. — ela colocou a cabeça para fora do closet e me encarou,
antes de falar:
Maldita!
Festa! Esse era o principal motivo pelo qual eu tinha aceitado ir ao
aniversário do Alexandre. Curtir uma festa era tudo que eu precisava naquele
exato momento.
Eca!
Com exceção do olhar que percorreu todo meu corpo, nenhum elogio foi
emitido, tampouco a sua voz se fez ser ouvida. Seguimos silenciosos no seu
carro, apenas o som de uma rádio de música popular brasileira preenchia o
ambiente.
Hoje era meu dia de trabalhar na Carpe Vita, por isso enviei uma
mensagem com uma desculpa esfarrapada para o Felipe. Levantei a cabeça para
observar onde estávamos somente quando o carro estacionou.
5 — Whisky!
2 — Mais álcool!
Casa de praia era eufemismo perante a mansão que surgia a nossa frente.
O local era puro luxo e atraente. Havia uma áurea boa ali. Uma sensação de que
a noite seria boa logo me invadiu e a taça de champanhe que foi servida em
poucos minutos após nossa chegada, apenas aumentou essa sensação.
— Ei, não sorri assim para a minha mulher ou ela vai abaixar e chupar
seu pau aqui mesmo.
— Quase ninguém sabe, não saímos muito de casa, sabe como é recém-
casados. — Sorri maliciosamente.
— Vocês nos dão licença, avistamos dois conhecidos ali. — Tulio avisou e
saiu ao lado de uma Betânia de cara feia.
— Não, vou ficar por aqui e curtir um pouco mais do meu sossego. Tenho
certeza que a Betânia vai tratar de espalhar que a mulher do Alexandre está na
área.
Festa foda!
Afasto-me da pista apenas para ir até o bar solicitar outro drink. A voz de
Anitta e Maluma substituíram as batidas eletrônicas e logo comecei a rebolar a
minha bunda, dançando a coreografia original da canção. Um homem em
específico passou a me olhar de forma predatória, seus olhos azuis percorreram
todo o meu corpo, enquanto sua boca se moveu para cima exibindo um sorriso
cafajeste.
Precisei manter minha sanidade, por isso fingi que a figura bem próxima
a mim era só mais um babaca da balada. E até que era, mas o babaca em questão
era extremamente bonito. Dono olhos azuis escuros, piercing no lábio inferior,
cabelos pretos levemente bagunçados e cheiroso, um cheiro que eu adoraria ter
marcado sob a minha pele.
Foco, Gabi! Reprimi o desejo que crescia em mim. Eu dei minha palavra
ao Alexandre...
— Que bom que não sou sua esposa troféu. — Respondi e dei as costas
para ele, precisava me livrar desse homem lindo.
— Pois não.
— Obrigada.
— Carpe Vita é o nome do espaço, sou uma das sócias junto com o Felipe
Albuquerque.
— Não foi para falar de trabalho que viemos aqui, querido. — Vilma
voltou-se para o marido.
— Achei que você seria a única a não casar! — Sempre indo direto ao
assunto.
— Pela mesma lógica, eu também achava que você não. Mas veja só, até
filha já tem.
— Aê amigo, agora tem uma loira para chamar de sua — Marcos brincou
e todos sorriram.
— Não! Sua amiga está a poucos passos de nós e nada confiante na nossa
relação.
Coloquei o vestido no seu devido lugar enquanto ela falava, para que não
visse meu olhar de tédio sobre o assunto.
— Sou mãe de família, vim apenas curtir a festa, mas vou dormir em
casa. Aproveite enquanto pode, quando tiver seus filhos vai saber sobre o que
estou falando... — fiz careta — Ora, ora... se você casou não duvido de mais
nada.
O fundo da casa do Alê tinha vista para o mar, mas era preciso andar um
pouco para se chegar até a praia. Estava escuro, mas a lua cheia permitia que
fosse possível enxergar meus passos e um pouco além. O vento fazia o vestido
se colar ao meu corpo, mas eu não sentia frio, pelo contrário, o mar prometia
apaziguar o fogo que queimava dentro de mim.
Não havia ninguém nas proximidades. Pelo menos, não que eu pudesse
ver. Meus saltos afundavam na areia a cada passo, o que me fazia parecer mais
bêbada que o real. Eu os tirei e larguei na areia. Segui para o mar, atendendo ao
seu chamado. Meus pés tocaram a água fria e eu parei sentindo a temperatura.
— Ainda?
— Ainda. Você acha mesmo que estando sozinhos aqui não vamos nos
tocar?
— Exatamente, não nós dois. Eu só preciso que você diga que não está
bêbada, para que amanhã não me acuse como foi com nosso casamento.
Eu me virei para ficar de frente e beijar sua boca. Nossos lábios, línguas e
dentes trabalharam em uma preliminar deliciosa. Mas eu precisava de mais.
Precisava de tato. De pele. Levantei sua camisa para sentir os músculos
definidos sob os meus dedos, ele se livrou da peça atirando-a na areia. Minhas
unhas traçaram de leve o caminho do seu peito até o cós da calça. Toquei seu
pau sobre a roupa e o senti pulsar na minha mão. Sua boca deixou a minha para
beijar e morder o meu pescoço, enviando ondas de prazer pela minha coluna.
Senti suas mãos apertarem meus peitos ainda dentro do vestido e sutiã,
para em seguida descerem até a barra do vestido, se enfiando ali para alcançar a
minha bunda. Ele respirou fundo ao apertar com força as minhas nádegas.
Abri as pernas para lhe dar acesso ao mesmo tempo em que minha mão
voava para dentro da sua cueca. Sua ereção firme e quente me excitou ainda
mais.
— E eu quero foder você. Tantas vezes que não saberei mais onde meu
pau termina e começa sua boceta.
— Então fode! — dei dois passos para trás e deitei na areia molhada —
Mas vem rápido porque eu estou a ponto de explodir.
Ele veio. E não precisamos tirar nenhuma outra peça de roupa, ele
afastou minha calcinha e estava prestes a entrar em mim quando eu o detive.
Por pouco tempo. Ela nos desgrudou e desceu até que sua boca estivesse
na altura das minhas bolas. Esperei que sua língua quente me tocasse ali, mas
senti uma sucção que me levou a gritar. Sem pressa, Gabriela retirou o
preservativo, deu um nó e o depositou ao meu lado. O vento e a areia molhada
não eram nada perto do que a demora dela me causava.
Por causa da sucção nas bolas, esperei que ela me chupasse com força,
estava pronto para me perder naquela boca. Mais uma vez ela não fez o que eu
esperava. Apenas a ponta da sua língua tocou a minha glande, causando um
estremecimento no meu quadril. Ela riu e colocou apenas a cabeça na boca, me
chupando como se fosse um pirulito, segurando na base como a um palito. Era
como colocar apenas o pé em uma banheira quente e convidativa, me fazia
querer entrar de vez. Levantei o quadril e entrei um pouco mais. Ela apoiou as
mãos no topo das minhas coxas, me deixando imóvel. Quando menos esperei,
ela me levou ao fundo de uma só vez.
Ela fodeu meu pau com a boca. Sem hesitar, nem perder o ritmo. Me
levou fundo e saiu, várias vezes, até que senti que estava muito perto de gozar.
Ela também sentiu e apertou meu saco me fazendo jorrar em sua garganta. Ela
não parou até extrair a última gota.
Meu coração batia descompassado, pós-gozo, mas ela ainda não estava
satisfeita. Gabriela ficou de pé e rapidamente se livrou das peças que restavam.
— Espero que seu pau se recupere logo, mas tenho algumas ideias
enquanto isso — com essas palavras ela se abaixou sobre minha cabeça.
Enlouquecido de tesão, bati mais forte. Minha mão ardeu, ela gritou e eu
repeti até ela gritar meu nome.
— Alexandre!
Soltei seu cabelo e levei as duas mãos até os seus seios, que balançavam
com nosso ritmo louco. Fodemos nessa posição até cansarmos. Os joelhos dela
cederam e meu corpo desabou na areia.
— Cansou Gabi? — Perturbei. Ela rolou até ficar de barriga para cima,
em seguida abriu as pernas. — Essa é a minha esposa!
Penetrei seu corpo enquanto beijava sua boca, inicialmente devagar, mas
logo engatando nosso ritmo desenfreado. Ela puxou meu cabelo e mordeu meu
lábio, levei umas das minhas mãos até sua boceta e estimulei seu clitóris para
acelerar seu gozo. Quando seu corpo estremeceu, gozei dentro dela.
— Prefiro meu chuveiro, mas ainda preciso ver como estão as coisas na
festa.
— A sua sinceridade ainda vai me matar! — Ela riu — Mas é sério, sou o
anfitrião. Você deveria voltar comigo.
Quando entrei na mansão notei que de todas as minhas festas, essa era a
mais liberal. Agradeci aos céus por meu pai ter sido sensato e levado minha mãe
embora antes mesmo dos parabéns. Por todo lado havia gente se pegando.
Encostados na parede, sentados nas cadeiras, no chão. Na minha piscina havia
um casal transando, os peitos da mulher balançavam muito, o que só
confirmava que era uma foda embaixo d'água. Passei por todos eles até entrar
na mansão. Ali a coisa estava um pouco pior, ou melhor, a depender da visão.
Uma verdadeira orgia acontecia no meio da sala. Cerca de dez pessoas fodiam
entre o sofá e o tapete. Eu estava dividido entre a excitação e a preocupação
com a repercussão que isso pudesse ter... Mas foda-se, eram todos maiores de
idade e vacinados.
Algumas pessoas ainda dançavam e bebiam e foi a elas que me juntei até
me sentir tonto e decidir que minha cama era o melhor lugar do mundo.
— Mas que porra! — Ela se virou, seus óculos escuros não me deixaram
estudar seu olhar.
— Mas que porra, digo eu. Adoro que fique nua, mas prefiro que
aconteça quando eu estiver presente.
— Meu Deus, que caretice! Acha mesmo que ontem, enquanto todos eles
transavam em grupo a vista de todos, houve compostura?
— Até você aprender e parar de ser idiota — rebateu — O que você está
usando?
— Por que você pode mostrar seu corpo e eu não? Você é meu marido,
usando sua lógica.
— Anhan...
— Fique quieta!
— Nunca mais banque o macho-alfa para cima de mim! Não há nada que
eu odeie mais do que me obrigarem a fazer ou deixar de fazer alguma coisa.
— Me deixe sozinha.
— Gabi...
— Alexandre!
— Certo, estou indo. Podemos ir para casa hoje, se quiser.
Joguei mal.
Eu queria matá-lo. De uma forma bem cruel. Quem sabe assim ele
nasceria menos cretino em outra encarnação. Eu faria um favor a humanidade.
Quando ele saiu do quarto meu corpo ainda tremia de fúria. Eu estava irada por
ter permitido que o Alexandre protagonizasse a cena de marido ciumento. Não
que ele tenha me dado muita alternativa, eu tentei de todas as formas me soltar
dos seus braços, mas o imbecil era forte como um touro e não me soltou nem
mesmo quando cravei minhas unhas no seu dorso. Mas isso teria troco. Ah se
teria! E seria um troco digno de Gabriela Burnier, Alexandre que me aguardasse.
— Não pensei que fosse sair tão cedo do quarto... — ele começou.
Sabe quando você acha que seu dia está tão ruim que não pode mais
piorar? Pois tenha certeza que ele vai piorar em níveis astronômicos. Feito uma
aberração Bruna Moura, surgiu em minha frente. Mas essa aberração sorria
abertamente e me encarava num claro desafio: Use suas melhores armas!
— Só por que não me viu, não significa que eu não estivesse aqui —
Bruna rebateu.
— Você apreciou e degustou de todo o meu show não foi, amor? — fitei
longamente Alexandre.
— Eu discordo! Olha a loira gostosa que nosso amigo casou, com todo
respeito brother, mas com uma mulher como essa eu não sairia da cama. E
estaria completamente saciado. — Kauan disse fitando todo o meu corpo.
— Tem certeza que quer falar sobre ela agora? — Parei e nossos corpos
quase se chocaram.
— Não! Dessa vez meu convite é só para sua linda mulher — joguei!
Felipe permaneceu em silêncio por alguns segundos e depois soltou:
— Ah se gosto... Mas não foi para falar dos meus gostos que me ligou seis
vezes.
Ele abriu a boca e a fechou diversas vezes e por fim optou pelo silêncio.
Entendi como um "sim" e subi para arrumar as minhas coisas.
Porra! Eu não queria envolver meus pais nisso. Muito menos apresentá-
los ao Alexandre, todavia ou eu enfrentava logo a situação ou a minha mãe
apareceria aqui com suas duas Yorkshire Terrier a tiracolo. Enviei, em
particular para ela, uma breve mensagem:
A mesa estava farta, com certeza a intenção era agradar o meu paladar,
optei por uma salada de rúcula com frango grelhado e suco para acompanhar.
— Não vai beber o vinho? — indagou diante da minha escolha.
— Então faça sua parte que eu farei a minha! Temos um acordo e eu não
costumo quebrar promessas.
Eu queria matá-lo.
Um banho frio! Era o que eu precisava para manter o controle e não
seguir Gabriela até a Carpe Vita. E foi exatamente em busca dele que eu segui.
Subi rapidamente as escadas e obriguei as minhas pernas a caminharem
firmemente em direção ao banheiro. Rapidamente livrei-me das peças de roupa
e deixei que o jato gelado acalmasse todo o meu corpo.
Mas a minha mente não desacelerou. Uma parte minha queria ter
obrigado Gabriela a ficar em casa. Na minha cama, de preferência. A outra,
sensata, alertava que era preciso ceder para avançar. Se eu continuasse batendo
na tecla de marido ciumento ela sairia pela porta e não retornaria mais. Por que
ela tinha que ser tão teimosa? Tanto quanto é gostosa, para o meu desespero.
Muitos minutos depois, saí do banho enrolado numa toalha preta. Joguei
pela cabeça uma camisa branca e vesti uma cueca da mesma cor. Ainda no meu
quarto vagueei pelos canais de TV e não encontrei nada que prendesse a minha
atenção. Meu telefone estava num marasmo só. Amigos na noitada, e as
mulheres meio que estavam me evitando desde que anunciei o meu casamento.
Com exceção de uma: Bruna. A mesma já me enviou mensagens convidando-me
para curtir a noite com ela e as amigas. Mas, o que eu menos preciso é irritar
ainda mais a Gabriela. Por isso recuso o convite. Mas calma, é uma recusa
momentânea.
— Ai... Isso... Bem aí... Que delícia... — a voz rouca de Gabriela ecoava
pelo corredor. Mas que porra é essa? Contive a fúria e abri a porta
vagarosamente, encontrei Gabriela deitada de bruços sobre a cama, apenas com
uma toalha sobre a sua bunda e um homem debruçado sobre ela tocando seu
corpo.
— Até mais! — despediu-se e antes de passar por mim desejou bom dia.
— Bom dia Gabriela! — uma voz muito animada para as oito da manhã
interrompeu nossa troca de olhares. Voltei a atenção para o dono da voz. Uma
figura masculina morena, alta, musculosa, exibindo um sorriso de comercial de
creme dental, donos de olhos de lince que estavam direcionados para a minha
esposa.
— Alê, você salvou o meu dia. Agradeça a Gabriela por mim... — passou
as bolsas e brinquedos para os meus braços.
— Está tudo aqui — apontou para uma lista que mais parecia um
cronograma — Filhota, a mamãe vem te buscar mais tarde. — Beijou a filha e
saiu apressado em direção a saída.
Ficamos apenas eu e Mariana ali no meio da sala. Ela olhou para mim
com uma curiosidade infantil e disparou:
Eu não tinha nada contra crianças. Mas, também não estava acostumado
a me relacionar com elas. Pouquíssimos amigos meus tinham filhos e os que
tinham não frequentavam a minha casa e vice-versa. Portanto, ter uma mini
versão da Fernanda e do Marcos ali segurando a minha mão e me encarando,
causava-me certo pavor. Por isso, segui o mais rápido que as suas perninhas
curtas permitiram ao encontro de Gabi
— Que linda você está com essa roupa de... — Gabriela hesitou antes de
continuar. E só agora olhei para a roupa que a menina usava. Uma blusa rosa
combinava com uma saia da mesma cor e meia calça branca, nos pés uma bota
curta de couro cheia de franjas. Toda essa combinação ficaria ridícula em
qualquer pessoa, mas nela não. Era bonito de ver. Mas posso apostar que tudo
isso era coisa do Marcos, a Fernanda não deixaria a filha sair assim.
— Já comi, obrigada.
— Como assim?
— Tinha, eu desmarquei!
— Tive uma longa conversa com a sua mãe ontem à noite e conversa vai,
conversa vem. Acabei contando sobre o dilema do Marcos e da Fernanda com a
filha. Reunião de emergência e babás de folga, para completar a Mari teve febre
no dia anterior e por isso eles evitaram a escola... — Gabriela continuou
contando detalhes que envolviam diarreia, coriza, espirros, febre...
— Tia Gabi, você acha que minha mamãe vai ficar zangada se eu comer
dois pedaços do bolo?
— Hum... Ela não precisa saber! Então não ficará zangada — sorriu para
a menina que concordou com cabeça.
— Tio tem pra você também, não precisa fazer cara feia...
O que ela tem contra os loiros? Esse era o segundo moreno que eu via
hoje. Antes que eu pudesse ir falar com ela para tentar impedir que me largasse
ali, a Mariana puxou conversa sobre bailarinas e botas.
Naquela noite saí pisando firme da casa do Alexandre. Filho da puta! Um
desprezível filho da puta, era isso que ele era. Enquanto eu dirigia a caminho
da Carpe Vita pensava em mil e duzentas formas de fazer Alexandre rastejar aos
meus pés. Uma delas era abstinência do meu corpo. Alexandre não desfrutaria
mais do meu delicioso corpo, nada de toques, beijos e principalmente nada de
sexo! Apesar de já imaginar o maldito sorriso convencido que o idiota me
mostraria, dizendo que essa minha resolução não duraria muito. Ele sabia o
quanto eu era carnal, mas isso era apenas questão de ótica, bastava desviar meu
tesão para outra pessoa. Um homem gostoso, barba por fazer, com pegada, que
beije deliciosamente bem... e moreno, definitivamente ele terá que ser moreno.
Sorri, aumentando o som do carro, juntando-me a Anitta, cantando alto até
chegar a boate.
Assim que pisei na Carpe Vita uma injeção de bem-estar percorreu o meu
corpo. Como eu sentia falta desse lugar, repleto de pessoas bonitas e animadas.
Vir todos os dias aqui durante essa semana será muito mais que objeto de
tortura para o Alexandre, será a minha liberdade condicional por algumas
horas. Consultarei a agenda da semana para aproveitar muito bem as minhas
noites aqui, afinal unir o útil ao agradável não é pecado... E se for, eu adoro
pecar!
Depois que a boate abriu, dei uma circulada, cumprimentei pessoas e dei
uma paradinha no bar. Diverti-me com a implicância da Eli e do Dhi, além de
experimentar as mais novas criações do barman, um drink mais saboroso que
outro. Depois, circulei mais uma vez pelo ambiente, para cumprimentar os
convidados VIPs, e segui para a minha sala.
Quanto ao corpo, não duvidava que o cara fosse competente para ajudar
a me tornar ainda mais gostosa, se é que era possível. Já a mente... Estava
inundada de sensações que poderiam facilmente me levar a loucura. Era
impossível não observar aqueles bíceps musculosos esticando-se na minha
frente, e estávamos apenas no alongamento. Mas aqueles braços não podiam ser
mais alongados.... O quanto aquelas mãos eram ágeis? E que pernas eram
aquelas? O homem tinha coxas torneadas e bronzeadas, evidentes numa
bermuda tactel bege. Bege acabou de se tornar a minha cor favorita.
— Hum...?!
Nossa aula durou pouco mais de uma hora. Ao fim, depois do último
exercício, me desequilibrei segurando no Daniel.
— Uma parte minha quer dizer que sim, acabou. Mas a outra quer um
exercício extra — confessei, por fim — Depende de você para que eu tome a
decisão. — Ele não se moveu, por isso tomei a iniciativa.
Retornei para casa excitada, agradecendo aos céus por Mariana estar lá
ou eu me atiraria no Alexandre assim que o visse. Falando na pequena, ela e o
tio provavelmente estavam se divertindo, escutei o som das risadas dos dois
vindo do escritório. Sigo para meu quarto para tomar um banho gelado.
