Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DOI: 10.1590/0103-11042019S421
RESUMO O desenho do sistema de saúde suplementar não pode ser feito de forma paralela, mas em uma
verdadeira zona de interseção com o Sistema Único de Saúde (SUS) dentro do esquadro Constitucional.
Os caminhos entre os subsistemas público e privado revelam que, apesar do movimento da Reforma
Sanitária, coexistem de forma simbiótica o SUS e o sistema suplementar, em um verdadeiro concubinato
de recursos e de pacientes, como uma resultante da estruturação do sistema de saúde em conflito com
as políticas públicas de saúde traçadas. A dimensão dos contratos privados de saúde não se exaure nas
relações entre usuários e operadoras: existe um interesse que é público, existem relações diversas, não
lineares que determinam o cuidado prestado; e, por isso, o olhar e a atuação do administrador público não
podem se limitar a verificar o equilíbrio financeiro dos contratos de saúde, mas devem alcançar e regular
a qualidade do cuidado, de forma a resguardar em todos e em cada um o interesse público neles contidos.
ABSTRACT The design of the supplementary health system cannot be done in parallel, but in a true intersection
zone with the Unified Health System (SUS), within the Constitutional scope. The paths between the public
and private subsystems reveal that, despite the Health Reform movement, the SUS and the supplementary
system coexist symbiotically, in true concubinage of resources and patients, as a result of the structuring of
the health system in conflict with the public health policies outlined. The dimension of private health contracts
is not exhausted in the relationships between users and operators: there is a public interest, there are diverse,
nonlinear relationships that determine the care provided, and therefore the look and performance of the public
administrator cannot be limited to verifying the financial equilibrium of health contracts, but must achieve
1 Tribunalde Justiça do
and regulate the quality of care to safeguard the public interest contained therein.
Estado do Rio de Janeiro
(TJRJ) – Rio de Janeiro
(RJ), Brasil. KEYWORDS Unified Health System. Financing government. Supplemental health. Health care coordination
anaazevedo@tjrj.jus.br
and monitoring.
2 Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), Escola
Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca
(Ensp), Departamento de
Epidemiologia e Métodos
Quantitativos em Saúde
(DEMQS) – Rio de Janeiro
(RJ), Brasil.
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 43, N. ESPECIAL 4, P. 256-262, DEZ 2019 meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado.
O eclipse da interseção entre público e privado: o financiamento público do subsetor privado de saúde à luz da Constituição Federal 257
Referências
1. Brasil. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Códi- saúde [internet]. Planejamento e políticas públicas.
go de Defesa do Consumidor. Dispõe sobre a prote- 1990. [acesso em 2017 out 16]; 3:139-162. Disponível
ção do consumidor e dá outras providências [inter- em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7358.
net]. Diário Oficial da União. 12 Set 1990. [acesso em
2017 set 19]. Disponível em: http://www.planalto.gov. 7. Brasil. Lei Eloy Chaves. Caixa de aposentadorias e
br/ccivil_03/Leis/L8078.htm. pensões no setor ferroviário [internet]. Brasília, DF:
Senado Federal; 1923. [acesso em 2017 out 16]. Dis-
2. Brasil. Lei nº 9.656, 3 de junho de 1998. Dispõe so- ponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/
bre os planos e seguros privados de assistência à saú- especiais/arquivo-s/primeira-lei-da-previdencia-
de [internet]. Diário Oficial da União. 4 Jun 1998. -de-1923-permitia-aposentadoria-aos-50-anos.
[acesso em 2017 set 11]. Disponível em: https://por-
tal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&vi 8. Barroso LR. Agências reguladoras. Constituição, trans-
ew=article&id=21722:lei-96561998-dispoe-sobre- formações do estado e legitimidade democrática. Rio
-os-planos-e-seguros-privados-de-assistencia-a- de Janeiro: RDA; 2002.
-saude&catid=66:leis&Itemid=34.
9. Brasil. Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe
3. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil sobre o exercício do direito de greve, define as ati-
[internet]. Brasília, DF: Senado Federal; 1988. [acesso vidades essenciais, regula o atendimento das neces-
em 2018 set. 15]. Disponível em: http://www.planal- sidades inadiáveis da comunidade, e dá outras pro-
to.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. vidências [internet]. Diário Oficial da União. 29 Jun
1989. [acesso em 2017 out 16]. Disponível em: http://
4. Sestelo JAF, Souza LEPF, Bahia L. Saúde suplemen- www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7783.htm.
tar no Brasil: abordagens sobre a articulação públi-
co/privada na assistência à saúde. Cad. Saúde Públi- 10. Binenbjoim G. Palestra: Agências Reguladoras Inde-
ca. 2013; 29(5):851-66. pendentes, TCE/RJ [internet]. 2010. [acesso em 2017
out 11]. Disponível em: www.tce.rj.gov.br/web/ecg/
5. Menicucci TMG. Público e privado na política de as- seminarios/2010/controle-externo-e-agencias-regu-
sistência à Saúde no Brasil: atores, processos e traje- ladoras-de-servicos-publicos.
tórias. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2007.
Recebido em 15/08/2019
6. Faveret Filho P, Oliveira PJ. A Universalização exclu- Aprovado em 08/11/2019
Conflito de interesses: inexistente
dente: reflexões sobre as tendências do sistema de
Suporte financeiro: não houve