Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo

2022/2023-Filosofia 11º ano

O Dogmatismo

Trabalho realizado por:

Bárbara Gameiro nº 3;

Íris Silvério nº15;

Mafalda Lopes nº 22;

Maria Dias nº 24.

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- Introdução:

- Apresentação do tema:

O dogmatismo é um termo abrangente que diz respeito tanto ao pensamento científico, à

filosofia e à religião, quanto à conduta em relação ao conhecimento e à vida. É possível

afirmar que o dogmatismo faz parte da racionalidade e é o método comum para guiar as

investigações dos fenómenos, bem como as teorias sobre o que os provoca. Esta corrente

filosófica é constituída por dois processos encadeados: sendo o primeiro a promoção de uma

resposta a uma questão estabelecendo a razão; e o segundo, assegurar a adesão a essa razão

estabelecida, incondicionalmente.

- Formulação do problema:

O dogmatismo surge da palavra grega "dogma" que é uma verdade indiscutível,

inquestionável e irrefutável. Devido a este facto, remete para o problema do conhecimento,

isto é, se a obtenção de conhecimento é possível e se esta realmente existe. A abordagem

dogmática a este problema baseia-se no facto que é possível a existência de uma verdade

absoluta que pode ser aceite sem questionamentos, ou seja, esta corrente filosófica aprisiona

o conhecimento e impede o seu avanço. Um dos exemplos ilustrativos da forma como esta

postura, em relação ao conhecimento, aprisiona o conhecimento é no caso da defesa da teoria

geocêntrica, por parte da Igreja Católica, devido aos dogmas impostos pela Bíblia. Foram

estes que impediram o reconhecimento da teoria heliocêntrica como verdadeira, durante

vários séculos, e induziram a perseguição de cientistas participantes na corroboração desta

teoria, inicialmente proposta por Nicolau Copérnico. Apesar de o dogmatismo apresentar

várias vertentes diferentes da dos dogmas da religião, é impossível não nos questionarmos se

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esta será a abordagem correta para o problema do conhecimento ou a compararmos com a

abordagem cética que defende, precisamente o contrário, que é impossível que o ser humano

chegue à verdade. No final destas reflexões prevalecem sempre as mesmas dúvidas: (1)“Será

o dogmatismo uma falácia?”, (2)“Será o dogmatismo uma postura moralmente correta?”,

(3)“Será possível chegar a uma verdade absoluta e consequentemente ao conhecimento?”.

São estas perguntas que procuramos responder com a realização deste trabalho, bem como

dar uma breve explicação acerca da origem do dogmatismo e dos autores mais relevantes na

defesa da teoria.

- Tese defendida pelo grupo:

Relativamente ao problema anteriormente apresentado, o grupo defende uma posição contra

o dogmatismo, isto é, não acreditamos que este seja correto. Na formulação do problema do

mesmo, conseguimos observar que pelo facto de haver apenas uma verdade, “proíbe-se” a

evolução e desencoraja-se a procura do desenvolvimento do conhecimento.

- Importância/interesse do tema

Consideramos o dogmatismo importante e interessante devido aos vários impactos, sejam

estes positivos ou negativos, que provoca em diferentes contextos. Por um lado, o

dogmatismo pode fornecer um forte sentido de convicção e de propósito que ajuda os

indivíduos ou grupos a defender suas crenças e alcançar seus objetivos, como também em

algumas profissões como as das áreas militar de serviços de emergência, nas quais ações

inequívocas e decisivas são frequentemente necessárias. Por outro lado, esta postura em

relação ao conhecimento pode ser prejudicial, já que pode levar à intolerância, a uma mente

fechada e a uma falta de disposição a considerar outras perspectivas ou provas. Para além

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disso, como mencionado anteriormente, este pode constituir uma barreira ao progresso e à

inovação, pois desencoraja a experimentação. Por fim, outra das razões seria o facto de este

ser um fenómeno presente em diferentes indivíduos e grupos de diferentes culturas,

ideologias e épocas. Estudar este fenómeno constitui uma contribuição para a melhor

compreensão do porquê dos indivíduos terem determinadas atitudes ou crenças e de que

forma estas podem influenciar o comportamento e as ações.