— Lógico que não vai! Sei como vocês mulheres preocupam-se com o
corpo e se começou a fazer exercícios é porque alguém aí não está legal —
percorreu o meu corpo com o olhar.
— Sou seu marido, tenho todo o direito de querer o seu bem. Posso
garantir que a berinjela está tão saborosa quanto a lasanha.
— Idiota! — rosnei.
— Amor, você precisa ter bons modos! Temos visita hoje — apontou
para uma Marina concentrada no seu prato.
— Amor é o cara...
— Que delícia!
— Sim!
— Claro né tio, eu sou filha dos meus pais. — disse impaciente como se
fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Hã... — tentei formular uma resposta, mas Alexandre foi mais rápido.
— Tio, por que você ficou com raiva quando a tia saiu com o moço?
— Por que o tio queria que a Gabriela ficasse junto dele o resto do dia —
ele respondeu me encarando. Sei!
— Por que?
— Eu quero que sejam duas meninas! Para a gente brincar e correr pela
casa toda — disse animada.
Uma grossa camada de base foi aplicada em todo o rosto dele, confesso
que foi engraçado ver a Mari lutar contra os pelos no rosto do tio. Em seguida,
pinceladas de pó foram espalhadas. Mariana fazia tudo isso concentrada e
reclamava quando ele se mexia. Traços grossos e longos foram desenhados nas
suas pálpebras, acredito que a intenção era delinear para deixar "olhinho de
gato", mas a realidade eram duas marcas grossas e pretas que davam a
impressão que ele levou um soco em cada olho.
— Gostou, tio?
— Adoraria — sorriu.
Um enorme sorriso surgiu nos seus lábios e ela começou a me falar das
suas aventuras com o seu babaca-love.
Como as mulheres retiram a maquiagem?
Puta que pariu o quanto é difícil retirar essas camadas preta dos olhos,
quanto mais esfrego, pior fica. Joguei mais uma vez água por todo o rosto e
esfreguei usando as duas mãos.
— Por mais que a Mari seja apaixonante, nunca mais vou permitir que
ela me faça de boneca — um sorriso involuntário surgiu nos meus lábios.
— Tio é sacanagem!
Beijei lentamente toda a extensão do seu braço até chegar a sua mão.
Ergui os olhos e encontrei os seus fitando-me em expectativa. Foi o aval que eu
precisava para continuar com as minhas carícias, guiei a sua mão que estava no
meu peito ao meu pescoço e instintivamente a outra mão enlaçou o meu
pescoço.
— Eu não vou para cama com você — falou ofegante enquanto minha
boca percorria o seu colo.
— O banheiro é suficiente.
— Só por hoje, Gabi — ergui o rosto para buscar a confirmação que meu
corpo tanto pedia.
— Alê... — interrompi sua fala e colei minha boca na sua. Quando nossos
lábios se tocaram uma chama incendiou todo o meu corpo. Nossas línguas
buscavam uma a outra de forma sedenta. O beijo era a representação da nossa
sintonia: Quente, molhado e ardente. Beijar Gabriela tinha um efeito
paralisante, nesse exato momento uma bomba atômica poderia atingir o Brasil
e eu não perceberia. Gabriela enlaçou as pernas na minha cintura e aproveitei a
sua entrega para conduzi-la para o meu quarto sem descolar nossas bocas.
— Caralho! — uma voz grossa fez com que Gabriela interrompesse nosso
beijo.
— Que merda você faz aqui? — indaguei com a Gabriela ainda no meu
colo.
— Minha filha e minha esposa estão na sua casa, caso você tenha
esquecido — rebateu.
— Tava procurando você para jantar, com o meu papai. Não achamos no
quarto, só podia tá no quarto dos bebês.
— Sim, senhora! — Gabriela sorriu — Será que rola uma carona até a
Carpe Vita?
— Não se preocupe, a gente deixa sua esposa sã e salva. Mais uma vez
obrigado, Alê — Marcos entrou no carro acompanhado da Fernanda e Gabi que
seguia os passos da amiga, parou no meio do caminho e voltou-se para mim.
— Até mais, amor — falou apenas para satisfazer uma Fernanda que
acompanhava toda a cena.
— A gente pode fazer bem melhor que isso — puxei-a para um beijo
cheio de paixão. Ela retribuiu de imediato, suas mãos percorrendo os meus
cabelos. Precisei de todo o meu autocontrole para interromper nossos beijos e
quando o fiz encontrei seus olhos sedentos por mais — Você vai precisar
retocar o batom — apontei para a mancha vermelha ao redor da sua boca.
Dizem que para cada ação existe uma reação. E Gabriela conhecia
exatamente essa lei da física e sabia, como poucas mulheres, aplicá-la. Assim,
no dia seguinte quando eu acordei e desci para jantar encontrei ela e o seu
personal tomando café sorridentes e cheios de papos paralelos. Minha presença
fora completamente ignorada. O mesmo comportamento ocorreu pelos
próximos dois dias, eu descia para tomar café e a encontrava sorridente e cheia
de conversa com o tal Dan. Minha cara feia não foi o suficiente para que eles
permanecessem mudos enquanto tomavam café, pelo contrário, a maldita
insinuava-se ainda mais para o moreno a sua frente.
A gota d'água foi quando numa determinada manhã minha sala fora
transformada em academia. Gabriela estava posicionada de quatro e o seu
maldito personal estava atrás dela auxiliando o exercício.
— Nunca mais jogue na minha cara que a porra da casa é sua — rosnou.
— Desculpa...
— Por que é a mais pura verdade! Você acha mesmo que eu abriria mão
da minha vida se não fosse por pena de você?
— Eu já te agradeci...
— E poderá fazer isso a vida inteira e ainda assim não será suficiente.
— Não acabei de confessar que te amo para você agir assim — encontrei
os seus olhos arregalados — Eu apenas me sinto atraído por você e não gosto
de ver aquele homem ao seu lado.
— Tudo isso é para você entender que mesmo que eu seja a droga da sua
esposa de mentirinha eu continuo livre para fazer o que eu quiser, onde e
quando quiser. Não consegue lidar com isso? Liga para o meu advogado e acerta
os detalhes do divórcio. Até lá você terá que controlar esse seu ímpeto se quiser
manter a sua farsa! — Gabriela me lançou um olhar gélido, daqueles que não
permitem contra-argumentos e afastou-se pisando firme em direção a escada,
quando estava no topo parou e informou — Você tem até o próximo fim de
semana para encontrar outra casa para morarmos, não quero ficar mais na sua
casa!
Aquele filho da puta a tocava como se ela fosse dele. E o pior na minha
casa! A simples lembrança dessa cena fazia meu maxilar retesar...
Maldição.
Uma enxaqueca chata me atingiu desde que abri os olhos. Inicialmente,
era só aquele incomodo leve, que não fazia você querer tomar um comprimido,
mas também não te deixava em paz. Por isso, levantei para tomar café da manhã
mesmo assim. Era quinta-feira e eu não tinha aula com o personal hoje, graças a
Deus. Não que eu não quisesse vê-lo, depois de ter certeza que o Alexandre
havia se incomodado tanto quanto eu gostaria, gostei ainda mais do Dan. Mas a
luta entre meu cérebro e meu corpo me deixaria mais exausta do que
quinhentos abdominais.
— Bom dia.
— Ela estava menor antes de olhar para você. Me deixe comer e voltar
para a cama.
Não respondi. Ele não insistiu, voltando a atenção para o seu prato. A
mesa estava repleta de frutas, pães, sucos e café. Eu adoraria ser daquelas
pessoas que com uma xícara de café fazem a dor de cabeça ir embora. Mas eu já
imaginava o que estava por vir... Além disso, não via graça no líquido preto e
quente. Servi-me de salada de frutas e concentrei meus movimentos em levar a
colher a boca e mastigar.
Não sei em que momento ele chegou exatamente, mas a sua voz me
atingiu em cheio, fazendo meu coração disparar. Foi apenas de susto.
— Estudos comprovam que ver homens, que não sejam o seu marido,
quase sem roupa aumentam a dor de cabeça.
— Beba! — ordenou.
— Você descobriu meu segredo — ele sorriu — fui até o escritório, mas
só pensava em você — arqueei uma das minhas sobrancelhas — eu me
preocupo, sou um bom marido.
Bufei.
— Beba o chá todo, a tarde você tomará outra xícara. Você sente dores
de cabeça com frequência ou tomou um porre?
Era oficial!
Filho da puta!
— Tem mais!? Não me diz que terei que andar com uma tornozeleira
eletrônica também?
— Longe disso, faço votos de que perdure por muitos anos. Mas, se isso
acontecer a senhora receberá uma indenização num montante de quinhentos
mil reais, referente a cada ano.
— Eu o quê? — gritei.
— Nada! — Os poucos cacos de vidro que tocam o meu corpo não são
insuficientes para provocar qualquer ferimento na minha pele.
— Claro! Vou entrar no carro e logo em seguida ele saberá para onde eu
fui — ironizei.
— Não, mas se você anunciar meu nome tenho certeza que a minha
entrada será liberada. — Informei, já impaciente.
— Você não tinha como saber — sorri para aliviar a sua consciência —
Agora o crachá por favor — apontei para o seu monitor e em poucos segundos o
crachá de visitante estava no meu peito e a entrada fora liberada. Um rapaz
muito jovem guiou-me até a sala do Alexandre e mais uma vez uma secretária
bloqueou a minha passagem.
— Vim falar com o Alexandre, sou a esposa dele. — usei mais uma vez as
palavras que pareciam abrir portas nesse lugar.
— Não posso ter mais as curvas de outrora, mas sou muito eficiente —
sorriu abertamente.
— Agora pela manhã sua agenda é externa. Mas a tarde ele estará de
volta, eu posso avisar que esteve à sua procura.
Será que os seus pais estavam, ou, o próprio Alexandre estaria doente?
Curiosa, comecei a buscar respostas para as minhas perguntas e eu precisei
sentar na cadeira para não desabar.
"A fim de gozar dos bens dos seus progenitores o beneficiário Alexandre
Fragoso Maia precisará atender aos seguintes requisitos:
CARALHO!
Game over!
No escritório eu não conseguia me concentrar nas minhas atividades.
Minha cabeça estava longe, mais precisamente em Gabriela. Quando propus o
casamento a ela tinha certeza que havia feito a escolha certa. Gabriela não
buscava um marido, portanto não me cobraria nada. Além disso, tinha meu
corpo como moeda de troca. Éramos perfeitos na cama, Gabriela sabia como
poucas mulheres satisfazer um homem e buscar sua própria satisfação quando
e como quisesse. Só que durante nosso tempo de casados fodemos apenas uma
única vez. No dia do meu aniversário e isso já faz mais de um mês.
— Não sei o que aconteceu com o senhor hoje, mas seja lá o que tenha
ocorrido, eu não sou paga para ouvir os seus desaforos — devolveu no mesmo
tom.
— Mande entrar!
— Melhora essa cara ou a cliente vai fugir — piscou para mim e saiu.
Ela tinha razão, mesmo que eu não estivesse no clima para receber ninguém,
esse era o tipo de cliente que deixava muito dinheiro no nosso escritório.
— Imaginei que você fosse do tipo que teria uma secretária gostosa —
lançou quando a porta foi fechada.
— Não abri vaga de secretária, Bruna. O que você veio fazer aqui? —
Despejei de uma vez. A garota era uma excelente foda, mas cheirava a problema.
— Você veio ao lugar acerto — sorri pela primeira vez naquele dia.
Diante da crise imobiliária qualquer cliente deveria ser tratado como
único e Bruna Moura, filha de político, estava na lista de melhores clientes. Com
certeza o deputado estaria disposto a gastar muito com a filha e o corretor
envolvido no negócio lucraria um excelente percentual, assim como a empresa.
— Não foi isso que o seu pai garantiu ao meu — sentenciou — A escolha
pelo seu escritório dentre inúmeros foi justamente por ser o próprio dono a
dedicar total atenção para encontrar um lugar que seja o meu novo lar.
— É um excelente começo.
— Eu quero ter certeza que conhecerei cada espaço do meu novo lar e
você certamente me ajudará com isso. — Aproximou-se de onde eu estava e
deslizou a mão pela minha camisa enquanto sua boca tocava o meu pescoço.
— O seu celular está desligado? Passei o dia todo ligando para você.
Caralho!
Os papeis abaixo da aliança fizeram meu corpo gelar. Minha esposa havia
encontrado o documento e descoberto sobre o filho que eu precisaria ter.
Soltei o ar com força quando pisei do lado de fora do prédio. O céu estava
azul e o sol aqueceu meu corpo gelado. Passei as mãos pelos cabelos e comecei a
sorrir quando uma forte rajada de vento bagunçou os meus fios dourados. Eu
estava livre dessa mentira!
O trajeto para o lugar mais longe do Alexandre foi preenchido por uma
ligação longa e burocrática, no viva-voz, a respeito de uma audiência que
aconteceria no dia seguinte. Muitos minutos depois a ligação foi encerrada e o
moreno voltou à atenção para mim:
— Com isso você quer dizer que gosta da nossa capacidade de usar as
palavras como armas? — indagou arqueando a sobrancelha.
— Foi por isso que entrou no meu carro? — seus olhos escuros
encararam os meus por longos segundos — Está precisando dos meus serviços
para sair de maus lençóis? — o canto esquerdo da sua boca ergueu-se no fim da
frase.
— Estou e você sabe muito bem disso — afastou as minhas mãos com
relutância.
— Gabriela, você sabe muito bem quem eu sou... — Levei meu dedo
indicador até a sua boca, interrompendo sua fala.
— Nunca foi tão difícil fazer o certo... — o ar saia com dificuldade dos
seus pulmões.
— Sem dúvida nós vamos — toquei a coxa do homem ao meu lado que
apenas assentiu em silêncio.
— Terrivelmente gostosa, você quis dizer né? — ele sorriu com as mãos
firmes no volante — Agora acelera esse carro que eu quero te mostrar quão
terrível posso ser.
Não precisei falar duas vezes para que ele seguisse no limite da via até
pararmos no primeiro motel que encontramos. Sorri quando ele não se ateve a
escolha do quarto. Ele poderia muito bem escolher a suíte para me
impressionar, mas estava sendo movido pela excitação e eu sabia muito que
nesse momento somente a verdade prevalecia.
Ele deixou a chave na ignição e correu até minha a porta para abri-la,
como um perfeito cavalheiro, só que com bastante pressa.
— Que péssimo momento para dizer que não sabe o nome do seu
parceiro de motel — sorriu alto — Rafael — sussurrou o seu nome no meu
ouvido.
Abri as pernas e sentei no seu colo descendo de uma única vez até senti-
lo ao fundo. Encaixados, movemo-nos em sincronia. A sua boca cumpriu as suas
promessas e dedicou atenção aos meus seios, saboreando-os e sugando-os no
toque ideal. Subi e desci movida por uma sensação de bem-estar que há muito
tempo eu não sentia.
Gozei mais uma vez naquele quarto gritando alto, o Rafael se liberou logo
em seguida e caímos exaustos na cama vendo a nossa imagem ofegante no
espelho do teto. Ao ver minha tatuagem refletida, percebi que era disso que eu
sentia tanta falta: viver o Aqui e Agora! Sem pensar nas consequências.
Ele ainda tinha uma reunião de trabalho, por isso eram quase cinco
horas da tarde quando ele pagou a conta do motel. Saímos em carros separados,
por mais que o Rafael houvesse insistindo em me levar para casa, eu preferi que
ele chamasse um táxi. Primeiro por que eu não voltaria para a casa do
Alexandre e por ora não queria que ele soubesse disso. Segundo porque eu
ainda não sabia quais seriam os meus próximos passos, mas nutria uma única
certeza: eu aproveitaria a minha liberdade.
E foi com essa sensação fervilhando em meu corpo que decidi ir para o
aeroporto e comprar passagem no primeiro vôo para São Paulo. Desembarquei
quarenta minutos depois, peguei outro táxi e segui para um hotel. Eu não
arriscaria ir para meu apartamento e dar de cara com o Alexandre esperando-
me lá, ou no dia seguinte, seria fácil demais para ele me achar. Por isso, segui
para o Jardim Europa e solicitei a suíte presidencial. O gerente, um homem de
meia idade, recebeu-me com um enorme sorriso quando meu nome foi
anunciado na recepção.
Depois de relaxar por alguns minutos, lembrei que tinha quebrado meu
celular e não tinha viajado com mala, estava apenas com a roupa do corpo que,
aliás, estava no chão do banheiro. Disquei o ramal da recepção e solicitei que
providenciassem roupas, sapatos, jóias e um Iphone, indiquei algumas lojas
para que eles contatassem e levassem até a suíte. Cerca de quarenta minutos
depois o quarto foi invadido por funcionários trazendo com eles araras e mais
araras de roupas, além de uma maleta repleta de brincos, anéis, gargantilhas e
tornozeleiras.
Por fim, para hoje optei pelo vestido de paetê preto, um modelo com
mangas ¾ e um decote profundo nas costas. Amassei os fios de cabelos
deixando-os com um ar levemente bagunçado e passei o batom vermelho
sangue nos lábios. Gostosa! Digo para mim mesma em frente ao espelho e sigo
sorridente em busca de diversão.
— Com certeza, mas vou ao banheiro antes e então serei toda sua! —
pisquei antes de me sair rebolando.
— Eu ainda não te perdoei por ter furado comigo em Vegas, sua vaca! —
A abracei sorrindo.
— Essa alcunha foi apagada depois que ele brochou numa orgia! —
revelou sorrindo.
— Foi uma noite atípica Gabi, você me conhece muito bem. Aliás, a sua
quadrilha de amigas me conhece muito bem — abriu um sorriso malicioso.
— A sua cobertura está livre esse fim de semana? — indaguei com uma
ideia já criando forma na minha mente.
— What? Não tem nem três meses que você casou! — Mel indagou
sorrindo.
— Opa, vamos comemorar... Quero acabar com essa fama aí que a Mel
contou, vou foder as duas hoje, topam?
A vida para mim era mais do que um diploma ou uma profissão. Ela era
uma experiência efêmera, não sabemos quanto tempo temos aqui e por isso
devemos aproveitar cada momento da melhor forma que nos agradar.
Mas Gabi isso significa que podemos sair por aí fazendo o que der na
telha? SIM! Mas com algumas ressalvas: ficar longe de assassinatos, estupros,
tráfico de pessoas, chacinas, assaltos, desvio de verba da merenda e de
hospital... Todos esses crimes brutais e hediondos. E não é só para não ver o sol
nascer quadrado não, é uma questão de humanidade mesmo. Há certos limites
que o ser humano não deveria sequer cogitar, quem dirá ultrapassar. Desvio de
verbas de hospitais enquanto muita gente morre na fila do SUS? É de foder, no
péssimo sentido da palavra!
Hi, girls!
Oi gata ;)
Lú respondeu animada.
Terminamos!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk #LuVadia
A doce Fê enviou.
kkkkkkkkkkkkkkkk
Sol repreendeu.
Vai lá, Fê!
Lú incentivou.
Mulherzinha?
Eu ia dizer serena!
Sol enviou.
Que serenidade o quê Sol, eu ando ainda mais ligada no 220 volts e
pronta para socar quem ferir as minhas amigas. Devo chutá-lo no saco
@Gabi?
Oi?
Sol enviou.
ADORO! Kkkkkkkkkk
Sua vadia, por que você só me diz isso hoje? Tenho uma reunião a
noite com um cliente americano e não posso desmarcar, ele veio ao Brasil
somente para isso ;( ;( ;(
Sol repreendeu.
Fernanda!!!
Se eu bem lembro, você falou que ele sabia usar a língua como
ninguém...
A língua pode continuar ágil, mas se o pau não subir. Não adianta
muita coisa não...
Fê retrucou.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Sol constatou.
Sequei as lágrimas que rolavam no meu rosto, fruto das minhas risadas
histéricas.
Eu não vou largar o Marcos no dia que ele falhar, pelo contrário vou
é ficar ainda mais satisfeita quando ele estiver sob o efeito da azulzinha.
Por que se o homem já consegue me deixar ardida em dias comuns,
imagina com um pau com o dobro da pilha.
Sol enviou inúmeros emoji com carinhas de surpresa. Lú, não ficou
apenas nos emoji:
Sol se despediu.
Fernanda perturbou.
kkkkkkkkkkkkkkkk #Morta
Lu respondeu.
Lú insistiu.
