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PRÁTICA

PROCESSUAL PENAL
ANDRÉ LAMAS LEITE, ADVOGADO

CURSO DE ESTÁGIO DE 2023

TURMAS 3 E 4

ANDRE.LAMAS.LEITE@GMAIL.COM
PROGRAMA

• XV – A instrução
• 1 – Finalidades, direcção e carácter facultativo
• 2 – Oportunidade de requerimento
• 3 – Legitimidade para requerer a abertura de instrução
• 4 – O requerimento de abertura de instrução
• 5 – Rejeição do requerimento
• 6 – Conteúdo da instrução: actos e debate instrutório
• 6.1 – Actos de instrução
• 6.2 – Debate instrutório

• 7 – Decisão instrutória: despacho de pronúncia ou de não pronúncia


• 8 – Nulidade da decisão instrutória
• 9 – Recurso da decisão instrutória: a irrecorribilidade face à dupla conforme
PROGRAMA

• XVI – O julgamento
• 1 – Saneamento do processo
• 2 – Despacho que designa dia para a audiência
• 3 – Contestação e rol de testemunhas:
• 3.1 – Prazo
• 3.2 – Testemunhas
• 4 – Princípios:
• 4.1 – Publicidade
• 4.2 – Contraditoriedade
• 4.3 – Continuidade da audiência
• 5 – Falta do defensor
PROGRAMA

• XVI – O julgamento (cont.)


• 6 – Falta do advogado do assistente
• 7 – Falta do assistente, de testemunhas ou de partes civis
• 8 – Exposições introdutórias
• 9 – Documentação de declarações orais
• 10 – Declarações do arguido e perguntas sobre os factos. A confissão
• 11 – Proibição de valoração de provas
• 12 – Autos e declarações de leitura permitida e proibida em audiência
• 13 – Alteração substancial e não substancial de factos no decurso da audiência
• 14 – Alegações orais; duração; conteúdo; réplica
PROGRAMA

• XVII – Sentença

• 1 – Requisitos

• 2 – Nulidade da sentença

• 3 – Correcção da sentença
PROGRAMA

• XVIII – Recursos

• 1 – Regra: recorribilidade

• 2 – Decisões que não admitem recurso

• 3 – Legitimidade e interesse em agir

• 4 – Tramitação:
• 4.1 – Subida imediata e subida diferida
• 4.2 – Subida nos próprios autos e subida em separado
• 4.3 – Efeito suspensivo do processo e efeito suspensivo da decisão recorrida

• 5 – Análise do artigo 410.º do CPP

• 6 – Interposição de recurso:
• 6.1 – Prazo
• 6.2 – Entidade a quem se dirige o requerimento de interposição de recurso
• 6.3 – Motivação do recurso:
• i) A quem se dirige
• ii) Fundamentos e conclusões articuladas
• iii) Matéria de Direito
• iv) Matéria de facto
PROGRAMA

• XVIII – Recursos (cont.)


• 7 – Resposta e respectivo prazo
• 8 – Recurso para a Relação e recurso para o STJ
• 9 – Poderes de cognição da Relação
• 10 – Relação e STJ: reenvio do processo para novo julgamento
• 11 – Relação: renovação da prova
• 12 – Relação: modificabilidade da decisão recorrida sobre matéria de facto
• 13 – Relação e STJ: audiência
PROGRAMA

• XIX - O processo sumário


• XX - O processo abreviado
• XXI - O processo sumaríssimo
• XXII – A execução das penas
• A liberdade condicional
• A antecipação da liberdade condicional
• As sanções de confinamento; meios de reacção

• XXIII – A execução das penas não privativas da liberdade


• A execução da pena de multa: o pagamento em prestações, a sua substituição por dias de trabalho ou a falta de
pagamento. Prazo
• A execução da prestação de trabalho a favor da comunidade
• O cumprimento da pena de prisão em consequência do não pagamento da multa por que aquela foi substituída
Breve alusão à organização judiciária
na vertente processual penal
• Legislação:

• LOSJ – Lei da Organização do Sistema Judiciário (Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto), com
última redacção dada pela Lei n.º 77/2021, de 23/11

• Regulamentação da LOSJ e regime aplicável à Organização e Funcionamento dos


Tribunais Judicias (Decreto-Lei n.º 49/2014, de 27 de Março), com última redacção dada
pela Lei n.º 77/2021, de 23/11
ART. 12.º (ADVOGADOS)

