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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

I. APARELHO CARDIOVASCULAR

1.HIPERTENSÃO ARTERIAL: Hipertensão arterial é a elevação crónica da pressão arterial para


valores ≥ 140 mmhg da sistólica e/ou ≥ 90 mmhg da diastólica. Hipertensão arterial é uma doença
crónica determinada por elevados níveis de pressão sanguínea nas artérias, o que faz com que o coração
tenha que exercer um esforço maior do que o normal para fazer circular o sangue através dos vasos
sanguíneos. Sinais e sintomas: Dores de cabeça sobretudo na occipital (parte posterior da cabeça) e
durante a manhã, assim como vertigens, zumbidos, distúrbios na visão ou mesmo episódios de
desmaio.TRATAMENTO:

1ª Linha: Diurético tiazídico e poupador de potássio: HIDROCLORTIAZIDA comprimidos de 50


mg ½ comprimido + AMILORIDO comprimidos de 5 mg ½ comprimido. Existe o AMILORIDO
COMPOSTO (associação de hidroclortiazida de 50 mg e amilorido de 5 mg) que se deve iniciar com ½
comprimido por dia. Quando usar os diuréticos de ansa (FUROSEMIDA)? Em pacientes com HTA e
Insuficiência renal, Insuficiência cardíaca com edemas, ou ainda se suspeitar que a terapêutica anti-
hipertensiva provoque retenção de líquidos FUROSEMIDA de 40 mg: Iniciar com ½ Comprimido/dia
por via oral, e ir aumentando até 4 comprimidos de 12 em 12 horas.

2ª Linha: Diurético + Bloqueador dos canais de cálcio (AMLODIPINA ou NIFEDIPINA). Na


ausência de Bloqueador dos canais de cálcio, pode-se usar um anti-adrenérgico central (METILDOPA);
AMLODIPINA, comprimidos de 10 mg. Iniciar com 5 mg/dia por via oral, aumentar após 10-14 dias
para um máximo de 10 mg/dia (dose única). NIFEDIPINA, comprimidos de acção prolongada, 30 mg
por via oral. Iniciar com 1 comprimido (30 mg), podendo aumentar em caso de não controlo da tensão
arterial para 2 comprimidos (60 mg) em dose única diária. METILDOPA 250 mg comp. De 125 mg de
12/12h até dose máxima de 1g de 8/8h.
3ª Linha: Diurético + Bloqueador dos canais de cálcio (ou anti-adrenérgico central) + beta-
bloqueador (PROPRANOLOL ou ATENOLOL– sendo este último de nível do superior ao TMG mas
que pode estar disponível na ausência do PROPRANOLOL). PROPRANOLOL, comp de 40 mg. 20 a
40 mg 12/12h por via oral, podendo aumentar se paulatinamente até 360mg divididos em duas ou três
tomas.
4ª Linha (1ª Linha para os Diabéticos): Os inibidores da enzima de conversão (IECA), como o
CAPTOPRIL ou o ENALAPRIL devem constituir a 4ª linha, excepto se houver já um quadro de
insuficiência cardíaca ou se o doente for diabético, situação em que se pode administrar estes fármacos
associados aos diuréticos tiazídicos como primeira linha.
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NB: Para mulher grávida trata-se com METILDOPA, HIDRALAZINA depois anti-cálcicos e beta
bloqueadores, nada de diuréticos e IECA’s.
2.DISLIPIDEMIAS: Dislipidémia, também chamada de hiperlipidemia, refere-se ao aumento dos
lípidos (gordura) no sangue, principalmente do colesterol e dos triglicéridos. Sinais e sintomas: Quando
os triglicéridos são acima de 500 mg/dL pode causar pancreatite espontânea, uma síndrome de dor
abdominal intensa, náusea, vómitos, febre, sudorese. Além disso, se o colesterol total ou LDL estão
elevados por um longo tempo, placas amarelas chamados „xantomas‟ podem aparecer na pele,
geralmente em torno dos olhos ou em locais superficiais extensores. Além desses exemplos extremos, a
maioria das pessoas com colesterol alto não apresentam sintomas. É fácil ter colesterol alto e não sabê-lo.
Daí a importância de dosá-lo regularmente através de exame de sangue. TRATAMENTO

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medicamentoso: As medidas farmacológicas sempre devem ser precedidas de orientações quanto as


alterações da dieta e do estilo de vida. Os anti-dislipidémicos usados actualmente em Moçambique são do
nível de prescrição dos médicos: COLESTIRAMINA e SINVASTATINA.
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3.ANGINA DO PEITO: Angina do peito é uma síndrome clínica caracterizada por dor torácica devido
ao reduzido fluxo sanguíneo (isquemia) coronário resultante num fornecimento inadequado de oxigénio
ao músculo cardíaco. Sinais e sintomas: A característica principal é a dor torácica ou desconforto no
peito, tipo opressão, peso, aperto, ardor, que se irradia (espalhar ou propagar) para os braços
(principalmente o braço esquerdo), ombros, pescoço e mandíbula. A dor dura em geral menos de 10
minutos e é precipitada por esforço físico, stress emocional, temperaturas frias, depois de uma refeição
abundante, sendo aliviada pelo repouso ou nitratos (nitroglicerina). TRATAMENTO medicamentoso:
NITROGLICERINA comprimidos de 0.5 mg, 1 comprimido sub-lingual que pode ser repetido em
intervalos de 3 – 5 minutos, até alívio da dor. Não ultrapassar 4 comprimidos (2 mg).
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4.ENFARTE DO MIOCÁRDIO: Enfarte Agudo do miocárdio (EAM) ou Infarto Agudo do Miocárdio
(IAM) – é um processo de necrose (morte do tecido) de parte do músculo cardíaco por falta de aporte
adequado de nutrientes e oxigénio. Sinais e sintomas: Dor no peito semelhante a angina, porém mais
intensa e persistente (mais de 30 minutos), geralmente não aliviada por repouso ou
NITROGLICERINA. Em geral acompanhada de náuseas, sudorese, apreensão. Ao exame físico pode
haver palidez, sudorese, taquicardia, S4, impulso cardíaco discinético (descoordenado). Se houver
insuficiência cardíaca teremos: fervores crepitantes, S3, distensão venosa jugular. Cerca de 25% dos
EAM são silenciosos, isto é, não apresentam sintomatologia. TRATAMENTO medicamentoso:
ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (ASPIRINA): 125 mg a 250 mg (1/4 a ½ comprimido de 500 mg)
mastigados logo à chegada do paciente. Oxigénio 2 – 4 l/minute. NITROGLICERINA comprimidos de
0.5 mg, 1 comprimido sub-lingual; MORFINA (nível 3) – 2 a 4 mg EV a cada 5-10 minutos até alívio da
dor ou surgimento de efeitos secundário (náuseas, vómitos). PROPRANOLOL – 20 a 40 mg oral.
Contra-indicado se o paciente apresentar sinais de insuficiência cardíaca congestiva (fervores
crepitantes, PVJ elevada, S3), frequência cardíaca < 60 bpm, pressão arterial sistólica < 95 mmhg ou
história de broncoespasmo).
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5.INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: Insuficiência cardíaca (IC) é um distúrbio no qual o coração é
incapaz de bombear sangue suficiente para o metabolismo dos tecidos, ou consegue fazê-lo apenas sob
pressões de enchimento anormalmente elevadas. Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é quando há
uma falência global do coração (ventrículo esquerdo e direito). A terminologia congestiva chama a
atenção sobre a acumulação de sangue no sistema venoso, que é um aspecto de débito cardíaco
insuficiente. Sinais e sintomas: IC Esquerda: fadiga, dispneia, tosse, sibilos - “asma cardíaca”,
ortopneia, dispneia paroxística nocturna, choque de ponta para baixo e para além da linha médio
clavicular, macicez dos campos pulmonares (se estiver presente um derrame pleural), fervores crepitantes,
S3, sopro sistólico no foco mitral (por incompetência da válvula devido a dilatação). IC Direita: PVJ
elevada à 45º ou mesmo na posição erecta (em casos graves), hepatomegalia, ascite, edema periférico.
TRATAMENTO medicamentoso: Diuréticos: FUROSEMIDA comprimidos de 40 mg 1 comprimidos
de 12 em 12 horas, até o máximo de 4 comprimidos de 12/12 horas. Se houver resistência à
FUROSEMIDA oral, usar por via EV. Inibidores da enzima de conversão de angiotensina (IECA):
ENALAPRIL comprimidos de 5mg, iniciar com 2,5 mg/dia, sob vigilância, e aumentar se não houver

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resposta adequada até 20 mg/dia dividida em duas tomas. Evitar associação IECA com amilorido, pois
ambos retêm potássio. Digitálicos: DIGOXINA comprimidos de 0,25 mg, iniciar com ½ comprimido por
dia. Geralmente se alcança o controlo com 1 comprimido por dia.
6.PERICARDITE:Pericardite é a inflamação do pericárdio. Sinais e sintomas: Pericardite Aguda:
dor torácica, que pode ser intensa e simular um EAM, aliviada pela inclinação para frente (posição de
prece maometana); Febre e palpitações são comuns; Pulso rápido ou irregular, e ausculta-se um ruído de
atrito pericárdico, que pode variar de intensidade e é mais audível na borda esternal inferior e durante a
expiração final com o paciente sentado e inclinado para frente; Na presença de derrame pericárdio com
tamponamento, teremos a clássica tríade de Beck: distensão venosa jugular, sons cardíacos abafados ou
hipofonéticos e hipotensão arterial. Pericardite constritiva: Início gradual de dispneia, fadiga, edema
dos membros inferiores. Taquicardia, distensão venosa jugular que aumenta mais à inspiração (sinal de
Kussmaul), hepatomegalia, ascite; À auscultação pode-se ouvir o atrito pericárdico, porém, é melhor
característico um “batimento pericárdico”.TRATAMENTO: Para aliviar a dor: AINES: ASPIRINA
comprimidos de 500 mg, 650 – 975 mg (pode usar 1 comprimido e meio), ou IBUPROFENO
comprimidos – 200 a 400 mg por via oral ou, DICLOFENAC comprimidos de 25 a 50 mg, por via oral,
e se a dor for intensa, MORFINA 5 -10 mg por via subcutânea Ao usar a ASPIRINA é necessário
associar um anti-ácido (HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO ou OMEPRAZOL) para reduzir os efeitos
gastroerrosivos da aspirina.
7.FEBRE REUMÁTICA: A febre reumática é um processo sistémico, inflamatório, de carácter auto-
imune, em resposta do organismo a infecções faríngeas por estreptococo ß-hemolítico do grupo A de
Lancefield. Doença cardíaca reumática é a alteração funcional e estrutural das válvulas cardíacas e
miocárdio resultante de um ou mais episódios de febre reumática.TRATAMENTO farmacológico:
AINE: ASPIRINA comprimidos de 500 mg, 1 comprimido de 6 em 6 horas, por via oral. Associar anti-
ácidos (OMEPRAZOL 20 mg/dia) – se intolerância à aspirina usar: IBUPROFENO 200-400 mg de 8
em 8 horas, ou DICLOFENAC 25-50 mg de 8 em 8 horas. Quando a resposta aos AINEs não é boa,
pode-se usar PREDNISOLONA 40-60 mg/dia com redução gradual ao longo de 2 semanas. Penicilina –
PENICILINA BENZANTÍNICA, 1.2 milhões (>30 Kgs) de UI IM dose única. Como alternativa usar
PENICILINA PROCAÍNA, 600.000 UI IM (NUNCA POR VIA EV OU SC!) por dia, durante 10 dias.
Em pacientes alérgicos às penicilinas, usar ERITROMICINA 500 mg de 6 em 6 horas durante 10
dias.
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8.ENDOCARDITE INFECCIOSA: A endocardite infecciosa (EI) é a infecção microbiana do
revestimento endotelial do coração. A lesão característica da EI é a vegetação, um coágulo de plaquetas e
fibrina infectado, contendo ainda leucócitos e eritrócitos. A vegetação pode estar localizada em qualquer
local do coração, mas é mais frequente nas superfícies endoteliais das válvulas cardíacas e próteses
valvulares. Sinais e sintomas: Febre, palidez (anemia), petequias (no palato ou conjuntiva ou sob as
unhas), hemorragia (“splinter”) subungueal, nódulos de Osler (lesões violáceas, dolorosas nos dedos das
mãos, pés), lesões de Janeway (lesões eritematosas indolores das palmas das mãos e plantas dos pés).
Aparecimento de sopro cardíaco inexistente ou alteração de um sopro pré-existente, esplenomegalia. A
fundoscopia pode revelar manchas de Roth (lesões exsudativas na retina). TRATAMENTO:
AMPICILINA 1grama EV de 6 em 6 horas ou PENICILINA CRISTALIZADA 2 milhões de UI de 6
em 6 horas, associado à GENTAMICINA 80 mg EV de 8 em 8 horas ou 240 mg EV 1 vez por dia.
Reduzir a febre: PARACETAMOL 500 mg oral de 8 em 8 horas ou de 6 em 6 horas.
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9.VARIZES E TROMBOSE VENOSA: Veias varicosas (ou varizes) são veias superficiais tortuosas e
dilatadas. Suas válvulas geralmente são insuficientes, mas, nem sempre. Trombose Venosa (ou
tromboflebite) – é a presença de trombos (coágulos) dentro de uma veia superficial ou profunda com
subsequente resposta inflamatória na parede vascular. Sinais e sintomas: Trombose Venosa Profunda
(TVP): Dor e tumefação das panturilhas ou de toda a perna; Membro tumefeito, pode estar pálido (perna
esbranquiçada ou leitosa) ou pode estar congesta e azulada; Dor na panturilha quando o músculo é
distendido pela flexão plantar forçada (sinal de Homan); Veias superficiais dilatadas e aumento da
temperatura cutânea; Palpação de cordões no trajecto da veia trombosada. Trombose Venosa Superficial
(TVS): Aparecimento súbito de tumoração dolorosa, no braço ou perna, com formato de “salsicha”, que
se estende ao longo do trajecto da veia superficial comprometida; Aumento da temperatura cutânea
suprajacente e tonalidade vermelha ou pardacenta pálida. TRATAMENTO medicamentoso: AINES –
IBUPROFENO 200 a 400 mg de 8 em 8 horas; DICLOFENAC 25 a 50 mg de 8 em 8 horas. Se na TVS
haver suspeita de infecção, administrar AMPICILINA 1gr EV de 6 em 6 horas mais GENTAMICINA
80 mg EV de 8 em 8 horas (ou 160 mg EV/dia).
10.EMERGÊNCIAS MÉDICAS CARDÍACAS: Emergências médicas, são aquelas situações ou
doenças de instalação rápida e que colocam a vida em risco. Estas situações incluem: infarto agudo do
miocárdio, a angina de peito (angina pectoris), a Hipertensão maligna/Crise hipertensiva, edema
agudo pulmonar, choque cardiogénico, tamponamento cardíaco, embolia pulmonar.

10.1.SÍNDROME CORONÁRIA AGUDA: A síndrome coronária aguda compreende a angina


instável e enfarte agudo do miocárdio. CONDUTA: ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (ASPIRINA):
125 mg a 250 mg (1/4 a ½ comprimido de 500 mg) mastigados logo à chegada do paciente.
NITROGLICERINA comprimidos de 0.5 mg, 1 comprimido sub-lingual. MORFINA – 2 a 4 mg EV a
cada 5-10 minutos até alívio da dor ou surgimento de efeitos secundário (náuseas, vómitos).
PROPRANOLOL – 20 a 40 mg oral. Contra-indicado se o paciente apresentar sinais de
insuficiência cardíaca congestiva (fervores crepitantes, PVJ elevada, S3), frequência cardíaca < 60 bpm,
pressão arterial sistólica < 95 mmhg ou história de broncoespasmo).

10.2.CRISE HIPERTENSIVA: Crise hipertensiva é uma situação clínica definida como elevação da
TAS > 180 mmHg e/ou TAD > 120 mmHg. A crise hipertensiva se classifica em dois tipos: Urgência
hipertensiva e Emergência hipertensiva.
10.2.1.Urgência hipertensiva: a TA está elevada mas sem lesão aguda dos órgãos alvo (cérebro, coração,
rim), assintomática ou com sintomas leves e inespecíficos (cefaleia moderada). Deve ser corrigida
gradualmente em 24-48 horas com medicação oral.Tratamento da urgência hipertensiva: As linhas de
tratamento são as mesmas, iniciando sempre com um diurético; Lembrar que sempre se deve descartar o
uso concomitante ou recente de AINES, e iniciar sempre com o tratamento não medicamentoso.
10.2.2.Emergência Hipertensiva: a TA está elevada com lesão aguda ou progressiva dos órgãos alvo
que pode ser irreversível e de mau prognóstico vital. Requer uma redução imediata da TA (dentro de 1
hora) com tratamento parenteral. Na emergência hipertensiva importa saber se estamos perante uma
complicação como edema agudo do pulmão, HTA maligna, dissecção da aorta ou acidente vascular
cerebral (AVC). Tratamento da Emergência hipertensiva: EDEMA AGUDO DO PULMÃO – Usa-
se a FUROSEMIDA IV; HTA MALIGNA – use FUROSEMIDA IV: 20 a 40 mg; DISSECÇÃO DA
AORTA – usa-se PROPRANOLOL; AVC – paciente com TA elevada e sinais focais neurológicos: usa-
se PROPRANOLOL.

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10.3.EDEMA AGUDO DO PULMÃO (EAP): O edema agudo de pulmão é uma emergência médica,
caracterizada por um acúmulo anormal de líquidos no interstício e nos alvéolos pulmonares. Quadro
Clínico: O paciente está agitado, sentado ereto, taquipneico, dispneico, taquicárdico, com sudorese
intensa, pode haver cianose; Expectoração espumosa e com raias de sangue; Fervores pulmonares
húmidos bilaterais e S3. CONDUTA: Colocar o paciente na posição erecta (sentado); Administrar
oxigénio a 100% - 6 litros/min; Canalizar uma veia; FUROSEMIDA 40 – 100 mg EV; MORFINA 2 – 5
mg EV.

10.4.CHOQUE CARDIOGÉNICO: É um estado de comprometimento grave da perfusão tecidual, de


causa cardíaca. As principais causas são: EAM, miocardiopatia dilatada, arritmias. Quadro clínico:
Doente pode estar inquieto ou inconsciente, com palidez; Taquicardia, taquipneia, pulsos fracos, membros
fios e húmidos, DVJ; Pressão sistólica < 90 mmhg; Pode haver sopros cardíacos, alteração do ritmo
cardíaco, fervores crepitantes. CONDUTA: Colocar o paciente em Trendelemburg invertida (pernas
elevadas e cabeça abaixo do nível do coração); Oxigénio a 100% - 6l/min; Canalizar uma veia; Soro
fisiológico – 1000 ml EV rápido; Se suspeita de EAM, tratar como tal (ASPIRINA,
NITROGLICERINA, MORFINA, PROPRANOLOL); ADRENALINA se PARAGEM
CARDÍACA – 1 mg EV; Se BRADIARRITMIA – ATROPINA 0.5 a 1 mg EV, a repetir se necessário
em intervalos de 5 minutos até dose máxima de 2 mg; Transferir/referir imediatamente ao médico.

10.5.EMBOLIA PULMONAR: A embolia pulmonar é a obstrução repentina de uma artéria pulmonar


causada por um êmbolo. Quadro Clínico: Início súbito de dispneia, dor torácica e hemoptise (tosse com
expectoração com laivos de sangue). Pode ocorrer síncope; Taquipneia, taquicárdia, cianose e pode surgir
hipotensão (embolia maciça). CONDUTA: Oxigénio a 100% - 6l/min; Canalizar veia; Expansores
plasmáticos (plasmagel 500 ml) ou Soro fisiológico – 1000 ml EV se TAS < 90 mmhg; Em caso de
PARAGEM CARDÍACA: ADRENALINA 1 mg EV; se BRADICÁRDIA: ATROPINA 0.5 a 1 mg
EV.

II. SISTEMA GASTROINTESTINAL


1.ESOFAGITE E DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICO: Esofagite é o termo usado para
designar o processo inflamatório da mucosa esofágica. A esofagite por refluxo resulta da exposição
prolongada e/ou repetitiva da mucosa esofágica, ao conteúdo gástrico. Esta forma de esofagite é
consequência do refluxo gastresofágico. Doença de refluxo gastresofágico (DRGE) ocorre quando por
alguma anomalia, há exposição prolongada e/ou repetitiva da mucosa gástrica ao suco gástrico, causando
sintomas associados ou não ao dano da mucosa esofágica distal (esofagite). O refluxo deve ser
distinguido da regurgitação, que é a expulsão de alimentos vindos do esófago ou do estômago, sem
náuseas nem contracções musculares violentas. Quadro clínico da esofagite por refluxo: Pirose (azia):
principalmente quando acaba de comer, ou quando se deita logo após as refeições; Regurgitação;
Disfagia, odinofagia, hematémese e melenas podem estar presentes associados às complicações do
refluxo.TRATAMENTO medicamentoso: HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO 1- 3 comprimidos de 500
mg entre as refeições, ao deitar ou ao aparecer a dor ou pirose. Deve-se mastigar ou chupar os
comprimidos. Se não melhora com HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO, considerar o uso de RANITIDINA.
RANITIDINA: casos ligeiros - 150 mg de 12 em 12 horas ou 300 mg à noite até 8 semanas, ou se

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necessário 12 semanas; casos moderados a grave – 600mg/dia divididos em 2-4 tomas (300 mg de 12
em 12 horas ou 150 mg de 6 em 6 horas) até 12 semanas; dose de manutenção 150 mg de 12 em 12 horas.
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2.ESOFAGITE INFECCIOSA: Esofagite infecciosa consiste na inflamação da mucosa do esófago,
resultante da infecção por microrganismos infecciosos. Os principais agentes etiológicos envolvidos na
esofagite infecciosa são a Candida albicans e o Citomegalovírus (CMV), ambos associados à infecção
pelo HIV. TRATAMENTO da esofagite por candida albicans: O tratamento da candidíase esofágica
com FLUCONAZOL possui um alto índice de sucesso. Administra-se o FLUCONAZOL em doses de
200mg/dia durante 14-28 dias. Se houver resistência, refere-se ao médico para avaliação e conduta
subsequente. Para todos os casos de candidíase, é fundamental a higiene bucal rigorosa e constante.
3.DISPEPSIA: Dispepsia, também chamada de indigestão ou digestão difícil, corresponde a um grupo
de sintomas que incluem desconforto epigástrico, enfartamento pós-prandial, pirose, eructações (arrotos)
frequentes, regurgitações e náuseas.sinais e sintomas de alarme: Vómito constante; Hematemese e
melena; Perda de peso; Anemia; Disfagia; Massas abdominais palpáveis; Icterícia. TRATAMENTO:
Tratamento sintomático de curta duração: Anti H2 (RANITIDINA) 150 mg 2x/dia ou 300 mg à noite
por 7-10 dias e Antiácidos (HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO): 1-3 comp de 500 mg entre as refeições, ao
deitar e quando tiver sintomas. Se o tratamento sintomático de curta duração não melhora o quadro
clínico do paciente, deve passar para o tratamento empírico para H. pylori. Nota: Como alternativa à
RANITIDINA, pode ser usada a CIMETIDINA. Tratamento Empírico Para Erradicação Do
Helicobacter Pylori E Tratamento Da Úlcera Péptica: Erradicação de H. pylori:
METRONIDAZOLE 500mg 2x/dia, AMOXICILINA 1000mg 2x/dia e OMEPRAZOLE 20 mg 2x/dia
durante 7 dias.Tratamento da Úlcera Péptica: Continuação do tratamento com OMEPRAZOLE 20mg
2x/dia (ou RANITIDINA 150 mg 2x/dia ou 300 mg à noite) para mais 3 semanas.
4.DISPEPSIA FUNCIONAL: Dispepsia funcional é qualquer dispepsia persistente ou recorrente, que
dura no total 12 semanas no mínimo durante 1 ano, sem alívio pela defecação, não associada a
modificação da frequência das evacuações ou a forma das fezes, e sem qualquer evidência de dano
estrutural que explique convenientemente os sintomas. Dispepsia funcional tipo dismotilidade,
caracterizada por dor epigástrica, associada a saciedade precoce, sensação de peso, plenitude epigástrica
pós-prandial, náuseas e, às vezes vómitos e distensão abdominal. Dispepsia funcional tipo úlcera,
quando o sintoma predominante é dor epigástrica, que alivia com alimentação. TRATAMENTO:
Tratamento Para Dispepsia Funcional Tipo Dismotilidade: METOCLOPRAMIDA: 10 mg 3x/dia
para 3 dias. Dispepsia Funcional Tipo Úlcera: BUTILESCOPOLAMINA: 10 mg 3x/dia para 3 dias.
5.GASTRITE: Gastrite é um termo que abrange um amplo espectro de entidades que cursam com
alterações inflamatórias na mucosa gástrica. A inflamação pode envolver o estômago inteiro (pangastrite)
ou uma região do estômago (por exemplo, gastrite antral, gastrite do corpo).

5.1.GASTRITE AGUDA: é a inflamação da mucosa gástrica (geralmente erosiva ou hemorrágica), em


consequência da acção de algum factor irritante. Quadro clínico da gastrite aguda: Quando sintomático,
o paciente geralmente vem com queixa de dor epigástrica em queimação, às vezes acompanhada de
náuseas e/ou vómitos. A dor pode melhorar ou piorar com a alimentação. TRATAMENTO
Medicamentoso: Anti H2: RANITIDINA 150 mg 2x/dia ou 300 mg à noite por 7-10 dias ou
CIMETIDINA 400mg, 2x/dia ou 800mg á noite, por 7 a 10 dias, ou Antiácidos (HIDRÓXIDO DE
ALUMÍNIO): 1-3 comp de 500 mg entre as refeições, ao deitar e quando tiver sintomas.

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5.2.GASTRITE CRÓNICA: A gastrite crónica é uma entidade histopatológica caracterizada por


inflamação crónica da mucosa do estômago. Quadro Clínico: Dor epigástrica tipicamente em
queimação; Náuseas; Vómitos; Anorexia; Perda de peso significativa; Halitose. TRATAMENTO:
METRONIDAZOL 500mg 2x/dia, mais AMOXICILINA 1000mg 2x/dia, mais RANITIDINA 150
mg 2 x/dia ou 300 mg à noite. Em alguns casos os sintomas persistem nesse caso, dar durante em um
período de 6 a 8 semanas: RANITIDINA 150 mg á noite, ou CIMETIDINA 400 mg á noite.
6.ÚLCERA GASTRODUODENAL (ÚLCERA PÉPTICA): O termo úlcera péptica refere-se a
presença de lesões ulcerosas na mucosa gástrica ou duodenal. As úlceras consistem em soluções de
continuidade da mucosa de pelo menos 0,5 cm, que penetram na muscular da mucosa. Lesões menores
são chamadas de erosões. Quadro clínico: ÚLCERA DUODENAL (UD): Dor epigástrica em
queimação 90 a 180 min após as refeições (daí ser referida como agravada pela falta de refeição),
frequentemente nocturna e aliviada pelo alimento. ÚLCERA GÁSTRICA (UG): Dor epigástrica em
queimação agravada pela ingestão de alimentos ou que não tem relação alguma com os alimentos;
anorexia, aversão aos alimentos, perda de peso. CONDUTA: Inclui as medidas higiénico-dietéticas e o
tratamento medicamentoso com tripla terapia(METRONIDAZOL+AMOXICILINA+RANITIDINA)
para a erradicação do H. pylori e redução da acidez gástrica. Tratamento de manutenção indicado nos
pacientes com persistência dos sintomas durante um período de 6 a 8 semanas: RANITIDINA 150 mg á
noite, ou CIMETIDINA 400 mg á noite.
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7. DIARREIA: A diarreia consiste na eliminação de fezes com consistência diminuída, associada ao
aumento do número de evacuações. A gastroenterite aguda ou diarreia aguda é uma síndrome aguda
associada a diarreia e a outros sintomas como náuseas, vómitos e desconforto abdominal. A GEA pode ter
causa viral, bacteriana, parasitaria e por protozoários. Também pode ser extra-intestinal e iatrogénica.
O principal tratamento para a GEA ou diarreia aguda é a reidratação. Diarreias crónicas: diarreias com
duração de mais de 4 semanas, que no início podem ser confundidas com as diarreias agudas.

7.1. DIARREIA BACTERIANA: Diagnóstico: Doente vem com história de início brusco de vómitos,
diarreia (que pode ser acompanhada de sangue e/ou muco), perda de apetite, dor abdominal tipo cólica,
tenesmo. Dependendo da etiologia, pode apresentar-se com febre. CONDUTA: HIDRATAÇÃO ORAL
OU PARENTERAL dependendo do grau de desidratação.

7.2.DIARREIA POR PROTOZOÁRIOS: Diagnóstico: Pode apresentar-se com fezes moles e fétidas
com muco e/ou sangue, cólicas, tenesmo, flatulência e sintomas gerais como mioartralgias e fadiga.
CONDUTA: Desparasitação (ALBENDAZOL ou MEBENDAZOL) e reposição hídrica com base no
grau de desidratação. .

NB: HIDRATAÇÃO INICIAL E REAVALIAÇÃO PERIÓDICA: Tratamento em ambulatório com


SAIS DE REIDRATAÇÃO ORAL (SRO) e líquidos disponíveis: água de coco, sucos de frutas, água
de arroz ou soro caseiro, evitar refrigerantes (pode causar diarreia osmótica). Manter a alimentação
habitual.
8.CÓLERA: A cólera é uma infecção intestinal aguda e grave, que se caracteriza pela aparição de
evacuações diarreicas abundantes, com vómito e desidratação. Esta patologia é causada pelo Vibrio
cholerae que produz uma enterotoxina que causa a diarreia. A cólera tem duas formas de apresentação:
Forma grave: com diarreia aquosa profusa (por vezes do tipo “água de arroz”), com ou sem vómitos, dor

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abdominal e cãibras. Este quadro, quando não tratado de imediato, pode evoluir para desidratação rápida,
acidose, colapso circulatório, com choque hipovolémico, insuficiência renal e morte em 6 horas. Forma
leve ou oligossintomático: que se apresenta com diarreia leve, como acontece na maioria dos casos (>
80%). Quadro clínico: 75% dos casos são assintomáticos, porém, os que evoluem com sintomas podem
ser leves, moderados e severos (1-2%). Leve: Início insidioso; Diarreia aquosa de pequena intensidade;
Ligeiro mal-estar geral, náuseas; Desidratação leve. Moderada: Início insidioso; Diarreia de intensidade
moderada; Náuseas, vómitos um pouco mais intensos; Desidratação moderada.Severa: Início súbito;
Aumento dos ruídos abdominais; Diarreia líquida e profusa (1-2L/h), tipo “água de arroz”, de odor a
peixe; Náuseas e vómitos volumosos; Cãibras musculares; Desidratação grave. Reidratar o doente e
monitorizar frequentemente: TRATAMENTO em ambulatório com SAIS DE REIDRATAÇÃO
ORAL (SRO) e líquidos disponíveis: água de coco, sucos de frutas, água de arroz ou soro caseiro.
Manter a alimentação habitual. Se os sintomas piorarem, encaminhar o doente ao centro de saúde mais
próximo.
9. DISENTERIA: A disenteria é uma infecção do sistema digestivo que resulta em diarreia severa
contendo muco e sangue nas fezes. É uma doença diarreica que tem afectado o nosso país nos últimos 10
anos, bem como, países da América Central, do sul da Ásia e o Centro e Sul do continente Africano. Os
principais tipos de disenteria são: Disenteria bacteriana devido a infecção por bactérias: shigella,
salmonela, campylobacter. Disenteria amebiana: devido a infecção por ameba (Entamoeba histolytica).
Disenteria enterotoxica: clostridium.

9.1.DISENTERIA BACTERIANA: A disenteria bacteriana é aquela provocada por bactérias. Ela está
mais associada a três grupos principais de bactérias, podendo adoptar as seguintes designações: Shigelose
é causada por vários tipos de bactéria Shigella. Campilobacteriose é causada por qualquer uma das doze
espécies de Campilobactéria que causam a doença em humanos. Salmonelose é causada pela Salmonella
entérica (menos comum dos outros dois grupos)

9.1.1.DISENTERIA BACILAR (SHIGELOSE): A transmissão é por via fecal-oral, incluindo a


ingestão de alimentos e água contaminada.Manifestações clínicas da Shigellose: Febre; Cólicas
abdominais; Tenesmo rectal; Dejecções muco sanguinolentas. Nas formas diarreicas simples (sem
sangue) há febre moderada, cólicas e diarreia com 5 a 10 evacuações diárias. São de evolução benigna e
autolimitadas, curando espontaneamente. Nas formas disentéricas há febre alta que inicia
repentinamente, variando em torno de 39º C, há vómitos, cefaleias, e disenteria com dejecções muco-
sanguinolentas frequentes, acompanhadas de cólicas e tenesmo. O número de evacuações é alto, em torno
de 20, 30 ou mais por dia, podendo-se temer a desidratação. É um quadro grave requerendo
hospitalização imediata. TRATAMENTO sem administração de antibiótico: O tratamento deve ser em
ambulatório e consiste em: HIDRATAÇÃO ORAL; Antipiréticos (PARACETAMOL 500 mg de 6 em
6 horas durante 3 a 5 dias); Cuidados alimentares (lavar os alimentos, e comer 4 x por dia). Outro aspecto
que merece particular atenção é o reforço das normas de higiene individual e colectiva.TRATAMENTO
com administração de antibióticos: Em Moçambique, o antibiótico de eleição é o ÁCIDO
NALIDÍXICO e o tratamento deve ser feito durante 5 dias consecutivos, 1g em 4 tomas diárias. Não
ultrapassar 4g/dia. Em Moçambique, a resistência ao COTRIMOXAZOL, AMPICILINA,
CLORANFENICOL e TETRACICLINA foi demonstrada através de estudos, pelo que não se
recomenda o uso destes antibióticos para o tratamento da disenteria por shigella. A
CIPROFLOXACINA (nivel 3 de prescrição) é eficaz, mas deve ser reservada para os casos mais graves

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ou que não respondem ao ÁCIDO NALIDÍXICO.Prevenção e tratamento da desidratação: Tratar


com SRO na unidade sanitária; Administrar tratamento EV para desidratação grave; Encorajar o doente a
aumentar a ingestão de líquidos em casa (SRO, água de arroz, sopas, iogurte, chá, água de coco e água
potável).

9.2. DISENTERIA AMEBIANA E FORMAS EXTRA-INTESTINAIS: Disenteria amebiana é uma


forma de diarreia sanguinolenta causada por uma ameba, designada Entamoeba histolytica.Quadro
clínico: FORMA INTESTINAL: Forma disentérica: Apresenta-se com disenteria aguda (15 ou 20
evacuações diárias) com presença de muco e sangue nas fezes, cólicas e tenesmo. Um terço das infecções
apresenta-se com febre. Pode ter o fígado aumentado, mesmo na ausência de envolvimento hepático pela
ameba. A diarreia persistente pode levar à desidratação, perda de peso e mal-estar. Em casos raros, a
disenteria amebiana pode assumir aspectos gravíssimos quando as ulcerações intestinais ultrapassam a
submucosa, atingindo a camada muscular e a serosa, com perfuração e consequente peritonite. Forma
colítica crónica: Os pacientes vêm com queixa de crises diarreicas periódicas, algumas vezes com
discreta presença de sangue nas fezes, crises intercaladas com aparente normalidade. São frequentes as
queixas de anorexia, astenia, e episódios de dor ou desconforto abdominal. Amebomas: Trata-se da
forma “tumoral‟‟ explicada pela hiperplasia dos tecidos determinada eventualmente pela Entamoeba. Sua
localização mais frequente é o ceco, podendo estar situado também no sigmóide e no recto. Apresenta
habitualmente dor, febre, diarreia, perturbação do trânsito intestinal com possível tendência para oclusão.
FORMA EXTRA INTESTINAL: Abcesso hepático: Os abcessos hepáticos amebianos são geralmente
únicos e localizam-se frequentemente na porção superior do lobo direito, contudo nos casos avançados,
podem ser múltiplos e dispersos. O doente apresenta-se com febre, dor abdominal, hepatomegalia. Pode
evoluir sem sintomas intestinais. Os abcessos podem romper-se, e evoluir com complicações a nível dos
órgãos vizinhos, cujos sinais de alarme são: Irritação peritoneal – indicativo de rotura e peritonite
consequente. Fricção pericárdica - indicativo de extensão directa para o pericárdio. Sinais de derrame
pleural – indicativo de extensão directa para a cavidade pleural. Forma pulmonar: Os abcessos
pulmonares amebianos estão situados, na maioria dos casos, na base do pulmão direito, podendo ter
qualquer outra localização, inclusive no pulmão esquerdo. Os sinais e sintomas são os mesmos do abcesso
pulmonar por outras causas: febre, tosse e lesão com nível hidroaéreo bem delimitada no raio X do tórax.
Forma cerebral: O seu quadro clínico depende muito da área cerebral afectada. Pode evoluir com febre,
alteração do estado de consciência, alteração dos reflexos. É muito difícil fazer o diagnóstico, mesmo com
ajuda de um TAC.TRATAMENTO médico da amebiase intestinal (disenteria amebiana) e extra-
intestinal: METRONIDAZOLE comprimidos, 750 mg (3 comprimidos de 250 mg ou 1 comprimido e
meio de 500 mg) de 8 em 8 horas, por 10 dias.

9.3.DISENTERIA ENTEROTÓXICA (CLOSTRIDIUM DIFFICILE): Trata-se de um distúrbio


diarreico, associado ao uso prolongado de antibióticos. Quadro clínico: Os sintomas da infecção incluem
diarreia ligeira a severa, fezes com sangue, febre e cólicas abdominais. Estes sintomas são normalmente
causados por colites (inflamação do revestimento do intestino grosso). Em casos raros, esta bactéria pode
causar peritonite (secundária á perfuração do cólon) e septicemia. Em casos muito raros, a infecção por
esta bactéria pode ser fatal. O risco é maior em idosos e pessoas com problemas de saúde sérios. A
maioria das pessoas com esta infecção sentirá os sintomas quando estiver a tomar os antibióticos.
Contudo, os sintomas podem aparecer até 10 semanas depois de terem terminado os antibióticos.

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TRATAMENTO: METRONIDAZOLE comprimido 750 mg de início seguido de 500 mg de 8/8 h


durante 7 dias no adulto. Preferir forma injectável nas formas graves.
PARASITOSES

10. GIARDIASE (Giardia lamblia): É uma infecção de transmissão fecal-oral e atinge principalmente a
porção superior do intestino delgado. Quadro clínico: Após 1 a 3 semanas de incubação, a infecção
sintomática pode apresentar-se através de diarreia acompanhada de dor abdominal (periumbilical), e
sintomas constitucionais como fraqueza, anorexia, náuseas, vómitos e por vezes artralgia. Ao exame
físico pode-se identificar distensão abdominal e por vezes algum desconforto à palpação. Quando a
infecção por este protozoário se torna crónica, ela geralmente apresenta sintomas como fezes amolecidas
e gordurosas, distensão abdominal, flatulência e anorexia (que pode gerar perda de peso e anemia).
TRATAMENTO: O tratamento medicamentoso deve ser feito somente em pacientes sintomáticos.
METRONIDAZOL, Adultos: 2 g de preferência numa toma única ou, alternativamente 500 mg de 8/8 h
durante 5 dias.

11. ASCARIDIASE (Ascaris lumbricóides): A ascaridiase é causada pelo Ascaris lumbricóides,


popularmente conhecido como lombriga. É a helmintíase de maior prevalência no mundo acometendo
cerca de 30% da população mundial. Em Moçambique é a parasitose mais frequente (65.8% de
prevalência). Quadro clínico: Os sintomas geralmente ocorrem quando há uma infecção mais numerosa
de vermes ou larvas, ou localizações migratórias anómalas. O verme adulto provoca manifestações
clínicas inespecíficas, como desconforto ou cólicas abdominais, náuseas e carências nutricionais. A semi-
obstrução intestinal por Ascaris lumbricóides é um quadro grave, ocorrendo geralmente em desnutridos e
deve ser referida. O paciente apresenta cólicas, distensão abdominal, anorexia, vómitos biliosos,
desidratação e, às vezes, diarreia no início do quadro. É comum eliminar os vermes pela boca, pelas
narinas ou pelo ânus, antes ou durante o quadro clínico. Ao exame físico, palpa-se massa cilíndrica na
região periumbilical ou próximo aos flancos. Quando ocorre oclusão intestinal total ou íleo adinâmico, os
ruídos hidroaéreos desaparecem, pode ocorrer isquemia das alças intestinais, necrose, perfuração ou volvo
do intestino.TRATAMENTO: Forma intestinal não oclusiva: ALBENDAZOL comprimidos de
400mg ou MEBENDAZOL comprimidos de 100 mg: 100 mg de 12/12 horas durante 3 dias.

12. ESTRONGILÓIDES (Strongyloides stercoralis): Trata-se de uma doença parasitária intestinal,


frequentemente assintomática, causada por Strongyloides stercoralis. Quadro clínico: A estrongiloidíase
pode ocorrer de forma assintomática, oligossintomática ou grave. Na forma intestinal, são descritas
manifestações como anorexia, náuseas, vómitos, distensão abdominal, dor em cólica ou queimação,
muitas vezes no epigástrio (síndrome pseudo-ulcerosa), diarreia secretora ou esteatorreia, desnutrição
protéico-calórica. A dermatite larvária pode ocorrer nos pés, mãos, nas nádegas ou na região anogenital,
locais onde as larvas penetram. A pneumonite larvária é menos frequente que na ascaridíase. A
estrongiloidíase disseminada ocorre em pacientes imunodeprimidos, e é um quadro grave e com alta
mortalidade As larvas infectantes migram para o fígado, pulmões e inúmeras outras vísceras e glândulas,
geralmente originando bacteremia, pois carregam consigo as enterobactérias intestinais. Os pacientes
apresentam sintomas intestinais, respiratórios e de sépsis ou meningite.TRATAMENTO: O tratamento
deve ser ALBENDAZOL comp. 400 mg: 400 mg 2x/dia, durante 3 dias consecutivos. Pode se repetir o
tratamento passadas 3 semanas.

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13. ANCILOSTOMIASE (Ancylostoma duodenale): É uma parasitose intestinal causada pelo


Ancylostoma duodenale e/ou pelo Necator americanus. Quadro clínico: Na maioria das vezes a infecção
é assintomática. O quadro clínico dependerá do número e virulência dos vermes e do estado nutricional
(principalmente reservas de ferro) do hospedeiro. Na fase aguda do parasitismo intestinal pode ocorrer
epigastralgia, náuseas, vómitos, polifagia, flatulência e diarreia, e na fase crónica, os sintomas
apresentados são associados à anemia ferropriva (anorexia, fraqueza, cefaleia, sopro cardíaco,
palpitações). Pode também haver hipoproteinemia e edema por enteropatia perdedora de proteínas.
Após a infecção por via cutânea, pode ocorrer dermatite larvária, com a presença de prurido, eritema,
edema e erupção papulovesicular. A pneumonite larvária é descrita, mas menos intensa que na infecção
por ascaris.TRATAMENTO: O tratamento é feito com MEBENDAZOL ou ALBENDAZOL, e as
doses são as mesmas usadas para o tratamento da ascaridíase. Nas infestações massivas, está indicada a
repetição do tratamento passado 15 a 28 dias. A anemia geralmente responde ao tratamento com
SULFATO FERROSO ORAL, e raramente é necessária a transfusão.

14. TENÍASE /CISTICERCOSE (Taenia solium E Taenia saginata): A teníase é causada pela
ingestão de carne de porco mal cozida, contaminada pelo cisticerco (forma larvária) da T. solium e pela
ingestão de carne de boi mal cozida contaminada pelo cisticerco da T. saginata. Quadro clínico: A
teníase é na maioria dos casos assintomática. Alguns sintomas são atribuídos a essa parasitose intestinal:
fadiga, irritação, cefaleia, tontura, polifagia, anorexia, náuseas, dor abdominal, perda de peso, diarreia
e/ou constipação, urticária. Raramente ocorre semi-oclusão intestinal, apendicite, colangite ou pancreatite,
devido a obstrução dos respectivos segmentos intestinais e ductos pelo parasita.TRATAMENTO: Pode
ser feito com PRAZINQUANTEL ou ALBENDAZOL. PRAZIQUANTEL comprimido 600 mg, na
dose de 10 mg/kg numa dose única. ALBENDAZOL 400mg durante 3 dias consecutivos.

15. TRICOCEFALÍASE OU TRICURÍASE (Trichocephalus trichiurus): É uma doença causada por


Trichocephalus trichiurus, ou Trichuris trichiura. É comum em regiões tropicais e está associada a más
condições de higiene. Quadro clínico: Geralmente, a infecção é assintomática ou acompanhada de
manifestações leves. Nas infestações massivas, com compromisso do intestino grosso, do ceco ao recto,
podem surgir sintomas como distensão abdominal, diarreia crónica por vezes acompanhada de sangue,
prolapso rectal e posterior, sintomas associados à anemia ferropriva e à desnutrição protéico-energética.
TRATAMENTO: O tratamento pode ser feito com: ALBENDAZOL 400 mg em dose única. Pode-se
repetir a dose passadas 3 semanas se necessário (na infecção massiva pode-se dar esta mesma dose
durante 3 dias consecutivos) ou MEBENDAZOL 100 mg de 12/12 h durante 5 dias

16. OXIURÍASE OU ENTEROBÍASE (Enterobius vermiculares ou Oxiurus vermiculares): É causada pelo


Enterobius vermiculares ou Oxiurus vermiculares. Quadro clínico: O sintoma mais frequente é o prurido
anal nocturno. No sexo feminino pode ocorrer a migração dos vermes para a genitália, levando a
vulvovaginite secundária, com corrimento amarelado e fétido. Outros sintomas descritos são cólicas
abdominais, náuseas e tenesmo. TRATAMENTO: O tratamento pode ser feito com MEBENDAZOL ou
ALBENDAZOL. O tratamento deve ser repetido após 15 dias para controlar a re-infecção. É importante
tratar toda a família (indivíduos que moram na mesma casa), escovar as unhas pela manhã e todas as
vezes que for a casa de banho, lavar e passar as roupas de cama e íntimas no primeiro dia de tratamento.

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17. EQUINOCOCOSE (Echinoccocus): A equinococose é uma doença causada pela ingestão acidental
de larvas dos Echinoccocus granulosus, originando quistos hidáticos nos órgãos afectados. O
Echinoccocus multiloculares causa uma forma mais grave que afecta principalmente o fígado,
denominada equinococose alveolar. Quadro clínico: Após infecção, o quadro clínico inicialmente é
assintomático, já que os cistos são ainda pequenos. Se continuarem a crescer podem, depois de alguns
anos (até quinze), causar problemas nos órgãos afectados, principalmente se forem em número
considerável. A forma hepática é caracterizada pela dor no hipocôndrio direito, hepatomegalia, e
possivelmente icterícia. A forma pulmonar pode se manifestar com tosse, dor torácica, dificuldade
respiratória. A forma cerebral representa um elevado risco de vida, dependendo da área afectada cursa
com problemas neurológicos (sinais focais, convulsões), ou até distúrbios de personalidade.
TRATAMENTO: O tratamento só é possível com a excisão cirúrgica dos cistos. Se esta não for
possível, a administração a longo prazo de antiparasitários como o MEBENDAZOL pode não curar, mas
melhora o prognóstico.

18. TRATAMENTO MASSIVO E PERIÓDICO DE PARASITOSES: Trata-se de uma iniciativa do


Governo de Moçambique que tem como objectivo a redução da prevalência e incidência das parasitoses
intestinais. No nosso país, as normas recomendam o tratamento periódico com desparasitantes para as
crianças e mulheres grávidas. Desde 2010, esforços têm sido feitos no sentido de se alastrar este programa
para a cobertura de outros grupos, através da realização de campanhas regionais de desparasitação. O uso
do MEBENDAZOL ou ALBENDAZOL foi preconizado para desparasitação de rotina nas escolas e nas
unidades sanitárias, bem como em campanhas de saúde.
19. MASSAS PÉLVICAS: São as tumorações pélvicas originadas em outros aparelhos. As causas de
massas pélvicas podem ser: Massa da prostata; Massas ou tumorações ginecológicas; Massas ou
tumorações da bexiga; Massas ou tumorações do tubo digestivo; Colecções peritoneais (abcesso
peritoneal). A cavidade pélvica contém as partes terminais dos ureteres e a bexiga, o recto, os órgãos
genitais pélvicos, vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Também pode-se encontrar parte do ílio, cólon
sigmóide e ceco. Seguindo a lógica anatómica, quando estamos perante um paciente com massa
abdominal, devemos pensar numa afecção de um destes órgãos. Sinais e sintomas de mau
prognóstico: Perda de peso; Hematúria Total; Formação do globo vesical; Metrorragia; Dor abdominal
e quadro de anemia súbita em mulher em idade fértil. TRATAMENTO das massas pélvicas: Nos
casos ligeiros e moderados, existem algumas medidas gerais que se pode tomar no sentido de aliviar a
sintomatologia do doente e promover o seu conforto. Analgesia: pode ser com PARACETAMOL,
DICLOFENAC ou IBUPROFENO. A dose e a frequência dependem muito da intensidade da dor,
respeitando as doses máximas para cada droga. No caso de globo vesical, pode-se fazer uma cateterização
uretral. Canalizar uma veia e administrar: SOROS (SORO FISIOLÓGICO ou RINGER e
DEXTROSE A 5%) lentos só para manter a glicemia e prevenir desidratação. Adicionalmente a
transfusão de sangue pode ser necessária num quadro de anemia (por metrorragia, hematúria, ou outra
causa) descompensada (frequência cardíaca e respiratória elevada, tensão arterial sistólica abaixo de 90
mmhg).
20. HEMORRÓIDES: As hemorróides são dilatações varicosas das veias ano-rectais submucosas
causadas pela pressão venosa persistentemente elevada no plexo hemorroidário. Podem ser de dois tipos:
Hemorróides externas que ocorrem abaixo da linha pectínea (demarcação anatómica entre mucosa e pele
anal) e são recobertas por epitélio escamoso ou do tipo cutâneo; Hemorróides internas que se localizam

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acima da linha pectínea e são recobertas por mucosa colunar ou epitélio transicional. Quadro clínico:
Dor no ânus que se agravada pela defecação; Sangramento pelo ânus, sangue vivo no papel higiénico
quando se limpa ou de lado das fezes; Prurido anal; Tumoração anal palpável, os doentes tendem a tentar
reduzi-las usando a força, e este acto pode resultar numa ruptura e sangramento massivo; Secreção do
muco pelo ânus. TRATAMENTO farmacológico: Laxativos (para amolecer as fezes): BISACODIL
comprimidos de 5 mg: administrar 1 a 2 comprimidos a noite para alívio sintomático da obstipação e
continuar com medidas não farmacológicas. Supositório de GLICERINA (1,5 g): aplicar um supositório
humidificado com água para alívio sintomático da obstipação e continuar com medidas não
farmacológicas. Anti-hemorroidários: Creme anti-hemorroidário, BISNAGAS de 30g (contendo
anestésico local, anti-inflamatório e óxido de zinco). Supositório anti-hemorroidário (mesma
composição que a do creme).
_____________________________________________________________________________________
21. FISSURA ANAL: Fissura anal (fissura no ânus, úlcera anal) é uma laceração ou úlcera longitudinal
no revestimento do ânus, mais frequentemente localizada na comissura posterior, ao nível da linha média.
Quadro clínico: Dor anal: o paciente vem com queixa de dor anal intensa durante e/ou depois de evacuar.
A dor dura entre vários minutos e várias horas e depois desvanece-se até a evacuação seguinte.
Sangramento anal: perda de sangue durante uma evacuação ou pouco depois desta. Outra queixa
frequente é o prurido anal, resultante da descarga de muco na ferida perianal. Os pacientes geralmente
referem antecedentes de obstipação recorrente, e eliminação de fezes muito duras.TRATAMENTO
farmacológico: Creme anti-hemorroidário, BISNAGA de 30 g (com a mesma composição), que deve
ser aplicada na margem anal minutos antes de cada dejecção, por 7 dias. Analgesia sistémica (por ex.
PARACETAMOL ORAL) se necessário. Nos casos com evidência de sobreinfecção (inflamação com
supuração), está indicado o tratamento antibiótico (pomada de bacitracina ou creme de ácido fusídico –
aplicar 2 vezes por dia durante 7 dias).
22. PROLAPSO RECTAL: O prolapso rectal é o protraimento (saída) do recto através do ânus. O
prolapso rectal consiste numa eversão do recto, de tal forma que a partir do ânus se vê o revestimento
mucoso como um prolongamento tubular de tecido de cor vermelho-escura, húmido, com vários anéis
concêntricos. O prolapso rectal é frequentemente confundido com a invaginação intestinal baixa, onde
uma porção do intestino se invagina para dentro de outra, e protrai pelo ânus, se manifestando como uma
tumoração tubular revestida de mucosa, semelhante ao prolapso. Quadro clínico: Desconforto ou
sensação de evacuação incompleta: podem estar presentes inicialmente, quando o prolapso ainda é
parcial. Tumoração anal palpável: o paciente refere que vê (ou sente) o intestino depois de defecar, muitas
vezes se referindo ao prolapso como a “saída duma tripa”. Sangramento anal: pode haver sangramento
ligeiro, mas não é comum. O prolapso rectal pode-se complicar com eversão total do recto e incontinência
fecal, por redução do tónus do esfíncter anal. Os pacientes geralmente vêm com história pregressa de
obstipação severa e eliminação de fezes muito duras.TRATAMENTO medicamentoso: Os
medicamentos para prevenir a obstipação são úteis para o prolapso rectal: BISACODIL.
23. ABCESSO ANAL: Abcesso é uma colecção de pus bem delimitada, desenvolvida numa cavidade
neoformada. Estes abcessos podem ocorrer em qualquer lugar, incluindo na região anal, onde passam a
chamar-se abcesso anal. Quadro clínico: Os doentes com um abcesso anal normalmente se queixam de:
Desconforto e dor perianal intensa, pulsátil, agravados pela defecação, movimentação e compressão ao
sentar por exemplo. Nalguns casos os pacientes referem palpação de tumoração perianal dolorosa que
aumenta gradualmente de tamanho. Febre, calafrios, mal-estar e outros sintomas de toxicidade sistémica,

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podem estar presentes mesmo antes de se diagnosticar o abcesso. TRATAMENTO medicamentoso: O


tratamento dos abcessos requer intervenção cirúrgica (drenagem do abcesso), antibioterapia (por
exemplo, AMOXICILINA com ÁCIDO CLAVULÂNICO via oral em casos leves, e PENICILINAS e
AMINOGLICOSÍDEOS nos casos graves com sépsis) e analgesia (IBUPROFENO,
PARACETAMOL).
INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA E CRÓNICA: A insuficiência hepática é a incapacidade do
fígado desempenhar normalmente as suas funções. A insuficiência hepática, de acordo com a evolução,
é classificada em aguda e crónica.

24. INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA: A insuficiência hepática aguda é uma condição grave, em
que há rápida deterioração das funções do fígado, que se manifesta por encefalopatia hepática, com
alteração do estado mental desde confusão até coma, em um indivíduo previamente saudável, dentro de 8
semanas após o aparecimento dos primeiros sintomas de afecção hepática (ex icterícia). A insuficiência
hepática aguda frequentemente atinge os jovens e tem uma mortalidade muito elevada. Quadro clínico:
A encefalopatia hepática é a principal manifestação da insuficiência hepática aguda, mas no início, ela
pode ser leve e intermitente e depois evolui até a coma. A encefalopatia hepática manifesta-se de
diferentes formas dependendo do seu estágio: 1º Estágio – euforia ou depressão, confusão leve, fala
indistinta, distúrbio do sono, asterixe (tremor fino da mão). 2º Estágio – letargia, confusão moderada. 3º
Estágio - confusão mental marcada, sonolência, mas pode ser acordado, fala inarticulada. 4º Estágio –
coma; inicialmente responsivo a estímulos nocivos e, mais tarde, irresponsivo.Outras manifestações da
insuficiência hepática aguda (vide aula 5 para mais detalhes) não relacionadas com a encefalopatia são:
Dor no hipocôndrio direito; Fraqueza generalizada; Náuseas e vómitos; Icterícia e ascite; Eritema palmar,
contractura de Dupuytren; Hipertrofia das parótidas; Fector hepaticus; Hepatomegalia. CONDUTA: As
medidas de suporte consistem em prevenir, ou em reduzir os efeitos das complicações: Garantir
hidratação endovenosa: SORO FISIOLÓGICO (administração com cautela, devido a provável
insuficiência renal concomitante, sendo necessário balancear as saídas com as entradas); Prevenir ou
tratar a hipoglicemia: DEXTROSE A 5% e/ou DEXTROSE A 30%, associado a alimentação por
sonda nasogástrica se em coma; Antibioterapia empírica e de amplo espectro para tratamento das
infecções: AMPICILINA e METRONIDAZOL. A GENTAMICINA não deve ser administrada até
que se tenha certeza de que não há lesão renal (lembre-se que a GENTAMICINA é nefrotóxica).
Prevenção de coagulopatias e hemorragias: uso de PLASMA FRESCO CONGELADO se sinais de
distúrbios de coagulação (equimoses, hemorragias digestivas). Administração de VITAMINA K
parenteral.

25. ABCESSO HEPÁTICO: Abcesso hepático é uma cavidade neoformada bem delimitada com pus,
localizada dentro do parênquima hepático. Os abcessos hepáticos fazem parte das doenças infecciosas do
fígado. Existem 2 tipos de abcesso hepático, diferenciados principalmente pela etiologia: Abcesso
hepático piogénico e Abcesso hepático amebiano. Abcesso Piogénico sao os abcessos piogénicos são
frequentes em pacientes com idade compreendida entre 50 a 60 anos, e apesar das diversas formas de
infecção, estes estão geralmente associados à doença do trato biliar, ou extensão directa de um órgão
vizinho. A incidência aumenta nos indivíduos imunocomprometidos. Quadro clínico: Pacientes
geralmente estão com aspecto doente, e por vezes com febre, calafrio e perda de peso. Dor abdominal é
o sintoma mais comum e normalmente está bem localizado no quadrante superior direito e pode ter dor
referida no ombro direito. A hepatomegalia é comum podendo se palpar tumefacções localizadas. Pode

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ter uma icterícia discreta, e pode tornar-se severa se o abcesso for tão grande que obstrui os canais
biliares. Ascite e esplenomegalia são raras. TRATAMENTO antibiótico: AMPICILINA inj. Por via
EV, 1 grama de 6 em 6 horas, mas em casos graves pode ser 3 gramas de 6 em 6 horas, durante 7 a 10
dias. GENTAMICINA: inj. Por via EV 160 a 240 mg 1 vez por dia, ou 80 mg de 8 em 8 horas durante 7
dias. METRONIDAZOL: inj EV 500 mg de 8 em 8 horas por 7 á 10 dias. Drenagem cirúrgica, se não
houver melhora do estado geral depois de 48 horas. Em caso de melhoria da sintomatologia após 48h,
pode-se passar para antibioticoterapia oral, com AMOXICILINA 500 mg de 8 em 8 horas e
METRONIDAZOL 500 mg de 8 em 8 horas durante o tempo de 7 a 10 dias que faltam.
26. LITÍASE BILIAR: Litíase biliar ou cálculos biliares são uma espécie de “pedras” formadas a partir
do acúmulo de ácido úrico ou cristais que se fundem e solidificam-se. Quadro clínico: A Litíase biliar na
maior parte dos casos é assintomática. Quando evolui com sintomas, a sua principal manifestação são as
cólicas biliares. Cólica Biliar: é uma dor intensa causada por espasmo da vesícula biliar ao tentar forçar a
passagem de um cálculo pelo ducto cístico. Esta cólica biliar é descrita como uma dor no quadrante
superior direito (hipocôndrio) ou epigástrica, que ocorre 30 a 90 min depois da refeição, frequentemente
irradiando para a região dorsal ou escápula direita. É uma dor imprevisível, intensa, e geralmente
constante. A dor persiste por 3 ou 4 horas e pode evoluir com náuseas e vómitos. Estas crises podem
ocorrer em intervalos de dias ou meses. Se a dor persiste por mais de 6 horas, deve-se pensar em alguma
complicação como pancreatite ou colecistite. A cólica biliar pode ou não ser acompanhada por inflamação
da vesícula (colecistite). CONDUTA: Consiste no alívio e controlo da dor com DICLOFENAC
injectável 75 mg por via IM; BUTILESCOPOLAMINA injectável 20 mg IM ou EV, podendo se repetir
30 minutos depois. Dose máxima de 100 mg/dia. Antibioticoterapia (se suspeita de infecção): vide
colecistite.
27. COLECISTITE: Colecistite é a inflamação da vesícula biliar. Colecistite aguda é a inflamação
aguda da vesícula biliar. Quadro clínico: O principal sintoma é a dor no hipocôndrio direito (também
epigastro) que frequentemente se irradia para o tronco até a extremidade inferior da escápula direita. A
dor é contínua e exacerbada pelos movimentos e respiração. Só os analgésicos aliviam-na. O paciente
sente-se nauseado e frequentemente vomita. Ao exame físico se encontra um paciente angustiado pela dor
e com febre. Há respiração superficial. O sinal de Murphy é positivo (inspiração profunda ou tosse
durante a palpação do hipocôndrio direito produz aumento da dor ou parada respiratória). A vesícula
biliar pode ser palpável (20% dos casos). Quando há irradiação da dor para a escápula, pode haver uma
área cutânea abaixo da escápula que é hipersensível (sinas de Boas). CONDUTA: Dieta zero; Colocação
de SONDA NASOGÁSTRICA (para aspiração); Líquidos e electrólitos IV: LACTATO DE RINGER
ou SORO FISIOLÓGICO 1000 ml. Analgesia: DICLOFENAC 75 mg IM;
BUTILESCOPOLAMINA 20 mg IM ou EV 3 – 4 x/dia. Antibioticoterapia: AMPICILINA 1 a 3
gramas EV de 6 em 6 horas por 7 a 10 dias (substituída por amoxicilina se paciente melhora ao fim de 48
h); GENTAMICINA 80 mg EV de 8 em 8 horas ou 160 a 240 mg EV 1x/dia.
___________________________________________________________________________________
28.PANCREATITE: Pancreatite é uma doença inflamatória do pâncreas, caracterizada por episódios de
dor abdominal e elevação dos níveis séricos de amílase e lípase. A pancreatite pode ser diferenciada em
termos clínicos em: Pancreatite aguda e Pancreatite crónica. As causas mais comuns da pancreatite são o
álcool e colelitíase. Outras causas: traumatismo abdominal, infecções (virais - sarampo, bacterianas,
helmínticas, fúngicas), medicamentos (sulfonamidas, diuréticos tiazídicos, furosemida, tetraciclinas),
complicação de uma úlcera péptica).

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28.1. PANCREATITE AGUDA: A pancreatite aguda ocorre como consequência de uma activação
prematura dos zimogénios (enzimas pancreáticas não activas), que vão fazer uma auto-digestão do
pâncreas. Quadro clínico da pancreatite aguda: O sintoma de apresentação habitual é a dor, que se
inicia de modo súbito, frequentemente algumas horas após ingestão de alimentos e/ou álcool excessiva.
Localiza-se no epigastro, hipocôndrio direito (na afectação da cabeça do pâncreas) e/ou esquerdo
(afectação da da cauda do pâncreas) com irradiação no dorso fazendo a volta em cinturão. A dor é
contínua tipo facada que evolui progressivamente aumentando de intensidade até se tornar insuportável
(controlo da dor recorrendo a opiáceos) que faz com que o paciente se deite parado e respire
superficialmente. Pode ter como posição de alívio a postura de “prece maometana”. Vómitos e náuseas
são frequentes. Ao exame físico, o paciente está angustiado e com medo, com febre baixa, taquicardia, e
eventualmente sinais de hipotensão. Se houver obstrução do colédoco pode existir icterícia. Poderá ser
visíveis (em casos graves) equimoses ou pigmentação azul-vermelho-púrpura ou castanho-esverdeada nos
flancos – principalmente flanco esquerdo (sinal de Gray Turner) ou uma mancha azulada na área
periumbilical (sinal de Cullen) – indicando hemoperitoneo. CONDUTA: Dieta zero; SONDA
NASOGÁSTRICA para descompressão gastrica; Cateter vesical para controlar a diurese. Analgésicos
fortes: PETIDINA 50-100 mg por via IM ou 25 mg por via EV de 5 em 5 min, até obter o efeito
analgésico (máximo 100 mg); Se não melhora, pode-se usar MORFINA (nível 3) na dose de 5-10 mg SC
de 4 em 4 horas ou de 6 em 6 horas. Pela via EV a MORFINA se administra na dose de 2.5 mg a repetir
de 5-10 min, até obter o efeito analgésico (máximo 10 mg). LACTATO DE RINGER ou SORO
FISIOLÓGICO: 1000 ml EV e manter o estado de hidratação do paciente, podendo ser necessário até 12
litros.Transfusão sanguínea, se necessário (vide complicações e critérios de referência/transferência).
Antibioticoterapia: AMPICILINA 1grama EV de 6 em 6 horas e GENTAMICINA 80 mg EV de 8 em
8 horas. A melhoria clínica se verifica depois de 3-6 dias, altura em que se pode iniciar dieta líquida.

28.2. PANCREATITE CRÓNICA: Pancreatite crónica é uma doença inflamatória do pâncreas,


caracterizada pela presença de lesão morfológica, ou funcional permanente e progressiva no pâncreas.
Muitos pacientes sofrem agravamentos intermitentes de pancreatite aguda.
Nos casos avançados, os pacientes desenvolvem Diabetes Mellitus resultante da destruição das ilhotas de
Langerhans (produtoras de insulina). Quadro clínico: Na maioria dos casos apresenta-se geralmente em
episódios de pancreatite aguda. A dor abdominal é a principal manifestação, e pode ser constante ou
intermitente, diminuir ou desaparecer completamente com o passar do tempo. Ocorre perda de peso em
50% dos pacientes, e inicialmente se deve a redução da ingestão de calorias devido ao temor de agravar a
dor abdominal. Em casos avançados a perda ponderal se deve a insuficiência pancreática que leva a má
absorção. A diarreia e esteatorreia podem estar presentes. Existe um certo grau de intolerância a glicose
no início da doença mas só chega a desenvolver diabetes clínica na fase avançada da doença.
CONDUTA: As medidas gerais de tratamento consistem no tratamento da má absorção e controlo da dor.
Isto consiste em: Evitar ou eliminar o consumo de álcool, bem como refeições volumosas e gordurosas;
No início, deve-se dar IBUPROFENO 400mg de 4/4 horas ou DICLOFENAC 50 mg de 8/8 h ou se não
melhorar com nenhuma destas duas; DICLOFENAC injectável 75 mg 1 a 2 x por dia.
EMERGÊNCIAS DO ESÓFAGO: As emergências do esófago são: Ruptura/perfuração esofágica;
Ingestão de caustic e Corpos estranhos (obstrução).

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29. RUPTURA/PERFURAÇÃO ESOFÁGICA: O esófago embora protegido pela caixa torácica está
sujeito a sofrer lacerações ou ruptura que podem ser originadas por Iatrogénicas (ex: durante uma
entubação, colocação de sonda nasogástrica ou endoscopia); Aumento de pressão intra-abdominal durante
o vómito, ânsia de vómito ou tosse; Trauma contuso ou perfurante. CONDUTA: Aplicar o ABCDE
(abordado na disciplina de Enfermagem e Primeiros Socorros); Colher amostra de sangue para
determinação do grupo sanguíneo e perfil hematológico; Canalizar duas veias: SORO FISIOLÓGICO
ou RINGER: 1000 ml, Se hemodinamicamente instável (tensão arterial sistólica < 90 mmhg, taquicardia,
pulso fino): administrar além de SORO FISIOLÓGICO, GELATINA POLIMERIZADA (plasma gel)
de modo a manter a TA > 90 mmhg); Algaliar e monitorar diurese; PETIDINA 100 mg IM ou 25 mg EV

30. INGESTÃO DE CÁUSTICOS: A ingestão de cáusticos é muito comum em Moçambique, e os


cáusticos frequentemente ingeridos são o petróleo e água de bacteria. É causada por: Acidentes (deixar
produtos cáusticos ao alcance de crianças e idosos); Doentes mentais; Tentativa de suicídio. Quadro
clínico: O quadro clínico varia, mas o doente pode estar agitado ou em coma. Pode ser evidente
manifestações orais como sialorreia, muco na cavidade oral, ulcerações orolabiais. A história fornecida
pelo doente ou acompanhante é que leva ao diagnóstico. CONDUTA: ABCDE; Lavar a boca e outras
partes do corpo que entraram em contacto com o cáustico; Remover fragmentos que ainda possam estar
na boca; Administração de leite ou água por via oral; Colheita de sangue para tipagem e perfil
hematológico; Acesso venoso: SORO FISIOLÓGICO ou RINGER – 1000 ml; Analgesia –
PETIDINA como anteriormente; Antiácidos: RANITIDINA 50 mg IM; se não disponível, administre,
por via oral, comprimidos de RANITIDINA (300 mg) esmagados e dissolvidos em água;
Antibioticoterapia – AMPICILINA 1 grama EV ou PENICILINA CRISTALIZADA 2.000.000 UI
EV; Corticoesteróides nas queimaduras por álcalis (não ácido): - PREDNISOLONA 50 mg EV ou
HIDROCORTISONA 100 mg EV. NOTA: Nunca induzir o vómito. Não administre CARVÃO
ACTIVADO.

31. CORPOS ESTRANHOS: É mais frequente em crianças. Pode ocorrer em adultos, principalmente
nos que têm falta de dentes ou com problemas mentais. Adultos podem geralmente referir que ingeriram
um objecto e descrevê-lo e dizer o horário em que isso ocorreu. Causas: Moedas; Bolos de carne;
Espinhas de peixe; Ossos; Próteses dentais, etc. Quadro clínico: Sensação de sufocamento; Ânsia de
vómito; Sialorreia; Pode estar agitado ou ansioso; Disfagia, odinofagia; Também pode se apresentar com
dor torácica, tosse, dispneia, chiado ou estridor; Em casos mais severos, particularmente nos corpos
estranhos grandes ou pontiagudos, pode haver dor intensa, vómitos, recusa à alimentação, saliva com
sangue ou choque; O exame físico pode sugerir perfuração, através de edema, eritema, dor ou crepitação
cervical. CONDUTA: Estabilizar o doente (ABCDE); Analgésico intramuscular, para reduzir a dor e
a ansiedade do doente; Referir imediatamente para um hospital que tenha um bloco operatório.
EMERGÊNCIAS DO ABDÓMEN: As emergências do abdómen são: Hemorragia Digestiva Alta;
Abdómen Agudo; Trauma Abdominal Fechado ou Aberto; Hérnias Encarceradas/Estranguladas.

32. HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA (HDA): É causada por: Varizes gastroesofágicas; Úlcera
péptica perfurada; Outras: perfuração do esófago, esofagites, entre outras. Quadro clínico: Hematémese
que pode ou não ser acompanhada de melena; Dependendo do volume de sangue perdido e do tempo do
sangramento, pode ter sinais de choque (taquicardia, TA sistólica < 90 mmhg, pulso rápido e fino).
CONDUTA: ABCDE; Acesso EV - 2 grandes veias - Tirar sangue para análises laboratoriais

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(hemograma, bioquímica e testes de compatibilidade); Imediatamente corrigir a hipovolemia com SORO


FISIOLÓGICO ou RINGER LACTATO (se a perda estimada de sangue for de 1 litro tem que se
administrar 3 litros de SORO FISIOLÓGICO – regra 1:3); depois continuar fluídoterapia com
substitutos do plasma (DEXTRANO, GELATINAS). Avaliar a necessidade de transfusão sanguínea;
Algaliar o doente e controlar a diurese horária; Se o paciente ainda estiver com hematemese activa,
colocar SNG e fazer frequentes lavagens com água gelada (pode ser SORO FISIOLÓGICO
GELADO), a fim de fazer a hemostase e monitorização do sangramento. Se o paciente já não estiver a
vomitar sangue recomenda-se monitorização constante sem lavagem com água gelada, pois corre-se o
risco de desprender os coágulos que já estavam a começar o processo de hemostase e reiniciar a
hemorragia; Na suspeita de hemorragia devido à ruptura das varizes esofágicas introduzir a SONDA DE
BLAKEMORE-SENGSTAKEN (na falta desta sonda, a SNG e água bem gelada, dão um bom
suporte); Administrar VITAMINA K; Antiácidos endovenosos (RANITIDINA) ou oral esmagado via
SNG; Quando o paciente estiver estável, deverá transferi-lo para avaliação aprofundada (endoscopia
diagnóstica e terapêutica está indicada).

33. ABDÓMEN AGUDO: O abdómen agudo pode ser definido como uma dor abdominal de
aparecimento súbito, não traumático. Por definição, o abdómen agudo é uma urgência cirúrgica.

33.1.PACIENTE COM SINAIS DE PERITONITE: Dor abdominal a compressão e à descompressão


(sinal de Blumberg); Defesa da parede abdominal / Abdómen em tábua; Dor exacerbada pelo movimento
e por aumento da pressão intra-abdominal (tosse, espirro, acto de defecar); Ruídos hidroaéreos reduzidos
ou ausentes; Sintomas gerais indicativos de toxicidade sistémica: febre, calafrios, mal-estar, prostração.
CONDUTA: Acesso EV - 2 grandes veias - Tirar sangue para análises laboratoriais (hemograma,
bioquímica e testes de compatibilidade); Imediatamente corrigir a hipovolemia com SORO
FISIOLÓGICO ou RINGER LACTATO (regra 1:3). Avaliar a necessidade de transfusão sanguínea;
Algaliar o doente e controlar a diurese horária; Passar uma SONDA NASOGÁSTRICA para fazer
descompressão gástrica; Se o doente estiver estabilizado, peça: Raio-x em posição erecta; procurando
evidências de perfuração (pode ser a causa da peritonite); Refira para se fazer uma ecografia abdominal,
procurando líquido livre peritoneal (compatível com peritonite), cálculos biliares, abcessos intra-
abdominais.

33.2. PACIENTE COM SINAIS DE OBSTRUÇÃO INTESTINAL: Distensão abdominal; Vómitos;


Cólicas; Som metálico ao auscultar o abdómen; No início, aumento da peristalse. Tardio: redução da
peristalse; Se for uma obstrução funcional, a peristalse sempre estará reduzida. CONDUTA: Acesso EV -
uma veia e fazer hidratação lenta com solução salina ou lactato de Ringer; SNG; Monitorização da
diurese; Antibióticoterapia de amplo espectro: AMPICILINA 1 grama EV (ou PENICILINA
CRISTALIZADA 3.000.000 UI), GENTAMICINA 160 mg EV e METRONIDAZOL 500 mg EV;

34. TRAUMA ABDOMINAL FECHADO (CONTUSO ) OU ABERTO (PENETRANTE): O trauma


abdominal é frequentemente encontrado em situações de emergência. A falta de história adequada do
mecanismo de trauma e a presença de lesões que podem resultar em dor irradiada para o abdómen ou a
alteração do estado mental, devido a trauma cranioencefálico, podem dificultar o diagnóstico e o
tratamento do trauma abdominal. Os pacientes que são vítimas de trauma, frequentemente têm lesões intra
e extra-abdominais associados. Trauma contuso (fechado): No trauma contuso de abdómen (acidentes

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de carro, atropelamento, queda de alturas, etc.), as vísceras parenquimatosas, tanto pelo seu tamanho
como pelo peso, são susceptíveis às lacerações, esmagamentos e roturas no local de fixação anatómica. O
baço é o órgão lesado Sistema Gastrointestinal Versão 2.0 299 em cerca de 40 a 55% e o fígado em 35 a
45%. Menos frequentemente, as vísceras ocas podem ser lesadas. Trauma penetrante (aberto): Os
ferimentos por arma branca (por exemplo: faca) acometem mais frequentemente ao fígado (40%),
intestino delgado (30%), diafragma (20%) e cólon (15%). Os ferimentos por arma de fogo causam mais
danos intra-abdominais devido à extensão da sua trajectória e a maior energia cinética dissipada, tendo
como principais sedes de lesão o intestino delgado (50%), cólon (40%), fígado (30%) e estruturas
vasculares abdominais (25%). Quadro clínico: Sangramento intra-abdominal: lembre-se que cerca de
40% dos pacientes com hemoperitónio de considerável volume podem não apresentar manifestações
clínicas na avaliação inicial; Escoriações, contusões, hematomas localizados e ferimentos abertos são
sugestivos de trauma e devem ser bem caracterizados. Podem ocorrer hematomas nos flancos,
periumbilical ou no assoalho pélvico demonstrando hemorragia interna; Sangue ou conteúdo
gastrointestinal na cavidade peritoneal pode resultar em ílio paralítico, e consequente redução dos ruídos
hidroaéreos; A percussão do abdómen pode demonstrar som timpânico devido à dilatação gástrica no
quadrante superior esquerdo ou por presença de ar vindo da víscera perfurada ou macicez difusa quando o
hemoperitônio está presente; Sinais de peritonite podem estar presentes; Sangue no toque rectal sugerindo
uma hemorragia interna. CONDUTA: ABCDE; Acesso EV - 2 grandes veias - Tirar sangue para análises
laboratoriais (hemograma, bioquímica e testes de compatibilidade); Imediatamente corrigir a
hipovolemia com SORO FISIOLÓGICO ou RINGER LACTATO (regra 1:3). Considerar PLASMA
ou GELATINA POLIMERIZADA. Avaliar a necessidade de transfusão sanguínea; SONDA
NASOGÁSTRICA: descompressão do estômago e descobrir possíveis hemorragias por trauma do trato
gastrintestinal superior; Sonda vesical: controlo do débito urinário e verificar um trauma vesical; Não
deve receber analgésicos e nem antibióticos e deve estar em jejum por pelo menos 12 horas. Os
analgésicos podem mascarar o agravamento da situação, dando a falsa impressão de que o doente está
a melhorar enquanto ele está a degenerar progressivamente. Neste período, o paciente deve estar em
repouso absoluto no leito, o exame físico deve ser repetido, de preferência, pelo mesmo observador pois
este tem consciência de como o doente chegou e pode dizer claramente se este está a melhorar ou piorar.
Deve-se pedir hemogramas seriados. Deve-se estar atento ao desenvolvimento de hipotensão arterial,
taquicardia, febre ou dor à palpação abdominal – sinais de gravidade.

35. HÉRNIAS ENCARCERADAS/ESTRANGULADAS: A hérnia por definição é a protrusão


anormal parcial ou total de um órgão ou tecido através de um defeito nas suas paredes adjacentes.
Quadro clínico: Hérnia Estrangulada – o paciente vem com dor, e a hérnia não é redutível. Hérnia
Encarcerada – o paciente não tem dor, a hérnia não é redutível. Conduta: Colocar o paciente em
posição de Trendelemburg; Colocar um saco de gelo sobre a hérnia estrangulada/encarcerada; Acesso
EV: SORO FISIOLÓGICO ou RINGER – 1000 ml; Antiinflamatório injectável: DICLOFENAC 75
mg IM; Antibioticoterapia: AMPICILINA 1 a 3 gramas EV e GENTAMICINA 160 – 240 mg EV; A
hérnia encarcerada pode evoluir para hérnia estrangulada.
EMERGÊNCIAS RECTO-ANAIS

36.HEMORRÓIDES TROMBOSADAS: causa e quadro clínico: As hemorróides são dilatações das


veias do plexo hemorroidal; aponta-se como principais factores de risco a dieta pobre em fibras e o
aumento da pressão intra-abdominal por qualquer causa (por ex gravidez); As hemorróides trombosadas

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são uma complicação das hemorróides de grau IV. Surgem quando os músculos esfincterianos
estrangulam a hemorróide prolapsada, produzindo congestão sanguínea e formação de trombos. A
hemorróide fica dura, de cor escura, formando um edema em todo território perianal e produz uma dor
intensa contínua. CONDUTA: Analgésicos orais ou intramusculares, dependendo da dor do paciente;
Gelo para reduzir a dor (colocar compressa de gelo no ânus ate ter acesso a pequena cirurgia.

37. FISSURA ANAL: É Causada por: Obstipação; Esforço para defecar fezes muito sólidas. Quadro
clínico: Dor intensa na defecação; Pode ter manchas de sangue no papel higiénico. Visualização da
fissura. CONDUTA: Anlagesia parenteral (DICLOFENAC 75 mg IM) ou oral (PARACETAMOL ou
IBUPROFENO ou DICLOFENAC); Banhos de assento nos períodos de dor, nomeadamente após a
defecação. O paciente deve sentar numa bacia com água morna por 30 minutos 3 vezes por dia. Estes
banhos de assento aliviam os espasmos musculares e a congestão do ânus o que ajuda a curar a fissura;
Considerar a aplicação anal de anestésicos (LIDOCAÍNA) em gel, creme ou pomada, e aplicar na
margem anal minutos antes de cada dejecção, por 7 dias; Analgesia sistémica (por ex.
PARACETAMOL oral) se necessário. Se esta fissura permanecer por mais de 1 semana após o início do
tratamento, sem nenhum sinal de melhoria ou estiver a piorar, referir para o hospital de referência para
tratamento cirúrgico.

III. SISTEMA RESPIRATÓRIO


1.GRIPE: A gripe, também denominada constipação ou resfriado comum, é uma doença infecto-
contagiosa viral, que afecta as vias respiratórias superiores. Quadro clínico: Rinorreia: secreção de muco
seroso pelo nariz, transparente e pouco consistente nos primeiros dias, mais tarde pode tornar-se mais
espessa e amarelada sobretudo se houver sobre-infecção bacteriana. Congestão e obstrução nasal,
dificultando a respiração: por estase do muco. Tosse seca ou produtiva, espirros. Diminuição do olfacto e
da gustação. Voz anasalada, odinofagia e rouquidão, podem estar presentes. Sintomas gerais: cefaleias,
mioartralgias generalizadas, febre, astenia, anorexia. TRATAMENTO medicamentoso:
Analgésico/antipirético e anti-inflamatório até o alívio de sintomatologia: PARACETAMOL 500 mg
de 6 em 6 horas; ou IBUPROFENO 400 mg de 8 em 8 horas. Descongestionamento nasal: com
GOTAS DE SORO FISIOLÓGICO: aplicar 3 gotas em cada narina 3-4 vezes ao dia até as secreções
tornarem-se mais fluidas.
2. BRONQUITE E TRAQUEÍTE AGUDA: Os termos traqueíte e bronquite agudas definam uma
inflamação auto-limitada (de 1-3 semanas) das grandes vias aéreas que se estende da traqueia até os
broncos terciários cujo sintoma principal é a tosse. Quadro clínico: O sintoma clínico principal é a tosse
com uma duração de 1-3 semanas. Sintomas associados mais comuns incluem: produção de escaro, febre,
mal-estar, roncos e sibilos e as vezes dispneia. Infecções causadas por bactérias atípicas são mais
associadas a síbilos do que as virais. TRATAMENTO medicamentoso: Analgésico/antipirético e anti-
inflamatório até o alívio de sintomatologia: PARACETAMOL 500 mg de 6 em 6 horas; ou
IBUPROFENO 400 mg de 8 em 8 horas. Caso não haver melhorias do quadro clínico ou em presencia
de dispneia pode ser indicada a terapia antibiótica por 7-14 dias: ERITROMICINA, 500 mg de 6 em 6
horas, ou DOXICICLINA, 200 mg de 12 em 12 horas
_____________________________________________________________________________________
3.ASMA BRÔNQUICA: Asma é uma doença inflamatória, crónica, episódica, caracterizada por
hiperreactividades das vias respiratórias que cursa com obstrução (parcial ou total) reversível das
mesmas. Quando o asmático apresenta-se com os sinais e sintomas de asma estamos perante uma

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crise de asma. Quando os sinais e sintomas (decorrentes da obstrução grave) persistem por dias
ou semanas estamos perante estado de mal asmático. Quadro clínico: Os sinais e sintomas típicos
da asma são pieira, dispneia e tosse com intensidade variável. Os sintomas podem piorar à noite.
Ao exame físico encontra-se taquipneia, taquicardia, tiragem, adejo nasal. À palpação teremos
vibrações vocais normais ou diminuídas. À percussão teremos hiperssonoridade. À auscultação
teremos murmúrio vesicular normal ou diminuido, com roncos e sibilos. Nos casos graves
teremos: paciente agitado, incapaz de adoptar uma posição, com cianose, bradicárdia,
hipotensão, abolição do murmúrio vesicular. Falta de ar, aperto no peito, pieira e tosse. Os sinais
e sintomas típicos da asma são pieira, dispneia e tosse, acompanhados de roncos e sibilos à
auscultação. TRATAMENTO DA CRISE: ß2 – agonistas – SALBUTAMOL solução
nebulizável (5mg/ml): diliuir 0.5 a 1 ml em soro fisiológico até perfazer 2-4 ml de solução e
inalar até terminar o aerossol (máximo 3 doses). Corticosteróides: PREDNISOLONA ou
HIDROCORTISONA. As doses já estão esclarecidas no diagrama. Xantinas –
AMINOFILINA injectável 240mg/10ml – ampola. Dose de ataque: 6 mg/kg adiministrada
lentamente, durante 20 a 30 min, ou de preferência em perfusão em soro fisiológico ou dextrose
a 5%, durante 30 min. Dose de manutenção: adultos não fumadores – 0.5mg/kg/h; adultos
fumadores – 0.75-0.85 mg/kg/h. TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO: Asma intermitente:
Broncodilatadores: SALBUTAMOL em aerossol pressurizado 100μg (bombinha), 2 - 3
jactos em dose única no tratamento das crises ligeiras. Asma persistente ligeira:
Broncodilatadores: SALBUTAMOL em aerossol pressurizado 100 μg (bombinha), 2 - 3
jactos, 3 a 4 vezes por dia, ou SALBUTAMOL nebulizável (como na crise) de 4 em 4 horas ou
de 6 em 6 horas, + Corticóides inalatórios em baixas doses: BECLOMETASONA em
aerossol pressurizado (100μg por inalação), 2 jactos 3 a 4 vezes por dia. Asma persistente
moderada: Broncodilatadores: SALBUTAMOL como na asma persistente ligeira +
Corticóides inalatórios em doses moderadas a altas: BECLOMETASONA em aerossol
pressurizado (100 μg por inalação), 3 jactos 3 a 4 vezes por dia. Asma persistente grave:
Broncodilatadores: SALBUTAMOL como na asma persistente ligeira/moderada +
Corticóides inalatórios em doses altas: BECLOMETASONA em aerossol pressurizado, 100
μg por inalação, 4 a 5 jactos 3 a 4 vezes por dia + AMINOFILINA: 5 a 10 mg/kg/dia divididos
em 3 tomas (geralmente 100 mg de 8 em 8 horas). Começar com baixas doses e aumentar-se de 3
em 3 dias até se obter resposta. Se insucesso do tratamento anterior, acrescentar
PREDNISOLONA na dose de 10-20 mg/dia (até máximo de 60 mg/dia), de preferência de
manhã depois do pequeno-almoço. Se não melhora, refira ao médico. Outros Tratamentos:
Hidratação agressiva, fisioterapia respiratória, mucolíticos e sedativos não estão
recomendados. Antibióticos estão indicados nos casos em que houver evidências de sobre-
infecção bacteriana. Não há restrições específicas sobre dieta ou actividade física.
4. PNEUMONIA: Em termos gerais, pneumonia significa inflamação do parênquima pulmonar. A
maior parte das pneumonias são causadas por agentes infecciosos, mas podem também ser causadas por
agentes químicos, aspiração de alimentos ou trauma. Pneumonia é definida como uma infecção
respiratória aguda, com afecção segmentar, lobar, ou multilobar do parênquima pulmonar. A sua etiologia
infecciosa pode ser bacteriana, viral, fúngica ou parasitária. A pneumonia pode ser classificada em

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pneumonia adquirida na comunidade (PAC – típica e atípica), pneumonia hospitalar e pneumonia


em pacientes imunocomprometidos. Quadro clínico: Pneumonia Adquirida na Comunidade: a
pneumonia pode se apresentar com a forma lobar ou com a forma broncopulmonar. Na pneumonia lobar o
processo inflamatório localiza-se predominantemente nos alvéolos. Na broncopneumonia o processo
inflamatório alveolar estende-se aos brônquios e bronquíolos. A afecção alveolar é irregular, sem limites
claramente definidos, e em geral é bilateral. Na prática clínica, esta distinção não afecta a conduta
terapêutica nem muda o agente etiológico. A pneumonia típica caracteriza-se por início súbito de febre,
tosse produtiva com escarro purulento e dor torácica pleurítica (tipo “pontada” ou “facada” que se
exarceba com os movimentos respiratórios). À auscultação pulmonar encontra-se fervores crepitantes,
sopro tubário, broncofonia e pectorilóquia. A pneumonia atípica caracteriza-se por início mais gradual,
tosse seca e predomínio de sintomas extrapulmonares (cefaleia, mal-estar, mialgias, odinofagia
orofaríngea, desconforto gastrointestinal) e sinais mínimos ao exame físico (além de fervores crepitantes)
Pneumonia Hospitalar ou Nosocomial: sintomatologia semelhante a pneumonia típica ou atípica que se
desenvolvem em pacientes internados após 48 hora ou mais depois da admissão. Pneumonia em
pacientes imunocomprometidos: sintomatologia atípica com comprovação de imunocompressão. A
pneumonia por Pneumocystis jirovecci faz parte desta pneumonia e se caracteriza por febre, dispneia,
taquipneia e tosse seca. Ao exame físico há uma desproporção entre a auscultação (poucos sinais
auscultatórios) e severidade da apresentação clínica (será descrita em detalhes na disciplina de Avaliação
e Manejo do Doente com HIV e SIDA). TRATAMENTO farmacológico: Analgésicos e anti-
inflamatórios para controlo da dor, febre e inflamação: DICLOFENAC ou IBUPROFENO;
OXIGÉNIO – 2-4 litros se dispneia com cianose; Hidratação EV se desidratado (LACTATO DE
RINGER ou SORO FISIOLÓGICO); Broncodilatadores – se sinais e sintomas de broncoespasmo
(vide aula sobre asma); Antibioticoterapia oral ou parenteral (EV/IM): PAC - Casos ligeiros (não
complicados): AMOXICILINA 250 mg e ÁCIDO CLAVULÂMICO 125 mg: 500 a 1000 mg (de
AMOXICILINA) de 8 em 8 horas durante 7 a 14 dias (geralmente 10 dias) ou ERITROMICINA: 500
mg de 6 em 6 horas durante 7 a 14 dias ou PENICILINA PROCAÍNA IM: 600.000 – 1.200.000 UI/dia
ou de 12 em 12 horas durante 7 a 14 dias ou COTRIMOXAZOL: 400 mg de sulfametoxazol e 80 mg de
trimpetropim – 800 mg de sulfametoxazol (2 comprimidos) de 12 em 12 horas durante 7 a 14 dias; PAC –
casos moderado/graves (que requeira hospitalização ou incapacidade de administração por via oral);
PENICILINA CRISTALIZADA EV: 500.000 UI de 6 em 6 horas (geralmente 1.000.000 UI, mas pode
se usar doses de 2.000.000 ou 3.000.000 UI) ou AMPICILINA EV: 2 a 12 gramas/dia divididos em 4
tomas (geralmente 1 grama EV de 6 em 6 horas, mas pode se usar doses de 2 ou 3 gramas EV de 6 em 6
horas) + GENTAMICINA EV/IM: 80 mg de 8 em 8 horas ou 160/240 mg EV 1 vez por dia
Pneumonia hospitalar – geralmente associado a resistência antibiótica. Iniciar com o esquema das PAC.
Pneumonia em pacientes imunocomprometidos – depende do agente etiológico suspeito, pelo que em
caso de fungos (anti-fúngicos – FLUCONAZOL) ou Pneumocystis jirovecci – o COTRIMOXAZOL
em altas. Logo que os sinais e sintomas melhorarem e puder ser tolerado medicação oral, passar para a
medicação acima citada pelo tempo que falta.
5. TUBERCULOSE PULMONAR: A tuberculose pulmonar (TBP) é uma doença infecciosa de
evolução crónica, causada pela Micobacterium tuberculosis (bacilo de Koch). A TBP pode ser
classificada em primária (afecta mais frequentemente as zonas médias e inferiores dos pulmões) ou
secundária (afecta mais os segmentos apicais e posteriores dos lobos superiores). Quadro clínico:
Geralmente verifica-se: Perda do apetite; Transpiração nocturna; Perda de peso; Tosse e fraqueza.
TBP primária: A TBP primária é mais frequente em crianças e indivíduos imunocomprometidos e afecta

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principalmente as zonas média e inferior dos pulmões; Pode ter resolução espontânea e ficar evidente sob
a forma de um nódulo calcificado (lesão de Ghon) ou evoluir para doença clínica grave rapidamente (em
crianças e imunodeprimidos), principalmente derrame pleural, cavitação aguda, compressão brônquica
por linfónodos aumentados, TB miliar ou meníngea; Febre de predomínio vespertino, sudorese nocturna,
astenia, perda de peso, mal-estar; Tosse, dor torácica, dispneia com alívio com o decúbito lateral (se
derrame pleural). TBP secundária: A TB secundária (também chamada pós primária) resulta da
reactivação da infecção latente. Geralmente a lesão localiza-se nos segmentos apicais e posteriores dos
lobos superiores. É mais frequente nos adultos; Febre de predomínio vespertino, emagrecimento, sudorese
nocturna, astenia; Tosse há mais de 2 semanas, frequentemente produtiva, que pode conter laivos de
sangue (expectoração hemoptóica) ou mesmo hemoptise. À auscultação, pode se encontrar fervores
crepitantes, roncos ou sopro anfórico (numa grande cavidade). Com a evolução da doença, podemos
encontrar anemia, dedos em baqueta de tambor ou hipocratismo digital, dispneia, podendo haver ou não
cianose periférica ou central. A mnemónica FESTA é característica desta forma de TBP – Febre,
Emagrecimento, Sudorese, Tosse produtiva há mais de 2 semanas e Astenia. TB pleural: A TB pleural é
a forma mais frequente de TBEP associada ao HIV. Em países com alto peso da TB como o nosso, a
causa mais provável de derrame pleural unilateral, é a TB; Dor torácica, dispneia com alívio em decúbito
lateral; Expansibilidade torácica diminuída; Frémito toracovocal diminuído e macicez a percurssão sobre
a área do derrame; Diminuição ou abolição dos sons respiratórios (murmúrio vesicular) sobre a área do
derrame. TRATAMENTO da tuberculose pulmonar: O tratamento da tuberculose é longo e dura cerca
de 6 a 8 meses, dependendo do regime. O regime padrão, em vigor no país, é dividido em duas fases, a
intensiva dura cerca de 2 semanas e de manutenção com duração de 4 meses, completado um total de 6
meses. Por outro lado, para aqueles doentes que são submetidos a retratamento, por abandono ou falência
do tratamento, o tratamento pode durar 8 meses ou mais, divididos em 3 meses para a fase intensiva e 5
meses para de manutenção. Os medicamentos usados são, preferencialmente em Doses Fixas
Combinadas (DFC). Os medicamentos de 1ª linha incluem a ISONIAZIDA (H), RIFAMPICINA
(R), ETAMBUTOL (E), PIRAZINAMIDA (Z) e a ESTREPTOMICINA (S), sendo que a
ESTREPTOMICINA (S) é o único fármaco injectável. Assim, conforme os medicamentos, existem 4
tipos de DFC disponíveis: 2 DFC – ISONIAZIDA e RIFAMPICINA (HR); 3 DFC pediátrico –
ISONIAZIDA, RIFAMPICINA e PIRAZINAMIDA (HRZ); 3 DFC – ISONIAZIDA,
RIFAMPICINA e ETAMBUTOL (HRE); 4 DFC – ISONIAZIDA, RIFAMPICINA, ETAMBUTOL
e PIRAZINAMIDA (HREZ). A resistência aos fármacos anti-tuberculose de 1ª linha, devido a
tuberculose resistente, resultou no desenvolvimento de fármacos de 2ª linha contra esta doença.
Os fármacos de 2ª linha são: Injectáveis: KANAMICINA, AMIKACINA, CAPREOMICINA; Orais:
ETIONAMIDA, CICLOSERINA, OFLOXACINA e LEVOFLOXACINA. Casos especiais: Mulher
grávida – não pode fazer ESTREPTOMICINA; TB e doença hepática crónica – 2SHE/10HE ou
2SHRE/6HR ou 9RE; TB e hepatite aguda – 3SE/6HR ou 3SE/9SE; TB e insuficiência renal –
2HRZ/4HR. NB: A associação do tratamento da TB com corticosteróides mostrou melhorar a
sobrevivência de casos graves tais como no Derrame pleural tuberculoso (quando grande e com
sintomas severos). Geralmente é usada a PREDNISOLONA na dose de 2 mg/kg de peso/dia durante 4
semanas e seguida dum período de desmame de 1 a 2 semanas.

PRESCRIÇÃO DO TRATAMENTO: Para facilitar a prescrição do tratamento contra a Tuberculose,


existe a padronização das doses a administrar em relação ao peso.
………………………………………………………………………………………………………

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CASO NOVO COM TB PULMONAR (APLICADO TAMBÉM PARA A TB EXTRA-PULMONAR COM A


EXCEPÇÃO DA TB DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL). (SEGUNDO O FNM): Fase intensiva do
tratamento, diário durante 2 meses com: - 4DFC: Drageias 150 mg de RIFAMPICINA + 75
mg de ISONIAZIDA + 400 mg de PIRAZINAMIDA + 275 mg de ETAMBUTOL;
Administrar em dose única matinal de preferência em jejum e durante 2 meses;
<30kg=1comprimido; 30-37kg=2c; 38-54KG=3 COMPRIMIDOS; 55-70kg=4c; >70kg=5c.
Fase de Manutenção, diário durante 4 meses com: (2DFC) Comp. 150 mg de RIFAMPICINA + 75
mg ISONIAZIDA; Administrar em dose única matinal, de preferência em jejum e durante 4 meses:
<30kg=2comprimidos; 30-37kg=2c; 38-54KG=3 COMPRIMIDOS; 55-70kg=4c; >70kg=5c.
………………………………………………………………………………………………………
CASO NOVO COM TB EXTRA-PULMONAR MENÍNGEA E COM A TB COM COMPLICAÇÕES
NEUROLÓGICAS (POR EXEMPLO, MAL DE POTT COM AFECTAÇÃO MEDULAR): Fase Intensiva:
2HRZS: dois (2) meses de 4DFC (ISONIAZIDA, RIFAMPICINA, PIRAZINAMIDA e
ESTREPTOMICINA). A toma é diária. Fase de Manutenção: 4HR: quatro (4) meses de 2DFC
(ISONIAZIDA e RIFAMPICINA). Toma diária.
………………………………………………………………………………………………………
PACIENTES COM TB PREVIAMENTE TRATADOS (informação duvidosa): Fase Inicial de
tratamento: 2 S (HRZE)/1 (HRZE), (ampola 1grama) diário durante 2 meses: 30-39kg=0,5 g,
40-54kg=0,75 g, 55-70kg=1 g; > 70kg=1 g; (HRZE) (75mg + 150mg+ 400mg+ 275mg): ): 30-
39kg=2 comprimidos, 40-54kg=3 c, 55-70kg=4 c; > 70kg=5 c. Fase de Manutenção diário
durante 5 meses com: 3DFC- (HRE) (75mg + 150mg+275mg), 30-39kg=2 comprimidos, 40-
54kg=3 c, 55-70kg=4 c; > 70kg=5 c.
………………………………………………………………………………………………………
CASO DE RECIDIVA, ABANDONO AO TRATAMENTO E FALÊNCIA TERAPÊUTICA: INDICADO O
RETRATAMENTO USANDO DROGAS DA PRIMEIRA LINHA (OMS): Fase Intensiva: Dois (2) meses com
4DFC (HRZE) + ESTREPTOMICINA, mais um (1) mês com 4DFC (HRZE). Total, são 3 meses.
Fase de Manutenção: Cinco (5) meses com 2DFC (HR) + E.
……………………………………………………………………………………………………..
CASOS NOVOS EM CRIANÇAS OU CASOS PULMONARES COM BK NEGATIVO OU TBEP QUE NÃO SEJAM
GRAVES E SEM HIV: Fase Intensiva: Dois (2) meses com 2DFC (HR) + Z.; Fase de manutenção:
Quatro (4) meses com 2DFC (HR)
………………………………………………………………………………………………………………
CONTROLO E PREVENÇÃO DA TUBERCULOSE: Faz-se tratamento preventivo com ISONIAZIDA.O
tratamento preventivo com ISONIAZIDA (TPI) em pacientes elegíveis reduz a probabilidade de
conversão de TB latente em TB activa principalmente em pacientes HIV positivos e reduz a mortalidade
por TB. O medicamento usado para o TPI é a ISONIAZIDA (H), em doses diárias por um período de 6
meses. Consiste na administração de ISONIAZIDA na dose de 300 mg/dia durante 6 meses, em
pacientes com determinados critérios de inclusão.
6. DERRAME PLEURAL: Derrame pleural é definido como o acúmulo anormal de líquido na
cavidade ou espaço pleural (entre as pleuras parietal e visceral). O derrame pleural não é uma
doença mas sim uma manifestação de outras doenças. Quadro clínico: Os sinais e sintomas do
derrame pleural dependem principalmente do volume e da velocidade de formação do líquido
acumulado. A localização do derrame (unilateral ou bilateral) também é um factor que influencia

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na sintomatologia. O quadro clínico pode incluir manifestações relacionadas com a patologia de


base. Os principais são: Dispneia: é mais comum nos derrames volumosos. Em pacientes com
derrame pleural unilateral, a dispneia alivia-se ou agrava-se com determinado decúbito lateral.
Um paciente com dispneia em decúbito lateral esquerdo e que se alivia com o decúbito lateral
direito, sugere que o derrame pleural é a direita. Um paciente com dispneia em decúbito lateral
direito e que se alivia com o decúbito lateral esquerdo sugere um derrame pleural a direita;
Tosse; é geralmente seca mas pode ser produtiva se houver lesão parenquimatosa concomitante;
Dor torácica: é mais intensa na fase inicial e melhora com o aumento do derrame pleural. É
também chamada dor pleurítica, e manifesta-se geralmente como pontada, que agrava com os
movimentos respiratórios (principalmente a inspiração profunda) ou com a tosse. Outros
sintomas como a febre e emagrecimento podem estar presentes, dependendo da patologia de
base. TRATAMENTO medicamentoso: O tratamento medicamentoso depende da causa: se
tuberculose (medicamentos anti-tubeculose), se pneumonia bacteriana (anti-bacterianos
apropriados), se insuficiência cardíaca (controlo da IC). Os corticoesteróides tem alguma
utilidade em determinados derrames (como na TB).
7. EMPIEMA: Empiema é o termo usado para designar a acumulação de pus (liquido purulento)
na cavidade pleural, podendo ocupar todo espaço pleural ou apenas parte dele (empiema
enquistado). O derrame pleural purulento (com pus) é chamado de empiema. A tuberculose é
a causa mais frequente de derrame pleural tipo exsudado, enquanto que a insuficiência
cardíaca é a causa mais frequente de derrame do tipo transudado. Quadro clínico: Os sinais e
sintomas respiratórios correspondem à síndrome do derrame pleural e incluem dispneia, tosse,
dor torácica. Especificamente no empiema, é comum haver expectoração purulenta de
quantidade variável (quando há comunicação entre um brônquio e cavidade pleural). O quadro
clínico inclui também manifestações sistémicas relacionadas ao empiema em si, ou à causa de
base. Os mais frequentes são: febre, emagrecimento, suores nocturnos, astenia, entre outros. As
complicações são as mesmas que o do derrame pleural. CONDUTA: O tratamento do empiema
visa curar a infecção e retirar o pus acumulado no espaço pleural. O tratamento medicamentoso e
não medicamentoso é similar ao descrito no derrame pleural. A cobertura antibiótica empírica
deve ser ampla para cobrir os Gram positivos, gram negativos e anaeróbios. Uma combinação de
PENICILINA CRISTALIZADA (ou AMPICILINA) + GENTAMICINA + METRONIDAZOL
deve ser instituído. Se o líquido pleural é espesso e não é possível drená-lo por toracocentese, é
necessário transferir para uma unidade sanitária com capacidade cirúrgica para se efectuar a
drenagem torácica.
____________________________________________________________________________
8.ABCESSO PULMONAR: Abcesso pulmonar é um processo inflamatório de origem infecciosa,
caracterizado pela formação de uma colecção de pus dentro de uma cavidade previamente formada por
necrose tecidual, no parênquima pulmonar. É comum aparecer somente um abcesso, mas se forem vários
apresentam-se geralmente do mesmo lado do pulmão. Afecta mais frequentemente o sexo masculino,
sobretudo na faixa etária dos 30 aos 60 anos. Quadro clínico: O quadro clínico é variável,
dependendo sobretudo dos agentes infecciosos envolvidos. Os sintomas podem começar lenta ou
repentinamente. Na maioria dos casos o início do abcesso pulmonar é insidioso, com sinais

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inespecíficos como febre, mal-estar, anorexia e podem estar presentes suores nocturnos. O
hipocratismo digitálico pode aparecer mas é raro. Os sintomas respiratórios, incluem: Tosse: a
tosse é produtiva, com expectoração purulenta, em caso de comunicação do abcesso com os
brônquios, de início discreto, tornando-se após alguns dias abundante semelhante a um vómito
(vómica) com um cheiro pútrido (40% casos), e finalmente progride para sanguinolenta
(hemoptise); Dor torácica pleurítica contínua caso o abcesso esteja em contacto com as pleuras;
Hemoptise pode estar presente. Sem tratamento, passado algum tempo o paciente perde peso e
aparecem sinais da anemia. Estas manifestações são semelhantes às da pneumonia e quando não
melhoram com o tratamento antibiótico, deve-se suspeitar de abcesso. Os achados do exame
físico variam de paciente para paciente, podendo existir: A palpação: diminuição da
expansibilidade torácica no hemitórax afectado pelo abcesso, som maciço na área do abcesso; A
percussão: som timpânico se a cavidade é extensa; A auscultação: ausência ou diminuição do
murmúrio vesicular na área afectada pelo abcesso, aumento do frémito toracovocal, fervores
crepitantes, sopro anfórico ou cavitário; voz anfórica ou voz cavernosa. TRATAMENTO
medicamentoso: Alívio da dor e febre – anti-inflamatórios como DICLOFENAC ou
IBUPROFENO, associados ou não a PARACETAMOL. Tratamento antibiótico:
Antibioterapia endovenosa: AMPICILINA 1 a 3 g EV de 6 em 6 horas ou PENICILINA
CRISTALINA 2 - 3 milhões UI EV de 6 em 6 horas, + GENTAMICINA 240 mg EV por dia,
administrados em uma, duas ou três tomas, + METRONIDAZOL 500mg EV de 8 em 8 horas.
Após a melhoria do quadro clínico e dos sinais radiológicos, o paciente passa para antibioticoterapia
oral com: AMOXICILINA (500 mg) 2 comprimidos de 8 em 8 horas ou AMOXICILINA (500 mg)+
AC.CLAVULÂNICO (125 mg) 2 comprimido de 8 em 8 horas Mais METRONIDAZOL cpr 500mg
de 6 em 6 horas ; A duração do tratamento é longa, sendo em geral mantido por 4 a 6 semanas. O controlo
radiográfico é importante durante o tratamento antibiótico, orientando a sua manutenção até haver
evidências radiográficas de resolução da cavidade.
_____________________________________________________________________________________
9.BRONQUIECTASIAS: Bronquiectasia é a dilatação anormal e irreversível dos brônquios e
bronquíolos, resultante da destruição dos mesmos. Quadro clínico: A maior parte (80%) dos pacientes
com bronquiectasias apresentam tosse produtiva associada a expectoração muco purulenta de volume
variável e de evolução crónica, intercalada por períodos de exacerbação e melhoria. Quando procuram os
serviços de saúde, muitas vezes é devido ao agravamento dos sintomas decorrente de uma sobre-infecção,
ou do surgimento de um sintoma novo como hemoptises. A maioria dos pacientes com bronquiectasias
queixam - se de : Tosse com expectoração purulenta ou hemoptóica; Hemoptises: ocorre nos casos de
sobre-infecção bacteriana severa; Dor torácica pleurítica; Dificuldade respiratória. Sintomas
constitucionais como febre, calafrios, suores nocturnos, mal-estar, anorexia, fadiga. No exame físico
geral observam-se dedos em baqueta de tambor em 2/3 dos casos. À inspecção o tórax apresenta
expansibilidade normal ou diminuída, com vibrações vocais normais ou aumentadas. À percussão revela-
se normal ou com submacicez, e à auscultação revela-se fervores bolhosos localizados ou difusos. Roncos
e sibilos podem ser audíveis. CONDUTA: Antibioterapia: os antibióticos comuns são:
AMOXICILINA cpr 500mg: 2cpr de 8/8h durante 10 dias ou COTRIMOXAZOL cpr 480mg: 2comp
de 12/12horas durante 10 a 14 dias ou ERITROMICINA cpr 500mg: 1cpr de 6/6horas durante 10 dias

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Prevenção das infecções de repetição: consistem na melhoria da drenagem brônquica. Incluem:


Cinesioterapia diária; Administração de mucolíticos (ingestão abundante de líquidos, BENZOATO DE
SÓDIO) e corticosteroides; Evitar ambientes com poluentes aéreos como gases tóxicos, vapores,
poeiras, etc; Abandono ao ao tabagismo.
10.DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÓNICA (DPOC): é uma doença crónica, que afecta os
pulmões, caracterizada pelo desenvolvimento progressivo e parcialmente reversível de obstrução ao fluxo
aéreo. Este termo é usado para designar um grupo de patologias, com ênfase na bronquite crónica e o
enfisema pulmonar, contudo, é sabido que na maior parte das vezes, estas duas se sobrepõem.Na
bronquite crónica a lesão pulmonar se localiza nos brônquios e bronquíolos, tornando-os cronicamente
inflamados, espessos e com constante produção de muco. A definição da bronquite crónica é a de
“produção excessiva de muco acompanhada de tosse e expectoração, durante um mínimo de 3 meses do
ano, e pelo menos por dois anos consecutivos”. Enfisema Pulmonar é uma doença crónica no qual o
tecido pulmonar é destruído tornando-se híper insuflado. Há destruição dos bronquíolos terminais e sacos
alveolares por perda da elasticidade, o que torna difícil a saída do ar após a inspiração. Quadro clínico:
Tosse crónica: tosse matinal com expectoração costuma ser o sintoma inicial. A secreção costuma ser
mucosa e escassa em caso de DPOC de origem enfisematosa e costuma ser abundante e purulento em
caso de DPOC de origem bronquitica. Dispneia: a dispneia para grandes e médios esforços que vai
progredindo em fase avançada da doença para dispneia a pequenos esforços. Pieira: presente nas fases
mais avançadas. Hemoptises: pode estar presente nas exacerbações da DPOC. Dependendo do nível de
gravidade da doença, o exame físico pode revelar sinais como: Cianose, taquipneia; Dispneia, Tórax
hiperinsuflado (tórax em barril): na DPOC de origem enfisematosa; Tiragem, redução da expansibilidade
torácica, hiperssonoridade pulmonar à percussão; Diminuição do murmúrio vesicular, sibilos e fervores
(nas exacerbações). Medidas Farmacológicas: OXIGÉNIO 40-60% humidificado, com fluxo de 2-
4l/min, por via nasal, usando cânulas, cateteres ou máscaras e observar se estão bem adaptados. a) Em
sintomas intermitentes ou leves são usados medicamentos broncodilatadores agonista ß-
adrenérgicos (SALBUTAMOL) - 1 a 2 jactos do inalador sendo o primeiro separado do segundo por um
intervalo de 3 a 5 minutos a cada 8 horas durante 3 dias. b) Em sintomas leves a moderados que
ocorrem mais do que uma vez por semana e mais do que uma vez por dia são usados broncodilatadores
(agonista ß- adrenérgicos): 2 jactos do inalador a cada 4 a 6 horas, sem exceder 12 inalações por dia; ou
por nebulizador deve-se diluir 0,5-1 ml (2,5-5mg) de SALBUTAMOL em 1-2ml de solução salina ou
água destilada e repetir a cada 4 a 6 horas. Deve se associar corticoesteróides: PREDNISOLONA 30-
40mg/dia por 5-7 dias. c) Em casos de sintomas diários, severos ou de insucesso na situação da alínea
b) adiciona-se a toma regular de comprimidos de PREDNISOLONA dose máxima necessária para
controlar sintomas, geralmente 30-40mg, por dia nas manhãs, por 3-6 semanas, observando a melhoria e
reduzindo progressivamente a dose nas semanas seguintes. Se não houver melhora, parar a administração.
Notar que os corticosteróides não servem em caso de enfisema. d) Pacientes com sintomas e sinais
típicos de pneumonia o tratamento empírico com antibiótico, adicionados aos broncodilatadores, ajuda
consideravelmente. COTRIMOXAZOL 480mg: 2cpr 2 vezes ao dia ou AMOXICILINA 500mg: 2cpr
3 vezes ao dia por 10 dias. O tratamento antibiótico pode ser feito como profilaxia para evitar
sobreinfecções bacterianas em pacientes que tem uma história de sobreinfecções frequentes.
_____________________________________________________________________________________
EMERGÊNCIAS RESPIRATÓRIAS: As emergências respiratórias são as afecções do aparelho
respiratório, que requerem uma intervenção rápida e correcta, pois quando tal não acontece, estas colocam
em risco a vida humana.

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11.AFOGAMENTO E QUASE-AFOGAMENTO: Afogamento é a morte de uma pessoa por falta de


ar, ocasionado pela submersão em água ou outro líquido. No quase-afogamento ou semi-afogamento a
pessoa pode ser reanimada e sobreviver. CONDUTA: Administre OXIGÉNIO A 100% com fluxo de 2
a 4 l/minutos ; Se estiver presente hipotensão, é importante o reestabelecimento da volemia e da tensão,
utilizando expansores do volume circulante efectivo (SORO FISIOLÓGICO, LACTATO DE
RINGER, soluções coloidais). Tratamento com SALBUTAMOL nebulizável (5 mg/ml) com
nebulizador: diluir 0,5-1ml de SALBUTAMOL com 3-4 ml de SORO FISIOLÓGICO em caso de
sibilos ou no afogamento em água doce (para reduzir a hiperkalémia); Administre antibióticos
profilácticos nos casos de afogamento em águas muito contaminadas, como por exemplo água de esgotos.
_____________________________________________________________________________________
IV. DERMATOLOGIA
1.PIODERMITES: As piodermites são doenças cutâneas, causadas por bactérias e caracterizadas pela
produção de pus, podendo afectar ou não os anexos cutâneos. As piodermites são particularmente mais
frequentes durante o verão. Dependendo da localização do processo infeccioso diferenciam-se em:
Superficiais: a nível da epiderme e derme; e Profundas: a nível da derme e hipoderme. Podem ser:
Primárias: quando se desenvolvem em pele aparentemente não lesada; e Secundárias: quando resultam de
infecções em lesões cutâneas preexistentes sobretudo as pruriginosas, como por exemplo: picadas de
insecto, sarna ou dermatite atópica. Estas são as que ocorrem com mais frequência.Principais formas de
piodermite: impetigo; paroníquia/panarício; infecções foliculares: foliculite e furúnculo; abcesso;
erisipela; celulite; carbúnculo (antraz cutâneo).

1.1.IMPETIGO: É uma infecção piogénica superficial, ao nível da derme. Quadro clínico:


Característica da lesão e sua evolução: A lesão primária é uma pápula ou vesícula de base eritematosa,
que evolui para pústula e posteriormente para rotura: Erosão com crosta; As lesões alargam
perifericamente e podem ter formato anular; Curam com mancha hipopigmentada ou hiperpigmentada;
Podem ser múltiplas lesões. Sinais e sintomas associados: Linfadenite regional; febre, em caso de
infecção disseminada. TRATAMENTO medicamentoso: PARACETAMOL – para baixar a febre;
Lavagem das lesões com SOLUTO DE CETRIMIDA; POMADA DE BACITRACINA a 1% - aplicar
2 – 3 vezes por dia durante 8 dias ou POMADA DE ÁCIDO FUSÍDICO na mesma posologia;
AMOXICILINA e ÁCIDO CLAVULÂNICO, 250 a 500 mg de AMOXICILINA e 125 mg de
CLAVULANATO DE POTÁSSIO de 8 em 8 horas durante 7-10 dias; Casos graves (com febre alta,
estado séptico) – AMPICILINA 1 a 2 gramas EV e GENTAMICINA 80 mg EV.

1.2.PARONÍQUIA/PANARÍCIO: É uma infecção piogénica da pele que fica ao redor das unhas dos
dedos das mãos ou dos pés. Quadro clínico: Característica da lesão e sua evolução: O início é
súbito; inicia com uma pústula dolorosa (dor latejante) que aparece na prega da unha com edema
e eritema; A unha torna-se amarelada e pode ser descolada pelas pústulas; a inflamação pode
estender-se a falange distal. TRATAMENTO medicamentoso: Antibioticoterapia –
AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂNICO como no impetigo. Geralmente este tratamento
é acompanhado de drenagem cirúrgica. No caso de não melhoria, poderá ser de causa fúngica,
pelo que deve-se administrar antifúngicos tópicos: KETOCONAZOL creme ou
CLOTRIMAZOL creme a ser aplicado 2 vezes por dia.

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1.3.INFECÇÕES FOLICULARES: Infecções foliculares são infecções do folículo piloso. Podem ser
superficiais (foliculite) ou profundas (furúnculo). Quadro clínico: Foliculite: Característica da lesão e
sua evolução: as lesões começam habitualmente com uma pápula que evolui para pústula de base
eritematosa e com folículo no centro; Localização: as localizações mais comuns são na face (barba),
couro cabeludo, membros, tronco e nádegas, mas qualquer área com folículos pilosos pode ser afectada.
A cura dá-se sem cicatriz. Furúnculo: Característica da lesão e sua evolução: caracteriza-se por nódulo
eritematoso, doloroso, quente, com folículo piloso ao centro que em poucos dias evolui para massa
necrótica amarelada, com amolecimento e flutuação com rotura e expulsão do rolhão, deixando úlcera
irregular. Localização: áreas pilosas (face, axilas, nádegas, região cervical); Sinais e sintomas associados:
dor na sede da lesão, pode aparecer febre; A cura da lesão leva a cicatriz. Um aglomerado de furúnculos
denomina-se Antraz. Surtos sucessivos de furúnculos são uma ocorrência comum, evoluindo durante
meses ou anos e designa-se FURUNCULOSE. TRATAMENTO medicamentoso/cirúrgico: Limpeza e
desinfecção local – anti-sépticos como CETRIMIDA, IODOPOVIDONA, ou HIPOCLORITO DE
SÓDIO; Antibioticoterapia tópica – BACITRACINA ou creme de ÁCIDO FUSÍDICO de aplicação
local após desinfecção, 2-3 vezes por dia durante 7 dias; Antibioticoterapia sistémica – geralmente no
caso de foliculites múltiplas (mais de 5 lesões) ou furúnculo: AMOXICILINA E ÁCIDO
CLAVULÂNICO (como anteriormente) ou ERITROMICINA na dose de 500 mg de 6 em 6 horas
durante 7 a 10 dias. Incisão e drenagem dos abcessos

1.4.ABCESSO: É uma infecção aguda da hipoderme, caracterizado pelo acúmulo localizado de pús num
tecido, formando uma cavidade delimitada por uma membrana de tecido inflamatório (membrana
piogénica). Quadro clínico: A febre, arrepios de frio, mal-estar geral, por vezes precedem a doença;
Aparecimento depois de eritema e tumefacção localizada dura com aumento da temperatura e dor local: A
tumefacção evolui para flutuação com formação de material purulento, e Pode associar-se adenopatia
regional; Localização: pode aparecer em qualquer localização. CONDUTA: Limpeza e desinfecção
local: Compressa morna/quente; Lavagens ou banhos com anti-sépticos com: solução de
PERMANGANATO DE POTÁSSIO, soluto de CETRIMIDA, de IODO ou de HIPOCLORITO DE
SÓDIO; Pesquisar e tratar as portas de entrada. Antibioterapia sistémica: AMOXICILINA + ÁCIDO
CLAVULÂMICO, via oral, na dose de 500 mg de AMOXICILINA de 8 em 8 horas, durante 10 dias.
ou ERITROMICINA, via oral, na dose de 500 mg de 6 em 6 horas, durante 10 dias. Associar um anti-
inflamatório como DICLOFENAC 25 – 50 mg de 8 em 8 horas, ou IBUPROFENO 200 – 400 mg de 8
em 8 horas, ambos por 3 – 5 dias. A FLUCLOXACINA é uma óptima opção para os casos de
resistência. A dose é de 250 a 500 mg de 6 em 6 horas durante 7 a 10 dias. TRATAMENTO das
formas mais graves e das complicações: Limpeza e desinfecção local: Lavagens ou banhos anti-
sépticos com: solução de PERMANGANATO DE POTÁSSIO, soluto de CETRIMIDA, IODO ou de
HIPOCLORITO DE SÓDIO. Remoção dos tecidos necrosados, rotura de bolhas. Antibioterapia
sistémica: AMPICILINA: Adultos: 1gr administrado por via E.V de 8/8 horas, durante 10 dias; +
GENTAMICINA: Adultos: 80mg de 12/12 horas ou em dose única diária (160 a 240 mg),
administrados por via I.M ou E.V, durante 10 dias. NOTA: Em geral o tratamento antibiótico IM ou EV
pode ser substituído com o antibiótico por via oral, da mesma família do antibiótico usado por via

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parenteral, após alguns dias se as condições gerais do paciente e a lesão cutânea estão melhorando. O
período total do tratamento antibiótico deve ser de 10 dias. Se ao fim de 3 dias não se observam
melhorias, avaliar o resultado do antibiograma e adequar o antibiótico ao resultado do exame.

1.5.ERISIPELA E CELULITE: Erisipela: Infecção bacteriana aguda localizada a nível da derme e


hipoderme, e com envolvimento da rede linfática. Celulite: Infecção bacteriana aguda localizada a nível
do tecido celular subcutâneo (mais profunda que a erisipela). Quadro clínico: Erisipela : Início brutal;
Febre elevada (39-40º), com calafrios; Dor local; Mal-estar geral; Aparecimento de placa eritematosa,
edemaciada, dolorosa, quente, com borda nítida, saliente, e tendência a extensão periférica. As
localizações mais comuns são a nível das pernas e da face. A superfície da pele e brilhante; podem
aparecer vesículas e bolhas; Linfangite e adenopatia regional sensível e quase constant; Localização:
membros inferiores (mais frequente) e face; E frequentemente recidivante. Celulite: O início é brutal com
febre elevada (39-40º), com calafrios, dor local, e mal estar geral; Segue-se o aparecimento de área
eritematosa, edemaciada, quente; de borda mal definida. Há disseminação rápida da lesão com
repercussão no estado geral. Localização: membros inferiores (mais frequente), superiores, e face.
TRATAMENTO da erisipela e celulite: Limpeza e desinfecção local: Lavagens ou banhos anti-
sépticos com: solução de PERMANGANATO DE POTÁSSIO, soluto de CETRIMIDA, IODO ou de
HIPOCLORITO DE SÓDIO. Remoção dos tecidos necrosados, rotura de bolhas; Antibioterapia:
Casos não complicados em que o paciente não está grave (tratamento ambulatório): AMOXICILINA E
ÁCIDO CLAVULÂNICO na dose de 500 mg de AMOXICILINA de 8 em 8 horas, por via oral,
durante 10 dias ou ERITROMICINA na dose de 500 mg de 6 em 6 horas durante 10 dias; Associar um
anti-inflamatório como DICLOFENAC ou IBUPROFENO por 3 a 5 dias. Casos complicados em que
o paciente está grave, tem co-morbidades associadas (diabetes, idade avançada, etc) ou baixa adesão aos
medicamentos (hospitalização): AMPICILINA: 1gr administrado por via E.V de 8/8 horas, durante
10 dias; + GENTAMICINA: 80 mg EV de 12 em 12 horas durante 10 dias: No caso de
hospitalização, o tratamento antibiótico IM ou EV pode ser substituído com o antibiótico por via oral, da
mesma família do antibiótico usado por via parenteral, após alguns dias se as condições gerais do paciente
a lesão cutânea estão melhorando. O período total do tratamento antibiótico deve ser de 10 dias. Se ao fim
de 3 dias não se observam melhorias, avaliar o resultado do antibiograma e adequar o antibiótico ao
resultado do exame.

1.6. CARBÚNCULO (ANTRAZ CUTÂNEO): É uma zoonose, ou seja, é uma infecção que afecta
primariamente animais (cabras, gado, ovelhas) e pode ser transmitida aos homens e afectar a pele, os
pulmões, o sistema gastrintestinal até dar forma disseminadas. Em Moçambique não há dados
epidemiológicos sobre a incidência e a apresentação mais frequente desta doença. O carbúnculo (antraz
cutâneo) é uma zoonose causado pelo Bacillus anthracis, e a forma cutânea (mais frequente) é
caracterizada por pápula que evolui em vesícula e pústula e úlcera com crosta (necrose), sem dor
associado. Quadro clínico: Na forma cutânea: Inicialmente com febre, mal-estar geral, mialgia, cefaleia;
Segue-se o aparecimento de uma pápula que rapidamente evolui para vesícula e pústula com acentuado
edema e eritema periférico que se expande nos dias subsequentes e finalmente a lesão evolui para uma
úlcera com secreção sanguinolenta, seguida de formação de uma crosta escurecida (necrose). As lesões da
pele não são dolorosas. Localização comum: áreas expostas, frequentemente a face, pescoço, membros
superiores. Sinais e sintomas associados: Adenopatia regional; Se não tratada a evolução pode ser grave
com disseminação da infecção e morte. Se tratada, a cura deixa uma cicatriz atrófica definitiva.

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TRATAMENTO: Em caso de edema acentuado e formas graves: PENICILINA CRISTALINA: 2


milhões UI administrada por via I.V. de 6/6h até o desaparecimento do edema e continuar com
AMOXICILINA na dose de 500mg de 8/8h até completar 10 dias. Em casos moderados (sem edema
acentuado ou sinais e sintomas de envolvimento sistémico) ou de alergia a Penicilina: ERITROMICINA
500 mg por via oral de 6/6 horas durante 10 dias ou DOXICICLINA na dose de 100mg de 12/12h
durante 10 dias. Não administrar a DOXICILINA com leite ou seus derivados (reduzida absorção). Não
administrar DOXICILINA em menores de 12 anos e mulheres grávidas.
2. ÚLCERAS CUTÂNEAS: A úlcera cutânea é uma lesão da pele caracterizada por perda de tecido
que envolve a epiderme até atingir a derme. É uma solução de continuidade da epiderme e de pelo menos
a derme papilar subjacente. As úlceras podem ter de várias formas e tamanhos. Mais frequentemente são
circular ou ovalar com margens mais ou menos regulares e com o fundo da lesão que varia de cor
vermelha à azulada, cinzenta ou amarela. A pele ao redor pode estar edematosa, hiperemiada com
descamação e impetiginização. A lesão tem escassa tendência a cura, e quando acontece deixa uma
cicatriz. Pode ser acompanhada por dor, dependendo da causa etiológica. TRATAMENTO
medicamentoso: Medicação da úlcera: limpando a área ulcerada com IODO POVIDONA, ou
PERÓXIDO DE HIDROGÉNIO e fazendo uma curetagem (limpeza da úlcera através da raspagem);
Tratamento das eventuais complicações; Em caso de dor: PARACETAMOL; Lavagem da lesão com
água fervida e arrefecida; Penso com Violeta Genciana.
3. SÍFILIS: A Sífilis é uma doença infecciosa sistémica, de transmissão sexual. Sífilis Latente é
o estadio da Sífilis em que não há sintomas nem sinais. Quadro clínico: Sífilis Primária:
Cancro primário: O cancro típico é uma úlcera, habitualmente única, indolor, redonda ou oval;
A úlcera é de contornos muito regulares, de 0,5 a 2cm de diâmetro, com fundo limpo, superfície
lisa, rosada, exsudato claro; A base é dura (cancro duro). Localização comum: área genital e
anal. Sinais e sintomas associados: Adenopatia regional. Sífilis Secundária: é a fase de
generalização da infecção, com aparecimento de sinais e sintomas gerais. Afecta principalmente
a pele e mucosas e as lesões são bilaterais e simétricas, aparecendo sob várias formas (por isso a
Sífilis é designada de grande imitadora): Máculas, pápulas hiperpigmentadas, pápulas
descamativas e pústulas, disseminadas pelo corpo, incluindo face e regiões palmo-plantares;
Lesões papulares, nodulares, erosivas e húmidas agrupadas nas regiões ano-genitais
(condilomata lata); As lesões não são acompanhadas por dor. Sinais e Sintomas Associados:
Adenopatias generalizadas; Artralgias; Alopecia: queda de cabelo difusa e irregular. Sífilis
Terciária: Manifestações cutâneas na pele e mucosas; As lesões são caracteristicamente
nodulares, ou pequenas massas descamativas, crostosas, por vezes ulceradas e são chamadas de
gomas sifilíticas.São indolores Localização: face, couro cabeludo, nádegas, membros, mucosa
oral e nasal (palato e septo nasal), laringe e genitais. Manifestações em outros órgãos, que
podem associar-se as manifestações cutâneas: manifestações neurológicas, cardiovasculares e
musculo-esqueléticas. TRATAMENTO da sífilis primária: PENICILINA BENZATINICA
2,4 milhões UI I.M. dose única. A reacção de Jarisch-Herxheimer (febre, mal-estar, anemia,
artralgia, mialgia, exacerbação das lesões sifilíticas e colapso) pode ocorrer 2-12 h após início do
tratamento, devido a destruição massiva das espiroquetas e liberação de produtos tóxicos. Em
caso de alergia a PENICILINA: usar DOXICICLINA 100 mg 2x dia por 14 dias.

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TRATAMENTO da sífilis secundária, latente e terciária: PENICILINA BENZATINICA


2,4 milhões UI I.M. por semana x 3 semanas; Em caso de alergia a PENICILINA: usar
DOXICICLINA 100 mg 2x dia por 28 dias. Grávidas: Usar o mesmo esquema terapêutico
(PENICILINA BENZATÍNICA). As mulheres com histórias comprovadas de alergia a
PENICILINA devem ser administradas: ERITROMICINA 500 mg por via oral de 6/6 horas
por 28 dias.

4. TUBERCULOSE CUTÂNEA: A tuberculose cutânea é uma infecção cutânea, provocada por


bactérias do género Mycobacterium, sendo uma possível manifestação clínica que aparece após a infecção
primária pelo mesmo agente que determina a tuberculose pulmonar (forma mais frequente da doença).
Tuberculose Cutânea Primária: Resulta da inoculação cutânea ou mucosa directa de M. tuberculosis ou
bovis, em indivíduo não previamente infectado. É também conhecida como Cancro tuberculoso. É rara.
Tuberculose Cutânea Secundária: resulta de re-infecção ou disseminação secundária, num individuo
previamente infectado pelo Mycobacterium de um foco interno de Tuberculose. CONDUTA: O
tratamento da tuberculose se faz com combinação de medicamentos: ISONIAZIDA (H),
RIFAMPICINA (R), ETAMBUTOL (E) e PIRAZINAMIDA (Z). Os 4 medicamentos (HREZ) é
conhecido como 4 Doses Fixas Combinadas (4DFC) e os 2 medicamentos (HR) é conhecido como 2
Doses Fixas Combinadas (2DFC). O tratamento está dividido em 2 fases: Fase intensiva (2 meses de
duração) e Fase de manutenção (4 meses de duração). A fase intensiva (2 meses) usa-se o 4DFC. A fase
de manutenção (4 meses) usa-se o 2DFC. Segundo o formulário nacional de medicamentos, para o
tratamento medicamentoso usa-se: Fase intensiva do tratamento da tuberculose: Drageias 150 mg de
RIFAMPICINA + 75 mg de ISONIAZIDA + 400 mg de PIRAZINAMIDA + 275 mg de
ETAMBUTOL; <30kg administrar 1 comprimido; 30-37kg administrar 2 comprimidos; 38-54kg
administrar 3 comprimidos; 55-70kg administrar 4 comprimidos; >70kg administrar 5 comprimidos.
Administrar em dose única matinal de preferência em jejum e durante 2 Meses. Fase de manutenção:
Comp. 150 mg de RIFAMPICINA + 75 mg ISONIAZIDA: <30kg administrar 2 comprimidos; 30-
37kg administrar 2 comprimidos; 38-54kg administrar 3 comprimidos; 55-70kg administrar 4
comprimidos; >70kg administrar 5 comprimidos. Administrar em dose única matinal, de preferência em
jejum e durante 4 meses.
_____________________________________________________________________________________
5. HERPES SIMPLEX: O Herpes Simples, ou doença Herpética, é uma infecção viral recorrente da
pele e mucosas, caracterizada por lesões em forma de pequenas vesículas agrupadas com conteúdo seroso.
Etiologia: é causada pelos vírus do grupo Herpes Vírus Hominis (HVH), existindo dois tipos: Herpes
Simples 1, HSV1, que tipicamente causa o herpes labial e a queratite ocular; Herpes Simples 2, HSV2,
que tipicamente causa o herpes genital. É possível em casos raros ver algumas misturas de síndromes
clínicas, por exemplo HSV-1 às vezes pode causar herpes genital e vice-versa. CONDUTA: Tratamento
local: Lavagem com água e sabão e aplicação de pomada de ACICLOVIR: 3 aplicações ao dia até as
lesões desaparecerem. Antibiótico local ou sistémico em caso de sobreinfecção bacteriana. Tratamento
sistémico: ACICLOVIR (nível 3) cpr 200mg 5x/dia ou 400mg 3x/dia durante 10 dias se é infecção
primária; em caso de recorrência, o tratamento é durante 5 dias. Em imunodeprimidos: ACICLOVIR
400mg 5x/dia por 10 dias
6.VARICELA E HERPES ZÓSTER: O Vírus Varicela-Zóster, VZV, é a causa da Varicela e do Herpes
Zóster. A varicela corresponde à fase aguda, invasiva da infecção pelo VZV, e o Herpes Zóster representa
a reactivação da fase latente do vírus.

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6.1.VARICELA: É uma doença infecciosa aguda e altamente transmissível e causada pelo VZV, também
conhecido como HHV3 (human herpes vírus 3). Manifestações clínicas da varicela: Pródromos: mal-
estar geral, cefaleia leve, febrícula. Podem não aparecer em crianças com menos de 10 anos e ser mais
acentuados em adolescentes e adultos. Características das lesões: as erupções inicias são máculas que
em poucas horas (6-8h) tornam-se pápulas e nas lesões mais características da varicela: vesículas com
conteúdo seroso. As lesões são muito pruriginosas. Na pele clara essas vesículas têm a pele circunjacente
muito hiperemiada (como se fosse gota de água em pétalas de rosa). As lesões apresentam características
diferentes no mesmo paciente e região, em diferentes estádios da sua evolução. Se o clínico observa a
pele de um paciente com Varicela vai encontrar no momento da observação pápulas, vesículas e crostas;
enquanto em outras doenças da pele há somente um tipo de lesão que evolui simultaneamente.
Localização: a área mais comum a ser afectada pelas lesões é o tórax e as mucosas oral, nasal, ocular e do
ouvido. As mucosas genitais são também afectadas, sobretudo em pacientes imunodeprimidos.
CONDUTA DA VARICELA: Em pacientes imunocompetentes: Banhos para reduzir o prurido. Coçar
uma lesão dissemina a infecção. Lavar a pele com água e sabão para prevenir as infecções bacterianas;
lavar mãos e cortar unhas; Anti-histamínicos tópicos e/ou por via oral: Loção de CALAMINA – aplicar
2-3 vezes por dia nas áreas afectadas, CLORFENIRAMINA – 4 mg 3 vezes por dia Usar anti-sépticos
ou antibióticos tópicos ou via oral em caso de sobreinfecção bacteriana. Em pacientes imunodeprimidos
usar ACYCLOVIR oral: Em adultos: ACYCLOVIR 800mg 5x/dia durante 7 dias, iniciado
possivelmente nas primeiras 24- 72 horas após o aparecimento das lesões da pele. O tratamento com
ACYCLOVIR é para prevenir as complicações, a difusão das lesões, e reduzir a duração das
manifestações clínicas e não para a cura!

