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O ASPECTO JURÍDICO DO ABANDONO PATERNO

Para a inicialização do contexto jurídico sob a problemática discutida, vale a análise do que
se entende sobre o conceito que rege uma estrutura familiar.

Apesar de parecer um questionamento simples, na verdade não há uma definição única,


pois são diversos os olhares da Ciência em razão da tamanha complexidade do
relacionamento humano. Não obstante, poderíamos afirmar que família é um fenômeno que
desperta o interesse de diversos campos das ciências, tal a sua importância para a
humanidade. Assim, poderíamos discorrer que família poderá ser entendida como uma
manifestação cultural ou até mesmo como fenômeno natural ao homem.

Contudo, a família sob à luz da constituição tem a observância solidária e afetiva, que
promove o desenvolvimento da personalidade e o respeito aos direitos fundamentais de
seus membros. Onde a concretização da afetividade deverá ser um pilar importante para
que seus integrantes sejam acolhidos e amados.

Quando entramos no aspecto paterno-filiais, esses princípios de acolhimento e afetividade


encontram o respaldo necessário sob a luz da própria constituição do direito à dignidade do
menor, da convivência, e da proteção integral de crianças e adolescentes. Assim sendo,
observa-se que essas orientações legislativas não são pontos a serem seguidos pela ética
ou moralidade de cada pessoa, e sim de diretrizes que pautam as relações familiares entre
os pais e seus respectivos filhos. Sendo então, merecedores de atenção especial em
decorrência justificada de serem seres humanos em desenvolvimento de personalidade.

Vejamos o artigo 1.634 do Código Civil:

Art. 1634: Compete aos pais, quanto à pessoa


dos filhos menores:
I- Dirigir-lhes a criação e a educação; II- Tê-los em
sua companhia e guarda;
III- Conceder-lhes ou negar-lhes consentimento
para casarem;
IV- Nomear-lhes tutor por testamento ou
documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobrevier, ou sobrevivo não puder exercer o poder
familiar;
V- Representar-lhes, até os dezesseis anos, nos
atos da vida civil, e assisti-los, após esta idade, nos
atos em que forem parte, suprindo-lhes
consentimento;
VI- Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
VII- Exigir que lhes prestem obediência, respeito e
os serviços próprios de sua idade e condição.

Dada a abordagem necessária para entrarmos no abandono paterno, de início, frisa-se que
o abandono afetivo parental fere vários princípios previstos na legislação vigente nesse
país, ao qual, entre eles destacam-se o da afetividade e o da dignidade da pessoa humana.
É importante destacar que o abandono paterno não é apenas uma questão legal, mas
também envolve aspectos físicos e emocionais e psicológicos para a criança.

O dano causado pelo abandono afetivo está intrinsecamente ligado à personalidade do


indivíduo. Esta se forma principalmente no seio familiar, onde a criança desenvolve
sentimentos primordiais para seu crescimento como um ser capaz de viver em sociedade.
Assim, a ausência injustificada do pai acaba por gerar a falta de afeto, proteção e cuidado,
trazendo danos à afetividade da criança, o que pode vir a ocasionar, na vida adulta, um
trauma afetivo.

Sob à luz do dever de indenizar, observa-se que o dano moral é uma categoria jurídica que
refere-se à lesão não patrimonial sofrida por uma pessoa, causando-lhe dor, sofrimento,
angústia, humilhação, ou atingindo sua dignidade de alguma forma. Ao contrário do dano
material, que envolve prejuízos financeiros diretos, o dano moral está relacionado a danos
de natureza imaterial.

Deste modo, é passível de indenização o abandono afetivo, desde que comprovado o dano
à integridade física e moral dos filhos, bem como a conduta ofensiva e o nexo de
causalidade. Contudo a análise do dano causado no que tange à ausência, neste caso a
paterna, é necessário se traçar uma análise psicológica da importância da figura paterna na
vida daquele infante.

Contudo, o abandono paterno pode ser considerado uma situação que, em alguns casos,
enseja a configuração de dano moral. O abandono paterno não envolve apenas a ausência
de suporte financeiro, mas também a negligência afetiva e a falta de envolvimento
emocional do pai na vida do filho. Nesse contexto, a vítima pode experimentar sofrimento
psicológico e emocional em decorrência do abandono, o que pode configurar dano moral.

Alguns pontos relevantes sobre o dano moral no contexto do abandono paterno incluem:

Negligência Afetiva:
O abandono paterno que resulta em negligência afetiva pode causar danos emocionais
significativos à criança. A ausência de suporte emocional e a falta de presença paterna
podem impactar o desenvolvimento emocional e psicológico da criança.

Dignidade e Autoestima:
O abandono paterno pode afetar a dignidade e a autoestima da criança, gerando
sentimentos de rejeição, abandono e desvalorização. Esses impactos podem perdurar ao
longo da vida e influenciar as relações interpessoais e a autoimagem da pessoa afetada.

Indenização por Dano Moral:


Em alguns sistemas jurídicos, é possível buscar reparação por dano moral decorrente do
abandono paterno. A jurisprudência pode reconhecer a importância da figura paterna na
vida da criança e a responsabilidade do pai em cumprir suas obrigações emocionais, além
das financeiras.

Análise Caso a Caso:


Cada caso de abandono paterno e seus efeitos sobre a criança são únicos. Os tribunais
geralmente realizam uma análise detalhada, considerando fatores como a gravidade do
abandono, a idade da criança, as circunstâncias específicas e o impacto psicológico sofrido.

Proteção dos Direitos da Criança:


Muitos sistemas jurídicos enfatizam a proteção dos direitos da criança, e o abandono
paterno que causa danos morais pode ser interpretado como uma violação desses direitos,
levando à responsabilização legal do pai ausente.

Em resumo, o dano moral no contexto do abandono paterno refere-se aos prejuízos


emocionais e psicológicos causados à criança devido à negligência afetiva e à falta de
envolvimento do pai em sua vida.

Em conclusão, o abandono paterno não se limita apenas à esfera da responsabilidade


financeira, mas também abrange a negligência afetiva, causando impactos emocionais e
psicológicos significativos na vida da criança. A ausência do pai pode resultar na
configuração de dano moral, afetando a dignidade, autoestima e desenvolvimento
emocional da vítima.

O reconhecimento legal do dano moral no contexto do abandono paterno pode variar entre
diferentes jurisdições, mas muitos sistemas jurídicos enfatizam a importância de proteger os
direitos da criança e garantir que ela receba suporte emocional adequado. A análise de
casos específicos leva em consideração fatores como a gravidade do abandono, as
circunstâncias individuais e o impacto psicológico sofrido pela criança.

A busca por reparação por dano moral no abandono paterno destaca a necessidade de
responsabilização dos pais, não apenas em termos financeiros, mas também em relação ao
cumprimento das obrigações emocionais e afetivas. A proteção dos direitos da criança é um
princípio fundamental nesse contexto, visando assegurar um ambiente saudável e propício
ao desenvolvimento integral da criança, mesmo diante da ausência paterna.

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