1 - O patrocínio forense por advogado constitui um elemento essencial na administração


da justiça e é admissível em qualquer processo, não podendo ser impedido perante
qualquer jurisdição, autoridade ou entidade pública ou privada.
2 - Para defesa de direitos, interesses ou garantias individuais que lhes sejam confiados, os
advogados podem requerer a intervenção dos órgãos jurisdicionais competentes,
cabendo-lhes, sem prejuízo do disposto nas leis do processo, praticar os actos
próprios previstos na lei, nomeadamente exercer o mandato forense e a consulta
jurídica.
3 - No exercício da sua actividade, os advogados devem agir com total independência e
autonomia técnica e de forma isenta e responsável, encontrando-se apenas vinculados
a critérios de legalidade e às regras deontológicas próprias da profissão.
ART. 13.º (IMUNIDADES DO MANDATO
CONFERIDO A ADVOGADOS)
1 - A lei assegura aos advogados as imunidades necessárias ao exercício dos actos
próprios de forma isenta, independente e responsável, regulando-os como elemento
indispensável à administração da justiça.
2 - Para garantir o exercício livre e independente de mandato que lhes seja confiado, a lei
assegura aos advogados as imunidades necessárias a um desempenho eficaz, designadamente:
a) O direito à protecção do segredo profissional;
b) O direito ao livre exercício do patrocínio e ao não sancionamento pela prática de
actos conformes ao estatuto da profissão;
c) O direito à especial protecção das comunicações com o cliente e à preservação do
sigilo da documentação relativa ao exercício da defesa;
d) O direito a regimes específicos de imposição de selos, arrolamentos e buscas em
escritórios de advogados, bem como de apreensão de documentos.
ART. 28.º (FÉRIAS JUDICIAIS)

As férias judiciais decorrem de 22 de Dezembro a 3 de Janeiro, do


domingo de Ramos à segunda-feira de Páscoa e de 16 de Julho a 31
de Agosto.
ART. 33.º
(TRIBUNAIS JUDICIAIS DE 1.ª INSTÂNCIA)
1 - Os tribunais judiciais de primeira instância incluem os tribunais de
competência territorial alargada e os tribunais de comarca.
2 - O território nacional divide-se em 23 comarcas, nos termos do anexo
ii à presente lei, da qual faz parte integrante.
3 - Em cada uma das circunscrições referidas no número anterior existe um
tribunal judicial de primeira instância.
4 - A sede, a designação e a área de competência territorial são definidas no
decreto-lei que estabelece o regime aplicável à organização e
funcionamento dos tribunais judiciais.
ART. 38.º
(FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA)
1 - A competência fixa-se no momento em que a acção se
propõe, sendo irrelevantes as modificações de facto que
ocorram posteriormente, a não ser nos casos especialmente
previstos na lei.
2 - São igualmente irrelevantes as modificações de
direito, excepto se for suprimido o órgão a que a causa estava
afecta ou lhe for atribuída competência de que inicialmente
carecia para o conhecimento da causa.
JURISPRUDÊNCIA FIXADA

- Ac. do STJ n.º 2/2017: Competindo ao Tribunal Central de Instrução Criminal


proceder a actos jurisdicionais no inquérito instaurado no Departamento Central de
Investigação Criminal para investigação de crimes elencados no art. 47.º, n.º 1, da Lei n.º
47/86, de 15/10 (Estatuto do Ministério Público) [hoje, Lei n.º 68/2019, de 27/8], por
força do art. 80.º, n.º 1, da LOFTJ, aprovada pela Lei n.º 3/99, de 13/1 [hoje, art. 120.º
da Lei n.º 62/2013, de 26/8], essa competência não se mantém para proceder à fase de
instrução no caso de, na acusação ali deduzida ou no requerimento de abertura de
instrução, não serem imputados ao arguido qualquer um daqueles crimes ou não se
verificar qualquer dispersão territorial da actividade criminosa.
ART. 39.º
(PROIBIÇÃO DE DESAFORAMENTO)

Nenhuma causa pode ser deslocada do tribunal ou juízo


competente para outro, a não ser nos casos especialmente previstos na
lei.
ART. 40.º
(COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA)

1 - Os tribunais judiciais têm competência para as causas que não sejam


atribuídas a outra ordem jurisdicional.
2 - A presente lei determina a competência, em razão da matéria, entre os
juízos dos tribunais de comarca, estabelecendo as causas que competem aos
juízos de competência especializada e aos tribunais de
competência territorial alargada.
TRIBUNAIS CRIMINAIS