O Emerson já?
Então...
Idiotas kkkkkkkkk Duas vezes nesses anos todos, mas não foi que
ele não compareceu, o pau é que ficou meio...
Meia bomba!
Completei.
Fê enviou.
Não coloque a culpa em nós se o pau do seu marido não fica ereto
Fê, mandou!
Não é assim não! Meu marido comparece sempre, mas houve uma
vez que estávamos bêbados e ele não conseguiu. Vocês sabem...
kkkkkkkkkkkkk
Acusei.
Preciso ir. Estou indo almoçar com meu marido, de pau sempre
duro, e minha filhota.
Fê, perturbou.
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
IMBECIL! kkkkkkkk
Fê, não comenta nada com o Marcos da minha despedida, por favor.
Se está com medo do Alexandre ir até aí. É por que ainda sente
algo...
Ah Sinto! RAIVA!
kkkkkkkkkkkk Tudo bem então. Ele jamais saberá!
Obrigada ;)
Te amo ❤
No problema Lu =)
— Tenho certeza que estarão mais dispostos a tirar a sua roupa do que
a te propor casamento. Viro a cabeça para identificar o dono da voz e encontro o
Kauan, amigo do Alexandre, comendo-me com os olhos.
Com apenas uma das mãos livres, ele enlaçou a minha cintura enquanto
eu assaltava a sua boca. Quando nos desgrudamos, notei o Kauan sorrindo, com
o celular nas mãos. Com toda certeza, meu ex-marido saberia, em poucos
minutos, que seu plano para enganar os pais estava consolidadamente
fracassado.
O primeiro minuto e os demais que sucederam desde que vi a aliança
posta na mesa provocaram-me um temor. Gabriela, a minha melhor chance para
cumprir esse maldito testamento, havia ido embora sem ao menos dizer adeus.
Eu até posso não conhecer muito bem a Gabriela, mas se tem algo que eu
julgo conhecer bem são as mulheres, essas não saem em retirada quando estão
com a razão. Pelo contrário, elas ficam para iniciar uma guerra e se eu não havia
encontrado a Gabriela era um bom sinal. Significava que ela voltaria para jogar
na minha cara toda a sua fúria. E aí eu esperava virar o jogo e convencê-la a ficar
mais uma vez, eu já tinha conseguido isso outras vezes. Para isso, eu precisaria
ser franco e contar a ela tudo, ou quase tudo, e isso incluía a Bruna. Sei que
parece algo arriscado, mas era a minha única chance. Dizer a verdade faria ela
confiar em mim novamente.
— Ela parecia em choque quando me viu e se afastou sem olhar para trás
ignorando o meu chamado. Corri atrás dela, mas nada.
— Assis, seja objetivo: ela saiu dirigindo seu carro ou entrou em algum
táxi?
— E você não foi atrás? Não cogitou a ideia de seguir a porra do carro?
Duvidava que eu sequer dormisse com tudo que havia acontecido, mas
acenei a cabeça em concordância.
Gabriela não me atendeu naquela noite e nem no dia seguinte. Já era fim
de tarde e a porra do seu telefone só dava caixa postal e ninguém sabia onde ela
estava. Tentei descobrir por intermédio do Marcos, afinal ela e Fernanda são
inseparáveis. Mas nada... Segundo meu amigo a Fernanda não só não sabia
onde Gabi estava como também estranhou o fato de não termos comparecido ao
jantar na sua casa. Eu havia esquecido completamente do jantar e pelo visto eu
não fui o único, já que Gabriela sequer ligou para a amiga para informar que não
iria. Contei ao Marcos que tivemos um pequeno desentendimento e que ela
havia saído de casa. Meu amigo sorriu e disse que sexo de reconciliação "é o que
há!", mal sabe ele que nem sexo comum temos. Pedi que me mantivesse
informado sobre qualquer aparição de Gabi e desliguei a ligação antes de discar
mais uma vez para Gabriela:
Oi, aqui é a Gabi! Deixe seu recado e decidirei se ligo ou não de volta
para você! Beijo
Eu já tinha escutado essa mensagem por tantas vezes que poderia jurar
que ela era uma (in) direta para mim.
— O senhor tem certeza que ela não esteve aqui? Será que ela não fez
check-in com um nome falso?
— Sua esposa não está aqui senhor Fragoso, posso te garantir que é
impossível ela ter passado por aqui e eu não ter notado.
— Essa mulher não deu entrada aqui, senhor — disse num tom firme
que não deixava margens para dúvida.
Oi, aqui é a Gabi! Deixe seu recado e decidirei se ligo ou não de volta
para você! Beijo
✔ Casa da Fernanda
Já tinha ligado para o Marcos, ainda assim apareci sem avisar hoje pela
manhã e não havia nenhum sinal da Gabriela por ali. Mari era uma boa fonte de
informação.
✔ Carpe Vita
Gabriela e o cara que eu vou quebrar cada osso do maldito rosto, para
que ele nunca esqueça que não deve tocar no que não lhe pertence.
Gabriela...
— Senhor, o carro não pode ficar aqui — apontou para a placa que
indicava: proibido estacionar e parar — Por favor, queira retirar o veículo ou
ele será guinchado.
— Eu preciso falar com ela... — tentei apelar para o homem, mas ele
sorriu mais uma vez e eu decidi mudar a tática — Gabriela, eu não vou embora
sem falar com você! — gritei.
— Dá para não gritar? — levou a mão a cabeça — Estou com uma puta
ressaca... Mas, a festa valeu a pena — abriu um enorme sorriso.
Perdi meu tempo ouvindo a dica do imbecil. Afinal, essa pista eu já tinha.
Merda!
Saí da casa do Felipe, sim existem dois Felipes na vida da Gabriela, uma
piada de extremo mau gosto, e segui até o seu endereço fixo. Um condomínio de
luxo na capital paulista. Mas não consegui passar da portaria, o segurança não
liberou a minha entrada mesmo após eu praticamente esfregar na cara do
sujeito a minha certidão de casamento. A nossa conversa, leia-se a minha
insistência em entrar no condomínio, dificultava a entrada dos carros na
portaria, o carro que me transportava estava parado na entrada, para livrar-se
de mim o quanto antes o segurança interfonou para o apartamento da Gabriela
e a sua funcionária, a mesma que me atendeu da outra vez, repetiu que a sua
patroa não havia aparecido ali nos últimos meses.
✔ Endereço da despedida
✔ Apartamento
✔ Família (Mãe/Pai)
— Desculpa, estava falando com o motorista. Vim até São Paulo para
encontrá-la... Enfim, eu nem sei como te agradecer — sorri pela primeira vez
desde que Gabriela sumiu da minha vida.
— Por favor, Gabriela — pedi no mesmo tom sereno que dei início a
nossa conversa. E suas pernas começaram a me chutar com força — Você me
deixa sem alternativas — empurrei seu corpo contra a cama ao lado, ela caiu
batendo as costas no colchão, antes que ela pudesse se erguer pressionei meu
corpo contra o seu, imobilizando-a.
— Me desculpar.
— Posso imaginar, eu era a sua galinha dos ovos de ouro — seus lábios
se ergueram, mas o sorriso não veio.
— Não, você não merece nem estar aqui olhando na minha cara. Você
mentiu para mim a respeito de um filho! Quando pretendia me contar? Ah! Já
sei, pretendia me dopar para me engravidar? — suas pupilas dilataram e sua
voz falhou — Responde, porra! — gritou.
— Eu não sou esse tipo de homem e você sabe muito bem disso —
disparei — Eu estava tão bêbado quanto você e naquele momento eu só
consegui pensar que a mulher ideal estava me dizendo sim.... No dia seguinte
quando você acordou e exigiu a separação eu fui franco em cada palavra que te
disse, eu precisava de você, você era a única pessoa que eu confiava.
— Gabi...
— Eu nunca permiti que ela falasse de você na minha frente. Por que
você é importante para mim e eu não deixaria que ninguém zombasse de você.
— A sua indireta foi recebida com sucesso, mas estou disposto a ignorar
tudo.
Ela não deixou que eu concluísse o meu pensamento pois uma crise de
riso reverberou por todo o seu corpo e o som da sua risada ecoou pelo quarto.
Seu corpo se contraía na medida em que ela gargalhava e lágrimas escaparam
mais uma vez, mas dessa vez do tanto que ela riu.
— Não vejo problemas em você ser fiel. Mas, não exija nada de mim.
— Mas também não disse que não — ela não rebateu e eu continuei —
Você precisa manter-se discreta então.
— Não estou nem um pouco interessado no que viveu nos últimos dias
— menti — O próximo ponto do nosso acordo é o lugar onde vamos morar.
Por que eu aceitei reatar o maldito casamento? Eu poderia ser livre, por
que aceitei manter esse faz de contas? Por que eu não consigo odiá-lo tanto
quanto antes de vê-lo aqui? Lágrimas furtivas escapam dos meus olhos quando
constato o inevitável: estou fodida!
Enxugo mais uma lágrima e levanto da cama. Não vou ficar aqui no
quarto pensando, irei à Carpe Vita. Ficar rodeada de pessoas felizes mudaria
meu atual estado de espírito.
Mal pisei os pés fora do quarto e encontrei Alexandre. Que porra ele
ainda fazia ali no hotel?
— Não precisa.
— Certo, eu mereci essa. Tudo bem, só não queria que você gastasse com
um serviço que eu posso oferecer gratuitamente.
— Só não esquece que o dinheiro é meu e eu não tenho pena de gastá-lo.
Até depois.
— Estou sim, mas hoje não posso, tenho um compromisso agora a noite.
Quando entrei na Carpe Vita, meu corpo relaxou depois da tensão do dia.
A boate ainda não estava lotada, estava bem cedo para a night começar, por isso
segui para a minha sala no terceiro andar, mas antes mesmo de entrar, dei a
volta até o outro lado e abri a porta do meu sócio.
— Porra, Gabi! Senti sua falta — verbalizou o que eu também sentia. Ele
aproximou-se de braços abertos e deixei meu corpo encaixar-se no seu, suas
mãos ao redor da minha cintura enquanto as minhas enlaçaram o seu pescoço,
inspirei profundamente e senti seu cheiro tão familiar. — Veio curtir a night? —
indagou soltando-me e eu contive o suspiro preso na garganta.
— Sim! — sorri — Estou liberada para ter o meu dia de rainha ou tenho
a noite de trabalho escravo?
O moleque era naturalmente sexy, vestia uma calça jeans escura e uma
camisa polo branca e ainda assim conseguia chamar a atenção... Aline era
definitivamente uma mulher de sorte.
— Gabi, eu já cometi muitas merdas na minha vida. Por isso eu sei que
no momento da raiva não queremos ver o outro por um bom tempo... Entendo
perfeitamente se vocês se reconciliarem.
— Você pode contar comigo se precisar conversar, até sobre a sua vida
sexual, sabe que aquele cara é velho demais, né? Ele não tem a minha disposição
— e com isso ele me fez gargalhar. — Podemos inclusive marcar outro ménage,
a Aline tem uma quedinha por você.
— Sempre, Felipe.
Essa equação não dá erro nunca. Sorrir, dançar e beber está embutido no
meu DNA, é inato ao meu ser. Para me tirar do sério, tem que ter disposição, eu
geralmente ligo o foda-se e me afasto. Mas essa pessoa conseguia trazer nuvens
negras para o meu céu ensolarado.
Eu estava saindo do banheiro quando dei de cara com a criatura, desde
que a administração da boate tinha passado para as competentes mãos do
Vinícius, Bruna Moura não havia pisado na boate, mas algo tinha levado a infeliz
até ali e dessa vez, eu sabia, não era Felipe Albuquerque.
— Oi, tenho um recado para o Alê, será que posso mandar por você? —
ela jogou quando passei por ela. Ignorei. — Gabriela, a idade tá deixando você
surda? — ela tentou mais uma vez chamar minha atenção.
— Não sentiu falta do seu marido esses dias? Digamos que ele passou o
dia todo ocupado, no trabalho. — Ela sorriu maliciosamente.
— Cai fora, Bruna, não tô com muita paciência hoje — avisei dando as
costas mais uma vez.
— Eu sou mais jovem que você e isso deve doer aí dentro. Enquanto você
estava retocando o loiro para esconder os fios brancos, eu fodia com seu marido
no escritório dele, encarando a foto de vocês enquanto eu cavalgava.
— Ele gozou chamando o meu nome... Você sabe o quanto é difícil fazê-lo
gritar, né? Acho que eu consigo na próxima. Pede para trocar os lençóis da cama
amanhã, não quero foder no lugar onde você deitou.
— Tão calma que está mostrando esses maravilhosos seios sem notar?
— só então olhei para o meu estado, a vadia tinha conseguido quebrar as
correntes que ligavam o cropped ao meu pescoço.
— Ah são sim, mas vamos evitar expô-los mais — Felipe tirou o blazer e
me passou.
— Vou avisar que a entrada dela está proibida e vou conversar com a
Thalita para saber quais os trâmites para que eu possa me livrar, de uma vez
por todas, da família Moura Lunardelli. — Felipe anunciou.
— Não fode!
— Mas esse sorrisinho imbecil parece que acha isso. Tire o seu cavalinho
da chuva, eu tinha que ser muito burra pra sair no tapa por você.
— Direta ou indiretamente foi sim e não me sinto feliz com nada disso,
só queria que soubesse.
— Certo, o que eu quis dizer é que ele está casado com outra mulher, por
que ela teria raiva de você?
— Disse que...
— Seu corpo grita pelo meu, eu posso ler isso em cada uma das suas
linhas.
— Eu sei calar meu corpo. É você quem precisa ser fiel, não eu.
— Então, por que agendou a reunião? Não foi para falar da empresa,
presumo. — Ele foi direto ao assunto.
— Então, pergunto mais uma vez, por que estou aqui, Alexandre?
— Porque eu quero! — sorri. Ele abriu a boca para revidar, mas não lhe
dei tempo — Não esquece que, mesmo sob os meus protestos, você é o
advogado da minha família e a Gabriela agora faz parte dela.
— Ato falho? — sorriu mais uma vez antes de continuar — sua esposa
cometeu pelo menos dois atos falhos comigo.
Sua sala tinha apenas um sofá enorme e vermelho que contrastava com
as paredes totalmente brancas, bem como com o painel de TV, igualmente claro.
No quarto, havia uma cama King Size e a parede mais distante era
completamente revestida por um espelho, o que revelava um pouco da
personalidade dela: Gabriela era uma mulher forte, autêntica e sem falsa
modéstia, sabe que é bonita e não sente a menor vergonha disso. Tentei
reproduzir o espaço, mas evitando que ficasse parecido com uma cópia barata,
apenas a inspiração foi trazida, o ambiente ficou diferente do anterior. Seguindo
as dicas da mãe da minha esposa, providenciei um closet enorme e um banheiro
igualmente grande: com jacuzzi e penteadeira.
— E decidiu fazer isso agora a noite? Não poderia esperar para amanhã?
— Não. Assim que informaram que tudo estava pronto corri para te
avisar — menti — Estou curioso para saber se ao menos uma vez eu acertei
com você.
— Você não faz ideia das maneiras das quais imagino te manter presa...
— joguei.
— Vamos logo acabar com isso! — desceu do carro antes que eu pudesse
abrir a porta.
— SURPRESA!
— Boa noite para você também, Marcos! — sorri — Tudo bem com
vocês? O Marcos foi um bom anfitrião? — indaguei para João Pedro, marido da
Soraia, e Emerson, marido da Lú.
— Claro que fui, até servi o Whisky mais caro que encontrei — meu
amigo respondeu erguendo a garrafa.
— Como você é o mais novo do clã dos maridos da quadrilha do salto alto
e gloss, aconselho a sentar e relaxar. Porque aquelas ali quando se reúnem
esquecem completamente que existimos — Emerson disse sorrindo e estendeu-
me um copo com Whisky.
— Eu, como o membro mais velho do clã, devo salientar que a Sol não é
de cancelar reuniões — Emerson disse e o João Pedro confirmou com balançar
de cabeça — e para a Fernanda ter deixado o Marcos vir com camisa de time é
porque elas estavam em um nível de agitação alto pra caralho! — Marcos
gargalhou em concordância — Portanto, se preparem porque hoje é capaz de
dormirmos sozinhos, já que elas não vão se desgrudar nem para dormir —
completou gargalhando.
— Elas são tão grudadas assim? Aliás como surgiu o nome "quadrilha de
salto alto e gloss"? — Perguntei realmente curioso.
— E a Sol já fingiu ser a Gabriela para ela poder fugir da casa dos pais
durante a noite — João confessou sorrindo.
— Isso são apenas os fatos que elas nos contam, por isso o termo
quadrilha, não me surpreenderia se me dissessem que já roubaram um banco.
Essas quatro juntas são capazes de tudo! — Meu amigo completou com um
sorriso.
— Pega leve, amor — Marcos interviu, mas ela lançou para ele um olhar
cortante e como prevendo tempestade, Emerson e o João saíram de fininho.
— Eu me esforçarei para fazê-la feliz — fitei seus olhos claros e torci que
ela visse verdade no meu olhar.
— Essa foi por pouco — Marcos soltou o ar — Vamos jantar, antes que o
resto da quadrilha venha te intimar também.
Eu esperava dar de cara com olhos claros, mas foram olhos castanhos e
cabelos longos, pretos e lisos que nos receberam. Era uma mulher muito bonita
e encarava a Gabriela com um sorriso.
— Muito prazer — trocamos dois beijos no rosto e abri espaço para ela
entrar.
— Sempre! — minha esposa se jogou nos braços dele, que segurava uma
garrafa, mas a amparou com o braço livre.
— Acho que cheguei tarde demais para a festa — Felipe disse ao abraçar
as amigas da irmã. — Saí da Carpe o mais rápido que pude.
— Ah, mas vocês não vão agora! A noite é uma criança — Gabriela
anunciou e Felipe olhou maldosamente para ela. Que cara de pau, na frente da
esposa!
— Ainda está cedo, adoraria ter vocês aqui por mais tempo — Gabriela
disse.
— Fica para a próxima, tenho que estar com Gui daqui há poucas horas
— Aline falou numa voz rouca.
— Enfim, sós.
Quando o Alexandre fechou a porta, depois que o Felipe Albuquerque
saiu, meu corpo já estava em chamas. Minha pele ardia, talvez pelo desejo
contido, talvez pela dancinha para o meu casal favorito, talvez pelo que viria a
seguir. Eu não queria pensar, tampouco diminuir a temperatura do meu corpo.
Hic et nunc.
Não esperei que o Alexandre tomasse a iniciativa, ele o faria, com toda
certeza, mas dois segundos após o "enfim sós", joguei meu corpo contra o dele.
Minha boca faminta devorou a dele, sem calma, em total desespero.
Imediatamente, ele jogou meu corpo contra a porta e impôs sua língua
em minha boca, numa batalha quente e molhada. Era difícil para eu assumir,
mas meu corpo sentia falta dele. Da mão forte que agora apertava a minha
bunda sobre o vestido, do pau maravilhoso que eu sentia contra minha barriga
e daquela boca me chupando. Ah, sim, se ser bom com oral fosse pré-requisito
para marido do ano, o meu, com certeza teria um troféu.
Minhas mãos se esgueiraram por baixo da sua camisa polo, sentindo
cada gomo do seu abdômen definido. O desespero já me dominava e eu queria
ser possuída por ele naquele segundo. O calor que emanava dele não era
diferente do meu, Alexandre também parecia ferver.
Eu gritei, puxei seu cabelo com força e mordi seu pescoço, quando saiu e
me tocou fundo novamente. Ele entrou e saiu diversas vezes, sem dó, até que se
afastou da porta e andou até o sofá, me fazendo deitar, sem sair de dentro de
mim.
Quando ele gemeu meu nome, sua voz me trouxe um segundo de lucidez.
O que me fez jogá-lo no chão, para trocarmos de posição. Agora, eu estava no
controle. Fiquei de pé e me livrei da calcinha ensopada e do sutiã, encarando
seus olhos claros de maneira firme. Rastejei sobre seu corpo até que minha
boceta estivesse na sua cara. Ele sorriu ao me ter aberta perto da sua boca, mas
antes que ele pudesse falar qualquer coisa, desci meu corpo sobre sua boca e
rebolei.