6.2.HERPES ZÓSTER OU “QUEIMADURA DA NOITE”: O Herpes Zóster, também chamado de


cobreiro ou zona, representa a reactivação da fase latente do vírus VZV e é caracterizado por uma
infecção aguda do Sistema Nervoso Central que interessa principalmente os gânglios das raízes dorsais. É
caracterizada por uma erupção vesicular e dor nas áreas da pele que são inervadas pelos nervos sensitivos
periféricos que originam dos gânglios das raízes infectadas. Quadro clínico da herpes zóster ou
“queimadura da noite”: Pródromos: dor na área do epitélio inervado pelo nervo sensitivo afectado
(dermátomo), febre, mal-estar geral ou distúrbios gastrointestinais que podem aparecer 3-4 dias antes das
manifestações cutâneas. Características da lesão e sua evolução: vesículas agrupadas em “cachos de
uva” sobre uma pele avermelhada (pouco visível na pele de paciente de raça negra), que aparecem na área
de distribuição de um nervo sensitivo (mas também pode afectar dois dermátomos). As lesões tornam-se
pustulares e ulceram e começam a secar e a descolar-se após o 5º dia do seu surgimento. A maior parte
dos pacientes têm cura sem sequelas, ou uma cicatriz na região onde ocorreu a lesão. A cicatriz é mais
evidente em pacientes imunodeprimidos. Localização: A área mais comum é a região torácica. As lesões
inicialmente localizadas difundem-se e podem generalizar-se, sobretudo em doentes imunodeprimidos.
Outra região que pode ser afectada é a região periocular, herpes zóster oftálmico: as lesões aparecem na
região periocular, na parte medial das pálpebras, a conjuntiva ou a ponta do nariz e podem interessar o
globo ocular. Os sintomas são: edema palpebral, hiperemia conjuntival, dor ocular. Sinais e sintomas
associados: as lesões são sempre acompanhadas por dor tipo de queimadura, que normalmente é muito
intenso. Neuralgia pós-herpética: É uma condição dolorosa que afecta os nervos sensitivos e a área da
pele inervada pelo nervo afectado pelo vírus da Herpes Zóster. Se a dor persiste após as lesões da pele ter
desaparecidas, é considerado neuralgia pós-herpética. A dor pode ser muito intensa, parecida com uma

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queimadura e pode durar meses ou anos. Os sinais e sintomas associados mais comuns podem ser, além
da dor: Hipersensibilidade ao tacto que se manifesta como dor leve ao usar roupa, por exemplo. Prurido e
sensibilidade alterada na área afectada. CONDUTA da herpes zóster ou “queimadura da noite”: Em
pacientes imunocompetentes, com localização no tórax: Banhos húmidos na área com lesões.
PARACETAMOL cpr: 500-1000mg de 6 em 6 horas; ou IBUPROFENO 400 mg de 8 em 8 horas ou
ACIDO ACETILSALICÍLICO cpr 500mg de 8 em 8 horas, para a dor. AMITRIPTILINA cpr oral
(nível 3): para a dor se os medicamentos acima descritos não foram eficazes, começar com 10mg/dia à
noite e aumentar até 25mg (max 100mg/dia) durante 10 dias. Em pacientes imunodeprimidos, com
qualquer localização: Em adultos: ACICLOVIR 800mg VO, 5x/dia durante 7 dias, iniciado
possivelmente nas primeiras 24 - 72 horas após o aparecimento das lesões da pele. Em caso de
envolvimento oftálmico, em todos os pacientes: ACICLOVIR: 800mg 5x/dia por 10 dias e referência
para o oftalmologista ou médico. Em caso de Neuralgia pós-herpética: AMITRIPTILINA
comprimidos oral: começar com 10mg/dia e aumentar até 25mg (máx 100mg/dia) durante 10 dias.
_____________________________________________________________________________________
7.MOLUSCO CONTAGIOSO: É uma infecção viral benigna da pele, caracterizada por pequenas
pápulas umbilicadas no centro com diâmetro de 2 a 10 mm, com cor igual da pele circunjacente, sem
sintomas associados. É causada pelo um PoxVírus. Quadro clínico: Características da lesão e sua
evolução: Pequenas pápulas umbilicadas (com uma depressão que parece umbigo) no centro com
diâmetro de 2 a 10 mm, com cor igual da pele circunjacente. O número pode variar de 2 a 20, ou mais em
pacientes imunodeprimidos. A difusão é possível por auto-inoculação por coceira do vírus presente nas
lesões. A cura das lesões é espontânea na maior parte dos casos. Local de aparecimento: qualquer
localização é possível, mas as mais comuns são as áreas peri-oculares e as regiões púbica e ano-genital.
CONDUTA: Aplicação tópica de preparações a base de ÁCIDO SALICÍLICO (pomada de ácido
salicílico): 2-3 aplicações ao dia até as lesões desaparecer; Remoção mecânica (com agulha) da parte
central da pápula; Crioterapia após consulta com um cirurgião ou dermatologista, em caso seja muito
difuso.
8. VERRUGAS: As verrugas são neoformações da camada epitelial da pele. Podem ter formas e
localização variável dependendo do agente causal. Podem ser planas, elevadas e vegetantes com
superfície lisa ou grosseira, de várias dimensões e localizações. Classificação e quadro clínico: As
verrugas podem ser diferenciadas em 2 grandes grupos: verrugas comuns da pele e verrugas anogenitais.
As verrugas comuns da pele são: verrugas plantares e verrugas planas. Verrugas plantares: tem aspecto
relevado, com superfície rugosa, irregular e hiperqueratonizadas. Têm localização comum na planta dos
pés. Verrugas planas: tem aspecto plano. São pequenas com superfície lisa, são múltiplas e disseminadas
ou agrupadas de forma linear. São localizadas normalmente no rosto e nas extremidades. Verrugas
anogenitais: Característica das lesões: pequenas pápulas moles e húmidas que aumentam de volume
rapidamente e podem tornar-se pedunculadas, ou seja, ficar ligadas ao tecido por meio de um pedúnculo e
ter uma “cabeça” que acrescenta-se externamente. Normalmente são agrupadas e podem ser semelhantes
à uma couve flor, às vezes ficam isoladas. Em pacientes imunodeprimidos ou em mulheres grávidas
podem crescer mais rapidamente e portanto ser mais volumosas. Localização: prepúcio, meato uretral,
corpo do pénis, região perianal e recto nos homens; vulva, parede vaginal, colo do útero e períneo nas
mulheres. TRATAMENTO das verrugas comuns: Medicamentos queratolíticos a base de ÁCIDO
SALICÍLICO e ACIDO LÁCTICO, remoção cirúrgica entre outros.TRATAMENTO das verrugas
anogenitais: PODOFILINA – solução alcoólica tópica de resina de PODOFILINA a 20%, aplicar, com

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toque restrito à vegetação, com porta-algodão fino. Seis horas depois da aplicação lavar bem com água e
sabão. Se necessário repetir a aplicação em intervalos de 14 dias.
_____________________________________________________________________________________
9.EXANTEMAS: Exantema é uma erupção cutânea difusa, simétrica mais ou menos extensa ao longo
da superfície do corpo caracterizada por uma ou mais lesões elementares primárias. Estas lesões cutâneas
são normalmente caracterizadas por lesões elementares da pele que podem ser: eritema, pápulas, pústulas,
vesículas, e podem ser localizadas ou confluir em grandes áreas. Quando estas lesões se manifestam a
nível das mucosas, são classificadas como Enantema. EXANTEMAS VIRAIS COMUNS:

9.1.SARAMPO: É uma doença infecciosa e contagiosa aguda, de natureza viral, estritamente


humana. É típica da infância, embora possa aparecer em adultos. É definido como qualquer
indivíduo, em especial crianças, que apresente febre e erupção (exantema) maculo-papular (não
vesicular), com tosse, coriza (corrimento nasal) ou conjuntivite (vermelhidão nos olhos). A
presença de manchas de Koplik é um sinal chave de sarampo. Quadro clínico: Após um período
prodrómico de 2 a 3 dias, com febre 38-39ºC, tosse, coriza (inflamação da mucosa nasal
acompanhada de espirros, secreção e obstrução nasal) e conjuntivite, surge enantema na mucosa
da boca e faringe caracterizado por umas pequenas manchas características esbranquiçadas sobre
base avermelhada, que surgem na mucosa jugal, na zona dos dentes pré-molares, chamadas de
manchas de Koplik. Aparece então depois o exantema, a erupção na pele de manchas e pápulas
eritematosas que coincide com o desaparecimento das manchas de Koplik, facto que por vezes
dificulta o diagnóstico. Esta erupção tem início na região frontal, progredindo depois para a face
inteira, pescoço e disseminando-se de forma difusa por todo o corpo (evolução centrípeta).
Podem associar-se outros sintomas e sinais: náuseas, vómitos, diarreia, linfadenopatias
generalizadas e esplenomegalia. Os sinais gerais persistem durante toda a fase de erupção e vão
se atenuando a medida que esta vai regredindo. CONDUTA: Cuidados de suporte: hidratação
(líquidos), arrefecimento corporal (para baixar a febre); Repouso; Antipiréticos: PARACETAMOL.
Associar antibióticos para complicações bacterianas como a otite ou a pneumonia: PENICILINA ou
ERITROMICINA.

9.2.ESCARLATINA: É uma doença infecciosa causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A


(Streptococcus pyogenes), normalmente na sequência de infecção da orofaringe ou das amígdalas.
Quadro clínico: Após um período prodrómico (12 a 48 horas) com febre alta (39-40ºC), cefaleias, mal-
estar geral, odinofagia (dor a deglutição), vómitos, dores abdominais, surge erupção difusa de eritema e
pápulas por toda a superfície cutânea, incluindo a mucosa oral e faringe, frequentemente com petéquias
no palato duro. A língua esta despapilada e com uma cor vermelho vivo eritematosa, (língua em
framboesa ou morango). A erupção na pele se caracteriza por manchas eritematosas com início no
pescoço, região torácica e axilas, disseminando-se em seguida pelo tronco e membros, e com áreas de
eritema mais acentuado nestas localizações. O exantema desaparece progressivamente em cerca de uma
semana, com descamação durante alguns dias nas áreas onde o eritema foi mais intenso, sendo mais típico
nas regiões palmo-plantares. CONDUTA: Cuidados de suporte; Repouso; Antipiréticos:
PARACETAMOL. ;AMOXICILINA 500 mg de 8 em 8 horas durante 7-10 dias. ou PENICILINA
PROCAÍNICA na dose 2.000.000 UI /dia durante 10 dias. Em caso de alergia às PENICILINAS:
ERITROMICINA 500 mg de 6/6h durante 7 a 10 dias.

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9.3.RUBÉOLA: Doença infecciosa aguda, muito contagiosa, relativamente comum em crianças e adultos
jovens, e na maior parte das vezes é assintomática. Quadro clínico: Começa com febre, mal-estar geral,
cefaleias, mialgias, adenopatias retroauriculares, cervicais e suboccipitais. O exantema surge depois
rapidamente, como erupção fugaz constituído por pequenas manchas eritematosas que começam na face e
progridem em 24 horas no sentido cefalocaudal, ou seja, da cabeça para os membros inferiores, pouco
pruriginosas. Normalmente poupa as regiões palmoplantares e desaparecem em poucos dias. Acompanha-
se por vezes de artralgias. Este quadro é frequentemente mais grave no adolescente e adulto. As lesões
desaparecem em 3 a 4 dias deixando uma descamação fina.CONDUTA: Cuidados de suporte: Repouso
até febre, cefaleia e cansaço desaparecer; Evitar as actividades físicas e os desportos violentos para a
prevenção da ruptura do baco; Antipiréticos: PARACETAMOL.
10. INFECÇÃO AGUDA POR HIV (SINDROME RETROVIRAL AGUDO): É o conjunto de sinais
e sintomas que podem apresentar-se logo após a infecção pelo vírus HIV, representando a resposta aguda
do sistema imunitário e do organismo a esse vírus. Quadro clínico: Cerca de 40 a 90% das primo-
infecções apresentam sinais clínicos sistémicos como: Febre elevada ( 39°C ); Cefaleia, astenia,
suores, Mialgias, artralgias; Faringite dolorosa; Adenopatias generalizadas; Sinais digestivos:
diarreia, vómitos; Sinais neurológicos: letargia (sonolência), rigidez da nuca. Pode apresentar
exantema, que pode ser macular, maculopapuloso, eritemato-descamativo, urticariforme,
hemorrágico ou pustuloso. Não é pruriginoso. Localização: tronco, ombros, palmas e plantas e
mais raramente a face. A duração da síndrome retroviral aguda é, geralmente, de 3 a 14 dias.
TRATAMENTO: Cuidados de suporte: Repouso; Antipiréticos e anti-inflamatórios:
PARACETAMOL, ACIDO ACETIL SALICÍLICO.
11.PEDICULOSE (PIOLHO): A pediculose é uma infestação que pode atingir o couro cabeludo, o
corpo e a área genital. Comummente é conhecido por piolho. Essas três formas são causadas por agentes
etiológicos diferentes: Pediculus humanus capitis: couro cabeludo; vive na pele; Pediculus humanus
corporis: corpo; vive nas roupas; e Phthirus pubis: área genital; vive nos pelos púbicos. Classificação,
quadro clínico e TRATAMENTO:

11.1.PEDICULOSE DO COURO CABELUDO: É caracterizada por prurido intenso, lesões devidas a


coceira, às vezes pode complicar-se com sobreinfecção bacteriana. Pode apresentar aumento dos gânglios
regionais. Localização: a infestação é a nível do couro cabeludo e em alguns casos pode afectar os cílios
e a barba em adultos. TRATAMENTO: Loção de HEXACLORETO DE BENZENO 600mg/60 ml,
aplicar no couro cabeludo. O medicamento é lavado passadas 12-24h, deve fazer-se uma reaplicação
passados 7 dias. Os contactos infectados devem ser tratados simultaneamente. As lêndeas (ovos) são
removidas empapando o cabelo com vinagre, durante cerca de uma hora e passando com pente fino
molhado em vinagre.
11.2.PEDICULOSE DO CORPO: As lesões da pele são caracterizadas por pápulas pequenas,
hipercrómicas, que parecem uma picada de insecto, associadas a escoriações devida ao coçar, pápulas
urticarióides e às vezes infecção bacteriana associada. O prurido é constante. Localização: principalmente
nos ombros, abdómen e nádegas. TRATAMENTO: o tratamento deve ser directo aos vestidos enquanto
os ovos e o microrganismo estão nas vestes, portanto é preciso lavar a roupa, e por à luz do sol. O
paciente deve tomar banho e usar loção de CALAMINA se tem prurido, tratamento do paciente não é
necessário em pediculose do corpo.

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11.3.PEDICULOSE GENITAL: o sinal de infestação é dado pela presença das dejecções do parasita nas
calcinhas ou cuecas em contacto com as áreas infestadas, parecem pontos marrom. A lesão da área
afectada é similar à dermatite de irritação. O agente etiológico não é muito fácil a ser identificado, é
similar a uma crosta. Os ovos estão colados a pele na base dos pêlos. Localização: nos pêlos do pube e da
região perianal, mas pode-se estender nas áreas ao redor, sobretudo se o paciente tem muitos pêlos.
TRATAMENTO: loção de HEXACLORETO DE BENZENO como na pediculose do couro cabeludo
e evitar relações sexuais até ser curado.
12. ESCABIOSE (SARNA): A escabiose ou sarna é uma parasitose da pele (ou infestação) muito
contagiosa, caracterizada por prurido intenso e presença de lesões vesiculo-papulares superficiais com
tendência a sobreinfecção bacteriana. Etiologia: é causada pelo Sarcoptes scabiei. Quadro clínico:
Característica da lesão e sua evolução: A lesão inicial é uma galeria tortuosa, de comprimento
variável de poucos mm a uns cm, com uma pápula na sua extremidade. Essa lesão inicial muitas
vezes não é visível pelo clínico quando o paciente chega a consulta com as lesões já evoluídas
em lesões vesiculopapulosas, escoriativas, crostas e lesões secundárias por coceira devido ao
prurido intenso. Local de aparecimento: Em adultos e adolescentes: axilas, área periumbilical,
pregas interdigitais, do pulso, punhos, nádegas, pregas genitais, ao redor da aréolas nas mulheres,
no pénis e na área ao redor do umbigo; pode difundirem-se no tronco e membros. Em crianças e
especialmente em menores de 2 anos: palmas das mãos e plantas dos pés; em lactentes na face e
couro cabeludo, e pescoço. Sinais e sintomas associados: Prurido intenso que aumenta a noite;
lesões devida a coceira. Sarna Norueguesa: Uma forma de Escabiose é a Sarna Norueguesa:
caracterizada pela exacerbação das lesões papulosas, crostosas e escoriativas de uma forma
generalizada sobretudo nas palmas das mãos e plantas dos pés, e no couro cabeludo em crianças.
Essa forma é frequente em pacientes imunodeprimidos com HIV. As lesões contem muitos
parasitas; não há prurido associado. TRATAMENTO: Sarna clássica: Higiene: banho com
água e sabão, lavar a roupa pessoal e da cama, toalhas com água quente e sabão e expor a luz do
sol. HEXACLORETO DE BENZENO: aplicar à noite, depois de um banho com água quente e
sabão, do queixo à planta dos pés insistindo onde há lesões ou prurido. Deixar na pele durante 24
horas. Tomar novo banho e mudar de roupa do corpo e da cama, esta roupa deve ser muito bem
lavada e passada a ferro. BENZOATO DE BENZIL a 20% a 30%: diluir 1/10 (uma parte de
medicamento em 10 partes de água fervida) se a criança tem menos de 1 ano de idade e 1/5 (uma
parte de medicamento em 5 partes de agua) se a criança tem mais de 1 ano e aplicar 2 noites
consecutivas depois do banho em toda a superfície da pele a partir do pescoço até os pés,
incluindo a cabeça caso esteja afectada. É necessário que o medicamente esteja em contacto com
a pele por pelo menos 24 horas. Em caso de criança, se o cuidador não percebeu bem como
diluir o medicamento, é melhor utilizar o HEXACLORETO DE BENZENO. Antibióticos
sistémicos em caso de impetigenização associada: AMOXICILINA com ÁCIDO
CLAVULANICO. Sarna Norueguesa: Mesmo tratamento, mas prolongando o período de
aplicação dos medicamentos para durar entre 2-3 semanas.
13.TUNGUÍASE (MATEQUENHA): A tunguíase, conhecida como matequenha em Moçambique, é
uma parasitose da pele causada pela Tunga Penetrans ou “pulga do pé”. Quadro clínico: Após 8-12 dias
da penetração da Tunga, a infecção começa a aparecer com sinais de inflamação e com pus no lugar da

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penetração e prurido. Em seguida aparecem as lesões de coceira, os ovos podem sair deixando uma úlcera
circular que pode tornar-se infectada; a confluência de várias úlceras pode apresentar o aspecto de uma
colmeia de abelhas. CONDUTA: Remoção da fêmea utilizando agulhas estéreis para tirar toda a cápsula
em forma de “ervilha” que contém os ovos sem que se rompa. Lavagem e desinfecção da úlcera e
aplicação de antibióticos tópicos se sobreinfecção.
14.LARVA MIGRANS: A Larva Migrans é uma doença causada por parasitas helmintos Ancylostoma
brasiliense e Ancylostoma caninum que é um verme parasita do cão ou do gato. Quadro clínico: Na pele,
o parasita escava uma galeria tortuosa que pode ser visível na pele como linhas hipercrómicas tortuosas
(daí o nome de dermatite serpinginosa). Está presente prurido intenso e o coçar determina o
desenvolvimento de dermatite e sobreinfecção bacteriana.TRATAMENTO: ALBENDAZOL, na dose
de 400 mg/dia, durante 3 dias consecutivos. O ALBENDAZOL está contra-indicado na gravidez. Nos
casos de gravidez, não usar o ALBENDAZOL e pode ser usado o spray de CLORETO DE ETILO,
aplicando sobre as lesões, que mata a larva pela baixa temperatura. TIABENDAZOL tópico, pomada de
30 g: aplicar com fricção suave sobre os trajectos da larva e um centímetro à volta, 4 vezes por dia, até
cessar o avanço da larva e mais dois dias.
15.MICOSES CUTÂNEAS: As micoses cutâneas são infecções superficiais ou profundas causadas por
fungos.

15.1.TINHAS OU DERMATOFITOSES:As dermatofitoses são alterações produzidas por dermatófitos,


que são fungos filamentosos com afinidade específica para estruturas queratinizadas (pele, cabelo, barba e
unhas), qualquer que seja o aspecto clínico das lesões e a respectiva localização. São também conhecidos
como tinhas. Classificação das Formas Clínicas: A Tinha pode manifestar-se em diversas partes do
corpo. Os locais mais comuns são: Couro cabeludo (tinea capitis); Tronco ou membros (tinea corporis);
Virilhas (tinea cruris); Pés (tinea pedis); e Unhas (tinea unguium). TINHAS DO COURO CABELUDO
(Tinea capitis:) É Causado pelas espécies de Microsporum e Tricophyton zoofilos e antropofilos.
Classificam-se em T. microspórica (Cura-se espontaneamente na puberdade); T. tricofítica (Cura-se
espontaneamente na puberdade); T. favosa; Kérion (forma supurativa). TINHA SUPURATIVA E
KÉRION: Esta tinha predomina no meio rural. A sua contaminação acontece através de animais
domésticos (gatos, cães, bovinos, etc.). A área mais frequentemente afectada nas crianças é o couro
cabeludo, e nos homens, a barba. Tem evolução espontânea para a cura. Manifesta-se habitualmente por:
1 ou + placas eritemato-descamativas +/- arredondadas bem delimitadas → tumefactas, pústulas, →
lesões elevadas e purulentas (devidas aos fungos); Forte reacção inflamatória: adenopatias satélites
cervicais e febre. TRATAMENTO da tinha supurativa e kérion: Corte de cabelo; Tratamento por via
oral: com GRISEOFULVINA em comprimidos de 500mg: 500 a 1000 mg, que pode ser dado em uma
ou duas tomas diárias sempre depois das refeições, durante 6 a 8 semanas. Aplicação tópica no couro
cabeludo de cremes antifúngicos, 2-3 vezes ao dia: CLOTRIMAZOL, ou KETOCONAZOL ou
MICONAZOL. Tratamento simultâneo de todos os casos em contacto. Eliminação ou tratamento dos
reservatórios de parasitas: animais (cães, gatos), humanos (unhas).

15.2.TINHA DO CORPO (TINEA CORPORIS) OU HERPES CIRCINADO: É uma infecção fúngica


das áreas não pilosas da pele, excluindo as pregas corporais, mãos e pés. As fontes habituais de infecção
são outras partes do corpo do paciente afectadas ou animais infectados como cães ou gatos. Quadro
clínico: As lesões são normalmente anulares. Podem ser únicas ou múltiplas placas de lesões eritemato-
descamativas, que crescem de forma centrifuga formando lesões que se assemelham a anéis. O bordo é

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bem delimitado, papular e/ou vesiculoso, e há tendência à cura no centro da lesão. Uma simples lesão
pode apresentar vários anéis concêntricos. A confluência das lesões forma lesões de aspecto policíclico ou
com vários anéis e a distribuição é assimétrica. Por vezes, há coexistência de lesões em outras áreas do
corpo nomeadamente: Tinha capitis (em crianças), e Tinha das unhas, pés, e virilhas (sobretudo em
adultos). O prurido normalmente está presente e constante. A evolução é crónica. TRATAMENTO:
Aplicação nas lesões de cremes antifúngicos: CLOTRIMAZOL, ou KETOCONAZOL ou
MICONAZOL,, 2-3 vezes ao dia. Se lesões extensas e/ou evolução > 3 meses, ou recaída das lesões:
Aplicação de cremes antifúngicos e tratamento por via oral com GRISEOFULVINA, comprimidos
de 500mg na dose de 500 a 1000 mg/dia durante 4 semanas.

15.3.TINHA DAS VIRILHAS (TINEA CRURIS) OU ECZEMA MARGINADO DE HEBRA: É uma


infecção fúngica por fungo dermatófito na prega das virilhas. Quadro clínico: As lesões podem ser
unilaterais ou bilaterais (mais frequente). Iniciam-se na face interna das coxas por 1 ou mais manchas
eritemato-descamativas, e crescem afectando a prega das virilhas, região púbica, períneo e nádegas. O
bordo é bem delimitado, vesiculoso e a lesão tem tendência à cura no centro. A confluência das lesões dá
um aspecto policíclico. O prurido é geralmente presente, mas por vezes é ausente ou pode ser mínimo. A
evolução é crónica, com períodos de exacerbação, geralmente durante o tempo quente.
TRATAMENTO: Aplicação de antifúngicos, preferencialmente na forma de solutos, pó ou
creme: MICONAZOL, CLOTRIMAZOL, ou KETOCONAZOL, 2 vezes ao dia durante 2 a 3
semanas. Mudança frequente de vestuário; Tratamento da Tinha dos pés, pois está
frequentemente associado e pode ser a fonte de infecção, por auto-inoculação; Correcção dos
factores predisponentes. Se lesões extensas e/ou evolução > 3 meses, ou recaída: Aplicação de
antifúngicos, preferencialmente na forma de solutos, pó ou creme e tratamento por via oral
com GRISEOFULVINA comprimidos 500mg, na dose de 500 a 1000 mg/dia durante 4
semanas.

15.4.TINHA DOS PÉS: É a infecção fúngica na planta dos pés. Quadro clínico: Afecta principalmente
espaços interdigitais, planta e bordo do pé (raramente o dorso). TRATAMENTO: Higiene geral e manter
as pregas interdigitais secas; Na forma de vesículas e pústulas: pedilúvios com soluto de
PERMANGANATO DE POTÁSSIO 1: 10.000: preparar a solução diluindo 1 comprimido ou meia
colherzinha de chá de pó ou granulado de PERMANGANATO DE POTÁSSIO e mergulhar os pés
nesta solução durante 20 a 30 minutos; fazer o banho 1 ou 2 vezes ao dia antes de aplicar os antifúngicos
locais. Aplicação de antifúngicos, preferencialmente na forma de solutos, pôs ou creme:
MICONAZOL, CLOTRIMAZOL, ou KETOCONAZOL, 2 - 3 vezes ao dia durante 2 a 3 semanas.
Arejamento dos sapatos. Tratamento da infecção bacteriana se presente: BACITRACINA pomada: 2
aplicações ao dia por 7 dias ou ÁCIDO FUSÍDICO 2 aplicações por dia por 7 dias. Tratamento da
onicomicose concomitante se presente com os mesmos antifúngicos. Correcção dos factores
predisponentes. Se evolução > 3 meses, ou recaída: Aplicação de antifúngicos, preferencialmente na
forma de solutos, pó ou creme e tratamento por via oral com GRISEOFULVINA comprimidos de
500mg na dose de 500 a 1000 mg/dia durante 4 semanas.

15.5.TINHA DAS UNHAS (ONICOMICOSE): é a infecção da prega e leito da unha por fungo
dermatófito. Quadro Clínico: Início no bordo livre ou bordos laterais da unha por mancha esbranquiçada

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com perda de transparência e brilho, tornando-se amarelada ou esverdeada; evolui posteriormente com
aumento de espessura e quebra facilmente levando a destruição da unha. Atinge 1 ou várias unhas; é raro
atingir todas. Evolução lenta mas progressiva durante anos ou mesmo a vida inteira.Tendência a
cronicidade e frequentemente a unha constitui reservatório do fungo. TRATAMENTO: são frequentes as
recidivas, e a cura é difícil. Tratamento por via oral com GRISEOFULVINA comprimidos de 500mg
na dose de 500 a 1000 mg/dia durante 4 a 6 meses nas unhas das mãos e durante 6 a 12 meses nas
unhas dos pés. Desgaste metódico da unha com lima ou substâncias químicas: ureia 40% aplicando um
penso oclusivo; Aplicação de antifúngicos, preferencialmente na forma de solutos, verniz ou creme:
MICONAZOL, CLOTRIMAZOL, ou KETOCONAZOL, 2 - 3 vezes ao dia; Tratamento da Tinha dos
pés concomitante; Correcção dos factores predisponentes.
16. CANDIDÍASE CUTÂNEA E MUCOCUTÂNEA: É uma infecção aguda ou crónica da pele e/ou
mucosas, causada por um fungo, a Candida albicans. Esta infecção normalmente é recorrente pode
afectar pele, mucosas e unhas. Classificação e Formas Clínicas: Existem diversas formas clínicas de
Candidíase: Intertrigo Candidíasico; Candidose Bucal ou Oral que podem ser, Estomatite e Queilite
Angular; Boqueira ou perlèche; Candidíase vulvovaginal; Balanite Candidíasica; Anite Candidíasica; e
Candidíase. Ungueal

16.1.INTERTRIGO CANDIDIÁSICO: Infecção que se localiza nas pregas cutâneas: axilares,


inguinais, pregas sub-mamárias, inter-nadegueiras, interdigitais das mãos e pés. A contaminação acontece
por auto-inoculação (reservatório digestivo ou vaginal). quadro clínico: No início, erupção
eritematopustulosa, que torna-se exsudativa, formando placa vermelha vivo, de aspecto liso, macerado
(húmida), bem delimitada, marcada por um colarete (descamação periférica) esbranquiçado; Pústulas
satélites se desenvolvem à periferia da prega; Frequentemente fissuração no fundo da prega; Prurido, dor
e ardor de intensidade variável.TRATAMENTO: Correcção/eliminação ou tratamento dos factores
predisponentes: Por ex. Diabetes ou outra doença eventualmente identificada; Arejamento das pregas
(evitar uso de roupa muito ajustada). Manter as pregas secas; Tratamento de doenças locais anteriores;
Tratamento local, preferencialmente com antifúngicos na forma de solutos ou pós: MICONAZOL,
CLOTRIMAZOL ou KETOCONAZOL, 2 - 3 vezes ao dia até melhoria das lesões.
Se extenso ou crónico ou recidivante, associar: Tratamento por via oral: KETOCONAZOL (200mg) 1
cp/dia durante 14 – 21 dias.

16.2.CANDIDÍASE BUCAL OU ORAL: Pode apresentar-se sob a forma de: Estomatite e Queilite
Angular.
16.2.1.Estomatite: É uma infecção da mucosa bucal muito comum em bebés que afecta a cavidade bucal,
parcial ou total: língua (muito comum nos bebés), mucosa jugal, palato, gengivas.
No adulto, e em criança > 2 anos, quando se manifesta está normalmente associado a estados de
imunodepressão por doenças debilitantes, por tratamentos imunosupressores, antibioticoterapia
prolongada, Diabetes, infecção pelo HIV. Quadro clínico: Caracteriza-se por Eritema difuso da mucosa
que se torna lisa, brilhante e dolorosa; Depósitos esbranquiçados de aspecto leitoso, grumoso e aderentes
à base que se erosionam ao destacar, deixando uma superfície vermelha e sangrenta; Ardor e sensação de
secura da boca, gosto metálico, dificuldade na deglutição e mastigação; Pode estender-se à traqueia e
esófago, sobretudo em doentes com imunodepressão; E frequente em doentes infectados pelo HIV
(adultos e crianças), correspondendo ao estadio III na classificação da OMS.

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16.2.2. Queilite Angular, Boqueira ou Perleche: É caracterizada por afectar as comissuras labiais. É
comum em idosos, pessoas desdentadas, portadores de próteses dentárias mal adaptadas e atrofia da
mandíbula em que as pregas estão constantemente húmidas. Queilite Angular, Boqueira ou Perleche
É caracterizada por afectar as comissuras labiais. É comum em idosos, pessoas desdentadas, portadores de
próteses dentárias mal adaptadas e atrofia da mandíbula em que as pregas estão constantemente húmidas.
Quadro clínico: Pequenas lesões eritemato descamativas com exsudação cremosa nos cantos da boca e
no fundo fissura dolorosa; pode afectar ou não a mucosa labial. TRATAMENTO da estomatite e
queilite: Correcção ou tratamento dos factores predisponentes, (por ex. Diabetes, Sida ou outro
eventualmente identificado); Eliminação de factores patogénicos locais, (remoção ou substituição de
dentaduras); Tratamento local, MICONAZOL, 1 comprimido mucoadesivo/dia durante 7 dias ou
NISTATINA 1 comprimido para diluir na boca, 4 vezes /dia durante 7 dias; Tratamento oral se o
tratamento anterior não teve sucesso: FLUCONAZOL 100 mg, 1 cp/dia durante 10 dias.

16.3. CANDIDÍASE VULVOVAGINAL: A Cândida é comensal da flora vaginal. A Candidíase é


frequente, e pode ser recorrente. Quadro clínico: Inflamação aguda da vagina, pequenos e grandes lábios,
vulva com eritema e edema; Leucorreia espessa esbranquiçada, assemelhando-se a iogurte ou leite
coalhado; Sintomatologia intensa: prurido, ardor à micção, dispareunia (dor na relação sexual).
TRATAMENTO: Correcção ou tratamento dos factores predisponentes, (por ex. Diabetes, Sida ou outro
eventualmente identificado); Eliminação de factores patogénicos locais, (evitar a introdução dos dedos na
vagina para lavagem). Tratamento local, preferencialmente com antifúngicos na forma de cremes,
óvulos ou comprimidos vaginais de NISTATINA, MICONAZOL ou CLOTRIMAZOL, 1 a 2 vezes
por dia, durante 1 semana. Se extenso ou crónico ou recidivante, associar: Tratamento por via oral:
KETOCONAZOL (200mg) 1 cp/dia durante 14 – dias, ou FLUCONAZOL (200mg) 1cp dose única.

16.4. BALANITE/BALANOPOSTITE CANDIDIÁSICA: Balanite candidiásica - é a infecção por


Cândida da glande. Balanopostite candidiásica – é a infecção por cândida da glane e prepúcio. Por vezes é
o 1°sinal de uma diabetes ou pode ser devido a transmissão da cândida pela parceira/parceiro. Quadro
clínico: Eritema difuso da glande com secreção espessa esbranquiçada, pequenas pústulas e erosões. Na
balanopostite o eritema e secreção afecta a glande e sulco balanoprepucial. Ardor e prurido local; por
vezes assintomática. TRATAMENTO: Correcção ou tratamento dos factores predisponentes, (por ex.
Diabetes, Sida ou outro eventualmente identificado); Observação e tratamento dos parceiros caso tenha
candidíase vaginal; Eliminação de factores patogénicos locais (circuncisão, sobretudo em caso de fimose
– estreitamento do prepúcio). Tratamento local, preferencialmente com antifúngicos na forma de
solutos ou cremes: MICONAZOL, CLOTRIMAZOL ou KETOCONAZOL 2 - 3 vezes por dia,
durante vários dias até melhora das lesões.

16.5. ANITE CANDIDIÁSICA: É uma Inflamação perianal que apresenta: Placa com eritema, edema e
secreção esbranquiçada na região perianal; Pústulas à periferia da placa; Prurido, dor e ardor.
TRATAMENTO: Correcção ou tratamento dos factores predisponentes, (por ex. Diabetes ou outro
eventualmente identificado); Eliminação de factores patogénicos locais: manter a pele seca. Tratamento
local, preferencialmente com antifúngicos na forma de solutos ou cremes: MICONAZOL,
CLOTRIMAZOL ou KETOCONAZOL, 2 vezes ao dia até a melhora das lesões.

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16.6. CANDIDÍASE UNGUEAL: É uma infecção por cândida, caracterizada sobretudo por afecção das
pregas periungueais.quadro clínico: Paroníquia: afecção das pregas periungueais: mostram-se
edemaciadas, tumefactas, eritematosas, brilhantes, tensas e dolorosas à palpação; pressão sobre a prega
origina saída de pus. Um ou vários dedos podem estar afectados. A unha pode eventualmente estar
envolvida; inicia-se na parte proximal e mais raramente nos bordos laterais: Mancha esbranquiçada ou
amarelada com opacificação da unha que depois se torna mole, e facilmente se quebra. TRATAMENTO:
Correcção ou tratamento dos factores predisponentes, (por ex. Diabetes, Sida ou outro eventualmente
identificado); Eliminação de factores patogénicos locais: Cuidados higiénicos com as mãos, evitando a
imersão repetida e prolongada em água; Uso de luvas ou redução dos traumatismos do trabalho doméstico
ou profissional no caso de donas de casa, domésticas, lavadeiras. Tratamento local, preferencialmente
com antifúngicos na forma de solutos, cremes ou vernizes: de MICONAZOL, CLOTRIMAZOL ou
KETOCONAZOL 2 - 3 vezes por dia, durante varias semanas ou meses. Tratamento por via oral:
KETOCONAZOL (200mg) 1 cp/dia durante 3 a 6 meses.
17. PITIRÍASE VERSICOLOR: É uma infecção fúngica (micose) superficial caracterizada por
alteração na pigmentação da cutânea, que varia de branco a castanho, justificando o atributo “versicolor”.
É a micose superficial mais comum nos países tropicais. É habitualmente assintomática, muitos doentes
não procuram tratamento médico e muitas vezes é diagnosticada em doentes que procuram médico por
outros motives. Quadro clínico: Pequenas manchas irregulares, levemente descamativas (escama
evidenciada por raspagem da lesão com as unhas) que podem confluir formando manchas maiores
acastanhadas ou hipopigmentadas. Localização preferencial: face, pescoço, nuca, região superior do
tronco, raiz dos membros superiores; no couro cabeludo manifesta-se com descamação fina, vulgarmente
chamada de caspa e sem sinais de inflamação. Normalmente o prurido está ausente, senão em casos de
excessiva transpiração. Evolução crónica. As recidivas são comuns. A despigmentação pode persistir por
meses. TRATAMENTO: Aplicação de tópicos imidazóis: CLOTRIMAZOL, KETOCONOZOL, 2
vezes/dia durante 3 a 4 semanas ou até as lesões desaparecerem e mais 1 ou 2 semanas depois das lesões
desaparecerem. Correcção se possível, de factores predisponentes. Se resistência ao tratamento local:
KETOCONAZOL (200mg): 1 cp/dia oral durante 1 semana, ou 1 vez/semana por 4 semanas ou
FLUCONAZOL (150 mg): 1 cp 1 vez/semana por 4 semanas.
18. ECZEMAS: O eczema, ou dermatite, é uma inflamação superficial da pele, que afecta a epiderme e
parcialmente a derme, caracterizada por lesões de diferentes aspectos dependendo da fase de evolução.

18.1.ECZEMA ATÓPICO: O eczema atópico, ou constitucional, é uma inflamação crónica e muito


pruriginosa, de causa desconhecida. Na maior parte dos casos (90%) aparece nos primeiros 5 anos de
vida. A história familiar ou pessoal é quase sempre positiva para doenças alérgicas, como por exemplo a
rinite alérgica ou a asma. Os pacientes com eczema atópico apresentam uma quantidade de IgE muito
elevada e um número elevado de células eosinófilas. Quadro clínico: É diferente dependendo da idade do
paciente: Nos primeiros anos de vida apresenta-se com eritema, exsudação, lesões crostosas da cara,
bochechas, couro cabeludo. Afectação da face e zonas de extensão. A evolução é imprevisível mas
geralmente tem melhoria ao redor de 3 ou 4 anos de idade. Exacerbações são comuns durante a infância,
adolescência e idade adulta. O prurido é intenso e constante com lesões de coceira, e o acto de coçar as
lesões determinando um ciclo vicioso de prurido-coçar-erupção e novo prurido. Em crianças maiores e
em adultos as lesões são mais localizadas e crónica. Em adolescentes e adultos apresenta-se com típicas
lesões liquenificadas numa base hiperemiada nas áreas: Flexoras (braços, fossa poplítea, fossa antecubital,
cotovelo, tornozelo), idêntico às crianças; Pálpebras superiores; Mãos ( dorsal e/ou interdigital); Região

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ano-genital. Sintomas associados: Prurido, quase sempre presente; hiperemia da pele; fissurações da pele
com exsudação clara. TRATAMENTO: Loção de CALAMINA: 3-4 aplicações por dia até o eczema
desaparecer; Esteróides tópicos para reduzir a inflamação: BETAMETASONA creme, 2-3x/dia
aplicações ao dia por 5 dias. Reduzir a frequência das aplicações logo que se verificar melhoria das
lesões, evitando aplicações prolongadas por mais de 2-3 semanas. Antibióticos em caso de sobreinfecção:
AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂNICO (cpr 375mg): 1cpr de 8 em 8 horas para 5-7 dias ou
ERITROMICINA 500 mg, 1 comprimido de 6/6 horas durante 7 dias. Anti-histamínicos orais em caso
de prurido: CLORFENIRAMINA cpr 4mg: 1 cpr 3 vezes ao dia por 5 dias.

18.2.ECZEMA DE CONTACTO: O eczema de contacto ou exógeno é uma inflamação aguda ou


crónica, provocada por substâncias que estiveram em contacto com a pele. É uma lesão bem delimitada à
área de contacto. Essas substâncias químicas provocam uma irritação da pele directa ou por meio de uma
hipersensibilidade de tipo IV (ver Aula 3, Fisiopatologia) como no caso de dermatite alérgica de contacto.
Quadro clínico e classificação: Forma aguda: caracterizada por hiperemia, bolhas que podem secar-se
em poucos dias em caso o agente irritante seja descontinuado ou as bolhas e vesículas podem arrebentar e
tornar-se crostas. Forma crónica: caracterizada por diminuição da inflamação, pele seca, descamação e
liquenificação das áreas interessadas, fissurações.Localização: qualquer área da pele que esteja em
contacto com a substância em questão. TRATAMENTO: Evitar a exposição ao agente irritante. Evitar
sabão e vaselina e usar cremes aquosos e oleosos, sobretudo na fase seca. No eczema agudo: Bandagem
com solução de PERMANGANATO DE POTÁSSIO aplicadas por 30 minutos, 2-3 vezes por dia.
Loção de CALAMINA aplicada 3-4 vezes por dia se há prurido. Na fase que não há bolhas: esteróides
tópicos, BETAMETASONA creme 0,1%: 2-3 aplicações ao dia por 5 dias; por via oral em caso de
dermatite muito extensas ou na cara para 1-2 semanas: PREDNISOLONA 40mg uma vez por dia por 5
dias Em caso de sobreinfeção bacteriana: ERITROMICINA cpr 500mg per os: 1 cpr de 6 em 6h por 5
dias. No eczema crónico: Creme de HIDROCORTISONA ao 1%: 2-3 aplicações ao dia até as lesões
melhorarem e depois espaçar gradualmente as aplicações (exemplo 2 aplicações diárias por 2 dias
seguidas por 1 aplicação diária até a suspensão). Creme oleoso ou ÓLEO DE AMÊNDOAS DOCE: 3
aplicações ao dia até as lesões melhorarem. Se presença de liquenificação creme de UREIA AO 10% ou
creme de ÁCIDO SALICÍLICO ao 2-5% 2 aplicações por dia até as lesões melhorarem.

18.3.ECZEMA SEBORREICO: O eczema seborreico é uma inflamação da pele caracterizada por


escamas oleosas que aparecem em áreas com muita secreção seborreica da pele. Quadro clínico:
Apresenta-se com características e localização diferentes dependendo da idade e do estado de
imunodepressão. Em adultos aparece lentamente e as lesões são escamas, pequenas e difusas, secas ou
oleosas a nível do couro cabeludo, com prurido de intensidade variável. Em casos graves aparecem
pápulas descamantes de cor amarelo-avermelhado. Localização: Nas áreas externas das linhas de
inserção dos cabelos no couro cabeludo, nas áreas retroauricolares, no meato auditivo externo, nas
sobrancelhas, no dorso do nariz, nas áreas nasolabiais e região esternal, no meio das costas superiormente
entre as escápulas, nas axilas, áreas inguinais e perianal. Pode ser presente uma irritação a nível da base
dos cílios com crostas amarelas muito secas e irritação conjuntival. Em caso de imunodepressão pode
difundir-se em todo o corpo e ficar sobre-infectado. Nesses casos, a localização é mais frequente nas
axilas, área inguinal e atrás das orelhas. A pele torna-se inflamada e hiperemiada.TRATAMENTO: O
objectivo do tratamento é de reduzir e remover as crostas, prevenir as infecções da pele e reduzir a
inflamação. Difere na localização, idade e gravidade das lesões. Em adultos e adolescentes: Lesões no

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couro cabeludo: ÁCIDO SALICÍLICO 1-2 vez por semana até o desaparecer das lesões. Lesões
descamantes no couro cabeludo ou na pele: loções com corticosteróides até o desaparecer das lesões
(HIDROCORTISONA ou BETAMETASONA). Lesões na cara: Creme com HIDROCORTISONA
ao 1% ou creme de KETOCONAZOLE a 2%.
_____________________________________________________________________________________
19. REACÇÕES ADVERSAS CUTANEAS AOS MEDICAMENTOS: As reacções cutâneas
provocada por medicamentos são similares a várias outras patologias, não relacionada à medicamentos,
que afectam a pele. A maior parte das erupções são leves e auto-limitantes e na maior parte das vezes
desaparecem com a suspensão do medicamento. Medicamentos associados à Reacções Adversas
Cutâneas: Os medicamentos mais comuns são: Antibióticos: Penicilinas: AMOXICILINA,
AMPICILINA, PENICILINA G; Sulfonamidas: como o SULFADOXINA e PIRIMETAMINA (SP-
FANSIDAR) e o CO-TRIMOXAZOL (trimetropim e sulfametoxazol). ISONIAZIDA; Anti-
inflamatórios não Esteróides (AINE’s): ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (aspirina);
INDOMETACINA; Anticonvulsivos: FENITOINA, CARBAMAZEPINA; Anti-retrovirais: NEVIRAPINA.
Quadro clínico: As manifestações podem variar de uma simples hiperemia à uma necrose da pele. As
mais frequentes são: Exantemas: que podem ser maculo-papular ou morbiliforme associados a prurido
(por exemplo os devidos a penicilina, barbitúricos, sulfamidas); escarlatiniforme (semelhante ao
exantema devido a escarlatina), roseoliforme (semelhante a roseola); Urticária, caracterizada por lesões
papulosas (por causa de penicilina); Eritema com ou sem descamação; Pústulas que parece a acne (por
causa de esteróides); Bolhas; Necrólise com áreas da pele que se descolam parecendo uma queimadura
(por causa de penicilina, sufamidas). Isso é a forma mais grave do reacção cutânea. Muitas vezes
apresenta com lesões na pele, e também úlceras nas mucosas. Os medicamentos podem também causar
prurido e alterações da sensibilidade da pele sem uma lesão específica evidente da pele. As erupções
cutâneas podem acontecer em diferentes tempos após a exposição: Logo após ter tomado o medicamento,
sobretudo em pacientes sensibilizados previamente; No fim do tratamento; Até 3 semanas após de ter
tomado o medicamento. É importante avaliar a gravidade das manifestações da pele para determinar uma
situação de potencial risco de vida. TRATAMENTO: O tratamento das erupções cutâneas devidas a
medicamentos depende da gravidade e localização das lesões: Anti-histamínicos orais:
CLOFERNIRAMINA 4mg 3 vezes ao dia até 2-3 dias após o desaparecimento das lesões (em casos
graves usar via IM/EV – DIFENIDRAMINA 50 mg); PREDNISOLONA se as reacções são difusas ou
grave: 30-60mg/dia no início e reduzindo segundo a resposta no decurso de duas semanas (em casos
graves usar via IM/EV – HIDROCORTISONA 100 mg EV ou PREDNISOLONA 25 a 100 mg
EV/IM); Referir em caso de lesões severas (ver acima) e internamento para dar hidratação
(LACTACTO DE RINGER ou SORO FISIOLÓGICO), medicação das lesões, antibióticos e
analgésicos.
_____________________________________________________________________________________
20. URTICÁRIA: A urticária é uma doença reactiva da pele caracterizada por prurido e pápulas.
Quadro clínico: Características da lesão: A lesão típica é de uma pápula edematosa de forma (oval,
redonda, serpinginosa) e tamanho variável (poucos mm até 4-5 cm) com uma área eritematosa ao redor
que na sua evolução tem uma forma de anel até ao desaparecer da lesão. Pode ter forma de “alvo”. Outras
lesões podem ser pápulas violáceas ou pápulas palpáveis que definem a presença de vasculite por
urticária. As lesões surgem em tempos diferentes: pode haver uma erupção de um grupo de pápulas e
sucessivas erupções a cada hora ou intervalo de tempo, que desaparecem e aparecem outras no mesmo
lugar ou em lugares diferentes. Na urticária aguda as lesões persistem por menos de 24 horas. Se

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persistirem mais de 24h, deve-se considerar uma vasculite associada. É uma doença que pode persistir
poucos dias ou até anos. As lesões da urticária crónica começam com as mesmas características acima
descritas para a urticária aguda e tornam-se pápulas mais dura e infiltradas, às vezes placas, e com lesões
de coçamento. Localização: Pode aparecer em qualquer lugar do corpo, incluindo o rosto. Sinais e
sintomas associados: O prurido é geralmente o primeiro sintoma. Pode ser presente o fenómeno chamado
de dermografismo: a pele pode ser tocada com a ponta de um abaixador da língua ou tampa de uma
caneta e a pele desenvolve pápulas e ou eritema típicos da urticária, dentro de 5-15 minutos nas regiões
pressionadas. Pode ser presente angioedema, ou seja, o edema dos tecidos mais profundos, da derme e do
tecido subcutâneo e submucoso das seguintes localizações: cara, mais evidente nas palpebras e lábios; nas
extremidades, mãos e pés, língua, vias aéreas superiores. O angioedema (inchaço da pele e ou mucosas)
pode ser presente juntamente às lesões cutâneas (em 50% pacientes) ou pode aparecer sozinho, sem lesões
típicas da pele (em 10% dos pacientes). Em caso de afectação das vias aéreas superiores, podem também
ser afectadas as vias aéreas inferiores com broncoespasmo que pode levar a insuficiência respiratória
aguda e perigo de vida (ver anafilaxia). CONDUTA: O objectivo primário do tratamento é de tratar o
prurido; Suspender o agente desencadeante: caso seja um medicamento ou comida é necessário suspendê-
los. Evitar o contacto com o agente causal ou suspeito. Evitar a toma de agentes que libertam histamina:
em caso de urticária alimentar ou medicamentos. Evitar o stress mental, situações de cansaço excessivo,
medicamentos não-esteróides, vestidos muito apertados. CALAMINA loção: 4-6 aplicações ao dia.
Tomar banho morno à noite antes de se deitar para reduzir o prurido. Anti-histamínico oral:
CLORFENIRAMINA cpr 4mg: 1 cpr a cada 8 horas até as lesões da pele desaparecerem por 2-3 dias.
PREDNISOLONA: caso os anti-histamínicos não forem eficazes, ou em caso de urticária generalizada.
40mg 1 vez ao dia por 4 dias ou 1 semana em combinação com os anti-histamínicos. Esteróides tópicos:
BETAMETASONA creme: 2 aplicações ao dia; indicado nas formas crónicas.
_____________________________________________________________________________________
21. ACNE JUVENIL (VULGAR): É uma dermatose crónica inflamatória do folículo pilossebáceo e do
tecido perifolicular. É também chamada acne juvenil. Quadro Clínico e Classificação: Características
das Lesões: A acne é caracterizada pela presença de comedões (pequenos quistos com material
queratinoso e de sebo) devidos a bloqueio do óstio folicular. São os precursores das lesões inflamatórias
do acne, pápulas, pústulas, pápulas-pústolas e cistos superficiais que contem pus (purulentas), nódulos
inflamatórios, e nos casos mais graves, desenvolvem-se fistulas e supurações. A pele é untuosa,
seborreica na região frontal, no nariz, nas bochechas e mento. Os comedões são as primeiras lesões que
aparecem. São pontos elevados pretos ou comedonas abertos (mais visíveis na pele clara) ou brancos ou
comedonas fechados, que associam-se a pápulas, pústulas e nas formas mais graves a cistos e nódulos,
fístulas das quais saem um líquido purulento ou purulento hemorrágico. As lesões curam-se deixando
cicatrizes mais ou menos evidentes, incluindo também cicatrizes hipertróficas e retrácteis. Localização:
cara (mais comum), pescoço, tórax posterior e anterior, ombros. Classificação: Dependendo das lesões
predominantes, há 2 tipos de acne: Acne superficial: caracterizada por comedões abertos ou fechados,
pápulas, pústulas ou cistos superficiais; cura-se sem deixar cicatrizes. Acne profunda: caracterizada por
quistos mais profundos, nódulos inflamatórios com tendência a expansão e formação de abcessos e
cicatrizes evidentes. TRATAMENTO: Acne superficial: Lavagem diária com sabão: melhoram o
aspecto seborreico do rosto; Acne pustulosa superficial: aplicação local de BACITRACINA
pomada/ÁCIDO FUSÍDICO e lavagem com PERÓXIDO DE BENZIL ao 5-10% 2x ao dia ou a noite;
Acne profunda: o tratamento local não funciona; Antibiótico por via oral como TETRACICLINA
500mg de 12 em 12 horas durante 4 semanas e depois reduzindo a dosagem para 250 mg de 12 em 12

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horas até desaparecer; alternativamente a DOXICICLINA 100mg de 12 em 12 horas durante 4 semanas


e a seguir 100 mg por dia. Em caso de gravidez pode se usar a ERITROMICINA cpr 500mg: 1cpr de
6/6h
_____________________________________________________________________________________
22. PSORÍASE: É uma dermatose crónica eritematosa-descamativa que pode ser localizada ou difusa.
Quadro clínico: Característica das lesões: A lesão característica é uma mancha eritematosa-papulosa
sobrelevada, na pele negra aparece como hiperpigmentada, com limites bem definidos, recoberta de
escamas de cor branco-prata, brilhantes e friáveis. A forma das lesões é redonda de tamanho variável que
define os diferentes tipos morfológicos da psoríase: Manchas puntiformes: psoríase puntacta; Manchas
que parecem gotas: psoríase em gotas, as lesões tem uma cor mais rosa; Manchas que parecem moedas:
psoríase numular. Manchas serpiginosas: extensão centrifuga das lesões. Psoríase pustulosa: as lesões
são pústulas que aparecem nas palmas das mãos e planta dos pés; O número das lesões é variável de 1 ou
2 a várias. Localização: qualquer área da pele pode ser afectada. As regiões mais comuns são as
superfícies extensoras: joelhos, cotovelos, região sacral e nádegas, couro cabeludo nas linhas de inserção
dos cabelos, retroauricolar, até envolver todo o couro; tórax posterior. As unhas das mãos e dos pés pode
ser a única localização (onicopatia psoriasica) e parecer mais espessa e amarelas. Uma localização nas
pregas, inguinais, axilar, submamária, unhas, sobrancelhas, região umbilical, caracteriza a “psoríase
invertida ou intertriginosa” cuja causas são agentes irritantes mecânicos, químicos, bacterianos ou
micóticos que desencadeam uma psoríase latente. Sinais e Sintomas Associados: Nas formas mais
comuns não há prurido ou outros sintomas associados. Na psoríase generalizada pode haver febre,
hipotermia, desidratação dependendo da extensão da pele afectada. Em 30% dos casos pode aparecer uma
artrite psoriasica nas articulações das mãos e pés, e joelhos. As lesões curam-se sem deixar cicatrizes e os
cabelos crescem normalmente. TRATAMENTO: O objectivo primário do tratamento é curar a pele, mas
o resultado geralmente não são de cura total, portanto o tratamento deve ser feito a cada vez que as lesões
aparecem. Os medicamentos incluem: Queratolíticos e corticóides: BETAMETASONA e ÁCIDO
SALICÍLICO loção ou pomada: aplicar de 2 a 4 vezes ao dia para 3 semanas; BETAMETASONA
pomada, tópico: aplicar um penso e manter toda a noite (medicação oclusiva) e depois aplicar durante o
dia de 2 a 4 vezes ao dia, para 3 semanas reduzindo o número de aplicações e a seguir aplicar emolientes;
Emolientes: vaselina branca sozinha ou com esteróides ou loções de ÁCIDO SALICÍLICO duas
vezes ao dia após o banho e com pele húmida; Lubricantes: aplicação de azeite para cozinhar após o
banho e com pele húmida. Aplicação de uma suspensão de ÁCIDO SALICÍLICO no couro cabeludo a
noite, e tirar de manhã; Exposição ao sol, mas com cuidado enquanto uma exposição prolongada pode
exacerbar as lesões.
_____________________________________________________________________________________
23. EMERGÊNCIAS DERMATOLÓGICASAS: as mais frequentes incluem: Angioedema da glote;
Choque anafiláctico ou Anafilaxia; Síndrome de Steven Johnson (SSJ); Necrólise epidérmica tóxica.
(NET);

23.1. CHOQUE ANAFILÁCTICO: É uma reacção sistémica, aguda e severa de duração variável que
manifesta-se de repente após a sensibilização com o agente desencadeante, e pode levar a morte. Está
relacionada a uma reacção de hipersensibilidade de tipo I (vide PA 3 desta disciplina); Os agentes causais
mais comuns são: antibióticos da família das penicilinas, as picadas de insectos, o sangue e derivados. Os
pacientes que já apresentaram manifestações alérgicas contra aquele determinado agente causal têm maior
risco. Quadro clínico: Após 1-15 min o paciente torna-se irrequieto, agitado e tem palpitações,

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parestesias, prurido, tosse, urticária, angioedema e dificuldade a respirar por causa do edema da laringe ou
de broncoespasmo. Sintomas gastro intestinais podem aparecer, sendo mais raros, como náusea, vómito,
dor abdominal, diarreia. Sintomas de choque com hipotensão e taquicardia, convulsões e perda de
consciência podem apresentar-se após 1-2 minutos do início da sintomatologia descrita acima.
CONDUTA: O manejo das complicações acima descritas é o seguinte: Em caso de reacções de média
gravidade (prurido generalizado, urticária, angioedema, leve dificuldade respiratória, náusea e vómito):
ADRENALINA Injecção 1 mg/ml (1:1000): 0.3-0,5ml intramuscular que pode-se repetir após 5
minutos se a primeira injecção não funcionou. Se angioedema da glote: aerossol de ADRENALINA:
1mg de ADRENALINA em 4 ml de SORO FISIOLÓGICO. Se não disponível equipamento para
aerossol: ADRENALINA 0.3 a 0.5 ml via IM/SC; Anti-histamínicos orais (CLORFENIRAMINA 4
mg); PREDNISOLONA 50mg (pode ir até 100 mg) EV ou IM. Em caso de reacções graves
(angioedema generalizado sem hipotensão): ADRENALINA como acima; Anti-histaminico EV:
DIFENIDRAMINA 50mg IM/EV; PREDNISOLONA 50 – 100 mg EV/IM ou HIDROCORTISONA
100 a 500 mg EV. Em caso de choque: Posição de Trendelemburg ou seja o paciente fica deitado com
as pernas levantadas em 45º. Reanimação cardio-pulmonar se paragem; ADRENALINA 1 ml da
solução a 1:10.000 (diluir 1 mg em 9 ml de SORO FISIOLÓGICO) EV lento repetindo a cada minuto
de acordo com a resposta obtida. SORO FISIOLÓGICO ou LACTATO DE RINGER 1000 ml rápido
em dois acessos EV, se houver hipotensão incontrolável, DIFENIDRAMINA 50 mg EV lentamente
em 3 minutos; PREDNISOLONA, 50 a 100 mg EV.

V. SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA I: SISTEMA REPRODUTOR FEMININO


1.LISTA DE CONTRACEPTIVOS DISPONÍVEIS NO SNS:
1.1.Anticonceptivo oral (pílula): comprimido a base de ESTROGÉNIO e PROGESTERONA
(combinado) ou só de PROGESTERONA. Deve ser tomado 1 comprimido ao dia.
1.2.Anticonceptivo injectável: injecção intra-muscular de ACETATO DE
MEDROXIPROGESTERONA, administrado a cada três meses.
1.3. Preservativo masculino: anel de látex lubrificado que se coloca no pénis.
1.4. Preservativo feminino: bolsa de poliuretano que se ajusta na vagina.
1.5. DIU (Dispositivo Intra-Uterino): pequeno dispositivo de plástico revestido com um fio de cobre,
que se insere no útero. Geralmente é introduzido durante a menstruação para assegurar que a paciente não
está grávida, mas pode ser inserido em qualquer altura.
1.6. Esterilização feminina (Laqueação tubárica): é um procedimento cirúrgico que consiste na
oclusão bilateral das trompas de Falópio.
1.7. Esterilização masculina (Vasectomia): é um procedimento cirúrgico que consiste no corte dos
canais deferentes no saco escrotal.
NB: Os métodos contraceptivos de barreira (preservativo masculino e feminino) proporcionam uma
dupla protecção: protegem contra a transmissão do HIV e outras ITS e de uma gravidez indesejada

2.MÉTODOS COMPORTAMENTAIS USADOS:


2.1. Coito interrompido: durante a relação sexual, o pénis é retirado da vagina logo antes da ejaculação.
2.2. Abstinência periódica (Método da “tabela”): consiste em suspender as relações sexuais durante o
período fértil da mulher.
2.3. Lactação materna: durante o período da amamentação exclusiva, há suspensão da ovulação.

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3.PÍLULA DO DIA SEGUINTE: A pílula do dia seguinte é um método contraceptivo de emergência


que se baseia no uso de altas doses de hormônio para evitar uma gestação não desejada. Deve ser
usada até 72 horas após uma relação sexual desprotegida, (sem uso de método contraceptivo), quando
houver falha do método anticoncepcional (ruptura da camisinha, falha da tabela ou esquecimento da
pílula por dois ou mais dias seguidos) ou em caso de violência sexual. A anticoncepção oral de
emergência não é tão eficaz como os outros métodos anticoncepcionais e não deve ser utilizado
regularmente no lugar de um outro método. A eficácia da anticoncepção oral de emergência é maior
quanto mais precoce for o seu uso, ou seja, quanto menos tempo decorrer entre o coito desprotegido e a
toma da medicação. A anticoncepção oral de emergência não é eficaz para a interrupção da gravidez.
Em Moçambique, a pílula do dia seguinte que está disponível é uma combinação de
LEVONORGESTREL (250 microgramas) e ETINILESTRADIOL (50 microgramas). Devem ser
tomados 2 comprimidos de 12 em 12 horas, duas doses. A pílula anticonceptiva combinada de baixa
dosagem pode ser também usada como anticonceptivo de emergência (usado no protocolo nacional para
casos de violação sexual). Esta pílula contém LEVONORGESTREL (150 microgramas) e
ETINILESTRADIOL (30 microgramas) e quando usada como contraceptivo de emergência deve ser
tomada em dose de 4 comprimidos de 12 em 12 horas, duas doses.
_____________________________________________________________________________________
4.CORRIMENTO VAGINAL: A secreção vaginal varia com o período do ciclo menstrual em que a
mulher é observada: pode ser leitosa durante os dias pré e pós menstruais ou clara e aquosa no meio do
ciclo menstrual. Corrimento vaginal é, por definição, a mudança de cor, cheiro ou aumento do volume
da secreção vaginal, resultantes de uma infecção vaginal ou cervical. O corrimento vaginal é a
consequência de uma inflamação das paredes da vagina ou do colo do útero (vaginite ou cervicite). É
portanto uma síndrome, causada por diferentes agentes etiológicos e/ou patologias. Etiologia: As causas
mais comuns de corrimento vaginal no nosso meio são as seguintes: Vaginoses bacterianas (Gardenerlla
Vaginalis e outras bactérias); Gonorreia; Trichomas vaginalis; Cândida albicans; Clamídia trachomatis.
Outras causas menos comuns de corrimento vaginal são: Vaginite pós traumatica; Vaginite atrófica -
encontrada em mulheres na menopausa devido a deficiência das hormonas.

4.1.GONORREIA: Agente etiológico: Neisseria Gonorrhoeae. Sinais e Sintomas: A maioria dos casos
é assintomática. Pode causar corrimento vaginal, disúria, polaciúria e dispareunia. TRATAMENTO:
CIPROFLOXACINA 500mg, VO, dose única ou, CEFIXIME 400 mg via oral dose única ou,
KANAMICINA 1 g IM dose única; Grávidas: CEFIXIME 400 mg via oral dose única

4.2.TRICOMONÍASE: Agente etiológico: Trichomonas vaginalis. Sinais e Sintomas: Corrimento


vaginal amarelo esverdeado, bolhoso com mau cheiro, com ou sem prurido,com hiperemia da vulva e
dispareunia. TRATAMENTO: METRONIDAZOL 2g, VO, dose única ou, METRONIDAZOL
500mg, 12/12hs, 7 dias Nas gestantes só administrar METRONIDAZOL após o 1º. Trimestre

4.3.CÂNDIDA: Agente etiológico: Cândida albicans. Sinais e Sintomas: Corrimento vaginal branco
em grumos (aspecto de iogurte), com prurido intenso e hiperemia da vulva. TRATAMENTO:
CLOTRIMAZOL óvulos, 500 mg, uso vaginal, dose única a noite, ou NISTATINA óvulos de
100.000 UI, 1 óvulo vaginal a noite, 14 dias. Grávidas: CLOTRIMAZOL óvulos, 500 mg, uso vaginal,
dose única a noite. Nas pacientes seropositivas e nos casos com doença extensa ou recorrente

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administrar: CLOTRIMAZOL óvulos, 500 mg, uso vaginal a noite, 3 dias e associar medicação oral:
FLUCONAZOL 150mg, VO, dose única.

4.4.CLAMÍDIA: Agente etiológico: Clamídia trachomatis. Sinais e Sintomas: Maioria é assintomática.


Corrimento vaginal amarelado, disúria, polaciúria e dispareunia com ou sem sangramento pós coito.
TRATAMENTO: AZITROMICINA 1g, VO, dose única, ou DOXICICLINA 100mg, VO 12/12h, 7
dias; Grávidas: AZITROMICINA 1g, VO, dose única.

4.5.VAGINOSE BACTERIANA: Agente etiológico: Gardnerella vaginalis e outras bactérias. Sinais e


Sintomas: Corrimento vaginal com odor de “peixe morto”, ou fétido, com aspecto cremoso ou
acinzentado. Corrimento aumenta no período após a menstruação e depois da relação sexual. O odor do
corrimento é mais forte após relações sexuais sem preservativo. TRATAMENTO: METRONIDAZOL
2g, VO, dose única ou, METRONIDAZOL 500mg, VO, 12/12hs, 7 dias; Nas gestantes só administrar
METRONIDAZOL após o 1º. Trimestre
_____________________________________________________________________________________
5.ÚLCERA GENITAL: Todas as ITS que se manifestem em algum momento da sua evolução, com uma
ou mais lesões ulceradas genitais, fazem parte do grupo da síndrome de úlcera genital. Etiologia: as
causas mais comuns de úlcera genital no nosso meio são: Herpes genital; Sífilis; Cancróide;
Linfogranuloma venéreo; e Donovanose. Manifestações clínicas gerais: Dependendo do agente causal, a
úlcera genital pode vir acompanhada de outros sintomas como linfadenopatia inguinal unilateral ou
bilateral, prurido, leucorreia, sintomas urinários, dispareunia (dor durante o coito) e pode causar edema ou
hiperemia da vulva. Quanto as características, as úlceras genitais podem ser únicas ou múltiplas, pequenas
ou grandes, dolorosas ou indolores, com bordos irregulares ou bem definidos, com fundo seco ou húmido
e podem estar sobre-infectadas. As úlceras genitais geralmente localizam-se nos órgãos genitais, mas
nalguns casos dependendo das práticas sexuais da paciente, podem estar localizadas em outras áreas de
contacto íntimo como região perianal, boca, períneo.
5.1. HERPES GENITAL: Agente Etiológico: vírus Herpes simples tipos 1 e 2. Sintomas e Sintomas:
Pode ser assintomática, ou manifestar-se por agrupamento de vesículas na vulva, que rompem formando
erosões ou úlceras dolorosas, normalmente recorrentes. Lesões cervicais (cervicite herpética) geralmente
passam despercebidas, manifestando-se apenas pela eliminação de corrimento vaginal aquoso. As
recorrências são mais frequentes nos primeiros 12 meses e com o tempo vão se tornando menos
frequentes e menos severas, podendo ser desencadeadas por: febre, stress físico ou emocional,
menstruação, imunodepressão, antibioterapia prolongada, traumatismos e exposição à radiação ultra-
violeta. Pode estar presente linfadenopatia dolorosa bilateral, e sintomas gerais como febre e mal-estar.
As úlceras resolvem-se em 10 a 14 dias sem deixar cicatriz residual, contudo pode ocorrer sobre-infecção
bacteriana que mascara o quadro e prolonga o tempo de resolução. TRATAMENTO: A Herpes não tem
cura, contudo o tratamento farmacológico permite a remissão dos sintomas, redução da frequência de
ocorrências e das complicações. Tratamento sintomático: Limpeza das lesões com SORO
FISIOLÓGICO. Tratamento com analgésicos e anti-inflamatórios: PARACETAMOL,
DICLOFENAC, IBUPROFENO. Tratamento específico: ACICLOVIR (400mg), 1 comprimido de 8
em 8 horas, durante 7 dias. O tratamento é mais eficaz se iniciado em 48 horas após surgirem as lesões.
Grávidas: avaliar risco e benefício.

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5.2. SÍFILIS PRIMÁRIA: Agente Etiológico: Treponema pallidum. Sintomas e Sintomas: Úlcera
única, indolor, de bordos elevados, regulares e firmes, com fundo duro e limpo. Cura espontaneamente
em 6 a 8 semanas, deixando uma cicatriz fina, mas nalguns casos pode persistir com sinais de Sífilis
secundária. Pode haver linfadenopatia inguinal. TRATAMENTO: PENICILINA BENZATÍNICA, 2,4
milhões UI dose única. Se alergia a PENICILINA usar DOXICICLINA 100mg 2x dia por 28 dias.
Grávidas com alergia à PENICILINA: ERITROMICINA 500 mg por via oral de 6/6 horas por 28 dias.

5.3. CANCROIDE: Agente Etiológico: Haemophilus ducrey. Sintomas e Sintomas: As lesões iniciais
surgem como tumefacções sólidas e dolorosas, que gradualmente se tornam moles (com flutuação) e por
fim fistulizam e formam múltiplas úlceras, devido a auto-inoculação. As úlceras apresentam bordos
irregulares, fundo sujo (purulento e fétido) e são muito dolorosas. O fundo das úlceras é mole, razão pela
qual o cancróide também é chamado de cancro mole. Localizam-se geralmente na face interna dos
pequenos e grandes lábios, mas podem estar presentes em outras localizações como ânus, boca e língua.
Na maioria dos casos, está presente a linfadenopatia inguinal ou femural, geralmente unilateral.
TRATAMENTO: AZITROMICINA (500mg), administrar 1 grama, via oral, dose única, ou
CIPROFLOXACINA (500mg) administrar por via oral, duas vezes por dia, durante 3 dias. Grávidas:
tratar com AZITROMICINA na mesma dose acima indicada.

5.4. LINFOGRANULOMA VENÉREO/BUBÃO: Agente Etiológico: Clamídia trachomatis (serotipos


L1,L2,L3). Sintomas e Sintomas: A úlcera é autolimitada, dura 3 a 5 dias e muitas vezes passa
despercebida. A principal manifestação é a linfadenite inguinal supurativa unilateral (bubão), que surge 1
a 6 semanas após a resolução da úlcera, como uma tumefacção inguinal dolorosa. Se não for tratada
adequadamente, evolui com formação de múltiplas fístulas, rompimento espontâneo e formação de
úlceras que drenam pus. Podem ocorrer sintomas gerais discretos, como febre e mioartralgias. Devido à
fibrose dos gânglios e consequente dificuldade de drenagem linfática, pode ocorrer a elefantíase (edema
linfático) dos órgãos genitais. Pode estar presente a dispareunia grave devida à fibrose na vagina.
TRATAMENTO: DOXICICLINA (100 mg), 1 comprimido de 12 em 12 horas, durante 21 dias.
Mulheres grávidas: ERITROMICINA (500 mg) oral de 6/6 horas, durante 21 dias. Está indicada a
punção com agulha grossa para drenagem dos Bubões com flutuação. A incisão cirúrgica, não é
recomendada.

