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Escola de Ciências da Saúde

2005/2006

Órbita e seus conteúdos. Pares cranianos III, IV e VI

Tema de suporte prático

OBJECTIVO 1:
Identificar e descrever os componentes da órbita.

Órbita

A órbita é uma cavidade piramidal óssea do esqueleto facial com base anterior
aberta e vértice posterior e medial. Contém o globo ocular, músculos extra-
oculares, aparelho lacrimal e gordura peri-ocular. O seu interior é ainda percorrido
pelos nervos óptico (II par), oculomotor (III par), troclear (IV par), abducente (VI
par) e a divisão oftálmica do nervo trigémio (V par).
As paredes ósseas da órbita são constituídas pelos ossos frontal, zigomático e
esfenóide lateralmente; frontal, superiormente; frontal, etmóide, maxilar e lacrimal
medialmente e maxilar no seu bordo inferior.

Olho

O olho e seus componentes são discutidos na aula “Via Olfactiva. Olho e via
Óptica”.

Músculos extra-oculares

Os músculos da órbita, também designados de extra-oculares, são sete: elevador


da pálpebra superior; os quatro rectos (superior, inferior, medial e lateral);
e os dois oblíquos (superior e inferior). Todos eles são enervados pelo nervo
oculomotor (III par) exceptuando os músculos oblíquo superior, enervado pelo
nervo troclear (IV par) e recto lateral, enervado pelo nervo abducente (VI par).

Levantador da pálpebra superior

Trata-se de um pequeno
músculo, achatado,
triangular, que se
origina da face interna
da asa menor do osso
esfenóide, anterior e
superior ao canal óptico.
Tem um pequeno
tendão de inserção
posterior alargando-se
gradualmente e
passando superiormente
ao globo ocular. Termina
numa aponevrose larga
que se insere nas
cartilagens tarsais e na
pálpebra superior,

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atravessando o músculo orbicular do olho. A sua função é, como o próprio nome


indica, elevar a pálpebra superior.

Rectos

São quatro pequenos músculos em forma de fita com uma porção média larga que
se estreita num tendão posterior. Inserem-se no anel tendinoso comum em
torno das paredes superior, medial e inferior do canal óptico. Este tendão está
fortemente aderente ao periósteo adjacente e à baínha dural do nervo óptico (II
par). Cada um dos músculos dirige-se anteriormente na posição relativa ao globo
ocular indicada pelo seu nome, para se inserir na expansão tendinosa da
esclerótica, posteriormente à margem da córnea.

Oblíquo superior

Este músculo tem uma forma fusiforme e localiza-se na porção superomedial da


órbita. Origina-se no corpo do osso esfenóide superomedialmente ao nervo óptico e
à inserção tendinosa do recto superior ao nível do anel comum. Dirigindo-se
anteriormente, afunila num tendão redondo que passa num gancho
fibrocartilagíneo, a tróclea, inserida na fossa troclear do osso frontal. Existe uma
pequena bainha sinovial a separar o tendão da tróclea. O tendão é então reflectido
posterolateralmente e posterior ao músculo recto superior inserindo-se na
esclerótica ao nível do equador, no seu quadrante superolateral, entre os dois
músculos rectos superior e lateral.

Oblíquo inferior

Este pequeno músculo que se


encontra junto à margem
anterior do pavimento da
órbita, origina-se da face
orbital do osso maxilar,
lateralmente ao sulco
lacrimal. Ascende
posterolateralmente,
inicialmente entre o músculo
recto inferior e o pavimento
da órbita, e depois entre o
globo ocular e o músculo
recto lateral; insere-se na
porção lateral da esclerótica
posteriormente ao equador
no seu quadrante
inferolateral, entre os
músculos rectos inferior e lateral, próximo da inserção do músculo oblíquo superior.

Estes músculos têm uma acção coordenada por estruturas centrais, podendo
conjugar as suas acções de forma a obter o movimento desejado. Actuam também
como músculos antagonistas fixando o globo ocular de forma a permitir uma
rotação precisa e estável num determinado eixo. Resumidamente, as acções dos
músculos são como se seguem:
Recto superior – elevação, adução e rotação medial;
Recto inferior – depressão, adução e rotação lateral;
Recto lateral – abdução;
Recto medial – adução;
Oblíquo superior – abdução, depressão e rotação medial;
Oblíquo inferior – Abdução, elevação e rotação lateral.

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Aparelho lacrimal

O aparelho lacrimal compreende a glândula lacrimal, que segrega um complexo


líquido (lágrimas) que servem para lubrificar a superfície externa do globo ocular;
os dois canalículos lacrimais; o saco lacrimal e o ducto nasolacrimal, através do
qual o líquido colectado é transportado até à cavidade nasal.