- Juízos de competência especializada em processo penal:


Juízos Locais Criminais
Juízos Centrais Criminais
Juízos Locais de Pequena Criminalidade: Porto, Loures, Sintra, Cascais, Lisboa
Juízos de Instrução Criminal
- Tribunais de competência territorial alargada penal:
Tribunal Central de Instrução Criminal
Tribunais de Execução das Penas: Porto, Coimbra, Lisboa, Évora e Açores
ART. 67.º
(DEFINIÇÃO, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO)
(…) 3 - Os tribunais da Relação compreendem secções em matéria cível, em matéria penal,
em matéria social, em matéria de família e menores, em matéria de comércio [TRL], de
propriedade intelectual e de concorrência, regulação e supervisão [TRL], sem
prejuízo do disposto no número seguinte.
4 - A existência das secções social, de família e menores, de comércio, de propriedade
intelectual e de concorrência, regulação e supervisão depende do volume ou da
complexidade do serviço e são instaladas por deliberação do Conselho Superior da
Magistratura, sob proposta do presidente do respectivo tribunal da Relação. (…)
5 - Até à instalação da secção de concorrência, regulação e supervisão, as causas referidas
no artigo 112.º são sempre distribuídas à mesma secção criminal, com excepção das causas
referidas nos n.ºs 2 a 4 do artigo 112.º, que são sempre distribuídas à mesma secção cível.
(…)
ART. 81.º
(DESDOBRAMENTO)
1 - Os tribunais de comarca desdobram-se em juízos, a criar por decreto-lei, que podem ser de
competência especializada, de competência genérica e de proximidade, nos termos do
presente artigo e do artigo 130.º
2 - Os juízos designam-se pela competência e pelo nome do município em que estão instalados.
3 - Podem ser criados os seguintes juízos de competência especializada:
(…)
c) Central criminal;
d) Local criminal;
e) Local de pequena criminalidade;
f) Instrução criminal;
(…)
4 - Sempre que o volume processual o justifique podem ser criados, por decreto-lei, juízos de
competência especializada mista. (…)
ART. 82.º-B
(INQUIRIÇÃO DE RECLUSOS)
1 - Os reclusos podem prestar depoimento em qualquer inquérito ou processo judicial,
independentemente do local onde se situe o tribunal ou juízo da causa, no estabelecimento prisional
em que se encontram, através de equipamento tecnológico que permita a comunicação, por meio
visual e sonoro, em tempo real.
2 - Do disposto no número anterior excepcionam-se as situações em que:
a) O recluso assuma no processo em causa a qualidade jurídico-processual de arguido; ou
b) As audições do recluso ocorram nos processos da competência do tribunal de execução das penas.
3 - A notificação é requisitada ao director do estabelecimento prisional respectivo.
4 - No dia da inquirição, o recluso identifica-se perante o responsável da área jurídica e de execução das
penas do estabelecimento prisional.
5 - A partir desse momento, a inquirição é efectuada apenas perante o juiz da causa ou o magistrado do
Ministério Público e os advogados ou defensores.
6 - O recluso, querendo, pode ser assistido presencialmente, durante a inquirição, por
mandatário judicial.
ART. 85.º
(FUNCIONAMENTO)
1 - Os tribunais judiciais de primeira instância funcionam, consoante os casos, como
tribunal singular, como tribunal colectivo ou como tribunal de júri.
2 - Em cada juízo exercem funções um ou mais juízes de direito, excepto quando se trate
de um juízo de proximidade.
3 - Quando a lei de processo determinar o impedimento do juiz, este é substituído nos
termos do artigo seguinte.
4 - Nos casos previstos na lei, podem fazer parte dos tribunais e dos juízos juízes sociais,
designados de entre pessoas de reconhecida idoneidade.
5 - Quando não for possível a designação ou a intervenção dos juízes sociais, o tribunal é
constituído pelo juiz singular ou pelo colectivo, conforme os casos.
6 - A lei pode prever a colaboração de técnicos qualificados quando o julgamento da
matéria de facto dependa de conhecimentos especiais.
ART. 86.º (SUBSTITUIÇÃO DOS JUÍZES DE DIREITO
E DOS MAGISTRADOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO)
1 - Os juízes de direito são substituídos, nas suas faltas e impedimentos, por juiz ou
juízes de direito da mesma comarca, ainda que a respectiva área de competência
territorial a exceda, por determinação do respectivo juiz presidente, de acordo com as
orientações genéricas do Conselho Superior da Magistratura.