Pude comprovar, mais uma vez, que ele era ótimo naquilo. Sua língua me
fodia maravilhosamente bem. Seus lábios chupavam meu clitóris de maneira
que me prendia e me fazia querer correr, era torturante e deliciosamente
perverso. Quando ele libertou meu ponto pulsante, enfiou um dedo dentro de
mim e em conjunto com a língua, me fez gemer. Eu rebolava feito louca, me
entregando a mais primitiva forma de prazer. Quando eu gozei, gritei alto e
estremeci.
— Preservativo! — Eu gemi.
— A escolha é sua.
— Eu escolho te foder novamente — Ele puxou o meu tornozelo.
— Eu não quero pensar, quero foder! — Puxou-me ainda mais, até meus
seios ficarem da altura do seu rosto — E quando eu gozar na sua boca, vai
esquecer completamente esse nojinho repentino e vai amar engolir cada gota.
Ele estava certo, exceto pelo fato de eu estar com nojo. Esperma não me
enoja, já pedi várias vezes para gozarem em várias partes do meu corpo,
inclusive na boca... O que eu estava tentando fazer, era afastar a atmosfera de
luxúria enquanto eu estava saciada, se ele tivesse ido tomar um banho, eu
voltaria a dominar meu corpo e o enxotaria do meu apartamento. Mas as
palavras sujas conseguiram me acender de novo. Eu já sentia a temperatura se
elevar antes mesmo de ele me fazer deitar sobre ele, me sujando de porra, ao
me posicionar para um 69.
Não sabia que horas eram quando meu sono resolveu cessar. Por incrível
que pareça, não acordei com uma ressaca daquelas. Estava com um pouquinho
de dor de cabeça, por causa da mistura alcoólica, mas nada exorbitante. Quando
abri os olhos, me senti em casa. O quarto, agora eu podia ver, lembrava muito o
do meu apartamento em São Paulo. Dessa vez, o Alexandre tinha marcado um
ponto. Na verdade, mais de um. Trazer minhas amigas também foi um golpe de
mestre.
Virei de lado para admirar seu corpo estendido nos lençóis macios da
minha cama. Seus olhos fechados escondiam a malícia que ali sempre estava, a
boca estava relaxada e entreaberta, quase tive vontade de colocar a língua ali. A
barba, sempre por fazer, o deixava um pouco mais mortal, sem ela o Alexandre
não pareceria real. O homem é de tirar o fôlego, feito para o pecado e já me
causou, em poucos meses, mais estresse do que qualquer outro ser do sexo
masculino em todos os anos da minha vida. Por isso, ignoro seu glorioso
abdômen, suas coxas torneadas e seu pau que descansa pesadamente e o
acordo.
— Se eu quisesse, te faria gozar sem nem acordar, mas não era o que eu
pretendia. Tá na hora de você ir — anuncio, esquivando minha mão.
— Com certeza. Eu fiquei feliz, bebi e quis te dar. Fim! Agora, levanta e
cai fora.
— A não ser que você levante e faça, querido. Que horas são? —
perguntei sentando na cama, completamente nua, o que era comum, mas o
olhar dele me lembrou da noite anterior. — Meu rosto é aqui, querido.
— Gabriela, que felicidade escutar a sua voz. Não nos vimos desde o
aniversário do Alexandre, estou com saudades!
— Desculpe, precisei viajar uns dias para visitar minha mãe — menti e
fuzilei o Alexandre com o olhar, ele deu de ombros — Mas logo faremos uma
visita, não é querido?
Ele não solicitou o motorista e estranhei. Mas, pensando bem... Não sabia
como estava a vida dele. Seguíamos em silêncio ao encontro da sua mãe
enquanto eu me perguntava onde estavam seus empregados e se ele teria
vendido ou alugado sua mansão... Com um "isso não é problema meu" desviei a
atenção para o meu celular. No grupo da quadrilha, as fotos da noite anterior
estavam bombando, salvei algumas e postei somente a que tinha nós quatro,
sob a legenda "Se ela sozinha já é um perigo, imagina com as amigas... ". Meu
sorriso estava enorme e verdadeiro nesse registro.
Tudo que eu não queria era estar entre dois caras numa guerra de xixi,
mas eu precisava dar um jeito nas coisas. Odiava ter que mentir, mas não tinha
como falar a verdade quando nem eu mesma sabia qual era. Por isso, enviei:
Outro.
A mãe dele estava à nossa espera e se aproximou assim que nos viu
parar o carro. Mesmo assim, senti-me na obrigação de sair do carro para
recebê-la.
— Essa cerca viva é linda! — digo ao abrir a porta, mas antes que eu
pudesse continuar elogiando, ela me envolveu em um abraço carinhoso.
Eu não conseguia entender como uma mãe amorosa obriga seu filho a
casar e procriar.
— Ela faz esse drama com todo mundo, é só dizer que ela não parece ser
minha mãe que tudo fica bem! — Ele fez a mãe sorrir.
— Achei que estivesse na empresa hoje, a culpa é sua por seu pai me
deixar sozinha para almoçar?
— Deve ser da Odete — ele acusou sorrindo — não sinta ciúmes, mãe!
— Não sinto, sou uma mulher segura e sei todas as senhas do seu pai —
eu gargalhei alto — Aprenda Gabriela, manter um Fragoso na linha no começo é
difícil, mas vale a pena.
Ignorei a pontada no meu coração, ela não fazia ideia das dificuldades.
— Tenho uma coisa para você — me entregou uma pasta preta — Abra.
— Se é assim que essa conversa vai seguir, é melhor acabar por aqui.
Acelerei e segui para a minha casa, não sem antes passa na minha antiga
casa, precisava passar para fazer alguns pagamentos aos funcionários e deixar
dinheiro para que mantivessem a casa, ainda me doía deixar a mansão, mas
precisava reconquistar a confiança da Gabriela, era melhor passar um tempo no
apartamento do que perder toda a minha herança.
— Você não manda em mim, idiota! — rebateu — Gabi... Onde você quer
que eu ponha as minhas mãos?
— Ela eu não sei, mas as minhas vão para essa sua cara de pau! — Fechei
o punho direito e soquei a cara dele.
Os nós dos meus dedos doeram com o impacto, mas logo a outra dor
substituiu essa. Ele revidou, socando a minha boca.
— Faz tempo que eu quero fazer isso — ele sorriu com o olho já
diminuindo de tamanho. — Onde estávamos, Gabi? — voltou-se para minha
esposa.
Não enxerguei mais nada, era ousadia demais. Parti para cima dele,
puxando seu colarinho até que as suas costas batessem na parede, fechei a mão
esquerda mesmo sem ser canhoto e soquei a cara dele diversas vezes. O Rafael
me chutava e tentava socar meus braços, mas eu não o soltei até senti-la em
minhas costas.
Ela pulou sobre mim, seus braços ao redor do meu pescoço, apertando
firme.
— Está satisfeita? Era isso que você queria? Dois homens brigando por
você?
— Lembre-se dessa frase cada vez que olhar para a minha mulher —
avisei — Cai fora!
Ele me olhou com ódio e se dirigiu à porta. Só então eu gemi a dor que
sentia.
— Ele é o advogado que quer provar que o nosso casamento é uma farsa.
— Hum, quer dizer que pode ser qualquer um menos ele? — ela sabia
me irritar. Não respondi. — Seu lábio tá inchado.
— Tenho mais medo de você do que daquele imbecil — sorri e doeu para
cacete.
Andamos até o banheiro e ali, em frente a um espelho, pude ver que meu
rosto não estava nos seus melhores dias. Meu lábio estava inchado e cortado,
com um filete de sangue escorrendo até o meu queixo. A bochecha estava
vermelha e meu nariz doía por causa do impacto. Pensar que ele estava muito
pior que eu, fazia com que eu me sentisse melhor.
Para quebrar o momento, levei minhas mãos para a faixa que prendia
seu roupão e desfiz o nó. Afastei os lados e ela parou de me tocar.
— Não, Alexandre. Dois homens trocando socos não é algo que me excite.
— Alguma coisa com baixo teor de gorduras e quase sem calorias? — fiz
careta e senti o rosto doer — Você precisa descansar.
Eu tive que me servir, primeiro porque tinha certeza que ela estava me
aplicando uma punição pela briga. Em segundo lugar, porque comer aquela
porcaria me daria mais tempo ali. Além disso, eu estava com fome, esperava que
isso contasse com tempero para me fazer engolir aquela coisa horrorosa.
Quando levei a primeira garfada até a boca, ela me olhava com satisfação.
Sádica! A panqueca light não era das piores, o queijo salvava a receita, por isso
comi quase metade do conteúdo da embalagem... Estava com receio do tal
cozido marroquino.
— Coma!
Eu comi e a coisa não era tão horrível. Sem graça? Com certeza. Mas deu
para comer metade do que ela serviu.
— Isso não pode ser por minha causa. — Ela ergueu as sobrancelhas.
— Não há nada que eu goste mais, do que ouvir você dizer boceta, pau
talvez? — ela gargalhou — Sua educação foi liberal?
— Posso parecer uma boneca, mas vou um pouco além do meu corpo
gostoso e do meu cabelo loiro. Não gosto de rótulos, não suporto machismo e
gosto de fazer o que me dá vontade. Meus pais aprenderam que não adiantava
me prender, era mais eficaz me instruir.
— É a cara dela se encantar pelos seus olhos e não, você não precisa
conhecê-los. Tudo que eu não quero é ter que mentir ainda mais para eles — ela
levantou e recolheu as embalagens, andando até a cozinha.
Ele saiu correndo e voltou com a calça cinza, quase adivinhando que eu
adorava aquela, dois números maior que o meu. Em seguida, pegou no armário
do banheiro um pacote de absorvente comum. Eu fiz uso de dois e levantei para
lavar as mãos, pisando devagar. Quando eu as enxuguei ele me pegou
novamente no colo e me levou volta para a cama.
Essa era uma das coisas que eu mais odiava em ser mulher, por que
tanto sofrimento apenas para nós? Era injusto.
Ele voltou trazendo um comprimido, água e uma bolsa com água quente.
Quase sorri com a preocupação que estampava seu rosto, mas as lágrimas
vieram com a sensação de ter o próprio Satanás dançando em meu útero. Duas
delas escaparam enquanto eu tomava o comprimido, mas as enxuguei
rapidamente e deitei com a compressa de água quente sobre o ventre.
Essa era uma das piores dores que eu já havia sentido na vida.
Consegui adormecer por algumas horas, mas fui acordada mais uma vez,
por uma mão infernal apertando-me por dentro. Tentei não me mover, mas abri
os olhos em busca de orientação no exato momento em que ele entrou no
quarto novamente. Estava sem camisa e usava apenas um moletom preto, bem
baixo, deixando à mostra o caminho para o prazer.
— Que bom que já consegue fazer outra coisa além de gemer, e olhe que
eu achei que seu gemido sempre fosse me causar prazer. Como se sente?
— É sempre assim?
— Hum, vou pegar — ele se retirou e voltou com dois copos enormes
com milk-shake.
— Mas eu não aguento mais aquele suspense todo, li no site que o Red
vai...
— Ok, só por que você não está sendo um completo imbecil hoje.
— Mais um elogio?
Mexi-me para levantar e o meu movimento fez com que ele acordasse.
Seus olhos claros se abriram devagar e se arregalaram de imediato.
— Eu levo você.
Levantei para provar que conseguia andar e dei uma voltinha. A dor
insuportável estava controlada, apenas o desconforto da cólica comum estava
presente.
— Sempre tentei ser gentil, você que me coloca para correr! — Ele deu
de ombros.
— Com certeza!
— Bandeira branca?
— Podemos nos esforçar menos, o que acha? Apenas deixar a coisa fluir.
Nosso acordo tem tempo determinado, vamos tentar fazer as coisas serem
simples e aproveitar a viagem, sem pensar na chegada.
Mas ele não sabia que a causa era provavelmente outra. Era difícil até
respirar com a conclusão a que estava chegando: Gabriela Burnier, apaixonada?
Era preciso investigar isso.
Sempre vivi cercado por mulheres: minha mãe, tias, primas... Mulheres!
E sabe o que todas elas têm em comum? Elas sangram. Todo mês. E por
consequência de todo esse sangue se esvaindo dos seus corpos, são mulheres
consumidas por cólicas e náuseas, isso sem falar no humor. Cacete! Os
sentimentos delas parecem uma montanha russa, conseguem ir do amor ao
ódio e do riso ao choro em um curto intervalo de tempo.
— Isso significa que até eu ter certeza que você está bem, eu ficarei por
perto. — Fitei seus olhos e acariciei a sua mão em cima da mesa.
— Bem ao ponto de sair? — toquei seu braço para que se voltasse para
mim.
O meu calendário informou que hoje fazia três meses que Gabriela e eu
firmamos o nosso acordo. Eu controlava o tempo no calendário. A cada mês que
passava significava que eu estava mais perto de chegar ao fim da farsa, mas
também me deixava com menos tempo de cumprir todas as cláusulas do
maldito documento. O herdeiro, fruto do casamento, rondava constantemente a
minha cabeça. Desde que ela descobriu o testamento não voltamos a tocar nesse
assunto. Em outro momento precisaríamos conversar sobre isso. Em outro
momento. Agora eu apenas queria celebrar essa data ao seu lado.
— Não me olha com essa cara! — Acusou por trás dos óculos escuros.
— Que cara?
Putz! O último carnaval do Marcos solteiro foi épico. E por mais que meu
cérebro catalogasse pelo menos doze mulheres para esse evento, não ia arriscar
nenhum nome.
— Caralho! Foi mal, não sabia que estava com ela... E nunca imaginei que
atenderia no viva-voz ao lado da esposa.
— Então faz algo de bom e passe meu telefone para a sua esposa. Tenho
uma festa para convidá-la. — disse Carla.
— Quando o quê?
— Você pede a minha casa, o meu carro, o meu dinheiro e eu não serei
convidado? Pelo que eu lembre, você disse que precisava de mim também.
— Sua cota comigo está subindo a cada dia! — Voltou-se para mim com
um enorme sorriso nos lábios.
— Claro, senhor — sorriu — Então está tudo pronto para a sua saída.
— Fiz e espero que você goste — abri uma caixa de veludo preta, nela
havia uma corrente prata da linha Life Secrets da Vivara.
O conceito dessa joia era uma cápsula onde você guardaria seus
segredos, escolhi uma corrente de ouro fina, a moldura da capsula é um disco
com as palavras Love e dentro os pingentes, que representariam o que ela
carrega com ela, escolhi o pingente de sapatinho, um batom, o símbolo do
infinito e uma chave. O resultado final era um colar com os pingentes
emoldurados num círculo.
Sabe quando uma pessoa faz uma sucessão de merdas para, em seguida,
passar o resto da vida tentando consertar tais cagadas? Esse era o Alexandre
desde que descobri o testamento. Não sei exatamente o que o levou a mudar,
mas desde que deixei a aliança sobre a mesa do seu escritório ele vem se
esforçando para não ser o completo imbecil de outrora.
Primeiro, ele rompeu todos os contatos com a Bruna. Pelo menos até
onde eu sabia. Depois, ele mobiliou o apartamento deixando-o com a minha
cara. Minha personalidade estava presente naqueles metros quadrados e eu
confesso que achei bacana o fato dele tentar reproduzir o meu apartamento em
São Paulo. Ainda teve o convite às minhas amigas, o fato de conseguir reunir
toda a quadrilha no novo apartamento foi o auge da sua saga para mostrar que
não é um completo imbecil. Convidar o Felipe então, acrescentou mais dez
pontos extras na sua cartela de "Nova Chance com a Gabi".
Isso sem mencionar o cuidado que teve comigo enquanto eu estive
morrendo de cólica e o almoço em comemoração ao nosso casamento. Eu nem
sequer lembrava do fatídico dia, mas foi fofo da parte dele recordar. Desde
então, estamos vivendo um dia de cada vez.
Saímos para jantar quase sempre e eu sigo para a Carpe Vita todas as
noites, para não ceder à tentação de bater na porta do meu vizinho de andar,
feito uma gata no cio. Era ainda mais difícil resistir ao som da sua risada e aos
olhos sempre convidativos. E cada vez que nossos corpos se encaixavam, eu
repetia para mim mesma que era apenas sexo, sexo de excelente qualidade. E
imediatamente lembrava das suas palavras: vamos tentar fazer as coisas serem
simples e aproveitar a viagem, sem pensar na chegada. Hic et nunc! Repetia para
mim mesma antes de adormecer em seus braços.
Dessa vez, quando acordei ele não estava do outro lado da cama. Mas
havia deixado uma mensagem no meu celular:
Enviei.
Temos?
Claro que temos! Eu comentei com você essa semana que iríamos
no evento beneficente que a sua mãe organizou.
Perfeito!
A minha presença!
Anexou a mensagem uma foto do seu colo com uma ereção marcando a
calça de tecido.
O que eu tinha que fazer mesmo? Ah, lembrei... Almoçar com a Vilma e
depois passar a tarde no salão de beleza. Ela teria que perdoar o meu atraso,
porque uma chamada de vídeo do Alexandre se iniciou. Ele estava no banheiro
do escritório e um sorriso imenso nos lábios. O sorriso que indicava que iria me
levar ao orgasmo, dessa vez a distância.
Deus do céu! Eu tinha experiência com homens gostosos, mas esse batia
todos os recordes.
Ele esqueceu de dizer que eu ansiava pelo toque dos seus lábios
diariamente e ficava enlouquecida a cada vez que ele me beijava. Que o seu
beijo era tão bom quanto o seu sexo. Mas, tudo que eu consegui dizer depois
que ele afastou nossos lábios foi:
Caralho, Alexandre!
Embora Vilma tivesse dito que gostava muito de mim, ela deixou escapar
que lamentava não ter comparecido ao casamento do filho, queria ter visto o
seu menino no altar...
— Não — negou com a cabeça sorrindo — se tem algo que ela aprova é
esse casamento. Ela gosta de você como se fosse realmente da família! —
Respondeu encarando-me. Desviei o olhar para não me perder ainda mais
naqueles olhos azuis e voltei-me para a janela acompanhando o trajeto em
silêncio.
— Falta a cor que simbolize a causa defendida, presumi que não havia
prestado atenção ao detalhe! — retirei uma gravata borboleta laranja da bolsa
de mão, que eu havia comprado naquela tarde.
— Mesmo que esse vestido seja laranja, o que não é — revirei os olhos
diante a sua teimosia em admitir que estava errado — Eu não irei usar a gravata
dessa cor — pontuou e desceu do carro caminhando para abrir a porta para que
eu descesse também.
ELA
ELA
ELA
ELA
ELA
ELA
ELA
ELA
ELA
ELA
ELA
Meu corpo pedia fuga, implorava para que eu levantasse daquela cadeira
e saísse dali o mais rápido possível, entretanto as minhas pernas não
correspondiam ao comando do meu cérebro, por isso eu mantinha os olhos
fixos na mulher que falava ao microfone, numa voz mecânica e sem emoção.
Enquanto eu era um poço de sentimentos distintos.
—Tá tudo bem, amor! — envolvi-a num abraço forte, após ela deixar cair
das suas mãos uma taça de cristal da minha mãe e sair correndo da sala de
jantar.
— Shhh! — Afastei nossos corpos para tocar os seus lábios com os dedos —
Não vai ser uma taça quebrada que irá estragar com a nossa noite. Na verdade,
esse é mais um motivo para eu colar em você: alguém precisa consertar tudo que
você bagunça e eu farei esse esforço... — sorri e ela me acompanhou.
No telão, o vídeo iniciou e por mais que eu quisesse fechar os olhos e não
ver, não era o meu cérebro que estava em ação, era o meu coração que
comandava, que arrancava todos os Band-Aid’s das feridas e expunha todas as
cicatrizes que eu guardei à sete chaves.
— Yasmin meu amor, vem até a mamãe, vem! — a mulher sorria de braços
abertos. Passo a passo, a criança sorridente chegou até sua mãe.
A imagem focou o beijo dos dois, um beijo entre dois jovens cheios de
sonhos e amor. O vídeo encerrou e uma lágrima teimosa escapou dos meus
olhos, quando reconheci as duas pessoas em cima do palco.
— Ok, mas o senhor não pode demorar aqui... — disse mais uma vez
antes de se afastar. Deixando-me na completa escuridão.
A figura da Yasmin surgiu mais uma vez à minha frente, não aquela que
os vídeos mostraram, mas a Yasmin que só eu conhecia, a que sorria das minhas
piadas bobas, a que matava aula para nos encontrarmos escondidos. Mas logo
cheguei até a Yasmin que utilizava apenas o olhar para se comunicar...