5.5. DONOVANOSE: Agente Etiológico: Calymmatobacterium granulomatis (Corpúsculo de


Donovan). Sintomas e Sintomas: A doença começa com uma pápula que em seguida se úlcera,
resultando na formação de uma úlcera com tecido de granulação, cor vermelho vivo, bordos claros e
elevados. A úlcera sangra facilmente e apresenta um processo de cicatrização muito lento. Úlceras
satélites podem coalescer e formar uma úlcera maior. Pode haver linfadenopatia regional.
TRATAMENTO: DOXICICLINIA (100 mg), 1 c de 12/12 horas, durante 3 semanas, ou
COTRIMOXAZOL 2 c de 12/12 horas, durante 3 semanas. Grávidas: usar COTRIMOXAZOL na
mesma dose.
6.DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA – DIP: A doença Inflamatória Pélvica (DIP) é o
termo geral para definir uma infecção dos órgãos genitais internos femininos (útero, trompas de
Falópio, ovários ou da cavidade pélvica). Manifestações Clínicas: Leve: Salpingite aguda e sem
irritação peritoneal; Moderada e sem abcesso: Salpingite aguda e com irritação peritoneal

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(pelviperitonite); Moderada e com abcesso: Salpingite aguda com oclusão tubária ou abcesso
tubo-ovariano ou abcesso pelvico; Grave: Abcesso tubo-ovariano roto ou sinais de choque
septico; Os sintomas podem ser leves, sobretudo no início e se o agente causal for a Clamídia,
ou podem ser mais graves, caso o agente causal seja o Gonococo, que determina infecções mais
agudas e de início rápido. Os sintomas mais comuns incluem: Febre: pode estar ausente e
quando presente pode ser intermitente; Dor na região hipogástrica, ou na região lombar, que
pode se manter ou tornar-se mais severa e intensa. Secreção vaginal de cor, cheiro e consistência
anormal. Outros sintomas que podem aparecer são: Sangramento após uma relação sexual; Dor
durante a relação sexual (dispareunia); Calafrios; Astenia e fraqueza generalizada; Micção
frequente (poliúria) ou dolorosa (disúria); Aumento da dor durante o ciclo menstrual; Ciclo
menstrual irregular ou perdas hemáticas entre duas menstruações; Falta de apetite; Náusea com
ou sem vómito. Nota: em alguns casos os sintomas podem estar ausentes e a infecção evoluir
sem ser reconhecida. Os sinais presentes ao exame objectivo do abdómen e ginecológico
incluem: Dor à palpação do abdómen, na parte inferior (hipogástrica) com reacção de defesa
(parede abdominal como uma tábua) caso a dor seja intensa, sinal de Bloomberg positivo,
diminuição ou ausência de sons intestinais por íleo paralítico em casos graves. Dor intensa á
palpação e a mobilização do útero e anexos (exame bimanual).Sangramento do colo do útero;
Secreções do colo do útero. TRATAMENTO: fazer uma abordagem sindrómica, tratando as
principais causas (Gonorreia, Clamídia e agentes anaeróbios).Para Casos Leves e Moderados:
KANAMICINA 2g IM dose única + DOXICICLINA (100 mg): 100mg oral duas vezes ao dia
durante 14 dias (não usar em caso de gravidez) + METRONIDAZOL (500 mg): 500mg oral 2
vezes ao dia durante 14 dias; Para Casos Graves - internar e fazer tratamento com:
AMPICILLINA: 1gr por via EV de 6/6h, durante 7-10 dias + GENTAMICINA: 1 a 1,5 mg/kg
por via EV/IM de 8/8 horas, durante 7 a 10 dias + METRONIDAZOL: 500mg por via EV de
6/6h durante 7 a10 dias. É importante o controlo de seguimento após 4 semanas para controlar se
a infecção foi curada.
7.ABCESSO DE BARTHOLIN: Glândula de Bartholin: São glândulas produtoras de muco e estão
localizadas na vulva, entre os lábios maiores e os lábios menores. São pequenas estruturas com um
tamanho de 0.5 a 1 cm. Essas glândulas têm uma função lubrificante durante o acto sexual.
Abcesso de Bartholin: É o acúmulo purulento de fluidos que forma uma protuberância (inchaço) em
uma das glândulas de Bartholin. O mecanismo fisiopatológico subjacente é a obstrução do ducto da
glândula que provoca uma acumulação delimitada de muco chamada quisto. O quisto pode infectar-se
com consequente formação dum abcesso. Apresentação Clínica: Tipicamente o abcesso de Bartholin
apresenta-se com: Tumoração local acompanhada de dor intensa, rubor (vermelhidão), e aumento da
temperatura local; Os tecidos adjacentes ficam edemaciados; A tumoração evolui com flutuação;
Dificuldade para sentar-se ou caminhar; Dor durante as relações sexuais. Sintomas gerais podem estar
presentes: febre, mal estar geral, calafrios.TRATAMENTO: Quando o abcesso é pequeno pode ser
tratado de forma conservadora: Aplicação de panos quentes e banhos de assento; Para o alívio da dor:
Administrar analgésicos como PARACETAMOL (500 mg oral de 8/8 h S.O.S) ou IBUPROFENO
(400 mg oral de 8/8 h S.O.S). O antibiótico está indicado para algumas pacientes (pacientes diabéticas,
com comprometimento sistémico ou imunodeprimidas). Nestes casos, recomenda-se AMOXICILINA

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com ÁCIDO CLAVULÂNCIO 500 mg oral de 8/8 h por 7 a 10 dias. Quando o tamanho do abcesso é
maior e há edema significativo dos tecidos circundantes, deve-se referir a paciente para drenagem.
_____________________________________________________________________________________
8.DISMENORREIA: Dismenorreia significa menstruação dolorosa. Se a dor for acompanhada por
dor no abdómen inferior com irradiação para a região lombar e membros inferiores, náuseas e cefaleia são
chamadas de síndrome da dismenorreia. Classificação: A dismenorreia pode ser: Primária ou idiopática
ou funcional: quando não tem patologia pélvica associada; Secundária: quando é devida a qualquer
doença pélvica orgânica.
8.1.DISMENORREIA PRIMÁRIA: Fisiopatologia: as causas da dismenorreia primária são as
contracções da musculatura lisa do útero por efeito das substâncias produzidas pelo próprio endométrio
(prostaglandinas). Manifestações Clínicas: A intensidade do quadro é variável de leve à casos
acentuados que obrigam a repouso absoluto. Dor hipogástrica tipo cólica de intensidade variável, aliviada
por massagem abdominal, pressão ou movimento. A dor pode ser constante e pode irradiar-se para as
fossas ilíacas, e região lombossacral. Em geral inicia algumas horas antes ou depois do início do ciclo
menstrual e pode durar 48 a 72 horas; Pode estar presente dor na região lombar com possível irradiação
para os membros inferiores. Náuseas e vómitos; Cefaleia; Obstipação ou diarreia; Polaciúria; Raramente,
podem estar presentes episódios de síncope; Sintomas da síndrome pré-menstrual podem iniciar duas
semanas antes da menstruação. Os sinais vitais e o exame ginecológico são normais. Pode haver dor a
palpação do útero, mas não há sinais de irritação peritoneal, nem dor a palpação do colo.
TRATAMENTO: Explicar a mulher que não é nenhuma doença e que seus órgãos genitais/ reprodutivos
estão normais, isso irá acalmá-la; Tratar a dor: devido aos mecanismos causadores da dor na dismenorreia
primária, algumas mulheres respondem a medicamentos específicos e não a outros, pelo que deve-se
iniciar o tratamento com um tipo de medicamento e mudar se após 2 a 3 meses, não tiver efeito. AINEs:
IBUPROFENO comprimido de 200-400mg 3 vezes ao dia, por via oral. Também se pode usar
DICLOFENAC. ASPIRINA deve ser usada como última alternativa devido aos efeitos secundários
(anti-agregante plaquetário). Analgésicos: PARACETAMOL 500mg, administrar 500mg a 1000 mg,
4 a 6 vezes ao dia por via oral, dependendo do nível de gravidade. BUTILESCOPULAMINA :
comprimidos de 10 mg, administrar 10 a 20 mg, 3 a 4 vezes por dia, dependendo da gravidade. O
tratamento é mais eficaz se a administração do medicamento for iniciada 24-48 horas antes do início da
menstruação e continuar por 1-2 dias de forma periódica e não quando tiver dor apenas.
_____________________________________________________________________________________
9. DISPAREUNIA: Dispareunia significa coito difícil e doloroso para a mulher. Geralmente a
dor aparece durante a penetração do pénis na vagina. É um sintoma inespecífico, que pode
ser manifestação de condições patológicas ou por consequência de práticas sexuais (posições
anatomicamente incorrectas e lubrificação inadequada durante o acto sexual).
TRATAMENTO: Deve-se fornecer aconselhamento ao casal, para procurar práticas sexuais
anatomicamente correctas que não agravem a dor; Nalgumas situações (ITS, infecções
urinárias) é aconselhável uma abstinência das relações sexuais ou pode ser usado um creme
com LIDOCAÍNA a 1% aplicada externamente.
10. MENOPAUSA: Climatério, é o período em que se considera que a mulher passa da etapa
reprodutiva para a etapa não reprodutiva. Engloba o período pré-menopausa e termina cerca de um ano
após a menopausa. Cada mulher pode iniciar seu climatério de forma diferente tanto em cronologia
quanto em sintomatologia. A menopausa ocorre durante o climatério, e é a última menstruação da

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mulher, que geralmente ocorre entre os 45 e os 55 anos. A pós-menopausa é o período que decorre
depois da menopausa. Popularmente, o termo menopausa é usado para se referir ao climatério. A
menopausa é apenas um evento que ocorre dentro do climatério. Manifestações Clínicas: As
manifestações clínicas são determinadas pelas alterações da concentração dos hormônios estrogénio e
progesterona. Os sintomas são variáveis em cada mulher e podem permanecer por vários anos antes e
depois da menopausa. Podem ser leves e aparecer gradualmente ou podem ser graves e começar
rapidamente, sobretudo se a causa for cirúrgica ou farmacológica. Em algumas mulheres o fluxo
menstrual para repentinamente, mas na maior parte dos casos acontece lentamente e nesse período os
ciclos menstruais são irregulares e tornam-se mais escassos ou até mais frequentes. Os sintomas mais
comuns são: Ondas de calor (fogachos): 75% dos casos; Sudorese nocturna: 75% dos casos; Aumento da
frequência cardíaca; Palpitações; Hiperemia no rosto que aparece e desaparece rapidamente; Insónia;
Redução da libido ou interesse sexual; Dor de cabeça; Ciclo menstrual irregular (antes da menopausa);
Amenorreia (menopausa propriamente dita); Alterações do humor incluindo irritabilidade, depressão e
ansiedade e instabilidade emocional; Cistite; Vaginite atrófica; Dispareunia durante as relações sexuais;
Dor nas articulações e maior susceptibilidade à fracturas devido à osteoporose. TRATAMENTO:
Aconselhamento da mulher e explicação que esta é uma fase normal da sua vida; Aconselhamento para
mudança do estilo de vida, que ajuda a controlar e muitas das vezes a eliminar a maior parte da
sintomatologia: Evitar cafeína, álcool e comida picante; Vestir-se levemente; Comer SOJA e derivados;
Tomar CÁLCIO e VITAMINA D; Fazer exercício físico; Respirar profundamente e lentamente quando
aparecem as ondas de calor; Usar lubrificantes durante a actividade sexual; Caso hajam sintomas
significativos, deve-se referir para beneficiar de tratamento hormonal.
_____________________________________________________________________________________
11.VAGINITE ATRÓFICA: Vaginite atrófica é a inflamação ou irritação da vagina que ocorre como
consequência à alteração do ambiente normal da vagina. Estas alterações são devidas à redução dos níveis
de estrogénio após a menopausa. Manifestações Clínicas: Disúria; Sangramento leve após uma relação
sexual; Dispareunia; Secreções vaginais escassas; Dor tipo queimadura e prurido na vagina.
TRATAMENTO: Em caso de sintomatologia leve: lubrificante vaginal a base de água deve ser usado
durante a relação sexual. Não usar gelatina de petróleo ou óleo mineral, que podem irritar a mucosa
vaginal. Exercício físico para manter uma boa circulação também na área genital. Continuar com a
actividade sexual para manter a elasticidade da vagina e a produção fisiológica de lubrificante. Para
prevenir a vaginite atrófica é possível usar ESTROGÉNIOS vaginais antes da condição tornar-se grave
_____________________________________________________________________________________
12.MASTALGIA: Mastalgia é definida como uma dor da mama. É a condição benigna da mama
mais frequente. Pode ser unilateral ou bilateral. Maior parte dos casos decorrem em associação
com o ciclo menstrual (mastalgia cíclica), mas pode acontecer de forma independente e em
qualquer momento. Manifestações Clínicas: Dor difusa unilateral ou bilateral das mamas
TRATAMENTO: A mastalgia geralmente passa espontaneamente. Se este não for o caso receitar
tratamento para a dor (IBUPROFENO comp 200 - 400mg, 3x dia)
13.MASTITE: A mastite é uma infecção do tecido da mama que acontece mais frequentemente
durante o período em que a mulher está amamentando. Desenvolve-se geralmente após 1-3
meses do parto ou logo após o desmame. É geralmente unilateral. Pode também afectar mulheres
que não estão amamentando (raramente) ou mulheres em menopausa. Manifestações Clínicas:
A mastite infecciosa geralmente acomete uma mama, em apenas um quadrante ou lóbulo. A área

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afectada apresenta-se com: massa dolorosa, edema, hiperemia e aumento da temperatura local;
Pode haver obstrução ao fluxo de leite, com consequente ingurgitamento (que agrava a dor);
Podem estar presentes sinais de toxicidade sistémica, com febre, arrepios de frio, mal-estar.
TRATAMENTO: Tratamento da dor: PARACETAMOL cpr 500mg/1gr de 6h/6h ou
IBUPROFENO cpr 200-400mg de 8h/8h. Estes medicamentos podem ser tomados em caso de
amamentação. Antibióticos em caso de mastite moderada ou grave: FLUCLOXACILLINA
oral cpr de 250 mg, administrar 1 cp de 6/6h 1 hora antes ou 2 horas depois das refeições,
durante 7 a 10 dias. (Dobrar as doses nas infecções mais graves). AMOXICILINA COM
ÁCIDO CLAVULÂNICO cpr de 250 mg de TRIHIDRATO DE AMOXICILINA e 125mg
de CLAVULANATO DE POTÁSSIO, 1 cpr de 8/8 horas no início da refeição, durante 7 a 10
dias. ERITROMICINA oral cpr 500mg (em caso de alergia a PENICILLINA): 1 cpr 6/6h
durante 7 a 10 dias. Aconselhar a mulher a: Continuar a amamentação também usando a mama
afectada, pode doer mas é importante para prevenir ingurgitamento; Aplicar em casa penso
húmido morno acima da mama para aliviar a dor; Beber muita água, até 10 copos por dia, e
comer uma dieta balanceada. A desidratação contribui para o agravamento do quadro.
14.VIOLÊNCIA SEXUAL: A violência sexual é definida como qualquer violência, física ou
psicológica, praticada por via sexual ou visando a sexualidade, que acontece sem mútuo acordo, ou seja,
sem consentimento, que pode ser explícito no caso de adultos, ou tácito ou implícito no caso de menores.
A violação sexual é uma forma de violência sexual definida como cópula ilícita com qualquer mulher,
contra sua vontade, por meio de violência física, de veemente intimidação, ou de qualquer fraude, que não
constitua sedução, ou achando-se a mulher privada do uso da razão, ou dos sentidos. Estupro: é uma
forma de violência sexual, definida como a cópula vaginal, por meio de sedução, com mulher virgem
menor de dezoito e maior de doze anos. Manifestações clínicas em caso de violência sexual: A
sintomatologia que se manifesta após uma violência sexual pode ser a curto e/ou longo prazo. Pode ser:
Sintomas orgânicos, ligados a lesões dos órgãos genitais ou da área do períneo: dor, sangramento,
inchaço. Sintomas de somatização, ou seja, o paciente transforma o seu mal-estar, o medo da situação
vivida, numa sintomatologia que reflecte uma doença de um ou vários órgãos não necessariamente
relacionados aos órgãos genitais. É devida ao mecanismo de defesa que a paciente actua para ultrapassar
uma situação desagradável. Sintomas ligados a vida sexual. Sintomas psicológicos: Sintomatologia
psicológica após a violação sexual ou estupro: Relativa à vida sexual; Disfunções sexuai; Dificuldade
em ter relações sexuais; Pensamentos sexuais alterados; Dor vaginal; Inabilidade de atingir o orgasmo;
Distância emocional durante uma relação sexual; Medo de ter relações sexuais; Falta de tolerância ou
procura exagerada de situações de intimidade; Sensações de medo, culpa, raiva enquanto está tendo
relação sexual. Geral: Depressão; Ansiedade; Doença de distress pós-traumático; Baixa auto-estima;
Alterações da personalidade; Abuso ou início do uso de substâncias como álcool, drogas; Automutilação;
Tentativa de suicídio; Comportamentos anti-sociais como: roubar, mentir, fugir; Doenças da alimentação:
anorexia, bulimia; Fraca adesão aos aconselhamentos do pessoal de saúde. TRATAMENTO: Caso a
agressão tenha ocorrido há menos de 72 horas providenciar: Quimioprofilaxia para o HIV por um
mês, caso a vítima seja HIV negativa; Profilaxia para as ITS; Profilaxia para a HBV;
CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA (dentro de 120 horas), somente em caso de
adolescentes/mulheres após a menarca. Caso a agressão tenha ocorrido há mais de 72 horas,
providenciar: Profilaxia para as ITS; Profilaxia para a HBV; CONTRACEPÇÃO DE
EMERGÊNCIA (dentro de 120 horas) somente em caso de adolescentes/mulheres após a menarca.

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Profilaxia pós-exposição para o HIV: Deve iniciar-se logo que possível nas primeiras 6 horas após a
exposição ao HIV, ou no máximo até 72 horas. Se a paciente já for seropositiva, não se deve fazer. Deve
incluir sistematicamente 3 ARV, o protocolo nacional recomenda: AZT 300mg + 3TC 150 mg, 1
comprimido de manhã e outro à noite, tomado juntamente com as refeições durante quatro semanas (ou
D4T 30mg + 3TC 150 mg)+ LOPINAVIR/RITONAVIR (200/50mg), 2 comprimidos de 12 em 12
horas, durante quatro semanas. Caso haja falta de LOPINAVIR/RITONAVIR pode-se substituir com
EFAVIRENZ: 600mg 1 comprimido à noite. Depois da serologia inicial, repetir a serologia para o HIV
na 6ª semana, e no 3º e 6º mês; Serologia para hepatite 1º, 3º, 6º e 9º mês; Aconselhamento adicional
conforme a necessidade.

Profilaxia de ITS: As ITS constituem uma grande preocupação nos casos de abuso sexual, e portanto,
deve ser indicado a profilaxia medicamentosa das ITS enquanto se aguarda o resultado dos exames
laboratoriais colhidos. PENICILINA BENZATÍNICA 2.4 milhões UI IM Dose Única;
CIPROFLOXACINA 500 mg VO Dose Única; METRONIDAZOL 2g VO Dose Única;
AZITROMICINA 1g VO Dose Única.

Contracepção de Emergência: MICROGYNON 4 comp 12/12h, 1 só dia ou LO-FEMINAL 4 comp


12/12h, 1 só dia.

Profilaxia da Hepatite B: Encaminhar para aplicação de primeira dose da vacina de Hepatite B:


VACINA HEPATITE B (ENGERIX) 1 dose, IM; Imunoglobulina se houver disponibilidade: HBIG
0,06-0,08 mg/Kg, IM.

VI. SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA II: OBSTETRÍCIA


1.PLANO NACIONAL DE SEGUIMENTO DA MULHER GRÁVIDA:
1.1.PTV (PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO VERTICAL): Aconselhamento e testagem para HIV a
todas mulheres na 1ª consulta pré-natal e nas consultas subsequentes para aquelas que ainda não foram
testadas. Seguimento das HIV Positivas: Administração de profilaxia de transmissão vertical com anti-
retrovirais segundo normas nacionais (será descrito na disciplina de HIV). Administração de
Tratamento Profiláctico com COTRIMOXAZOL, TPC, às elegíveis segundo normas nacionais.
Administração de ARVs para a profilaxia ao recém-nascido, segundo as normas nacionais.

1.2.DESPARASITAÇÃO COM MEBENDAZOL: Administração de MEBENDAZOL a partir do


segundo trimestre, comprimidos de 500mg em dose única, ou comprimido de 200 mg, duas vezes por
dia, durante 3 dias.

1.3.PREVENÇÃO DO TÉTANO: Administração da vacina antitetânica logo na primeira consulta


após o diagnóstico da gravidez. A 2ª dose é administrada 4 semanas depois, e a 3ª dose 6 meses depois da
2ª dose. Dependendo da idade gestacional na primeira consulta, a 3ª dose pode ser administrada no
puerpério.

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1.4. PREVENÇÃO DA MALÁRIA:


1.4.1. TIP (Tratamento Intermitente Presuntivo): É um tratamento profiláctico baseado na toma de
medicamentos em doses e intervalos predefinidos, com o objectivo de prevenir a infecção pela malária e
seus efeitos na mulher grávida e no feto. Critérios para administração de TIP; Confirmação de
movimentos fetais activos, pela mulher; Foco fetal audível com estetoscópio de Pinnard; Idade
gestacional de 20 semanas ou mais. (Na ausência de um dos critérios não administrar TIP);
Medicação: Comprimidos de 500 mg de SULFADOXINA + 25 mg de PIRIMETAMINA
(FANSIDAR) em dose única de 3 comprimidos, num total de 3 doses, com intervalos de 4 semanas entre
as tomas: 1ªdose - a partir da 20ª semana e com movimentos fetais; 2ªdose - 6º mês; 3ªdose – 7 mês.

1.4.2. REMILD (rede mosquiteira impregnada com insecticida de longa duração): Entrega de uma
REMILD (para prevenção da malária), a todas as mulheres grávidas na primeira consulta pré-natal e nas
consultas seguintes, para aquelas que por algum motivo não tiverem recebido na primeira consulta.

1.5. PREVENÇÃO DA ANEMIA E MALFORMAÇÕES FETAIS (DEFEITOS DO TUBO NEURAL): SAL


– FERROSO e ÁCIDO FÓLICO em comprimidos na dose de 1cp (SULFATO FERROSO 90mg +
ÁCIDO FÓLICO 1mg) composto por dia. Desde a primeira consulta até ao final da gestação.

1.6. EXAMES DE ROTINA: Para despiste de patologias como anemia, infecções urinárias, infecções de
transmissão sexual (ITS), entre outras.
1.7. EDUCAÇÃO SANITÁRIA:
1.7.1 Nutricional: Aconselhar a gestante a comer o que quiser, na quantidade que desejar e com sal
suficiente para seu paladar, pois ao contrário do que popularmente se pensa, a toxemia gravídica não está
relacionada ao consumo de sal. Educação Nutricional (aumentar a frequência de refeições para pelo
menos 5 por dia, e reduzir as quantidades de alimentos ingeridos por refeição).

1.7.2 Higiene Geral: Exercício: não há limitação, desde que não se torne excessivamente fatigada ou haja
risco de lesar a si própria ou ao feto. Banho: não há objecção durante a gravidez ou puerpério.
Desaconselhar banhos de banheira no último trimestre. Hábitos intestinais: atenção às alterações
intestinais da gravidez (obstipação), ingerir quantidades suficientes de líquido, alimentos ricos em
fibras em quantidades razoáveis, e exercício diário. Coito: Sempre que há ameaça de aborto ou
trabalho de parto pré-termo deve-se evitar o coito. Prevenção: vacina anti-tetânica, desparasitação
com mebendazol, TIP, ATS (aconselhamento e testagem em saúde), PTV, TPC, Uso de REMILD.
Tabagismo: em virtude dos riscos (morte fetal, baixo peso ao nascer, descolamento da placenta), devem
ser totalmente evitados. Álcool: não consumir álcool. Medicamentos: Se um medicamento for
administrado durante a gravidez, as vantagens a serem obtidas devem superar claramente quaisquer riscos
inerentes ao seu uso. No primeiro trimestre da gravidez a contra-indicação para a administração de
medicamentos é mais forte. Parto Institucional: recomendar sempre o parto institucional e prestar
aconselhamento sobre os benefícios do parto efectuado na Unidade Sanitária, para a mãe e para o feto.

1.7.3.‟Casas de Mãe em espera de trabalho de parto‟: As ‟casas de mãe em espera de trabalho de


parto‟‟ são casas construídas pelo governo com apoio de ONGs e da comunidade, que servem para o
alojamento temporário de gestantes que vivam em áreas distantes da unidade sanitária ou que reúnam
outros critérios como complicações (para seguimento em ambulatório), falta de apoio familiar.

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Recomenda-se o uso destas casas para garantir um melhor controlo destas mulheres, para que o seu parto
seja realizado na unidade sanitária e sem complicações.
_____________________________________________________________________________________
2.COMPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS RELACIONADAS COM A GRAVIDEZ:
2.1. HIPERÉMESE GRAVÍDICA: São vómitos suficientemente persistentes e prolongados para
produzir dificuldade em alimentar-se, emagrecimento e desequilíbrios hidroelectrolíticos
(desidratação, hipocaliemia, perda de ácido clorídrico, alcalose, perda de peso). Deve ser
diferenciada dos episódios de náuseas e vómitos habituais que acontecem na mulher grávida e
sem efeitos sistémicos significativos. Quadro Clínico: Náuseas e Vómitos persistentes; Perda de
Peso; Desidratação moderada a grave; Hipotensão; Fraqueza muscular acentuada, principalmente
nos membros inferiores. TRATAMENTO : CLORPROMAZINA injectável (25mg/2ml) 25 a
50mg I.M de 6/6horas (não ultrapassar 200 mg por dia), ou PROMETAZINA injectável
(50mg/2ml) 25mg I.M e repetir 2 horas depois se necessário. Tanto a CLORPROMAZINA
como a PROMETAZINA, são ambos medicamentos que pertencem ao nível 3 (para clínicos
gerais) de prescrição. Por essa razão só devem ser usados em casos de extrema necessidade e
com muito controlo. Fluidos: administrar fluídos (SORO FISIOLÓGICO, DEXTROSE 5%,
LACTATO DE RINGER) de acordo com o nível de desidratação e outros factores
(hipoglicémia, estado geral). Electrólitos: CLORETO DE POTÁSSIO A 10% (1g/10ml)
(quando alimentação parenteral >48h ou potássio sérico< 3,5mmol/l) dar 1ampola E.V diluido
em 500 ml de NaCl 0.9% de 6/6h. Interrupção terapêutica da gravidez: Excepcionalmente, se
não houver remissão do quadro clínico com o tratamento médico adequado, a interrupção
terapêutica da gravidez será o único recurso para salvar a vida da paciente grave e com
hiperémese gravídica refractária ao tratamento.
2.2. ABORTO: O aborto (em Moçambique) é a expulsão ou extracção do concepto pesando
menos de 1000g ou com idade gestacional menor que 28 semanas completas. Pode ser
espontâneo ou induzido, dependendo da existência ou não de intervenção humana,
respectivamente.
2.2.1. AMEAÇA DE ABORTO: É o sangramento de origem intra-uterina antes de completar 28
semanas de gestação, com ou sem contracções uterinas, sem dilatação da cérvix e sem expulsão dos
produtos de concepção. Sintomas: hemorragia uterina ligeira com ou sem dor ligeira. CONDUTA:
Repouso absoluto até parar o sangramento; Proibição absoluta do coito, enquanto perdurar a ameaça;
Miorrelaxantes uterinos: TERBUTALINA comprimidos de de 2,5 mg, 1 a 2 comprimidos (geralmente
1) de 6/6 horas devendo a dose ser ajustada de acordo com a frequência cardíaca fetal e materna, bem
como das contracções uterinas. Administrar só nos casos com mais de 15 semanas. SALBUTAMOL
comprimidos de 2 mg, até 1 a 2 comprimidos (geralmente 1) de 6/6 ou 8/8 horas. Administrar só nos
casos com mais de 15 semanas.
2.2.2. ABORTO COMPLETO: É a expulsão de todos os produtos de concepção antes de completar 28
semanas de gestação. Sintomas: hemorragia mínima ou nula, com ou sem dor ligeira, no período pós
aborto. CONDUTA: Curetagem ou aspiração uterina, para assegurar que não há fragmentos do concepto
retidos que irão causar posteriormente hemorragias e infecções. Se o produto de concepção estiver
completo após expulsão não há necessidade de realizar estes procedimentos. Administrar
METILERGOMETRINA 0.2 mg IM; Alta com: AMOXICILINA cps 500mg, 1cp de 8/8h +

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METRONIDAZOL cps 250mg, 2cps de 8/8h (ATB para 7 dias) + METILERGOMETRINA cps
0.125mg, 1cp de 8/8h (05 dias)
2.2.3.ABORTO INCOMPLETO: É a expulsão de algumas partes dos produtos de concepção.
Sintomas: hemorragia uterina abundante misturada com fragmentos do produto de concepção (depende
da IG), com cólicas moderadas a intensas. CONDUTA: Aspiração ou curetagem uterina o mais cedo
possível; Se houver hemorragia abundante: METILERGOMETRINA 0.2mg IM imediatamente; Na
presença de sinais de choque: administrar OXITOCINA 40UI em Soro NaCl 0,9% 1000ml EV (cateter
16) e transfundir hemoderivados de acordo com as necessidades. Assegurar que a aspiração/curetagem foi
completa; Alta com: AMOXICILINA cps 500mg, 1cp de 8/8h + METRONIDAZOL cps 250mg, 2cps
de 8/8h (ATB para 7 dias) + METILERGOMETRINA cps 0.125mg, 1cp de 8/8h (05 dias) + SAL
FERROSO 30mg 12/12h para 30 dias
2.2.4. ABORTO INEVITÁVEL: Refere-se ao sangramento de origem intra-uterina antes das 20
semanas, com dilatação do cérvix e rotura das membranas, mas sem expulsão dos produtos de concepção.
Nestes casos, o aborto é considerado inevitável e pode acontecer a qualquer momento. Sintomas:
hemorragia uterina moderada ou abundante, com dores pélvicas tipo cólica. CONDUTA: O mesmo que o
aborto incompleto
2.2.5. ABORTO RETIDO: é a condição na qual o embrião ou feto morre dentro do útero, mas os
produtos da concepção ficam retidos no útero. Sintomas: sem hemorragia, ou com hemorragia escassa e
sem dor. Sem febre. CONDUTA: Esvaziamento uterino: MISOPROSTROL cps 200μg, introduzir
600μg (3cps) no fundo de saco posterior da vagina. Pode ser repetido após 24h. Assegurar que o aborto
seja completo (Aspiração após expulsão do concepto); Alta com: o mesmo do aborto incompleto
2.2.6. ABORTO SÉPTICO: É a condição na qual há infecção do útero e algumas vezes de estruturas
adjacentes no contexto de um aborto. Sintomas: hemorragia ligeira, com miscelânea de fragmentos do
concepto e corrimento fétido, com dores intensas e contínuas; febre. CONDUTA: Antibioterapia EV de
amplo espectro durante 7 a 10 dias, seguido de formas orais: Primeiras 24 a 48 horas, AMPICILINA 1 a
2g EV 6/6h ou PENICILINA CRISTALINA, 3.000.000 UI, EV de 6/6 horas; GENTAMICINA 80mg
EV 8/8h ou KANAMICINA, 500 mg IM de 12/12 horas; METRONIDAZOL 500mg EV 8/8h; Após
melhoria do estado geral, passar para METRONIDAZOL oral, AMOXICILINA (500mg) oral (1 a 2 c
de 8/8h) e manter GENTAMICINA IM. Fluídoterapia e/ou transfusão de hemoderivados de acordo com
as necessidades. Curetagem: depois de estabilizar situação cardiovascular (TA> 110/70mmHg, Pulso
<100/min). Nota: o uso de pílulas combinadas (por pelo menos um mês) após procedimentos invasivos
intra-útero no contexto de aborto é aconselhável para evitar o síndrome de Asherman (fibrose cicatricial
da cavidade uterina).
_____________________________________________________________________________________
3.PREMATURIDADE/AMEAÇA DE PARTO PRÉ-TERMO: É definida como a interrupção da
gravidez antes das 37 semanas completas, desde que não enquadrada na definição de aborto (em
Moçambique com mais de 28 semanas). Quadro Clínico: Resume-se ao início precoce (antes
das 37 semanas) do trabalho de parto. CONDUTA: Medidas profiláticas: tratamento das
complicações médicas ou obstétricas com potencial para causar parto pré-termo (HTA, Malária,
ITSs). Após o início do trabalho de parto pré-termo: Inibir a contractilidade uterina:
DEXTROSE 5% ou RINGER 1000ml + SALBUTAMOL 4 ampolas (dentro do soro), a correr
40gotas/min para diminuir ou parar as contracções;
____________________________________________________________________________________

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4. ANEMIA GESTACIONAL: A anemia na gravidez é definida pela OMS como hemoglobina


inferior a 11g/dl (< a 10g/dl em Moçambique). Causas: A anemia na gravidez resulta geralmente
dos seguintes factores: Deficiência nutricional (ferro e ácido fólico, que são essências para a
síntese de hemoglobina). Infecções crónicas (malária subclínica ou de repetição, ascaridíase,
schistosomiase, tuberculose; pielonefrite). Gestações repetidas e lactação prolongada.
CONDUTA: Prevenção (para Grávidas com ou sem Anemia); Educação Sanitária: combate
aos tabus culturais que proíbem as grávidas de comer alimentos ricos em proteínas, como ovos,
peixe e carne (também ricos em FERRO, ÁCIDO FÓLICO e VITAMINA B12); Prevenção e
tratamento de doenças infecciosas: acções que previnem, diagnosticam e tratam doenças como
malária, parasitoses intestinais, tuberculose; Suplementação Nutricional: com SULFATO
FERROSO (pelo menos 400mg/dia) e ÁCIDO FÓLICO 5mg/dia, são suficientes para
compensar as necessidades durante a gravidez e a lactação; Desparasitação: segundo as normas
nacionais; Planeamento Familiar: é fundamental fornecer conhecimentos e técnicas que tornam
as mulheres capazes de espaçar as gestações e terminar a fertilidade quando o tamanho da
família for o desejado. O intervalo das gestações deve ser no mínimo de 2 anos. Tratamento
(para Grávidas com anemias): SULFATO FERROSO 200mg Oral 8/8h, até a normalização
do valor da hemoglobina, e continuar por 3 a 6 meses depois da normalização. ACIDO
FÓLICO 5 mg por dia, nos casos de mal absorção pode ser necessário até 15 mg por dia. Se
Hemoglobina < 6 g/dl ou se existirem sinais de descompensação. Transfusão de concentrado de
glóbulos vermelhos, seguido de correcção/conduta em relação à causa de base.
5. DOENÇAS INFECCIOSAS NA GRAVIDEZ:
5.1. MALÁRIA: A malária durante a gravidez é um problema de saúde pública de grande
importância, principalmente nos países endémicos, como Moçambique, onde é uma das
principais causas de morbimortalidade. Além da doença materna, pode levar a complicações
fetais como: ACIU; Aborto espontâneo; Nado-morto; Prematuridade; Baixo peso ao nascer; e
Malária congénita. TRATAMENTO: Malária não complicada (em ambulatório): 1ºtrimestre
– QUININO cps 300mg, 2cps 8/8h, 7 dias; 2º e 3º trimestres – ARTEMETHER –
LUMEFANTRINA (AL), 4 cps 12/12h, 3 dias. Malária complicada na gravidez (em
internamento): 1º trimestre: QUININO inj. 10mg/kg de peso/dose + SORO GLICOSE 5%
10ml/kg peso/dose de 8/8 horas. Devido ao maior risco de hipoglicémia na gravidez,
recomenda-se a administração de 30 ml de DEXTROSE 30% com o QUININO. Depois da
resolução das complicações e se não tiver vómitos pode-se passar à via oral com QUININO oral
até completar 7 dias de tratamento; 2º e 3º trimestres: ARTESUNATO injectável na dose de:
2.4 mg/kg EV ou IM na admissão. A segunda dose deve ser administrada 12 horas depois da
primeira, seguida da terceira, 24 horas depois da primeira. Uma dose diária é indicada nos dias
subsequentes. O tratamento parenteral deve ser administrado por um período mínimo de 24 horas
e logo que o paciente tolere medicação oral, passar para AL (doses acima) até completar 6 doses
ou QUININO oral (doses acima) até completar 21 doses.

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5.2. TUBERCULOSE: A tuberculose na grávida possui o mesmo padrão patogénico e clínico


que o das mulheres não-grávidas. Os aspectos importantes a destacarem e que diferenciam a
abordagem da tuberculose na grávida são: 1) A transmissão fetal (TB congénita); 2)
Complicações materno-fetais; 3) Tratamento (efeitos sobre o produto de concepção).
CONDUTA: A OMS recomenda a aplicação do mesmo tratamento (tratamento de 1ª linha)
administrado para as mulheres não-grávidas.

5.3. INFECÇÃO URINÁRIA: Durante a gravidez a incidência das infecções urinárias é de 10 a


20%. Os tipos de infecções urinárias mais comuns são: Bacteriúria assintomática, Cistite e
Pielonefrite aguda. As complicações destas infecções são: Anemia; ACIU; prematuridade;
insuficiência renal; choque séptico.

5.3.1. Bacteriúria assintomática: É a demonstração de bactérias em proliferação activa no trato urinário


de um paciente sem quaisquer outros sinais ou sintomas. Se não for tratada, pode evoluir para pielonefrite
aguda e cistite. O agente patogénico mais comum é a Escherichia coli (80% dos casos). O diagnóstico
baseia-se numa urocultura (cultura de urina). TRATAMENTO em ambulatório: Beber muitos líquidos;
AMOXICILINA + ÁC. CLAVULÂNICO cps 625mg, 8/8h durante 10 dias.

5.3.2. Cistite Aguda: Na cistite aguda, a flora bacteriana é semelhante à detectada na bacteriúria
assintomática. Do ponto de vista clínico temos: Disúria; Frequência e urgência urinária; Dor retropúbica,
agravada pela pressão (à palpação); Sem febre, sem náuseas, sem vómitos, sem calafrios; Urina II:
leucócitos, bactérias; Urocultura: identifica a bactéria. TRATAMENTO em ambulatório: Beber muitos
líquidos; AMOXICILINA + ÁC. CLAVULÂNICO cps 625mg, 8/8h durante 10 dias.

5.3.3. Pielonefrite aguda: A pielonefrite aguda complica pelo menos 2% de todas gestações, e está
associada a riscos materno-fetais elevados (referidos anteriormente). O quadro clínico caracteriza-se
por: Anorexia, náuseas e vómitos; Febre e calafrios; Dor lombar (sinal de Murphy renal positivo) é
altamente específica; Urina II: leucócitos e bactérias. TRATAMENTO: Internar; PARACETAMOL
SOS em caso de dor ou febre; Assegurar hidratação por via oral ou endovenosa dependendo do caso;
AMPICILINA 1g EV 6/6h durante 10 a 14 dias; GENTAMICINA 80mg EV 8/8h, até 24h após
remissão de sintomas.
_____________________________________________________________________________________
6. INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO: A indução do trabalho de parto é o processo
usado para iniciar o trabalho de parto por meios artificiais. Difere da Aceleração do trabalho de
parto, que é a estimulação do trabalho de parto que começou espontaneamente.

6.1.MÉTODOS DE INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO:


6.1.1.Indução com Prostaglandinas: No nosso meio a mais usada é o MISOPROSTOL. O
MISOPROSTOL – usado para o amadurecimento do cérvix e a indução do trabalho de parto, é aplicado
por via intravaginal na dose de 50μg (1/4 dos comprimidos de 200 μg ). Se necessário repetir após 6h.
Nota: Não se deve usar mais do que 50μg de cada vez, e nunca exceder 4 doses (200μg) . Após o uso de
MISOPROSTOL, deve-se monitorar o bem-estar fetal e não usar OXITOCINA nas 8 horas seguintes.

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6.1.2. Indução com Oxitocina: OXITOCINA (ampolas de 5 UI/ml)– 5UI (1ml) + GLICOSE 5%
1000ml; iniciar com 15 gotas por min., com aumento gradual (ex: 30-60) do gotejo até se obter bom
padrão de contracções. O intervalo entre os aumentos do gotejo deverá ser de 30-40min. Dose máxima até
120 gotas/min.
6.1.3. Amniotomia: A amniotomia (ruptura artificial das membranas) pode induzir ao trabalho de parto,
mas seu uso indica firme compromisso com o parto; após romper as membranas, não há volta. A
principal desvantagem da amniotomia, quando usada isoladamente para indução do trabalho de parto, é o
intervalo imprevisível e algumas vezes longo, até que haja início das contracções uterinas e portanto, do
parto. Pode aumentar o risco de infecção se o trabalho de parto não ocorrer imediatamente. As
membranas devem ser rotas com um instrumento apropriado denominado amniótomo.
_____________________________________________________________________________________
7. CONDUTA NO 2º, 3º E 4º ESTÁGIOS DO TRABALHO DE PARTO (PERÍODO EXPULSIVO, DEQUITADURA E
PUERPÉRIO IMEDIATO):
7.1. CONDUTA NO PERÍODO EXPULSIVO: Assistência ao parto: A assépsia deve ser feita
com SAVLON ou outro anti-séptico nas coxas, região vulvar, períneo e abdómen. Cuidados
com o recém-nascido: Após a expulsão do feto e depois de se confirmar que não há outro bebé,
administrar OXITOCINA 10 UI IM ou EV lento logo no 1º minuto. Caso não haja oxitocina,
optar por MISOPROSTOL (comp. de 200 mcgs), 3 C via oral ingeridos com um copo de água,
ou METILERGOMETRINA (0,2 mg) IM.

7.2. PROCEDIMENTOS DURANTE O 2º ESTÁGIO DO TRABALHO DE PARTO:


7.2.1. EPISIOTOMIA: A incisão cirúrgica da região pudenda ou do períneo, partindo da
comissura posterior da vulva em direcção ao esfíncter anal, para aumentar o orifício da vulva
durante a expulsão do feto. Dor: é uma queixa frequente pós-episiotomia, e quando intensa deve
ser cuidadosamente avaliada, para excluir presença de hematomas e infecções. Tratamento:
PARACETAMOL (500 mg) 1 a 2 cps de 8/8h e aplicar gelo ou água fria no local. Hematoma:
Tratamento: abre-se os pontos e drena-se. Raramente requer suturar novamente. Hemorragia:
Tratamento: sutura de pontos frágeis. Infecção: Tratamento: Abrir e drenar; fazer lavagem
vagino-perineal diária com solução antisséptica (SAVLON ou outro antisséptico); e
AMOXICILINA 500 mg a 1g 8/8h durante 7 dias.
8. COMPLICAÇÕES DO TRABALHO DE PARTO:
8.1. DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS NA GRAVIDEZ:
8.1.1. Pré-eclâmpsia: É uma síndrome multissistémica caracterizada por hipertensão e proteinúria, após
20 semanas de gravidez, em mulheres com prévia TA normal. De salientar que o edema é habitual na
gravidez normal e na pré-eclâmpsia só é significativa se afectar as mãos e a face.

8.1.1.1.Pré-eclâmpsia Moderada: Caracteriza-se por duas leituras de TA diastólica entre 90 a 110


mmHg num intervalo de 4 horas, depois de 20 semanas de gestação; Proteinúria acima de 2 cruzes (>300
mg /24h); Muitas vezes assintomática, ou com: Aumento exagerado e súbito do peso devido a retenção de
líquidos (> 1Kg/semana) pode estar presente; Edema Generalizado (envolvendo face e mãos), contudo
tanto a pré-eclâmpsia como a eclâmpsia pode ocorrer sem edema. CONDUTA: Tratamento anti-
hipertensivo com DIHIDRALAZINA cps 12.5mg (1/2cp) 6/6h; Nota: não dar diuréticos nem fazer
restrição de sal alimentar

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8.1.1.2.Pré-eclâmpsia Severa: Aos sinais da PE moderada acima descritos junta-se: T.A. diastólica ≥110
mmHg; Distúrbios visuais (visão turva); Cefaleias de difícil controlo; Dor epigástrica; Vómitos;
Hiperreflexia (resposta aumentada dos reflexos); Oligúria e edema pulmonar podem ocorrer.
CONDUTA: O tratamento da pré-eclâmpsia severa é o mesmo que o da eclâmpsia excepto que na
eclâmpsia, o parto deve ocorrer nas primeiras 12 horas após o início das convulsões e a dose de ataque de
DIAZEPAN, não é dada na pré-eclâmpsia grave.

8.1.2. Eclâmpsia: É a ocorrência de convulsões em uma paciente com pré-eclâmpsia. É a forma


mais grave dos distúrbios hipertensivos da gravidez e pode complicar-se com AVC, coma, morte
materna. Quadro clínico e diagnóstico: Pré-eclâmpsia; Convulsões; Coma; Pode haver presença
de convulsões frequentes e repetidas – Estado Eclâmptico. As convulsões podem ocorrer antes,
durante e após o parto (primeiras 24 horas). No momento das convulsões a T.A pode estar
normal.TRATAMENTO farmacológico: controlar a convulsão com: SULFATO DE
MAGNÉSIO A 10% (fármaco de eleição): Dose inicial/ataque: 4g diluído em SORO
GLICOSE 5% (LACTATO DE RINGER/FISIOLÓGICO) 20ml EV lento. Se depois de 15
minutos tornarem a ocorrer convulsões, administrar 2 g por via endovenosa lenta. Dose de
manutenção: 8g em 1000ml RINGER ou FISIOLÓGICO ou DEXTROSE A 5% em 8h (25
gotas/ min). Continuar com o tratamento de 8/8 horas até pelo menos 24 horas depois do parto ou
depois de as convulsões terem iniciado. Nota: vigiar sinais de depressão respiratória, reflexos
rotulianos e diurese. Suspender ou adiar a medicação se: frequência respiratória menor que 14 a
16 c/min e/ou diurese menor que 30 ml por hora durante 4 horas e/ou os reflexos estiverem
reduzidos ou ausentes. Nestes casos administrar 10 ml (1g) de GLUCONATO DE CÁLCIO A
10% por via endovenosa lenta. Ou DIAZEPAM (se SULFATO DE MAGNÉSIO não estiver
disponível), Dose inicial/ataque (só nos casos de eclâmpsia): 10 a 20mg EV lento ou rectal, Dose
de manutenção: 40mg diluídos em 1000ml de RINGER ou FISIOLÓGICO ou DEXTROSE A
5% de 8/8h. Nota: não administrar mais do que 100 mg em 24 horas e monitorar frequência
respiratória pra despiste de depressão respiratória. Se necessário entubar e administrar
OXIGÉNIO. Em caso de intoxicação entubar, administrar OXIGÉNIO, pedir ajuda. Ou Caso
de não haja SULFATO DE MAGNÉSIO ou DIAZEPAM: CLORPROMAZINA, Dose
inicial/ataque: 25mg EV, Dose de manutenção: 100mg em 500ml de RINGER ou DEXTROSE
A 5% de 8/8h a correr 20 gotas/min. Controlar a HTA: Se a tensão arterial diastólica (T.A.D)
for maior que 110mmHg, administre anti-hipertensivos. O objectivo é manter a T.A.D entre 90 a
100 mmHg de modo a evitar uma hemorragia cerebral. A HIDRALAZINA é a droga de
eleição, na dose de 12.5 mg IM ou 6mg EV. Repetir após 20 a 30 minutos se necessário, até se
atingir uma resposta. Iniciar Trabalho de Parto (independentemente da idade da gestação):
Colo Uterino maduro e bacia favorável - Parto Vaginal; Colo imaturo, bacia não favorável ou
trabalho de parto> 6h – Cesariana.

8.2. ROTURA PREMATURA PROLONGADA DAS MEMBRANAS: Em 90% dos casos, a Rotura
de membranas ocorre durante o parto. A rotura prematura das membranas é a que teve efeito

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antes do início do trabalho de parto. Se tiverem decorrido 24h entre a Rotura das membranas e o
início do trabalho de parto, o problema é descrito como Rotura prematura prolongada das
membranas.Quadro Clínico: O diagnóstico é evidente na maioria dos casos: A mulher queixa-se
de perdas pela vagina de quantidades anormais de líquidos. Pode referir que a roupa interior ou
os seus lençóis ficam molhados. Pode-se observar líquido no canal vaginal. CONDUTA: Rotura
prematura prolongada em trabalho de parto de termo: Indução ou aceleração do trabalho de
parto; Antibioprofilaxia pelo risco elevado de infecção intra-uterina: AMOXICILINA 500 a
1000 mg 8/8 em 7 dias oral, e METRONIDAZOL 500mg (2cps) 8/8 em 7 dias oral.

8.3. HEMORRAGIA ANTE-PARTO: Considera-se “hemorragia antes do parto” o sangramento


durante os últimos meses da gravidez (20 semanas pelo critério da OMS). As causas mais importantes:
Placenta prévia; Descolamento prematuro da placenta; Rotura Uterina; e Lesões do colo.
8.3.1. Rotura Uterina: A Rotura uterina é um episódio obstétrico previsível e evitável de maior
gravidade, que pode ocorrer durante a gravidez ou no parto. Sua frequência/quantidade é inversamente
proporcional à qualidade da assistência pré-natal e sobretudo aquela dispensada durante o trabalho de
parto. Quadro clínico: A Rotura de um útero intacto ocorre geralmente na fase activa ou no período
expulsivo. Na eminência da Rotura: Paciente está ansiosa e agitada; Contracções enérgicas e
extremamente dolorosas no hipogástro; Observa-se o relevo do anel que separa o corpo uterino do
segmento inferior (sinal de Bandl), localizado próximo ou junto a cicatriz umbilical. Na Rotura
consumada: Dor súbita, lancinante, mais intensa na região hipogástrica. Paralisação do trabalho do parto,
porque o útero roto não se contrai efectivamente. O feto e placenta poderão ter sido expulsos do útero e
serem palpáveis na cavidade abdominal. Hemorragia vaginal é intensa (profusa) mesmo que se visualize
um volume discreto pela vagina (neste caso fica oculta, isto é, permanece na cavidade abdominal sem
exteriorizar-se). Por vezes a urina é hemática. CONDUTA: Profilático: Vigilância permanente a todas
pacientes durante o parto, para notar distócias, o sinal de Bandl, e assim evitar a Rotura. Nestas condições
deve-se: Administrar AMPICILINA 1g ou PENICILINA CRISTALINA 5M EV; Cesariana urgente.

8.3.2. Prolapso do Cordão Umbilical: É a exteriorização do cordão umbilical através da cérvix uterina,
podendo projectar-se para fora da vagina. Sinais: O cordão umbilical apresenta-se no canal de parto
abaixo da parte fetal apresentada. O cordão umbilical é visível na vagina após a rotura das membranas.
Queda abrupta do FCF. CONDUTA: Administre OXIGÉNIO a 4-6 L por minuto por máscara ou sonda
nasal, à todas as mulheres nesta condição. Se disponível, administre 0,25 mg de SALBUTAMOL,
diluído em 10 ml de SORO FISIOLÓGICO, por via IV, lentamente, durante 2 minutos para reduzir as
contracções;” OU administre um SORO RINGER 500 ml com 1 mg (2 ampolas) de SALBUTAMOL
por via IV, para reduzir as contracções”. Solicite de imediato a ajuda especilizada para a realização de
uma cesariana (mantendo sempre a mão em apoio abdominal).
_____________________________________________________________________________________
9.TRABALHO DE PARTO OBSTRUÍDO: Também chamado de distócia mecânica, define-se
como o trabalho de parto que apesar de contracções uterinas fortes, não pode progredir devido a
factores mecânicos. Quadro clínico: Progressão anormal do partograma; Palpa-se apresentação
fetal acima da sínfise púbica; Ao toque vaginal, detecta-se moldagem no caso de apresentação
cefálica; As contracções uterinas são muito fortes e frequentes com a possibilidade de o útero
estar hipertónico, por vezes. Quando se atinge a exaustão uterina as contracções podem estar

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ausentes; Evolui com sinais de ameaça de rotura uterina (ver rotura uterina); Evolui com sinais
de sofrimento fetal: foco irregular ou bradicárdico e/ou presença de L.A com mecónio espesso;
Evolui para morte fetal intra-uterina. CONDUTA GERAL: DEXTROSE 5% ou RINGER
1000ml + SALBUTAMOL 4 ampolas (dentro do soro), a correr 40gotas/min para diminuir ou
parar as contracções; Algaliar a paciente; AMPICILINA 1g ou PENICILINA CRISTALINA
5M UI EV;

10.COMPLICAÇÕES DO TRABALHO DE PARTO:


10.1. MORTE FETAL INTRA-UTERINA: Em Moçambique, é definida como a morte de um
produto da concepção com peso igual ou superior a 1000g, ou tendo uma idade gestacional igual
ou superior a 28 semanas, e o produto expulso é um nado morto. A morte de um produto de
concepção sem estes parâmetros considera-se aborto.Quadro clínico: A mãe refere ausência de
movimentos fetais e os sinais subjectivos de gravidez (náuseas, tensão das mamas) desaparecem.
CONDUTA: Indução de parto vaginal: se colo favorável (mole, fino, parcialmente dilatado)
induzir com OXITOCINA ou MISOPROSTOL. O tratamento com antibióticos está indicado,
caso hajam sinais de toxicidade sistémica, compatíveis com infecção, o que geralmente acontece,
quando o feto sem vida permanece por muito tempo na cavidade uterina.

10.2. GRAVIDEZ MÚLTIPLA: A gravidez gemelar resulta de dois mecanismos diferentes. Nos
gémeos monozigóticos um único óvulo fertilizado divide-se, produzindo dois indivíduos
geneticamente idênticos. Nos gémeos dizigóticos são libertados e fertilizados dois óvulos ao
mesmo tempo. Quadro clínico: À palpação: Útero anormalmente grande para idade gestacional,
geralmente a altura uterina está aumentada em 4cm, em relação à esperada. Número não usual de
extremidades. Mais de um pólo cefálico. Cabeça ou cabeças são pequenas, em comparação com
o grande volume uterino. Auscultação: com identificação positiva de dois focos fetais, podendo
ser difícil com o estetoscópio de Pinnard, neste caso batem 2 corações com uma zona silenciosa
(de pelo menos 10 cm) entre eles. CONDUTA: Primeiro gémeo: Pode estar em apresentação
cefálica, pélvica ou de espádua. Neste caso, o parto dá-se por via vaginal ou por cesariana, de
acordo com os critérios habituais (conduta no trabalho de parto de acordo com a presentação).
Segundo gémeo: A mortalidade é duas vezes maior, em relação ao primeiro, na maioria das
vezes devido a prolapso do cordão ou ao deslocamento prematuro da placenta. Se as contracções
forem fracas, colocar OXITOCINA 10UI + GLICOSE 5% 1000ml cerca de 60 gotas/minuto
(vide critérios de indução de contracções com OXITOCINA). Se não resultar, nenhuma das
manóbras acima, efectuar cesariana.

10.3. PLACENTA RETIDA: A dequitadura (ou expulsão da placenta) resulta da contracção contínua do
útero, o que provoca o descolamento e expulsão da placenta através do canal de parto. Normalmente a
placenta deve ser expulsa até o máximo de meia hora após à saída do feto. Retenção placentar é
diagnosticada quando a placenta não é expulsa na meia hora que se segue à expulsão fetal. Quadro
clínico: Manifesta-se essencialmente pela ausência de expulsão da placenta na primeira meia hora depois
do parto e por sangramento. CONDUTA: Os princípios do tratamento são: esvaziar o útero; contraí-lo; e

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estabilização da hemodinâmica da paciente. Avaliar os sinais e proceder com a estabilização


hemodinâmica; Algaliar de modo a esvaziar a bexiga e a mantê-la vazia; Administrar OXITOCINA, 40
UI em 1000ml de DEXTROSE A 5% (ou LACTATO DE RINGER, SORO FISIOLÓGICO), a uma
velocidade de 40 gotas por minuto;

10.4. INVERSÃO UTERINA: É uma situação rara em que o útero se inverte durante a
dequitadura. Quadro Clínico: Dor ligeira ou intensa; Hemorragia discreta ou abundante; À
palpação abdominal não se encontra o fundo do útero; Toque vaginal revela um útero invertido
na vagina ou na vulva. CONDUTA: usa-se METILERGOMETRINA 0.5mg IM e inicie
antibióticos (AMPICILINA e METRONIDAZOL). Nos casos em que a inversão ocorreu há
mais de 30 min., não tentar reposição. Dar AMPICILINA 1g EV.

10.5. ATONIA UTERINA: É a incapacidade do útero contrair-se adequadamente após a expulsão


do feto. É a causa mais frequente de hemorragia pós-parto. Quadro Clínico: Útero está
distendido, mole e não tem tónus. As perdas hemáticas vaginais podem ser moderadas ou
abundantes. De acordo com o volume de sangue perdido poderá haver sinais de pré-choque ou
choque. CONDUTA: A conduta é a mesma que para hemorragia pós-parto.

10.6. HEMORRAGIA PÓS-PARTO E CHOQUE: A hemorragia pós-parto imediato é definida como a


perda de 500ml ou mais de sangue nas primeiras 24h após a dequitadura. A hemorragia pós-parto tardia é
aquela que ocorre após 24h. Quadro Clínico: Hemorragia vaginal; Útero volumoso e mole; A estes Os
sinais e sintomas associam-se os do pré-choque e de choque, dependendo do volume do sangramento e do
estado de saúde prévio da mulher: Pré-choque: Alerta, ansiosa; Pulso ligeiramente aumentado;
Respiração ligeiramente aumentada (FR> 30); Palidez das mucosas; Tensão arterial baixa (TA sistólica
<90); Debito urinário> 30ml/h; Choque: Confusão, inconsciente; Pulso rápido e fraco; Respiração rápida
e superficial; Palidez das mucosas e pele fria; TA baixa; Débito urinário <30ml/h.
Conduta na Hemorragia Pós-Parto: Administre 1000 ml de fluído (LACTATO DE RINGER, NACL
0.9% ou DEXTROSE 5%) mais OXITOCINA 40UI EV. Administre METILERGOMETRINA inj.
0.5mg EV ou IM e 0.5 mg directamente no músculo uterino (através da parede abdominal). Dê
OXIGÉNIO 4-6l/min por máscara ou cânula nasal. Administre um expansor plasmático (HEMACEL,
PLASMAGEL) de acordo com as necessidades na outra veia enquanto aguarda pelo sangue;

10.7. TRAUMATISMO DO CANAL DE PARTO:


10.7.1. Lacerações do colo do útero: As lacerações cervicais, geralmente ocorrem lateralmente,
em um lado ou ambos os lados do colo uterino. A laceração cervical alta pode envolver ramos da
artéria uterina, causando uma hemorragia massiva. Quadro clínico: Ocorre hemorragia do trato
genital, com o útero bem contraído e duro. Nesta situação é necessário observar imediatamente o
canal de parto para localizar o traumatismo. CONDUTA: Administrar OXITOCINA 20UI + L.
RINGER ou DEXTROSE 5% ou SORO FISIOLÓGICO 1000ml. Antibioterapia:
AMPICILINA 1g 6/6h EV (1ªs 24h) e depois AMOXICILINA 500 a 1000 mg 8/8h durante 5
dias. METRONIDAZOL 500mg 8/8h oral durante 5 dias ou mais nos casos mais severos.

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11. PUERPÉRIO: O puerpério é definido como o período que começa após a dequitadura e vai
até 42 dias completos (6 semanas). PUERPÉRIO PATOLÓGICO: As complicações do
puerpério são aquelas que se instalam durante os 42 dias que se seguem ao parto. Estas
perturbam a saúde materna, e algumas são causas de doença grave podendo levar a morte
materna. As mais comuns são: Hipertensão; Hemorragia pós-parto; Anemia; Infecções
puerperais; Doença tromboembólica; Distúrbios da amamentação; Depressão pós-parto.

11.1.HIPERTENSÃO PUERPERAL: Após o parto, deve-se ter em conta as seguintes orientações:


Reavaliação da puérpera e da terapêutica no pós-parto imediato. Reavaliação da puérpera na consulta de
Medicina interna/Clínica Geral, pós alta: 1-2 Semana pós-parto; 1º Mês; 2-3 Meses depois parto;
Reclassificação da HTA; Se persiste após o puerpério, considere a HTA crónica. TRATAMENTO: No
caso da pré-eclampsia/eclampsia deve ser a mesma já referida na abordagem pré-natal. Para a HTA
crónica, o medicamento de eleição é: METILDOPA 250-500mg 8/8h oral.

11.2. SÉPSIS PUERPERAL: É uma infecção do trato genital, que ocorre a qualquer altura no
período de 42 dias após o parto. Quadro clínico: Febre puerperal; Dor pélvica, útero e abdómen
sensíveis; Lóquios fétidos que podem até ter aspecto purulento. CONDUTA: Hidratação
venosa (SOLUÇÃO FISIOLÓGICA ou RINGER LACTATO 1000ml 8/8h); Analgésicos e
anti-piréticos. Antibioterapia: Duração do tratamento de pelo menos 10 dias; Tratamento
endovenoso nos primeiros dias até a febre regredir (pelo menos 48h sem hipertermia): 1ª linha –
AMPICILINA 1g de 6/6h EV + METRONIDAZOL 500 mg 8/8h EV + GENTAMICINA
80mg 8/8h EV/IM; Na ausência de AMPICILINA, substituir por PENICILINA
CRISTALINA 5M na 1ª dose, depois 2M de 6/6h EV; Quando a paciente melhorar poderá fazer
antibióticos orais durante 7 dias: AMOXICILINA oral 1 grama de 8/8 horas +
METRONIDAZOL 500mg de 8/8 horas.

11.3. MASTITE: É um processo inflamatório ou infeccioso que pode ocorrer na mama lactante,
habitualmente à partir da segunda semana após o parto e geralmente unilateral. Ocorre devido a um
ingurgitamento ou fissura mal tratada. Quadro clínico: Dor, vermelhidão, calor e edema; Adenopatia
axilar; Febre. TRATAMENTO: Manter a amamentação na mama saudável e deve-se evitar a suspensão
da mama acometida; Manter a amamentação ou a ordenha manual na mama afectada, para evitar o
ingurgitamento e agravamento do quadro clínico; Usar compressas frias locais; Administrar
PARACETAMOL ou um AINE (IBUPROFENO, DICLOFENAC) nas doses habituais; Administrar
AMOXICILINA + ÁCIDO CLAVULÂNICO (250+125 mg) oral, administrar 1 comprimido 8/8h por 7
a 10 dias. Nota: administrar no início da refeição. Nas infecções graves usar doses elevadas de
AMOXICILINA (comprimidos de 500 mg de AMOXICILINA + 125 mg de ÁCIDO
CLAVULÂNICO).

11.4. ABCESSO MAMÁRIO: É resultado de uma mastite não tratada; Os sinais são similares aos da
mastite, acrescentando-se: Dor forte e constante; Edema intenso; Pode aparecer edema da pele (pele com
textura da casca de laranja); Flutuação; Febre alta (> 39ºC). CONDUTA: Administrar
PARACETAMOL ou um AINE (IBUPROFENO, DICLOFENAC) nas doses habituais; Administrar

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AMOXICILINA + ÁCIDO CLAVULÂNICO (250+125 mg) oral, administrar 1 comprimido 8/8h por 7
a 10 dias;

11.5. HEMATOMAS VULVO-VAGINAIS: Causas: Parto difícil; Sutura de episiotomia ou de


lacerações vaginais e perineais sem hemostase adequada. Quadro clínico: Aparecimento de dor
vulvo-vaginal minutos ou horas após o parto; Intumescimento tenso da vulva ou da vagina.
CONDUTA: Tratar os pequenos hematomas de forma conservadora, com aplicações frias (gelo) e
analgésicos orais (PARACETAMOL);

VII. SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA III: SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

1.DOENÇAS DE TRANSMISSÃO SEXUAL:


1.1.URETRITES: Uretrite é o nome genérico usado para designar inflamação na uretra, canal que sai da
bexiga e chega ao meato urinário.Quadro Clínico: Os principais sinais e sintomas de uretrite são:
Corrimento uretral: é a principal manifestação de uretrite. Disúria ou seja dor durante a micção; Outros
sintomas podem estar presentes, nomeadamente: Prurido uretral; Dor durante a ejaculação ou relações
sexuais; Edema e eritema do meato uretral; Edema peniano, localizado frequentemente na glande;
Linfadenopatia inguinal bilateral; Pode haver co-infecção da faringe e/ou da região anal, dependendo das
práticas sexuais. Sem tratamento a uretrite persiste por algumas semanas e posteriormente torna-se
assintomática na maior parte dos homens, ou seja, deixa de ser uma DTS para ser uma ITS (infecção
transmitida sexualmente, sem sintomas). Segundo estudos (Harrison 1984; Bell 1989), a uretrite
gonocócica pode ser assintomática em 40 a 60% de parceiros sexuais de casos conhecidos de gonorreia.
TRATAMENTO: Tratamento para: Gonorréia, Clamídia e Tricomonas: CIPROFLOXACINA
500mg VO Dose Única + AZITROMICINA 1g VO Dose Única + METRONIDAZOL 2g VO Dose
Única. O METRONIDAZOL deve ser tomado ao deitar-se a noite. Não ingerir bebidas alcoólicas nas
próximas 24-48 horas.

1.2.ÚLCERAS GENITAIS: As principais causas de úlceras genitais no homem, são as mesmas que na
mulher, e constituem o leque de patologias abrangidas nos protocolos de tratamento, por via da
abordagem sindrómica. São as seguintes: Herpes genital; Sífilis; Cancróide; e Linfogranuloma venéreo
(LGV). Segundo um estudo realizado pelo MISAU em 2003, a distribuição dos agentes etiológicos nos
casos de úlceras genitais, é a mesma para os homens e mulheres. A principal etiologia é a Herpes genital,
com mais de 60% dos casos, seguindo-se a Sífilis e o Cancróide, respectivamente. Quadro clínico: O
quadro clínico é variável, dependendo do agente etiológico envolvido, e se há infecção por mais de uma
agente. Na maior parte dos casos (Sífilis, Cancróide e Herpes), o principal sintoma, é o surgimento da
úlcera genital, que assim como para as mulheres, pode ter características variáveis (descritas na disciplina
de SSRI). Em outros casos (principalmente linfogranuloma venéreo e por vezes o Cancróide), o bubão
inguinal representa o sintoma predominante. As características das lesões são as mesmas que as das
mulheres, no homem, a maior diferença, é sua localização resultante das diferenças anatómicas. As lesões
localizam-se preferencialmente no escroto, no corpo do pénis, no prepúcio, na glande ou no sulco coronal.
Também podem estar localizadas em outras regiões como as regiões anal e perianal, rectal, perineal e
supra-púbica. Outros sinais e sintomas que podem estar presentes são: Sintomas de uretrite: corrimento

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uretral, disúria; Prurido genital; Dor a nível das lesões; Linfadenopatia inguinal dolorosa ou não, bilateral
ou unilateral. CONDUTA: são os mesmos aplicados para a mulher.
_____________________________________________________________________________________
2.SÍNDROMES DA PRÓSTATA: A próstata é uma glândula exócrina que faz parte do sistema
reprodutor masculino. Tem a função de criar um meio de transporte líquido adequado para os
espermatozoides e é responsável principalmente pela produção da enzima PSA (antigénio prostático
específico) que inactiva o inibidor de motilidade do espermatozóide, permitindo a mobilidade dos
espermatozóides. As principais patologias benignas que afectam a próstata são: Prostatite; e Hiperplasia
prostática benigna – HPB;
2.1. PROSTATITE: A prostatite é a inflamação da próstata, normalmente causada por uma
infecção bacteriana. Pode ser causada por uma série de microrganismos, geralmente os mesmos
que causam as infecções urinárias. A bactéria mais frequentemente encontrada em prostatites
infecciosas é a Escherichia coli (80%) que é também encontrada em infecções do aparelho
urinário. Quadro clínico: Na prostatite aguda, o paciente refere: Sintomas constitucionais (mal-
estar geral, febre, calafrios, mio-artralgias); Dor: lombar e perineal; Sintomas urinários:
polaquiúria, nictúria, urgência, disúria, e graus variáveis de sintomas de retenção urinária. O
paciente também pode referir corrimento uretral, hemoespermia e/ou hematúria mascroscópica.
Como a prostatite aguda geralmente se associa à cistite, a urina pode se apresentar turva. Na
prostatite crónica, os sintomas são mais subtis, alguns pacientes são assintomáticos e apresentam
apenas bacteriúria. Quando presentes, os sintomas apresentam-se em graus variáveis com:
Desconforto no períneo, testículos e região lombar; Febre e outros sintomas constitucionais ,
assim como as descargas de secreções uretrais geralmente não estão presentes; Os pacientes vêm
também com uma história de infecções do trato urinário recorrentes, intercaladas com períodos
assintomáticos. Na síndrome da dor pélvica crónica inflamatória, os sintomas são igualmente
subtis, e o paciente apresenta: Dor perineal e lombossacra intermitente. CONDUTA: O
tratamento das prostatites bacterianas inclui: Medidas gerais: Repouso; Hidratação: 2 a 3 litros
de água por dia; Analgésico e anti - inflamatório: uma opção seria IBUPROFENO (400mg
comprimido): 1 comprimido de 8/8 horas, até a resolução dos sintomas (sobretudo a febre e a
dor). Tratamento com antibióticos: Primeira linha: COTRIMOXAZOL (400mg de SMX e
80mg de TMP): 2 comprimidos de 12/12 horas por 4 semanas na prostatite bacteriana aguda e
por 12 semanas na prostatite bacteriana crónica; Segunda linha: CIPROFLOXACINA (500mg
comprimido): 1 comprimido de 12/12 horas por 4 semanas na prostatite bacteriana aguda e por
12 semanas na prostatite bacteriana crónica;
3. SÍNDROMES DOS TESTÍCULOS E ESCROTO: O escroto é uma bolsa que contém os testículos,
epidídimos e ductos deferentes. A importância desta bolsa é de manter os testículos fora da cavidade
abdominal e dar a possibilidade de mantê-los a uma temperatura de cerca de 32ºC, pois a
espermatogénese e a vitalidade dos espermatozóides estaria comprometida se os testículos estivessem
expostos à temperatura intra-abdominal (37ºC). Os testículos são as gónadas masculinas, os órgãos
responsáveis pela produção das células reprodutoras masculinas (espermatozóides) e de hormonas
masculinas (testosterona). Existem várias patologias que afectam o escroto e os testículos. As principais
são as seguintes: Gangrena de Fournier; Torção testicular; Orquite e Orquiepididimite; Varicocele;
Hidrocele; Tumores dos testículos.

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3.1. GANGRENA DE FOURNIER: A Gangrena de Fournier é uma emergência cirúrgica com


uma taxa de mortalidade geral muito alta (cerca de 40%). Consiste numa infecção
polimicrobiana em que diferentes microorganismos actuando de maneira sinérgica, criam uma
fascite necrotizante acometendo principalmente as regiões genitais, perineal e perianal. Depois
da descoberta dos antibióticos, esta gangrena tornou-se rara, porém tem-se observado um
ressurgimento da doença por causa da epidemia de HIV. Quadro Clínico: As manifestações
locais incluem dor, eritema, edema significativos na fase inicial e necrose do escroto ou região
perianal e perineal em associação com febre e calafrios na fase tardia. Outras manifestações
locais incluem celulite (inflamação dos tecidos moles), equimose e secreção com forte e
repulsivo odor fétido na pele. Á palpação escrotal pode estar presente a crepitação. Deve-se
lembrar que as manifestações cutâneas constituem uma pequena demonstração do que se passa
nos tecidos profundos, uma vez que a infecção alastra-se rápida e agressivamente ao longo dos
planos profundos. CONDUTA: Medidas Gerais: Monitoria dos sinais vitais; Estabilização
hemodinâmica: administração de fluídos de acordo com as necessidades; Tratamento
sintomático: administração de analgésicos e anti-inflamatórios para o tratamento da dor e febre.
Tratamento com antibióticos: Administrar a primeira dose de antibióticos endovenosos de largo
espectro: PENICILINA CRISTALINA: 3 milhões UI; GENTAMICINA: 240 mg IM;
METRONIDAZOL: 500 mg EV.

3.2. TORÇÃO TESTICULAR: A Torção do testículo, ou mais correctamente, a torção do cordão


espermático, é uma emergência cirúrgica, que cursa com bloqueio do fluxo sanguíneo aos
testículos determinando necrose testicular. Afecta principalmente meninos e adolescentes, e
vários factores (como traumatismo, defeitos congénitos, criptorquidia) podem estar envolvidos
na sua origem.Quadro clínico: Os pacientes frequentemente queixam-se de desconforto escrotal
de início agudo, com dor testicular grave seguida de dor inguinal e de inchaço escrotal. Alguns
pacientes também referem dor abdominal nos quadrantes inferiores, e o quadro clínico pode
ocorrer em repouso ou pode estar relacionado com actividade física intensa. A dor pode diminuir
à medida que a necrose se torna mais grave. Aproximadamente 1/3 dos doentes também
apresenta distúrbios gastrointestinais como náuseas e vómitos. Ao exame físico observa-se: Um
escroto inchado; Eritema da parede escrotal e equimoses que se tornam mais marcantes com a
evolução da doença; Palpa-se uma massa escrotal (testículo) firme, elevada (devido o
encurtamento do cordão) e que não é transiluminável; Ausência de melhoria da dor com elevação
do testículo acometido (em direcção à sínfise). Alguns casos de torção testicular podem
apresentar apenas dor e edema escrotal ligeiro. CONDUTA: Dependendo do nível de
intensidade, para garantir o controlo da dor usa-se analgésicos (ex: IBUPROFENO,
PETIDINA).