Desenvolvimento

- Explicitação da teoria:

O Dogmatismo remete para um período histórico antigo. Tal como previamente exposto, o

nome da doutrina filosófica é originário do grego "dogma", que tem como significado

“opinião”, "princípio", ou “o que se pensa ser verdade”. Do ponto de vista cético, um

dogmático é aquele que afirma verdades que podem não ser corretas. Immanuel Kant (1724 -

1804) foi o primeiro a utilizar o termo “dogmático” como algo pejorativo, dentro da filosofia,

na sua obra “Crítica da Razão Pura”. Por outro lado, dentro da filosofia, o dogmatismo

declara a existência de verdades absolutas, todavia busca meios para as alcançar.

Normalmente, recorre-se à reflexão constante e ao debate, ou seja, não implica uma aceitação

cega ou a ausência de questionamento. O dogmatismo pode ser exposto como: parte do

realismo, isto é, uma atitude inocente que permite a possibilidade de conhecer as coisas em

toda a sua verdade e também a realidade deste conhecimento na função diária e direta com as

coisas; como confiança absoluta numa certa fonte de conhecimento (ou suposto

conhecimento), sendo que essa fonte na maior parte das vezes é a razão; como uma sujeição

total a determinados valores ou à autoridade que os impõe ou anuncia. Este sentido comporta

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os dois primeiros aspectos abordados, porque é um comportamento adotado graças ao

problema da possibilidade do conhecimento.

Podemos interpretar o dogmatismo de três maneiras distintas (tipos de dogmatismo), sendo

uma delas - dogmatismo racional - é o dogmatismo praticado pela filosofia que acredita na

possibilidade de se alcançar verdades absolutas, onde se pode aceitar qualquer tipo de

conhecimento sem questionamento algum, se o mesmo for baseado em princípios. De seguida

- dogmatismo religioso - exerce fidelidade à bíblia e ao poder das suas palavras, ou seja,

tudo o que se diz na sagrada escritura e que é declamado pelos padres e os restantes

representantes de Deus na terra é uma verdade absoluta que não pode ser questionada. E por

fim o - dogmatismo ingénuo - são todas as posições que assumimos no nosso quotidiano que

têm origem numa primeira impressão ou em dogmas aceitos sem nenhuma atitude crítica, ou

seja, conhecimentos que não temos provas científicas mas foram passados de geração em

geração como verdades absolutas, por exemplo, “Não abras o chapéu de chuva dentro de casa

que dá azar”.

Com as perguntas estabelecidas, na introdução podemos concluir que (1) um argumento

dogmático é uma falácia devido ao facto de usar uma opinião como fundamento para

sustentar a sua posição. Esta postura constitui um erro de lógica pois esta requer evidências

que não podem ser obtidas através de uma opinião pessoal. (2) O dogmatismo pode ser visto

como moralmente problemático porque pode levar a uma mente fechada, intolerância, falta

de empatia por aqueles que têm crenças diferentes. Além disso, pode levar a uma falta de

pensamento crítico, onde as pessoas aceitam cegamente as crenças que lhes são apresentadas,

e podem se tornar suscetíveis de manipulação e mal entendidos. (3) O conceito de "verdade

absoluta" é um assunto de muito debate entre filósofos e cientistas. Alguns argumentam que

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existem certas verdades objetivas que existem independentemente da percepção ou

interpretação humana, enquanto outros argumentam que todo o conhecimento é relativo. Em

metafísica e epistemologia, vários filósofos argumentam que pode haver uma forma de

conhecimento que não é provisória, mas é absoluta, mas é um debate complexo com muitas

perspectivas. É importante ter em mente que conhecimento não é o mesmo que crença. O

conhecimento é baseado em evidências e razão, enquanto a crença é baseada na fé e na

intuição. Pode-se acreditar que algo é verdadeiro sem ter conhecimento ou evidência para

isso.