2 - Nos tribunais ou juízos com mais de um juiz as substituições ocorrem
preferencialmente entre si.
3 - Os juízes de direito são substituídos por determinação do Conselho Superior da
Magistratura sempre que não seja possível aplicar o regime previsto no n.º 1.
4 - O disposto nos números anteriores é aplicável, com as devidas adaptações, aos
magistrados do Ministério Público.
ART. 118.º (COMPETÊNCIA) DOS JUÍZOS
CENTRAIS CRIMINAIS)
1 - Compete aos juízos centrais criminais proferir despachos nos termos dos
artigos 311.º a 313.º do Código do Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 78/87, de 17 de Fevereiro, e proceder ao julgamento e aos termos
subsequentes nos processos de natureza criminal da competência do tribunal
colectivo ou do júri.
2 - Os juízos centrais criminais de Lisboa e do Porto têm competência para
o julgamento de crimes estritamente militares, nos termos do Código de
Justiça Militar.
ART. 119.º (COMPETÊNCIA) DOS JUÍZOS DE
INSTRUÇÃO CRIMINAL
1 - Compete aos juízos de instrução criminal proceder à instrução criminal,
decidir quanto à pronúncia e exercer as funções jurisdicionais relativas ao
inquérito, salvo nas situações, previstas na lei, em que as funções jurisdicionais
relativas ao inquérito podem ser exercidas pelos juízos locais criminais ou pelos juízos
de competência genérica.
2 - Quando o interesse ou a urgência da investigação o justifique, os juízes em
exercício de funções de instrução criminal podem intervir, em processos que lhes
estejam afectos, fora da sua área territorial de competência.
ART. 120.º
(CASOS ESPECIAIS DE COMPETÊNCIA)
1 - A competência a que se refere o n.º 1 do artigo anterior, quando a actividade criminosa ocorrer em comarcas
pertencentes à área de competência de diferentes tribunais da Relação, cabe ao tribunal central de instrução
criminal, quanto aos seguintes crimes:
a) Contra a paz e a humanidade;
b) Organização terrorista e terrorismo;
c) Contra a segurança do Estado, com excepção dos crimes eleitorais;
d) Tráfico de estupefacientes, substâncias psicotrópicas e precursores, salvo tratando-se de situações de distribuição
directa ao consumidor, e associação criminosa para o tráfico;
e) Branqueamento de capitais;
f) Corrupção, peculato, recebimento indevido de vantagem, tráfico de influência, participação económica em negócio, bem
como de prevaricação punível com pena superior a 2 anos; (Lei n.º 77/2021, de 23/11 – EV: 4/1/2022)
g) Insolvência dolosa;
h) Administração danosa em unidade económica do sector público;
i) Fraude na obtenção ou desvio de subsídio, subvenção ou crédito;
j) Infracções económico-financeiras cometidas de forma organizada, nomeadamente com recurso à tecnologia informática;
k) Infracções económico-financeiras de dimensão internacional ou transnacional.
2 - Cabe ainda ao tribunal central de instrução criminal:
a) A competência a que se refere o n.º 1 do artigo anterior, quando a actividade criminosa ocorrer no município de Lisboa;
b) A competência relativamente aos crimes a que se refere o número anterior, quando a actividade criminosa ocorrer em
comarcas diferentes dentro da área de competência do Tribunal da Relação de Lisboa. (Lei n.º 77/2021, de 23/11 – EV:
4/1/2022)
3 - Sem prejuízo do disposto na alínea b) do número anterior, a competência dos juízos de instrução criminal da sede dos tribunais
da Relação abrange a respectiva área de competência relativamente aos crimes a que se refere o n.º 1, quando a actividade
criminosa ocorrer em comarcas diferentes dentro da área de competência do mesmo tribunal da Relação. (Lei n.º 77/2021, de
23/11 – EV: 4/1/2022)
4 - Nas comarcas em que o movimento processual dos tribunais o justifique e sejam criados departamentos de investigação e
acção penal (DIAP), são também criados juízos de instrução criminal com competência circunscrita à área abrangida.
5 - A competência a que se refere o n.º 1 do artigo anterior, quanto aos crimes estritamente militares, cabe ao tribunal central de
instrução criminal e à unidade orgânica de instrução criminal militar dos juízos de instrução criminal do Porto, com jurisdição nas
áreas indicadas no Código de Justiça Militar. (Lei n.º 77/2021, de 23/11 – EV: 4/1/2022)
6 - O disposto nos números anteriores não prejudica a competência do juiz de instrução da área onde os actos jurisdicionais, de
carácter urgente, relativos ao inquérito, devam ser realizados.
ART. 121.º (JUÍZES DE INSTRUÇÃO CRIMINAL)