3.3. ORQUITE E ORQUIEPIDIDIMITE: Orquite é um processo inflamatório uni/bilateral dos


testículos. Epididimite é a inflamação do epidídimo uni/bilateral. Quando os dois órgãos são
envolvidos em simultâneo, a condição é designada orquiepididimite. Esta é a forma mais

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frequente de apresentação da epididimite e a distinção entre elas é muito difícil, razão pela qual a
epididimite tem sido considerada sinónimo da orquiepididimite na prática clínica. Uma forma
importante da orquite aguda em adolescentes e adultos jovens, é a que se apresenta associada à
parotidite epidémica (causa viral), afectando cerca de 20 a 35% dos casos de parotidite
epidémica. Tanto a epididimite como a orquite podem ser agudas ou crónicas. Quadro clínico:
Na forma aguda: em ambas as condições, o paciente refere início abrupto de sintomas
constitucionais como febre, calafrios e mal-estar geral. Desenvolve-se uma tumefacção
significativa do escroto, que fica vermelho e quente. Um outro sintoma muito comum é o
aparecimento da dor na zona do escroto, que costuma ser muito intensa, e pode irradiar para a
virilha e abdómen (até o flanco). A orquite da parotidite epidémica surge cerca de 3 a 4 dias
após o seu início. Na epididimite (incluindo orquiepididimite), é comum a presença de
sintomas de uretrite e de prostatite associados. Ao exame físico: em ambas as condições
(epididimite/orquiepididimite e orquite) o escroto encontra-se edemaciado e sensível à
palpação, com a pele eritematosa. Pode haver dor à palpação da região inguinal ou do quadrante
inferior do abdómen da região afectada. E excepto nas primeiras horas de evolução do quadro,
não se consegue distinguir o epidídimo do testículo à palpação. Na forma crónica: os sintomas
na maior parte das vezes estão ausentes, mas o paciente pode perceber um endurecimento local e
algum desconforto ao palpar o escroto (epidídimo fibrosado). CONDUTA: O tratamento inclui:
Medidas gerais: repouso geral, repouso sexual, alívio da dor com analgésicos e anti-
inflamatórios, suporte do escroto e aplicação de calor local. Tratamento antibiótico:
Epididimite (ou orquiepididimite) não transmitida sexualmente: 1ª linha –
COTRIMOXAZOL (comprimidos de 400mg de SMX e 80mg de TMP): 2 c de 12/12 horas
durante 4 semanas; 2ª linha – CIPROFLOXACINA (comprimidos de 500 mg) 1 c de 12/12
horas durante 4 semanas. Orquite causada por infecção bacteriana: nestes casos o tratamento
é o mesmo descrito para a epididimite não transmitida sexualmente.
VIII. SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO

1.GOTA: Gota é uma doença metabólica, reumatológica e inflamatória geralmente de carácter


familiar, associada com concentrações anormais de ácido úrico no corpo e caracterizada
inicialmente por artrite aguda, recorrente, geralmente monoarticular, com posterior cronicidade e
deformação articular. Quadro clínico: Nas crises inicias: o início é súbito, geralmente nocturno,
de inflamação articular com calor, rubor, edema e extrema dor. Em geral a afecção é
monoarticular e afecta a 1ª articulação metatarsofalangeal . A crise inicial de gota geralmente
tem duração de 5 a 7 dias com resolução espontânea, entrando posteriormente num período
assintomático (3 meses a 2 anos), até a crise seguinte.. Pode afectar outras articulações: dos pés,
tornozelo, joelho, mas com a evolução da doença qualquer articulação pode ser acometida.
Raramente afecta as ancas e os ombros. Em caso de afectação poliarticular, é geralmente
assimétrica. Nas crises subsequentes, há artrite poliarticular, assimétrica e poderemos encontrar
deformidades articulares com nódulos (tofos) de cristais de urato subcutâneos no cotovelo, dorso
da mão, ao nível das articulações, cartilagem do pavilhão articular. CONDUTA Farmacológica:

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

Crise Aguda: O objectivo é tratar a artrite (inflamação e dor) e não a hiperuricémia: o tratamento
de escolha é feito à base de AINEs, e posteriormente à sua estabilização: INDOMETACINA
comprimidos de 25 mg, administrar 50 mg de 6 em 6 horas no 1º dia, e passar para 50 mg de 8
em 8 horas no 2º e 3º dias. Ou DICLOFENAC 75mg IM, depois 50mg 8/8h durante 5 dias.
Também pode-se usar o ibuprofeno nas doses de 400 a 600 mg de 8 em 8 horas. O uso da
aspirina é desrecomendado, pois pode agravar os sintomas da gota.
2.OSTEOPOROSE:A osteoporose é uma doença caracterizada pela fragilidade acentuada do esqueleto
como resultado da diminuição da quantidade e qualidade ósseas. Quadro clínico: Geralmente
assintomática até a fractura ocorrer, contudo, o doente pode referir dor na região lombar. As fracturas
ocorrem espontaneamente ou após traumatismos mínimos e afectam geralmente os seguintes segmentos
ósseos: Coluna vertebral (fractura ou colapso) – manifesta-se por dor ou deformidade óssea, e ou perda da
altura (por cifose ou colapso vertebral); Anca (cabeça e colo do fémur); Antebraço ou punho.
CONDUTA: Não farmacológica: Dieta com elevado teor calórico contendo VITAMINA D e CÁLCIO
(banana, leite, ovos, peixe, gergelim, fígado). Exposição diária ao sol (para síntese de VITAMINA D)
por meia hora por dia nas pessoas de pele clara e uma hora nas pessoas de pele escura. Exercícos
(caminhada por pelo menos 30 minutos, 3 vezes por semana). Retirar ou reduzir factores de risco
modificáveis (tabagismo, corticosteróides, alcoolismo). Considerar terapia de reposição hormonal em
mulheres pós menopáusica.

3. OSTEOARTRITE (ARTROSE): É uma artropatia caracterizada pela degeneração progressiva e


perda da cartilagem articular acompanhada de hipertrofia do osso nas margens articulares clinicamente
caracterizada por dor e limitações funcionais. Quadro clínico: O paciente refere dor articular relacionada
com o uso da articulação, aliviada com o repouso. Pode referir que “com a mudança do tempo as dores
aparecem” Rigidez articular após o repouso da articulação ou pela manhã Alargamento ósseo é comum,
causando aumento de sensibilidade local; Crepitação (audível com movimentos activos ou passivos) e
deformidade articular (ex: hálux valgo, nódulos de Heberden de Bouchard nas mãos); Limitação do
movimento devido a formação de osteófitos com perda severa de cartilagem, por exemplo: limitação da
rotação medial do quadril; Não há sinais sistémicos; As articulações frequentemente afectadas pela AO
são: coluna cervical e lombar, quadris, punho, interfalangianas distais, joelhos, primeira articulação
metatarsofalangiana (vulgarmente chamada de joanete). TRATAMENTO MEDICAMENTOSO:
Analgésicos: PARACETAMOL 500mg de 6 em 6 horas, via oral, durante as crises. Se não houver
melhoria, administrar AINES (ex: IBUPROFENO 400 a 600 mg de 8 em 8 horas, durante as crises)
_____________________________________________________________________________________

4.OSTEOMIELÍTE: Osteomielite é um processo inflamatório que afecta todo o tecido ósseo (córtex,
perióstio e medula) causado por microrganismos piogénicos. O termo osteomielite provém de: Osteítes –
infecção do córtex; e Mielite – infecção da medula. Quadro clínico: A osteomielite tem padrões
diferentes dependendo se for Aguda ou Crónica. Osteomielíte Aguda: Sinais de toxémia: Cefaleias, febre,
calofrios, anorexia, letargia, vómitos; Dores inexplicáveis nas zonas das metásifes dos ossos longos,
geralmente bem localizadas; Inflamação local dolorosa, dor a pressão e limitação do movimento.
Osteomielite Crónica: o quadro clinico, depende do local e dos factores de risco envolvidos: Nos ossos
longos os pacientes apresentam: mal estar, anorexia, perda de peso, febre, suores nocturnos, dor
persistente e drenagem de secreções por tratos fistulosos. Nas vértebras os pacientes apresentam: dor nas
costas que piora anoite, agravada pela actividade física e aliviada pelo repouso. Nos pacientes diabéticos,

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podem não apresentar febre, nem dores significativas. Mas apresentam edema e rubor no local. A pele é
escura, fina, fibrosada e desnutrida. Qualquer lesão na pele produz uma ulceração de difícil cicatrização.
CONDUTA: Tratamento medicamentoso: Terapêutica endovenosa (EV) com antibióticos de amplo
espectro, geralmente por um curso prolongado (semanas a meses) de acordo com os patógenos mais
prováveis, enquanto se aguarda o resultado da cultura e antibiograma: Osteomielite aguda:
Antibiótico de escolha é a FLUCLOXACILINA 250 a 1000mg EV, de 6/6horas. Na Falta deste, usar:
AMPICILINA 2 a 12g/dia, EV, divididos em 4 tomas e GENTAMICINA 80mg EV de 8/8 horas. Em
doentes com anemia falciforme usar CEFALOSPORINAS (CEFTRIAXONA 1g por dia ou de 12 em
12 horas) ou CLORANFENICOL (50 mg/kg/dia dividido em 4 doses. Se o doente melhorar (diminuição
da febre, diminuição da VS) deve se mudar a terapia endovenosa para oral (não antes de uma semana) e
continuar por pelo menos 6 semanas, controlando a função renal e hepática. Se o doente não melhorou, e
apareceram sinais de cronicidade (fistulas, sequestro e invólucro) – actue como osteomielite crónica e
considere tratamento cirúrgico.

5.ARTRÍTE SÉPTICA: É uma reacção inflamatória, que afecta as articulações, resultante da invasão
directa do espaço articular por microorganismos patogénicos. Quadro Clínico: Artrite aguda:
Geralmente monoarticular, afectando a articulação do joelho, anca (quadril) ou ombro; Sinais
inflamatórios (dor, calor, rubor e edema) e limitação do movimento articular na articulação afectada;
Sintomas gerais: febre, calafrios, mal estar. Na artrite gonocócia, geralmente inicia com uma
poliartralgia migratória que afecta o punho, tornozelo, cotovelo que pode evoluir para tenossinovite (60%
dos casos) ou monoartrite purulenta (40% dos casos), afectando principalmente o joelho. Também pode
apresentar com erupção papular da pele. Artrite crónica: Geralmente monoarticular, podendo acometer
os discos intervertebrais e corpos vertebrais adjacentes, mas também afecta o joelho, punho e anca.
Deformidade em cunha da vértebra, com Gibosidade (deformação da coluna que se torna saliente –
cifose); Ausência de sinais inflamatórios, com um abcesso frio e fistulização. CONDUTA: Tratamento
não medicamentoso: Repouso articular, imobilização com elevação do membro. Compressas quentes
locais; Tratamento medicamentoso: Na artrite não gonocóccica Antibioticoterapia intravenosa:
FLUCLOXACILINA 250 a 1000mg EV, de 6/6horas associado a GENTAMICINA 80mg EV de 8/8
horas. CEFTRIAXONA é uma alternativa para os casos graves. O tratamento intravenoso geralmente é
feito por 1 semana, após o qual passa-se para antibióticos orais (FLUCOXACILINA ou
CIPROFLOXACINA) por 4 a 6 semanas. Na artrite gonocócica: PENICILINA CRISTALIZADA 6 a
10 milhões/dia em 4 tomas ou CEFTRIAXONE 1 a 2 gramas intravenoso por dia Depois de
antibioticoterapia endovenosa passar para antibiótico oral (CIPROFLOXACINA 500mg de 12 em 12
horas por 7 a 10 dias).

6. ARTRITE REUMATÓIDE: É uma doença inflamatória auto-imune, sistêmica, crónica de etiologia


desconhecida, que acomete primariamente o tecido sinovial. Quadro clínico: Fase inicial: Poliartrite
simétrica das articulações periféricas (interfalângicas proximais e metacarpofalângicas); Presença de
sinais inflamatórios (dor, tumefação, calor e rubor); É comum haver rigidez matinal nas articulações;
Mal-estar, febre, suores, perda de apetite. Fase avançada: Há maior evidência de inflamação articular;
Deformidades articulares (desvio cubital dos dedos, deformidade de boutonniére – hiperextensão da
articulação interfalângica distal com flexão da articulação interfalângica proximal, deformidade em
pescoço de cisne – flexão da articulação interfalângica distal com extensão da articulação interfalângica
proximal); Manifestações extra-articulares: pele (nódulos reumatóides), cardíacas (pericardite,

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miocardite), oculares (episclerite, esclerite, queratoconjuntivite seca), pulmonares (doenças pleural,


bronquiolite) e hematológicas (anemia, esplenomegália com neutropénia – síndrome de Felty),
Neurológicas (neuropatia periférica).TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: AINES (DICLOFENAC
25 a 50 mg 3vezes ao dia de 8/8horas ou IBUPROFENO 200 a 400 mg de 8/8 horas ou ASPIRINA 3.5
a 6 gramas por dia divididos em 4 tomas) Corticosteroides – PREDNISOLONA. Inicie com baixas
doses – 5 mg por dia. Geralmente não são necessários mais de 10 mg por dia.
7.FIBROMIALGIA: A palavra fibromialgia significa dor nos músculos e tecido fibroso (ligamentos e
tendões). Esta síndrome caracteriza -se por dor músculo-esquelética crónica generalizada e rigidez dos
tecidos moles (músculos, tendões e ligamentos). Quadro clínico: Dor e rigidez crônica generalizada.
Caracteristicamente a dor é vaga, constante e se agrava com hiperactividade muscular. Fadiga que
aumenta em decorrência do esforço físico, mental e do stress. Costuma estar presente mesmo ao acordar;
Presença de vários pontos específicos de hipersensibilidade dolorosa; Distúrbios do sono: apresentam
sono não reparador, ou seja, mesmo dormindo o tempo adequado, acordam cansados; Pode haver
parestesias (formigueiro ou dormência) nas mãos ou pés; O exame físico revela múltiplos pontos
dolorosos, sem achados inflamatórios. CONDUTA: Tratamento da dor: antidepressivos tricíclicos –
AMITRIPTILINA comprimidos de 10 mg, iniciar com 10 mg à hora de dormir (à noite) 1 vez por dia, e
aumentar até 25 mg (máximo 100 mg/dia) dependendo da eficácia e surgimento de efeitos adversos.
Evitar o uso nas mulheres grávidas e durante a lactação.

8. PIOMIOSITE: É uma doença infecciosa bacteriana dos músculos esqueléticos. Quadro clínico:
Apresenta 3 estágios clínicos: No primeiro estágio, há início subagudo de febre, e sinais inflamatórios
locais como: aumento de volume, eritema, dor e consistência lenhosa ou endurecida da região afectada. O
segundo estágio, ocorre cerca de 10 a 21 dias após o primeiro, com hipersensibilidade, aumento do
volume, febre, aparece o pus e desaparece o eritema (passando a ter aspecto pálido). No terceiro estágio,
aparece de novo o eritema, flutuação, intensa sensibilidade e sinais de sépsis (hipotensão, taquicardia,
hipoperfusão periférica); O doente pode adoptar uma posição antiálgica (exemplo: flexão da coxa na
piomiosite do músculo psoas). CONDUTA: Antibioticoterapia: Casos leves, sem toma significativa do
estado geral: administrar FLUCLOXACILINA comprimidos de 250 mg, 1 comprimido de 6 em 6 horas,
ou AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂNICO (250mg AMOXICILINA+ 125 mg ÁC.
CLAVULÂNCIO), na dose de 250mg (de AMOXICILINA) de 8 em 8 horas, durante 10 dias. Nos
casos graves, com toma significativa do estado geral e complicações: administrar primeira dose de
antibióticos endovenosos: PENICILINA CRISTALIZADA 2 a 3 milhões UI mais GENTAMICINA
240 mg IM em dose. AINES – IBUPROFENO comprimidos de 200 mg (200 a 400 mg de 8/8 horas) ou
DICLOFENAC comprimidos de 50 mg (25 a 50 mg de 8 em 8 horas) para controle da febre, dor e
inflamação.
_____________________________________________________________________________________

9.DISTÚRBIOS PERIARTICULARES DAS EXTREMIDADES: A bursite e tendinite fazem parte de


distúrbios periarticulares, que tem-se tornado cada vez mais frequentes no nosso meio, em parte devido a
maior diversidade e prática de desporto profissional e amador.

9.1. BURSITE: É uma inflamação da bolsa sinovial ou bursa. A bursa é um pequeno saco cheio de
líquido que actua como amortecedor entre o osso e as partes que o movem (músculos, tendões e pele).
Quando a bursa fica inflamada verifica-se o aumento de fluido no seu interior. Quadro clínico: Início
abrupto com dor, edema e eritema localizado. Limitação do movimento que depende da área afectada. Por

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exemplo: a bursite subdeltoidea causa dor à abdução do ombro; na bursíte trocantérica, a rotação externa
e abdução do quadril induzem a dor. Pode ou não haver febre. Com o avançar da doença, o quadro evolui
com: Hipersensibilidade local. Bursite crónica – resultado de ataques anteriores de bursite aguda;
Calcificação na superfície da bursa. TRATAMENTO medicamentoso: AINES – DICLOFENAC ou
IBUPROFENO nas doses habituais Antibióticos, se infecção estiver presente: FLUCLOXACILINA,
AMOXICILINA e ÁCIDO CLAVULÂNICO nas doses acima descritas.

9.2. TENDINITE: É a inflamação dos tendões. Quando a tendinite é acompanhada pela inflamação da
bainha protectora que recobre o tendão recebe o nome de tenossinovite. Quadro clínico: o quadro clínico
varia de acordo com a localização da lesão, mas tem como denominador comum a dor e limitação de
certos movimentos. CONDUTA: Tratamento não medicamentoso: repouso e imobilização da região
afectada, compressas frias no local e fisioterapia; Tratamento medicamentoso: AINES – DICLOFENC
ou IBUPROFENO nas doses habituais; Tratar a causa subjacente, se infecção presente (administrar
antibióticos – PENICILINA CRISTALIZADA ou CEFTRIAXONA EV por 48 horas e depois passar
para CIPROFLOXACINA por 7 a 10 dias.
10.LOMBALGIAS: Lombalgia, é a dor que ocorre nas regiões lombar. Causas: As lombalgias podem
ter causas mecânicas (como: postura corporal incorrecta, excesso de peso, sedentarismo), doenças
degenerativas (como: hérnias discais, osteoartrites) inflamatórias, infecciosas (pielonefrite), traumáticas e
neoplásicas.
10.1.HÉRNIA DO DISCO: É a protrusão da parte central do disco intervetebral (o anel pulposo) através
das fibras do anel fibroso do disco intervertebral (parte externa). Sinais e Sintomas: Dor lombar com
irradiação para a coxa, perna e podendo atingir o pé. A tabela abaixo resume a semiologia da dor, de
acordo com a sua localização. TRATAMENTO: Analgésicos – PARACETAMOL 500mg de 6 em 6
horas associado ou não aos AINES – DICLOFENAC 50 mg ou IBUPROFENO 400 mg de 8 em 8
horas. Pode ser necessário recorrer a CODEINA 30 mg de 6 em 6 horas. Corticosteróides –
PREDNISOLONA 10 a 20 mg/dia por 7 dias pode ser usado.
_____________________________________________________________________________________

11.CELULITE: É uma infecção e inflamação superficial da pele e do tecido celular subcutâneo com
ligeiro envolvimento da derme. Os locais mais afectados são os membros, face e região perianal.
Quadro clínico: A área afectada apresenta-se com eritema, edema, calor, dor localizada, e com bordos
mal definidos, não elevados. Para alem dos sinais inflamatórios (acima descritos) a pele pode apresentar-
se linfangite (uma fina linha vermelha que progride) e linfadenopatia associada Podem existir sinais
sistémicos: febre, mal-estar, anorexia. CONDUTA: Em ambulatório: FLUCLOXACILINA
comprimidos de 250 mg de 6 em 6 horas ou AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂMICO (250 + 125
mg) de 8 em 8 hoas ou ERITROMICINA 500 mg de 6 em 6 horas. Todos tratamentos devem ser feitos
no intervalo de 10-14 dias. Em regime de internamento: FLUCLOXACILINA associada a
GENTAMICINA IV/IM (80 mg de 8/8 h), ou CEFTRIAXONA na dose de 1g IV/IM de 12/12 horas ate
melhoria clínica e posteriormente mudar para tratamento oral ate completar 10 a 14 dias.
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12.GANGRENA: É o termo usado para a descrição de tecido morto (necrose), geralmente devido a perda
de suprimento sanguíneo. As áreas mais frequentemente acometidas são as extremidades dos membros,
dos dedos e áreas submetidas a pressão (Hálux, Calcâneo). Quadro Clinico: Gangrena húmida – também

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chamada de gangrena infectada, o tecido necrosado de cor negra é mole, húmido, por vezes com pús e
odor fétido. Febre alta e aparência tóxica são achados comuns. Pode evoluir para sépsis e morte.
TRATAMENTO sintomático: AINES (ex: IBUBROFENO ou DICLOFENAC nas doses habituais)
Iniciar antibióticoterapia: PENICILINA CRISTALIZADA 3.000.000 UI de 6/6h associada a
GENTAMICINA 80mg de 8/8h).
13.PÉ DIABÉTICO: É o pé de um indivíduo diabético, que apresenta infecção, ulceração e ou
destruição dos tecidos profundos associados com anormalidades neurológicas e/ou vários graus de doença
vascular periférica no membro inferior.Quadro clínico: Forma ligeira: Sinais de celulite (eritema, edema)
associados ou não a presença de uma úlcera, que não é profunda e não afecta as articulações e ossos. O
fluxo sanguíneo é adequado. A febre, quando presente, é mínima. Forma severa: geralmente a infecção e
úlcera são profundas atingindo o músculo (Mal Perfurante Plantar), os ossos (Osteomielite), a fáscia
profunda (fascite plantar) podendo chegar a gangrena dos dedos e da parte distal do pé. Quando a febre
está presente, é alta. CONDUTA: antibioticoterapia: Casos leves: FLUCLOXACILINA ou
AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂMICO nas doses habituais 10 dias, associado ao
METRONIDAZOL 500 mg de 8 em 8 horas durante 10 dias; Casos graves: PEN.CRISTALINA 3M
6/6h EV e GENTAMICINA 240mg EV/dia, e METRONIDAZOL 500 mg EV de 8/8 hate atingir
melhoria clínica e depois mudar para tratamento oral ate completar 10 dias de tratamento. O Controlo da
Diabetes é fundamental.
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14. CONTUSÃO: É uma lesão traumática aguda aos tecidos moles, sem rompimento da pele. Causas:
Traumatismo directo (pancada, queda). Quadro clínico: Dor localizada agravada pela movimentação da
região afectada. Edema, equimose ou hematoma; Limitação do movimento activo e passivo da região
afectada.
15. ENTORSE: É a perda momentânea da congruência articular (cápsula articular e ou ligamentos).
Sinais e sintomas: Dor articular, equimose e edema, impotência funcional; Dor articular e edema mais
acentuado, com laxidão articular ao exame físico quando se realiza uma força em abdução ou adução na
articulação afectada; Dor articular, com maior na laxidão e instabilidade articular, podendo haver desvio
do membro.
16. LUXAÇÃO: É a perda completa de contacto das superfícies articulares. Existe sempre uma lesão
capsular combinado muitas vezes com lesão ligamentosa. Sinais e sintomas: Dor intensa, hematoma;
Deformidade no nível da articulação, sendo possível palpar os contornos das superfícies articulares;
Impotência funcional do membro e da articulação.
TRATAMENTO DA CONTUSÃO, ENTORSE E LUXAÇÃO: analgésicos e anti-inflamatórios não
esteróides orais: IBUPROFENO 200 a 400 mg de 8 em 8 horas durante 3-7 dias ou DICLOFENAC 25
a 50 mg de 8 em 8 horas durante 3-7 dias.
EMERGÊNCIAS DAS INFECÇÕES DOS TECIDOS MOLES
17. GANGRENA: Conduta: O manejo imediato da gangrena inclui: Limpeza cirúrgica da ferida
(lavagem com hipoclorito e desbridamento do tecido necrosado); Antibioticoterapia agressiva (altas
doses de PENICILINA CRISTALIZADA, 4.000.000 UI endovenoso); Reposição hidroelectrolítica
para manutenção dos sinais vitais (LACTACTO DE RINGER).

18. FASCITE NECROSANTE: É uma infecção extremamente grave dos tecidos moles, caracterizada
por necrose rápido e extensa do tecido celular subcutâneo e fáscias, com compromisso secundário da pele,
porém com preservação dos músculos adjacentes.Quadro clínico: Inicia com eritema, edema e calor

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local que progride rapidamente para formação de bolhas e flictenas com líquido serohemático e
hemorrágico de odor fétido. O eritema é substituído por uma coloração azul-escuro, acinzentado,
tornando-se em seguinte de cor roxa. Pode surgir crepitação a palpação da área afectada, sugerindo
infecção por Clostridio. O estado geral do doente é bastante tóxico com febre que pode chegar aos 40º
célsios, taquicardia e hipotensão (choque séptico). Conduta: SORO FISIOLÓGICO ou LACTATO
DE RINGER 1000 ml EV em 30 min, seguido pela mesma quantidade a correr em 1 hora. 1ª dose de
antibióticos EV (PENICILINA CRISTALIZADA 4.000.000 UI ou AMPICILINA 2 g associado a
GENTAMICINA 80 a 160 mg).
EMERGÊNCIAS DOS TRAUMAS ORTOPÉDICOS
19. FRACTURA EXPOSTA: é uma fractura é exposta quando há uma ferida da pele comunicando com
o foco da fractura. Quadro clínico – dificuldade de mobilizar o membro afectado, dor e sangamento no
local da fractura. O osso pode ser visível à inspecção. Tratamento medicamentoso: 1ª dose de
PENICILINA CRISTALIZADA 3.000.000 UI intravenosa (IV) ou intramuscular (IM) associado a
GENTAMICINA (80 a 160 mg IV ou IM) ou KANAMICINA (500mg IM); Profilaxia do tétano
(VACINA ANTI TETÂNICA). Nota: É importante não suturar a ferida da fractura exposta
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IX. NEUROLOGIA

1.CONVULSÕES: palavra derivada do latim convulsione, que significa grande agitação ou


transformação. É definida como um evento paroxístico devido a descargas anormais, excessivas e
hipersincrônicas de um grupo de neurónios do cérebro. Classificação das Convulsões e Quadro Clínico:
Convulsões parciais (ou focais): 1) Convulsão parcial simples, quando não ocorre perda de consciência
durante a crise; 2) Convulsão parcial complexa, quando ocorre perda de consciência; 3) Convulsão
parcial com generalização secundária, quando a convulsão começa como parcial e depois generaliza-se
como descarga de todo o cérebro. Convulsões generalizadas: 1) Convulsão generalizada pequeno mal
– há perda de consciência (crise de “ausência”) e do tónus muscular (perda do controlo postural). Podem
ocorrer em simultâneo movimentos automáticos como mastigação, rápido piscar de olhos ou movimentos
de ambas as mãos com pequena amplitude; 2) Convulsão generalizada grande mal – manifesta-se
primariamente como convulsão tónico-clônica generalizada (todos músculos esqueléticos em
contracção - tónico e relaxamento sincronisado - clonus, excessivo e rápido), com perda de consciência,
muitas vezes com relaxamento de esfíncteres (defecação e micção) e após a crise, o paciente fica
inconsciente, com respiração ofegante e com tónus muscular diminuído (flacidez muscular). CONDUTA:
Conduta Geral: OXIGÉNIO 6l/min por máscara facial; Cateter venoso e algalia. DIAZEPAM 10 - 20
mg EV lento (1 ml/min) a repetir se necessário passados 30-60 min. Se não tem acesso EV, use a via
rectal, na mesma dose. A grande preocupação com DIAZEPAM é a depressão e paragem respiratória,
sobretudo em idosos, debilitados ou pacientes com patologia respiratória prévia. Para assegurar a sua
estabilidade não misturar na mesma seringa ou perfusão com outros fármacos (exceptuando DEXTROSE
A 5% ou SORO FISIOLÓGICO).Conduta específica: Convulsões Febris: DIAZEPAM + Baixar a
febre (ACETIL SALICILATO DE LISINA e/ou arrefecimento corporal - tirar roupas sobretudo as
quentes como camisolas e casacos e dar banho e expor o corpo + Tratamento específico da infecção –
malária, infecções respiratórias, entre outras). Convulsões por Infecção Aguda do SNC: DIAZEPAM
+ Tratamento específico da infecção (meningite, etc). Convulsões no contexto de Eclâmpsia:
Anticonvulsivantes (SULFATO DE MAGNÉSIO: 4g – bolus em DEXTROSE A 5% EV, depois 8 g

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em perfusão EV em DEXTROSE A 5% 1000ml de 8/8h ou alternativamente DIAZEPAM 40 mg em


perfusão DEXTROSE A 5% 1000ml de 8/8h); O SULFATO DE MAGNÉSIO . Em caso de ocorrência
de sinais de intoxicação (abolição dos reflexos e frequ6encia respiratória diminuída) suspender a perfusão
e administrar, por via EV lenta, 10 ml de solução de GLUCONATO DE CÁLCIO A 10%. Convulsões
no contexto de Abstinência ao Álcool: DIAZEPAM + TIAMINA 100 mg IM ou EV + DEXTROSE
5% 1000 ml + DEXTROSE A 30% 40 a 60 ml EV. Convulsões no contexto de hipoglicémia:
DIAZEPAM + DEXTROSE 5% 1000 ml + DEXTROSE A 30% 40 a 60 ml EV.
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2. EPILEPSIA: A epilepsia é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma "afecção
crónica de etiologia diversa, caracterizada por crises repetidas, devidas a uma carga excessiva dos
neurónios cerebrais, associada eventualmente a diversas manifestações clínicas e paraclínicas" como
convulsões. A crise epiléptica é uma perturbação de funcionamento do cérebro, temporária e reversível,
que produz manifestações motoras, sensitivas, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas, mas sem febre.
Quadro Clínico: Os sinais e sintomas de uma crise epiléptica nomeadamente, distúrbios da consciência,
dos movimentos ou da sensibilidade, reflectem a activação da parte do cérebro afectada por esta
actividade excessiva. Pode ser afectada apenas uma parte do cérebro (crise parcial ou focal) ou toda
extensão dos dois hemisférios cerebrais (crise generalizada). Especificamente temos os seguintes sinais e
sintomas: Paragens bruscas da actividade; Perda de consciência; Quedas no chão; Convulsões e
contrações musculares; Movimentos automáticos e despropositados (vestir ou despir, caminhar, mastigar
ou engolir); Contracções simples e repetitivas de um dos membros (braço, perna) ou da face. O quadro
clínico varia em função do tipo de crise epiléptica: Crise Generalizada Tónico-Clónica (Grande Mal):
É caracterizada por queda súbita (com ou sem grito), enrijecimento muscular seguido de convulsões,
paragem da respiração, possível perda de urina e/ou mordedura da língua, todo este episódio durante
menos de 5 minutos após o qual reaparece a respiração e ocorre uma possível confusão e/ou fadiga antes
do retorno à normalidade. Crise de Ausência (Pequeno Mal): É caracterizada por episódios breves (3 a
30 segundos) de paralisia e desatenção que podem até passar despercebidos pelas outras pessoas. A
recuperação é rápida mas os episódios são acompanhados por perda da consciência. Crise Mioclónica: É
caracterizada por contracções musculares súbitas e maciças atingindo todo o corpo ou partes do mesmo.
O doente pode atirar o que tiver nas mãos ou cair de uma cadeira. Crise Atónica: É caracterizada por
queda súbita, sem perda de consciência. Dura cerca de 10 a 60 segundos; depois o doente pode pôr-se de
pé e andar. Crise Parcial Simples: É caracterizada por convulsões limitadas a uma área do corpo, mas
que podem estender-se a outras áreas, sem haver perda de consciência. Podem generalizar-se e provocar
uma crise de grande mal. Sensação de formigueiros ou picada percorrendo uma ou mais áreas corporais.
Visualização ou audição de coisas ou sons que não estão presentes. Sensação inexplicável de medo ou
prazer. Cheiros ou gostos desagradáveis, sem que haja nada que os provoque. Sensação "esquisita" no
estômago. Crise Parcial Complexa: É caracterizada por súbito enrijecimento muscular seguido de
movimentos mastigatórios e automatismos, constando de gestos desajeitados de mexer na roupa, agarrar
ou manusear objectos, despir-se. O Doente pode deambular ou pode resistir quando agarrado. O episódio
dura alguns minutos e após a crise pode-se estabelecer confusão no doente que pode ser longa e
acompanhada por perda de consciência. Estado de Mal Epiléptico: É uma situação em que as convulsões
se seguem umas às outras sem haver, entre elas, recuperação da consciência. Necessita de hospitalização e
tratamento médico imediato, pois pode ser mortal ou provocar lesões cerebrais graves. CONDUTA:
Iniciar a medicação com anti-epilépticos: FENITOÍNA, CARBAMAZEPINA, VALPROATO DE

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SÓDIO. FENOBARBITAL, comprimidos de 100 mg, por via oral, na dose de 50 a 200 mg/dia. A dose
máxima pode ir até 600 mg/dia. Administrar de preferência ao deitar.
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3. DOR: é uma sensação subjectiva, envolvendo aspectos físico-sensoriais e aspectos emocionais.


Dor crónica é aquela que persiste e ou recorre por 3 meses ou mais, ou persiste por mais de um mês após
resolução de um processo inflamatório ou de uma lesão tecidual aguda ou acompanha um processo
incurável. As causas da dor crónica incluem doenças crónicas (cancro, artrites, diabetes), lesões
ortopédicas, dor neuropáticas e cefaleias. Dor aguda é a que evolui em menos de 4 semanas, não
preenchendo os critérios da dor crónica. As causas da dor aguda são em geral processos inflamatórios
agudos (secundário por exemplo à infecções) ou lesões traumáticas agudas (queimadura térmica, incisão
tecidual, ruptura/contusão). TRATAMENTO DA DOR: Os principais fármacos usados no tratamento da
dor são os analgésicos não opióides e os opióides. Antidepressivos e anticonvulsivantes são fármacos
também usados no tratamento da dor crónica, sobretudo as de origem neuropáticas. Baseando-se na
escada da dor da OMS, inicia-se o tratamento da dor crónica com analgésicos não opióides como base
(PARACETAMOL, IBUPROFENO, DICLOFENAC, ÁCIDO ACETIL SALICÍLICO,
INDOMETACINA). caso a dor persista ou até aumente, introduz-se analgésico opióide de 1ª linha
(CODEÍNA) adicionado ao tratamento com fármacos não opióides e adjuvantes. No plano final da
escada, usar-se-á analgésicos opióides de 2ª linha como MORFINA e PETIDINA.Tratamento
sintomático da manifestação dolorosa: Há casos em que o tratamento sintomático da manifestação
dolorosa responde somente a fármacos chamados de neurolépticos, nomeadamente anticonvulsivantes e
antidepressivos tricíclicos. Corticoesteróides (PREDNISOLONA – 5-60 mg/dia) por curta duração
poderão ser associados somente quando houver uma componente inflamatória no processo da dor
neuropática. A FENITOÍNA e CARBAMAZEPINA são anticonvulsivantes usados no tratamento das
dores neuropáticas. São do nível 3. A AMITRIPTILINA é um antidepressivo também usado neste
tipo de dor. É do nível 3. Na neuropatia do SIDA, pós-herpética, tóxica, diabética, é usada, começando
com 10 mg e aumentando até 25 mg (máximo 100 mg/dia).
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4. CEFALEIAS: A cefaleia ou cefalalgia (dor de cabeça) é um mal-estar físico, caracterizado por dores
na zona da cabeça, de um modo difuso ou localizado, cuja origem pode ter diversas causas. Classificação
Etiológica da cefaleia: Cefaleias primárias: são as que não têm causa demonstrável através de exame
clínico e laboratorial de rotina. São exemplo deste tipo de cefaleia a Enxaqueca (Migraine), cefaleias
Tencionais e cefaleia em Salvas (ou de Horton). Cefaleias secundárias: são as que ocorrem em resultado
de causa demonstrável ao exame físico e ou laboratorial. Exemplo: cefaleia consequente à doença
orgânica que pode ser sistémica (malária, síndromes gripais), focal (otites e sinusites), do sistema
nervoso central (malária, meningites, encefalites, hemorragias intracranianas, tumores cerebrais ou pós
trauma crânio-encefálico), por distúrbios metabólicos (hipoglicêmia, hipóxia) e por causas
neuronovascular extracraniana (nevralgias dos pares cranianos, sobretudo do trigémeo -V par e pós
Herpes Zóster facial, assim como por arterite temporal).
4.1.ENXAQUECA: Quadro clínico: dor de cabeça sub-aguda ou aguda unilateral, pulsátil, moderada à
severa, agravada por actividades físicas de rotina; associa-se a náusea ou vómitos, fotofobia (paciente
prefere ambiente de escuridão porque há agravamento da dor pela luz) e fonofobia (paciente prefere
silêncio por que há agravamento da dor por sons); cada ataque pode durar 4-72 horas. A enxaqueca pode

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ter sinais prodrômicos (que anunciam o início do episódio), geralmente designados por aura, que
consistem em escotomas visuais ou cintilações (descritos geralmente como vendo estrelas no campo
visual), fotofobia, alteração do humor e diminuição do vigor corporal em geral (sentir-se
cansado/asténico). CONDUTA: Educação do paciente em relação a evitar factores desencadeadores
como desidratação, consumo de álcool, queijos, chocolate, tabagismo. No tratamento farmacológico,
ter em conta a escala da dor e respectiva escada, conforme abordado na aula anterior. Iniciar com
PARACETAMOL ou AINES. ERGOTAMINA e CAFEÍNA, comprimidos de 1 mg de
ERGOTAMINA + 100 mg de CAFEÍNA, 1-2 mg de ERGOTAMINA no início do ataque, seguido de
1-2 mg em intervalos de 30 min., até um total de 6 mg/dia. Pode-se combinar 1 analgésico anti-
inflamatório não esteróide com Ergotamina se necessário (exemplo, PARACETAMOL +
ERGOTAMINA). Para a profilaxia da enxaqueca, pode-se usar a AMITRIPTILINA (10-75 mg/dia)
ou PROPRANOLOL (iniciando com 20-40 mg de 12/12 horas, até dose máxima de 360 mg/dia).

4.2.CEFALEIA EM SALVAS (DE HORTON): Quadro clínico: dor orbitária, supraorbitária e ou


temporal que dure geralmente entre ¼ de hora a 3 horas, muitas vezes acorda o paciente à noite; associa-
se a sintomas de activação do sistema nervoso autonómico, com lacrimejo, secreção nasal (rinorreia),
hiperemia conjuntival, sudorese facial, ptose (queda) palpebral, edema palpebral, miose (pupila pequena)
e por vezes com agitação ou ansiedade do paciente. Pode ocorrer entre 1 ataque em dias alternados até
situações extremas de 8 ataques/dia. É mais frequente nos homens (90%) do que em mulheres.
CONDUTA: tratamento da crise faz-se com ERGOTAMINA 1 mg (oral, mas pode ser via rectal).
Profilaxia medicamentosa com PREDNISOLONA 60mg/dia. Evitar o consumo de álcool (factor
desencadeante em 70% dos casos). Se disponível, a oxigenioterapia pode ser útil.

4.3. CEFALEIA TENSIONAL: Quadro clínico: dor de cabeça sub-aguda ou aguda unilateral ou
generalizada, não pulsátil (tipo aperto, pressão ou peso), leve à moderada (não impede actividades
diárias), não agravada por actividades físicas de rotina; não se associa à náusea ou vómitos; pode estar
associado à fotofobia ou fonofobia como um dos factores agravantes, mas não aos dois; cada ataque pode
durar algumas horas até uma semana. Conduta: tratamento farmacológico - o mesmo que o da
enxaqueca.
4.4. ARTERITE TEMPORAL (OU DE CÉLULAS GIGANTES): É uma doença vascular sistémica
(as artérias de grande calibre como carotídeas, aorta, subclávias e ilíacas estarão também acometidas), que
pode apresentar-se com manifestação focal como inflamação da artéria temporal. A perda da visão é uma
das complicações sérias deste quadro clínico, por isso constitui uma emergência médica. Quadro clínico:
é raro em pacientes com idade menor de 50 anos; dor geralmente hemicraneana, na região temporal;
ocorre dificuldade na utilização dos músculos da mastigação (músculos masseteres e temporais) por
causarem exacerbação da dor durante a mastigação; à palpação local há exacerbação da dor e percepção
de sinais inflamatórios à volta da artéria temporal superficial. Perda de visão pode ser súbita e indolor.
Paresia do VI par dos nervos cranianos. Astenia, febre, dor muscular, mal-estar geral ocorrem por causa
de inflamação de outras artérias de grande-médico calibre. Conduta: Anti-inflamatórios;
corticoesteróides (PREDNISOLONA 60 mg/dia).
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5. MENINGITE: É uma doença que consiste na inflamação das meninges, isto é, das membranas que
revestem o sistema nervoso central (o encéfalo e a medula espinhal). Quadro Clínico: A apresentação

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pode ser com uma doença aguda fulminante, que evolui em algumas horas, ou uma infecção subaguda
que piora progressivamente no transcorrer de vários dias. Oitenta e cinco por cento dos adultos tem
cefaleia, febre e meningismo (rigidez de nuca). Pode ocorrer também alteração do estado mental (75%),
convulsões (40%). Sinais de Kerning positivo (paciente deitado com os quadris e joelhos flectidos; a
tentativa de estender uma perna provoca dor) e Brudzinski positivo (a flexão passiva do pescoço provoca
flexão espontânea dos quadris e joelhos). Outros sinais e sintomas: náuseas e vómitos, fotofobia,
sudorese, mialgias, paralisia dos nervos cranianos. Pode ocorrer uma erupção (meningococcémia) do tipo
exantema maculopapuloso difuso, que rapidamente se transforma em petequial, acometendo o tronco e
membros inferiores, mucosas e conjuntivas, e em alguns casos palmas das mãos e plantas dos pés.
CONDUTA: Em face de meningite bacteriana, deve-se iniciar urgentemente antibióticos empíricos. O
Tratamento antibiótico deve durar entre 7 e 21 dias, sendo mais prolongado para Tuberculose (terá aula
específica), e nas infecções oportunistas nos doentes com SIDA (criptococose é para toda a vida).
Meningite Bacteriana – Tratamento empírico: PENICILINA G CRISTALIZADA, EV, 20-24
milhões de UI por dia de 6/6 horas ou de 4/4 horas, isto é, 5 a 6 milhões de UI EV de 6 em 6 horas, ou
AMPICILINA, EV, 12 gramas por dia de 6/6 horas ou de 4/4 horas, isto é, 3 g de 6/6 horas ou
Alternativamente, usar CLORANFENICOL, EV, na dose máxima de 4 gramas/dia, isto é, 1 g de 6 em 6
horas. Antibioticoterapia, segundo a etiologia bacteriana: Neisseria meningitidis, Streptococcus
pneumoniae - respondem a PENICILINA G e AMPICILINA. O meningococo também responde ao
CLORANFENICOL , Haemophilus influenzae – CLORANFENICOL ou CEFTRIAXONA (nível 3
de prescrição). Edema Cerebral: MANITOL 1 g/kg/dose e.v. a correr em 30 min. Convulsões:
DIAZEPAM conforme abordado na aula sobre convulsões. Instituir tratamento intensivo de suporte à
respiração (desobstrução das vias aéreas), nutricional, hidratação e de cuidados gerais de enfermagem.
Em termos de profilaxia, é necessário intervir, na medida do possível, no controle dos factores de risco
modificáveis acima descritos. Neisseria meningitidis é prevenível por vacina e quimioprofilaxia, e
Haemophilus influenza tipo B por vacina e tratamento atempado de infecções respiratórias em crianças. A
Quimioprofilaxia dos contactos de casos de meningite meningocócica (Neisseria meningitidis) é feita com
RINFAMPICINA 20 mg/kg/dia dose única ou CIPROFLOXACINA ou DOXICICLINA em adultos
(100mg/dose * 2 doses/dia). A meningite meningocócica geralmente cursa em epidemias, pelo que
nestes casos, poderá ser necessário o recurso ao CLORANFENICOL oleoso para fazer face ao
tratamento dos casos. As meningites virais, deve-se instituir as medidas de apoio ou tratamento
sintomático. Tratamento com anti-virais (ACICLOVIR, se for o caso).
6. ENCEFALITE: Encefalite é uma inflamação do parênquima cerebral, que geralmente está associada a
meningite (“meningoencefalite”). Quadro clínico: O quadro clínico é de uma meningite viral (febre,
cefaleia e irritação meníngea, com mal-estar, anorexia, náuseas e vómitos, dor abdominal e diarreia)
combinadas com sinais e sintomas que indicam o comprometimento dos tecidos cerebrais (alteração da
consciência e comportamento, convulsões e deficits neurológicos focais como afasia, hemiparesia,
movimentos involuntários e deficits dos nervos cranianos). As infecções virais exantemáticas (que
causem lesões cutâneas) podem manifestar-se com as lesões cutâneas específicas, como no caso de
Herpes simples, Varicela e Sarampo. CONDUTA: Instituir tratamento de suporte para todos casos de
encefalite, corrigindo: Hipóxia (desobstrução das vias aéreas e administração de oxigénio se saturação
baixa), a Hipovolemia e Choque (Cristaloides e.v.), Hidratação de manutenção, baixar a febre
(PARACETAMOL/IBUPROFENO); instituir também Suporte Nutricional, Anticonvulsivantes
(DIAZEPAM se necessário) e cuidados intensivos gerais de enfermagem. MANITOL é indicado (1g/kg
e.v./dose) se suspeitar-se de edema cerebral, desde que haja volêmia normal. Medidas profilácticas (de

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saúde pública) devem ser accionadas para casos de Sarampo, Raiva e suspeita de outros agentes
causadores de epidemias.Tratamento específico deve ser instituído na suspeita de Encefalite causada por:
Vírus do grupo Herpes (ACICLOVIR 10-15 mg/kg dividido por 3 doses/dia, 14-21 dias),
Toxoplasmose, Criptococose, Tuberculose, Parasitas.
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7. MENINGITE TUBERCULOSA: A Tuberculose Meníngea (ou Meningite Tuberculosa) é uma


infecção grave das membranas do SNC causada pelo Mycobacterium tuberculosis (e excepcionalmente
pelo Micobacterium bovis). A duração dos sintomas de Tuberculose Meníngea é variável. Esta pode ter
uma apresentação aguda (até nove dias de evolução dos sintomas) ou crónica (que chega a atingir 9 meses
de evolução). O paciente apresenta-se com: Sintomas inespecíficos: cefaleia, mal-estar geral, febre,
sudorese nocturna, anorexia, emagrecimento, vómitos; Sintomas e sinais sugerindo alteração do SNC:
fotofobia e alteração do estado mental, paresia ou disfunção de alguns pares de nervos cranianos
(qualquer deles, mas especialmente III, IV, VI e VII), meningismo, opistótono, diferentes graus de
diminuição do nível de consciência; Sintomas e sinais de complicações: distúrbios da motricidade
manifesto geralmente como tremores; coma progressivo; edema cerebral (exame do fundo do olho mostra
papiledema, pode haver Hipertensão Arterial com bradicardia – sinal de Cushing); depressão respiratória;
oftalmoplegia, retinite; monoplegia, hemiplegia ou tetraplegia ; Sintomas e sinais de outras doenças de
base associadas- exemplo, no contexto de HIV, outras infecções oportunísticas como candidíase oral,
lesões cutâneas (Herpes, Molusco contagioso, etc). CONDUTA: Iniciar o mais cedo possível tratamento
com medicamentos anti-tuberculosos (segundo normas da estratégia DOT – directa observação do
tratamento). Associar PREDNISOLONA: Internar no mínimo por 60 dias (tempo da tto c/
STREPTOMICINA); PREDNISOLONA 2 mg/kg/dia, nos casos graves até 4 mg/kg/dia, dose max 60
mg/dia, 1 mês ( 4 semanas) - desmame em 2 semanas. Fase intensiva: 2 meses de HRZS
(ISONIAZIDA, RIFAMPICINA, PIRAZINAMIDA e ESTREPTOMICINA). Como nas doses fixas
combinadas não existe HRZ, pode-se usar o HRZE. Fase de manutenção: 4 meses de HR
(ISONIAZIDA e RIFAMPICINA). Em todas fases do tratamento da tuberculose, dar PIRIDOXINA ou
COMPLEXO B em comprimidos para prevenir ocorrência de neuropatia periférica causada pelos
medicamentos contra a tuberculose. Medidas de suporte: Monitorar o volume, densidade e osmolaridade
urinária. Dar MANITOL ev em 20-30 min (Manutenção: 0,25 g/kg/dose, 6v/dia; Ataque:0,5-1g/kg) se
suspeita de pressão intracraniana aumentada por edema generalizado do SNC.
_____________________________________________________________________________________
8. NEUROSSÍFILIS: A doença Sífilis é uma infecção causada por Treponema pallidum, uma bactéria
do grupo das espiroquetas (bactéria em espiral). A bactéria invade o SNC precocemente na infecção pela
via sexual, porém as manifestações no SNC podem ser assintomáticas nesta fase. Mais tarde, no decurso
de por vezes décadas, se a Sífilis não for tratada, pode causar graves lesões do SNC, chamando-se ao
Síndrome de Neurossífilis. Do largo espectro de manifestações clínicas da Sífilis, será abordado nesta
aula apenas a Neurossífilis. Neurossífilis têm definição de caso como qualquer LCR reactivo à teste
VDRL (com ou sem manifestações clínicas). Existem 4 formas clínicas de neurosífilis: Neurosífilis
assintomática – sem sinais e sintomas de acometimento neurológico, sendo caracterizado por
anormalidades do LCR (límpido ou turvo; Linfócitos ++; Proteínas +; Glicose Normal ou baixa,
VDRL/RPR +); Sífilis Meningovascular; Tabes Dorsalis; e Paralisia geral. Do ponto de vista clínico e
epidemiológico, a neurossífilis assintomática é a forma mais importante da neurossífilis. CONDUTA:
Iniciar o mais precocemente possível o tratamento com PENINCILINA injectável. O regime de 2.4

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milhões de UI IM semanalmente por 3 semanas de PENICILINA BENZANTÍNICA resulta em níveis


baixos a indetectáveis desta penicilina no LCR, e falências terapêuticas tem sido reportadas quando este
regime é usado. Por estas razões, as recomendações actuais para o tratamento da neurosífilis consiste em:
PENINCILINA G CRISTALINA, EV, na dose de 18 a 24 milhões de UI/dia, durante 10-14 dias. Ou
seja, 3-4 milhões de UI de 4/4 horas ou 5-6 milhões de UI de 6/6 horas. Alternativamente,
CEFTRIAXONA, 2 g, IM ou EV, uma vez por dia, por 10-14 dias. Devido a possibilidade de
persistência de microrganismos que se multiplicam lentamente, após os 10-14 dias de tratamento, muitos
especialistas recomendam administração subsequente de P. BENZANTINICA 2.400.000 UI IM, 1 vez /
semana por 3 semanas. Tratar os parceiros sexuais. Medidas de suporte: DIAZEPAM pode ser
necessário para tratar convulsões. Medicamentos para psicoses (HALOPERIDOL,
PROMETAZINA e outros) podem ser necessário se as manifestações ocorrerem. Dar COMPLEXO B
em comprimidos.
9. MALÁRIA CEREBRAL: A Malária Cerebral é definida pela Organização Mundial da Saúde como
infecção severa por Plasmodium falciparum que evolua com alteração de consciência (Escala de Coma de
Glasgow <10) ou ainda em que o paciente permaneça em coma por 60 minutos ou mais após episódio de
convulsão (no contexto da infecção por parasita da malária). Quadro Clínico: A Malária Cerebral, sendo
uma forma de malária severa/complicada, apresenta sintomatologia similar a da malária
severa/complicada. Manifestações clínicas de malária grave e/ou complicada: Postração (fraqueza
generalizada que impede o doente de andar); Alteração da consciência, coma; Incapacidade de se
alimentar; Respiração profunda, dificuldade respiratória (respiração acidótica); Convulsões repetidas
(mais de 2 episódios em 24 horas); Colapso circulatório ou choque (TA sistólica< a 70mmde Hg); Edema
pulmonar; Hemorragia espontânea; Icterícia clínica e evidência de disfunção de outro orgão vital;
Hemoglobinúria (urina escura). Anemia grave (astenia, fraqueza e frequente palidez de mucosas e palma
das mãos); Hiperpirexia (temperatura axilar ≥39,5o C); Insuficiência renal (redução da diurese).
CONDUTA: Iniciar rapidamente o tratamento de eleição (ARTESUNATO): Apresentação: ampolas
contendo 60mg ÁCIDO ARTESÚNICO ANÍDRICO (pó) e uma ampola separada contendo solução de
BICARBONATO SÓDICO; Via administração: EV ou IM (na porção anterior da coxa); Dose:
2.4mg/kg; Preparação: Misturar o ÁCIDO ARTESÚNICO com a solução de BICARBONATO
SÓDICO, depois diluir em 5ml de DEXTROSE A 5%; Dosagem: de 12/12 horas no dia 1 (de
24/24 horas nos dias subsequentes se o paciente ainda não tolera a via oral); Posologia: 24h mínimo, logo
que o paciente tolere a medicação oral, Iniciar a 1 linha (ARTEMETER +LUMEFANTRINA ou
ARTESUNATO + AMODIAQUINA) ou Passar para tratamento oral com comprimido de QUININO
(10mg/kg de 8 em 8 horas) para completar 21 doses para o QUININO. Se não tem ARTESUNATO,
iniciar o tratamento alternativo (QUININA): Apresentação: ampolas de 300mg/ml ou 600mg/2ml de
DICLORIDRATO DE QUININA; Via administração: EV (por infusão) ou Oral (logo que o paciente
tolere a medicação oral); Dose de ataque: A ser utilizada excepcionalmente 20 mg/kg (máximo 1200
mg) diluído em 10 ml/kg de DEXTROSE A 5% por via intravenosa, durante 4 horas (não ultrapassar a
dose máxima de 1200 mg). Acrescentar 40-60 ml de DEXTROSE A 30%. Dose de manutenção: 10
mg/kg (máximo de 600 mg) diluído em 10 ml/kg de DEXTROSE A 5% durante 4 horas, a iniciar 8
horas depois da dose de ataque e repetida de 8 em 8 horas até o paciente tomar a medicação por via oral.
Se o tratamento continuar por mais de 48 horas, deve-se reduzir a dose de QUININA para 5 a 7 mg/kg,
para evitar toxicidade. Logo que o paciente possa tomar medicação por via oral, complete o tratamento
com medicamento de 1ª linha de eleição ou alternativo. Se houver, contra-indicação aos medicamentos
de 1ª linha (de eleição ou alternativo), passe para QUININO oral, na dose de 10 mg/kg de 8 em 8 horas,

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até completar 7 dias de tratamento (21 doses). É importante que durante o tratamento se consiga garantir a
correcção de eventual hipoglicémia, quer por via EV (combinação de DEXTROSE A 5% E
DEXTROSE A 30%). Medidas de suporte: Tratar convulsões com DIAZEPAM.
_____________________________________________________________________________________
10.ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC): é o termo usado para referir as síndromes de
comprometimento de irrigação sanguínea do Encéfalo, que resultam na perda da função neurológica do
território encefálico específico onde ocorre o défice de aporte sanguíneo. Apresentações clínicas comuns
no AVC Isquémico dependendo do território cerebral afectado: Infarto do hemisfério cerebral
dominante: paralisia do lado oposto do corpo, diminuição do campo visual oposto, olhar fixo, disartria,
afasia; Infarto do hemisfério cerebral não dominante: paralisia do lado oposto do corpo, diminuição
do campo visual oposto, incapacidade (apraxia) de desenhar/escrever, disartria; Infarto do hemisfério da
artéria cerebral média: foi acima descrito, paralisia maior dos braços e face do que da perna; Infarto do
hemisfério da artéria cerebral anterior: paralisia do lado oposto do corpo, mais pronunciada na perna
do que nos braços e face. Associa-se às alterações de emoção e dificuldade em reconhecer formas de
desenhos (dispraxia); Síndrome derivado de “acidente” da artéria vertebrobasilar (tronco cerebral e
Cerebelo): tonturas, vertingem, dupla visão, dificuldade em deglutir, paralisia dos pares craneanos,
instabilidade na marcha, paresia bilateral dos membros. Síndrome derivado de “acidente” da artéria
basilar (tronco cerebral e Cerebelo): Quadriplegia (paralisia dos 4 membros) e Coma profunda, morte.
Síndrome derivado de “acidente” da artéria que irrigem o córtex lacunar: défice motor ou sensitivo
puro. Apresentações clínicas comuns no AVC hemorrágico dependendo do território cerebral
afectado. O AVC hemorrágico pode ser devido a hemorragia dentro do tecido cerebral (hemorragia
intraparênquimatosa) ou hemorragia subaracnoideia. O quadro clínico é a seguir descrito: Hemorragia
intraparenquimatosa: semelhante aos respectivos territórios do AVC isquémico, porém associa-se
frequentemente à náuseas e vómitos; Hemorragia subaracnoidea: Cefaleia explosiva, intensa, vómitos,
meningismo, coma. Gravidade da Hemorragia Subaracnoidea: Grau I: dor de cabeça sem sinais de
meningismo. Grau II: dor de cabeça severa, alteração ligeira da consciência, sinais neurológicos focais
ausentes. Grau III: alteração no exame neurológico (meningismo), depressão moderada do nível de
consciência. Grau IV: alteração no exame neurológico (meningismo), depressão importante do nível de
consciência. Grau V: paciente em coma. CONDUTA: Do leque de antihipertensivos disponíveis, os -
bloqueadores (PROPANOLOL) são os fármacos de eleição se necessário controlo da HTA; Do leque de
antihipertensivos disponíveis, não usar NIFEDIPINA sublingual – pois implica maior risco de
depressão súbita da T.A. e causar agravamento do AVC. Evitar dentro do possível o uso de DEXTROSE
E.V. Baixar a febre se esta ocorrer. A febre aumenta lesão neuronal. Usar de preferência o
PARACETAMOL, pois ACIDO ACETIL SALICÍLICO diminui a coagulabilidade sanguínea, e se o
AVC for hemorrágico, aumentam a probabilidade de piora do quadro hemorragico intracraniano.
_____________________________________________________________________________________
11. PARALISIA FACIAL: é um distúrbio (parésia) ou uma paralisia total de todos, ou alguns, músculos
da expressão facial. Paralisia do nervo facial (VII par dos nervos cranianos) é um distúrbio neurológico
que por ser disfigurante, têm um impacto importante sobre o paciente (aparência e autoestima).
Quadro clínico: Os sinais que mais facilmente levam à identificação da existência de Paralisia Facial
Unilateral são:Abolição das pregas frontais do lado afectado; Incapacidade de oclusão das pálpebras na
hemiface afectada (Sinal de Charles de Bell); Desvio do Nariz, Boca e Língua para o lado não afectado;
O Sulco Nasogeniano –a prega que separa nariz e a “buchecha” encontra-se lisa/apagada/aplanada/abolida
do lado afectado, Apagamento da Comissura labial do lado afectado; Bochecha pendente “ em saco “ do

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lado afectado; Ptose (queda) da Pálpebra Superior e Inferior do lado afectado; Os ⅔ anteriores da língua
ficam com a sensação gustativa abolida; Três tipos de complicações podem ocorrer durante a evolução da
Paralisia Facial Periférica: Espasmo hemifacial pós-paralisia: contracção espasmódica involuntária da
região/ hemiface paralisada; Contracturas: contracção muscular permanente do lado paralisado que vai
atrair o lado são, podendo parecer uma paralisia facial do lado oposto. O quadro pode ser intenso com
espasmos localizados principalmente nas pálpebras e comissura labial; Sincinesias: Aparecem durante os
movimentos voluntários. Quando o paciente fecha o olho, a comissura labial pode elevar-se; ao contrário,
quando mostra os dentes, pode apresentar fechamento palpebral. CONDUTA: Os pacientes com paralisia
facial geralmente apresentam-se na fase aguda. Deve ser instituído tratamento conservador com:
Corticoesteroides: PREDNISOLONA 60 mg/dia ACICLOVIR: 200-400 mg 5x/dia, durante 10 dias.
Indicar lágrimas artificiais para uso frequente de dia e pomada oftálmica para uso de noite. Protecção
do olho
_____________________________________________________________________________________
12. ALCOOLISMO: é definido como uso regular excessivo ou abusivo de álcool que se acompanhe de
problemas sociais, ocupacionais e ou físicos. O álcool causa dependência física e psíquica, sendo também
um dos principais factores associados à acidentes de viação. Apresentação clínica: Delirium tremens;
Síndromes de Wernicke-Korsakoff; Degeneração cereberal;e Neuropatias periféricas. Delirium
tremens: é essencialmente um síndrome de abstinência alcóolica grave, manifesta por hiperactividade do
sistema nervoso autónomo (sudorese, taquicardia, hipertensão, taquipneia e febre), confusão mental,
ilusões e alucinações visuais e tácteis.Tratamento de doença/manifestações físicas: Administrar 100
mg de TIAMINA/dia por pelo menos 1 semana. Na ausência de TIAMINA, usar COMPLEXO B;
Hidratação e correcção de hipoglicêmia; Instituir uma dieta equilibrada e suplementar a dieta com
comprimidos multi-vitamínicos. Tratar convulsões e dificuldade em dormir com benzodiazepínicos
(DIAZEPAM dá melhor resultados que o CLORDIAZEPÓXIDO, mas ambos são úteis). Tratar a dor
neuropática periférica com analgésicos (PARACETAMOL ou IBUPROFENO) e neurolépticos
(AMITRIPTILINA ou CARBAMAZEPINA). A toma de DISSULFIRAM 250 mg/dia, um
medicamento que se usa para induzir efeitos desagradáveis no paciente que reincida no consumo de
álcool, costuma ser abordagem em centros especializados. Se o paciente ingerir álcool enquanto estiver
em curso o tratamento com DISSULFIRAM, ele terá manifestações (efeito antabus) que assemelham-se
à fase aguda de abstinência alcóolica com delirium tremens. Não é aconselhável essa abordagem se não
por médicos com experiência.
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13.TUBERCULOSE VERTEBRAL (MAL DE POTT) COM LESÃO MEDULAR: O bacilo de Koch


ou da Tuberculose (Mycobacterium tuberculosis) causa também infecção nas vértebras. Quadro clínico:
paralisia flácida abaixo do nível da lesão, com hiporeflexia. Se a lesão da medula é extensa, ocorre
também perda de sensibilidades. TRATAMENTO: específico da tuberculose vertebral: 2SHRZ/4HR +
COMPLEXO B e o tratamento específico para doenças associadas como por exemplo anemia e infecção
por HIV. A abordagem detalhada do esquema de tratamento da TB vertebral será efectuada na disciplina
de doenças infecciosas.
EMERGÊNCIAS NEURÓLOGICAS
14.TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO (TCE): As lesões cranioencefálicas causam alta taxa
de morbimortalidade. Quando o tecido cerebral é lesionado, a perda do segmento afectado é quase
invarialvemente permanente, pois o tecido não se pode regenerar. CONDUTA: Administrar MANITOL

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0.6- 1g/kg/dose ou FUROSEMIDA 2mg/kg/dia se suspeita de pressão intracraniana aumentada;


Administrar profilaxia antibiótica (AMPICILINA 1 g de 6/6 horas ou PENICILINA CRISTALINA 2
a 3.000.000 UI eEV) nas fracturas expostas ou saída de LCR; Administrar fluidos de acordo com as
necessidade diárias e grau de hipovolêmia (apenas para repor as perdas). Evitar sobreadministração de
fluidos porque pode agravar o edema cerebral. Preferencialmente usar LACTATO DE RINGER. Evitar
usar solução GLICOSE 5% (embora possa ser necessária para corrigir hipoglicêmia, use GLICOSE a
30% NO L.RINGER). Tratar a dor (analgésicos não opióides como primeira linha)

15. TRAUMA DA MEDULA ESPINHAL: O trauma das vértebras associa-se muitas vezes à lesão da
medula espinhal nos seus diferentes segmentos (8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sagrados e 1
coccígeo). O traumatismo da medula espinhal causa importante invalidez das pessoas afectadas, pois
ocorre perda das funções motora, sensorial e reflexa desta porção do SNC; a maior parte das pessoas
vítimas destes traumatismos são jovens (20-30 anos). Segundo dados do HCM, as causas mais frequentes
no nosso contexto são os acidentes de viação seguido de quedas. CONDUTA: PREDNISOLONA
30mg/kg primeira dose, depois 5 mg/kg/ a cada hora se trauma < que 24 horas de evolução. Administrar
fluidos ev (L.RINGER 1000 ml de 8/8h ou 100ml/kg/dia em crianças).