Seguindo a minha voz, ela me achou jogado no chão, notei seu semblante
vacilar, a pena se instaurando ali.
— Eu não vou embora sem saber se está bem — sua voz estava serena.
— Eu não estou nos meus melhores dias, mas está tudo sob controle —
menti mais uma vez. Eu era muito bom em esconder meus sentimentos.
— Não estou aqui por pena. Estou porque me preocupo com você! Eu...
— Senhora, por favor afaste-se dele! — Ele pediu com os olhos fixos em
mim.
— Gabriela, afaste-se de mim. — Pedi e esperei que apenas dessa vez ela
me obedecesse sem contestar.
— Ele não fará nada! — Fitei seus olhos azuis e esperei que ela
acreditasse nas minhas palavras — Apenas caminhe lentamente para longe. Vai
ficar tudo bem...
— Que merda aconteceu com você? — Sua voz saiu trêmula — Pense
nos seus pais lá embaixo... Pense em mim, eu estou assustada! — Implorou e vi
o pavor instaurado no seu olhar.
A última coisa que vi antes de apagar foram os seus olhos azuis fitando-
me em desespero.
Em um minuto estava tentando trazer racionalidade a um Alexandre
descontrolado e no instante seguinte estou com ele aos meus pés, desmaiado.
Ainda que eu vivesse cem anos, jamais esquecerei a noite de hoje.
— Mas agrediu! — rebati — Agora faça algo certo pelo menos uma vez
nessa noite e encontre Vilma e Alex Fragoso e comunique-os que o filho deles
está bem.
— Claro, senhora Fragoso e desculpe mais uma vez pelo seu marido.
Retirei seus sapatos, abri sua camisa social em busca de algum outro
ferimento escondido pelas peças de roupa, quando vou fazer o mesmo com a
sua calça um homem carregando uma maleta irrompe pela porta.
Meu corpo gelou quando escutei a palavra ambulância. Não estava tudo
bem? Antes que eu conseguisse verbalizar uma pergunta ele voltou-se para
mim:
— Está tudo bem! — Repeti a frase do médico, mas não sei se consigo
tranquiliza-la, pois minha voz estava embargada pelo choro que lutava para
conter. Ela soltou-se dos braços do marido e foi até a maca.
— Não se culpe — Juntei a minha mão a sua — Ele vai ficar bem.
— Eu não imaginei que ele ficaria assim. Não tanto tempo depois...—
Beijou a mão do filho antes dos enfermeiros guiar a maca até a ambulância.
— Certo, iremos logo atrás de vocês — Alex tocou o braço da esposa que
assentiu. Antes de se afastar ela abraçou-me, um abraço apertado e
aconchegante, a gota d'água para que as lágrimas molhassem o meu rosto.
— Ele está bem. Pode ficar tranquila — o homem de meia idade sorriu—
É um procedimento natural, ficar em observação depois de um longo tempo
desmaiado. E a senhora sente-se bem? — voltou-se para mim — Necessita de
algum medicamento para relaxar?
— Você tem algo que me faça esquecer toda a noite de hoje? — Soltei
junto uma lufada de ar.
Sedativos! Eu não quero ficar dopada para lidar com tudo isso. Eu não
quero não sentir. Eu quero entender o que está acontecendo... Quem é Yasmin?
Por que o Alexandre surtou daquela forma?
— Quer ver com seus próprios olhos que seu marido está bem? Vamos!
— Indicou o caminho e eu respirei fundo antes de entrar no quarto branco.
— Acho bom mesmo, pois assim que ele acordar, vou socá-lo para que
nunca mais faça isso comigo! — Forcei um sorriso.
— Não — neguei com cabeça — a semana foi exaustiva para você, Vilma,
cuidar dos preparativos do evento e a enxurrada de emoções hoje. Eu estou
bem e ficarei com ele — ela tentou protestar — qualquer coisa eu te ligo
imediatamente.
— Ele tem razão. O médico disse que ele passará a noite toda dormindo,
não há porque ficar aqui.
— A Yasmin era uma garota cheia de vida — A mãe dele começou a falar
após muito tempo em silêncio — Foi um grande choque para todos nós quando
foi diagnosticada com ELA.
Uma dor fina atingiu o meu peito. Yasmin era a garota do vídeo do
evento...
Tenho vontade de gritar: não, ele não me contou absolutamente nada! Não
sei nada sobre seu filho! Mas opto pelo silêncio, sei que o Alexandre nunca me
contará o que aconteceu e eu preciso saber mais para preencher todas as
lacunas em aberto.
Sinto minha garganta se fechando, perante o esforço que faço para não
chorar, mas o inevitável acontece, lágrimas escapam sem que eu tenha controle,
tento enxugá-las antes que ela perceba, mas é tarde. Pois, ela acaricia a minha
mão e me lança um olhar de afeto.
Dois chás e um chocolate quente depois, seus pais foram embora. Não
voltei para o quarto, permaneci no corredor respondendo as inúmeras
mensagens a respeito do estado de saúde do Alexandre. A notícia havia se
espalhado rapidamente depois que a ambulância chegou no hotel. Ponho o meu
lado promoter a frente e redijo uma nota oficial informando que Alexandre
Fragoso Burnier apresentou um pequeno mal-estar, mas passa bem.
Deve ter sido quando as nossas bocas experimentaram uma a outra pela
primeira vez. Ou ainda quando o som da sua risada aqueceu o meu coração.
Puta merda!
Meu coração está acelerado no mesmo ritmo dos meus pensamentos. Diz
alguma coisa! Diz alguma coisa! Meu cérebro grita. Ela não vai saber que você a
ama se você não disser!
— Bom dia, dorminhoco — ela rompe o silêncio.
— Você esperou estar numa cama de hospital usando essa camisola que
deixa a sua bunda exposta para dizer isso? — Arqueia a sobrancelha sorrindo
— Eu não quero esse eu te amo dito sob efeito de medicamentos. — Negou com
a cabeça e eu gelei — Você terá que encontrar uma oportunidade melhor de
dizê-lo, quem sabe: Paris, Dubai, Veneza? — sorriu e eu soltei o ar que prendia
assustado.
— Vem cá! — peço com a mão para que ela se aproxime da cama e ela
caminha a passos lentos em minha direção, parando ao lado da cama, toco seu
rosto antes de prosseguir — Eu terei oportunidade de repetir esse eu te amo
diversas vezes e em todos esses lugares que você mencionou. Mas agora deixe-
me confessar os meus sentimentos — uma lágrima solitária escapou dos seus
olhos e eu enxuguei-a delicadamente — eu não sei dizer o exato momento que
eu me apaixonei por você, nem se foi pelos seus belos olhos ou pelos seus
peitos...
— Sério — sorri de volta — Não sei se amo mais seus peitos, olhos ou
bunda! É um páreo duro — ela atingiu o outro braço e soltei um gemido de dor.
O local estava imobilizado por uma tipoia.
Sua resposta não veio com palavras, mas sim num beijo doce e sedento,
daqueles que dissipam todas as dúvidas e preenchem todas as lacunas. A dor
que eu sentia do seu corpo sobre o meu braço imobilizado era diminuída por
seus beijos, lágrimas escorriam da sua face e molhavam o meu rosto.
— Eu te amo, Alexandre!
Talvez, se eu deitar e fechar os olhos, ela volte para mim... Volte para a
sua família e nos alegre com a sua risada... A quem eu estou querendo enganar?
Minha cabeça e meu corpo doem como se eu estivesse de ressaca. Mas o que
sinto, não deixa de ser uma ressaca, pelo menos não alcoólica.
Mas tudo o que eu realmente precisava era sair dali o quanto antes.
Livrei-me dos fios contra o meu peito com facilidade, o mesmo não aconteceu
com a agulha e reprimi o grito de dor quando a mesma saiu do meu corpo.
Levantei-me para vestir uma roupa e sair dali o quanto antes, mas cambaleei e
esbarrei na cama na tentativa de me segurar e não cair. O barulho acordou
Gabriela que, sobressaltada, correu em minha direção.
Se eu lembro?
— Eu te machuquei ontem?
— Gabriela, quero que se sinta à vontade para ligar para o seu advogado
e pedir o divórcio.
— Não estou fugindo, — menti — mas não quero que continue presa a
mim depois de tudo que aconteceu ontem.
— E não tinha mesmo por que saber, a minha relação com a Yasmin
é minha — apontei para meu peito — Não vou dividir com você nada além do
que minha mãe já contou.
— Sua mãe não fez por mal — falou do outro lado da porta — Ela
presumiu que eu sabia, já que sou sua esposa. — Completou e esperou alguma
resposta minha que não veio, por isso continuou — Ela era muito importante
para você, eu sei disso e...
Até vê-lo caído aos meus pés. Desacordado. Ali, o mundo mudou de
perspectiva e eu me vi preocupada, desesperada até. E se ele não acordasse? O
que seria de mim sem o homem que conseguiu arrancar o meu chão e organizar
a minha desordem?
Gabriela, não posso casar com uma mulher que não amo. Espero
que compreenda a minha decisão. Adeus.
— Querida, você pode me dar licença, meu noivo me espera! — uma voz
feminina surge atrás de mim e eu não preciso virar para reconhecer a dona da
voz.
Ouvi passos do lado de fora do meu quarto, o que significava que eu não
estava sozinha. Talvez o Alexandre tenha vindo para pegar seus pertences e
conversar... Levantei-me rapidamente e segui em direção ao barulho, mas não o
encontrei na cozinha... Era a Carmem quem estava ali.
— Não minta para mim, Gabi... — Seu tom baixo indicou que ele ligava
escondido em algum dos cômodos da mansão — Acabei de receber por
mensagem a nota que você publicou sobre o mal-estar do Alexandre. O que
aconteceu de fato? O quarentão enfartou?
— Não se preocupe, ele está bem! Curta o resto da sua folga ao lado da
sua esposa gata e deixe que eu cuido do quarentão aqui.
— Pode deixar que ligo sim. Beijo. — Encerrei a ligação e encarei o prato
a minha frente. Havia perdido a vontade de comer.
— Perdi a fome, vou tomar um banho — passei por ela e segui para o
quarto.
Nenhuma resposta.
Eu estava, literalmente, falando com uma porta. Por isso decidi dar fim
ao monólogo e parar de bancar a idiota compreensiva.
Por isso, enviei uma mensagem para Dan, meu personal trainer, e
perguntei se poderíamos antecipar a nossa aula. Ele trabalhava numa academia
que funcionava vinte e quatro horas e por sorte, hoje era seu dia de plantão lá.
Corri para vestir uma roupa apropriada e saí em tempo recorde.
— Senhora Fragoso, quer dizer Gabriela — Assis se corrigiu
imediatamente — Vai sair? — indagou quando me viu caminhando em direção
ao estacionamento.
— Eu levo você!
— Não precisa, vou com meu carro. Já não é hora de você ir para casa?
— Certo... Você tem certeza que ele ainda está lá dentro? Será que não
saiu sem você perceber? Pergunto por que eu fui até o seu apartamento, bati na
porta do seu quarto, mas nenhum sinal de resposta dele.
— Ele não saiu desde que chegou aqui. De qualquer forma estarei aqui
de vigia.... E já avisei a portaria para nos comunicar caso ele passe por lá.
— Não é medo. Apenas não gosto de andar sem saber onde estou
pisando.
— É quase meia-noite.
— Amanhã.
Forcei um sorriso. Ele não estava bem, não podia estar. Não sou
psicóloga e estou bem longe disso, mas em menos de vinte e quatro horas eu o
vi surtar, chorar, brigar, se trancar do mundo e agora ignorar tudo isso e fingir
que nada aconteceu.
Não, eu não podia conviver com isso. Não depois de ser atingida por um
trem desgovernado. Não depois de ser revirada do avesso e exposta. Mas eu não
sabia o que fazer, tampouco o que dizer e por isso apenas olhei para a porta
depois que ele saiu.
Dessa vez, optei pelo caminho mais longo, peguei o trecho da orla e
deixei que a brisa do mar entrasse pela janela aberta. Dirigi em modo
automático até o escritório. Sou apenas um corpo executando funções. Se
alguém me abordasse e perguntasse o meu nome completo, eu seria incapaz de
responder. Estou completamente adormecido, o efeito de horas e horas
mergulhado na mais completa escuridão e tendo como companhia uma garrafa
de Whisky, me deixou pronto para recomeçar.
O tempo passou e com ele os meus sonhos. Substituí escrever o livro, por
escrever o meu número de fodas na minha agenda. Se um dia eu quisesse, talvez
até pudesse escrever uma crônica sobre as melhores fodas da minha vida.
Troquei a salsicha no almoço por refeições caras e saborosas, tendo como
sobremesa mais uma mulher que viraria mais um número, horas depois. Luz de
velas? Só se fosse algum fetiche sexual de uma das minhas parceiras. Isso se a
foda valesse a pena, caso contrário, eu discaria um novo número e vida que
segue. Desde que, ao fim da noite, eu terminasse dentro de uma mulher e ela
estivesse gozado gritando o meu nome o dia teria valido a pena.
Em resumo, o que fiz foi trocar meus sonhos por objetivos. Com o passar
dos anos os sonhos passaram a não fazer parte da minha vida, não significa que
eu deixei de almejar as coisas. Meus anseios agora eram palpáveis: realizar uma
festa memorável de aniversário, trocar de carro, comprar um iate, conseguir
levar a ruiva para a minha cama. Eu agora desejava coisas possíveis de
acontecer.
Foi por esse motivo, que quando fui conversar com a Gabriela eu usava
óculos, sem me importar que a noite os usasse, foi a ideia imbecil que eu tive
para esconder boa parte do estrago e evitar que ela me olhasse com pena. Mas,
não adiantou. Por mais que ela tivesse disfarçado, seus belos olhos azuis
fitavam-me apreensivos. Por isso, os abandonei assim que entrei no carro, pois
o quanto antes as pessoas olhassem como eu já estava fodido, evitariam se
dirigir a mim com falsas felicitações de melhoras. A essa altura eu tinha certeza
que o meu incidente no Copacabana já havia virado notícia.
Tudo estava fechado, o que era óbvio para o horário, mas foi somente em
frente à porta fechada que eu me dei conta que não tinha comigo a chave
principal do escritório. Eu carregava junto ao meu chaveiro, a chave cópia da
minha sala, do meu apartamento e do da Gabriela, das minhas casas, mas não da
empresa. Sempre que eu chegava aqui o lugar já estava aberto e em pleno
movimento.
Era fim de tarde, e o vento do outono tocava seus cabelos ondulados que se
moviam feitos ondas no mar. Com um enorme sorriso no rosto e de mãos dadas,
caminhávamos juntos. Estávamos voltando da escola em silêncio, apenas gozando
um da companhia do outro. A nossa conexão era tão forte que não necessitava de
sons para que pudéssemos nos comunicar. Uma troca de olhares, um aperto de
mão, um menear de cabeça eram mais que suficientes para que
compreendêssemos um ao outro.
O ensino médio estava chegando ao fim e com ele tantas incertezas do que
seríamos, que profissão seguir, que curso prestar no vestibular. Yasmin sempre
soube o que queria ser, a sua vocação estava estampada no seu rosto e gravada no
seu coração. Ela seria veterinária, seus olhos brilhavam quando falava do seu
sonho de construir um canil para receber os animais abandonados. Também
falava repetidas vezes que faria cirurgias de graça nos animaizinhos das pessoas
mais necessitadas. Era idealista e eu achava isso tão bonito, queria ser um terço
do que ela era para ser digno de estar ao seu lado.
Eu costumava brincar que me apaixonei pelos seus peitos, mas a verdade
era que eu me apaixonei pelo seu sorriso, pelo brilho no seu olhar quando queria
algo, pela sua determinação em correr atrás dos sonhos. Eu amava Yasmin por
completo, amava o coração gigante que ela tinha, um coração que amava todos
sem distinção, um coração do tamanho do mundo. Um coração que batia
descompassadamente a cada vez que me beijava e que me fazia o homem mais
feliz do mundo, por ser alvo do seu amor.
— Eu ouvi um gemido fraco, deve ter algum filhote aqui! — sua voz estava
apreensiva, mas ela não pensou duas vezes em agir, levou as mãos até os sacos de
lixo e ergueu um saco grande preto. Dessa vez, os gemidos se intensificaram e
quando eu a ajudei a abrir o saco havia quatro filhotes magricelos de gatos
abandonados. Eles tremiam e deixavam escapar um miado fraco. Um pedido de
socorro.
— Vamos levar para a minha casa, lá tem mais espaço — falei decidido.
Depois eu me resolveria com a minha mãe, o atual apartamento que Yasmin
morava não permitia mais que três animais por recinto, e lá já estavam seis
filhotes vira-latas que aguardavam um lar definitivo.
— Vamos antes que eu desista e deixe esses gatos aqui — seus olhos me
encararam em espanto — Ué, eles serão acariciados por suas mãos pelas
próximas horas, não consigo conter o ciúme — dei de ombros.
Empurrei o notebook e tudo o mais que estava na minha mesa com força.
Malditos pensamentos que surgiam feito avalanche. Era doloroso demais
reviver cada lembrança. Mesmo as mais felizes. Em segundos elas se tornavam
tristes, pois todo mundo sabia que a nossa história não havia tido o final feliz
que merecíamos.
Hic et nunc.
Merda! Que não seja blitz da lei seca, que não seja. Mentalizo enquanto
vejo o homem se aproximar.
— Não. — Menti.
— Você anda assistindo muitas séries. Aqui quem manda sou eu e você
será algemado — o próprio sargento aproximou-se e segurou com força as
minhas mãos levando-as para trás do meu corpo, em seguida prendeu as
algemas ali. — Deseja mais alguma coisa? — permaneci em silêncio — Até que
você não é burro! — debochou e se afastou, me deixando para trás com o cabo
Souza que me guiava para a viatura.
— Seria uma enorme burrice — cabo Souza respondeu e vi, mesmo por
um breve segundo, um curvar de lábios. Ele também desejava mandar o seu
chefe para o mesmo lugar.
Na viatura, eu torcia para que o Marcos não estivesse na cama com a sua
esposa gostosa e que atendesse a minha ligação ou eu passaria a madrugada
atrás das grades.
Não sabia, de fato, se alguém conseguiu entrar em contato com o
Marcos. Depois que passei o seu contato, não obtive nenhuma resposta.
Também não sei precisar por quanto tempo estou aqui, estou sem relógio e sem
celular. Numa saleta andando de um lado para o outro, sem nenhuma
informação.
Quando tive a certeza de que eu ficaria ali por infinitas horas, um policial
surgiu para dizer que a minha fiança havia sido paga. Respirei aliviado e segui
para outra sala, onde assinei uma série de folhas que não me dei o trabalho de
ler atentamente. Li o suficiente para saber que estava sendo liberado sob fiança
e responderia o processo em liberdade.
— A menos que tenha cometido outro delito no caminho até aqui, está
pronto para ir para casa.
— Você me deve mais que uma, mas por ora fico feliz que esteja bem —
soltou-me e lá estava o sorriso característico do Marcos de volta.
— Eu não preciso te dizer que esse ato falho poderia terminar em uma
tragédia.
— O que está acontecendo, cara? Eu não engoli bem a história que você
passou o dia anterior dormindo sob efeito de medicamentos e não estou
acreditando que o seu ato falho seja apenas um lapso.
— Se você quer saber se ela sabe que abri mãos dos últimos dias de
nossas férias por você? Sim, ela sabe! — rebateu sorrindo — E adivinhe só? Ela
te mandou um recado: ela espera que não seja nada envolvendo a Gabi ou ela
mesma estará aqui em poucas horas e você não gostaria de encontrá-la.
— Agora que deu o recado, pode avisar a sua digníssima esposa que não
é nada envolvendo a Gabi... Pelo menos não diretamente — ele me encarou —
não me olhe dessa forma!
— Ah, mas eu quero! Eu não deixei a minha esposa e filha para trás para
me contentar com as suas meias palavras.
— Eu nunca te disse isso, mas sou grato a você por ter insistido que eu
fizesse as pazes com meu pai. — Sua resposta me surpreendeu.
— Como você pode ser grato depois de todo o caos emocional que aquele
reencontro com o seu pai causou? — indaguei surpreso.
— Esse caos emocional que você se refere foi o alicerce para o pai que eu
sou hoje! Se hoje eu amo tanto a minha filha e faço o possível e impossível para
vê-la sorrindo, é por tudo o que eu passei — seus olhos brilhavam quando ele
falava da Mariana — Após o reencontro com o meu pai naquele hospital eu dei
um novo significado a minha dor, eu transformei todo aquele sofrimento em
aprendizagem...