1 - Nas comarcas em que não haja juízo de instrução criminal, o Conselho


Superior da Magistratura pode, sempre que o movimento processual o
justifique, determinar a afectação de juízes de direito, em regime de
exclusividade, à instrução criminal. (…)
ART. 130.º (COMPETÊNCIA)

1 - Os juízos locais (…) criminais e de competência genérica possuem competência na respectiva área
territorial, tal como definida em decreto-lei, quando as causas não sejam atribuídas a outros juízos ou
tribunal de competência territorial alargada.
2 - Os juízos locais (…) criminais e de competência genérica possuem ainda competência para:
a) Proceder à instrução criminal, decidir quanto à pronúncia e exercer as funções jurisdicionais relativas ao
inquérito, onde não houver juízo de instrução criminal ou juiz de instrução criminal;
b) Fora dos municípios onde estejam instalados juízos de instrução criminal, exercer as funções
jurisdicionais relativas aos inquéritos penais, ainda que a respectiva área territorial se mostre abrangida por
esse juízo especializado; (…)
d) Julgar os recursos das decisões das autoridades administrativas em processos de contra-ordenação, salvo
os recursos expressamente atribuídos a juízos de competência especializada ou a tribunal de competência
territorial alargada;
e) Cumprir os mandados, cartas, ofícios e comunicações que lhes sejam dirigidos pelos tribunais ou
autoridades competentes;
f) Exercer as demais competências conferidas por lei.
(…) 4 - Os juízos de pequena criminalidade, possuem competência para:
a) Causas a que corresponda a forma de processo sumário, abreviado e sumaríssimo;
b) Recursos das decisões das autoridades administrativas em processo de contra-ordenação a
que se refere a alínea d) do n.º 2, quando o valor da coima aplicável seja igual ou inferior a
15.000 €, independentemente da sanção acessória.
5 - Compete aos juízos de proximidade:
a) Assegurar a realização, de acordo com o regime constante dos n.ºs 3 e 4 do artigo 82.º, das
audiências de julgamento dos processos de natureza criminal da competência do
tribunal singular;
b) Assegurar a realização das demais audiências de julgamento ou outras diligências processuais
que sejam determinadas pelo juiz competente, nomeadamente quando daí resultem vantagens
para a aquisição da prova ou as condições de acessibilidade dificultem gravemente a deslocação
dos intervenientes processuais. (…)
ARTIGO 131.º (EXECUÇÃO POR MULTAS,
CUSTAS E INDEMNIZAÇÕES)

A execução das decisões relativas a multas, custas e indemnizações previstas


na lei processual aplicável compete ao juízo ou tribunal que as tenha
proferido.
ART. 133.º (COMPOSIÇÃO) DO TRIBUNAL
COLECTIVO

1 - O tribunal colectivo é composto, em regra, por três juízes privativos.


2 - Quando se justifique, o Conselho Superior da Magistratura, ouvido o presidente do
tribunal de comarca, designa os juízes necessários à constituição do tribunal colectivo,
devendo a designação recair em juiz privativo da mesma comarca, salvo manifesta
impossibilidade.
3 - Nos juízos centrais criminais de Lisboa e do Porto há um juiz militar por cada
ramo das Forças Armadas e um pela GNR, os quais intervêm nos termos do Código de
Justiça Militar.
ART. 134.º (COMPETÊNCIA)