16. AUMENTO DA PRESSÃO INTRACRANIANA (PIC): As infecções intracranianas (meningites e


encefalites), o TCE (comoção e contusão cerebral, hemorragias intracranianas), o AVC, hidrocefalia
primária ou secundárias podem evoluir com pressão intracraniana aumentada. Os sinais são: diminuição
do nível de consciência, vómitos em jacto, hipertensão arterial com bradicárdia, papiledema, sinais focais
(paralisia de pares de nervos cranianos e da metade do corpo). CONDUTA: Diuréticos -MANITOL 0.6-
1g/kg/dose.
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X. HEMATOLOGIA E ONCOLOGIA

1.ANEMIA: Define-se anemia como a redução da concentração de hemoglobina no sangue, com valores
de Hgb abaixo do valor normal por sexo e idade. Em adultos considera-se anemia uma Hgb inferior a 13
g/dl em homens e inferior a 12 g/dl em mulheres. Anemia ferropénica: o défice de ferro pode ser
causado por uma alimentação deficiente em ferro, má-absorção (ex: doenças gastrointestinais
inflamatórias crónicas), por excesso de perda por hemorragias (perdas menstruais excessivas, hemorragias
intestinais ocultas, hematúria microscópica), por aumento das necessidades de ferro como acontece
durante a gravidez ou nas fases de crescimento rápido (crianças, adolescentes); Anemia megaloblástica
(Ácido Fólico e Vitamina B12): por carência na dieta, defeitos na absorção (principalmente B12) ou por
consumo excessivo em algumas fases como gravidez e lactação. Anemia das doenças crónicas (ou
anemia associada à inflamação); Mau funcionamento da medula óssea: pode ter várias causas. As
principais são as seguintes: Toxicidade por fármacos ou produtos químicos: CLORANFENICOL,
anticonvulsivantes, quimioterapia, ARVs (ZIDOVUDINA). Infecções bacterianas ou virais (ex:HIV).
Neoplasias que podem infiltrar a medula óssea como leucemias agudas ou crónicas, linfomas ou
carcinomas. Outras: causas genéticas, endócrinas (ex: hipotiroidismo) ou metabólicas (ex: insuficiência
renal e hepática) que interferem com o processo de síntese e de maturação dos GV; Excesso de
Destruição de Eritrócitos: Estes tipos de anemias são causados por uma destruição prematura ou
excessiva dos glóbulos vermelhos e determinam as chamadas anemias hemolíticas. As causas incluem:

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Causas corpusculares (defeitos da estrutura dos próprios glóbulos vermelhos que predispõem à
destruição dos GV); Defeitos de membrana dos GV: exemplo na esferocitose; Defeitos de enzimas dos
GV: exemplo défice de G6PDH (glucose-6fosfato-dehidrogenase); Hemoglobinopatias ou defeitos da
estrutura da Hgb: por exemplo a drepanocitose ou anemia falciforme devido a presença de uma forma
anormal da Hemoglobina chamada HgbS. Causas extra-corpusculares: (factores externos aos GVs que
predispõem à sua destruição); Hiperesplenismo (há aumento da destruição dos GV pelo baço); Infecções:
virais (ex: Citomegalovírus), protozoários (Plasmodium, Toxoplasma), bacterianas (sépsis por Gram
Negativos); Distúrbios imunológicos: anticorpos anti GV; Agentes tóxicos (venenos); Traumas
mecânicos (ex: destruição dos GV por próteses valvulares cardíacas); Anemia por perda de sangue,
cujas causas incluem: Hemorragias agudas: traumas, hemorragia digestiva, hemorragia pós-parto.
Hemorragias crónicas: perdas insensíveis nas fezes (ex: tumores intestinais, parasitose intestinal), na urina
(ex: schistossomíase), perdas menstruais. Sinais e sintomas: Os sinais e sintomas inespecíficos de
anemia mais frequentes incluem: Fadiga, astenia; Apatia; Palidez; Tonturas; Hipotensão postural;
Taquicardia; Palpitações; Dispneia ; Insuficiência cardíaca (em caso de anemia grave ou de aparecimento
rápido). Deficiência na produção de eritrócitos: Ferropénica: Estomatite angular, glossite, disfagia,
coiloníquea (unhas em forma de colher), alterações do apetite (ex: vontade de comer areia), amenorreia;
Anemia megaloblástica: Carência de Vitamina B12: Neuropatia periférica, demência, glossite,
estomatite angular, sintomas gastrointestinais. Anemia megaloblástica: Carência de Ácido fólico: Os
mesmos que da carência de Vit B12. Os sintomas gastrointestinais são mais intensos (incluem diarreia e
esteatorreia). Os sintomas neurológicos podem não estar presentes. Anemia das doenças crónicas:
Presença de sinais e sintomas associados à causa subjacente; Anemia aplásica: Geralmente associa-se à
alteração dos outros tipos celulares, manifestando-se com tendência hemorrágica (alteração das plaquetas)
e a contrair infecções (alteração dos GB) facilmente. Aumento da destruição de eritrócitos: Anemia
falciforme ou drepanocitose -hemoglobina anormal que determina alteração da forma de GV; GV em
forma de foice rompem-se facilmente e entopem os vasos sanguíneos, provocando infartos teciduais:
Atraso no crescimento; Palidez e icterícia (durante os episódios de hemólise); Fadiga intensa; Crises
dolorosas ósseas que afectam principalmente os membros; Dores articulares; Sintomas respiratórios
(causados por infarto pulmonar); Sintomas gastrointestinais (causados por infarto gastrointestinal);
Úlceras cutâneas, sobretudo nos membros inferiores; Maior tendência à infecções; Priapismo (erecção
mantida devido à obstrução venosa no pénis). Aumento das perdas de sangue: Anemia por perdas
hemorrágicas agudas e crónicas: Nas perdas agudas ou de evolução rápida associam-se os sinais e
sintomas de choque (hipotensão, taquicardia, pulso fraco, confusão mental e outros). Nas perdas crónicas
geralmente são imperceptíveis ou pouco significativas e não despertam preocupação. Desenvolvem-se
mecanismos compensatórios e podem ser assintomáticas ou apresentar apenas sintomas inespecíficos
ligeiros. Com níveis mais baixos de Hg, podem surgir os sinais de descompensação cardíaca.
CONDUTA: Anemia Ferropénica: O primeiro passo é identificar os casos instáveis ou graves (anemia
descompensada) e tratá-los; Para os casos de anemia estável ou compensada (sem indicação para
transfusão sanguínea), deve ser administrado o FERRO, conforme indicado abaixo: SULFATO
FERROSO, comprimidos de 200 mg (65 mg de ferro elementar): Adultos: 1 comprimido 2 a 3 vezes
por dia dependendo da gravidade; Em alguns casos os pacientes poderão precisar da administração de
ferro endovenoso. Após o início da terapia com SAL FERROSO, deve ser feito o controlo da Hgb após
2-3 semanas. Uma boa resposta terapêutica, equivale a um aumento de 1g/dl por mês. Para além do
tratamento farmacológico, a causa da carência de ferro (gravidez, carência alimentar, perdas de sangue)
deve ser identificada e corrigida (se aplicável). Profilaxia da Anemia Ferropénica: Mulheres grávidas:

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aconselha-se a suplementação de SAL FERROSO a partir do segundo trimestre da gravidez. Anemias


Megaloblásticas: Anemia por carência de Vitamina B12: VIT B12 em ampolas de 1 mg/ml para
administração intramuscular; Em adultos sem complicações neurológicas: iniciar com VIT. B12 1 mg
IM, 3 vezes por semana durante 2 semanas, Pacientes com alterações neurológicas devem receber a
seguinte dosagem: iniciar com VIT B12 1 mg IM em dias alternados durante 2 semanas. A dose de
manutenção é de 1mg de 2 em 2 meses. Terapia de manutenção (tratamento crónico): os doentes com
problemas de absorção de VITAMINA B12 deverão receber tratamento injectável para o resto da vida.
Nestes casos recomenda-se a administração de 1 mg IM a cada 2 ou 3 meses. Alimentação aconselhada
(aplicável nos casos em que o problema não é a má-absorção da VIT B12): leite, ovos, queijo, carnes
vermelhas. Caso o tratamento agudo e a dieta corrigida não corrijam a longo prazo a carência, aconselha-
se a terapia de manutenção acima descrita; Anemia por Carência de Ácido Fólico: Em adultos:
administração de ÁCIDO FÓLICO por via oral 5 mg por dia até a causa ser tratada; em grávidas 2,5 a
5mg/dia durante toda a gravidez e durante amamentação. Continuar a administrar por mais 4 meses
após a correcção da anemia para a reposição das reservas. Alimentação aconselhada: espinafre, alface,
limão, banana, melão, fígado. Tratamento da Drepanocitose ou Anemia falciforme: Tratamento das
crises dolorosas: Administrar tratamento sintomático e de suporte: Garantir boa hidratação (oral ou
endovenosa se necessário); Analgesia (PARACETAMOL 500 a 1000mg a cada 6 horas) ou anti-
inflamatórios não esteróides (IBUPROFENO 200 a 400 mg a cada 8 horas) para tratar a dor; Controlo
da febre se associada (PARACETAMOL); Administrar OXIGÉNIO em caso de insuficiência
respiratória (2 a 4l/min); Nas crises dolorosas torácicas com broncoespasmo, estão indicados
broncodilatadores (SALBUTAMOL inalatório); Caso haja infecção concomitante: administrar
tratamento antibiótico conforme descrito abaixo; Medidas de Prevenção em caso de Drepanocitose:
Suplementação com ÁCIDO FÓLICO para prevenir o desenvolvimento de anemia megaloblástica,
aumentar o valor da Hgb e a resposta dos reticulócitos: Administrar 1 mg/dia.
_____________________________________________________________________________________
2.TROMBOCITOPÉNIAS: Considera-se trombocitopénia à uma redução do número de plaquetas
(PLQ<150.000/mm3). Quadro clínico: Os sinais e sintomas típicos, consistem no aparecimento de
manchas hemorrágicas muco-cutâneas (equimoses e petéquias). Estas geralmente aparecem de modo
espontâneo ou após traumatismos (mesmo quando ligeiros), e não desaparecem com a pressão. Petéquias
e equimoses na pele e nas mucosas. Raramente sangramento espontâneo. CONDUTA: Nos pacientes
com hemorragia activa e sinais de descompensação, administrar CONCENTRADO DE GLÓBULOS na
dose de 10 a 15 ml/kg de peso corporal (geralmente 2 a 4 unidades nos adultos). Associar fluidoterapia
para repor a volémia. PREDNISOLONA 1-2mg/kg
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3.COAGULOPATIAS ou Distúrbios hemorrágicos associados à defeitos dos Factores da
Coagulação: são todas as condições que cursam com distúrbios hemorrágicos por alteração dos factores
de coagulação. Quadro clínico: Hematomas, hemartroses, sangramento profuso após procedimentos
invasivos, episódios de sangramento espontâneo; O quadro clínico é variável, dependendo do nível de
gravidade. Tipicamente apresenta-se com sangramento espontâneo horas a dias após traumatismos
ligeiros. Inclui: Equimose após traumas leves, como por exemplo ao pinçar a pele; Gengivorragias após
caída espontânea dos dentes de leite ou após extracção dentária; Dor seguida de tumefacção (resultante de
sangramentos) nas articulações (sobretudo nas articulações de sustentação como tornozelo, joelho, anca e
cotovelo); Artropatia com rigidez articular (resultante de hemartroses de repetição e inflamação);
Hematomas intra-musculares; Sangramento nas cavidades corporais, que pode comprimir estruturas

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vizinhas e ser grave, sobretudo quando afecta o cérebro; Sangramento superior ao esperado, após
procedimentos invasivos (ex: intervenções cirúrgicas, toracocentese, canalização de veia); Sangramento
espontâneo em qualquer aparelho (gastrointestinal, genitourinário, etc). CONDUTA: Administrar
PLASMA fresco congelado (se disponível), na dose de 15 a 20 ml/kg ou alternativamente sangue total
(10 a 15 ml/kg) se sangramento activo Administrar VITAMINA K na dose de 10 mg IM. Não
administrar nos pacientes com doença hepática severa ou nas gestantes prestes a dar a luz.

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4. DISTÚRBIOS TROMBÓTICOS: O s distúrbios trombóticos, também chamados de trombofilias são
condições que predispõem o paciente à trombose (formação de trombos). Quadro Clínico: Algumas
manifestações clínicas frequentes da hipercoagulabilidade incluem: Tromboflebite: as veias afectadas
são as superficiais; o trombo determina o aumento de temperatura, dor, vermelhidão e edema na área
afectada. Pode-se palpar um endurecimento no trajecto da veia sob a pele. Raramente provoca
complicações, fica localizado e pode ser retirado com uma pequena cirurgia. CONDUTA: No caso de
trombose superficial (tromboflebite): aplicação de calor na área afetada, elevação das pernas e uso de
anti-inflamatórios não esteróides (IBUPROFENO 400 mg de 8/8 horas) por um período de uma a duas
semanas.

5.TRANSFUSÃO SANGUÍNEA – COMPLICAÇÕES: A transfusão de sangue é a transferência de


sangue total ou de um componente sanguíneo (hemoderivado) de uma pessoa (doador) para outra
(receptor). Em certas ocasiões, o dador e o receptor podem ser a mesma pessoa (transfusão autóloga).
5.1.CHOQUE SEPTICO: Contaminação bacteriana do produto transfundido; Surge durante a infusão
dos primeiros 100ml, com febre, hipotensão, calafrios; TRATAMENTO: Parar a transfusão, canalizar
outra veia e Manter acesso venoso, administrar tratamento da septicémia a base de fluídos, antibióticos
endovenosos de largo espectro (ex: AMPICILINA e GENTAMICINA), monitorar a diurese,
administrar tratamento de suporte.

5.2.URTICÁRIA (REACÇÃO ALÉRGICA): Reacção dos anticorpos do paciente contra componentes


do sangue transfundido; Reacção leve: erupção cutânea pruriginosa local ou disseminada tipicamente sem
febre ; Reação moderada: lesões cutâneas combinadas à hipotensão, dispnéia, estridor, sibilos, náuseas,
vômitos, diarreia; Reação severa: quadro sistêmico associado à hipotensão e redução do nível de
consciência. TRATAMENTO: Parar a transfusão canalizar outra veia e manter acesso venoso. Reacção
leve e moderada: DIFENIDRAMINA injectável 50mg/5ml, 1 ampola IV/IM. Repetir se necessário;
Reacção severa: DIFENIDRAMINA (mesmas doses), SALBUTAMOL em aerossol, ADRENALINA
0,5 mg IM, O2 4 a 6l/min e outro tratamento de suporte.

5.3. REACÇÃO FEBRIL NÃO HEMOLÍTICA: Reacção dos anticorpos do paciente contra
componentes do sangue transfundido ; Surge após uma hora ou mais depois da transfusão, com febre,
calafrios e outros.TRATAMENTO: Parar a transfusão canalizar outra veia e manter acesso venoso com
SORO FISIOLÓGICO, PARACETAMOL (500 a 1000 mg cada 4 a 6 h) ou outro anti-pirético
(ASPIRINA não recomendada).

5.4. SOBRECARGA DE VOLUME: Expansão rápida do volume sanguíneo total e consequente


insuficiência cardíaca congestiva. Afecta principalmente paciente com baixa reserva cardíaca (crianças,
doentes cardiovasculares, idosos); Ansiedade, agitação, dispneia, taquicardia, edema pulmonar.

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TRATAMENTO: Parar a transfusão, Manter acesso venoso, FUROSEMIDA 40 – 80mg IV, O2 4 a


6l/min, administrar tratamento de suporte.

NB: Dose de concentrado de plaquetas: depende do caso clínico. A dosagem mínima no adulto é de 4
unidades; Dose de PLASMA fresco congelado: 15 a 20 ml/kg de peso corporal. Dose de
FUROSEMIDA: 1 a 2 mg/kg de peso.
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6.MANEJO DA DOR: A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável ligada a uma lesão
tissular existente ou potencial. É o que se sente quando temos uma lesão, mas também o que a pessoa
sente como doloroso mesmo se não se vê nenhuma lesão física. Dor Leve (Nível 1): de 0 a 2, o paciente
diz que “não dói”; Dor Moderada (Nível 2): de 3 a 7, o paciente diz que “ dói um pouco” ou “dói mais
ou menos”; Dor Intensa (Nível 3): de 8 a 10,o paciente diz que “dói muito” ou “não aguento mais esta
dor”. TRATAMENTO: Nível 1 – dor leve: ASPIRINA cpr 500mg:1 a 2 comprimidos a cada 4 ou 6
horas (máximo 4 g/dia). Nota: A aspirina deve ser administrada com alimentos para reduzir a irritação
gástrica e com precaução em doentes com antecedentes de úlcera péptica (risco de hemorragia digestiva)
ou com tumor gastrointestinal ou do fígado. PARACETAMOL cpr 500mg: 1 a 2 comprimidos a cada 6
a 8 horas. Nível 2 – dor moderada: Associar a máxima dose de PARACETAMOL cpr 500mg ou de
ASPIRINA cpr 500mg com CODEÍNA FOSFATO cpr 30mg: 15 a 60 mg a cada 4 ou 6 horas se
necessário (dose máxima 240 mg / dia). Nível 3 – dor intensa: PETIDINA HIDROCLORETO,
100mg/2ml Ampola: é a 1ª escolha. Caso use a via I.M. ou S.C.: 50 - 100mg a cada 4 horas se necessário;
Caso use a via I.V.: 25 mg IV administrados lentamente a cada 5 minutos, até obter o efeito analgésico
(máximo de 100 mg); MORFINA: nos casos em que não há resposta aos analgésicos acima descritos a
MORFINA é de nível de prescrição superior; Caso use a via oral: administre solução oral 5mg
SULFATO DE MORFINA/5ml, 5 - 20mg (1-4 colheres de chá) a cada 4 horas, aumentando-se, se
necessário, de acordo com a resposta clínica. Iniciar o tratamento com doses baixas (5mg/ 4 horas) e ir
aumentando progressivamente a dose mantendo o intervalo, até se atingir a dose mais baixa que permita
controlar a dor; a analgesia é mais eficaz com a administração regular do que com a administração em
S.O.S; se se tornar impossível usar a via oral (vómitos incoercíveis) passar a via S.C. ou I.M. Caso use a
via injectável prefira a via subcutânea: MORFINA SULFATO 10mg/ml, 5 a 20 mg a cada 4 ou 6 horas
se necessário.
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7. MANEJO DE NÁUSEAS E VÓMITOS: Geralmente a náusea e o vómito são devidos a acção directa
da neoplasia caso seja localizada no tracto gastrointestinal ou por efeito de outros medicamentos. É
necessário aliviar estes sintomas para permitir que o paciente se alimente adequadamente.
TRATAMENTO: METOCLOPRAMIDA cpr 10 mg por via oral: 1 cpr a cada 8 horas, 15 a 30 minutos
antes das refeições. Nos casos em que não for possível a via oral (vómitos incoercíveis) usar a via
injectável. METOCLOPRAMIDA Amp 10mg/2ml, por via IM ou IV: 1 ampola (10 mg) a cada 8 horas;
PROMETAZINA HIDROCLORETO, cpr 10mg: por via oral,10 a 20 mg cada 4 a 6 horas até 100
mg/dia. Nos casos em que não for possível a via oral (vómitos incoercíveis) usar a via injectável.
PROMETAZINA Inj. 50 mg/2 ml por via IM: 25 mg I.M. (ou Ev lento) a repetir após 2 horas se
necessário; CLORPROMAZINA HIDROCLORETO cpr 25mg:12,5 - 25 mg a cada 4 ou 6 horas.
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8. MANEJO DE PROBLEMAS ORAIS: A boca, sendo normalmente colonizada por bactérias e


fungos, é uma região que pode ser afectada por infecções micóticas e aftas por causa da má higiene, da
supressão da imunidade, do uso de tratamentos imunossupressores e quimioterápicos.TRATAMENTO:
Higiene oral quotidiana: lavar a boca e os dentes após cada refeição; Lavagem da boca com
desinfectantes orais após ter lavado os dentes; VIOLETA DE GENCIANA, Sol. aquosa a 1%/: Limpar
a área afectada, e aplicar 1-2 vezes por dia, até as lesões desaparecerem e por mais 5 dias subsequentes.
Se houver candidíase oral: administrar NISTATINA suspensão oral 100.000 U.I./ml: espalhar pela
cavidade oral 1 ml 4 vezes /dia, após as refeições e após ter limpo a cavidade oral com água. Continuar o
tratamento por pelo menos 48 horas após a resolução das lesões.
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EMERGÊNCIAS NEUROLÓGICAS: A principal emergência neurológica associada à patologias


oncológicas é a compressão da medula espinhal.

9.COMPRESSÃO DA MEDULA ESPINHAL: é uma complicação das patologias oncológicas,


resultante na maior parte das vezes da pressão exercida à medula espinhal, por metástases nos corpos
vertebrais. Quadro clínico: Dor torácica dorsal ao nível dos corpos vertebrais da região afectada; A dor
aumenta de intensidade progressivamente e agrava-se em decúbito; Diminuição da força muscular e
alterações da sensibilidade; Disfunção dos esfíncteres. CONDUTA: Tratamento da dor: PETIDINA
HIDROCLORETO, ampolas de 100mg/2ml , administrar 50 a 100 mg IM/SC, de 4 em 4 horas.

XI. DOENÇAS INFECCIOSAS


1.MALÁRIA: é uma doença infecciosa parasitária aguda causada por protozoários do género
Plasmodium, transmitida pela picada do mosquito fêmea Anopheles. A Malária é classificada de acordo
com a forma de apresentação clínica em: Malária Não Complicada: malária sintomática, que se
apresenta sem sinais de gravidade ou evidência de disfunção orgânica vital (clínica ou laboratorial).
Malária complicada/severa: significa infecção por P. falciparum com sinais de complicação (descritos
abaixo) ou evidências de disfunção orgânica vital (clínica ou laboratorial). É uma emergência, e o clínico
não deve esperar pela confirmação laboratorial para iniciar o tratamento. Quadro clínico da malária
não complicada: Febre (Ta axilar> 37.5º C): Calafrios, sudorese; Mialgias (dores musculares) e
artralgias (dores articulares): Dor ou desconforto abdominal; Cefaléia: Astenia; Anorexia: Tosse e
sinais de anemia (mais frequentes em crianças); Náuseas e vómitos e/ou diarreia; Mal-estar geral.
TRATAMENTO: O tratamento da malária segundo as normas do SNS, é feito com base em anti-
maláricos da 1ª e 2ª linhas de tratamento. O tratamento da malária não complicada é feito com anti-
maláricos de 1ª linha: que podem ser ARTEMÉTER-LUMEFANTRINA (AL OU COARTEM) que é
o fármaco de eleição e ARTESUNATO E AMODIAQUINA, que constituem a opção alternativa.
Tratamento com AL – fármaco de eleição: Apresentação: comprimidos de 20mg de ARTEMÉTER e
120mg de LUMEFANTRINA; Via de administração: oral; Dose: 1.7mg/kg de ARTEMÉTER e
12mg/kg de LUMEFANTRINA ( 4 comprimidos); Dosagem: 12/12 horas; Posologia: 3 dias (total de 6
doses).
Tabela: dose de ARTEMÉTER-LUMEFANTRINA a ser administrada em 3 dias. (Segundo o
formulário nacional de medicamentos).
Peso Idade N.º de comp./dose N.º total de comp
<10 kg < 1 ano Não recomendado Não recomendado

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

10-15 kg 1-5 anos 1 comp. 6 comp.


16-25 kg 6-8 anos 2 comp. 12 comp.
25-35 kg 9-12 anos 3 comp. 18 comp.
>35 kg >12 anos 4 comp. 24 comp.
DOSES: A primeira dose deve ser administrada na altura do diagnóstico e repetida 8 h depois. As doses
restantes são administradas em duas tomas diárias com intervalo de 12 h nos 2 dias subsequentes, num
total de 6 doses em 3 dias: a) Adultos e crianças com mais de 12 anos: 4 comp/toma. b) Crianças com
menos de 12 anos: 25-34 kg, 3 comp/toma. 15-24 kg, 2 comp/toma. 10-14 kg, 1 comp/toma.
Tratamento com AS+AQ – fármaco alternativo: Apresentação: comprimidos de 100mg de
ARTESUNATO e 270mg de AMODIAQUINA-BASE; Via de administração: oral; Dose: 4mg/kg de
ARTESUNATO e 10mg/kg de AMODIAQUINA ( 2 comprimidos); Dosagem: 24/24 horas; Posologia:
3 dias (total de 3 doses). Tratamento de Suporte na malária não complicada: Febre – fazer
arrefecimento corporal se a temperatura for ≥ a 38.5°C; PARACETAMOL oral 500-1000mg de 6/6
horas; ACETIL SALICILATO DE LISINA (ASPERGIC) ½ ou 1 ampola de 900mg IM ou EV.
Anemia ligeira- SAL FERROSO + ÁCIDO FÓLICO 1 comprimido por dia; se anemia grave e
descompensada – transfusão de concentrado de eritrócitos 15ml/kg, antes da transfusão administrar
1mg/kg de FUROSEMIDA EV.
Quadro clínico da Malária Complicada/Severa: Os principais sinais e sintomas de malária severa são:
Febre elevada (geralmente ≥ 39.5º C); Alteração do comportamento e consciência – confusão, letargia,
agitação, alucinações ou coma; Convulsões repetidas (mais de 2 episódios em 24 h), sinais focais
(paralisia facial ou hemiparesia); Prostração – intensa fraqueza em que o paciente não consegue andar,
sentar sem apoio ou alimentar-se; Palidez palmar e das mucosas (anemia); Cianose, icterícia,
extremidades frias; Taquipnéia, polipnéia ou dispnéia (respiração profunda ou dificuldade respiratória);
Hipotensão arterial (TA sistólica ˂ 70mmHg nos adultos), pulso fraco; Oligúria, urina escura;
Hemorragia expontânea. TRATAMENTO: Os casos de malária severa e/ou complicada devem ser
tratados de acordo com a 2ª linha de tratamento, o ARTESUNATO: 2ª linha de tratamento de
eleição (ARTESUNATO): Apresentação: ampolas contendo 60mg de ÁCIDO ARTESÚNICO
ANÍDRICO (pó) e uma ampola separada contendo solução de BICARBONATO DE SÓDIO. Via de
administração: EV ou IM (na porção anterior da coxa); Dose: 2.4mg/kg; Preparação: misturar o ÁCIDO
ARTESÚNICO com a solução de BICARBONATO DE SÓDIO, depois diluir em 5ml de
DEXTROSE A 5%; Dosagem: 12/12 horas no 1° dia (de 24/24 horas nos dias subsequentes se o paciente
ainda não tolera via oral); Posologia: 24 horas no mínimo, logo que o paciente tolere a medicação oral,
iniciar a 1ª linha ( ARTEMETER + LUMEFANTRINA ou ARTESUNATO + AMODIAQUINA) ou
passar para o tratamento oral com comprimido de quinino 8 10mg/kg de 8/8 horas) para completar
21 doses para o quinino. 2ª linha de tratamento alternativo (QUININO): Apresentação: comprimidos
de 300mg de SULFATO DE QUININO ou ampolas de 300mg/ml ou 600mg/2ml de DICLORATO DE
QUININO; Via de administração: EV (por infusão) ou oral (logo que o paciente tolere a medicação oral);
Dose de ataque (a ser usada excepcionalmente) : 20mg/kg diluído em 10ml/kg de DEXTROSE A 5%
por via intravenosa, durante 4 horas (não ultrapassar a dose máxima de 1200mg); Dose de manutenção:
10mg/kg (máximo de 600mg) diluído em 10ml/kg de DEXTROSE A 5% durante 4 horas, a iniciar 8
horas depois da dose de ataque e repetida de 8 em 8 horas ate o paciente tomar a medicação por via oral.
Logo que o paciente possa tomar medicação por via oral, complete o tratamento com medicamento de
1ª linha de eleição ou alternativo. Se houver contra-indicação aos medicamentos de 1 linha (de eleição
ou alternativo), passe para o QUININO oral, na dose de 10mg/kg de 8 em 8 horas, ate completar 7 dias

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

de tratamento (21 doses).Tratamento de Suporte das complicações ou manifestações associadas:


Febre – fazer arrefecimento corporal se a temperatura for ≥ a 38.5°C; PARACETAMOL oral 500-
1000mg de 6/6 horas; ACETIL SALICILATO DE LISINA (ASPERGIC) ½ ou 1 ampola de 900mg
IM ou EV. Anemia grave- se descompensada (taquicardia, taquipneia), transfusão de concentrado de
eritrócitos 15ml/kg, antes da transfusão administrar 1mg/kg de FUROSEMIDA EV. Hipoglicémia – 0.3
a 0.5 gr de GLICOSE/kg de peso corporal lentamente durante 10 minutos. Em doentes graves 20 ml de
DEXTROSE A 30% via EV lenta. Na falta de DEXTROSE administrar água açucarada/sumos por via
oral ou sonda nasogástrica. Convulsões – DIAZEPAM 10 a 20mg via EV lenta e repetir se necessário
30-60 minutos depois; Desidratação grave – 30ml/kg de SORO FISIOLÓGICO EV em 30 minutos.
Reavaliar e tratar de acordo com o protocolo.Tratamento pré-referência: Recomenda-se como medida
pré-referência o seguinte: ARTESUNATO EV ou IM (1ª dose da 2ª linha de tratamento de eleição) ou
ARTESUNATO rectal (supositório): Apresentação: supositório de 400mg; Via de administração:
rectal; Dose: 10mg/kg de peso corporal (40-59 kg 1 supositório), 60-79 kg 2 supositórios,> 80 kg 3
supositórios); Se o ARTESUNATO não estiver disponível ou contra-indicado, o QUININO parenteral
é a alternativa QUININO EV infusão ou IM – para injecção intramuscular de QUININO é preciso diluir
o medicamento em DEXTROSE A 5% (ou NaCL 0.9%). Dividir em duas doses e administrar nas partes
anteriores de cada coxa. Em caso de impossibilidade de referência continuar o tratamento via rectal, IM
ou EV até o paciente tolerar a via oral.
_____________________________________________________________________________________
2. TUBERCULOSE – é uma doença infecciosa, bacteriana, de evolução crónica, causada pelo
Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch), e que se transmite de homem para homem, através da via
aérea. A TB pode-se apresentar clinicamente como TB pulmonar (TBP), TB extra-pulmonar (TBEP) ou
ambas formas (TBP e TBEP). A TBP associada a TBEP é mais frequente em indivíduos co-infectados
pelo HIV. Os sintomas constitucionais são comuns a todas formas de TB: febre, emagrecimento, astenia,
sudação nocturna. Os sinais e sintomas da TBP secundária são facilmente recordados pela mnemónica
FESTA – Febre, Emagrecimento, Sudorese, Tosse produtiva há mais de 2 semanas e Astenia.
TRATAMENTO: é feito em duas fases: intensiva e manutenção. A fase intensiva dura pelo menos 2
meses e a fase de manutenção dura pelo menos 4 meses. Os medicamentos usados são,
preferencialmente em Doses Fixas Combinadas (DFC). Doses Fixas Combinadas Disponíveis. Existem
4 tipos de DFC disponíveis para o adulto: 2 DFC – ISONIAZIDA E RIFAMPICINA (HR); 3 DFC –
ISONIAZIDA, RIFAMPICINA E ETAMBUTOL (HRE); e 4 DFC – ISONIAZIDA,
RIFAMPICINA, ETAMBUTOL E PIRAZINAMIDA (HREZ). Os medicamentos de 1ª linha incluem
a ISONIAZIDA (H), RIFAMPICINA (R), ETAMBUTOL (E), PIRAZINAMIDA (Z) e a
ESTREPTOMICINA (S), sendo que a estreptomicina (S) é o único fármaco injectável.

Caso novo com TB Pulmonar (aplicado também para a TB Extra-pulmonar com a excepção da TB
do Sistema nervoso central). Fase Intensiva: 2HRZE: dois (2) meses de 4DFC (ISONIAZIDA,
RIFAMPICINA, PIRAZINAMIDA E ETAMBUTOL). A toma é diária. Fase de Manutenção: 4HR:
quatro (4) meses de 2DFC (ISONIAZIDA E RIFAMPICINA). Toma diária.
Caso novo com TB Extra-pulmonar meníngea e com a TB com complicações neurológicas (por
exemplo, Mal de Pott com afectação medular). Fase Intensiva: 2HRZS: dois (2) meses de 4DFC
(ISONIAZIDA, RIFAMPICINA, PIRAZINAMIDA E ESTREPTOMICINA). A toma é diária. Fase
de Manutenção: 4HR: quatro (4) meses de 2DFC (ISONIAZIDA E RIFAMPICINA). Toma diária.

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

Caso de recidiva, abandono ao tratamento e falência terapêutica: Indicado o retratamento usando


drogas da primeira linha (OMS). Fase Intensiva: Dois (2) meses com 4DFC (HRZE) +
ESTREPTOMICINA, mais um (1) mês com 4DFC (HRZE). Fase de Manutenção: Cinco (5) meses
com 2DFC (HR) + E em três tomas semanais.
Casos novos pulmonares com BK negativo ou TBEP que não sejam graves e sem HIV. Fase
Intensiva: Dois (2) meses com 2DFC (HR) + Z. Fase de manutenção: Quatro (4) meses com 2DFC
(HR) com tomas diárias
Crianças com suspeita ou confirmação de TB pulmonar ou ganglionar:
Todas formas EPTB com excepção meníngea e osteoarticular. Fase intensive: 2HRZE; Fase de
manutenção: 4HR
Tuberculose meníngea, osteoarticular. Fase intensive: 2HRZE; Fase de manutenção: 10HR
Tabela: Tratamento de TB infantil em Moçambique, segundo o peso
Fase Intensiva Fase de Manutenção
Kg RHZ (60/ 30/ 150) E 100 RH (60,/30)
4- 6,9 1 1 1
7-10,9 2 2 2
11-14,9 3 2 3
15-19,9 4 3 4
20-24,9 5 1comprimido de E 400 5
Tabela: Fase intensiva do tratamento da tuberculose: DOSES: Administrar em dose única matinal de
preferência em jejum e durante 2 meses, o equivalente a: Adultos: RIFAMPICINA 10 mg/kg,
ISONIAZIDA 5 mg/kg, PIRAZINAMIDA 25 mg/kg e ETAMBUTOL 15 mg/kg/dia.
MEDICAÇÃO 4 DFC: PESO EM QUILOGRAMAS
Isoniazida (75 mg) <30 30-37 30-37 55-70 >70
Rifampicina (150 mg)
1 comprimido 2 comprimidos 3 comprimidos 4 comprimidos 5 comprimidos
Pirazinamida (400 mg)
Etambutol (275 mg)
Tabela: Fase de manutenção da tuberculose: DOSES: Administrar em dose única matinal, de
preferência em jejum e durante 4 meses: Adultos: o equivalente a 10 mg/kg/dia de RIFAMPICINA e 5
mg/kg/dia de ISONIAZIDA.
MEDICAÇÃO 2 DFC: PESO EM QUILOGRAMAS
Isoniazida (75 mg) <30 30-37 30-37 55-70 >70
Rifampicina (150 mg)
2 2 3 4 5
Uso de Corticosteróides no Tratamento da TB: A associação do tratamento da TB com
corticosteróides mostrou melhorar a sobrevivência de casos graves tais como: Os casos avançados da TB
meníngea; Na obstrução das vias aéreas (TB laríngea ou hipertrofia ganglionar). Na TB pericárdica Na
TB das vias urinárias (para prevenir cicatrizes uretrais); No Derrame pleural tuberculoso (quando grande
e com sintomas severos); Geralmente é usada a PREDNISOLONA na dose de 2 mg/kg de peso/dia
durante 4 semanas e seguida dum período de desmame de 1 a 2 semanas.
_____________________________________________________________________________________
3.TUBERCULOSE RESISTENTE: A emergência da resistência aos medicamentos contra a TB tornou-
se nos últimos tempos num dos maiores problemas de saúde pública em vários países, incluindo
Moçambique. Essa resistência é também um grande obstáculo para o controlo efectivo da TB,
principalmente em países com elevada prevalência do HIV. Tuberculose multi-droga resistente (TB
MDR) – é a resistência combinada à pelo menos ISONIAZIDA (H) e RIFAMPICINA (R) sem ou com

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

combinação de resistência à outros medicamentos anti-tuberculose. TRATAMENTO da TB MDR: O


tratamento da TB MDR é efectuado com medicamentos anti-tuberculose de 2ª linha e consta de duas
fases, tal como na TB sensível: uma fase intensiva e uma fase de manutenção. A fase intensiva dura
pelo menos 6 meses e durante pelo menos 4 meses depois da primeira conversão da baciloscopia e
cultura, e a fase de manutenção dura pelo menos 18 meses. O ideal é que o paciente tenha um regime de
2ª linha individualizado. Regime de 2ª linha individualizado – é aquele regime que o clínico adopta no
tratamento da TB MDR, de acordo com o padrão de resistência (após o resultado da cultura e TSA);
Tratamento Adjuvante: Os pacientes com TB MDR devem receber tratamento adjuvante com:
PIRIDOXINA (vitamina B6) nas doses adequadas para o regime em uso. Apoio nutricional –
alimentação equilibrada e suplementos de vitaminas e minerais ; Corticosteróides – nos casos de
insuficência respiratória ou envolvimento do sistema nervoso central – 1mg/kg/dia de
PREDNISOLONA durante 2 semanas e diminuição gradual de 10 mg por semana; Tratamento e
seguimento de eventual infecção por HIV.
_____________________________________________________________________________________
4. PREVENÇÃO DA TUBERCULOSE: O controlo e prevenção da TB representam um aspecto
importante na abordagem da TB como um problema de saúde pública. Estas medidas devem ser
encaradas numa perspectiva colectiva e individual. TRATAMENTO preventivo com isoniazida (TPI):
O tratamento preventivo com ISONIAZIDA (TPI) em pacientes elegíveis reduz a probabilidade de
conversão de TB latente em TB activa principalmente em pacientes HIV positivos e reduz a mortalidade
por TB. O TPI faz parte da política nacional em Moçambique. O medicamento usado para o TPI é a
ISONIAZIDA (H), em doses diárias por um período de 6 meses. Critérios de inclusão em TPI: Todas
crianças menores de 5 anos (HIV+ ou HIV-), que tenham contacto com um caso de TB, e não
apresentem sinais e sintomas sugestivos de TB; Todas as crianças seropositivas que tenham tido
contacto com um caso de TB; Todas pessoas com infecção pelo HIV, sem TB activa no momento actual,
ou que não tenham feito tratamento para TB nos últimos 2 anos; Posologia: A dose a ser administrada é
10 mg/kg/dia em crianças (máximo de 300mg/dia). Nos adultos: 300mg em toma única diária durante 6
meses. Associar profilaticamente 10mg/dia de PIRIDOXINA (vitamina B6) pelo risco de neuropatia
periférica.Tabela: Dosagem de TPI de acordo com o peso:

Peso do doente Comprimidos 300mg Comprimidos 100mg


>60 kg 1 3
50-60kg - 2½
40-50kg - 2
30-40kg ½ 1½
O controlo deve ser feito pelo menos de 2 em 2 meses até ao fim do tratamento.
5. SCHISTOSOMÍASE: é uma parasitose helmíntica, geralmente com carácter crónico que infecta os
seres humanos, causada pelo tremátodo do género Schistossoma. É uma doença muito antiga, tendo sido
encontrados ovos desses helmintos em múmias egípcias de pessoas que viveram em torno de 3500 antes
de Cristo. Quadro clínico: Podemos dividir as manifestações clínicas em 3 estágios que variam com base
na espécie, na intensidade da infecção e factores do hospedeiro (idade e genética). São as seguintes:
Dermatite cercária (após penetração das cercárias), Schistosomíase aguda (Febre de Katayama) e
Schistosomíase crónica. Dermatite Cercária: Também chamada de prurido do nadador, sendo mais
frequente no S. mansoni e japo nicum; O paciente se apresenta com prurido, exantema maculopapular nas
áreas afectadas da pele;Geralmente é auto-limitado e dura cerca de 5 dias; Schistosomíase Aguda (febre

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

de Katayama): É uma síndrome febril que aparece cerca de 4 a 8 semanas após invasão da pele e ocorre
tanto na infeccção por S. mansoni como por S. haematobium. Caracterizada por febre, mal-estar, mialgia,
urticária, diarreia (por vezes sanguinolenta), tosse seca, linfadenopatia generalizada e
hepatoesplenomegália. A Schistosomíase crónica pode-se apresentar de várias formas. O S.
haematobium leva ao desenvolvimento de doença genito-urinária. O S. mansoni (e os outros) leva ao
desenvolvimento das outras formas de doença. CONDUTA: O tratamento da Schistosomíase é dividido
em tratamento médico e cirúrgico. O fármaco de eleição é o PRAZIQUANTEL: PRAZIQUANTEL –
dose de 40mg/kg em dose única. Apresentação: comprimidos de 600mg; Via de administração: Oral;
Correcção de anemia existente com SALFERROSO; Antibioticoterapia no caso de infecção secundária
– AMOXICILINA ou COTRIMOXAZOL ou CIPROFLOXACINA são antibióticos que podem ser
usados empiricamente na suspeita de infecção urinária secundária.
_____________________________________________________________________________________
6. FILARÍASE: Filaríase linfática – é uma doença com carácter crónica e incapacitante, causada pelos
helmintos nemátodes, que habitam nos vasos linfáticos. A filaríase linfática também é conhecida por
Elefantíase devido as características dos órgãos acometidos, que aumentam de tamanho numa analogia
ao elefante. Quadro clínico: Filaríase Linfática Aguda: adenolinfangite aguda (ADL) caracterizada por
uma febre alta recorrente, associada à inflamação dos linfónodos (adenite) e/ou vasos linfáticos (linfagite)
e edema local transitório. A linfagíte é retrógrada, estendendo-se, ao nível periférico, desde o linfónodo
que drena a área onde o parasita adulto reside. Os linfónodos regionais mostram-se frequentemente
dilatados. Pode haver edema da genitália, hiperémia e hiperestésia. Filaríase Linfática Crónica: A forma
crónica da doença se manifesta, geralmente 10 a 15 anos após a fase aguda, com linfedema, hidrocele,
quilúria (urina com linfa de aspecto leitoso), ascite linfática, linfotórax e elefantíase. O edema é duro,
sendo acompanhado por espessamento dos tecidos subcutâneos e hiperceratose. Surgimento de fissuras na
pele e alterações hiperplásicas. Eosinofilia Pulmonar Tropical (EPT). A EPT é uma forma de
apresentação da filaríase linfática que se caracteriza por bronquite asmatiforme (tosse, dispnéia
paroxística nocturna, sibilância, roncos, podendo apresentar febre). CONDUTA: Eliminação das
Microfilárias e Vermes Adultos (macrofilárias): O tratamento de eleição para a eliminação de
microfilárias e de vermes adultos é a DIETILCARBAMAZINA (fármaco de nível 3). Um tratamento
alternativo é o ALBENDAZOL (comprimidos de 400mg): tem acção microfilaricida na dose de 400 mg
em dose única e macrofilaricida na dose de 400 mg duas vezes por dia durante 21 dias.
_____________________________________________________________________________________
7. FEBRE TIFÓIDE E A PARATIFÓIDE: são um conjunto de doenças muito semelhantes,
denominadas de febre entérica. A febre tifóide é uma doença bacteriana, multi-sistêmica, potencialmente
fatal causada pela Salmonella typhi (serotipos A,B,C). A febre paratifoide, é uma doença semelhante e
relacionada com à febre tifóide, mas muito mais rara, causada pela Salmonella paratyphi (serotipos
A,B,C). Quadro Clínico: O quadro clínico é relativamente inespecífico, e tem como principal sintoma a
febre alta (38.8-40.5ºC) e prolongada, que sem tratamento pode durar até 4 semanas. Apresenta início
insidioso com febre do tipo contínuo, cefaleia, mialgias, astenia, tosse seca e calafrios. Dor abdominal,
náuseas, vómitos, diarreia que pode ou não ser sanguinolenta ou menos frequentemente obstipaçã;
Epistaxis; Sintomas neurológicos em 2 a 40% dos casos: meningismo, movimentos estereotipados das
mãos (como alisamento contínuo da roupa da cama ou tentativa de apreender no ar objectos inexistentes)
O exame físico pode revelar: Bradicardia relativa em desproporção com o grau da febre (dissociação
pulso x temperatura) Abdómen distendido, hepatoesplenomegália; Exantema maculopapular por volta do
fim da primeira semana - “roséolas tíficas” - no tórax ou abdómen, que empalidecem à pressão; Sinais

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

neurológicos: rigidez da nuca, paralisia, fraqueza muscular; Icterícia; O curso da febre paratifoide tende a
ser menor e com sintomas mais leves, mas pode ser clinicamente indistinguível. Os casos registados em
Tsangano – Tete em 2009 apresentavam-se com: febre, cefaleia, dores abdominais, rigidez de nuca,
dificuldade em falar e caminhar. CONDUTA: A febre tifóide é uma doença infecto-contagiosa pelo que
devem ser tomadas medidas de isolamento do paciente. Antibioticoterapia: A CIPROFLOXACINA
(nível de prescrição 3), é o fármaco de eleição, administrado na dose de 250 a 750 mg (geralmente 500
mg) de 12 em 12 horas, durante 6 dias. O CLORANFENICOL é o fármaco de 1ª linha para o tratamento
da febre tifóide. Nas formas ligeiras preferir tratamento ambulatório pela via oral. Nas formas moderadas
a graves preferir a via EV. Posologia: CLORANFENICOL (fármaco alternativo) – adultos e crianças
maiores de 2 meses: 50 a 100 mg/kg/dia em 4 tomas, 6/6h (máximo 4 gramas/dia no adulto). Um
esquema em adultos seria de cápsulas de 250 mg de 6 em 6 horas ou 500 mg de 6 em 6 horas. Nos casos
graves usar o CLORANFENICOL SUCCINATO SÓDICO EV 500 a 1000mg de 6 em 6 horas.
Reduzir a dose logo que a situação melhore (recordar que o CLORANFENICOL pode induzir a aplasia
medular que é dose-dependente ou dose-independente). A duração do tratamento é de 14 a 21 dias. A
CEFTRIAXONA (1 a 2 gramas/dia EV) é uma alternativa ao CLORANFENICOL, se não houver
melhoria. Se estiver presente co-infecção schistossoma, é necessário tratar: PRAZIQUANTEL 40mg/kg
dose única Nos casos que se detecta perfuração intestinal com peritonite – aplicar a 1ª dose de
CLORANFENICOL, colocar líquidos endovenos (SORO FISIOLÓGICO ou LACTATO DE
RINGER). Terapia de suporte: Manter o equilíbrio hidro-electrolítico: fluídoterapia oral (SAIS DE
REHIDRATAÇÃO ORAL, água de coco, sumos) ou por via endovenosa nos estados mais graves
(LACTACTO DE RINGER ou SORO FISIOLÓGICO); Controlar a febre (arrefecimento corporal,
anti-piréticos – PARACETAMOL); Se anemia estiver presente, e dependendo da gravidade, usar
suplementos de ferro e/ou transfusão de sangue.
_____________________________________________________________________________________
8. BRUCELOSE: Brucelose é uma doença, geralmente de carácter crónico, causada por
bactérias do género Brucella transmitida aos seres humanos a partir de animais infectados.
Quadro Clínico: Brucelose Aguda: Febre, cefaleia, mialgia, artralgia, sudorese nocturna (com
odor fétido). A febre pode ser remitente com largas oscilações diárias. Embora não frequente,
porém mais característica, é a febre do tipo “ondulante” – temperatura mais alta a cada dia, até
atingir um nível máximo que é mantido por 10 a 15 dias, para depois começar a cair,
gradualmente, até ao estado de apirexia que dura um curto período, seguindo-se depois outras
“ondas” febris. Ao exame físico pode-se encontrar a linfadenopatia generalizada,
hepatoesplenomegália. Brucelose Localizada: Afecta principalmente o sistema osteo-articular:
dor na coluna vertebral, dor no quadril, dor no joelho, associado a sinais inflamatórios
caracterizando uma sacroileíte, artrite coxo-femoral e do joelho, osteomielite, ou inflação da
coluna vertebral e dos respectivos discos intervertebrais (espondilodiscíte). Também pode afectar
outros sistemas: Sistema nervoso – com rigidez de nuca, kerning e brudzinski positivo,
caracterizando uma meningoencefalite. Paralisia dos membros, ansiedade, irritabilidade. Coração
– pode haver sinais e sintomas sugestivos de pericardite, miocardite e endocardite; Aparelho
respiratório – com bronquites de repetição; Fígado – abcessos hepáticos e sinais e sintomas de
uma hepatite (icterícia, astenia); Sistema genito-urinário – com prostatite, orquite, epidemite,
orquiepidemite, abcesso ovariano, salpingite e outras); Tracto gastrointestinal – anorexia,

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

náuseas, vómitos, dor abdominal, diarreia ou obstipação. Brucelose Crónica: Febre baixa ou
apirexia, astenia, mal-estar, artralgia, emagrecimento, sudorese, associado a um estado
depressivo. CONDUTA: O tratamento da brucelose visa curar a infecção actual e a
sintomatologia, bem como prevenir recidivas. Nos adultos, é usada a associação de dois
antibióticos: ESTREPTOMICINA e DOXICICLINA, nas seguintes doses:
ESTREPTOMICINA – 1 grama por dia, via intramuscular, por 14 a 21 dias + DOXICICLINA
– 100 mg de 12 em 12 horas por 42 dias nos adultos; O tratamento deve ser prolongado para até
pelo menos 12 semanas, quando há evidência de infecção localizada.

9. PESTE: Peste é uma doença bacteriana zoonótica envolvendo roedores e pulgas, que transmitem a
infecção bacteriana para outros animais ou pessoas. A peste é febril e aguda, frequentemente associado a
linfadenopatia e com uma elevada taxa de letalidade (>50 %). É causada por Yersínia pestis. Quadro
Clínico: Segundo as 3 formas clínicas de peste o quadro clinico pode ser: Peste Bubônica: É a forma
mais frequente e tem um período de incubação de 2 a 6 dias. Apresenta início súbito de febre alta (> 38º
C), cefaleia intensa, mialgias, artralgias, astenia. Pode-se acompanhar de marcha insegura e cambaleante
(andar do ébrio), confusão mental e delírio. Linfadenopatia (bubão) frequentemente inguinal, mas que
pode ser axilar, cervical ou ter outra localização. O bubão é hipersensível e doloroso, com crescimento
rápido que pode atingir o tamanho de um ovo de galinha. O paciente apresenta defesa à palpação do
bubão e limita os movimentos da região com o bubão. A inspecção da pele ao redor do bubão pode
mostrar o local da picada da pulga, marcada por uma pápula, pústula ou úlcera. Os pacientes podem ter
vómitos e diarreia, exantema vesiculopustuloso, petéquias, hemorragias; Sem tratamento a taxa de
letalidade é de entre 50-60%. Peste Pulmonar: Pode ser secundária e ocorrer como complicação da peste
bubônica ou ser primária. A peste pulmonar primária tem um período de incubação de 3 a 5 dias (faixa de
1 a 7 dias). Os sinais e sintomas são semelhantes aos da forma bubônica (excepto que na peste pulmonar
primária não existe o bubão). Os sinais e sintomas respiratórios são: tosse, expectoração aquosa ou
mucosa, espumosa com laivos de sangue, mas podendo se tornar francamente sanguinolenta. Taquipneia,
dispneia, dor torácica e fervores crepitantes. Sem tratamento a taxa de letalidade é quase 100%. Peste
Septicêmica: A septicemia pode ser secundária a qualquer das formas anteriores (bubônica ou
pneumónica) ou ser primária. A septicemia primária tem um período de incubação de menos de 3 dias. O
paciente apresenta febre alta, calafrios, cefaleia intensa, diarreia, vómitos, petéquias, equimoses,
sangramentos, marcada toxémia, delírio e rápida instalação do coma. O paciente pode entrar em choque
séptico levando ao óbito. Sem tratamento a taxa de letalidade é quase 100%. CONDUTA:
TETRACICLINA – 500 mg via oral de 6 em 6 horas durante 10 dias ou DOXICICLINA 100 mg de 12
em 12 horas durante 10 dias. A ESTREPTOMICINA constitui uma alternativa às TETRACICLINAS,
nas doses de 2 gramas por dia divididos de 12 em 12 horas durante 10 dias (1 grama de 12 em 12 horas).
Nos casos de peste complicada com meningite, preferir o uso de CLORANFENICOL à
ESTREPTOMICINA, pela melhor penetração através da barreira hemato-encefálica. As doses são de
50 a 100 mg/kg/dia de 6 em 6 horas, por via intravenosa. Nos casos de peste pulmonar, deve-se efectuar o
isolamento do paciente. Medidas de Prevenção e Controlo da Peste: Isolamento de casos de peste
pulmonar; Quimioprofilaxia dos contactos; TETRACICLINA 500 mg de 6 em 6 horas por 7 dias;
DOXICICLINA 100 mg de 12 em 12 horas por 7 dias; COTRIMOXAZOL – 320 mg da componente
trimpetropim por dia (2 comprimidos de 12 em 12 horas) por 7 dias;

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10.FEBRE RECORRENTE POR MORDEDURA DE CARRAÇA: é uma doença zoonótica
aguda, caracterizada por febre recorrente e transmitida de roedores para o ser humano pela
picada de carraça. QUADRO CLÍNICO: Febre (> 40º C) com padrão irregular, cefaleia,
calafrios, sudorese, mialgia e artralgia. Vertigens, náuseas e vómitos são comuns; O paciente
pode referir que tem dificuldade em apanhar sono e tem tido pesadelos; Fotofobia (aversão à
luz), com conjuntivas congestas (avermelhadas), epistaxe, desidratação; Tosse não produtiva,
com taquipneia e taquicardia, petéquias e hemorragias podem surgir; Pode haver
hepatoesplenomegália dolorosa. CONDUTA: O tratamento da FRMC é feito durante 7 dias de
antibioticoterapia. Doses únicas são desaconselháveis devido ao risco de recorrência e
persistência da doença. Adultos – TETRACICLINA 500 mg de 6 em 6 horas; ou
DOXICICLINA 100 mg de 12 em 12 horas; ou ERITROMICINA 500 mg de 6 em 6 horas; ou
CLORANFENICOL 500 mg de 6 em 6 horas.

11. SÉPSIS: é uma síndrome de resposta inflamatória (SIRS), desencadeada por um agente agressor,
associado à infecção sistêmica. É basicamente a forma mais extrema de infecção sistêmica. O clínico
deve efectuar um tratamento agressivo de modo a evitar o óbito do paciente que pode ocorrer nas
primeiras horas. Quadro Clínico: Fase inicial (1) – o paciente está consciente, febril, com pele quente,
seca e rosada, taquicardia e a TA está normal ou discretamente reduzida, taquipneia; Fases avançadas (2-
3) – o paciente evolui para um estado mais grave, podendo se apresentar com agitação, desorientação,
confusão ou estar inconsciente, com pele fria, sudorese, icterícia, cianose das extremidades. A TA reduz,
podendo se apresentar com valores sistólicos menores de 90 mmhg, taquipneia. Pode surgir petéquias,
hemorragias, trombose ou necrose. O paciente pode estar com oligúria ou mesmo anúria. Lesões
cutâneas sugestivas de patógenos específicos:Lesões petequiais ou purpúreas sugerem
meningococcemia (Neisseria meningitidis);Lesão bolhosa circundada por edema com necrose e
hemorragias centrais (ectima gangrenoso) sugere Pseudomonas. CONDUTA: Estabilização
hemodinâmica: administração de líquidos intravenosos – SORO FISIOLÓGICO ou LACTATO DE
RINGER. Administrar 1 a 2 litros por 1 a 2 horas. Administrar líquidos de modo que a TAS se mantenha
acima de 90 mmhg e ocorra melhoria da diurese. Estabilização respiratória: administrar OXIGÉNIO na
dose de 2 a 4l por minuto, até conseguir uma saturação de OXIGÉNIO>90 ou melhoria do status
respiratório. Se não houver melhoria, pedir ajuda para entubar; Antibioterapia empírica combinada com:
AMPICILINA ou PENICILINA CRISTALIZADA, mais GENTAMICINA e METRONIDAZOL:
AMPICILINA 2 - 4 gramas ou PENICILINA CRISTALIZADA (3.000.000 UI) EV como dose de
ataque que pode ser repetida de 6 em 6 horas; dose máxima de AMPICILINA (14 g/dia).
GENTAMICINA – 160 a 240 (dose diária total) mg EV como dose de ataque. Os pacientes com sépsis
podem ter uma insuficiência renal, pelo que o clínico deve estar atento a esta situação tendo em conta que
a GENTAMICINA é nefrotóxica. Nestas condições, administrar dose de ataque de 80 mg, sobretudo
nos doentes com maior risco (crianças, idosos, debilitados, desidratados ou com patologia renal prévia),
METRONIDAZOL – 500 mg EV como dose de ataque, que pode ser repetida de 8 em 8 horas.
_____________________________________________________________________________________
12. DOENÇA MENINGOCÓCICA: pode se apresentar sob a forma localizada ou disseminada
podendo evoluir para sépsis grave ou choque séptico. QUADRO CLÍNICO: Pode ser
disseminada (meningococemia) ou localizada: Meningococémia – 10 a 30% dos pacientes que

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desenvolvem doença meningocócica apresentam bacteriémia sem meningite. Febre, calafrios,


náuseas, vómitos e mialgias. Erupção cutânea: exantema com máculas eritematosas que se
tornam petéquias e, nos casos mais graves, púrpura, mais frequentes no tronco e membros
inferiores, mas também podem se localizar na face, braços e mucosas. A tensão arterial sistólica
pode diminuir a valores inferiores a 90 mmhg (choque), com hemorragia e CID; Meningite – é a
forma localizada da infecção e afecta o sistema nervoso central. Manifesta-se com febre,
náuseas, vómitos, cefaleia, rigidez de nuca, brudzinski e kerning positivo. Convulsões, letargia,
confusão ou coma podem surgir, associado ou não a lesões cutâneas. Descrita com detalhe na
disciplina de neurologia. CONDUTA: O tratamento da meningococcémia é semelhante ao
abordado para a sépsis. O antibiótico de eleição é o CLORANFENICOL, embora a
PENICILINA CRISTALIZADA ou AMPICILINA tenham acção contra o meningococo.
CLORANFENICOL – 50 - 100 mg/kg/dia divididos em 4 tomas (máximo de 4 gramas por dia
em adultos). Isolar o paciente; Fazer profilaxia dos contactos do paciente com
CIPROFLOXACINA ou RIFAMPICINA

XII. SISTEMA ENDÓCRINO


1.DIABETES MELLITUS: A pré-diabetes é um estado metabólico intermediário entre a homeostase
normal da glicose e a diabetes mellitus manifesta. Na pré-diabetes as pessoas apresentam valores da
glicose no sangue acima do normal, mas não suficientemente elevados para definir a patologia de
diabetes. A diabetes mellitus (DM) é uma doença crónica, multissistémica, caracterizada pelos distúrbios
no metabolismo dos carbohidratos, dos lípidos e das proteínas com presença de níveis altos de glicose no
sangue. É causada pela ausência ou deficiência na secreção de insulina e/ou por graus variáveis de
resistência à mesma. As DM tipo 1 e 2 são causadas por uma série de factores: genéticos e infecções
virais (DM 1), genéticos e ambientais como o estilo de vida ligados a dieta inadequada e pouco saudável,
obesidade e inactividade física (DM 2). A prevenção da DM tipo 2 requer a adopção de hábitos de vida
mais saudáveis, como por exemplo combate à obesidade, combate ao sedentarismo e introdução de uma
alimentação mais saudável. Manifestações Clínicas na Fase Inicial: Na diabetes mellitus tipo 1 existe
pouca ou nenhuma capacidade do pâncreas secretar insulina, por isso os sintomas surgem em dias ou
semanas, em crianças ou adultos jovens. Os sintomas mais comuns apresentados pelo paciente com DM
tipo 1, todos eles devido à hiperglicémia, são: Poliúria; Polidipsia ou sede excessiva; Polifagia, Astenia,
fraqueza muscular, cãibras, Perda de peso, Náuseas; Alterações da visão (visão embaciada). Estas
manifestações podem ter sido precedidas de uma infecção, geralmente virais das vias aéreas ou
gastrointestinal. No exame físico os sinais que o paciente com DM 1 apresenta são: TA baixa devido a
hipovolêmia e hipotensão ortostática; Doente pode estar emagrecido devido ao estado catabólico com
redução do glicogénio, proteínas e triglicéridos dependendo do início das manifestações. Nos casos em
que o paciente se apresente com cetoacidose diabética: alterações da consciência, náuseas e vómito (Vide
PA 12). A diabetes mellitus tipo 2, no período inicial de evolução da doença, é praticamente
assintomática, permanecendo não diagnosticada por muitos meses ou anos. Os sintomas mais comuns
apresentados pelo paciente com DM tipo 2 podem ser insidiosos e leves podendo ser toleradas por muitos
anos antes do paciente procurar por cuidados médicos, são: Fadiga, fraqueza. Tonturas. Visão embaciada.
No exame físico os sinais que o paciente com DM 2 apresenta são: Na fase inicial da doença quadro
clínico não é muito específico, o paciente pode ser sobre-peso ou obeso. Na fase avançada o paciente
apresenta sinais das manifestações das complicações crónicas, que serão abordadas no bloco a seguir.

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TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: Os objectivos do tratamento do DM é o de se repor a insulina


cuja secreção foi perdida e o de baixar a glicémia e prevenir as complicações. Insulinoterapia: A
INSULINA é o tratamento de eleição para pessoas com DM 1, que não têm INSULINA, e de muitas
pessoas com diabetes tipo 2, que não respondem à dietaterapia e ao exercício ou aos ADO’s. A
insulinoterapia consiste em imitar a secreção fisiológica da mesma no organismo humano, onde deve
existir, nos diferentes momentos do dia/noite: As INSULINAS disponíveis no mercado podem ser de
origem: Animal: bovina e a porcina Humana: denominada semi-sintética; Bio-sintéticas: que são as mais
recentes, menos complexa e economicamente mais viável; são conhecidas como análogos e que são
produzidas pela Escherichia Coli ; Qualquer que seja a sua origem os preparados insulínicos são
divididos por classes, consoante o tipo de acção, inicio e duração dessa acção, pelo que se classificam em:
INSULINA de acção curta, que podem ser Rápida e Ultra-rápida; INSULINA de acção
intermediária; e INSULINA de acção prolongada. Os tipos de INSULINA que podem ser usados por
eles são: INSULINA de Acção Curta (Rápida) e INSULINA de Acção Intermédia. Cálculo da Dose:
A maior parte dos doentes adultos necessita entre 20 - 60 U.I. de INSULINA/dia. Contudo deve-se
calcular a dose diária com base no peso e altura do doente. De acordo com o FNM para se calcular a dose
de INSULINA é preciso calcular-se o Índice de Massa Corporal (IMC) a Dose Diária Total (DDT) que se
calcula do seguinte modo:
Formulas: Índice de Massa Corporal: IMC= Peso (em kg)/ h2; e DDT = 1 U.I. de insulina S.C. por cada
unidade do IMC; OU: Peso (em kg) ×0.5 U.I./dia

Exemplo: Um paciente com 70 kg e 1,75 m de OU: 70kgx0.5 U.I/dia = 35 U.I.


altura teria: IMC=70kg/(1,75)2 = 23 U.I. de Portanto para o paciente do exemplo a dose
insulina/dia indicada varia de entre 23 a 35 U.I./dia por via
S.C.

Hipoglicemiantes ou Anti-diabéticos Orais (ADO’s): Para o tratamento de DM 2 são usados agentes


orais redutores de glicose os ADO’s cujo efeito hipoglicemiante consegue-se por diferentes mecanismos
de acção, a saber: Aqueles que aumentam a secreção de INSULINA, denominadas Sulfoniluréias como
por exemplo a GLIBENCLAMIDA. Aqueles que reduzem a produção de glicose, denominadas
Biguanidas como por exemplo a METFORMINA. Aqueles que aumentam a sensibilidade à
INSULINA, denominadas Tiazolidinedionas, como por exemplo a ROSIGLITAZONA. Os objectivos
da terapia para DM tipo 2 são semelhantes aos da DM tipo 1 ou seja o controlo da hiperglicémia.
Contudo na DM tipo 2 deve-se também incluir a devida atenção ao tratamento das condições associadas a
esta patologia, sobretudo a: Obesidade; HTA; Dislipidemia; Doenças cardiovasculares a nível renal,
neurológico, cutâneo e dos tecidos moles como as úlceras. GLIBENCLAMIDA, Comp. 5mg por via
oral: indicada em doentes diabéticos sem/com excesso de peso nos quais a METFORMINA é mal
tolerada ou contra-indicada. Doses: Iniciar com 2,5 a 5 mg/dia ao pequeno-almoço e aumentar
progressivamente esta dose em intervalos de 5-7 dias, até se conseguir o controlo de glicemia ou até se
atingir um máximo de 15 mg/dia.
XIII. OTORRINOLARINGOLOGIA, OFTALMOLOGIA E ESTOMATOLOGIA

1.OTITE EXTERNA (OE): a otite externa é definida como sendo uma infecção ou inflamação do canal
auditivo externo e pavilhão auricular. Classificação, quadro clínico e tratamento da otite externa:

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1.1.OE AGUDA DIFUSA: Conhecida como “swimmer’s ear” – ouvido do nadador. Consiste num
processo infeccioso e inflamatório do ouvido externo. Quadro Clínico: Otalgia que se irradia para região
temporal e mandibular, , eritema, otorreia, prurido, hipoacúsia (de condução)e hipersensibilidade à
palpação; Febre e linfadenopatia em casos mais graves. TRATAMENTO: Cuidados locais: limpeza
atraumática do CAE por aspiração e debridamento de restos celulares. Pode se usar água oxigenada para
facilitar a remoção e limpeza de fragmentos e crostas aderidas, com completa secagem do CAE
posteriormente. Analgésia: AINEs – IBUPROFENO 200-400 mg oral ou DICLOFENAC 25 a 50 mg
oral, de 8 em 8 horas por 3-5 dias; Antibioticoterapia: Tópica - CLORANFENICOL gotas auriculares
a 5%, 3-5 gotas 2-3 x/dia; HIDROCORTISONA gotas para reduzir a inflamação: 5 gotas 3 vezes ao dia
durante 7 dias; Sistêmica – casos graves com manifestações gerais, infecção disseminada ao redor do
CAE, linfadenite, estado tóxico. CIPROFLOXACINA 500 mg oral de 12 em 12 horas durante 7 dias ou
se mais grave, GENTAMICINA 80 mg EV de 8/8 h + AMPICILINA 1 grama EV de 6 em 6 horas

1.2.OE AGUDA LOCALIZADA (FURUNCULOSE): É uma OE Aguda limitada a uma área do CAE,
geralmente no 1/3 externo, onde existem glândulas sebáceas e folículos pilosos. Quadro Clínico:
Prurido, otalgia localizada, edema, eritema do CAE, pontos de flutuação. Hipoacúsia (se oclusão do
CAE). TRATAMENTO: O mesmo que o anterior, no entanto nos casos graves usar drogas
antiestafilocócicas: AMOXICILINA (500 mg) com ÁCIDO CLAVULÂMICO (125), oral, 500 mg de
8 em 8 horas por 7 dias ou FLUCLOXACILINA 250 mg, oral, 250 mg de 6 em 6 horas por 7 dias. Os
furúnculos não devem ser mexidos, deve-se aguardar pela sua maturação, fistulização e cura espontânea.
Só em casos excepcionais o especialista deve recorrer à incisão do furúnculo.

1.3.OE CRÔNICA: Geralmente ocorre quando os processos infecciosos e inflamatórios não são tratados
adequadamente. Quadro Clínico: Desconforto leve, prurido intenso, , ressecamento da pele do CAE e
hipoacúsia. Geralmente indolor. Otorréia mucopurulenta se infecção secundária agudizada.
TRATAMENTO: Tratamento local com objectivo de restaurar a pele normal do CAE e promover
produção de cerúmen: limpeza frequente e debridamento local, seguido de aplicação de VIOLETA DE
GENCIANA. Uso de corticóides tópicos e gotas queratolíticas.

1.4.OE GRANULOSA: Consiste em exsudação purulenta do 1/3 interno do CAE, incluindo a MT. Pode
ocorrer em pacientes que não trataram adequadamente um episódio prévio de OE. Quadro Clínico:
Hipoacúsia, otorréia purulenta e prurido leve. TRATAMENTO: Limpeza do CAE com água morna
seguida de secagem. Aplicação de antibiótico tópico (GENTAMICINA, CLORANFENICOL).

1.5.OE FÚNGICA (OTOMICOSE). Quadro Clínico: Prurido é a manifestação clínica


principal.Presença de Otorréia espessa. TRATAMENTO: Limpeza do CAE e secagem, aplicação de
VIOLETA DE GENCIANA (1-2x/dia) e antifúgicos tópicos como CLOTRIMAZOL (creme, 2-3
x/dia) por 7-10 dias. Antifúngicos sistêmicos não são eficazes.

1.6.OE MALIGNA (OE NECROTIZANTE): É uma infecção grave do OE e base do crânio,


tipicamente vista em diabéticos idosos e imunocomprometidos (HIV, neoplasias, quimioterapia,
corticoterapia). Quadro Clínico: Otalgia com mais de 1 mês, otorréia purulenta persistente,
acometimento dos nervos cranianos (paralisias relacionadas com os nervos facial, vago e acessório –
rouquidão, disfagia, aspiração e alterações respiratórias). TRATAMENTO: GENTAMICINA 160-240
mg EV/IM

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1.7.OE HERPÉTICA: O Herpes Zoster Oticus ou Síndrome de Ramsay Hunt é a infecção dos
gânglios do nervo acústico e do gânglio geniculado do nervo facial pelo Vírus do Herpes Zoster. Quadro
Clínico: Por Herpes Zóster: paralisia facial periférica, otalgia, zumbidos, erupção cutânea vesicular no
pavilhão e CAE ipsilateral, hipoacúsia: Síndrome de Ramsey Hunt; Por Hérpes simplex: semelhante ao
H. zóster sem afecção do nervo facial. TRATAMENTO: Síndrome de Ramsey Hunt:
PREDNISOLONA oral, 40mg/dia durante 2 dias, 30mg/dia durante os seguintes 7-10 dias; seguir
diminuindo progressivamente a dose, associado a: ACICLOVIR 800 mg oral 5x/dia durante 7 dias. OE
por herpes simplex: ACICLOVIR 200 mg 5x/dia ou 400 mg de 8/8 horas por 10 dias; Analgésicos para
a dor. Se não melhora, referir ao Médico

1.8.OE BOLHOSA: É uma das otites mais dolorosas. Quadro Clínico: Vesículas ou bolhas
hemorrágicas na porção óssea do CAE; Otorréia serossanguinolenta. TRATAMENTO:
ERITROMICINA 500 mg de 6 em 6 horas por 10 dias. Analgésicos para a dor. Limpeza e secagem do
CAE

1.9.PERICONDRITE E CONDRITE: Pericondrite – inflamação do pericôndrio. Condrite – inflamação


da cartilagem. Podem acompanhar ou complicar infecções do CAE ou resultam de trauma acidental ou
cirúrgico do pavilhão auricular. Quadro Clínico: Dor e sensação de obstrução e plenitude do CAE. Pele é
descamativa, com crostas e secrecção seropurulenta. A orelha fica eritematosa, endurecida e dolorosa à
manipulação. TRATAMENTO: Debridamento, drenagem de pontos flutuantes e antibioticoterapia
tópica e/ou sistêmica.Tópica: CLORANFENICOL gotas auriculares a 5%, 3-5 gotas 2-3 x/dia.
HIDROCORTISONA creme (2-3x/dia) para reduzir a inflamação. Sistêmica (caso não melhore ou casos
graves): oral – CIPROFLOXACINA; ou se mais grave – AMPICILINA 1 gr EV de 6 em 6h +
GENTAMICINA 160 a 240 mg EV 1x/dia. Analgésicos para dor.

1.10.ERISIPELA DO PAVILHÃO: Geralmente secundária à OE aguda ou trauma. Quadro Clínico:


Edema da pele do pavilhão, com eritema e aspecto áspero, lembrando “casca de laranja”. É comum
acometimento da face e manifestações sistêmicas: febre, calafrios, taquicárdia. TRATAMENTO:
AMOXICILINA (500mg) e ÁCIDO CLAVULÂMICO (125 mg) – 500 mg de 8 em 8 horas por 7 dias
ou FLUCLOXACILINA 250 mg de 6 em 6 horas por 7 dias; Analgésicos para dor.

1.11.OTOHEMATOMA: É o hematoma traumático do pavilhão auricular. Comum em praticantes de


boxe e artes marciais. O sangue se acumula entre o pericôndrio e a cartilagem na face externa do pavilhão
auricular, mais comumente no terço superior. Quadro Clínico: Perda do contorno normal da superfície
lateral do pavilhão auricular, equimose, parestesia e dor local. TRATAMENTO: Incisão e drenagem do
hematoma, seguida de limpeza cuidadosa dos coágulos. Após a drenagem, aproximam-se os retalhos sem
suturá-los e coloca-se um penso compressivo. Associam-se antibióticos de amplo espectro
(AMOXICILINA COM ÁCIDO CLAVULÂMICO, CIPROFLOXACINA, nas doses já acima mencionadas)

2. OTITE MÉDIA: : otite média é a inflamação do ouvido médio.A disfunção da Trompa de Eustáquio
dificulta a drenagem normal de secreções, sendo o factor causal básico. É geralmente secundária a uma
infecção das vias aéreas superiores, como a faringite ou a rinite. Classificação, quadro clínico e
tratamento da otite média:

2.1.MIRINGITE: É a inflamação da membrana do tímpano, só ou em associação com otite externa ou


otite média. Quadro Clínico: Otalgia intensa, edema, eritema e opacificação da membrana do tímpano à

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otoscopia. Hipoacúsia ligeira. TRATAMENTO: Antibioticoterapia tópica: CLORANFENICOL


(doses da OE); Analgésicos: PROCAINA COM FENAZONA – 2 a 4 gotas em intervalos variáveis
(6/6h ou 8/8h) conforme natureza e gravidade da afecção. Corticóides tópicos (HIDROCORTIZONA
como na OE); Antibióticos sistêmicos se houver infecção secundária (AMOXICILINA COM ÁCIDO
CLAVULÂMICO ou ERITROMICINA).

2.2.OM COM DERRAME: Pode ser: Seroso – fluido seroso e transparente; Purulento – pús, e pode
ficar espesso como cola (glue ear). Quadro Clínico: Hipoacúsia, autofonia (ressonância da própria voz
do doente), otalgia variável, sensação de pressão no ouvido. Se MT perfurada, o derrame pode ser visível.
TRATAMENTO: Antibioticoterapia: AMOXICILINA (500 mg) e ÁCIDO CLAVULÂMICO (125
mg): 500 – 1000 mg de AMOXICILINA de 8 em 8 horas. Alternativamente pode-se usar a
ERITROMICINA 500 mg de 6 em 6 horas. Corticóides: PREDNISOLONA oral ou
HIDROCORTISONA em gotas como na OE; Descongestionantes nasais: SORO FISIOLÓGICO,
gotas nasais de EFEDRINA, ou FENILEFRINA (1 a 2 gotas em cada narina, 3-4 x/dia); Anti-
alérgicos: CLORFENIRAMINA 4 mg de 8/8 horas

2.3.OMA: Existe um processo inflamatório agudo da mucosa do ouvido médio, porém sem formação de
nenhuma coleção líquida na cavidade timpânica. Quadro Clínico: Sensação de ouvidos intupidos, otalgia
variável, hipoacúsia. Dor a pressão da ponta da mastóide, zumbidos sincrónicos com o pulso/batimento
cardíaco. TRATAMENTO: Limpeza e aspiração do CAE; Antibióticos orais por 10 dias como na OM
com derrame. Descongestionantes nasais: SORO FISIOLÓGICO, gotas nasais de EFEDRINA, ou
FENILEFRINA.

