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º 198/85
2.ª Secção.
5 — Claro que — restará dizê-lo para terminar — contra tal conclusão não
valerá invocar qualquer eventual interesse dos sócios em manterem reservado a si
próprios (ou aos administradores por eles designados ou nomeados no pacto social) o
conhecimento da correspondência da sociedade — em vista, designadamente, da
preservação de segredos de indústria ou comércio relativos à actividade da empresa. A
verdade é que, constituída uma sociedade, tais segredos são-no desta última, que não dos
respectivos sócios (ainda que a algum ou alguns destes pudessem inicialmente
pertencer) — são, por outras palavras, elementos integradores do aviamento da empresa
social. Assim, relativamente à preservação dos mesmos, só o interesse da sociedade,
titular da empresa, e não qualquer outro, pode assumir relevo, para o efeito de acautelá-
lo através do direito da sociedade — pois apenas este está em causa — ao sigilo da sua
correspondência. Tal interesse e tal direito, porém, não podem dizer-se postergados,
como se viu, pelo acesso do administrador da massa falida a essa correspondência.
Por outro lado, e por último, também não valerá invocar, contra a conclusão
a que se chegou, o facto de ao administrador da massa dever ser entregue toda a
correspondência dirigida à sociedade, e não apenas a que tenha a ver com o objecto e a
actividade sociais — isto é, com o «comércio» exercido por aquela. É que, por força da
própria natureza e função da personalidade colectiva e do «princípio da especialidade»
das pessoas colectivas, a distinção a que se alude não tem qualquer sentido quanto a
estas pessoas, em geral, e quanto às sociedades comerciais, em particular; por definição,
toda a correspondência das sociedades é correspondência social, ou comercial. Tal
distinção só terá cabimento quanto aos comerciantes em nome individual — é dizer, aos
falidos singulares.