Compete ao tribunal colectivo julgar:

a) Em matéria penal, os processos a que se refere o artigo 14.º do


Código do Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 78/87, de 17 de
Fevereiro; (…)
ART. 135.º (PRESIDENTE DO TRIBUNAL
COLECTIVO)
1 - O tribunal colectivo é presidido pelo juiz do processo.
2 - Compete ao presidente do tribunal colectivo:
a) Dirigir as audiências de discussão e julgamento;
b) Elaborar os acórdãos nos julgamentos penais; (…)
d) Suprir as deficiências (…) dos acórdãos referidos nas alíneas anteriores,
esclarecê-los, reformá-los e sustentá-los nos termos das leis de processo;
e) Organizar o programa das sessões do tribunal colectivo;
f) Exercer as demais funções atribuídas por lei.
ART. 136.º (COMPOSIÇÃO) DO TRIBUNAL DO
JÚRI
1 - O tribunal do júri é constituído pelo presidente do tribunal colectivo, que preside, pelos
restantes juízes e por jurados.
2 - A lei regula o número, recrutamento e selecção dos jurados. (Decreto-Lei n.º 387-A/87,
de 29 de Dezembro)
- 3 juízes que compõem o colectivo
- 4 jurados efectivos e 4 suplentes
- O júri intervém na decisão das questões da culpabilidade e da determinação da sanção
- Pode ser jurado quem tiver idade inferior a 65 anos; escolaridade obrigatória; ausência de
doença ou anomalia física ou psíquica que torne impossível o bom desempenho do cargo;
pleno gozo dos direitos civis e políticos; não estarem presos ou detidos, nem em estado de
contumácia, nem haverem sofrido (…) condenação definitiva em pena de prisão efectiva
- Processo de selecção e possibilidade de recusa não fundamentada
JURISPRUDÊNCIA RELEVANTE

- Ac. do TC n.º 398/2020: Julga inconstitucional a norma do n.º 3,


com referência ao n.º 2, do art. 10.º do Decreto-Lei n.º 387-A/87, de
29/12, enquanto estabelece que incorre na pena de prisão até dois
anos ou multa até 200 dias quem, sem justa causa, se recusar a
responder ao inquérito, por violação do disposto na al. c) do n.º 1 do
art. 165.º da CRP.
[A lei de autorização legislativa n.º 39/87, de 23/12 não se referia à criação de qualquer
regime sancionatório]
ART. 10.º DO DECRETO-LEI N.º 387-A/87, DE
29/12
• Artigo 10.º (Inquérito para determinação dos requisitos de capacidade)
1 - Apurado, em resultado de sorteio a que se refere o número anterior, o número de 100
pessoas, o juiz manda-as notificar para, no prazo de cinco dias, responderem a inquérito,
constante de modelo aprovado por portaria do Ministro da Justiça, destinado a saber se as
mesmas preenchem os requisitos de capacidade indispensáveis para o desempenho da
função, previstos no capítulo II do presente diploma.
2 - As falsas declarações prestadas na resposta ao inquérito a que alude o número anterior
são punidas com prisão até dois anos ou multa até 200 dias.
3 - Na pena referida no número anterior incorre quem, sem justa causa, se recusar a
responder ao inquérito. (…)
AO NÍVEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

• Desde 1/1/2020: Procuradorias Regionais e deixa de existir a categoria de procurador-adjunto


(EMP: Lei n.º 68/2019, de 27/8)
• Em comarcas de elevado volume processual podem ser criados departamentos de
investigação e acção penal (art. 71.º, n.ºs 1 e 2 do EMP)
• Nos termos do DL n.º 49/2014, de 27/3 e da Portaria n.º 162/2014, de 21/8, existem DIAPs
em todas as 23 comarcas, de entre elas:
• Açores: com sede em Ponta Delgada e secções em Angra do Heroísmo, Horta, Ponta
Delgada, Praia da Vitória, Ribeira Grande, Santa Cruz da Graciosa, Santa Cruz das Flores, São
Roque do Pico,Velas,Vila do Porto,Vila Franca do Campo.
• Aveiro: com sede em Aveiro e secções em Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Arouca, Aveiro,
Castelo de Paiva, Espinho, Estarreja, Ílhavo, Mealhada, Oliveira de Azeméis, Oliveira do Bairro,
Ovar, Santa Maria da Feira, São João da Madeira,Vagos, Vale de Cambra.
AO NÍVEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