2.4.OMC: É a inflamação crónica da mucosa do ouvido médio. Quadro Clínico: Hipoacúsia (de
condução), sem dor, otorréia muco-purulenta não fétida. TRATAMENTO: Limpeza do CAE com
SORO FISIOLÓGICO. Antibióticos locais: CLORANFENICOL, GENTAMICINA. Antibióticos
sistêmicos em casos graves: AMOXICILINA COM ÁCIDO CLAVULÂMICO, ou CIPROFLOXACINA.

_____________________________________________________________________________________
3. MASTOIDITE: é a infecção bacteriana do osso mastóide, geralmente devida a extensão do processo
infeccioso de uma otite média não tratada adequadamente ou atempadamente. Quadro Clínico: os
sintomas aparecem 2 ou mais semanas após a sintomatologia de uma otite média aguda não tratada. A
febre é alta e persistente, há dor na região do ouvido e retro auricular, que irradia para a região temporal e
occipital , existência de otorreia purulenta e fétida com diminuição da audição. CONDUTA: Inicie
antibióticos E.V. com PENICILLINA G 2 a 3 milhões de UI (pré-transferência/referêcnia).

4. SURDEZ: Surdez é definida como a perda da audição, uni ou bilateral. Considera-se surdo o indivíduo
cuja acuidade auditiva esteja abaixo de 70DB, podendo chegar a perda total da audição.

SURDEZ SÚBITA: É a perda súbita da audição, de natureza neurosensorial, geralmente unilateral, que
se manifesta numa pessoa com audição normal. Avança em poucas horas e progride em alguns dias.
Quadro clínico: Começa como uma pressão no ouvido, seguido de zumbido intenso, mais tarde
hipoacusia severa e algum tempo depois instalação de surdez total. Há perda profunda da audição, que
pode ser associada a nistagmo e vertigens. Os sintomas são geralmente unilaterais. Na maior parte dos
pacientes, há recuperação total espontânea da função auditiva em 10-14 dias. Em outros pacientes há
recuperação parcial. CONDUTA: O tratamento deve ser instituído o mais precocemente possível. A

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conduta farmacológica e não farmacológica para o tratamento da perda parcial ou total da audição é a
seguinte: PREDNISOLONA 60mg/dia durante 2 dias e a seguir 40mg/dia durante 5-7 dias, com seguinte
redução progressiva da dose; Antibióticos orais: ver tratamento da otite média.

5. MEDICAMENTOS OTOTÓXICOS: Alguns medicamentos quando usados podem determinar lesões


do ouvido, da porção auditiva e /ou da porção vestibular. Os danos podem ser reversíveis ou irreversíveis.
A sintomatologia pode apresentar-se após uma dose somente ou após semanas de tratamento, ou mesmo
após o término do tratamento. Tipicamente a ototoxicidade é associada aos seguintes sintomas: Perda da
audição neuro-sensorial bilateral temporária ou irreversível. Zumbidos; Nistagmos; Desequilíbrio;
Náuseas e vómitos. Classificação: Existem várias famílias de medicamentos que podem ser ototóxicos:
Antibióticos: Aminoglicósidos, Macrolídeos; Diuréticos da ansa: ex. FUROSEMIDA; Anti-
inflamatórios não esteróides: ÁCIDO ACETILSALICÍLICO; Anti-maláricos: QUININA;
Medicamentos antineoplásicos (não usados pelo técnico de medicina): CISPLATINA. Antibióticos:
Aminoglicósidos: Exemplos: ESTREPTOMICINA, GENTAMICINA, NEOMICINA,
KANAMICINA, AMIKACINA. Os antibióticos são os medicamentos que causam o maior dano à
porção vestibular, como por exemplo: a ESTREPTOMICINA, GENTAMICINA, AMIKACINA, mas
também podem afectar a porção coclear, como é o caso da (GENTAMICINA): ESTREPTOMICINA:
A perda da audição em pacientes que recebem 1g/dia deste fármaco por mais de 1 semana é menos
frequente, mas pode piorar se a dose for mantida por mais tempo e pode se desenvolver uma surdez
completa e permanente; NEOMICINA: é um dos aminoglicósidos mais ototóxicos, portanto não é
indicada a sua utilização por via sistêmica. Deve ser utilizada por via local, como por exemplo no caso de
otite externa. É importante lembrar que se há evidência ou suspeita de perfuração do tímpano, este
medicamento não deve ser usado. AMIKACINA: têm toxicidade vestibular baixa, mas possui toxicidade
coclear. É menos ototóxico que a GENTAMICINA, portanto pode ser usado como uma alternativa a este
medicamento. Macrolídeos: ERITROMICINA, AZITROMICINA e CLARITROMICINA; Factores
predisponentes a toxicidade por ESTRETPTOMICINA: Insuficiência renal, Insuficiência hepática,
Dose maior de 4g/dia, Administração por via E.V. AZITROMICINA e CLARITROMICINA, mais
recentes e com um espectro de acção maior que a ERITROMICINA, tem uma ototoxidade menor. A
surdez é para frequências dos sons usados nas conversas do dia, surge geralmente 3 dias após o início do
tratamento; geralmente reversível. Diuréticos da Ansa: ex FUROSEMIDA: O dano é devido ao edema
do sistema receptivo do ouvido interno. É geralmente auto-limitante e reversível em pacientes adultos.
Aparece logo após ter tomado o medicamento. A administração E.V. em pacientes com insuficiência
renal que estão a tomar também aminoglicósidos, causa surdez profunda e permanente. Anti-
inflamatórios não esteróides: ex ÁCIDO ACETILSALICÍLICO: O efeito ototóxico é determinado
por alterações metabólicas do ouvido interno, portanto são reversíveis, sendo mais frequentes em idosos e
em pacientes desidratados. Os sintomas desaparecem em 24-72 horas, após a suspensão do medicamento.
Anti-maláricos: QUININA: Sua toxicidade é a nível coclear causando surdez neurosensorial reversível;
Em caso de sintomas é aconselhável suspender o tratamento (pesar sempre risco vs benefício). Prevenção
de Ototoxicidade: Medicamento ototóxicos devem ser evitados nas seguintes condições: Gravidez,
Idosos e Pessoas com surdez ou audição diminuída.

_____________________________________________________________________________________
6. RINITE: é a inflamação da mucosa das fossas nasais. A rinite pode ser de vários tipos: aguda, crónica,
infecciosa, alérgica, congestiva, medicamentosa, gravídica ou atrófica. Neste bloco iremos abordar apenas
a rinite infecciosa, alérgica e medicamentosa.

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6.1. RINITE INFECCIOSA: É a infecção da mucosa nasal. É a infecção mais frequente das vias aéreas
superiores. É classificada em: aguda quando tem duração de 5-7 dias e crónica quando tem uma duração
superior que 2 semanas. Quadro Clínico: A rinite infecciosa é caracterizada por: Edema da mucosa nasal
por vasodilatação; Rinorreia: secreção do nariz que é transparente/ serosa em caso de etiologia viral e é
amarelada ou purulenta em caso de infecção bacteriana. Espirros frequentes; Prurido nasal inicial; Ardor
e secura das fossas nasais e da faringe; Obstrução nasal com voz anasalada; Hiposmia ou anosmia;
Febrícola pode estar presente ou não; Mal-estar geral; Cansaço; Dor de cabeça pode estar presente ou
não. TRATAMENTO: a rinite geralmente é auto-limitada e não precisa de nenhum medicamento;
Rinite viral: cura-se espontaneamente em 5-7 dias. Geralmente o tratamento com antibiótico não é
necessário; Pode ser administrado um vasoconstritor para reduzir o edema e a rinorréia como a
FENILEFRINA 0,5% gotas: 1 gota por narinas a cada 4 horas por 3-4 dias. É importante não usar o
vasoconstrictor mais do que 4 dias para evitar a síndrome de ‘rinite medicamentosa’. Gotas de
SORO FISIOLÓGICO são igualmente eficazes, constituindo descongestionantes nasais baratos. Pode
ser necessário, para alívio dos sintomas, o uso de anti-histamínicos (CLORFENIRAMINA 4 mg de 8
em 8 horas), corticóides orais (PREDNISOLONA 10-20 mg/dia) e analgésicos (IBUPROFENO 200-
400 mg de 8 em 8 horas).

6.2.RINITE ALÉRGICA: É a inflamação da mucosa nasal causada por alérgenos (substâncias que
desencadeiam alergia). Quadro Clínico: Os sinais e sintomas aparecem após um tempo variável da
exposição ao alérgeno, geralmente após minutos ou horas e continuam por todo o tempo em que o
indivíduo fica exposto ao alérgeno ou até semanas após a suspensão da exposição, dependendo do grau de
inflamação provocada. Os sinais e sintomas característicos são: Espirros frequentes, chamados espirros
em “salva”; Rinorreia serosa ou aquosa abundante; Obstrução nasal; Intenso prurido nasal e/ou no palato
e nos olhos com lacrimejo. O prurido nasal pode induzir ao hábito de fricção frequente do nariz com a
palma da mão, gesto conhecido como “saudação alérgica”. Anosmia ou hiposmia; Dor de cabeça ou
sensação de cabeça cheia ou pesada; Anorexia: ou falta de apetite em casos graves; Insónia: em casos
graves; Dependendo da hipersensibilidade do indivíduo ao alérgeno causal, a inflamação pode progredir
até as vias respiratórias inferiores e determinar uma sintomatologia característica de asma com
broncoespasmo mais ou menos grave e dificuldade de respirar. TRATAMENTO: Além de evitar o
máximo possível a exposição ao alérgeno e aplicação de descongestionantes nasais tópicos (EFEDRINA,
FENILEFRINA), é necessário iniciar o tratamento com medicamentos anti-histamínicos orais e
corticóides para reduzir a vasodilatação e os sintomas. CLORFENIRAMINA 4mg de 8 em 8 horas;
PREDNISOLONA 10-20mg/dia durante 4-5 dias, com progressiva redução da dose nos dias seguintes.
Bronocodilatadores em caso de broncoespasmo associado.

6.3. RINITE MEDICAMENTOSA: É um distúrbio de rebote da congestão nasal, geralmente crónica,


causada pelo uso excessivo de vasoconstrictores tópicos. É também chamada rinite de “rebound” ou
rinite química. Geralmente surge após 5-7 dias de uso da medicação. Os medicamentos que
frequentemente causam este tipo de reacção são: a EFEDRINA, a FENILEFRINA,
OXIMMETAZOLINA. Quadro clínico: Congestão nasal crónica sem rinorréia e sem espirros, com
roncos e respiração pela boca. Mucosa nasal hiperemiada, com áreas puntiformes de sangramento, com
muco. Raramente a mucosa está pálida. Não é ligada as estações do ano ou a hábitos de vida do paciente
de ficar ao ar ou em ambientes fechados. TRATAMENTO: Retirar o medicamento em causa; Se não

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melhora após suspensão do medicamento, fazer um curto curso de PREDNISOLONA 10 – 20 mg/dia


por 4-5 dias,

7. SINUSITE: É a inflamação da mucosa dos seios perinasais. Nos adultos o seio mais afectado é o seio
maxilar, seguido do etmoidal e do frontal. Quadro clínico: Os sinais e sintomas da sinusite aguda e
crónica são similares, diferem somente na duração. A sintomatologia é variável, dependendo do seio
afectado: Sinusite maxilar: dor na região geniano-malar espontânea ou a palpação, dor nos dentes,
cefaleia frontal; Sinusite frontal: dor na área de projeção do seio frontal, cefaleia frontal; Sinusite
etmoidal: dor entre os olhos (ângulo interno do olho), atrás dos olhos e cefaleia frontal; Sinusite
esfenoidal: dor menos localizada, as vezes referido ser na região occipital e vertex; Outros sintomas
associados podem ser: Cefaleia que aumenta ao abaixar a cabeça ou tossir; Hiperemia do nariz, bochechas
ou pálpebras; Mal-estar generalizado; Secreção purulenta ou verde do nariz, que pode também não estar
presente, e o paciente referir que não consegue eliminar as secreções do nariz; Febre é geralmente ausente
ou há febrícula, se presente significa uma extensão do processo infeccioso; A mucosa nasal é hiperemiada
e edematosa; Tosse persistente e seca se a orofaringe for afectada; Dor de dentes da arcada superior;
Hiposmia; Sensação de ter os ouvidos “cheios”, “entupidos”; Especificamente na sinusite crónica podem
ser presentes:Tosse crónica seca, Febre de origem desconhecida, Dor dos dentes e Halitose.
TRATAMENTO: O tratamento da sinusite tem o objectivo de melhorar a drenagem do conteúdo dos
seios paranasais, controlar a infecção e evitar as complicações. Inalação de vapor aquoso para determinar
uma vasoconstrição e diluição das secreções, melhorando a drenagem; Descongestionantes nasais com
vasoconstritores (EFEDRINA, FENILEFRINA). A sinusite viral cura espontaneamente e não precisa
antibióticos. A sinusite bacteriana é tratada com antibióticos focados no agente causal:
AMOXICILLINA ou AMOXICILLINA E ÁCIDO CLAVULÂNICO: cpr 500mg por via oral, 3
vezes ao dia durante 2 semanas ou ERITROMICINA, em caso de alergia à AMOXICILLINA: cpr
500mg por via oral a cada 6h durante 2 semanas ou COTRIMOXAZOL: cpr 480mg por via oral 2 vezes
ao dia durante 2 semanas; METRONIDAZOL, associar em caso de infecção suspeita por anaeróbios
(infecção dental): cpr 500mg por via oral 3 vezes ao dia durante 2 semanas; Em caso de exacerbação de
sinusite crónica: AMOXICILINA ou AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂMICO (nas doses já
referidas); TETRACICLINA cpr 500mg por via oral a cada 6h; Na sinusite crónica a duração do
tratamento deve ser de 4-6 semanas e devem ser associados aos seguintes medicamentos:
Descongestionantes da mucosa nasal por uso local; Corticosteróides por via oral, PREDNISOLONA
20-40 mg/dia durante 4-5 dias.

8.FARINGITE E FARINGO-AMIGDALITE: A faringite é a inflamação aguda da faringe. Quando as


amígdalas estão infectadas fala-se de faringo-amigdalite. Quadro clínico: Os sintomas característicos
incluem: Faringodinia: dor na região da oro-faringe e amígdalas; Disfagia; Sensação de boca seca e de
queimadura faríngea; Febre, que pode estar ausente ou baixa se a causa for viral, mais alta se a causa for
bacteriana. Dor à palpação dos gânglios do pescoço; O exame físico da cavidade oral e orofaringe deve
pesquisar os seguintes sinais: Faringite: Mucosa da cavidade oral na região dos pilares anteriores e
posteriores: hiperemiada; Língua hiperemiada, com aspecto de casca/pele de morango em caso de
etiologia bacteriana por Estreptoccco Beta hemolítico do grupo A; Linfadenopatia a nível dos gânglios
cervicais, o volume dos gânglios aumenta, tornam-se dolorosos e móveis com a palpação. É mais
acentuada se a etiologia for bacteriana. Faringo-amigdalite: Mucosa da cavidade oral na região dos
pilares anteriores e posteriores e das amígdalas: hiperemiada; Hipertrofia e hipermia das amígdalas

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bilateralmente; Presença de placas de diferentes características dependendo do agente etiológico: são


amareladas ou esbranquiçadas nas amígdalas em caso de etiologia por estreptococco; as placas têm
aspecto de membranas de cor cinzenta e sua remoção com a espátula mostra áreas subjacentes de
hemorragias em caso de Difteria; as amígdalas têm áreas de hiperemia puntiforme em caso de etiologia
viral; Língua hiperemiada, com aspecto de casca/pele de morango em caso de etiologia bacteriana por
Estreptoccco Beta hemolitíco do grupo A Linfadenopatia a nível dos gânglios amigdalianos,
submaxillares, submentonianos: o volume dos gânglios aumenta, ficam dolorosos e móveis com a
palpação. É mais acentuada se a etiologia for bacteriana. O aparelho visual pode ser envolvido,
especialmente em caso de infecção viral, com presença de conjuntivite serosa. O aparelho auditivo pode
ser envolvido, especialmente em caso de infecção viral e afectar o ouvido médio com hiperémia da
membrana timpânica.CONDUTA: A faringite viral não precisa de tratamento específico, somente de
antipiréticos e anti-inflamatórios como o PARACETAMOL 500mg-1000mg a cada 8h durante 3-4
dias ou ACIDO ACETIL SALICILÍCO 500mg a cada 8h durante 3-4 dias. IBUPROFENO e
DICLOFENAC são AINEs igualmente adequados para o tratamento sintomático. A faringite ou
faringo-amigdalite por Estreptococco Beta hemolítico do grupo A é tratada com Penicillinas:
PENICILINA V (FENOXIMETILPENICILINA) oral, 500 mg de 6 em 6 horas durante 10 dias, ou
PENICILINA BENZANTÍNICA, 1.200.000 UI IM dose única, pode ser aplicado se adesão é um
problema para o paciente, ou AMOXICILINA ou AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂMICO
500mg de 8 em 8 horas durante 10 dias, sobretudo para prevenir a febre reumática. Em caso de alergia a
Penicilina como alternativa pode ser usada a ERITROMICINA oral 500 mg de 6 em 6 horas durante 10
dias. O abscesso periamigdalino trata-se com PENICILLINA CRISTALIZADA 2.000.000 UIa E.V.
a cada 6 horas. Usualmente o pus não drena espontâneamente e será necessário fazer drenagem cirúrgica.
Após a resolução da febre e melhoria dos sintomas o tratamento E.V. deve ser substituído pelo forma oral
com AMOXICILINA durante 12 dias; Em caso de complicação com febre reumática é necessário iniciar
a profilaxia para prevenir sua repetição administrando PENICILLINA BENZATINA 1.200.000UI IM
uma vez por mês.

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9.LARINGITE: É a inflamação da mucosa da laringe. Quadro clínico: O sintoma principal é a
disfonia,ou rouquidão e a mudança do tom de voz, que é reduzida até chegar a afonia ou perda da voz.
Sinais de inflamação da mucosa orofaríngea podem estar presentes. Em casos graves: Febre, Mal-estar,
Disfagia, Estridor, Faringodinia e Dispneia se há também edema laringeo. CONDUTA: Em caso de
etiologia viral: Repouso vocal; Inalações de vapor aquoso; Evitar a exposição aos agentes irritantes:
evitar fumar; IBUPROFENO como anti-inflamatório: 200 - 400mg a cada 8h durante 4-6 dias; Caso a
laringite esteja associada à uma bronquite ou seja bacteriana, é necessário tratar a bronquite com
AMOXICILLINA (500 mg) E ÁCIDO CLAVULÂNICO (125mg) oral, 500 mg de AMOXICILINA a
cada 8h durante 10 dias, ou TETRACICLINA oral: 500mg a cada 6h durante 10 dias.

10. CRUPE: O CRUPE ou Laringotraqueobronquite é a inflamação da mucosa da laringe, traqueia e


brônquios; Pode ser também causado por espasmo, denominado crupe espasmódico É uma doença típica
das crianças até aos 6 anos de idade. Quadro clínico: Os sintomas iniciais da laringotraqueobronquite
são: Febrícola, rinorréia e tosse leve; A noite geralmente aparece o sintoma tipico que é o estridor
inspiratório, rouquidão e uma tosse que parece o ladrar de cão. Esta tosse é o sintoma típico do CRUPE e
é fácil de identificar logo que o paciente entra no consultório. No exame físico é necessário avaliar as vias

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respiratórias superiores e as inferiores: O paciente parece inquieto; A voz pode ser normal ou com
roquidez; Há taquicardia, taquipneia; Há estridor inspiratório com retração dos músculos intercostais; A
auscultação dos pulmões é normal. CONDUTA: Os objectivos do tratamento do CRUPE é de reduzir o
desconforto respiratório. Administrar aerossol com SORO FISIOLÓGICO, 3ml e ADRENALINA 5-
10mg, que pode ser repetido a cada 2h; Corticóides EV: PREDNISOLONA 50 mg ou
HIDROCORTISONA 100 mg em casos moderado e grave.

11. EPIGLOTITE: É a inflamação aguda da região supraglótica da oro-faringe com inflamação da


epiglote e da região adjacente. Na população pediatrica é mais frequente entre 3 e 7 anos, mas qualquer
idade pode ser afectada. Quadro clínico: O aparecimento e a progressão da sintomatologia é rápida. Os
sintomas mais comuns são: Odinofagia; Disfagia; Prodromas de leve infecção das vias aéreas superiores;
Salivação abundante; No exame físico observa-se: Se paciente está agitado, fica sentado com boca aberta,
língua de fora e cabeça para frente com hiperextenção do pescoço para tentar respirar melhor; Há
salivação abundante e incontrolada; Se o paciente consegue falar, a voz esta anasalada; Dispneia grave
com retrações dos músculos intercostais, área supraclavicular, alejamento nasal; Febre; Estridor;
Taquicárdia; Taquipneia; Tosse pode estar ou não presente; Na auscultação pulmonar há redução da
entrada do ar, roncos bilaterais podem estar presentes. CONDUTA: É necessário reconhecer logo o
quadro de epiglotite pois pode levar à morte ou asfixia do paciente em poucas horas. Terapia antibiótica
com CLORANFENICOL E.V.: 500 a 1000 mg de 6 em 6 horas ou AMPICILINA 2-12 g/dia divididos
em 4 tomas; Corticoides EV: PREDNISOLONA 50 mg ou HIDROCORTISONA 100-200 mg Ev.

12. PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES MAIORES: Saliva é um fluido aquoso,


transparente, produzida pelas glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais pares e muitas outras
glândulas pequenas e inominadas espalhadas em torno da membrana mucosa bucal. As patologias mais
comuns das glândulas salivares são a infecção, a formação de cálculos na glândula submandibular e os
tumores da glândula parótida. As patologias das glândulas salivares podem manifestar-se com os
seguintes sinais/sintomas dependendo da glândula afectada: Aumento do volume: mono ou bilateral, com
ou sem dor; Dor espontânea e/ou com palpação e/ou durante a refeição; Boca seca por escassa formação
de saliva. SIALOADENITE: É a inflamação de uma glândula salivar. As glândulas mais frequentemente
envolvidas são as sub-mandibulares, mas as paróditas também podem ser afectadas. As principais causas
de inflamação são: Agentes infecciosos: vírus, bactérias; Cálculos: que determinam a sialolitíase;
Mecanismo auto-imune: exemplo da Sindroma de Sjögren; Causas não inflamatórias e não neoplásticas;
Neoplasias. SIALOADENITE INFECCIOSA: A sialoadenite infecciosa pode ser aguda ou crónica.
Pode ter as seguintes causas: Bactérias (mais frequentes que vírus): Staphylococcus aureus é o mais
frequente. Outras bactérias incluem Haemophilus influenzae, Streptococcus pyogenes, Escherichia coli,
Mycobacterium tuberculosis. Os Factores desencadeantes da infecção por bactérias são muitas vezes
resultado da desidratação com proliferação excessiva da flora da cavidade oral. A desidratação é causada
na maior parte dos casos por condições pós-cirúrgicas, na qual o paciente não bebe; radioterapia;
imunodeficiência relacionada a diabete mellitus, HIV e quimioterapia. Vírus: vírus da parotidite,
Coxsackievírus, Parainfluenza types I e II, Influenza A, e Herpes vírus. Quadro clínico: Aumento do
volume das glândulas afectadas (a sialoadenite aguda é mais frequente nas parótidas); Dor; Eritema da
pele sobre a glândula e tecidos adjacentes; Abcesso: pode ser a evolução da infecção ; Material purulento
que pode ser observado no ducto de Stenon ou Wharton, a nível do freio da língua (é a abertura do ducto
da glândula submandiluar). CONDUTA: Hidratação; Compressa morna e massagem na área afectada;

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

Sumo de limão (sialogogo) 3 vezes ao dia para estimular o fluxo salivar; Antibióticos orais:
AMOXICILINA (500mg) com ÁCIDO CLAVULÁNICO (125mg), 1 comprimido de 8 em 8 horas
durante 7-10 dias. Em pacientes alérgicos às penicilinas, usa-se a ERITROMICINA 500 mg de 6/6
horas. Na sialodenite crónica usar: AMOXICILINA com ÁCIDO CLAVULÂNICO (ou
ERITROMICINA nos pacientes alérgicos a penicilina) combinado com METRONIDAZOL 250 mg
de 8 em 8 horas durante 10 dias. No caso de suspeita de infecção viral, a infecção é auto-limitada e basta
o tratamento sintomático (analgésicos e AINES); Caso o paciente tenha sintomas gerais e seja séptico ou
haja um abcesso deve ser internado para tratamento E.V. e para drenagem do abcesso (refira estes casos)

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13. TRACOMA: É uma conjuntivite crónica infecciosa, caracterizada por exacerbações progressivas e
remissões da doença. É uma importante causa de cegueira em Países com escassos recursos, como
Moçambique. Quadro clínico: Início de uma conjuntivite, bilateral, caracterizada por hiperémia
conjuntival, edema palpebral, fotofobia e lacrimação, chamada “olho rosa”. Após 7-10 dias pequenos
folículos formam-se na conjuntiva palpebral superior e gradualmente aumentam de volume e número
durante 3-4 semanas, tornando-se um tecido de granulação de cor transparente-cinzento com folículos
inflamatórios ao redor. A fase seguinte é a formação do “pano” ou seja neoformação de vasos sanguíneos
na parte superior da córnea. Esta fase pode durar alguns meses até 1 ano, dependendo do tratamento e da
resposta ao mesmo; O estadio a seguir é a formação de entropion. Nesta fase os cílios ficam por dentro
dos olhos e lesionam a córnea, contribuindo para a formação de cicatrizes. Há também a obstrução do
ducto lacrimal: o epitélio da córnea torna-se opaco e espesso e a lacrimação diminui. Nas áreas
isquémicas do pano há formação de úlceras. O último estadio da doença é a cegueira; Há aumento dos
gânglios pré-auriculares. CONDUTA: O objectivo do tratamento é a cura da infecção e corte da cadeia
de transmissão, prevenindo deste modo as complicações, de entre as quais a cegueira. Tópico: com creme
oftálmico de TETRACICLINA a 1%: 2-3 aplicações ao dia durante 4-6 semanas + Sistémico via oral
com ERITROMICINA (500mg de 6/6 horas) ou DOXICICLINA (100mg de 12/12 horas) ou
TETRACICLINA (250-500mg de 6h/6h), durante 3 semanas.

14. OLHO VERMELHO: A hiperémia conjuntival ou “olho vermelho” é um dos sinais mais comum
de patologia do sistema visual. As causas de olho vermelho são numerosas, as mais comuns incluem: Não
severas: que geralmente passam após o tratamento; Trauma leve da conjuntiva: corpo estranho;
Conjuntivite de varias etiologias e duração, aguda ou crónica ; Hemorragia sub-conjuntival. Severas: que
podem levar à sequelas permanentes como perda da visão: Glaucoma agudo; Trauma grave; Infecções:
Chlamydia tracomatis, Neisseria gonorrea; Queratite ou inflamação da córnea que pode ter várias causas
(tracoma, exposição a luz do sol, uso de lentes de contacto, herpes vírus).

14.1. Causas Não Severas do Olho Vermelho: TRAUMA LEVE DA CONJUNTIVA: Qualquer
trauma do olho como uma contusão, presença de um corpo estranho como poeira ou insecto, que
determina uma irritação ou lesão da conjuntiva ou escoriação da córnea. Quadro clínico: em resposta ao
factor traumático há uma hiperemia conjuntival devido à irritação do epitélio da conjuntiva e inflamação
da mesma. O paciente reclama de incómodo, prurido. TRATAMENTO: geralmente não é necessário
nenhum tratamento, somente lavagem do olho com água; em caso de corpo estranho é necessário a sua;
em caso de escoriação da córnea é necessário pomada antibiótica de TETRACICLINA 4 vezes ao dia
e bandagem do olho por 4-5 dias

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

14.2. CONJUNTIVITE: é uma inflamação da conjuntiva. A conjuntivite é definida aguda se tem


duração de cerca uma semana, crónica se tem duração maior de 1-2 semanas e pode ser caracterizada por
recorrências de conjuntivite aguda durante meses ou anos. O quadro clínico é caracterizada por: Edema
palpebral: mínimo em caso de etiologia viral, moderado em caso de etiologia bacteriana; Secreção
conjuntival: transparente em caso de etiologia viral e amarelada, (purulenta) em caso de etiologia
bacteriana; Presença de folículos na conjuntiva palpebral, em caso de etiologia viral; Gânglios pré-
auriculares aumentados e dolorosos a palpação; Prurido ausente; A evolução é benigna e cura-se em
alguns dias:

A conjuntivite viral geralmente não precisa de nenhum medicamento;

A conjuntivite bacteriana precisa de tratamento com antibiótico local: TETRACICLINA pomada


oftálmica: 3 aplicações ao dia por 4-5 dias; em caso de Chalmydia tracomatis.

Conjuntivite Alérgica: É causada por alergénios que podem ser pólenes de plantas, casca do pêlo de gato
ou outros animais. A transmissão é por contacto directo do alérgeno com a conjuntiva; A sintomatologia é
caracterizada por: Edema palpebral: de moderado a muito importante; Prurido geralmente intenso;
Secreção transparente e ou mucosa; Não há aumento dos gânglios cervicais ou pré-auriculares; Presença
de papilas na conjuntiva tarsal.; A evolução: geralmente evolui dependendo da exposição ao alérgeno; Se
o paciente evitar a exposição a conjuntivite cura-se em 1-2 semanas com o uso de anti-histamínico orais:
CLORAFENIRAMINA cpr 4mg a cada 8h; Se a causa é pólen, o paciente deve tentar reduzir a sua
exposição ambiental e tratar a conjuntivite como acima, com anti-histamínico orais.

14.3. Causas Severas do Olho Vermelho: GLAUCOMA: inclui muitas entidades clínicas que tem em
comum o aumento da pressão intra-ocular, que pode determinar uma redução leve ou grave da capacidade
de visão até a cegueira. No adulto, o glaucoma primário pode ser de 2 tipos: O glaucoma agudo ou
crónico de ângulo fechado; O glaucoma crónico simples de angulo aberto; Existe o glaucoma secundário
a doenças oculares pré-existentes como uveíte, tumor intra-ocular e catarata.

Glaucoma Agudo: é chamado também de glaucoma de ângulo fechado; é uma condição devida ao
aumento da pressão por obstrução da drenagem do humor aquoso dentro da câmara anterior do olho. É
caracterizado por ataques súbitos de aumento da pressão intra-ocular, geralmente unilateral, com forte dor
e perda da visão. Quadro Clínico: Há pródromos com episódios transitórios de redução da acuidade
visual, visão alterada da luz, dor ocular e cefaleia.A pupila fica em midriase fixa e sem reacção à luz. Esta
sintomatologia pode durar poucas horas e apresentar-se várias vezes antes da sintomatologia típica do
glaucoma. O ataque típico é caracterizado da rápida perda da visão e dor lancinante no olho afectado que
irradia-se seguindo o decurso do nervo facial. Podem estar presentes náuseas e vómito, edema da pálpebra
superior, lacrimação, hiperemia conjuntival nas áreas periféricas, midriase pupilar fixa. A cada ataque há
uma redução progressiva da capacidade visual e um défice do campo visual. CONDUTA: O objectivo do
tratamento inicial do glaucoma primário de ângulo fechado é o controlo da pressão intra-ocular.
Idealmente seria o início do manejo com ACETAZOLAMIDA (diurético inibidor da anidrase
carbónica). MANITOL a 20% (inj.12,5 g/50 ml – frasco de 500 ml), por via EV, na dose de 1-2
gramas/kg a correr em 30 a 60 min.

15. CELULITE ORBITAL: É uma inflamação dos tecidos da órbita, geralmente devido à uma patologia
infecciosa de origem dos seios paranasais, após um trauma ou seguindo uma infecção dos dentes. Quadro

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

Clínico: A celulite orbital é geralmente unilateral e é caracterizada por: Edema palpebral: é geralmente o
sinal inicial; Dor intensa da órbita; Ptose ou protrusão do bulbo ocular para fora da cavidade orbitaria;
Motilidade ocular diminuída e dolorosa nas várias direcções; Edema conjunctival (quemose); Febre; Mal-
estar geral. CONDUTA: Por causa da evolução rápida das complicações, a progressão e resposta ao
tratamento da celulite orbital devem ser seguidos. É aconselhável, portanto internar o paciente e iniciar
rapidamente o tratamento parenteral com: AMPICILINA por via endovenosa: 1-3 gr a cada 6 horas ou
PENICILINA CRISTALIZADA 2-3 milhões UI EV de 6 em 6 horas + GENTAMICINA EV 160 ou
249 mg EV 1 vez por dia ou 80 mg de 8 em 8 horas até a melhoria dos sinais locais e o desaparecimento
da febre; depois continuar com AMOXICILINA (500 mg) e ÁCIDO CLAVULÂNICO (125 mg) por
via oral a cada 8h por 10 dias.

16. TRAUMA OCULAR DE CAUSA QUÍMICA: Este tipo de trauma é causado por substâncias
químicas em contacto com o olho e suas estruturas. Geralmente este contacto é acidental. O agente
químico pode ser de natureza básica ou ácida, e a lesão varia de acordo com a natureza do agente:
Substância básica - penetra em profundidade e continua a danificar os tecidos em profundidade.
Substância ácida - determina uma lesão superficial com limitação do dano. Geralmente estas substâncias
determinam uma queimadura dos tecidos e devem ser tratados logo. Quadro Clínico: O contacto com
uma substância química provoca uma dor intensa imediata. O paciente não consegue abrir o olho afectado
por causa do espasmo da musculatura das pálpebras (blefaroespasmo). Pode haver hiperemia da
conjuntiva com hemorragia conjuntival, dependendo da entidade e profundidade da queimadura.
CONDUTA: O tratamento deve ser imediato, pois trata-se de uma emergência, através dos seguintes
passos: Lavagem (irrigação) com abundante (vários litros) água estéril ou SORO FISIOLÓGICO por
um mínimo de 30 minutos, anestesia prévia do olho com gotas de PROPARACAINA 1% (1 ou 2 gotas),
se disponível. A seringa com o SORO FISIOLÓGICO deve ser conectada com um cateter EV cuja
extremidade é posta logo acima da superfície conjuntival. Gotas de ATROPINA 1%: 1 gota a cada 8-12h
para o tratamento da dor até a dor desaparecer. Caso haja material ou secreções que aparecem durante a
irrigação podem ser retirada usando um cotonete estéril apoiado no canto nasal do olho. Pomada
antibiótica local como a TETRACICLINA oftálmica: 1 aplicação com bandagem compressiva. Se a dor
é muito intensa dar codeína cpr 30-60mg por via oral dose única

17. DACRIOCISTITE: É a infecção do saco lacrimal, geralmente secundária à obstrução do ducto


lacrimonasal. Quadro clínico: Aparece dor, hiperemia e edema nas áreas do saco lacrimal, ou seja, na
área da pele adjacente ao canto interno do olho; lacrimação abundante, conjuntivite e infecção da mucosa
palpebral e febre. Muitas vezes apresenta com pus no olho. Em caso de dacriocistite crónica pode estar
presente somente uma tumefacção da área do saco lacrimal. CONDUTA: O tratamento consiste na
administração de AMOXICILINA (500mg) e ÁCIDO CLAVULÂNICO (125 mg): 1 cpr por via oral 3
vezes por dia para 7 dias + Aplicação de compressas úmidas e mornas sobre a pálpebra afetada durante
10-15 minutos, 3 vezes ao dia.

18. HORDÉOLO (OU TERÇOLHO): O hordeolo é uma infecção aguda com formação de um abscesso
das glândulas de Zeis (hordéolo externo) ou da glândula de Meibomius (hordéolo interno), sendo este
último mais raro. É popularmente conhecido como terçol, terçolho ou viúvo. Quadro Clínico: A
sintomatologia compreende sinais e sintomas típicos de uma inflamação aguda. Aparece como um nódulo
hiperémico, edematoso, doloroso e com pele sobreposta quente na borda da pálpebra afectada. É

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geralmente centrado na base de um cílio. O nódulo é geralmente único e unilateral, mas pode ser bilateral
ou múltiplos nódulos podem coexistir. A evolução consiste em maturação do abcesso e drenagem externo
espontâneo. O hordéolo interno pode evoluir para um calázio (vide mais adiante). Raramente a
inflamação extende-se aos tecidos adjacentes e pode determinar uma celulite pré-orbital/pré-septal.
CONDUTA: O hordéolo cura-se espontaneamente em 1-2 semanas. O tratamento consiste em manter a
higiene das pálpebras lavando o olho afectado e removendo as eventuais secreções, colocar compressas
húmidas e mornas e fazer massagem da lesão por 10 minutos 4 vezes ao dia até a drenagem espontânea. É
necessário a aplicação de uma pomada antibiótica (BACITRACINA) em caso de ruptura do abcesso e
drenagem do conteúdo para evitar a infecção de outras estruturas do olho, ou se houver uma conjuntivite
associada: aplicar TETRACICLINA pomada oftálmica 4 vezes ao dia por 3-4 dias. Em caso de celulite
pré-orbital é necessário administrar AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂNICO por via oral como
descrito acima.

19. CALÁZIO é a inflamação crônica da glândula de Meibomius ou de Zeis. Quadro Clínico: Antes do
chalázio aparecer o paciente refere um desconforto/incómodo da pálpebra afectada, seguido por
inflamação aguda e edema da mesma. Depois há o surgimento de um nódulo, geralmente único
(raramente múltiplo), duro, fixo e não doloroso na parte tarsal da pálpebra. As pálpebras superiores são as
mais afectadas já que as glândulas de Meibomius são mais numerosas nas pálpebras superiores.
CONDUTA: O tratamento consiste em: Manter a higiene das pálpebras lavando o olho afectado e tirando
as eventuais secreções; Por compressas húmidas e mornas durante 10-15 min, 2 vezes ao dia; Fazer
massagem da pálpebra com o dedo indicador acima do nódulo por 10 minutos, 4 vezes ao dia; Aplicar
gotas de HIDROCORTISONA 0,5%-1%: 1 gota 4 vezes ao dia até o calázio desaparecer. Caso haja
sobre infecção bacteriana é necessário administrar pomada antibiótica local como a TETRACICLINA
ou CLORANFENICOL oftalmico ou em casos mais graves: DOXICICLINA cpr 100mg por via oral:
1 cpr por dia por 10 dias. Caso seja um calázio evoluído de um hordéolo interno é necessário seguir o
tratamento do hordéolo associando a pomada de CORTISONA.

20. XEROFTALMIA: É uma patologia caracterizada por alterações do epitélio da córnea e da


conjuntiva e da função da retina, causada pela deficiência de Vitamina A. Quadro Clínico: A
sintomatologia inicia com a secura dos olhos, irritação conjuntival, visão ofuscada e visão alterada das
formas. Aparece também a cegueira nocturna ou hemeralopia, na qual o paciente não consegue ver na
escuridão. Esta fase é reversível após o tratamento com vitamina A. A evolução da doença com afecção
da córnea com úlceras e cicatrizes é irreversível. CONDUTA: O tratamento da xeroftalmia e da
cegueira nocturna é feito com a administração de VITAMINA A por via oral, 200.000UI/por dia
durante o primeiro, terceiro e sétimo dia após o diagnóstico. Em caso de úlceras e cicatrizes na córnea a
administração de VITAMINA A não é eficaz - refira de imediato o paciente. Prevenção: A prevenção é
feita com base numa dieta adequada (cenoura, batata doce, abóbora, manga, espinafre, leite, gema de ovo,
entre outros) e com administração de VITAMINA A. As doses nos adultos, na profilaxia da
hipoavitaminose A, são: 200.000 UI de 6/6 meses. Mulheres nos pós parto: 200.000 UI.

21. CÁRIE DENTÁRIA: A cárie dentária é uma doença microbiana dos tecidos calcificados dos dentes
que se caracteriza pela desmineralização da porção inorgânica e a destruição da substância orgânica do
dente. A cárie dentária é uma das patologias dentárias mais antigas e bem estudada. A ciência que se
dedica exclusivamente ao estudo da cárie, é a Cariologia. Quadro Clínico: Sintomas: Na fase inicial da

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cárie, esta é assintomática. A sintomatologia da cárie dentária inicia a partir do momento em que esta
atinge a dentina e as estruturas mais abaixo do seguinte modo: Dor no dente ao beber algo frio ou comer
algo doce, que melhora quando se remove o estímulo. O qual indica que a polpa está ainda sã; Dor no
dente persistente, mesmo depois do estímulo (por exemplo, água fria). Ou dor também sem qualquer
estímulo (dor de dentes espontânea) quando a cárie atinge a polpa. Quando as bactérias atingem a polpa
dentária e esta morre, a dor pode cessar temporariamente. Mas em breve (de horas a dias), o dente volta a
doer, tanto ao morder como ao pressioná-lo com a língua ou com um dedo, porque a inflamação e a
infecção se propagaram para além da extremidade da raiz, causando um abcesso (uma acumulação de
pus). Sinais: O primeiro sinal da cárie são manchas esbranquiçadas ou acastanhadas no dente afectado.
Nas fases mais avançadas podem se observar cavitações ou orifícios nos dentes, a superfície dental pode
mostrar-se mole quando tocada com um instrumento pontiagudo e com dor ao toque. CONDUTA: O
tratamento da cárie dentária é feito pelo estomatologista. Alívio de dor: Dependendo da intensidade da
dor, e da condição médica do doente o seu alívio pode ser conseguido seguindo a escala de alívio da dor:
Não opiáceos – uso de PARACETAMOL, ACIDO ACETILSALICÍLICO e IBUPROFENO:
PARACETAMOL comprimido de 500 mg: 0.5-1gr de 4/4 ou 6/6h oral (dose máxima 4g/dia) até a dor
aliviar ou ACIDO ACETILSALICÍLICO comprimido de 500 mg: 0.5-1gr de 4/4 ou 6/6h oral (dose
máxima 4 g/dia). até a dor aliviar ou IBUPROFENO comprimidos de 200 ou 400 mg: 200-400 mg
comprimido, oral 8/8 h até a dor aliviar (dose máxima 2,400mg/dia).

22. ESTOMATITE AFTOSA: A estomatite aftosa, comummente conhecida por aftas, são lesões
vesiculares únicas ou múltiplas, que se rompem e formam úlceras arredondadas, com bordas elevadas,
bastante dolorosas. São amareladas e cobertas por uma camada amarela de círculo eritematoso. Elas
podem localizar-se em qualquer parte da cavidade bucal. Quadro Clínico: O quadro clínico caracteriza-
se por dor ou ardor na boca durante a ingestão de alimentos, principalmente alimentos ácidos ou
alimentos picantes. O paciente refere saída de “ferida” na boca qe devido a uma queimadura de chá ou
outro alimento quente. Raramente evolui com sintomas sistémicos, e quando presentes, são mais
atribuídos a doença coexistente, do que a lesão aftosa. No exame físico o paciente apresenta lesões
ulcerosas, recobertas por uma membrana fibrinopurulenta branco amarelada, removível que medem em
torno de 3 a 10mm nas úlceras menores ou 1 a 3cm nas úlceras maiores, muito dolorosas. Afectam
principalmente a mucosa jugal e labial, seguidos pelo ventre da língua, fundo do vestíbulo, assoalho da
boca e palato mole. A infecção tem uma duração de cerca de 7 a 14 dias nas úlceras menores e curam sem
deixar cicatriz ou de duas a seis semanas nas úlceras maiores, neste caso deixando cicatriz. A úlcera da
afta, pode ser facilmente confundida com a úlcera da Herpes simplex. CONDUTA: Anti-inflamatórios e
Analgésicos: ÁCIDO ACETILSALICÍLICO comprimido de 500 mg: 0.5-1gr de 4/4 ou 6/6 h oral (dose
máxima 4 g/dia) ou IBUPROFENO comprimido de 200 ou 400 mg: 200-400 mg comprimido, oral 8/8 h
(dose máxima 2,400mg/dia) ou PARACETAMOL comprimido de 500 mg: 0.5-1gr de 4/4 ou 6/6h oral
(dose máxima 4g/dia) Anti-sépticos: CLOREXIDINA: Bochechar durante 1 minutos 2 a 3x por dia
com 10 ml de uma solução de CLOREXIDINA a 0,25% (isto equivale a 5 ml de CLOREXIDINA a 5%
diluída em 95ml de água); SOLUÇÃO SALINA; Os anti-sépticos além de manterem a cavidade oral
limpa, ajudam a reduzir a inflamação e promovem a cura: A CLOREXEDINA pode provocar irritação
da pele e mucosas. A aplicação bocal pode provocar coloração acastanhada reversível da língua e dentes e
ardor na boca. Incompatível com sabão e agentes amoniacais, incluindo pastas dentífricas. Se se usarem
estas, fazer lavagem abundante com água antesda aplicação da CLOREXIDINA. Em caso de carência
de ferro, ÁCIDO FÓLICO ou VITAMINAS B6 E B12, dar o suplemento vitamínico em falta.

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SULFATO FERROSO comprimidos 200mg: 1 comprimido 2-3 vezes/dia; ÁCIDO FÓLICO


comprimidos 5mg: 1 comprimido/dia; COMPLEXO B: 1 comprimido de 12/12 horas;
MULTIVITAMINAS: 1 comprimido de 12/12 horas. Prevenção: Algumas medidas simples ajudam na
prevenção do aparecimento de aftas: Evitar tudo o que possa causar trauma, ainda que pequeno, na
mucosa oral, como por exemplo escovas de dentes com cerdas duras (recomenda-se o uso de escovas de
dentes com cerdas macias e firmes); Evitar dentífricos que contenham LAURIL SULFATO DE SÓDIO
(SDS) – em caso de propensão para o desenvolvimento de aftas; Restaurar qualquer superfície irregular
dos dentes; Evitar alimentos predisponentes; manter um diário de alimentação, este pode ajudar a
estabelecer uma relação de causa-efeito; Em caso de carência de ferro, Ácido Fólico ou VITAMINAS
B6 E B12, recomenda-se a ingestão da vitamina em falta, seja em alimentos ou suplementos vitamínicos.

23. GENGIVITES: A gengivite é a inflamação limitada dos tecidos moles que circundam os dentes. Não
inclui os processos inflamatórios que podem estender-se até a crista alveolar subjacente, ao ligamento
periodontal ou até ao cemento. A maior parte das gengivites ocorre por falta de higiene bucal adequada, o
que leva ao acúmulo da placa dentobacteriana que mais tarde mineraliza e se transforma em cálculo. A
inflamação gengival pode ser localizada ou generalizada. Os primeiros sinais de gengivite são: perda do
pontilhado e sangramento ao menor toque com a sonda e a presença de uma cor avermelhada e de edema
gengival. À medida que a lesão progride a gengiva vai-se tornando vermelho-brilhante, e as suas margens
podem estar deformadas, reduzidas ou hiperplásicas. Tipos de gengivite: Gengivite Ulcerativa Necrosante
(GUN) ou infecção de Vincent ou Boca de Trincheira); Gengivite relacionada à placa dentobacteriana;
Gengivite associada a medicamentos; Gengivite alérgica; Gengivite relacionada a infecção específica;
Gengivite relacionada a dermatoses. Do grupo de gengivites acima listados, falaremos apenas de dois
tipos a saber: Gengivite Ulcerativa Necrosante (GUN) ou infecção de Vincent ou Boca de Trincheira);
Gengivite relacionada a infecção específica.

23.1. GENGIVITE ULCERATIVA NECROSANTE (GUN): È a forma mais grave de todas as


gengivites, que no passado foi designada de Gengivite Ulcerativa Necrosante Agua (GUNA).
Actualmente não se aconselha o nome GUNA já que não existe a forma crónica da doença, pelo que se
recomenda o uso do nome GUN. Quadro clínico: Papilas interdentais edemaciadas, inflamadas e
hemorrágicas. Papilas deformadas com áreas de necrose em cratera cobertas por uma pseudo membrana
acinzetanda; Odor fétido, dor intensa, hemorragia espontânea e acúmulo de restos necróticos;
Linfadenopatia local, febre e mal-estar; Perda de aderência do dente com consequente mobilidade ou
perda do dente. Pode evoluir para uma periodontite ulcerativa necrosante, que por sua vez pode evoluir
para uma mucosite ulcerativa necrosante. Se a infecção se estender da mucosa para a pele a lesão chama-
se Noma (cancro oris) da face (que será abordada nas aulas de Pediatria). CONDUTA: iniciar com o uso
de antibióticos: METRONIDAZOL 500mg, EV de 8/8 h; PENICILINA G SÓDICA, 1.000.000 UI
EV de 6/6 h; Nota: Administrar por via E.V. lenta ou, de preferência, diluída em 100ml de DEXTROSE
A 5% ou SORO FISIOLÓGICO e perfundir durante 30 a 60 minutos. OU: DOXICICLINA
comprimido 100mg, 1 comprimido de 12/12h E METRONIDAZOL 500mg, EV de 8/8 h; Para além
disso medidas outras medidas tais como: Melhorar a higiene oral; Procurar doenças sistémicas como HIV
ou diabetes e trata-las; Recomendar terapia de relaxamento para diminuir a tensão nervosa, como
exercício físico leve ou massagens terapêuticas.

23.2. ESTOMATITE HERPÉTICA RECIDIVANTE: Clinicamente caracteriza-se por sintomas menos


intensos e as lesões se iniciam como vesículas com um a 3 mm que se rompem rapidamente e formam

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grupos de máculas eritematosas, que podem coalescer ou aumentar ligeiramente de tamanho. O epitélio
afectado é perdido, e desenvolve-se uma área amarelada central de ulceração.A cicatrização ocorre entre 7
a 10 dias. CONDUTA: A GHA e a estomatite herpética recidivante são doenças autolimitadas, portanto,
o seu tratamento tem como objectivo manter o doente o mais confortável possível e inclui: Bochechar
durante 1 minuto 2 a 3x por dia com 10 ml de uma solução de CLOREXIDINA a 0,25% (isto equivale a
5 ml de CLOREXIDINA a 5% diluída em 95ml de água). IBUPROFENO comprimidos de 200 ou 400
mg: 200-400 mg comprimido, oral 8/8 h (dose máxima 2,400mg/dia). OU PARACETAMOL
comprimido de 500 mg: 0.5 1gr de 4/4 ou 6/6h oral (dose máxima 4g/dia); Beber muitos líquidos; Ingerir
alimentos frios e moles, entre os quais leite, papas, gelatinas, sopa fria, fruta esmagada (banana, maçã).
Evitar os citrinos (ex: laranja, limão) pelo facto da acidez poder agravar a dor; Evitar também alimentos
picantes ou condimentados (temperos).

24. CANDIDÍASE ORAL (CANDIDOSE): A candidíase oral é a infecção fúngica bucal mais comum
no homem, e por apresentar diversas manifestações clínicas muitas vezes é difícil fazer o seu diagnóstico.
Quadro Clínico: A candidíase oral tem várias formas clínicas, e as mais descritas são: Candidíase
Pseudomembranosa: também conhecida como “sapinho”, caracteriza-se pela presença de placas brancas
aderentes na mucosa bucal que lembram leite coalhado. Estas placas se distribuem na mucosa jugal,
palato, e superfície dorsal da língua. Em casos graves ela se estende até a orofaringe ou mesmo até ao
esófago – candidíase orofaríngea e candidíase esofágica, respectivamente. Podem ser removidas por
raspagem com um abaixador de língua ou por fricção com uma gaze seca. A mucosa à volta da lesão pode
estar normal ou eritematosa. Se a candidíase oral evoluir com sintomas, eles são leves. O paciente refere
sensação de queimação da mucosa bucal, dor á deglutição e um gosto desagradável na boca. Candidíase
Eritematosa: ao contrário da forma pseudomembranosa, os pacientes com candidíase eritematosa não
apresentam manchas brancas e nenhum outro componente branco com aspecto relevante. O paciente
refere sensação de queimadura na boca e observa-se uma língua com perda de papilas. A candidíase
eritematosa está muito associada ao uso prolongado de antibióticos de amplo espectro. CONDUTA:
NISTATINA suspensão oral, 100.000U.I./ml: 1 ml 4x por dia, após as refeições. Recomendar ao
paciente que deposite a suspensão por baixo da língua, espalhe-a na cavidade oral e a mantenha por pelo
menos 60 segundos. Depois bochechar com um pouco de água e deglutir a mesma. Em pacientes
seropositivos recomenda-se o uso de 5 ml de NISTANTINA oral 4x por dia, e continuar o tratamento até
pelo menos 48 horas após resolução das lesões. Em casos mais graves ou resistentes à NISTATINA,
trata-se com: FLUCONAZOL comprimidos de 200mg oral: 100mg/dia durante 7-14dias

25.MANIFESTAÇÕES ORAIS DA SÍFILIS: A sífilis é uma doença infecciosa sistémica, de


transmissão sexual, causada pelo microrganismo Treponema pallidum. É transmitida pelas seguintes vias:
Relações sexuais, incluindo os contactos urogenital e anorectal. Materno-fetal (sífilis congénita);
Transfusão de sangue contaminado.

SÍFILIS PRIMÁRIA: O cancro típico é uma úlcera, habitualmente única, indolor, redonda ou oval; A
úlcera é de contornos muito regulares, de 0,5 a 2cm, com fundo limpo, superfície lisa, rosada, exsudato
claro; A base é dura (cancro duro); Evolui com adenopatia regional; Se não tratada a lesão inicial cicatriza
dentro de 3 a 8 semanas; As lesões ocorrem mais comummente nos lábios, mas também em outras regiões
como língua, gengiva, palato, e amígdalas. TRATAMENTO: PENICILINA BENZATINICA 2,4
milhões UI I.M. dose única. Em caso de alergia a PENICILINA: usar DOXICICLINA 100 mg 2x dia
por 14 dias.

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SÍFILIS SECUNDÁRIA: É a fase de generalização da infecção, com aparecimento de sinais e sintomas


gerais. Durante este período surgem sintomas sistémicos tais como: Linfoadenopatia indolor; Dor de
garganta, de cabeça e músculo-esqueléticas; Anorexia; Perda de peso; Febre; Rigidez da nuca (muito
raramente); A sífilis afecta principalmente a pele e mucosas e as lesões são bilaterais e simétricas,
aparecendo sob várias formas (por isso a Sífilis é designada de grande imitadora): As lesões são placas
mucosas múltiplas não dolorosas de cor branco acinzentado e cobertas por uma superfície ulcerada.
Aparecem na língua, gengiva e mucosa oral. Todas estas lesões contêm treponemas. As lesões aparecem
em surtos sucessivos. Podem persistir por meses, ou desaparecer espontaneamente mesmo sem tratamento
(caso da sífilis latente), e aparecem mais tarde. Tem duração de 1 a 6 meses.TRATAMENTO:
PENICILINA BENZATINICA 2,4 milhões UI I.M. por semana x 3 semanas; Em caso de alergia a
PENICILINA: usar DOXICICLINA 100 mg 2x dia por 28 dias

SÍFILIS TERCIÁRIA: A lesão típica da fase terciária é o goma sifilítico intra-oral que afecta a língua e
o palato. Tem forma nodular, firme que se ulcera e pode produzir perfuração do palato. São indolores; As
queixas do doente são geralmente secundariam a dor óssea, que piora durante a noite. TRATAMENTO:
PENICILINA BENZATINICA 2,4 milhões UI I.M. por semana x 3 semanas; Em caso de alergia a
PENICILINA: usar DOXICICLINA 100 mg 2x dia por 28 dias.

26. ABCESSO DENTÁRIO: Abcesso dentário, é uma colecção de pus formada num dos espaços da
cavidade oral. Pode ser nos espaços periodontais, faríngeos, submandibulares ou sublinguais. Quadro
clínico: Sinais e sintomas locais: A gengiva afectada pode estar eritematosa e edematosa com uma
superfície lisa e vermelha ou pode ser hemorrágica, com uma coloração vermelho escura. E apresenta:
Dor latejante; Extrema sensibilidade à palpação; Mobilidade ou extrusão do dente adjacente; Mau hálito;
Linfadenopatia; Sabor amargo da boca e; Sangramento gengival; Nas fases mais avançadas, ao se fazer
uma leve pressão na gengiva afectada resulta na saída do pús que pode drenar na superfície através de um
trajecto fistuloso. Com a drenagem o abcesso se torna assintomático, mas pode apresentar exacerbação
aguda se a mucosa da superfície cicatriza e a pressão se eleve novamente. Sinais e sintomas sistémicos:
O paciente refere febre e mal-estar geral. Pode-se apresentar com aumento do pulso e da frequência
respiratória e muita sede. Em geral todos os abcessos dentários devem ser transferidos para o tratamento
com o estomatologista, entretanto, alguns casos necessitam de maior urgência, são eles: Saída de pus em
volta do colo de vários dentes; Dor intensa que só cessa quando administrados sedativos; Extensão da
inflamação para além da linha média, quando inicialmente ele era unilateral; Aumento da temperatura
local e sistémica ao longo dos dias; Aparecimento de queixas novas como vómitos, calafrios, dor toráxica,
dispneia, convulsões ou cianose; CONDUTA: Repouso no leito; Aumento de consumo de líquidos;
Analgésicos e anti-inflamatórios: (IBUPROFENO comprimidos de 200 ou 400 mg: 200-400 mg
comprimido, oral 8/8 h (dose máxima 2,400mg/dia). OU PARACETAMOL comprimido de 500 mg:
0.5-1 gr de 4/4 ou 6/6h oral (dose máxima 4g/dia); Antibióticos de amplo espectro: AMOXICILINA
500 mg de 8/8 horas cápsulas orais por 7 dias; Em infecções mais graves: PENICILINA
CRISTALIZADA 1.000.000 U.I./E.V de 6/6 horas por 7 dias. Se o doente tiver alergia as penicilinas,
pode-se usar um ERITROMICINA nas mesmas doses que a AMOXICILINA. Colocar compressas
mornas no local afectado. Bochechos com água morna salgada (a água não deve ter um sabor muito
salgado). OU Bochechar durante 1 minuto 2 a 3x por dia com 10 ml de uma solução de
CLOREXIDINA a 0,25% (isto equivale a 5 ml de CLOREXIDINA a 5% diluída em 95ml de água);

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27.HISTOPLASMOSE (DOENÇA DE DARLING): A histoplasmose é uma infecção fúngica sistémica


causada pelo fungo Histoplasma capsulatum. Transmite-se através da inalação de pó do meio ambiente
que contenha fungos. A histoplasmose é uma patologia fortemente associada a imunodepressão e a sua
apresentação típica é por manifestações pulmonares – histoplasmose pulmonar. A infecção por este fungo
também pode ocorrer em qualquer outra parte do corpo e quando atinge vários órgãos designa-se por
Histoplasmose disseminada. A maioria das lesões bucais da H. capsulatum ocorre com a forma
disseminada da doença. Quadro Clínico: Na forma aguda, que afecta principalmente os pulmões, o
paciente apresenta um quadro compatível com a síndrome gripal, que evolui com febre, cefaleia, mialgia,
tosse não produtiva e anorexia. A doença tem uma evolução de 2 semanas. Na forma crónica, que também
afecta os pulmões, clinicamente assemelha-se a tuberculose pulmonar, com tosse, perda de peso, febre,
dispneia, dor torácica, hemoptise, fraqueza e fadiga. Na forma disseminada, a infecção faz uma
disseminação progressiva para sítios extra-pulmonares. É comum em doentes imunodeprimidos, em
idosos ou em doentes malnutridos. Dependendo do órgão afectado o comportamento clínico da doença é
variável. A maioria das lesões bucais da H. capsulatum corre com a forma disseminada da doença. As
áreas mais comummente afectadas são: Língua; Palato; Mucosa jugal. As lesões apresentam-se como uma
úlcera solitária, dolorosa, de várias semanas de duração, embora algumas lesões possam aparecer
eritematosas ou brancas, com superfícies irregulares. As lesões ulceradas têm margens firmes e elevadas,
podendo ser indistinguíveis de uma úlcera maligna. CONDUTA: A histoplasmose aguda, devido ao seu
processo autolimitado, geralmente não requer tratamento específico, a não ser cuidados de suporte com
analgésicos e antipiréticos, bochechos com elixir bucal ou água morna salgada e uma dieta rica em
nutrientes. Analgésicos e antipiréticos: PARACETAMOL comprimidos de 500 mg: 0.5 - 1gr de 4/4 ou
6/6h oral até a dor acalmar (dose máxima 4g/dia). Ou IBUPROFENO comprimidos de 200 ou 400 mg:
200 - 400 mg oral de 8/8 horas até acalmar a dor (dose máxima 2,400mg/dia). Bochechar durante 1 a 2
minutos 3x por dia com 10 ml de uma solução de CLOREXIDINA a 0,25% (isto equivale a 5 ml de
CLOREXIDINA diluída em 95ml de água). Alternativamente à CLOREXIDINA, pode-se usar água
morna salgada.

EMERGÊNCIAS ESTOMATOLÓGICAS: Emergências médicas em estomatologia, são aquelas


situações ou doenças de instalação rápida e que colocam a vida em risco. Estas situações incluem: angina
de ludwing e alguns traumas orofaciais como as fracturas de Le Fort III, e lesões dos tecidos moles.

28.ANGINA DE LUDWING: Angina de Ludwig é uma forma severa de celulite. Ela se espalha
rapidamente pelo soalho da boca, regiões sublingual e submandibular. Quando a infecção penetra no
espaço submandibular, ela pode seguir o trajecto: espaço faríngeo lateral e segue para o espaço retro
faríngeo. Esta disseminação pode levar a obstrução das vias aéreas. Quadro clínico: Tumefacção
volumosa do pescoço, que em geral se estende até a clavícula; Alargamento posterior e protrusão da
língua (língua lenhosa); Restrição dos movimentos do pescoço; Disfagia, disfonia, disartria, sialorreia e
garganta dolorida; Febre e calafrios; Obstrução das vias aéreas (quando evolução sem tratamento), a qual
caracteriza-se por: Taquipneia, dispneia, taquicardia, sibilo, inquietação e necessidade do paciente se
manter na posição erecta. CONDUTA: METRONIDAZOL 500 mg E.V. de 8/8 h E PENICILINA G
SÓDICA 3.000.000 UI E.V de 6/6 h; Nota: Administrar por via E.V. lenta ou, de preferência, diluída em
100ml de DEXTROSE a 5% ou SORO FISIOLÓGICO e perfundir durante 30 a 60 minutos. Para além
disso deve-se manter as vias aéreas permeáveis e fazer o tratamento para o alívio da dor, de preferência

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com analgésicos e anti-inflamatórios: IBUPROFENO comprimido, 400mg oral de 8/8 h (dose máxima
2,400mg/dia)

XIV. SAÚDE MENTAL

1. TRANSTORNOS DE HUMOR: São transtornos cuja característica predominante é a alteração ou


perturbação do humor ou do afecto, no sentido de uma depressão (com ou sem ansiedade associada) ou
de euforia (exaltação do humor). O Transtorno Depressivo é mais comum nas mulheres e surge
geralmente entre 18 - 44 anos de idade. Pode ter como factores de risco: história familiar de depressão,
mulheres, idosos, classe social baixa, divorciados ou separados, acontecimentos traumáticos precoces
(perdas dos pais, abuso sexual, maus tratos), abuso de drogas. O Transtorno Bipolar é ligeiramente
predominante nas mulheres, em indivíduos com história familiar de transtorno bipolar e de alto nível
socioeconómico. Quadro Clínico: Transtorno de Humor Depressivo: O humor depressivo varia pouco
de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos “somáticos”, por
exemplo perda da libido. É importante diferenciar a tristeza da depressão. A tristeza é um fenómeno
normal que faz parte da vida psicológica dos indivíduos, tem uma duração limitada e não impede que o
indivíduo reaja com alegria à determinado estímulo agradável. Na Depressão a tristeza é patológica em
relação às causas, a duração e a intensidade e acompanha-se dos sintomas acima descritos. Por outro lado,
a depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por qualquer actividade. É um
transtorno que pode vir acompanhado ou não do sentimento de tristeza e prejudica o funcionamento
psicológico, social e de trabalho. Pode apresentar os seguintes sintomas: Humor deprimido ou redução do
humor; Perda de interesse e prazer; Redução da energia; Fatigabilidade aumentada mesmo após esforço
mínimo; Diminuição da actividade; Concentração e atenção reduzidas; Diminuição da auto - estima e
autoconfiança; Ideias de culpabilidade e ou de inutilidade; Visões pessimistas do futuro; Ideias ou actos
autodestrutivos ou suicídio; Diminuição do apetite e perda de peso; Perturbação do sono (despertar
matutino). Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos: Episódio depressivo correspondente à
descrição de um episódio depressivo grave mas acompanhado de alucinações, ideias delirantes, de uma
lentidão psicomotora de uma gravidade tal que todas as actividades sociais normais tornam-se
impossíveis; pode existir o risco de suicídio, de desidratação ou de desnutrição.Transtorno de Humor
Bipolar: Caracterizado por episódios repetidos, no mínimo dois, nos quais os níveis de humor e de
actividade do paciente estão significativamente alterados, em algumas ocasiões com elevação do humor
(euforia) aumento da energia, aumento da actividade motora (mania) e em outras com diminuição do
humor, da energia e das actividades (depressão). De forma resumida esta perturbação caracteriza- se
pela alternância entre a mania e a depressão num mesmo indivíduo. Clinicamente pode apresentar-se
com alternância entre a hipomania, mania, depressão. TRATAMENTO das situações de urgência dos
Transtornos depressivos: As situações de urgência associadas aos transtornos depressivos são:
Transtorno depressivo grave (com ideação suicida); Transtorno depressivo grave com sintomas
psicóticos (delírios, alucinações); Nestas condições, o tratamento é feito com base em antidepressivos
(AMITRIPTILINA), mas no caso de Transtorno Depressivo grave com sintomas psicóticos, para
além do tratamento com antidepressivos deve-se associar um antipsicótico (HALOPERIDOL): Para
depressão grave: administrar AMITRIPTILINA comprimidos (10 ou 25 mg), iniciar com 25-50 mg/dia
por via oral ao deitar, e posteriormente referir. Estes pacientes devem ser tratados em regime de
internamento. Para depressão com sintomas psicóticos e/ou agitação psicomotora: administrar

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AMITRIPTILINA (dose para depressão grave) e HALOPERIDOL injectável IM (excepcionalmente


IV), na dose de 2,5 a 10 mg de início e depois 5 mg a cada 4 a 8 h conforme as necessidades, enquanto se
aguarda para transferir. Alternativamente pode-se administrar por via oral. Estes pacientes devem ser
tratados em regime de internamento. Nota: HALOPERIDOL deve ser administrado em associação com
PROMETAZINA para reduzir os efeitos adversos. Para Transtorno bipolar associado à depressão
grave (com ideação suicida): administrar CARBAMAZEPINA comprimidos de 200 mg, iniciar com
100-200 mg, via oral, 2 x/dia em associação com AMITRIPTILINA. Para Transtorno bipolar
associado à sintomas psicóticos e/ou agitação psicomotora: administrar AMITRIPTILINA (mesmas
doses) em associação com HALOPERIDOL (nas doses de transtornos depressivos com sintomas
psicóticos descritas acima)
_____________________________________________________________________________________
2. TRANSTORNOS DE ANSIEDADE: Chamam-se TRANSTORNOS DE ANSIEDADE às
Perturbações Mentais que têm como característica principal um alto nível de ansiedade, pensamento
ansioso e podendo ser acompanhados por sintomas físicos da activação simpática. A Ansiedade é um
estado emocional de apreensão, uma expectativa de que algo mau pode acontecer, acompanhado por
várias reações físicas e mentais desconfortáveis. Quadro Clínico: Afectivos (Humor): Ansiedade,
irritabilidade; Cognição (Pensamento): Preocupações e receios de forma exagerada; Comportamento:
Evitação das situações receadas, verificação, procura de tranquilização; Físicos (Somáticos): Dor
torácica, dificuldade respiratória, sensação de sufoco, respiração acelerada, palpitações, sudorese,
tremores, parestesias nos dedos, dores e pontadas, sono pouco reparador (insónia inicial), necessidade
frequente de urinar e defecar. CONDUTA: De uma forma geral, a conduta para as perturbações mentais
do tipo Transtornos Neuróticos Relacionados ao Stress e Somatoformes é basicamente a mesma e
consiste essencialmente em: Tratamento Psicológico (Psicoeducação e Psicoterapia) e Tratamento
Farmacológico (Antidepressivos e Ansiolíticos). De acordo com o tipo de patologia específica, algumas
variações na abordagem poderão ocorrer. Tratamento Farmacológico: Tratamento das situações de
urgência dos Transtornos de Ansiedade: As situações de urgência associadas aos transtornos de
ansiedade são: Transtornos de ansiedade com crises de pânico: administrar tratamento inicial com
ansiolíticos. Pode-se administrar: DIAZEPAM injectável (ampolas de 10mg/2ml): administrar 10 mg
por via IV lenta (1ml/min) ou alternativamente por via rectal (pacientes muitos agitados). Na ausência da
formulação injectável, pode-se usar como alternativa DIAZEPAM ou CLORDIAZEPÓXIDO em
comprimidos. Informação sobre os fármacos: Ansiolíticos: CLORDIAZEPÓXIDO: Indicações:
estados ansiosos e ansioso-depressivos, quadros funcionais (psicossomáticos). Doses: comprimidos de 10
mg, administrar 5 a 20 mg por via oral, de 12 em 12 horas, durante 2 a 3 semanas no máximo.
Privilegiando sempre iniciar o tratamento em pequenas doses. DIAZEPAM: Indicações: tratamento de
curta duração da ansiedade e insónia incapacitantes, adjuvante no tratamento da síndrome de privação
alcoólica; espasmos musculares de diferentes etiologias incluindo Tétano; medicação pré-anestésica.
Doses: comprimidos de 10 mg, administrar 2 mg até de 8 em 8 horas; aumentar se necessário até 5-10 mg
de 8 em 8 horas, por via oral, durante 2 a 3 semanas no máximo.