Mais uma vez pensei em Yasmin. Como em meio a todo o sofrimento que
ela passou, eu poderia lembrar dos momentos felizes?
Marcos parou o carro num lugar seguro e voltou-se para mim os olhos
cheios de lágrimas:
— Eu levei mais de dez anos para perdoar o meu pai e hoje, vendo o
amor que a Mari nutre por ele e a devoção que ele tem pela neta, sei que fiz a
escolha certa — mais duas lágrimas rolaram pelo seu rosto enquanto ele sorria
— Sou feliz por ter dado essa oportunidade a todos nós. Feliz por ter feito as
pazes com o meu passado. E isso tem dedo seu — apontou para mim — se hoje
eu sou um homem completo é porque você foi meu amigo, o cara que escavou o
meu passado e me deu a oportunidade de recomeçar... Eu não sei o que está
acontecendo com você, mas saiba que pode contar comigo! Eu te devo essa —
sorriu entre lágrimas.
— Quem não sonha? Ela é gostosa, já posso até imaginar ela e a Gabi
juntas... Duas loiras na minha cama.
— Ah, agora vai! — Sorri — Terá até que me ouvir falar que já sonhei
com a sua irmã.
— Tem mais alguém da minha família por quem você nutre algum
fetiche? — encarou-me — Por que se você disser que é pela Dita eu já atiro você
aqui mesmo na rua.
Gargalhei alto.
Eu não precisava fechar os olhos para lembrar que foi ela quem me
pediu em namoro. Yasmin teve a audácia de dizer que estava sendo benevolente
comigo ao me tomar como namorado. Disse que me ensinaria a ser um bom
amante e eu lembro que gargalhei por alguns minutos até o som da sua risada
juntar-se a minha. Nosso primeiro contato romântico fora uma gargalhada.
Quando os sons das nossas risadas tornaram um só, descobrimos que
funcionaríamos juntos.
— Calma, amor — envolvi seu corpo num abraço apertado — Está tudo
bem, você apenas se desequilibrou por conta da labirintite.
— Está tudo bem agora! — levantei seu corpo com cuidado e saí do
banheiro carregando-a nos meus braços.
— Entendo, mas ligarei para o médico da nossa família para que possa vir
avaliá-la.
Concordei e segui para o meu quarto, sentei na cama com ela em meu colo.
— Vai ficar tudo bem... — acariciei seu rosto, uma ruga de preocupação
estava ali em destaque.
Yasmin sempre fora desastrada, mas de um tempo para cá isso estava cada
vez mais frequente, era comum ela deixar a caneta cair durante a aula, derrubar
copos e talheres nas refeições, até a sua mastigação estava mais lenta. O otorrino
que a atendeu disse que era por conta da labirintite e que os remédios
amenizariam os sintomas...
— A Yasmin precisa que você seja forte! — Minha mãe disse com a voz
embargada, deixando uma lágrima escapar.
— Não se organizará e está tudo bem, acredite! — Uma lágrima rolou pela
sua face.
— Você foi o capítulo mais feliz da minha vida — ela tocou meu rosto —
eu fui muito feliz ao seu lado.
— Amor...
— São nossos planos. Eu não vou a nenhum lugar sem você! — discordei
temeroso com o rumo dessa conversa — Esqueceremos nossos nomes e estaremos
juntos, velhinhos — relembrei a nossa jura de amor.
— Por que eu estou com uma doença incurável e não sabia como te contar.
— Você me ajudou, mais do que imagina. Foi o mês mais feliz da minha
vida — sorriu — seu amor é a minha força para aceitar tudo que está
acontecendo.
— Eu não quero ouvir nada que não seja uma solução para esse problema
— gritei — eu não vou suportar ver a Yasmin partir sem poder fazer nada. E você
sabia e não me disse nada? — Acusei minha mãe de omitir a informação.
— Eu sei bem o que é o vazio da dor de perder alguém que ama. — Disse
Marcos com a voz embargada.
— E ela? — gritei — Ela tinha dezoito anos e passou por tudo isso com
um maldito sorriso nos lábios. Quando suas pernas pararam de se mover, ela
passou a usar a cadeira de rodas elétrica e dizia que tinha ganhado pernas mais
ágeis. Quando as suas mãos não sustentavam mais um alfinete, ela precisou das
mãos dos outros para realizar as suas atividades, mas falava que estava se
sentindo uma rainha com todos os servos ao seu redor. Marcos, ela sorria em
meio a toda as merdas que a vida estava lhe impondo — fitei o Marcos que
também chorava.
— Não é tão ruim estar nessa cadeira quanto você pensa... — disse com a
voz baixa e enrolada, a cada dia ela estava mais debilitada. Mas o sorriso no rosto
permanecia. Eu estava a alguns passos longe dela observando a lua, ou qualquer
coisa que não fosse ela naquela cadeira. — Eu ainda estou aqui! — Disparou e
voltei minha atenção para ela.
— O que você quer que eu diga? Quer que eu sorria abobalhado em meio a
toda essa merda que a minha vida virou? Eu não consigo! — Soltei irritado.
— Não... Eu quero que você grite, esbraveje, chore, desabafe... Apenas não
se feche nesse mundinho aí — lágrimas molharam o seu rosto.
— Não faça isso — balançou a cabeça — você não pode enterrar o seu
coração... Ele é grande demais para escondê-lo do mundo! Sorria, frequente festas,
faça amigos, conheça outras mulheres e sabores... Só não se feche para o amor! —
Uma crise de tosse impediu que ela prosseguisse.
— Você está cansada... Vamos beber água — fiz menção de levantar, mas
ela me impediu com um simples olhar.
— Você vai encontrar uma mulher que te amará apesar da sua teimosa, e
quando ela te entregar o seu coração, ame! Ame essa mulher com o mesmo fervor
que sempre me amou. E não tenha medo de entregar o seu coração a ela. Não
tenha medo de amar porque eu parti...
— Não — suplicou — não me faça voltar à noite para puxar o seu pé! —
sorriu. — Quer mostrar ao mundo que me amou? — assenti — Então, lembre-se
de mim sorrindo! Esqueça todas essas lembranças tristes e lembre do som da
minha risada, de todos os momentos felizes que vivemos juntos. Essa é a maior
prova de amor que você poderia me dar.
Meu corpo todo tremeu quando acabei de falar, minha boca estava seca e
meus olhos jorravam as lágrimas acumuladas por todos esses anos. Marcos não
disse nada, apenas permaneceu ao meu lado enquanto eu chorava perdido em
arrependimentos.
— Não duvide do seu amor por ela, você a amou com todo o seu coração
e foi recíproco.... Eu sou a prova viva do que é ser seu amigo e ser amado por
você! Eu te amo seu cabeça dura. — Marcos falou após um longo silêncio.
— Fico feliz saber que está tentando superar o seu passado. A Gabi é
uma mulher especial...
— Essa é a hora que eu digo que não estou surpreso? — Marcos sorria.
— Você já sabia?
— Pergunte os motivos de não ter ficado com tão bom partido a ela,
Marcos! — Respondi irritado.
— Por que a irritação? Está irritado com o fato de não saber dar nome
aos seus sentimentos ou com a imagem de Felipe e Gabi como um casal?
— Interessante...
— Se você não sente nada por ela e ela não sente nada por você, por que
ainda estão juntos?
— Você acha mesmo que a sua mãe vai levar isso a sério? E mesmo que
leve, você não é um homem que abriria mão da sua vida por um testamento.
Para mim isso é uma desculpa.
— Que libere a Gabi desse acordo! Se você está com ela somente pelo
testamento, você não merece que ela continue ao seu lado. Gabriela não merece
um homem que esteja ao lado dela por interesse, ela merece ser amada e se
você não consegue fazer isso... — deu de ombros — Se não consegue mais
colocar alguém acima dos seus interesses pessoais, liberte-a para encontrar
alguém que faça isso. Deixe ela viver a vida sem o peso da sua mentira, deixe
que conheça outros homens. Algum que a ame perdidamente com palavras,
gestos e toques...
Por que todo esse papo do Marcos estava me irritando tanto? Por que eu
queria mandar ele calar a boca e gritar que o único homem que estaria na vida da
Gabi era eu?
— Conseguiu o quê?
— Projetar na sua mente o que vai acontecer se você não assumir que
ama a Gabriela?
— Babaca!
O pior de tudo isso era não saber o que fazer. A situação além de nova,
era um completo caos. E eu nunca fui de arrumar as coisas, bagunçar era o meu
lema.
Enrolei o máximo que pude antes de levantar. Gastei quarenta minutos
atualizando as redes sociais da Carpe Vita e mais vinte observando as minhas,
até que, por fim, resolvi tomar banho. Por lá, também demorei bastante: lavei e
hidratei meus cabelos, fiz depilação, apliquei óleo corporal e escovei os meus
fios loiros. Fiz tudo isso com a música tocando no último volume... Claro, nada
romântico, muito funk e hip hop me distraíram. Mas o relógio estava realmente
de mal comigo, pois não era nem onze da manhã.
Às treze horas, depois de checar o celular diversas vezes, achei que ele
não viria e estava pronta para ligar o foda-se! Dez minutos depois, peguei a
bolsa pronta para sair sozinha, mas dei de cara com ele ao abrir a porta.
Não sei se foi a minha boca ou a dele que iniciou o beijo, devorando
lábios e língua, sorvendo saliva e engolindo gemidos. A porta foi fechada de
qualquer jeito. Minha bolsa acabou jogada no chão. E as minhas mãos seguiram
rumo ao cinto da calça dele, abrindo e procurando o caminho da felicidade,
enquanto as dele não conseguiam decidir que parte minha tocar primeiro.
Como eu senti falta disso. Do seu tamanho. Da sua força... Do sexo com ele.
— Acho que não precisava das flores, no fim das contas... — Ele estava
ofegante. E parcialmente nu. Gostoso demais!
Peguei as peças de roupas, que deu tempo de tirar, para vestir, mas ele
me impediu.
— Precisamos conversar!
— Sim e nós vamos, deixe eu acabar de foder você que faremos isso.
Quando ele me guiou para fora dos jatos d'água, evitei o contato visual,
mas a sua mão levantou o meu queixo e ele pode enxergar a minha alma através
dos meus olhos vermelhos.
— Desculpe, eu não queria te fazer chorar.
Ele saiu do banheiro para atender e eu desabei ali, fechando a porta para
que meu choro não fosse ouvido.
— Quem tem fome, tem pressa — minha resposta o fez gargalhar e esse
era um som raro de se ouvir.
— Eu tenho uma pergunta para te fazer. Ela é a real razão para eu ter me
atrasado. A ordem das ações mudou, o sexo era para ser depois e...
Quando ele me fez essa proposta pela primeira vez, em um dia que agora
parece tão distante, eu gargalhei porque parecia piada. Dessa vez, porém, eu
tenho vontade de gritar de raiva. Mas me mantenho estática, mais uma vez
naquele dia.
Ele levou a mão ao bolso da calça e retirou dali uma caixinha de veludo
preta. Mas eu não permiti que ele abrisse.
— Não! — Sentenciei.
— Gabi...
Relembrar cada sensação que senti enquanto o pau dele me fodia, não é
a melhor maneira de pôr uma pedra em cima desse assunto. Era difícil imaginar
onde eu acharia um pedregulho tão grande, na verdade.
Eu deveria ter ido para outro lugar, mas acabei estacionando em frente
a Carpe Vita. Talvez a familiaridade estivesse me atraindo, mas no final das
contas o que eu precisava estava ali: música, bebidas e homens gostosos. Antes
de descer, um detalhe dourado chamou minha atenção. Retirei a aliança, joguei
no porta-copo do carro e saí batendo a porta.
— Boa noite, diva! Pelo look hoje é mais cliente do que dona — apontou
para o meu corpo.
— Vodka!
— Olha só, mais uma coincidência ou você sempre vem até mim? —
Rafael sorriu.
— Coincidência pura! — Encontrá-lo ali me lembrou de toda a merda
que eu estava tentando afogar em bebida e dança — Preciso ir.
— Quanta pressa... Lembro que você gosta que as coisas aconteçam bem
devagar — as mãos dele deslizaram em direção a minha bunda.
— Sou uma puta seletiva — rebati — e meu maior erro foi não ter
notado o tipo de imbecil que você seria.
— Desculpe — disse, por fim — meu problema nunca foi com você. Eu
nunca deveria ter usado seu momento de fraqueza para atingir o Alexandre.
Esse esbarrão só serviu para me lembrar que eu ainda sabia meu nome,
logo, precisava beber até esquecê-lo.
— Whisky sem gelo — pedi assim que o Dhi me viu — Duplo. — Virei o
copo e voltei para a pista.
Estava no bar mais uma vez, em busca de uma caipirinha, quando fui
abordada por ele.
— A sócia da boate não pode dar perda total na frente de todo mundo,
lembra?
— Não fode, Felipe! — a palavra e a lembrança de como era com ele fez
meu corpo esquentar — Aliás, fode sim. Com força!
— Porra, Gabi!
— Gabi, vamos subir! — A sua resposta foi música aos meus ouvidos.
— Quando você estava puto porque pegou a Olga na cama com outro, me
fodeu bem aqui, dizendo que precisava de mim. É a minha vez, Felipe. Eu
preciso de você.
Ele me abraçou e eu achei que cederia, mas seu abraço foi forte e
contínuo, do tipo que é feito para acalentar. Com meu rosto apoiado em seus
ombros, suspirei e me deixei chorar.
— Gabi, você sabe que não seria nenhum sacrifício foder você, mas essa
não é a solução. Converse comigo, o que houve? Problemas com o seu marido?
— Tudo isso não passa de uma mentira deslavada! — funguei — Ele não
é meu marido. Quer dizer, é, mas não de verdade.
— O Alexandre me pediu para casar com ele apenas para não perder a
fortuna, eu casei sem querer, bêbada em Las Vegas.
— Está com raiva por isso? — Sondou — Mas não era só um acordo?
— O problema não é essa safada, até foi... Mas tem coisa pior: a Yasmin.
— Caralho! Fodeu muito... Não sou uma das meninas da quadrilha e não
sei o que te dizer agora... Mas pelo pouco que vivi do amor, aprendi que ele é
complicado. Porém, vale a pena. Minha história com a Aline era meio torta, mas
hoje é o maior motivo da minha felicidade.
— Os últimos meses têm sido intensos para você, por que não tira férias
de tudo? — Sugeriu.
— Eu levo você.
— Também amo você, Gabi. E da próxima vez que me pedir para foder
você, me dá tempo para incluir a Aline que tá tudo certo! — Piscou.
— Combinado! — Sorri.
Parecia que esse dia tinha durado quarenta e oito horas, eu estava
exausta. Dirigindo o meu carro, Felipe me conduziu até o apartamento que o
imbecil decorou para mim. Estar ali me fez lembrar que esse nunca seria o meu
lar... Por enquanto teria que servir. Me arrastei até o quarto e assim que
encostei na cama, apaguei.
A primeira pessoa que visitei foi a minha mãe, conversamos por algumas
horas e quando ela perguntou pelo Alexandre eu simplesmente disse que
estávamos nos separando. Meias verdades eram melhores, nesse caso. Meu
padrasto e ela queriam que eu ficasse na casa deles por uns dias, mas eu não
achava uma boa. Passar a ideia de coitadinha nunca foi a minha praia e receber
conselhos amorosos baseados em supostos problemas (que eu sei que ela
tentaria justificar) muito menos. Por esse motivo, passei o dia junto a eles e fui
embora depois do jantar.
Respondi .
Quase duas horas depois a Sol respondeu dizendo que daria um jeito de
almoçar conosco. Adormeci mais feliz. Nada como um dia após o outro com um
boa noite de sono entre eles.
Eu me perdi em você. E você não consegue nem se achar, quanto mais a
mim.
Enquanto a comida que pedi esfriava, assim como o clima entre nós dois,
eu buscava palavras para responder. Mas não antes de o meu telefone tocar. Foi
uma chamada urgente do meu escritório e eu precisei correr para lá. Entre as
urgências da imobiliária e a minha falta de foco, me perdi em pensamentos.
Eu não sabia que passo dar, mas um após o outro, me vi em frente à
porta do apartamento dela, e não do meu que ficava ao lado. Bati algumas vezes
e não obtive resposta, pensei em usar a chave que eu tinha, mas como não sabia
o que dizer, achei melhor voltar para o meu. Lá, me segurei ao máximo para não
espiá-la. Talvez fosse espaço realmente que ela precisava.
Não ousei bater, usei a minha chave e resolvi levar o café até a sua cama,
mas para minha surpresa ela não estava lá. Uma sensação repentina de perda
me atingiu e por alguns segundos o pânico se instalou. A antiga sensação de
sufocamento e taquicardia me atingiu, precisei respirar fundo e contar
inúmeras vezes até dez para me acalmar. Foi apenas a surpresa. O susto por não
encontrá-la, só isso... O medo de que tudo se repetisse foi mais forte do que
qualquer outro sentimento.
Ela está bem, Alexandre. Repeti para mim mesmo durante várias horas,
até que uma foto postada no Facebook me provou isso. Ela estava realmente
bem. Havia estado com a mãe, era o que a rede social dizia. Passado o pânico,
um misto de frustração e raiva me tomou: ela viajou e não me disse nada?
Tínhamos muito para conversar, aquele xeque-mate não podia ser a decisão
final dela.
Mas, e se fosse?
O que eu faria se ela nunca mais voltasse? O nosso acordo não tinha a
menor validade se ela não quisesse, eu nunca obrigaria mulher alguma a fazer
algo contra a sua vontade. Talvez o destino estivesse apenas deixando claro o
que eu sempre soube: eu deveria ficar só. A minha chance havia passado. No fim
das contas eu vivi bem durante todos esses anos. Não me relacionei porque não
quis. O meu esquema de foda sempre funcionou de maneira perfeita, ninguém
se feria, cada um sabia quais eram as regras do jogo.
Usei a agenda do meu celular para decidir quem seria a escolhida, prestei
atenção apenas nas mulheres que continham "F1" ao lado do nome, ou seja,
havíamos fodido apenas uma vez e não havia risco de ser alguma das
desesperadas que tentavam me convencer a quebrar o acordo.
— O quê?
— Sobre toda a idiotice do acordo? Não, a própria Gabi fez isso. Ainda
não decidi se devo quebrar o seu nariz ou te dar um beijo por toda essa
situação.
— E daí?
— Ela não me quer... Tentei fazer o certo e a pedi em casamento, mas ela
recusou mais uma vez.
— Tão bonito, mas tão burro... — sorriu — Se bem que isso é um mal da
sua espécie. Meu querido, tá fazendo errado, faz de novo.
— Só se lembre que a fila anda e que ela é uma mulher linda, de espírito
livre... Dependendo de quanto tempo você der, pode ser tarde demais.
— Parece que você e seu marido dividem a mesma opinião, então — dei
de ombros — no fim das contas, eu realmente estou — admiti pela primeira vez,
principalmente para mim.
— Quero que a Gabi seja feliz e realmente acho que você pode fazer isso.
Mas sempre posso quebrar a sua cara, caso faça minha amiga sofrer — ela me
encarou.
— Talvez... Mas da próxima vez que ela aparecer por aqui, deixa o
segurança em alerta, ela ameaçou me bater!
— Tem razão! — sorri — Mas antes será que você pode me fazer um
grande favor? — ela assentiu sorrindo — Preciso de uma passagem para São
Paulo.
— Não é, mas ela merece as joias, por aturar você! — Deu uma
piscadela.
— Não mesmo — sorriu — eu estou torcendo para que ela faça você
rastejar.
— Obrigado, Odete!
No fim das contas, por causa de um problema para pousar em São Paulo,
só consegui chegar na madrugada. Eu aguardava no seu quarto, sentado na
poltrona ao lado da cama. Gabriela dormia serena. Seus traços perfeitos e
delicados compunham o retrato de uma bela mulher, mas era quando estava
acordada que ela hipnotizava.
Não somente pelo corpo escultural, que já cansei de dizer que o quanto é
fantástico, a mulher tinha um par de seios e uma generosa bunda. Bunda capaz
de fazer você assinar um papel em branco só quando ela andava rebolando a
sua frente. A mesma que me fez brochar apenas com a lembrança de que não
era ela ali, se esfregando em mim.