- Autores mais relevantes da teoria:

Como podemos perceber, o dogmatismo não é uma doutrina recente, e já desde a

antiguidade clássica surgiram diversos filósofos que defenderam a capacidade dos seres

humanos de atingirem a verdade absoluta, tais como, René Descartes, filósofo e matemático

francês, conhecido pela sua certeza, "Cogito, ergo sum" ("Penso, logo existo"). Os seus

pensamentos deram ênfase ao poder da razão e da dúvida, como meio de alcançar a certeza o

que motivou ao estudo do dogmatismo. Immanuel Kant, filósofo alemão, conhecido pela

sua crítica filosófica (onde o mesmo colocou a própria razão e as possibilidades reais de

conhecimento em questão, isto é, em vez de questionar como eu conheço os objetos,

perguntou se o próprio conhecimento é possível) este foca-se nos limites do conhecimento

humano e da natureza da moralidade. O dogmatismo racionalista defendia a total confiança

na razão como meio de chegar a verdades seguras, contudo Kant ao criticar a razão,na sua

obra “Crítica da Razão Pura”, o filósofo faz uma oposição entre o criticismo, o dogmatismo e

o empirismo que se diferencia por reduzir o conhecimento à experiência.. De acordo com

Kant, o dogmatismo “é, pois, o procedimento dogmático da razão sem uma crítica prévia da

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sua própria capacidade” (Kant 56)1, ou seja, é o ato de admissão de um conhecimento sem

procurar se este é realmente verdadeiro ou não. Assim sendo a sua crítica ao dogmatismo teve

um impacto significativo na filosofia e na epistemologia além de alertar a nossa sensatez ao

que assimilamos ser uma verdade (absoluta) ou não.

Tal como Descartes e Kant, Søren Kierkegaard foi um filósofo impactante nesta doutrina

dogmática e teólogo dinamarquês, conhecido pela sua filosofia existencialista e cristã,

enfatizou numa das suas obras a importância da escolha individual da fé,experiência subjetiva

e a ideia que o verdade tanto pode ser objetiva quanto subjetiva, com isto a sua crítica ao

dogmatismo influenciou os campos da teologia e dos estudos religiosos. Outro dos filósofos

foi Friedrich Nietzsche, filósofo e crítico cultural alemão, que ficou conhecido após a sua

crítica à moralidade tradicional e ao conceito de "super-homem" (para Nietzsche este

conceito ocorre quando o homem é aquele que vence o niilismo - o que consiste numa atitude

de negação ou descrença absoluta em relação a princípios, sejam eles religiosos, morais,

políticos ou sociais - ,supera a forma homem, velha e desgastada, derrota todos os

humanismos e toda a cultura que o prende em si mesmo). Friedrich Nietzsche foi um dos

mais notáveis críticos da fé na Ciência cultivada durante o período Iluminista. Este filósofo

argumenta que o dogmatismo na ciência moderna constitui um perigo para a filosofia e um

promotor do niilismo, do qual a humanidade necessita de ser salva urgentemente. O

dogmatismo ao qual este se refere é a crença dos estudiosos, de todas as áreas, que a criação

de valores é impossível e do seu espírito objetivo científico que pretende impor o método

científico a todos os aspetos da vida humana. Com as suas diversas obras foi influente nas

áreas da filosofia, psicologia e teoria literária, dado que a sua crítica ao dogmatismo teve

repercussões no estudo da natureza humana e da natureza da crença. Finalmente, David

1 Kant, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Translated by Alexandre Fradique Morujão, Serviço de
Educação, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.

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Hume, filósofo e historiador escocês, conhecido pelo seu ceticismo e empirismo, elaborou

um trabalho que foi bastante influente nos campos da filosofia e da psicologia. O seu

argumento cético defende que a experiência é a base de todo o conhecimento, este foi tão

convincente que despertou Kant do seu "sono dogmático". A sua crítica ao dogmatismo

afetou o estudo do raciocínio humano e da natureza do conhecimento.

Foram apresentados anteriormente alguns dos autores mais importantes sobre o

dogmatismo. Existem muitos outros autores, filósofos e pensadores que contribuíram para o

estudo do dogmatismo ao longo dos tempos, embora muitos tenham criticado o dogmatismo

como uma abordagem fechada e inflexível ao conhecimento. Existem também alguns autores

que defendem ou defenderam o dogmatismo em certos contextos, nomeadamente, Tomás de

Aquino - teólogo e filósofo católico do século XIII, conhecido por sua Suma Teológica, onde

Santo Aquino trata da natureza de Deus, das questões morais e da natureza do homem, além

de argumentar que as mesmas podem ser reconhecidas por meio da razão e da revelação, e

que essas verdades devem ser aceitas como dogmas ou artigos de fé. Bem como Tomás de

Aquino, Blaise Pascal, um filósofo, matemático e teólogo francês do século XVII, conhecido

pelos seus Pensamentos, argumenta que a mente humana é limitada e incapaz de

compreender os mistérios da fé, e que é preciso dar um "salto de fé" e aceitar certos dogmas,

já que na lógica do mesmo é mais vantajoso para cada um de nós acreditar em Deus do que

não acreditar.