A glândula lacrimal humana encontra-se superolateralmente na órbita, sendo


constituída por duas porções: uma grande e superior, orbital, e uma pequena e
inferior, palpebral, sendo que as duas são contínuas posterolateralmente. A
porção orbital aloja-se na fossa lacrimal, na face medial da apófise zigomática do
osso frontal, junto à margem orbital. A porção palpebral constituída por dois ou
três lóbulos estende-se inferiormente à aponevrose do elevador da pálpebra
superior na parte lateral da pálpebra superior. Pode ser visualizada quando se
everte a pálpebra superior.

Os canalículos lacrimais
correm no rebordo
palpebral desde os pontos
lacrimais até ao saco
lacrimal um em cada
pálpebra. Junto aos seus
ângulos dilatam-se
formando ampolas.

O saco lacrimal encontra-


se numa fossa formada
pelo osso lacrimal, apófise
frontal do osso maxilar e
pela fáscia lacrimal. É
achatado, sendo fechado
superiormente e contínuo
inferiormente com o canal
nasolacrimal; os
canalículos lacrimais
abrem-se na sua parede
lateral, superiormente.

O canal nasolacrimal já foi descrito no módulo de Sistema Musculo-Esquelético.

OBJECTIVO 2:
Identificar e descrever o trajecto do III par craniano.

Nervo oculomotor

O nervo oculomotor (III par) emerge da superfície anterior do mesencéfalo,


medialmente ao pedúnculo cerebral (na fossa interpeduncular), muitas vezes
através de múltiplas raízes que se fundem num tronco comum, passando
anteriormente entre as artérias cerebral posterior e cerebelar superior, até à
fossa craniana média na parede lateral do seio cavernoso, logo acima do nervo

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troclear (IV par). Aqui recebe alguns fascículos do plexo simpático da artéria
carótida interna e comunica com a divisão oftálmica do nervo trigémio (V
par). Divide-se em dois ramos, superior e inferior, que entram na órbita através da
fissura orbitária
superior, no
interior do anel
tendinoso
comum, junto
com os nervos
nasociliar e
abducente (VI
par). O ramo
superior ascende
lateralmente ao
nervo óptico (II
par) dividindo-se
em múltiplos
ramos que se
dirigem para os
músculos recto
superior e
elevador da
pálpebra superior.
O ramo inferior
divide-se em três
ramificações: uma, inferior ao nervo óptico, enerva o músculo recto medial; outra
atinge o recto inferior; e uma terceira que avança entre os músculos rectos inferior
e lateral terminando no músculo oblíquo inferior. Deste último ramo sai uma
ramificação com fibras motoras parassimpáticas para o gânglio ciliar. Assim, este
nervo, para além de participar na enervação dos músculos extra-oculares, vai
também controlar a constrição pupilar.

OBJECTIVO 3:
Identificar e descrever o trajecto do IV par craniano.

Nervo troclear

Sendo responsável pela enerevação do músculo oblíquo superior, o nervo


troclear (IV par) é o mais fino de todos os pares cranianos e é também o único
que emerge da face posterior do tronco cerebral. Depois das suas fibras
decussarem com as contra-laterais no interior do tronco cerebral, o nervo troclear
vai então emergir inferiormente ao colículo inferior, para se tornar lateral ao
pedúnculo cerebeloso superior e contornar o pedúnculo cerebral, logo acima
da protuberância, entre as artérias cerebral posterior e cerebelar superior;
caminhando na parede lateral do seio cavernoso, aqui encontra-se inferior ao
nervo oculomotor (III par) e acima da divisão oftálmica do nervo trigémio (V
par), comunicando com a divisão oftálmica do nervo trigémio e plexo simpático da
artéria carótida interna. Por vezes, a nível da fissura orbitária superior, emite um
ramo para o nervo lacrimal. Entra, depois, na órbita através da fissura orbitária
superior, acima do anel tendinoso comum e medialmente ao nervo frontal.
Dirige-se superiormente para enervar o músculo oblíquo superior, pela sua
superfície orbitária.

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OBJECTIVO 4:
Identificar e descrever o trajecto do VI par craniano.

Nervo abducente

O nervo abducente (VI par) é responsável pela enervação do músculo recto


lateral. As suas raízes emergem no bordo caudal da protuberância. Caminha
depois, anterolateralmente na cisterna pôntica ao longo do clivus, geralmente
dorsal à artéria cerebelar inferior. Passa lateralmente ao dorso da sela e junto ao
bordo superior do vértice da parte petrosa do osso temporal, medialmente ao
gânglio do nervo trigémio (V par). Atravessa, depois, o seio cavernoso, lateral e
paralelo à artéria carótida interna. Aqui, localiza-se no âmago do seio e não
lateralmente (o que ocorre com os III e IV pares), recebendo ramos do plexo
simpático da artéria carótida interna. Um pequeno ramo sai para comunicar com a
divisão oftálmica do nervo trigémio (V par). Entra na órbita na extremidade medial
da fissura orbitária superior, no interior do anel tendinoso comum, entre as divisões
superior e inferior do nervo oculomotor (III par) e inferolateral ao nervo nasociliar,
para atingir o músculo recto lateral pela sua superfície medial.