— Até São Paulo? — indagou desconfiada — Não estou com fome... Não
vou nem perguntar como você conseguiu entrar aqui...
Eles pareciam dois faróis apontando a direção que eu deveria seguir. Sua
boca abriu e fechou por diversas vezes, parecia que ela havia perdido a
capacidade de falar. No que pareceu uma eternidade depois, ela pareceu
acordar do estado de torpor e se mexeu. Livrou-se das peças de roupa e entrou
no boxe.
— Para nós!
— Alexandre, eu não posso mais ser o objeto que você desfruta de bons
momentos e evita nos minutos seguintes... — Fiz menção de falar, mas ela me
impediu com o olhar — Hoje você acordou e decidiu que está apaixonado por
mim. Amanhã você está andando na rua, encontra a Bruna e transam. E foda-se
a Gabriela!
— Não vai haver Bruna! — invadi o boxe e toquei seu rosto
delicadamente — Nem Yasmin se é o que você está pensando... A Yasmin foi a
primeira mulher que amei na minha vida e eu achei que não sentiria mais nada
dessa forma até te conhecer...
— O que eu preciso dizer para você entender de uma vez por todas que
você é importante para mim?
Tomei a sua boca num beijo urgente e lascivo. A água, mais uma vez,
banhava um momento decisivo. Livrei-me da camisa que, ensopada, grudava na
minha pele. Sem desgrudar da minha boca, ela fez com que o resto das roupas
caíssem num baque surdo no chão molhado.
Quando afastei nossas bocas, enxerguei através dos seus olhos todo o
desejo que ela sentia, mas também havia temor.
— Vamos fazer do seu jeito — arremeti mais uma vez — vai dar tudo
certo! — prometi, indo fundo dentro dela.
Quando ela gozou, gritou tão alto que impulsionou o meu próprio gozo,
antes que eu pudesse controlar. Quando encostamos nossas testas úmidas, eu
me senti muito bem, como não me sentia há anos.
Era impossível manter a coerência quando Alexandre estava próximo.
Era ainda mais impossível manter-me indiferente quando ele tocava a minha
pele com as suas mãos firmes e grandes. Sempre fui movida ao toque, mas o
dele em especial, me causava um frenesi a mais. Era quase inebriante quando a
sua boca tomava a minha com a fome e o desejo, que meu corpo desejava. Era
cada vez mais delirante quando nossos corpos se encaixavam.
Tudo isso pode explicar o motivo para o meu coração errar o compasso
quando ele falou que estava apaixonado. E eu acreditei. Embora não viesse a
confessar, acreditei por tantos motivos, mas o principal deles era simples: eu
queria acreditar que era verdade. Queria realmente acreditar que ele
correspondia aos meus sentimentos.
A quadrilha de salto alto e gloss foi meu bálsamo quando cheguei em São
Paulo completamente desnorteada. Em meio a risadas e lágrimas, sol, piscina e
um almoço delicioso na mansão dos Albuquerques, elas chamaram a minha
atenção para alguns detalhes.
Segundo elas, o que eu sentia não era apenas raiva ou frustração por não
estar sendo correspondida pelo Alexandre, mas algo bem mais profundo. Eu
admiti a minha paixão, mas elas diagnosticaram amor. Me assustei inicialmente,
mas contra fatos não havia argumentos. Sim, era amor! O tal sentimento intenso
do qual eu jurava estar imune. Nunca sonhei em casar, ter filhos ou constituir
família, pelo contrário, sempre fui contrária a esses ideais impostos pela
sociedade.
Eu nunca quis dar meu coração de bandeja para ninguém e odiava essa
sensação de vulnerabilidade e impotência que o amor trazia. Juro que tentei não
deixar que isso acontecesse, mas em um dia qualquer que não sei precisar,
deixei de compartilhar apenas meu corpo e acabei entregando meu coração a
um homem que não sabia como retribuir.
— Talvez pensar não seja a melhor solução para nós — tocou meu rosto
delicadamente — só por hoje, poderíamos apenas viver sem pensar em nada —
seus lábios tocaram o meu pescoço e eu arfei com o toque — Apenas eu e você...
— Eu e você... — sussurrou.
— Calma — disse num tom sereno — Eu meio que deixei claro que não
deveríamos ser incomodados... Não contava que seu pai fosse aparecer aqui.
— Será que não dá para você vestir uma roupa ou você costuma andar
de toalha por aí? — Meu pai indagou, irritado.
— Vá e volte logo, temos muito o que conversar — meu pai avisou antes
de o Alexandre se afastar. Dito isso sentou-se no sofá acompanhado da mulher e
eu permaneci de pé.
— O que vocês fazem aqui? — fui direta ao assunto, pois queria o quanto
antes terminar esse drama familiar.
— Quem te contou? — Eu ainda não havia dito ao meu pai o motivo que
me fizera retornar a São Paulo. O olhar que me lançou significava que a minha
mãe já havia passado o relatório — Era óbvio que minha mãe ligaria!
— Por isso estamos aqui, querida — Dafne tocou a minha mão — para
dizer que nos sensibilizamos com a sua dor.
— Você é, o meu príncipe? Porque está mais para sapo! — Afastei seu
braço.
— Imbecil!
— Típico casal de novela das sete! — Dafne citou com as suas referências
televisivas.
Somente quando o carro parou foi que eu despertei dos devaneios. Olhei
para o lado e vi que estávamos numa área verde, um parque para ser mais
precisa, o parque Villa-Lobos. Localizado no bairro de Alto dos Pinheiros, na
região Oeste da Capital. Ele era considerado uma das melhores opções de lazer
ao ar livre da cidade, o reduto paulista para sentar na grama e fazer um
piquenique ou ainda praticar atividades físicas.
— Ela é um coração mole, isso sim — sorri — aposto que quando viu
esses seus belos olhos, logo tratou de ajudar.
— Se eu disser que não foram pelos meus olhos que ela se derreteu... —
Arqueou a sobrancelha sorrindo.
— A última vez que estive aqui eu devia ter seis anos... — falei deitada
sobre meu braço observando o céu azul, algo raro na cidade da garoa — Meus
pais me traziam aqui para andar de bicicleta.
— Eu conto com isso, tio! — pisquei e minha boca foi esmagada pela sua.
Alexandre provou da minha boca com desejo e urgência, quando ele se afastou
eu respirava ofegante.
No dia seguinte, precisamos voltar para a vida real. Eu havia partido para
São Paulo para espairecer, fugir de todo o caos que Alexandre Fragoso e sua
bagagem representava, mas a avalanche me perseguiu e aqui estou: submersa
nele. Não adiantava adiar a volta, as coisas eram como eram. E, além disso, ele
precisava trabalhar. Uma ligação do meu pseudo-ex-sogro nos colocou em um
voo para o Rio de Janeiro.
— Nós vamos conversar sobre isso mais tarde. Mas acredito que a casa
seja o melhor lugar, não quero que a gente fique em apartamentos separados
hoje.
— Pode andar nua pela casa, eu não ligo! — Sussurrou no meu ouvido.
— Acabei de lembrar que você trouxe uma mala de São Paulo — revirei
os olhos — mantenha-se vestida quando outros olhos, que não sejam os meus,
estiverem sobre você.
— Vou sair.
— Onde pensa que vai? — ele me puxou para perto, encostando nossos
corpos.
A consulta com o gatologista foi muito boa. Diferente da maioria, que mal
nos examinava, ele solicitou que eu ficasse de biquíni para avaliar toda a minha
pele. Conversamos bastante, tirei algumas dúvidas e saí de lá com uma lista de
cremes hidratantes para quase todas as áreas do corpo, bem como um
fortalecedor para as minhas unhas. De lá, segui para a academia. Troquei-me no
banheiro e caminhei animada até o segundo andar. Fui recebida por um monte
de músculos e o sorriso aberto do instrutor indicado pela minha amiga.
Quando cheguei em São Paulo, triste e confusa, a Fernanda me arrastou para a
academia para que eu pudesse liberar endorfina e aliviar o estresse, além de
obviamente queimar calorias em uma aula experimental de boxe. Gostei tanto
da experiência que decidi que aquele seria o meu esporte.
— A Sol bloqueou você, não foi? — sorri quando ele concordou com um
aceno — Ela está radiante! Exalando felicidade pelos poros, na verdade. Casou
com um homem digno dela — alfinetei.
— Nossa, que empolgação, Gabi — sorriu — Fico feliz... Ela ainda mora
em São Paulo?
— Fernanda — soltou num lamento — Lembro dela a cada vez que faço
uma rinoplastia — Vinicius havia se tornado um cirurgião plástico competente,
fora do país.
— Você é cruel!
— Ora, ora, Gabriela Burnier... Quanto tempo! — ouvir meu nome fez
com que eu me virasse para encarar a mulher que se dirigia a mim.
— Na verdade meu conceito é outro, mas pelo que conheço de você, faz o
seu estilo. Minha empresa não é anunciada nas redes abertas, é mais privada e
para um público selecionado. Acredito que o seu marido também irá gostar.
— Não, tiozinho.
— Não — sorri — você sabe que dá de dez a zero em muito novinho por
aí.
— Repete.
— Diferente quanto?
— Não!
— Alexandre...
— Não!
— Não!
— Então é assim que vai ser? Vai me ameaçar toda vez que eu não fizer o
que você quer?
— Gabi... Você está me pedindo para deixá-la foder com outras pessoas e
não consigo imaginar outra pessoa tocando em você.
— Você estava falando sério quando disse que iria sem mim?
— Abra a sua mente... Deixe o seu corpo responder aos estímulos, se der
vontade, a gente segue.
— Gabi...
— Tchau, Alê — beijei sua boca com vontade e corri para o meu antigo
quarto, evitando pensar em cenas que envolvessem o pau do Alexandre e outra
mulher.
Passava das dez da noite quando chegamos à Spicy. Esse era o nome que
estava gravado no cartão que a misteriosa mulher tinha me entregado na
academia, desde que li o nome que significava “picante”, “apimentado” escrito
em letras cursivas no cartão preto, era como se realmente eu sentisse algo
arder. Em aço inoxidável, também em letras cursivas, a palavra estava fria e
imóvel sobre as portas duplas, de madeira pesada, que impedia a nossa entrada.
Antes que eu pudesse bater ou tocar a campainha disponível, as portas se
abriram devagar, em uma declaração óbvia de que éramos bem-vindos.
Alexandre apertou a minha mão enquanto dávamos os primeiros passos para a
recepção do lugar.
Toquei o seu rosto, passando os dedos da minha mão direita por sua
barba rala. Deixei a minha língua sair da minha boca e lambi seus lábios
fechados.
Ele segurou minha cabeça e aprofundou o beijo, sua língua indo fundo
em minha boca, ditando o ritmo. Querendo mostrar quem estava no controle...
Ah, homens. Facilmente manipuláveis. Minha mão desceu até o seu colo e
constatou sua ereção que já dava sinal de vida, cheguei até o botão da sua calça,
mas ele segurou meu pulso quando ouviu um gemido que não pertencia a mim.
Bem ao nosso lado, uma mulher nua estava ajoelhada entre as pernas de
um homem, pagando boquete. Era dele que vinham os gemidos.
— Ah, não. Eu nem comecei e eu bem sei que você está de pau duro —
sussurrei e lambi a orelha dele.
— Droga, serei a babá de várias rodadas. Pelo menos ficarei com seus
carros — sorri, fazendo sinal para que o garçom super gostoso viesse nos
atender.
— Não ouse...
Ela deve ter sentido a mudança na minha postura ou a minha cara não
estava das melhores, porque veio toda mansa me dar um beijo que quase me fez
esquecer de tudo. Quase, porque um gemido masculino me trouxe de volta a
realidade. Ao nosso lado, uma morena de lingerie estava entre as pernas de um
careca barrigudo.
Minha!
Com uma mão segurando firme em seu cabelo, usei a outra para tapar
totalmente sua boceta quente. Sobre a calcinha, usei minha mão grande como
um tapa sexo, mas dei o que ela queria deslizando meu dedo médio para dentro.
Escorregadia, ela me recebeu abrindo as pernas. Sem soltá-la, trouxe seu corpo
de volta para as luzes amenas, inclinando-a sobre a mesinha onde estavam
nossas intocadas bebidas. Livre-me rapidamente de todas as minhas roupas,
atraindo o olhar feminino e provocando o desinteresse masculino, afastei a sua
calcinha e invadi sua boceta por trás.
Firme.
Sem dó.
Até o fundo.
— Vou deixar passar hoje. Mas, tenho uma sugestão de um casal para
uma brincadeirinha interessante. Vista-se, vamos para casa!
— Sobre esse tal casal que ronda sua mente impura, vamos conversar
calmamente sobre isso...
Assim que chegamos em casa, subimos para o nosso quarto. Aquele com
o closet, que já foi meu, já foi dela e em acordo mudo firmado agora com o olhar,
seria nosso. Notei que ela estava desconfortável, mas não sabia exatamente com
o quê.
Acho que dividir espaço estava sendo mais difícil para ela do que para
mim, afinal. Quando entramos no quarto, depositei carteira e celular no criado
mudo e me joguei na cama, observando-a. Gabriela largou a bolsa na poltrona e
fugiu para o closet, saindo de lá com o que provavelmente seria a camisola que
me mataria do coração em três segundos.
— Onde vai? — Perguntei quando ela passou pela frente da cama sem
me olhar.
— Tomar banho.
Conquistei sua boca devagar, usando a língua para acariciar os lábios que
se abriram rapidamente. A calmaria que tentei transmitir lembrou-me da
primeira vez em que a pedi em casamento. Ali, eu acreditava que manipular sua
emoção faria com que ela cedesse.
— Deixa que eu faço isso — empurrei o vestido colado pelo seu corpo,
retirando pela cabeça.
Ela estava sem sutiã, os bicos já duros pedindo atenção. Lambi devagar,
usando a ponta da língua para arrodear a aréola e percorrer a distância entre os
dois. Repeti o gesto lento e Gabriela segurou minha cabeça, empurrando o peito
na minha boca. Suguei ritmicamente, intercalando com o passar de dentes para
atender sua vontade.
— Calma... — Pedi.
Percorri o vale entre os seios e desci a língua até o umbigo, beijando ali,
propositadamente devagar. Gabriela abriu as pernas e elevou o quadril, mas
usei o braço para impedir os seus movimentos.
A calcinha preta que ela usava era mínima, com tiras finas que pediam
para serem destruídas com os dentes, mas tirei-a devagar. Sempre fui fã de
bocetas. Era impossível contar quantas vezes eu as chupei ao longo da minha
vida, são incontáveis, ainda mais se considerarmos o meu sistema de fodas.
Todas me agradavam, independente de depilação ou cor, eu sempre amei o
gosto que ficava na minha língua depois de uma boa chupada. Com a Gabriela
não era diferente, sua boceta me agradava tanto que me enchia a boca d'água
apenas com o cheiro. Totalmente depilada e quase sempre molhada para mim.
Abri espaço ali com os dedos e lambi com a ponta da língua. Ela respirou
fundo. Com o meu dedo indicador espalhei seu líquido por toda boceta, até a
entrada do seu cuzinho. Ela estava impaciente, mas eu não tinha a menor
pressa. Aproveitaria cada segundo de adoração. Suguei seu gosto quando enfiei
minha língua dentro dela e posso dizer que me apaixonei um pouco mais
quando ela gemeu meu nome.
Abri a minha calça, abaixei a cueca e senti o meu pau mais duro do que
mais cedo na boate. Substituí meus dedos por ele, entrando devagar. Centímetro
por centímetro. A consciência de que estava fazendo amor pela primeira vez
com a minha esposa acelerou meu coração. Quando entrei inteiro, parei de me
mover, sentindo os sentimentos aflorarem. Era uma delícia tê-la quente
embaixo de mim, mas a sensação de sufocamento persistia. Meu coração estava
disparado e eu precisei beijá-la em busca do seu ar. Ela me beijou devagar,
como se oxigênio demais pudesse me matar ali mesmo.
O trabalho dela também não era dos melhores, pois fazia com que ela
passasse as noites ocupadas ao invés de estar na cama comigo. Em resumo, os
finais de semana eram os melhores dias... E isso tudo se deu em menos de um
mês. Como as coisas podiam ser tão intensas em tão pouco tempo? Conosco era
assim desde o primeiro momento.
Gabriela não era o tipo submissa de mulher, todo mundo sabia, por isso
achava exagerados alguns dos meus cuidados. Por isso mesmo eu agradeci aos
céus ela nunca ter desconfiado das câmeras no apartamento, quando estávamos
morando em quartos separados, tampouco o rastreador no chaveiro da casa...
Duvido que ela fosse entender meus motivos naquela época. Não vou negar que
se pudesse saberia cada passo que ela dá, mas isso seria o mesmo que prender
um pássaro em uma gaiola pequena. Eu estava tentando aprender a lidar com
todas as novidades que incluía amá-la como ela é.
Meu celular tocou no meio do almoço e por mais que o olhar irritado do
meu pai tentasse impedir, eu atendi a ligação da Carmem.
— A minha esposa está no hospital, mas não deve ser nada demais. Ela
estava bem quando saí de casa.
— Estou no banheiro — gritei o mais alto que pude, o que não era muito
naquele momento.
— Aconteceu alguma coisa? — sua voz estava mais perto da porta agora
— Vim deixar os ternos do Alexandre no closet e encontrei a cama desforrada
e...
— Precisa de ajuda?
— Só um instante.
Não consegui dormir de fato e nem rolar para lá e para cá, como faria se
estivesse com insônia. Cada vez que o sono tentava me embalar, a dor no
abdômen me trazia de volta para a realidade. Não comi nada do que a Carmem
me trouxe, mas ela me obrigou a tomar um suco mais cedo.
Quando não conseguia mais fingir que estava sem sede, abri os olhos e
tentei alcançar o copo do criado-mudo. Mas ele foi colocado em minhas mãos de
imediato, a Carmem continuava no quarto.
Tentei fazer graça, mas ele não sorriu. Abraçou-me forte e, como se para
certificar de que eu estava bem, ergueu meu rosto e examinou.
— Tive tanto medo... — Levei meus dedos aos seus lábios, silenciando.
— Não estou tão mal, não é desta vez que ficará viúvo.
— Alê — ele ergueu o rosto, os olhos marejados. Depois de tudo que ele
me contou sobre a Yasmin era natural que ele estivesse sofrendo com o receio
de algo pudesse me acontecer. — Olha para mim — segurei sua mão — eu sinto
muito por ter te preocupado...
— Ela não vai receber alta hoje? E o resultado dos exames? — Alexandre
indagou preocupado.
— Minha cama ficará grande demais sem ela... — deu uma piscadela para
a senhora.
— Iasmin — completou.
— Hum, obrigada Iasmin — toquei a mão dela tomada por uma súbita
emoção, troquei olhares com Alexandre que sorria.
— Vocês formam um belo casal! Cuide muito bem da sua esposa, ela é
uma mulher especial — fitou Alexandre sorrindo.
— Eu sei!
— A minha casa tem tudo isso e a Dafne para completar. Gabriela teria
alguém da sua idade para conversar...
Minha mãe não nutria mais nenhum sentimento pelo meu pai, havia se
casado novamente e estava verdadeiramente feliz, todavia não suportava o fato
de o meu pai viver alfinetando-a sobre Dafne ser mais jovem. Jovem o suficiente
para ser filha dele, por sinal! Até para mim, no início, foi difícil aceitar que
minha madrasta tinha idade para ser minha irmã mais nova. Aquela história
terminava com a minha mãe narrando todos os casamentos fracassados dele.
— Pai! — repreendi.
— Tenho certeza que Gabriela adoraria passar uma noite na casa de cada
um — neguei balançando a cabeça veementemente e Alexandre me olhou feio
— Mas, o lugar dela nesse momento é ao meu lado. A filha de vocês agora é
minha responsabilidade, eu cuidarei dela e garantirei que nada lhe falte.
— Ai meu Deus, fico tão feliz que tenham feito as pazes. Minha filhinha
finalmente encontrou o amor — Minha mãe me abraçou com lágrimas nos
olhos.
— Não, não vão! — meu pai negou sorrindo — É notável que você não é
dessas! — Gargalhei.
— Ah, vou reclamar... — sorriu — E ainda farei com que você beije toda a
extensão das minhas costas como um pedido de desculpas, além de várias
massagens.
— Você não deveria ser sexy vestindo essa roupa de hospital — puxou o
lençol até o meu peito, cobrindo-me toda — Assim está bem melhor!