• Braga: com sede em Braga e secções em Amares, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Esposende,
Fafe, Guimarães, Póvoa do Lanhoso,Vieira do Minho,Vila Nova de Famalicão,Vila Verde.
• Coimbra: com sede em Coimbra e secções em Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz,
Lousã, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Penacova, Tábua.
• Évora: com sede em Évora e secções em Évora, Estremoz, Montemor-o-Novo, Redondo, Reguengos de Monsaraz,Vila
Viçosa.
• Faro: com sede em Faro e secções em Albufeira, Faro, Lagos, Loulé, Olhão, Portimão, Silves, Tavira,Vila Real de Santo
António.
• Leiria: com sede em Leiria e secções em Alcobaça, Caldas da Rainha, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande,
Nazaré, Peniche, Pombal, Porto de Mós.
• Lisboa: com sede em Lisboa e secções em Almada, Barreiro, Lisboa, Moita, Montijo, Seixal.
• Lisboa Norte: com sede em Loures e secções em Alenquer, Loures, Lourinhã, Torres Vedras,Vila Franca de Xira.
• Lisboa Oeste: com sede em Sintra e secções na Amadora, Cascais, Mafra, Oeiras, Sintra.
AO NÍVEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

• Madeira: com sede no Funchal e secções na Ponta do Sol, Porto Santo, Santa Cruz, Funchal.
• Porto: com sede no Porto e secções em Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim,Vila do
Conde, Santo Tirso,Valongo,Vila Nova de Gaia.
• Porto Este: com sede em Penafiel e secções em Amarante, Baião, Felgueiras, Lousada, Marco de
Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel.
• Santarém: com sede em Santarém e secções em Abrantes, Almeirim, Benavente, Cartaxo, Coruche,
Entroncamento, Ourém, Rio Maior, Santarém, Tomar, Torres Novas.
• Setúbal: com sede em Setúbal e secções em Grândola, Santiago do Cacém, Sesimbra, Setúbal.
• Viana do Castelo: com sede em Viana do Castelo e secções em Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço,
Monção, Ponte da Barca, Ponte de Lima,Valença,Viana do Castelo,Vila Nova de Cerveira.
• Viseu: com sede em Viseu e secções em Cinfães, Lamego, Mangualde, Moimenta da Beira, Nelas, Santa
Comba Dão, São Pedro do Sul, Sátão, Tondela,Viseu.
CODIFICAÇÃO DOS TRIBUNAIS

• Portaria n.º 1223-A/91, de 30 de Dezembro, com a última redacção dada pela Portaria n.º
94/2021, de 29/4
• Alguns exemplos:
• Porto: PRT
• Gondomar: GDM
• Maia: MAI
• V. N. de Gaia: VNG
• Valongo: VLG
• Matosinhos: MTS
• Paredes: PRD
• Felgueiras: FLG
• Penafiel: PNF
CODIFICAÇÃO DOS TRIBUNAIS

• Braga: BRG
• Guimarães: GMR
• Amares: AMR
• Espinho: ESP
• Vila do Conde:VCD
• Póvoa de Varzim: PVZ
• Arouca: ARC
• Paços de Ferreira: PFR
• Amarante: AMT
DCIAP (ART. 57.º DO EMP)

1 — O DCIAP é um órgão de coordenação e de direcção da investigação e de prevenção


da criminalidade violenta, económico-financeira, altamente organizada ou de especial
complexidade.

2 — O DCIAP é dirigido por um procurador-geral-adjunto, nele exercendo também


funções outros procuradores-gerais-adjuntos e procuradores da República.
DCIAP (COMPETÊNCIA: ART. 58.º DO EMP)

1 — Compete ao DCIAP coordenar a direcção da investigação dos seguintes crimes:

a) Violações do direito internacional humanitário; (Lei n.º 31/2004, de 22 de Julho)

b) Organização terrorista e terrorismo; (Lei n.º 52/2003, de 22 de Agosto)

c) Contra a segurança do Estado, com excepção dos crimes eleitorais;

d) Tráfico de pessoas e associação criminosa para o tráfico;

e) Tráfico internacional de estupefacientes, substâncias psicotrópicas e precursores de droga e associação criminosa para o tráfico;

f) Tráfico internacional de armas e associação criminosa para o tráfico;

g) Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo;

h) Corrupção, recebimento indevido de vantagem, tráfico de influência, participação económica em negócio, bem como de prevaricação punível com pena superior a dois anos;

i) Administração danosa em unidade económica do sector público;

j) Fraude na obtenção ou desvio de subsídio, subvenção ou crédito;

k) Infracções económico-financeiras cometidas de forma organizada, nomeadamente com recurso à tecnologia informática;

l) Infracções económico-financeiras de dimensão internacional ou transnacional;

m) Crimes de mercado de valores mobiliários;

n) Crimes previstos na lei do cibercrime. (Lei n.º 109/2009, de 15 de Setembro)