OBJECTIVO 5:
Descrever e compreender os movimentos imprimidos pela musculatura ocular
extrínseca.

Movimentos imprimidos pela musculatura ocular extrínseca

No que se refere à actividade voluntária, estes núcleos são controlados por fibras
provenientes da área cortical 8 do lobo frontal, que seguem a via piramidal até
atingirem os núcleos.
A actividade reflexa destes núcleos pode ser excitada por impulsos variados tais
como impulsos ópticos provenientes do nervo óptico, impulsos corticais
provenientes do lobo occipital, e ainda impulsos vestibulares através do feixe
longitudinal medial.

Os músculos recto lateral e recto medial são respectivamente abdutor e adutor do


globo ocular. A acção dos rectos superior e inferior e dos oblíquos superior e
inferior é variável de acordo com a posição do globo ocular. Quando o olho está em
adução, o eixo óptico aproxima-se do eixo dos oblíquos e os movimentos de
verticalidade são assegurados pelos músculos oblíquos: o oblíquo superior baixa o
globo, o oblíquo inferior eleva-o, enquanto que os rectos superior e inferior tornam-
se rotadores (movimentos de intorsão e extorsão em torno de um eixo antero-
posterior). Quando o olho está em abdução, o eixo óptico aproxima-se do eixo dos
rectos; o recto superior eleva o globo ocular e o recto inferior baixa-o , enquanto
que os oblíquos tornam-se rotadores.

Quando o olhar é dirigido em frente, os movimentos de verticalidade são


assegurados por dois grupos musculares: o recto superior e o pequeno oblíquo para
a elevação do olho, o recto inferior e o grande oblíquo para abaixamento do
mesmo.

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A paralisia de um músculo ocular extrínseco pode originar um estrabismo visível


quando o olhar do paciente é dirigido em frente, ou então apenas quando o olhar
do paciente tenta olhar na direcção do músculo deficitário. Frequentemente a
paralisia traduz-se apenas por uma diplopia, que pode ser horizontal (onde os
rectos medial e lateral estão envolvidos), ou vertical (onde o recto superior e
inferior ou o músculo oblíquo está envolvido). A análise desta diplopia por um
oftalmologista permite reconhecer com precisão o músculo deficitário. Uma
actividade viciosa compensatória da cabeça, adoptada para restabelecer o
paralelismo dos globos oculares, pode ser útil no diagnóstico.

Movimentos de lateralidade

A formação reticular pontina paramediana é considerada como “centro de


lateralidade”. O desvio conjugado dos olhos, por exemplo para a direita, implica a
contracção simultânea do recto medial esquerdo e do recto lateral direito. As fibras
piramidais terminam no núcleo pôntico da visão lateral. Daqui partem dois
neurónios: um que vai até ao núcleo abdutor ipsilateral e outo cruza a linha média
e vai ao núcleo oculomotor contralateral (via feixe longitudinal medial). Assim, os
dois rectos (lateral direito e medial esquerdo) vão contrair-se ao mesmo tempo.

Movimentos de verticalidade

A integração destes movimentos é assegurada pela formação reticular paramediana


mesencefálica situada na proximidade dos núcleos dos III e IV pares. Como se vê,
as fibras piramidais (neurónio motor central) não descem à protuberância pois
terminam, após cruzarem, no núcleo oculomotor (para os rectos superior e inferior
e oblíquo inferior) e no núcleo tróclear (para o oblíquo superior).
Uma lesão bilateral desta região mesencefálica ou das vias supranucleares de
origem cortical gera uma paralisia dos movimentos verticais conjugados (síndrome
de Parinaud).

Movimentos oculares conjugados

Os movimentos oculares fazem-se, normalmente, de modo conjugado. Eles devem


ser estudados em função das suas características dinâmicas (movimentos oculares
lentos e rápidos), da sua origem (reflexa, automática, voluntária), e da sua
direcção (movimentos de lateralidade, verticalidade, convergência-divergência).

Algumas páginas na internet:

http://mywebpages.comcast.net/wnor/cranialnerves.htm
http://mywebpages.comcast.net/wnor/lesson3.htm
http://mywebpages.comcast.net/wnor/lesson4.htm
www.pedseye.com/StrabSurg.htm
http://www.bae.ncsu.edu/bae/research/blanchard/www/465/textbook/otherproject
s/senses_97/floyd/vision.html

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Bibliografia geral:
th
(1) Snell RS, Clinical Neuroanatomy for medical students, 5 Ed., pág. 329-
367.

(2) Gray’s Anatomy, 38th edition. Churchill Livingstone. pps: 1227-1243; 1353-
1359; 1364-1367.

(3) Frank H. Netter, Atlas of Human Anatomy, CIBA-GEIGY Corporation.

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