Mais recentemente, já no século 20, existiram alguns filósofos a abordarem o dogmatismo,

nomeadamente, G.K. Chesterton, um escritor britânico, conhecido pelos seus ensaios,

romances e poesias. O mesmo contestou que uma sociedade saudável precisa de certos

dogmas ou artigos de fé para fornecer um senso de significado e propósito, além da rejeição

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do dogmatismo levar a uma sociedade niilista, ou seja, que se reduz a nada e nega todo o

princípio religioso político e social, além de consequentemente se tornar relativista. Ainda

assim, C.S. Lewis que foi também um escritor britânico, conhecido pela sua apologética

cristã (defesa da religião cristã contra o ataque de seus adversários) e a sua defesa da

moralidade tradicional, esclarece que certos dogmas ou artigos de fé são necessários para

uma vida significativa e gratificante, e que a rejeição do dogmatismo leva a uma existência

superficial.

Como podemos ver nos parágrafos anteriores e, nos quais é importante destacar que as obras

desses autores não estão apenas a sustentar o dogmatismo como uma atitude inflexível, mas

estão, do mesmo modo, a defender a importância de ter certos princípios, valores ou verdades

que formam o fundamento das nossas crenças e ações sendo que estes também podem

argumentar que, esses tais princípios e valores devem ser questionados, contudo, em última

análise, devem ser mantidos com convicção.

- Conclusão

Em conclusão, com este trabalho, podemos perceber que pensar no conceito de dogmatismo

também implica refletirmos sobre o problema do conhecimento e o seu possível alcance. A

abordagem dogmática fundamenta-se no facto de o ser humano ser capaz de alcançar o

conhecimento, isto é, a existência de uma verdade absoluta que pode ser aceite sem

questionamentos. Assim, esta corrente filosófica detém o conhecimento, evita o seu avanço e

estimula, em certos casos, atitudes de intolerância e de falta de disposição para a

compreensão e consideração de pontos de vista diferentes. Este facto juntamente com outros

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apresentados na secção de “explicitação do tema” do nosso trabalho, guiaram-nos à

conclusão de que o dogmatismo não é uma postura moralmente nem logicamente correta.

A experiência da realização deste trabalho foi desafiante e exigiu a colaboração, esforço e

empenho de todos os membros do grupo, a fim de fazer a pesquisa de dados necessária de

forma eficiente e produzir a melhor compilação e contextualização do mesmo. Possibilitou

também a melhor compreensão do dogmatismo em vários aspectos complementando os

nossos conhecimentos, já existentes, na área da filosofia, mas também fomentou o

desenvolvimento do nosso espírito crítico ao refletirmos sobre a relevância e moralidade do

tema.

- Webgrafia:

https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/dogmatismo.htm

https://descomplica.com.br/artigo/exemplos-e-tipos-de-dogmatismo/6zf/

https://conceitosdomundo.pt/dogmatismo/

https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/religiao/ceticismo

Significado de Dogmatismo (O que é, Conceito e Definição) - Significados

https://www.studysmarter.us/explanations/english/rhetoric/dogmatism/

https://albertellis.org/2014/03/the-dangers-of-dogmatism/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5395528/

https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$dogmatismo

https://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/dogmatismo.html

https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/dogmatismo.htm

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Tolerance and `Dogmatism' in Morals on JSTOR

https://www.sciencedaily.com/releases/2017/07/170726103017.htm

https://www.psychologytoday.com/us/blog/out-the-darkness/201412/dogmatic-and-spiritual-
religion

https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/dogmatismo.htm

https://voegelinview.com/the-democratic-impulse-of-the-scholars-in-nietzsches-beyond-
good-and-evil/

- Bibliografia:

Kant, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Translated by Alexandre Fradique Morujão,

Serviço de Educação, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.

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