— Você já sabe que não vai para o céu? — indagou a poucos centímetros
da minha boca.
— Alê, me coloca no chão — pedi e ele mais uma vez, que ignorou os
meus pedidos, subindo degrau por degrau como se carregasse uma folha de
papel.
— Eu deveria ter feito isso quando você entrou aqui pela primeira vez —
chutou a porta do nosso quarto — que tipo de marido eu seria se não
carregasse a minha esposa no colo? — arqueou a sobrancelha sorrindo e como
eu não reagi, me colocou na cama delicadamente e sentou ao meu lado.
— Eu sei que não foi você — disse ofegante — suas joias foram retiradas
para que você realizasse os exames. Será que ao menos eu posso concluir o meu
pedido?! — Concordei com um aceno de cabeça — Eu quero que essa aliança
volte para o seu dedo não porque eu quero que todos saibam que você é casada,
mas porque eu quero que ela seja a confirmação que fez a escolha certa e que
sempre que a veja, se lembre disso.
— O que eu quero dizer é que desejo que você seja minha. E estou
disposto a esperar o tempo que você precisar para que sinta que as minhas
palavras não são da boca para fora. Por isso, aqui estão nossas alianças —
depositou nas minhas mãos — caberá apenas a você o destino delas.
— Sim.
— Não vou dizer que isso me deixa feliz — coçou a cabeça sorrindo —
Eu me sentiria mais confortável se você a usasse, afinal você trabalha num lugar
repleto de homens e a aliança os deixariam a dois metros de distância.
— Não é uma aliança que irá impedir que eu seja cantada, você já deve
ter fodido trocentas mulheres com aliança no dedo...
— Eu, possessivo?
— Anhan — sorri — mas se está disposto a abrir mão da aliança o que
quer em troca? — arquei a sobrancelha — Já sei: que eu use uma gargantilha
com o seu nome!
— Imbecil!
— O que foi? Eu apenas quero que todos saibam que você é minha!
— Tem razão.
Os dias passaram e Gabriela dissipava meus medos com a sua risada alta
e seu jeito prático de ver a vida. Lado a lado percorremos o caminho de
incertezas, que incluíram exames, diagnósticos, risos, choros, inseguranças,
certezas.
O Hit et nunc que ela tatuara na pele tornou-se o nosso lema, vivíamos o
aqui e o agora e desde que estivéssemos juntos poderíamos enfrentar qualquer
empecilho que a vida nos apresentasse.
— Por isso esse temporal hoje pela manhã — minha mãe disse assim que
me viu e caminhou em minha direção, para me abraçar. Saí da reunião direto
para a casa dos meus pais — Meu filho vir me visitar espontaneamente é um
verdadeiro milagre.
— Você não deveria estar numa reunião? — Meu pai franziu o cenho.
— Deveria...
— Mas, não está! — minha mãe olhou feio para meu pai — Nosso filho
está aqui seja lá qual for o motivo. Não quero ouvir nem mais uma palavra sobre
trabalho — assentimos sorrindo — Vou pedir para preparar nhoque que eu sei
que você gosta... — disse animada — Liga para a Gabriela e pede que venha
almoçar conosco.
— Ela não vai poder ter filhos, não é? — Meu pai foi direto ao assunto.
— Não se preocupe — minha mãe disse com seu jeito doce — Há
inúmeras crianças aguardando por uma família que as ame.
Ela e meu pai trocaram olhares cúmplices e com essa simples troca de
olhares compreenderam a situação: o herdeiro exigido no testamento.
— Vai dá tudo certo, meu amor — minha mãe acariciou a minha mão.
— ... E foi por meio dele que soubemos que você embarcou para Las
Vegas acompanhado de um tipo escandaloso — A Tiffany, a mulher que
contratei. — Não podíamos permitir que você casasse com aquela moça.
— Nós que amamos você! — minha mãe falou antes de me abraçar e logo
meu corpo foi envolto por outro braço. Meu pai juntou-se a nós e formamos um
só abraço. O abraço de reconciliação e amor.
— Vai negar que o que houve entre nós foi quente e gostoso? — suas
mãos tocaram meu peito — Podemos repetir tudo isso e no fim da noite você
pode voltar para a sua esposa e dormi de conchinha. Eu não ligo! — lambeu
minha boca.
— Eu não vim até aqui para ouvir você dizer que ama a Gabriela, muito
menos para que me dissesse que sou um problema. Vim aqui por que eu quero
você! E ao contrário do que você disse, eu não sou uma menina que chora no
quarto a noite quando quer algo, eu sou mulher para ir atrás do que eu quero.
— Não — neguei sem soltar seu braço — você não passa de uma menina
mimada que sempre teve tudo que quis em suas mãos, incapaz de aceitar “não”
como resposta.
— Ah, mas eu não vou mesmo! — ela aproximou-se ainda mais de onde
Gabriela estava e o cachorro avançou sobre ela rosnando aos seus pés. Bruna
recuou e com isso, um dos seus saltos ficaram presos na grama, resultando em
uma queda de bunda no chão. A queda no gramado acionou o sistema de
irrigação e em poucos segundos ela estava molhada pelos jatos d'água.
— Desde que ele coloca vadias oferecidas para longe do seu caminho —
sorriu.
— Alê... — ela sussurrou quando afastei as nossas bocas para tomar seu
pescoço, usei as mãos levantar o vestido fino que vestia e a toquei sob a calcinha
de renda pequena. Num ato rápido abri os botões da minha calça e deixei que
ela escorregasse até os meus pés, afastei a sua calcinha e a penetrei de uma só
vez.
— Fico feliz em não ser a única que sente isso — ela riu.
Beijei sua boca e meti fundo várias vezes. Gozamos juntos gritando alto
um o nome do outro. Ali, dentro dela, eu era o homem mais feliz do universo.
Horas mais tarde, na nossa cama, após eu ter mostrado mais uma vez
quem era a dona e proprietária do meu corpo, Gabriela contou-me sobre o
cachorro misterioso. Ela estava indo para a academia quando o viu embaixo de
um ponto de ônibus, tentando se proteger da forte chuva que caía. Na mesma
hora, ela confessou, teve vontade de parar o carro e tirar o cachorro dali, mas o
sinal abriu e ela seguiu para a academia com a imagem do cachorro em sua
mente. Prometera a si mesma que se em seu retorno ele ainda estivesse ali, o
resgataria.
Ela não precisou pedir duas vezes e lá estava eu, duro e pronto para
aproveitar todo o momento ao seu lado.
Hic et Nunc!
— Eu deveria ter me juntado a você no banho — a sua voz grave fez meu
coração disparar. Continuei onde estava, de costas para ele, e espalhei mais
creme pelas minhas pernas. Seu olhar capturou atentamente cada gesto meu e
percorreu o caminho das minhas mãos.
— Pena que perdeu a chance — levei a mão aos seus lábios para fechar a
sua boca aberta. Alexandre foi rápido e segurou-a, sugando meus dedos —
Porra Alê! — repreendi sorrindo.
— O que foi? — segurei a camisa para puxá-la para cima, mas as suas
mãos seguram as minhas — deixe-me conferir o quanto as aulas do Dan
surtiram efeito — sorri maliciosamente e tentei erguer a camisa, mas as suas
mãos me impediram mais uma vez — qual é o problema? — ergui a sobrancelha
sem entender o motivo pelo qual ele não me deixava despi-lo.
— Você está nua e eu não aguento esperar mais — sua boca esmagou a
minha em mais um dos seus beijos urgentes e molhados.
Quando a sua língua duelou com a minha, gemi contra a sua boca. Rogava
a Nossa Senhora Padroeira dos Casamentos para que nosso desejo nunca fosse
satisfeito e que continuássemos nos querendo até estarmos velhinhos.
Minha boca suga a dele e disputamos entre saliva e mãos, quem comanda
o beijo. Se toda esposa tivesse como marido um expert em usar a língua o
aumento de orgasmos femininos causaria um terremoto em escala global, disso
eu não poderia reclamar. A boca dele me deixava completamente entregue
desde a primeira vez em que esteve na minha boceta. Como se adivinhasse
meus pensamentos, ele guiou-me sem interromper o nosso beijo, em direção a
parede do quarto. Agachou-se ficando entre as minhas pernas:
— Pronta para receber uma lição oral? — seu sorriso é sacana.
Olhei para baixo e encontrei seus olhos atentos aos meus, havia um
brilho intenso naquele olhar que me dominava e sabia que faltava bem pouco
para me fazer estremecer. Segurei firme em seus ombros para não cair quando
ele alternou entre chupar, lamber e me foder com a língua. Estremeci e gritei
alto quando gozei contra a sua boca.
— Por que? Vamos passar o dia aqui hoje — beijou meu pescoço.
— Gabi, você tem cinco minutos para sair desse quarto — a voz do Felipe
se fez ouvir.
— O que ele faz aqui? — Alexandre puxou o edredom até o meu peito —
Não ouse entrar nesse quarto, seu moleque!
— Diz para mim que vocês estão vestidos, pois temos duas crianças aqui
fora!
— E o que vocês fazem com duas crianças a essa hora na minha casa? —
Alexandre colocou a cabeça para fora.
— Gabi, agora você tem menos de três minutos para mover essa bunda
gostosa para o lado de fora.
— E talvez eles achem que o Range Rover do tio Alê precise de mais cor...
— Marcos completou.
Depois que saí do banho, enquanto vestia um short jeans e uma camiseta
justa, o Alexandre retornou aliviado por constatar que tudo não passara de uma
brincadeira de amigos, os carros estavam intactos e por isso, ele seguiu para o
banho e eu desci para receber nossos convidados.
— Ora, ora como vai senhora Fragoso? — Marcos levantou do sofá para
me abraçar. Dessa vez ele não usava o traje social do escritório, estava vestindo
uma camiseta branca e uma bermuda de sarja azul marinho, nos pés,
confortáveis tênis.
— Cadê a Aline?
— Sério?
— Você sabia que o Gui tem dois papais, tio Alê? — Mari continuou
tagarelando — Você tem dois papais, tio? Eu não conheço mais ninguém que
tenha dois papais.
— Me dá o celular que eu vou ligar pra ela — esticou a mão para o pai
que fuzilava o Felipe.
— Lá tem piscina? — Mari indagou — Por que se tiver papai não trouxe
meu biquíni.
— Eu não vou contar nada — sorri — Vou deixar que vocês descubram
lá! Prontos?
Seguimos cada qual para seu carro e não demorou muito para que
Alexandre me bombardeasse com perguntas para onde iríamos. Limitei-me a
responder que era surpresa e falei para aproveitar a paisagem. Por fora, eu
exalava tranquilidade, mas por dentro eu era um turbilhão de emoções. Não
sabia como ele reagiria a minha surpresa, e agora, minutos antes de chegar ao
local, meu cérebro travava uma disputa com o meu coração para saber se estava
tomando a decisão correta.
O fato é que desde que eu resgatei Floquinho na rua, parei para pensar
na situação dos animais abandonados na rua. Não é que eu nunca tivesse
pensado antes, sempre me comovi quando via nos noticiários relatos de maus
tratos ou abandono de animais, mas algo mudou dentro de mim desde que
Floquinho entrou na minha vida. Ele trouxe o real sentido de lar para nossa
casa. Sempre que eu retornava da Carpe Vita pela madrugada, ele estava
fielmente me esperando na sala de estar.
— Eu não irei a nenhum lugar sem você! — Ele acariciou minha mão e eu
enxerguei verdade em seu olhar.
Antes de dar outro passo para frente, ele me encarou e fez meu coração
disparar.
— Não mesmo, mas eu quis fazer. Por nós — minha voz também falhou
— foi a forma que encontrei de demonstrar o quanto eu amo cada parte de
quem você é... O seu passado e o homem que se tornou — uma lágrima escapou
dos meus olhos e ele a enxugou delicadamente.
Não sei quem era mais criança ali, se a Mari e o Gui que estavam com
olhos vidrados em tantos cachorros e gatos, ou o Felipe e o Marcos que se
divertiam enquanto alimentam os filhotes. O Alex e o pai da Yasmin conversam
animadamente em um lado oposto, enquanto Vilma e a mãe da Yasmin ajudam a
alimentar os filhotes de gato.
— Eu sei — ela sorriu — e é por isso mesmo que eu estou aqui, para
dizer que estou imensamente feliz em saber que o Alexandre abriu seu coração
para o amor e encontrou em você seu porto seguro — um nó se formou na
minha garganta e eu pisquei diversas vezes para não chorar — eu tenho um
presente de casamento para você em nome da Yasmin, ela escreveu assim que
soube da doença... — a mulher me estendeu um envelope amarelado pelo
tempo. — Ela queria que a eleita do Alexandre recebesse esse bilhete, eu achei
que morreria e não entregaria a ninguém — ela sorriu e me juntei a sua risada.
Espero que nesse momento o seu sorriso seja maior que o meu. Sorria
abertamente e grite para os quatros cantos o quanto você é uma mulher de
sorte. Sabe por que eu sei disso? Porque eu sorrio a cada vez que lembro da
sorte que foi ter o Alexandre em minha vida.
Alexandre, se ela for tão incrível quanto eu acho que será, você está
lendo isso. Eu estou muito feliz em saber que você se permitiu ser morada
novamente. Estou mais feliz ainda em saber que você encontrou alguém que
te ama na mesma intensidade que você ama! Imagino que tenha demorado
um pouquinho para se deixar levar — um pouquinho? Ele já é quase um vovô
— disse alto fazendo o meu marido sorrir — mas você conseguiu conquistar a
moça. Por falar nela, que sorte a dela ter você! Tirando os seus ciúmes
bobos, as suas inquietudes e as cagadas costumeiras, você é um excelente
partido no fim das contas.
Mas se ela tem sorte, imagina você? Se ela aturou todo o combo que é
amar um Fragoso e permaneceu ao seu lado é por que ela é fantástica. Nada
menos que isso. Por isso, trate-a muito bem, seja companheiro, leal, gentil,
doce, amigo, amante, confidente... Seja o melhor para ela.
— Ela era incrível... Assim como você é — beijou minha testa — Eu não
namoro menos que isso — ele fez graça para aliviar o clima.
— A tatuagem é covardia, vou ter que escrever seu nome na minha testa
para retribuir isso!
— Vai ficar lindo... — ele analisou minha testa.
— Nem sonhe, era piada! Mas sabe que minha mente está pensando em
maneiras bem safadas de retribuir isso.
— Muitas maneiras?
— Porra, sabe que vou te deixar sem sentar direito amanhã, não sabe?
— Já fizemos tudo que tínhamos para fazer aqui. Vamos para casa!
— Hum, temos que almoçar com todo mundo... Acalma esse pau —
pisquei.
Sexo anal não era problema para mim, mas não era algo que eu fazia com
frequência justamente porque, mesmo com todo o prazer, causava certo
desconforto. Eu havia provocado tanto o meu marido, que ele me comeu sem
dó, de quatro no chão do nosso quarto. E eu adorei cada segundo.
— Mantenha suas mãos longe de mim, seu ogro — disse assim que saí do
banheiro.
— Se você ainda está andando, não fiz direito — mostrei o dedo do meio
para ele. — Tá tão ruim assim? — ele sentou preocupado.
— É só um relaxante muscular.
Andei até a minha bolsa que estava sobre a poltrona e retirei dela a
segunda caixa de presente. Entreguei ao Alê, que permanecia sentado na cama,
e mantive-me de pé, ansiosa.
— Se você for o homem inteligente que eu acho que é, está pensando que
o nosso acordo agora tem uma cláusula vitalícia.
— Você está grávida?
— Eu vou ser pai? Vamos ter uma criança correndo pela sala? Será que
eu serei um bom pai? Será que saberei educar uma criança? — enquanto ele
pirava, eu continuava de pé, esperando ele absorver a notícia que havia me
tirado do eixo um dia atrás.
As dúvidas também pairavam sobre sim, eu não sabia se saberia ser mãe,
não tinha a menor ideia de como seria gerar uma vida...
— Será que você vai me abraçar ou já serei trocada pelo bebê? — sorri.
Ele levantou da cama em um pulo e me abraçou forte, girando comigo em seu
colo. — Estou com medo — admiti.
— Hic et nunc! — ele disse ao depositar meu corpo com carinho na cama.
— Estarei ao lado de vocês dois em cada segundo da minha vida. Me esforçarei
para ser o melhor pai e marido do mundo e se ainda não bastar, vou me
reinventar por vocês.
— Você foi a minha melhor escolha. Enquanto houver vida, serei seu —
ele repetiu a frase que eternizou em sua pele.
Eu estava no chão da sala, junto com a nossa filha de dois anos. O chão
estava repleto de brinquedos e a Tv estava ligada passando um desses musicais
chatos pra caralho que toda mãe precisa suportar por causa dos filhos.
— Ainda caem, meu amor. A diferença é que sou bem servida em casa —
ele gargalhou alto.
— Por isso não a repita — dei de ombros. — Por falar nisso, não esqueci
que você está me enrolando desde a minha gravidez...
— Vamos para a Carpe hoje? — tentei outro método — Vou como cliente,
hoje é segunda. É bem mais tranquilo.
Antes de tomar banho e me preparar para sair, liguei para o meu sócio e
sugeri que ele convidasse a esposa para ir a boate. Avisei que eu levaria o
Alexandre e que poderíamos estender a noite. Ele ficou surpreso e animado,
afirmando que avisaria a Aline assim que eu desligasse. Eu desliguei e antes que
ele tivesse tempo de discar para ela, digitei rapidamente no WhatsApp:
Amiga, é hoje! ;)
— Não farei nada que você não queira — meu sócio respondeu com um
sorriso cínico.
— A única regra é essa: não passe vontade. Somos adultos, estamos aqui
porque queremos e nos respeitamos. O que acontecer aqui, fica entre nós.
— Ouviu Alexandre? Relaxe cara, até parece que é a primeira vez que faz
sexo em grupo — Felipe disse virando o copo que eu acabava de lhe entregar.
Pelo visto ele não estava tão relaxado quando gostaria.
— Essa parte também é nova para mim, pelo menos dividi-la com um
homem — ele me deu um sorriso cúmplice, com certeza lembrando
do ménage que fizemos em seu aniversário.
— Não sou muito paciente, Aline... — avisei e ouvi a risadinha dos dois
homens que me conheciam na cama.
— Temos sorte, nossos homens sabem chupar, mas tem coisas que só
uma mulher sabe sobre a outra — sussurrei em seu ouvido — eles não
precisam saber que somos melhores nisso — ela riu enquanto eu me
posicionava.
Mas eu não podia torturá-la para sempre. Por isso, meu xeque-mate veio
na inversão, minha grande e quente língua passou a fodê-la enquanto meu
polegar massageava, em círculos impiedosos, o centro do prazer. Ela se retorceu
tentando fugir, mas meu golpe fatal durou tempo o suficiente para fazê-la gritar
e estremecer sob a minha boca. Rolando para o lado em seguida, tentando se
recuperar do orgasmo.
— Filha da puta — e com essas três palavras, ditas pelo meu tão
centrado marido, sabia que ele estava exatamente onde eu precisava que ele
estivesse: nas minhas mãos. Pronto para aceitar qualquer coisa que eu
propusesse.
— Acha mesmo que eu vou gozar tão fácil? Minha esposa me disse que
sexo em grupo é sobre compartilhar. Vamos participar daquela festinha ali... —
indicou a Aline sendo fodida de quatro.
Sempre disse que o prazer me movia e que eu conseguia lidar muito bem
com ele, isso não mudou. E o que eu testemunhava agora entre o Alexandre, a
Aline e o Felipe me causava uma indescritível sensação. E ela só se intensificou
quando o meu marido me puxou para deitar ao lado da Aline, de costas na cama.
Os meninos ficaram de pé, no chão, entre as nossas pernas e como se tivessem
ensaiado nos penetraram ao mesmo tempo. Fechei os olhos ao sentir o pau
do Alê ir até o fundo. Meu marido segurou as minhas pernas, fazendo com que
elas ficassem em seus ombros, do jeito que sabia que eu adorava. E me fodeu.
Com força. Sem pena. E eu gritei com a intensidade dos golpes. Abri os olhos ao
ouvir os gritos da Aline, posicionada de lado, enquanto o Felipe socava dentro
dela em ritmo intenso.
— No auge dos meus quarenta e dois anos, depois de uma noite de sexo
em grupo, vou fazer você engolir essa gracinha.