2 — Compete ao DCIAP dirigir o inquérito e exercer a acção penal relativamente aos
crimes indicados no n.º 1 em casos de especial relevância decorrente da manifesta
gravidade ou da especial complexidade do crime, devido ao número de arguidos ou de
ofendidos, ao seu carácter altamente organizado ou às especiais dificuldades da investigação,
desde que este ocorra em comarcas pertencentes a diferentes procuradorias-gerais
regionais.
3 — Precedendo despacho do Procurador-Geral da República, compete ainda ao DCIAP
dirigir o inquérito e exercer a acção penal quando, relativamente a crimes de manifesta
gravidade, a especial complexidade ou dispersão territorial da actividade criminosa
justificarem a direcção concentrada da investigação. (…)
ANEXO I (A QUE SE REFERE O N.º 1 DO ART.
32.º)
Tribunal da Relação de Guimarães
Área de competência:
Comarcas: Braga, Bragança,Viana do Castelo e Vila Real

Tribunal da Relação do Porto


Área de competência:
Comarcas: Aveiro, Porto e Porto Este

Tribunais de competência territorial alargada: Tribunal de Execução das Penas do


Porto
ANEXO II (A QUE SE REFERE O N.º 2 DO ART.
33.º)
Comarcas (23):
- Açores (Ponta Delgada)
- Aveiro (Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Arouca, Aveiro, Castelo de Paiva, Espinho,
Estarreja, Ílhavo, Mealhada, Murtosa, Oliveira de Azeméis, Oliveira do Bairro, Ovar, Santa
Maria da Feira, São João da Madeira, Sever do Vouga,Vagos e Vale de Cambra)
- Beja
- Braga (Amares, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Esposende, Fafe,
Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro,Vieira do Minho,Vila Nova de Famalicão,
Vila Verde e Vizela)
- Bragança (Alfândega da Fé, Bragança, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Macedo
de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Vila Flor,Vimioso e
Vinhais)
- Castelo Branco; Coimbra; Évora; Faro; Guarda; Leiria; Lisboa; Lisboa Norte (Loures); Lisboa
Oeste (Sintra); Madeira (Funchal); Portalegre
- Coimbra
- Évora
- Faro
- Guarda
- Leiria
- Lisboa
- Lisboa Norte (Loures)
- Lisboa Oeste (Sintra)
- Madeira (Funchal)
- Portalegre
- Porto (sede - Porto: Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso,
Trofa,Valongo,Vila do Conde e Vila Nova de Gaia);
- Porto Este (sede - Penafiel: Amarante, Baião, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses,
Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel)
- Santarém
- Setúbal
- Viana do Castelo (sede – Viana do Castelo: Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço,
Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima,Valença,Viana do Castelo e
Vila Nova de Cerveira)
- Vila Real (sede – Vila Real: Alijó, Boticas, Chaves, Mesão Frio, Mondim de Basto,
Montalegre, Murça, Peso da Régua, Ribeira de Pena, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião,
Valpaços,Vila Pouca de Aguiar e Vila Real)
- Viseu
ANEXO III (A QUE SE REFERE O N.º 4 DO ART.
83.º)
• Tribunal de Execução das Penas do Porto: comarcas de Aveiro,
Braga, Bragança, Porto, Porto Este,Viana do Castelo e Vila Real
• Tribunal da Propriedade Intelectual (sede: Lisboa; área de
competência: território nacional)
• Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (sede: Santarém;
área de competência: território nacional)
• Tribunal Central de Instrução Criminal (sede: Lisboa; área de
competência: território nacional)
DECRETO-LEI N.º 49/2014 – MAPAS ANEXOS

- Juízo Central Criminal do Porto (Gondomar,Valongo e Porto)

- Juízo Local Criminal do Porto (Porto)

- Juízo Local de Pequena Criminalidade do Porto (Porto)

- Juízo de Instrução Criminal do Porto (Gondomar,Valongo,Vila Nova de Gaia e


Porto)
ELABORAÇÃO DE QUEIXA-CRIME

• Cabeçalho/endereço – pressuposto processual da competência


• Intróito – indicação do ofendido(s) e do agente(s) do crime(s)
• Se crime particular: requerimento de constituição como assistente
• Corpo
• Dos factos
• Do Direito – cuidados a ter
• Manifestação do desejo de deduzir pic no momento oportuno (art. 75.º, n.º 2)

• Conclusão/pedido
• Juntada
• Assinatura do mandatário ou do ofendido – vantagens e desvantagens
• Formas de remessa da queixa

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