_____________________________________________________________________________________

3. REACÇÕES AO STRESS GRAVE E TRANSTORNO DE AJUSTAMENTO: Trata-se de um


grupo de transtornos que se caracterizam pelo surgimento de sintomas (de forma imediata, aguda ou
tardia), após um acontecimento de vida excepcionalmente stressante, produzindo uma reacção aguda ao
stress ou uma mudança de vida significativa levando a circunstâncias desagradáveis continuadas que

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resultam em um transtorno de ajustamento. Os transtornos desta categoria são supostos surgirem sempre
como uma consequência directa de grave stress ou de trauma continuado. De forma resumida, podem ser
considerados como respostas mal adaptativas a stressores graves ou persistentes, porque interferem com
mecanismos de adaptação bem sucedidos e levam a problemas no funcionamento social. Quadro
Clínico: Surgimento de sintomas de ansiedade como taquicardia, sudorese, hiperactividade,
hiperventilação que surgem dentro de minutos após o impacto do factor stressante e desaparecem dentro
de 2 a 3 dias ou excepcionalmente dentro de horas (reacção aguda ao stress). Surgimento de reacções
mais prolongadas ao stress, nas quais os sintomas começam dentro de um 1 mês após o acontecimento
traumático e duram menos de 6 meses. Caracterizado essencialmente por depressão, irritabilidade,
ansiedade, preocupação com o sucedido, dificuldade de concentração, explosões de cólera ou raiva
(perturbação de ajustamento). Surgimento de sintomas dentro de 6 meses após um acontecimento
traumático, com uma recordação ou revivência repetitiva e intrusa do evento em forma de memórias,
imaginação durante o dia ou a noite, evitamento de estímulos que possam provocar recordação do trauma
(perturbação pós stress traumático). TRATAMENTO: Para Reacção ao Stress Grave e Transtorno de
Ajustamento com Depressão Grave: administrar AMITRIPTILINA comprimidos (10 ou 25 mg),
iniciar com 25-50 mg/dia por via oral ao deitar, e posteriormente referir. Estes pacientes devem ser
tratados em regime de internamento. Para Reacção ao Stress Grave e Transtorno de Ajustamento com
Sintomas Psicóticos e/ou agitação psicomotora: administrar HALOPERIDOL injectável IM
(excepcionalmente IV), na dose de 2,5 a 10 mg de início e depois 5 mg a cada 4 a 8 h conforme as
necessidades, enquanto se aguarda para transferir. Alternativamente pode-se administrar por via oral.
Estes pacientes devem ser tratados em regime de internamento. Nota: HALOPERIDOL deve ser
administrado em associação com PROMETAZINA para reduzir os efeitos adversos.

4. ESQUIZOFRENIA: A Esquizofrenia é uma psicose crónica funcional, caracterizada por uma


dissociação (divisão) da personalidade, que atinge o funcionamento social, profissional e da vida diária do
doente (degradação), ausência de juízo crítico e perda de contacto com a realidade. Geralmente inicia no
fim da adolescência ou no início da vida adulta, e apresenta evolução mais favorável e com menos
deterioração na mulher comparativamente aos homens. Quadro Clínico: Os sintomas devem estar
presentes durante pelo menos 6 meses. Este período deve incluir pelo menos 1 mês de sintomas (ou
menos, se tratados com sucesso) que satisfaçam o critério dos sintomas da fase activa. A Esquizofrenia
apresenta as seguintes manifestações particulares: Alterações no pensamento: Ideias delirantes,
perturbação do pensamento em completa normalidade da consciência. Discurso desorganizado
(incoerência e desagregação do pensamento). Bloqueio do pensamento - interpretado pelo doente como
roubo do pensamento. Alterações Senso-perceptivas: Alucinações auditivas: em que o doente ouve 2
vozes falando na terceira pessoa que comentam sobre a sua vida. Geralmente dizendo coisas más
(depreciativas), ou como vozes de comando (determinam o que o doente deve fazer), que criticam, que
injuriam, ou que ameaçam. Alterações na afectividade: Embotamento afectivo (enfraquecimento dos
sentimentos, das emoções). Ambivalência afectiva: sentimentos opostos (contrários) ao mesmo tempo em
relação, por exemplo, a uma mesma pessoa. Indiferença afectiva. Frieza emocional nos relacionamentos.
Alterações na Conduta e outras alterações: Comportamento amplamente desorganizado, agitação
psicomotora e comportamentos estranhos, incompreensíveis para os outros. Aparência extravagante e
bizarra no vestuário, perda de cuidados de higiene. Alterações qualitativas da memória, confabulações,
falsas recordações. Deterioracão social/ocupacional: Declínio significativo, desde o início da
perturbação, de uma ou mais áreas importantes do funcionamento (trabalho, relações interpessoais ou

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cuidados pessoais). Quando o início se dá na infância ou na adolescência, há fracasso em atingir o nível


esperado de aquisição interpessoal, académica ou ocupacional). TRATAMENTO Farmacológico:
Todos os casos de Esquizofrenia e de outros transtornos psicóticos devem ser tratados com
antipsicóticos, administrar: HALOPERIDOL injectável, na dose de 2,5 a 10 mg IM (excepcionalmente
IV) de início e depois 5 mg a cada 4 a 8 h conforme as necessidades, enquanto se aguarda para transferir.
Alternativamente pode-se administrar por via oral. Ao HALOPERIDOL deve-se associar a
PROMETAZINA (ampolas de 50mg/2ml) na dose de 1 a 2 ampolas por via IM (excepcionalmete IV).

5.DEMÊNCIA: A demência é descrita como um síndrome devido à uma doença cerebral, geralmente de
natureza crónica ou progressiva, na qual há comprometimento de numerosas funções corticais superiores
(memória, orientação, pensamento, compreensão, o cálculo, a capacidade de aprendizagem, a linguagem e
o julgamento). Quadro Clínico: Os principais sintomas são: Prejuízo da memória para situações recentes,
como esquecer números de telefones, acontecimentos do dia e conversações; Prejuízo na memória
remota, podendo o paciente esquecer nomes de parentes conhecidos, sua ocupação ou seu próprio nome;
Prejuízo na capacidade de solucionar problemas, raciocinar e comprometimento do juízo crítico;
Desorientação temporal, espacial e pessoal; Perda em lugares familiares e não reconhecimento das
pessoas; Dificuldade na realização de tarefas domésticas (ex: limpeza, cozinhar) e actividades individuais
(ex: vestir, higiene pessoal); Pouco controlo dos impulsos e instabilidade do humor. TRATAMENTO
Farmacológico e encaminhamento: As situações de urgência associadas a demência são: agitação
psicomotora e sintomas psicóticos. Nestas condições, o tratamento a administrar é a base de
antipsicóticos (HALOPERIDOL).
6.INTOXICAÇÃO: Droga ou substância psicoactiva: Designa-se droga ou susbtância psicoactiva a
toda substância que após contacto humano, é capaz de alterar o humor, cognição (pensamento) e
comportamento do indivíduo. Dependência de Substâncias Psicoativas: Trata-se do conjunto de
fenómenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de
uma substância psicoativa, associado ao desejo poderoso de consumir a droga, à dificuldade de controlar
o consumo, à utilização persistente apesar das suas consequências negativas (nefastas), a uma maior
prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras actividades e obrigações (familiares, laborais,
académicos), a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física (na
falta do consumo da droga ou redução da dose geralmente consumida). QUADRO CLÍNICO:
Intoxicação Aguda relacionada com o consumo do álcool: Desinibição; Agressividade; Atenção
Comprometida; Capacidade de julgamento comprometida; Marcha instável; Dificuldade em manter-se em
pé, perda de equilíbrio; Fala ininteligível; Diminuição do nível de consciência; Em caso de intoxicação
grave: hipotensão, hipotermia, diminuição do reflexo de vómito. Intoxicação Aguda Relacionada com
Cannabinóides: Euforia ou desinibição, ansiedade ou agitação; Desconfiança ou ideação paranóide;
Lentificação do tempo (sensação de que o tempo passa muito lentamente e rápido fluxo de ideias);
Capacidade de julgamento comprometida; Comprometimento da atenção. Comprometimento do tempo de
reacção; Ilusões auditivas, visuais e tácteis; Alucinações com orientação preservada; Despersonalização
(sensação de estranheza em relação a sua pessoa); Desrealização (sensação de estranheza em relação ao
seu ambiente); Aumento de apetite. Boca seca; Hiperemia Conjuntival; Taquicardia; Hipotensão.
Intoxicação Aguda Relacionada com Opióides: Cursa em duas fases, sendo a primeira de curta duração
(fase de excitação: zumbidos, agitação psicomotora, sede intensa, bradicardia e bradipneia) e a segunda
de longa duração (fase de depressão: diminuição da consciência até coma profundo, miose, depressão
respiratória, colapso, hipotermia e anúria). Outras características:Apatia, sedação; Desinibição e

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lentificação psicomotora; Comprometimento da atenção e da capacidade de julgamento; Fala


incompreensível; Sonolência; Constrição pupilar; Rebaixamento do nível de consciência (exemplo:
estupor e coma). Intoxicação Aguda Relacionada com Tabaco/Nicotina: Insónia; Sonhos bizarros;
Labilidade de humor; Desrealização; Interferência no funcionamento pessoal; Náuseas ou vómitos;
Sudorese; Taquicardia; Arritmias cardíacas. Intoxicação Aguda Relacionada com Cocaína: Sintomas
Psiquiátricos: euforia, ansiedade, irritabilidade, labilidade do humor, alucinações visuais ou tácteis,
delírios persecutórios, agitação psicomotora; Sintomas Neurológicos: cefaleia, convulsões, midríase
(dilatação pupilar); Sintomas Cardiovascular: palpitações, taquicardia, arritmias, HTA, infarto do
miocárdio. Sintomas Gastrointestinal: anorexia, náuseas, vómitos e diarreia; Sintomas Respiratórios:
Taquipneia e respiração irregular; Sintomas Gerais e outros: hipertermia, sudorese, calafrios e rigidez
muscular. TRATAMENTO Farmacológico: O tratamento de pacientes com intoxicação por
susbtâncias psicoactivas é muito variável, e depende do nível de gravidade do paciente, do tipo de
substância consumida, do quadro apresentado. Algumas medidas são gerais e devem ser prestadas à todos
os pacientes, enquanto outras, são específicas para cada tipo de caso. Estabilização hemodinâmica -
acesso endovenoso e fluidoterapia de acordo com as necessidades: LACTATO DE RINGER ou SORO
FISIOLÓGICO 1000 ml de 8/8H + DEXTROSE A 30% 2 a 3 ampolas de 8/8h); Estabilização
respiratória: oxigenoterapia, na dose de 2 a 4 l/min. Se disponível oxímetro de pulso, manter oxigénio até
obter saturação de 90 a 95%. Tratamento sintomático (ex: convulsões); Se estiverem presentes sintomas
psicóticos: administrar HALOPERIDOL injectável IM (excepcionalmente IV), na dose de 2,5 a 10 mg
de início e depois 5 mg a cada 4 a 8 h conforme as necessidades. Associar o HALOPERIDOL à
PROMETAZINA. Se houver ansiedade: administrar ansiolíticos em doses altas (DIAZEPAM 10 - 20
mg IM).
_____________________________________________________________________________________
XV. APARELHO URINÁRIO

1.ALTERAÇÕES HIDROELECTROLITICAS: As alterações hidroelectroliticas são distúrbios


no balanço ou na distribuição do sódio e da água, acompanhados por alterações no volume ou na
composição dos solutos e dos fluidos distribuídos nos compartimentos do corpo. Estão entre as
mais frequentes anomalias encontradas e ocorrem em uma grande variedade de estados
patológicos, mas, por outro lado, a manutenção do equilíbrio hidroelectrolitico adequado faz
parte dos cuidados básicos a um paciente, independentemente da sua doença de base. As
principais formas destes distúrbios são: Desidratação; Hiponatrémia / Hipernatrémia;
Hipopotassémia / Hiperpotassémia; e Hipocalcémia / Hipercalcémia. Balance hídrico se refere a
diferença entre a entrada e a perda de água do organismo.
1.1.ALTERAÇÕES DA ÁGUA
1.1.1. DESIDRATAÇÃO: Desidratação é a redução excessiva do volume de líquido extracelular, que
inclui a redução dos líquidos intravascular e intersticial. A desidratação pode ser classificada de acordo
com a gravidade, tendo como base a perda de peso corporal e sobretudo na avaliação conjunta da
intensidade de sinais e sintomas clínicos em: Leve ou de 1° grau (perdas de até 5% do peso corporal);
Moderada ou de 2° grau (perdas de 5% a 10% do peso corporal); Grave ou de 3° grau (perdas superiores
a 10% do peso corporal). Sinais e Sintomas da desidratação: Sede; Oligúria; Perda de peso; Secura da
boca (da língua); Olhos encovados; Diminuição da elasticidade da pele; Hipotensão postural;

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Taquicardia; Pulso fraco;e Alterações do nível de consciência: obnubilação e coma. TRATAMENTO:


Desidratação leve/moderada: Hidratação oral, administrar SRO nas primeiras 4h, dar mais do que
10ml/kg/h, tanto quanto o doente quiser, de 2200 – 4000 ml. Fazer a reavaliação completa do estado de
desidratação ao fim de 4h depois e seguir o plano de tratamento adequado. Desidratação grave:
Administração de líquidos por via endovenosa: Dar 100ml/kg Ev de solução de LACTATO DE
RINGER num período de 3 horas, em 2 etapas. Primeira etapa: LACTATO DE RINGER (30ml/kg)
num gotejo rápido durante 30 minutos. Por ex: Paciente com 60 Kg, fazer 1.800 ml em 30 min.
Reexaminar o doente após ter feito os 30ml/kg; Repetir mais uma vez a primeira etapa se o pulso radial
estiver muito fraco ou não for detectado. Segunda etapa: LACTATO DE RINGER (70 ml/kg) durante
as 2½ horas seguintes. Por ex: Paciente com 60 Kg, fazer 4.200 ml em 2½ horas. Reexaminar o doente
seguidamente de 1 em 1h Administrar também SRO (5ml/kg/hora) logo que o paciente consiga beber.

1.2.ALTERAÇÕES DO SÓDIO: O Sódio é o ião mais importante do líquido extracelular porque é


fundamental na manutenção do equilíbrio ácido-basico e da pressão osmótica do líquido extracelular. O
Valor de referência do Sódio (Na+): 135 – 145 mEql/l.
1.2.1.HIPONATRÉMIA: É definida pela concentração plasmática de sódio menor que 135 mEql/l. Pode
ser classificada segundo a concentração plasmática de sódio em: Ligeira: Na+ entre 126 a 134 mEql/l;
Severa: Na+ entre 111 a 125 mEq/l; Muito grave: Na+ abaixo de 111 mEq/l. Sinais e Sintomas: Os casos
leves podem ser assintomáticos ou apresentar náuseas e mal-estar; A medida que a concentração
plasmática de sódio cai os sintomas progridem a: Cefaleia; Letargia; Confusão mental; Obnubilação. Nos
casos graves quando o sódio cai acentuadamente para menos de 120 mEq/l, pode ocorrer: Torpor;
Convulsões; Coma. TRATAMENTO: Na hiponatrémia sintomática: com os níveis de sódio entre 120
mEq/l e 125 mEq/l, deve-se fazer a reposição sódica, com SORO FISIOLÓGICO. O aumento da
concentração de Na+ não deve exceder de 8 a 10 mEq/l nas primeiras 24h, até atingir os níveis de 125
mEq/l a 130 mEq/l. Para facilitar faz-se o uso de SORO FISIOLÓGICO a 3% (1-2 ml de solução de 3%
de NaCl por kg / peso corporal por hora durante 2-4 horas). Velocidade inicial: [NaCL] em 1 mEq/L/h.
Uso da seguinte fórmula para o cálculo da concentração de Na+: Défice de Na = (Na desejado – Na
medido) x C x P, onde: C: constante de perdas hídricas de 60% (0,6), P: peso corporal
Exemplo:
Dados do paciente: Défice de Na = (120 – 116) x 0.6 x 50 = 4 x 30 =
+
[Na ] medido = 116 mEq/L; 120 mEq/L
P = peso corporal: 50 kg; Solução salina a 3%:
+
Queremos aumentar o Na de 8-10 mEq/l nas 513 mEq ………… 1L (1.000ml)
primeiras 24 horas. 120 mEq ………… V (volume a ser
+
Portanto Na desejado = (Na medido + 8mEq/l) administrado)
= (116 + 8) = 120 mEq/l V = 120/513 = 0.234 L = 234 ml, que deverão
Défice de Na = (Na+ desejado – Na+ medido) x ser administrados em 4h.
CxP

1.2.2. HIPERNATRÉMIA: É definida pela concentração plasmática de sódio maior que 145 mEql/l.
Classificação: pode ser classificada em: Ligeira: Na entre 146 – 155 mEq/l; Severa: Na entre 156 – 175
mEql/l ; Muito grave: Na acima de 175 mEq/l. Sinais e Sintomas: Da mesma forma que na
hiponatremia, a gravidade das manifestações clínicas está relacionada com a elevação na concentração de
sódio plasmático, ou seja, quanto maiores as concentrações de sódio plasmáticos, maior a gravidade dos

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sinais e sintomas, entre eles: Poliúria; Sede; Fraqueza; Debilidade; Letargia; Hipotensão; Taquicardia;
Irritabilidade neuromuscular; Défices neurológicos focais; Convulsões e Coma. TRATAMENTO:
Objectivo do tratamento: Interromper as perdas hídricas vigentes com a eliminação da causa subjacente
e corrigir o défice hídrico. Os défices de água devem ser corrigidos lentamente durante, no mínimo, 48 a
72 horas pelo risco de convulsões e danos neurológicos permanentes. Para que não corram risco de haver
uma diminuição muito rápida, a concentração de Na+ plasmática deve ser diminuída a uma velocidade
máxima de 0,5 mEq/L/h ou 10 mEq/L/dia. Pacientes com choque hipovolémico devem ser tratados com
SORO FISIOLÓGICO A 0.9 % ate estabilizarem, 1L/h a correr normalmente. A quantidade de água
necessária para corrigir o défice pode ser calculada com a seguinte equação:
Défice de água = Concentração plasmática de Na – 140 x água corporal total
140
Água corporal total = C x P Exemplo:
C = constante de perdas hídricas (50% nos Dados do paciente:
homens e de 40% nas mulheres) Sexo feminino;
P = peso corporal [Na+] plasmático 160 mEq/L;
peso corporal = 50 kg.
Défice de água = [160 – 140] x (0.4 x 50) = 2.850 ml
140
Pacientes com perda somente de água, como no Diabetes Insípidus, deve ser administrado somente água
por via oral ou sonda nasogástrica. Se a VO não é possível, usar DEXTROSE EV.
Pacientes com perda de sódio e água como nas diarreias e vómitos, deve-se usar o CLORETO DE
SÓDIO hipotónico (com SORO FISIOLÓGICO A 0.45%: diluir o SORO FISIOLÓGICO em
GLICOSE A 5%). Quanto mais hipotonica a solução, mais lenta deve ser a administração.

1.3.ALTERAÇÕES DO POTÁSSIO: O potássio é o ião mais abundante do liquido


intracelular. O potássio tem como valor de referência (K+): 3.5 – 5.1 mEq/l.
1.3.1. HIPOPOTASSÉMIA: É definida pela concentração plasmática de potássio menor que 3.5 mmol/l.
Classificação: pode ser classificada em: Ligeira: 3.0 – 3.5 mEq/l; Moderada: 2.5 – 3.0 mEq/l; Severa: <
2.5 mEq/l. Sinais e Sintomas: Fadiga; Astenia; Mialgia; Fraqueza muscular dos membros inferiores;
Paralisia completa muscular; Hipoventilação (acometimento dos músculos respiratórios); Taquicardia;
Alterações eletrocardiográficas (ECG) da hipopotassemia: Achatamento ou inversão de Onda T; Onda U
proeminente; Depressão do Seguimento ST; Prolongamento do Intervalo QU. Na Hipopotassemia grave:
prolongamento do intervalo PR; Alargamento do Intervalo QRS e aumento do risco de Arritmia
Ventricular. A hipopotassemia é potencialmente grave nas seguintes patologias: Doenças do sistema
músculo-esquelético; Doenças respiratórias com progressão para insuficiência respiratória; Doenças
cardiovasculares. TRATAMENTO: O objectivo do tratamento é de corrigir o défice de K+ e atenuar as
perdas vigentes. Corrigir a causa de base; Para o tratamento é usado o KCL oral, em drageias ou
ASCORBATO DE K+ em comprimidos efervescentes, em casos de hipopotassémia ligeira ou
moderada. Para casos que não conseguem ingerir, faz-se a reposição com KCL EV. A concentração
máxima de K+ administrado não deve exceder os 40 mEq/L ou 20mEq/hora. O KCL EV deve
obrigatoriamente ser diluído em SF ou Dextrose.

1.3.2. HIPERPOTASSÉMIA OU HIPERCALIÉMIA: É a concentração de potássio no plasma maior


que 5.0 mEq/l. Sinais e Sintomas: Fraqueza que pode progredir para paralisia flácida e hipoventilação

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por comprometimento da musculatura respiratória; Toxicidade cardíaca com alteração de ECG: Aumento
da amplitude da onda T ou onda T apiculada; Atraso da condução atrio-ventricular; Desaparecimento da
Onda P; Prolongamento tanto do Intervalo PR quanto do QRS; Fusão do QRS com Ondas T produzindo
padrão sinusoidal com evento terminal em FV ou Assistolia. TRATAMENTO: Em casos de alteração
do ECG: GLICONATO DE CÁLCIO 10% para reduzir a excitabilidade da membrana celular; Dose: 10
ml infundida em 2 a 3 minutos; (contra-indicada em patientes com DIGOXINA). O efeito inicia-se em
minutos porém a duração é curta (de 30 a 60 minutos); A dose pode ser repetida se não forem observadas
melhoras no ECG após 10 minutos; Terapia com INSULINA: INSULINA promove um deslocamento do
K+ para dentro das células, diminuindo temporariamente a concentração plasmática de Potássio.
Recomenda-se de 10 a 20 UI de INSULINA Regular com 50 ml de GLICOSE 40% (pacientes
hiperglicémicos não precisam receber a GLICOSE, somente a INSULINA); Tratamento da
hipercaliémia associada a acidose metabólica: Uso do BICARBONATO DE SÓDIO A 8.4%:
1mEq/kg Ev em 30 minutos. Repetir metade da dose 10 min mais tarde. Resina de troca CATIONICA
que provoca a troca de Sódio por Potássio no trato gastrintestinal. Dose de 25 a 50 gramas diluído em 100
ml de SORBITOL A 20% por via Oral. Hemodiálise para pacientes com hiperpotassemia grave, como forma
rápida de reduzir a concentração de K+.

1.4.ALTERAÇÕES DO CÁLCIO:
1.4.1. HIPOCALCÉMIA: É definida pela concentração plasmática de cálcio menor que 4.5 mEq/L.
Sinais e Sintomas: Parestesias (dedos das mãos e dos pés) e convulsões; Tremores, espasmos musculares
(casos graves: tetania); Laringospasmo e broncoespasmo; Arritmias cardíacas.
TRATAMENTO: Correcção da causa, se possível; Uso do GLUCONATO DE CÁLCIO A 10% 10 ml
diluídos em 50 ml de GLICOSE A 5% ou SORO FISIOLÓGICO, infundidos em 5 min seguido de
perfusão de 10 mL de GLUCONATO DE CÁLCIO 10% em DEXTROSE 5% 1000 mL a uma
velocidade de 50-100 mL/h. No caso de hipocalcémia grave: 10 ampolas de GLUCONATO DE
CÁLCIO ou 1.000 mg de cálcio em 1 L de GLICOSE A 5% ou NACL a 0.9%, administrados lenta em
24h. VITAMINA D: 50.000 UI 2-3 vezes por semana durante vários meses.

1.4.2. HIPERCALCÉMIA: É definida pela concentração plasmática de cálcio maior do que 5.5 mEq/L.
Sinais e Sintomas: No hiperpatiroidismo primário, mais de 50% dos pacientes é assintomática. Os
pacientes sintomáticos podem apresentar alterações: Cardíacas: alterações no ritmo cardíaco;
Gastrointestinais: Náuseas, vómitos; anorexia; obstipação; Urinários: poliúria; Neurológicas:
sonolência, dificuldade de concentração, confusão, depressão, estupor, coma; Ósseas: risco de fracturas
por osteopenia. Sinais radiológicos da osteíte fibrosa: substituição do contorno cortical das falanges
geralmente nítido do osso nos dedos por um contorno irregular (reabsorção subperióstea) ou diminutas
lesões em “saca-bocado” no crânio causando o chamado aspecto sal e pimenta.TRATAMENTO: Uso do
SORO FISIOLÓGICO A 0.9% 5l/dia ou mais (suprime o défice hídrico e diminui a reabsorção de
cálcio). No paciente já hidratado administração de doses baixas de FUROSEMIDA 10-20 mg/dia (inibe a
reabsorção de sódio e cálcio). Uso de CALCITONINA: 4-8 UI/kg administrada por via SC ou IM a cada
6-8 horas; O tratamento depende das causas. O tratamento da hipercalcemia do câncer tem por objectivo
controlar o tumor. Em geral, a redução da massa tumoral corrige a hipercalcemia.

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2. ALTERAÇÕES ÁCIDO-BASE: O papel dos rins no equilíbrio ácido-base consiste na reabsorção total
e síntese de novo bicarbonato pelas células renais em situações de acidose sanguínea e de reabsorção de
H+ (acido) em condições de alcalinização do sangue.
2.1. ACIDOSE METABÓLICA: Na acidose metabólica a principal alteração consiste na redução do
bicarbonato sérico, tendo como consequência uma diminuição no pH sistémico (acidose). A compensação
ocorre com o aumento da ventilação que provoca diminuição da pressão parcial de dióxido de carbono
(PCO2) e eliminação de H+ pelos rins. Ex. de acidose metabólica: pH = 7.32; Pa O2 = 89; Pa CO2 = 30;
HCO3 = 15; Sat O2 = 97%. Sinais e Sintomas: Fadiga; Dispneia; Náuseas; Vómitos; Taquicardia
(vasodilatação); Hipotensão (vasodilatação). TRATAMENTO: O tratamento mais importante é corrigir
a causa de base quando possível, por ex: hemodiálise para a intoxicação por salicilatos ou IR; tratamento
da infecção com antibióticos. O BICARBONATO só está indicado em casos de acidose grave (pH <
7,2) e deve ser feito com cautela pelo seu efeito rebote com agravamento posterior da acidose. Administra
nesses casos 50 a 100mmol em 30-40 minutos.

2.2.ALCALOSE METABÓLICA: Na alcalose metabólica a principal alteração consiste na elevação da


concentração plasmática de bicarbonato (HCO3-), tendo como consequência um aumento do pH sistémico
e como resposta compensatória a diminuição da ventilação e aumento da pressão parcial de dióxido de
carbono (PCO2). Ex. de Alcalose metabólica: pH = 7.50; PaO2 = 93; PaCO2 =43; HCO3- = 31; Sat O2 =
96%. Sinais e Sintomas: Em geral, os sinais e sintomas da alcalose são resultantes da hipopotassemia:
Irritabilidade; Hiperexcitabilidade; Contracções musculares prolongadas; Espasmos musculares (tetania);
Bradipneia; Cianose; Fraqueza muscular; Poliúria. TRATAMENTO: Tratar a causa de base; Fazer a
reposição hídrica ou hidratação com SORO FISIOLÓGICO 0.9%, iniciar com 500ml/h; Fazer a
reposição electrolítica (SÓDIO e POTÁSSIO).
_____________________________________________________________________________________
3. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (IRA): A Insuficiência Renal Aguda (IRA), também
denominada Lesão Renal Aguda (LRA) é uma síndrome clínica, caracterizada pelo rápido declínio da
função renal, que ocorre em curto período de tempo (horas ou dias). Desta resulta o acumulo no sangue de
produtos do metabolismo nitrogenado, como a ureia e a creatinina, e incapacidade de manter o equilíbrio
hidroelectrolítico e ácido-base. Sinais e Sintomas da IRA associados as principais etiologias: As
manifestações clínicas da IRA dependem da patologia de base que desencadeou o quadro de IRA. Muitos
pacientes estão assintomáticos ou apresentam sintomas tardiamente, sendo muitas vezes diagnosticados
pela observação de anormalidades dos exames laboratoriais do paciente. Em cada uma das diferentes
etiologias da IRA há sinais e sintomas predominantes, que se seguem: IRA pré-renal: Desidratação –
hipotensão ortostática, diarreia e vómitos, mucosas secas e turgor cutâneo reduzido; ICC – astenia,
dispneia, Pulso Venoso Jugular aumentado, edema dos membros inferiores. Pode haver edema pulmonar;
Sépsis – febre, hipotensão, taquicardia, artralgia. IRA intrínseca: NTA: História clínica evidenciando uso
de medicamentos nefrotóxicos (ex: gentamicina) ou exame de imagem com contraste realizado
recentemente; Glomerulonefrites: sinais e sintomas clínicos de patologias auto-imunes, por ex: Lúpus
Eritematoso Sistémico; Doenças trombo-embólicas: outras evidências de embolização, por ex: nódulos
subcutâneos e isquemia digital; Nefrites intersticiais alérgicas: uso de medicamentos (ex: penicilina)
seguido de febre e artralgia. IRA pós-renal: Obstrução urinária por cálculos: dor tipo cólica renal ou
supra-púbica (distensão da bexiga e do sistema colector), oligo-anúria, hematúria; Patologias da Próstata:
nictúria, polaquiúria. CONDUTAs: Medidas gerais de suporte: Balanço hídrico diário: balanço dos
ganhos (monitorização dos líquidos administrados VO/EV) e perdas; Monitorização do peso corporal e

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débito urinário; Monitorização diária das concentrações séricas de electrólitos, ureia e creatinina;
Suspender a administração de qualquer nefrotoxina (ex: GENTAMICINA) ou medicações que
atrapalham a auto-regulação renal (ex: AINE, inibidor ECA); Dieta hipoproteica ( 0,6 g/Kg/dia);
carboidratos ( 100g/dia) e de acordo com a situação hidro-eletrolítica; Controlo regular das doenças de
base (glicemia, TA); Corrigir a hipovolémia/desidratação com fluidos EV – coloides ou SORO
FISIOLÓGICO conforme indicação; Corrigir alterações eletrolíticas; Se paciente séptico, tratamento
empírico com ATBs segundo a suspeita da infecção primária. Remover qualquer potencial fonte de
infecção desnecessário como cateteres ou algálias; Evitar o uso de diuréticos de alça (ex.
FUROSEMIDA); Avaliar necessidade de transfusão sanguínea; Realização de exames de imagem
segundo a suspeita diagnóstica.TRATAMENTO das Complicações: Distúrbios eletrolíticos:
Hipercalemia; Restrição de K+ na dieta; GLUCONATO DE CÁLCIO a 10% (10 ml) EV em 5 min;
BICARBONATO DE SÓDIO (em geral, 50 a 100 mmol); GLICOSE 50% (50 ml) + INSULINA
RÁPIDA 10UI EV. Resinas de troca iónica; Hiponatrémia: evitar soluções hipotónicas endovenosas.
Edema pulmonar (dispneia, fervores subcrepitantes bilaterais, dor torácica difusa) : Oxigénio – 6l/min;
MORFINA 2.5mg EV + METOCLORPRAMIDA 10mg EV; FUROSEMIDA 120-250mg EV durante
1h (diuréticos não têm impacto sobre a recuperação da função renal). Hemorragias (epistaxes e ou
sangramentos espontâneos): Hidratação com RINGER LACTATO; PLASMA fresco ou concentrado
de plaquetas (1UI); Transfusão de sangue para manter Hb> 10g/dl e hematócrito> 30%, conforme o caso.

4. INSUFICIÊNCIA RENAL CRÓNICA: Insuficiência renal crónica é uma síndrome decorrente da


perda progressiva e irreversível da função renal, com início na diminuição progressiva da TFG, seguindo
para lesão tubular e finalmente com alteração na função hormonal do rim. Enquanto que a IRA é
temporária e reverte com uma recuperação funcional, a IRC decorre em fases evolutivas criticas que se
iniciam numa etapa subclínica (sem sintomas ou com sintomas ligeiros) até a deterioração terminal,
conhecida como uremia ou fase descompensada da IRC. Sinais e Sintomas: Dermatológicos: Erupção
cutânea, hiperpigmentação, prurido, pele seca, palidez, equimoses. Cardiovasculares: HTA,
Insuficiência cardíaca congestiva, Cardiomiopatia dilatada, Pericardite, Aterosclerose, Derrames.
Respiratório: Dor torácica, Edema pulmonar, Derrame pleural, Pneumopatia urémica. Imunológicos/
Hematolológicos: Infecções de repetição por disfunção leucocitaria, depressão da imunidade celular,
Anemia, Linfocitopénia, Leucopénia, esplenomegalia. Distúrbios endócrinos/ metabólicos: Amenorreia,
menorragia, Impotência sexual, desnutrição proteico-calórica, retardamento no crescimento e
desenvolvimento, foetor urémica. Distúrbios Neurológicos: Excitabilidade neuromuscular, neuropatia
periférica, encefalopatia urémica. CONDUTA E TRATAMENTO: Controle da Hipertensão Arterial:
A restrição da ingestão de sódio é importante no controle da TA. Manter os níveis de TA abaixo de um
valor de 130/80 mmHg, retarda a progressão da doença renal. No tratamento medicamentoso deve-se
preferir a combinação de I-ECA com diuréticos (evitar os diuréticos poupadores de potássio) e
bloqueadores adrenérgicos. Controle da Diabetes Mellitus. Tratamento dos distúrbios
hidroelectrolíticos /ácido-base: Hiperpotassemia e acidose metabólica: A hiperpotassemia deve ser
tratada juntamente com a acidose metabólica pois esta condição agrava ainda mais a hiperpotassemia.
Utilizam-se: Acidose metabólica: BICARBONATO DE SÓDIO ou CARBONATO DE Ca.
Hiperpotassemia: Diurético de alça (FUROSEMIDA), INSULINA e GLICOSE EV (redução aguda do
K+), Resina permutadora de íons VO (redução a longo prazo). Hiponatrémia: o paciente deve fazer uma
restrição moderada de sal e água; uso de diuréticos da alça como a FUROSEMIDA (40mg), iniciar
com ½ comp. e ir aumentando consoante a resposta até 4 comp. 2x/dia. Hiperfosfatémia: ingestão de uma

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dieta pobre em fosfato e utilizar fármacos que se ligam ao fosfato, como por ex: ACETATO DE
CÁLCIO e CARBONATO DE CÁLCIO são fármacos fixadores de fosfato, que levam a acumulação
de cálcio corporal com hipercalcémia em pacientes com doença óssea, atenuando a deposição de cálcio
nos vasos sanguíneos. A anemia da IRC não responde a reposição de ferro. Ela deve ser tratada com
ERITROPOETINA, medicação disponível apenas em centros de referência que realizam diálise.
5. SÍNDROME NEFRÍTICA E GLOMERULOPATIAS: As glomerulopatias são patologias de
etiologias diversas que provocam lesões glomerulares com consequente comprometimento da filtração
glomerular e aparecimento de proteínas plasmáticas e células sanguíneas na urina. A lesão glomerular,
que pode surgir em consequência de diversas doenças renais e sistémicas, é a principal causa de doença
renal terminal. Classificação: Agudas, Subagudas e Crónicas; e Primárias ou Secundárias. Primárias:
quando a patologia limita-se ao rim e as características sistémicas representam uma consequência directa
da disfunção glomerular (por ex: edema pulmonar, hipertensão, síndrome urémica). As glomerulopatias
primárias têm cinco principais apresentações clínicas: Síndrome Nefrítica Aguda; Glomerulonefrite
Rapidamente Progressiva (GNRP); Síndrome Nefrótica; Anormalidades assintomáticas do sedimento
urinário; Glomerulonefrite crónica. Síndrome Nefrítica: é uma das formas de apresentação das
glomerulopatias caracterizando-se por uma disfunção renal de início súbito (no decorrer de dias ou
semanas), hematúria, proteinúria e oligúria, que por sua vez manifestam-se em edema e hipertensão
arterial. Quadro Clínico: A Síndroma Nefrítica e a GNRP apresentam mesma sintomatologia porém na
primeira o quadro clínico é agudo e na segunda sub-agudo, instalando-se em semanas ou meses. Os sinais
e sintomas clássicos se destacam a seguir: Edema palpebral matutino que posteriormente se estende a
parede abdominal e extremidades; Oligúria (<400 ml de urina/dia); Hematúria macroscópica; Hipertensão
arterial ligeira a moderada. TRATAMENTO da Síndrome Nefrítica: Como principais medidas de apoio
nos pacientes com doença glomerular destacam-se: Controle da hipertensão e edema (diurético de alça:
FUROSEMIDA, se necessário). Controle dietético de: Sódio (sal de cozinha) até que a diurese se
normalize e o edema desapareça. Proteico, com a redução do aporte proteico nos casos de uremia. Uso de
corticoesteróides na maioria dos quadros imunomediados (para redução da proteinúria e da insuficiência
renal progressiva) - PREDNISOLONA 1mg/kg/dia.
_____________________________________________________________________________________
6. SÍNDROME NEFRÓTICA: é um complexo clínico caracterizado por: proteinúria de> 3 - 3.5 gr/24h,
associada a hipoalbuminémia, edema, hiperlipoproteinémia, lipidúria e hipercoagulabilidade. Quadro
Clínico: A Síndrome Nefrótica é caracterizada por manifestar-se por sinais e sintomas renais e extra-
renais, com destaque para as seguintes: Manifestações renais da Síndrome Nefrótica: Edema – a
principal manifestação clínica da síndrome nefrótica é o edema, o qual pode progredir para anasarca e
derrames cavitários (pleural); HTA; Urina espumosa (pelo aumento de proteínas). Manifestações extra-
renais da Síndrome Nefrótica: Fadiga e perda de massa muscular - estão comumente presentes, mas esta
última deve ser sempre um sinal de alerta, principalmente em idosos, pois algumas doenças que levam à
síndrome nefrótica podem estar associadas a neoplasias. CONDUTA terapêutica: Medidas Gerais:
Monitorar o débito urinário, TA, o peso matinal e a ingestão hídrica; Preferir hidratação VO quando
possível; Uso de I-ECA (ex: CAPTOPRIL); Controlo do Edema: Dieta com restrição moderada de sal
(1 a 2 g/dia) e hipoproteica (a dieta hiperproteíca pode acelerar a doença renal e aumentar a proteinúria);
Uso cuidadoso de diurético de alça (FUROSEMIDA). Muito cuidado para não agravar o quadro com
uso excessivo de diurético, piorando a hipovolemia com consequente IRA pré-renal; Na suspeita de causa
primária imunológica ou doenças auto-imunes: iniciar corticoterapia com PREDNISOLONA 1 a 1,5
mg/Kg/dia, podendo ir até 60 mg/dia. A dose inicial deve ser mantida por 4 semanas após a remissão da

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proteinúria, quando inicia-se redução gradual da droga (redução progressiva, de até 20 mg/mês, até a
retirada), completando um período total de 2 a 4 meses de corticoterapia. Efeitos cushingóides mais
prováveis com doses superiores a 7,5 mg/dia. Se houver recidiva: podem ser novamente tratados com o
mesmo esquema de corticóides
_____________________________________________________________________________________
7.INFECÇÃO DAS VIAS URINÁRIAS: A Infecção bacteriana de trato urinário (ITU) é muito comum,
com maior incidência em mulheres que em homens, intensificando-se com a idade. No homem tem maior
incidência apenas a partir dos 36 anos e tem seu pico em maiores de 65 anos.
7.1.BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA: Refere-se a presença de bactérias na urina sem qualquer
manifestação clínica (sinal ou sintoma) de infecção urinária. O diagnóstico é definido pelo crescimento da
mesma espécie de bactéria em 2 amostras de urina (>100.000 unidades formadoras de colonias/ml) em
mulheres assintomáticas ou 1 amostra positiva em homens assintomáticos. Ocorre mais frequentemente
em crianças com refluxo vesicoureteral ou outras alterações do trato urinário, em mulheres grávidas e em
pessoas idosas de ambos sexos. Mulheres grávidas devem ser investigadas para bacteriúria no primeiro
trimestre da gravidez. TRATAMENTO: Bacteriúria assintomática; Mulheres grávidas com bacteriúria
assintomática devem ser tratadas pelo risco aumentado de pielonefrite, parto prematuro e baixo peso dos
recém-nascidos. Tratar com: 1a escolha: AMOXICILINA/ÀCIDO CLAVULÂNICO (500 mg de
TRIHIDRATO DE AMOXICILINA e 125 mg CLAVULANATO DE POTÁSSIO) de 8/8 h no início
da refeição durante 3- 7 dias. 2a escolha: AMOXICILINA (500mg) 1 cp de 8/8h durante 7 dias; Nos
pacientes diabéticos, deve-se optar por uma Fluorquinolona oral: CIPROFLOXACINA (500mg), 1 cp
de 12/12h durante 3-7 dias.

7.1. CISTITE: Cistite é um processo inflamatório ou infeccioso da mucosa da bexiga. Sinais e Sintomas
da Cistite: Os pacientes com cistite apresentam-se com os seguintes sinais e sintomas: Disúria;
Polaquiúria; Urgência miccional; Dor supra-púbica; Pode ocorrer mudança na cor da urina (turva, rósea,
avermelhada) devido a presença de leucócitos e/ou hematúria (30% dos casos); Geralmente com ausência
de febre. Cistite aguda sem complicações (adultos e mulheres não grávidas).TRATAMENTO: 1a opção:
antibiótico nitrofurantoínico: NITROFURANTOÍNA 100mg (MACRORDANTINA): 1 comp
12/12horas por 5 dias; 2 a opção, uma sulfonamida: COTRIMOXAZOL (400mg de sulfametoxazol e
80mg de trimetoprim), 2 cp de 12/12h durante 3 dias; 3 a opção, uma quinolona: CIPROFLOXACINA
(500mg) 1 cp de 12/12h durante 3 dias (reservar para casos de recaídas).

7.3. PIELONEFRITE: Pielonefrite é definida como inflamação dos rins e pelve renal. Sinais e Sintomas.
Na ITU superior (pielonefrite), para além dos sinais e sintomas descritos anteriormente nas cistites, que
podem ou não estar presentes, destacam-se manifestações sistémicas como: Febre e calafrios; Dor
lombar ou no flanco; Náuseas e Vómitos; Diarreia; Mialgia generalizada; É potencialmente grave se não
tratada podendo levar a sépsi. Em crianças, o único sinal de ITU pode ser a febre (pensar sempre em ITU
na criança com febre). TRATAMENTO: Pielonefrite não-complicada: Em pacientes que não
necessitam de hospitalização: 1 a Opção, fluorquinolona oral: CIPROFLOXACINA (500mg), 1 cp de
12/12h durante 7 dias; 2 a Opção, sulfonamida: COTRIMOXAZOL (400mg de sulfametoxazol e 80mg
de trimetoprim), 2 cp de 12/12h durante 14 dias 3 a Opção:  lactâmico: AMOXICILINA /ACIDO
CLAVULANICO (500mg), 1 cp de 8/8 h durante 7 dias; Considerar iniciar o tratamento com
antibioticoterapia injectável nas primeiras 24 horas em casos de maior risco de complicações. Em
pacientes que necessitam de hospitalização, utilizar sempre antibioticoterapia intravenosa:

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

Cefaslosporina de 3 a geração – CEFTRIAXONA 1 gr de 12/12h durante 14 dias ou CEFOTAXIMA 1


gr de 12/12h durante 14 dias; AMPICILINA (variável conforme o tipo e gravidade da infecção entre 2-
12 g/dia divididos em 4 tomas (dose máxima de 14 g/dia). + aminoglicosideo (GENTAMICINA ou
AMICACINA) (1-1,5 mg/kg de 8/8 h); Fluorquinolonas: CIPROFLOXACINA 400mg IV 12/12 horas
por 7-10 dias

8. PIELONEFRITE AGUDA E CRÓNICA: A maioria das ITU superior resulta da colonização do


tracto urinário por bactérias aeróbias presentes nas fezes. Estas resultam de uma colonização ascendente
retrógrada proveniente da bexiga, via uretra, para a pelve e o parênquima renais. Pielonefrite aguda: É
uma doença inflamatória infecciosa aguda que envolve o parênquima e a pelve renal acompanhada de
sintomas locais e sistémicos. Geralmente é unilateral mas também pode ser bilateral. Pielonefrite
Crónica: A pielonefrite crónica é o resultado de infecções renais repetidas, levando a uma atrofia dos
rins, podendo evoluir para insuficiência renal. O diagnóstico é sugerido em alguns exames de imagem
(tomografia computadorizada e ecografia) e confirmado no exame anatomo-patológico. Quadro Clínico
da Pielonefrite aguda: A pielonefrite caracteriza-se pelo aparecimento súbito de: Febre alta (39 a 40°c) e
prostração; Dor constante no ângulo costovertebral (unilateral ou bilateral); Calafrios; Náuseas, vómitos e
diarreia; Mialgia generalizada; Taquicardia; Sépsis pode ocorrer em 20-30% dos casos. Muitos pacientes
apresentam sinais e sintomas de cistite associada: Disúria; Polaquiúria; Urgência miccional; Urina turva e
fétida. TRATAMENTO: Medidas gerais: Repouso absoluto no leito ate o desaparecimento dos
sintomas; Os factores que predispõem para uma infecção, como obstrução e cálculos devem ser
identificados e corrigidos, se possível; Administração de líquidos por via endovenosa para assegurar a
hidratação adequada e manutenção do débito urinário; Administração de analgésicos e antipiréticos para a
dor e febre; Administração de anti-eméticos para atenuar as náuseas e vómitos. Tratamento antibiótico:
Na maioria dos casos o tratamento é iniciado empiricamente e posteriormente o teste de sensibilidade
antimicrobiana deve ser usado para orientar a terapia, seguindo as seguintes linhas de antibióticos:
Paciente em bom estado geral, sem náuseas ou vómitos: COTRIMOXAZOL (400mg de
sulfametoxazol e 80mg de trimetoprim), 2 comp de 12 em 12 h durante 14 dias OU
CIPROFLOXACINA (quinolona) 500mg, 1 comp de 12 em 12 h durante 14 dias. OU
AMOXICILINA/ÁCIDO CLAVULÂNICO (500mg/125mg), 1 comp de 8 em 8 h durante 14 dias.
Pacientes graves (quadro séptico, náuseas e vómitos) devem ser hospitalizados e iniciada a terapêutica
injectável por 10-14 dias: Cefalosporinas de 3ᵃ geração: CEFTRIAXONA 1 - 2gr EV de 12/12h OU
CEFOTAXIMA 1 - 2gr EV de 12/12h OU AMPICILINA (150-200 mg/kg/dia) + Aminoglicosídeo
(GENTAMICINA: 3-5mg/kg/dia). Grávidas devem receber antibioticoterapia EV pelo menos nas
primeiras 24 horas pelos riscos de parto prematuro. Os casos graves devem receber todo tratamento EV
no hospital. As opções terapêuticas são: CEFTRIAXONA 1 - 2gr EV de 12/12h;
AMOXICILINA/ACIDO CLAVULÂNICO (500mg/125mg) VO 1 comp de 8 em 8 h. O
COTRIMOXAZOL é uma opção terapêutica para casos não graves mas deve ser evitado nas últimas
semanas de gravidez pelo risco de icterícia neonatal. Não devem ser usados tetraciclinas e quinolonas
(CIPROFLOXACINA). Pacientes HIV positivos em profilaxia com COTRIMOXAZOL que
desenvolvem quadros de ITU não devem ser tratados com COTRIMOXAZOL pelo alto risco de
resistência do agente etiológico. Pode-se usar as outras opções via oral ou endovenosa, segundo a
gravidade do caso.
9. TUBERCULOSE DO APARELHO URINÁRIO: A tuberculose extra-pulmonar vem aumentando
nos últimos anos devido ao maior número de indivíduos infectados pelo HIV e ao aumento da resistência

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as drogas anti-tuberculosas. O tracto genito-urinário é um dos locais mais comumente acometido pela
tuberculose extra pulmonar, podendo ser afectados um ou mais órgãos e causar uma infecção crónica. A
tuberculose urinária é mais frequente em adultos (60%), entre os 20 e 60 anos de idade e no sexo
masculino. Quadro Clínico: Os sinais e sintomas da tuberculose genitourinária são de intensidade e
duração variáveis. A tuberculose urinária deve ser considerada na presença de qualquer uma das situações
seguintes: Cistite crónica, insidiosa com predomínio polaquiúrico e que não responde a tratamento
adequado; Piúria e cultura de sedimento urinário sem bactérias; Hematúria microscópica ou
macroscópica. A maioria dos sintomas, mesmo no estádio avançado, tem origem vesical (cistite),
associados a um mal-estar generalizado, fatigabilidade, febre baixa persistente, sudorese
nocturna.Tuberculose renal / ureteral: Geralmente assintomática, sendo os sintomas provenientes do
envolvimento vesical; Ocasionalmente, pode haver dor no flanco; Cólica renal e ureteral: resultado da
passagem de um cálculo, por exemplo, uma massa de resíduos ou um coágulo sanguíneo.Tuberculose
vesical: Disúria; Polaquiúria; Nictúria; Hematúria total e intermitente; Irritabilidade vesical intensa (num
estádio mais avançado); Dor supra púbica (quando há ulceração, durante o enchimento vesical).
Tuberculose na próstata, ductos seminais e epidídimo: É geralmente assintomática. Sintomas leves
aparecem nos casos em que a infecção se estende ao epidídimo como dor e edema leve. Abcesso que
drena para o testículo é altamente sugestivo de tuberculose. TRATAMENTO: O tratamento da
tuberculose urinária (extra pulmonar) segue a mesma linha usada na tuberculose pulmonar: com doses
fixas combinadas. Fase intensiva: 2 HRZE: 2 meses de 4DFC (ISONIAZIDA, RIFAMPICINA,
PIRAZINAMIDA e ETAMBUTOL). A toma e diária e de preferência na unidade sanitária de
seguimento. Fase de manutenção: 4HR: 4 meses de 2 DFC (ISONIOAZIDA e RIFAMPICINA).
Toma diária. Caso especial: TB Urinaria + Insuficiência renal. Fase intensiva: 2 HRZ: 2 meses de 4
DFC (ISONIAZIDA, RIFAMPICINA E PIRAZINAMIDA). Toma diária. Fase de manutenção: 4
HR: 4 meses de 2 DFC (ISONIAZIDA E RIFAMPICINA). É importante recordar que todo doente com
diagnóstico de tuberculose deve ser aconselhado e testado para HIV.
_____________________________________________________________________________________
10.NEFROPATIAS ESPECÍFICAS: são aquelas que se manifestam dentro de um quadro sindrómico
de variadas doenças sistémicas, constituindo parte do quadro clínico ou complicação tardia. Podem ser a
principal causa de insuficiência renal terminal, com critério para hemodiálise ou transplante renal. Muitas
delas são consideradas de maior incidência e prevalência no nosso meio, como sendo o caso das
nefropatias: diabética, associada ao HIV, HTA e malaria.
10.1.NEFROPATIA ASSOCIADA AO HIV/SIDA: A nefropatia por HIV pode representar uma
consequência ou complicação directa da infecção pelo HIV, ser causada por infecção oportunista ou
neoplasia, ou estar relacionada com os efeitos tóxicos dos fármacos. Quadro Clínico: Oligúria;
Hematúria; Piúri. TRATAMENTO geral: Hidratação; Evitar o uso de PENTAMIDINA,
ANFOTERICINA, ADEFOVIR, CIDOFOVIR, TENOFOVIR, FOSCARNET, INDINAVIR
(fármacos fortemente associados a lesão renal e formação de cálculos em pacientes com HIV);
Modificação da dieta para ingestão normoproteica, normocalórica e hiposódica. TRATAMENTO
específico: Uso dos IECAs (inibidores da enzima de conversão da angiotensina): CAPTOPRIL 1 Cp. de
8/8h ou ENALAPRIL, ½ Cp. de 12/12h. TARV segundo critérios clínicos e imunológicos. Uso de
corticosteroides para a remissão da proteinúria: PREDNISOLONA, 60mg/dia durante 4 semanas, com
desmame gradual. Deve ser usada com cuidado levando em conta os efeitos negativos potenciais do uso
prolongado de glicocorticóides em pacientes HIV.

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10.2. NEFROPATIA DIABÉTICA: A Nefropatia diabética é a causa isolada mais comum de


insuficiência renal crónica, sendo responsável por 45% dos pacientes que recebem terapia de reposição
renal, além de ser um problema que esta a crescer rapidamente em todo o mundo. A nefropatia diabética
(ND) é uma das complicações mais graves da diabetes mellitus. Quadro clínico: A principal
característica clínica da nefropatia diabética é seu curso insidioso. Assim, o paciente passa pelas fases de
hiperfiltração e microalbuminúria ao longo de anos, sem notar qualquer sintoma específico da nefropatia,
uma vez que o diagnóstico depende inteiramente de exames laboratoriais. Em geral, a nefropatia diabética
é diagnosticada em bases clínicas, sem necessidade de biopsia renal. A retinopatia diabética é encontrada
em 60 a 90% dos pacientes. Apenas na fase de proteinúria clínica o paciente começa a notar
progressivamente: Urina espumosa; Edema que depende do grau de proteinúria; Agravamento da
hipertensão arterial, com aumento na necessidade de drogas anti-hipertensivas. TRATAMENTO:
Medidas Gerais: interrupção do tabagismo, prática de exercício físico e disciplina alimentar conforme o
tipo de Diabetes: Diabetes tipo I: controle glicémico com uso de INSULINA e disciplina alimentar.
Diabetes tipo II: Pacientes com diabetes tipo II geralmente apresentam sobrepeso ou obesidade e
beneficiam-se com perda de peso através de diminuição da quantidade de ingestão de carboidratos e
gorduras. Medidas Específicas: os pacientes com Diabetes tipo II são tratados com hipoglicemiantes
orais ou associados ao uso de INSULINA. Seguem alguns exemplos de hipoglicemiantes orais:
Sulfoniluréias: GLIBENCLAMIDA (5mg), iniciar com 2,5 – 5mg/dia ao pequeno almoço e aumentar
progressivamente esta dose em intervalos de 5-7 dias até conseguir o controle da glicémia, atingindo o
máximo de 15 mg/dia. Biguanidas: METFORMINA (500mg), iniciar com 500mg ao pequeno-almoço
durante 1 semana, depois 500mg ao pequeno almoço e ao jantar por mais 1 semana e por ultimo 500mg
ao pequeno-almoço, almoço e jantar, dose máxima 2-3gr/dia. Controle da TA e da pressão capilar
glomerular: Todos os pacientes diabéticos (tipo 1 e 2) com microalbuminúria ou declínio da função renal
devem ser tratados com I-ECA (CAPTOPRIL ou ENALAPRIL: doses descritas em cima), mesmo na
ausência de hipertensão arterial sistémica. Pacientes com HTA devem ser tratados com medidas gerais
(dieta hiposódica, prática de exercícios regulares, eliminação do tabagismo, etc) e os anti-hipertensivos
de escolha são os I-ECA. Pacientes no estádio IV devem iniciar restrição dietética de proteínas na ordem
de 0,8 gr/kg do peso corporal ideal/dia.

10.3. NEFROPATIA ASSOCIADA A GRAVIDEZ COMPLICADA: A associação entre nefropatias e


gravidez aumenta a incidência de complicações materno-fetais. A função renal na gravidez é alterada em
decorrência do aumento da filtração glomerular, o que altera os parâmetros de normalidade das provas de
função renal. Quadro clínico: A síndrome nefrótica é caracterizada por: Edema; HTA; Urina espumosa
(pelo aumento de proteínas); Astenia; O quadro renal pode apresentar complicações ou estar associadas a
patologias graves da gravidez como a pré-eclâmpsia e/ou eclâmpsia. Nesses casos, outros sinais e
sintomas estão associados: Anasarca que pode evoluir com derrames cavitários e insuficiência cardio-
respiratória; Hipertensão arterial grave de difícil controlo; Anemia; Dor abdominal; Alterações do SNC:
Cefaleias, vertigens, alterações de visão, convulsões; Trombose arterial ou venosa; Insuficiência renal
aguda. TRATAMENTO: Medidas gerais:; Não se usa restrição intensa na ingestão de sal e
diuréticos na gravidez, em virtude do aumento de perda fetal relacionado a esta prática. O ganho de peso
durante a gestação pode ser uma indicação se a ingestão de sal estiver apropriada; Controlo da TA:
METILDOPA (250mg) de 8/8h ou HIDRALAZINA. Usam-se em menor escala bloqueadores dos
canais de Ca2+; IECA e NITROPRUSSIATO estão contra-indicados na gravidez.

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10.4. NEFROPATIA HIPERTENSIVA: Nefropatia hipertensiva é definida como insuficiência renal na


qual hipertensão arterial é o único factor etiológico conhecido na prática, nefroangioesclerose, que é o
termo histológico, refere-se a doenças com alterações patológicas que ocorrem predominantemente na
microvasculatura pré-capilar e envolvem, secundariamente, o glomérulo e o interstício. Quadro clínico:
Nefroesclerose benigna: Geralmente constituem um grupo de pacientes de idade avançada,
diagnosticados em um exame físico de rotina ou como resultado de uma sintomatologia não-especifica
(por ex: cefaleia, fraqueza, palpitações). A nefroesclerose que acompanha a hipertensão arterial sistémica
de longa duração constitui a manifestação de um processo generalizado que afecta o sistema
cardiovascular. Assim, o exame físico pode revelar alterações dos vasos retininanos (estenose arteriolar
e/ou hemorragias superficiais (chama de vela), hipertrofia cardíaca e, possivelmente, sinais de ICC.
Nefroesclerose maligna: Na descrição clássica de nefropatia hipertensiva maligna, os sintomas iniciais
são habitualmente neurológicos (vertigem, cefaléia, borramento visual, estados alterados da consciência e
convulsões focais ou generalizadas), elevação súbita da pressão arterial (geralmente PA diastólica> 130
mmHg) e edema da papila. Posteriormente, ocorre a descompensação cardíaca e renal, e até perda
ponderal, com hematúria macroscópica. TRATAMENTO farmacológico: Nefropatia Hipertensiva
benigna: Uso dos IECAs: CAPTOPRIL 1 Cp. de 8/8h e ENALAPRIL ½ Cp. de 12/12h. Pacientes com
insuficiência renal: -bloqueadores: PROPRANOLOL, Cp. de 40 mg. 20 a 40 mg 12/12h podendo
aumentar paulatinamente até 360mg/d divididos em duas ou três tomas. Nefropatia Hipertensiva
maligna: O mais usado é o NITROPRUSSIATO EV com infusão contínua na dose de 0,25 a 8,0
g/kg/min. A dose deve ser controlada numa bomba de infusão: -Bloqueadores: PROPRANOLOL,
Cp. de 40 mg. 20 a 40 mg 12/12h podendo aumentar paulatinamente até 360mg/d divididos em duas ou
três tomas ATENOLOL; Diurético da alça: FUROSEMIDA (40mg), 40-80mg VO ou Ev. A
FUROSEMIDA é um complemento ao tratamento e serve para manter a diurese do sódio diante de uma
pressão arterial em declíneo; Os IECA também estão indicados.

10.5. NEFRITE MALÁRICA: A malária é a primeira infecção parasitária que apresenta uma associação
com a síndrome nefrótica nas regiões tropicais. Quadro clínico: Para além da clínica da malária (febre,
náuseas, vómitos, cefaleias, artralgia) que pode já estar a resolver-se em decorrência do tratamento, o
quadro clínico decorre na vigência de um síndrome nefrótico (astenia, urina espumosa, edemas palpebral
e pré-tibial, hipertensão) conforme evolução da doença.TRATAMENTO farmacológico: O tratamento
das nefropatias como complicação da malária segue a linha de tratamento da malária severa ou
complicada e da síndrome nefrótica: QUININO injectável (600mg/2ml): 10 mg/kg diluídos em 10 ml/kg
de DEXTROSE a 5%, administrados em perfusão EV lenta durante 4 horas. Repetir a perfusão de 8/8 h
horas, ate no mínimo de 14 dias de tratamento; Controle da hipertensão sistémico e glomerular com o uso
de IECAs, por ex: CAPTOPRIL (50mg), iniciar com 25 mg ½ Cp./dia e ir subindo as doses ate
100mg/dia; Controlo do volume do líquido extra celular (edema), com o uso de diuréticos:
FUROSEMIDA – 1 a 5 mg/kg/dia (via oral ou endovenosa); Modificação da dieta, optando por ingestão
normoproteica, normocalórica e hipo sódica; Expansão com solução fisiológica, iniciando com 500ml de
8/8h, logo seguida da realização dum plano de hidratação; Controle da proteinúria: O controlo da
proteinúria é feito com o uso de corticoesteróides: PREDNISONA 1 mg/kg/dia (ou 2 mg/kg em dias
alternados), dose máxima de 80 mg/dia.

10.6. NEFROPATIA PÓS-ESTREPTOCÓCICA: Glomerulonefrite pós-estreptocócica: Trata-se de


uma glomerulonefrite pós-infecciosa, sendo uma causa importante de síndrome nefrítica aguda. Ocorre

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em média 10 dias após uma faringite ou 2 semanas após infecção cutânea por estreptococo beta-
hemolítico. Quadro Clínico: O quadro clínico é bastante variável, podendo existir casos assintomáticos
ou com sintomas discretos, até casos mais graves com insuficiência renal severa. Clinicamente, a GNPE
corresponde a um quadro clássico de síndrome nefritica. Assim, apresenta-se com início súbito de:
Hematúria; Edema; Hipertensão; Oligúria; Cefaleia; Mal-estar geral; Náuseas; Dor no flanco.
TRATAMENTO: Restrição hidro-salina; Dieta hipo-sódica; Repouso; IECAs (controle da TA):
CAPTOPRIL 1 Cp. de 8/8h ou ENALAPRIL ½ Cp. de 12/12h. Antibioterapia com PENICILINA G,
12 milhões de UI de PENICILINA G/dia durante 10 a 14 dias. Adultos com meningite ou endocardite
associada devem fazer 18-24 milhões de unidades/dia durante 10 dias.
11. NEFROPATIA POR REFLUXO: Denomina-se Nefropatia por refluxo (NR) ao conjunto de lesões
cicatriciais do rim secundárias ao refluxo vesico-ureteral (RVU), isto é, fluxo retrógrado do fluido
urinário da bexiga para o trato superior causando hidronefrose e insuficiência renal. Quadro clínico: Os
sintomas do refluxo vesico-uretral estão relacionados a presença de uma ITU (cistite e pielonefrite), com
a idade do paciente e com a virulência da bactéria (infecções do trato urinário não são comuns nas
crianças menores de 5 anos de idade e não são frequentes em meninos de nenhuma idade a menos que o
RVU esteja presente). Em crianças, o quadro clínico varia desde sintomas inespecíficos com falta de
apetite crónico, ganho de peso inadequado até aos sinais e sintomas clássicos de pielonefrite (febre,
disúria, polaquiúria, etc). Pode haver também enurese nocturna. Em jovens e adultos dor referida na
região lombar por ocasião da micção pode esporadicamente ser observada, assim como sintomas
miccionais tipo disúria, polaquiúria, urgência. A nefropatia do refluxo é a causa mais comum de
hipertensão e insuficiência renal na infância, No adulto, a nefropatia de refluxo é responsável por cerca de
20% das hipertensões graves. Os sintomas podem não estar presentes se apenas um rim for afectado. O
quadro clínico pode ser o mesmo apresentado quando se trata apenas de um rim afectado: Como por
exemplo: Febre, Dor na região lombar, Disúria, Polaquiúria, Hipertensão. CONDUTA: As medicações
mais frequentemente utilizadas são: SULFAMETOXAZOL (10 mg/kg) + TRIMETOPRIM (2 mg/kg),
1 vez/dia, ou NITROFURANTOÍNA (1 mg/kg), 1 vez/dia, ou CEFALEXINA (25 mg/kg), 1 a 2
vezes/dia, intervalos regulares para as micções em torno de seis vezes ao dia; Evitar e tratar a obstipação
intestinal; Realizar higiene perineal rigorosa nas meninas; Realização de exames periódicos de urina (a
cada dois a três meses), ou quando houver sinais ou sintomas de infecção do trato urinário; Monitorização
clínica quanto ao crescimento e à pressão arterial. Estimular a ingestão de água visando a aumentar o
volume urinário e o número de micções.
_____________________________________________________________________________________
12. LITÍASE URINÁRIA OU NEFROLITÍASE: aborda os cálculos que se originam nos rins, mas que
podem, subsequentemente, movimentar-se distalmente, atingindo outros locais do tracto urinário. É mais
comum em homens que em mulheres apesar da prevalência em mulheres estar aumentando nos últimos
anos em alguns países. Os cálculos são agregados policristalinos compostos por diferentes quantidades de
cristalóides e uma matriz orgânica. Tipos de cálculos: Cálculos de cálcio, Oxalato de cálcio (puros ou
associados com fosfato de cálcio): 59%, Cálculos de ácido úrico: 17%, Cálculos de estruvita: 12%,
Cálculos de cistina e outros: 2%. Quadro Clínico Geral: dor tipo cólica, Hematúria micro/macroscópica,
Febre, A cólica ureteral pode estar acompanhada de: Agitação, Taquicardia, Taquipneia e Hipertensão.
TRATAMENTO da Dor: AINE: DICLOFENAC 100mg IM; DICLOFENAC ou IBUPROFENO VO
a cada 8 horas; Espasmolíticos: BUTILESCOPULAMINA 20mg IM/IV de 6/6h ou 1 comp de 6/6h;
Analgésicos; antipiréticos: PARACETAMOL, DIPIRONA; Opiáceos (casos mais grave, sem alivio
com as medicações acima): MORFINA ou PETIDINA 10mh IM de 6/6h. Hidratação:

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Em casos graves deve ser feita via endovenosa. Os que podem ser hidratados via oral devem aumentar a
ingestão hídrica para no mínimo 2,5 a 3 litros por dia.
AS EMERGÊNCIAS URINÁRIAS
13. CÓLICA NEFRÍTICA: Caracteriza-se por uma dor aguda, intensa, oscilante proveniente do tracto
urinário superior. É resultado de obstrução aguda do uréter em qualquer de suas porções, desde a junção
uretero-pélvica (JUP) até o meato ureteral. Quadro clínico: O sintoma principal é a dor lombar em
cólica, intensa, com irradiação antero-inferior, que pode atingir o hipogástrio e os genitais; Pode ser
acompanhada de sintomas irritativos vesicais como disúria, polaquiúria e sensação de resíduo pós-
miccional; Náuseas e vómitos associados; Taquicardia, sudorese; palidez cutânea. ABORDAGEM
TERAPÊUTICA: Para o controle da dor usam-se: Anti-inflamatórios não esteróides (AINEs):
IBUPROFENO 200 a 400mg de 8/8 horas (dose máxima diária 2400mg) por via oral; DICLOFENAC
25 a 50mg de 8/8 horas via oral ou 75mg 1 a 2 vezes por dia via intramuscular. INDOMETACINA 25 a
50mg de 8/8 horas via oral; Opiáceos - Em pacientes com cólicas mais intensas e refratárias às
medicações acima; PETIDINA 50 a 100mg ou 1 a 2ml intramuscular de 4/4 horas. Hidratação – Por via
endovenosa com LACTATO DE RINGER, dose variável, de acordo com o quadro clínico do paciente.

14. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (IRA): A insuficiência renal aguda é caracterizada pela
redução abrupta da função renal, que se mantém por períodos variáveis de tempo, resultando na
incapacidade dos rins exercerem as suas funções básicas de excreção e manutenção da homeostase
hidroelectrolítica do organismo. Quadro clínico: O paciente com insuficiência renal aguda pode
apresentar sintomatologia de qualquer uma das complicações listadas acima, ou de todas em simultâneo,
como por exemplo: Ansiedade, Tosse com expectoração espumosa rosada (devido a presença de sangue),
Dispneia significativa, Fervores bolhosos bilaterais, roncos e/ou sibilos, Ortopneia, Sintomas urinários
como oligúria (uma diurese inferior a 400 ml/dia em adultos) ou anúria (uma diurese inferior a 100
ml/dia), Palidez, sudorese, taquipneia, Pulso rápido, taquicardia e/ou arritmias cardíaca, Hipotensão,
Pulso jugular aumentado e Edema palpebral e/ou generalizado. CONDUTA TERAPÊUTICA: No
edema agudo do pulmão: OXIGÉNIO – 5 l/min, MORFINA 2.5mg EV + METOCLORPRAMIDA
10mg EV, FUROSEMIDA 120-250mg EV. Na Hipercalémia: Restrição de K+ na dieta,
GLUCONATO DE CÁLCIO a 10% (10 ml) EV em 5 min, se há alterações eletrocardiográficas,
BICARBONATO DE SÓDIO (em geral, 50 a 100 mmol), se acidose metabólica grave, GLICOSE 50%
(50 ml) + INSULINA RÁPIDA 10UI EV. No tamponamento cardíaco: Repouso absoluto no leito com
a cabeça ligeiramente levantada a 30º, OXIGÉNIO 5 l/min, Depois de estabilizar o paciente: redução da
ansiedade e da dispneia, início da diurese, normalização dos sinais vitais, transfira para uma unidade de
nível superior ou para o médico.

15. SÉPSIS URINÁRIA: Definida como a presença de microorganismos patogénicos ou das suas
toxinas na corrente sanguínea e tecidos provenientes do sistema urinário. Quadro clínico: Febre,
Taquicardia, Hipotensão, Desidratação e Agitação. CONDUTA TERAPÊUTICA: É de fundamental
importância hidratação venosa com SORO FISIOLÓGICO ou RINGER LACTATO;
Oxigenioterapia quando necessário; Antibioticoterapia endovendosa. Podem ser usados diferentes
esquemas terapêuticos: CEFTRIAXONA 1-2g Ev/dia durante 10 dias, Fluorquinolonas:
CIPROFLOXACINA 400mg IV 12/12 horas por 7-10 dias, AMPICILINA 1-2gr Ev 4/4 h durante 10-
14 dias + GENTAMICINA 3-5mg/kg/dia durante 10-14 dias.

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

XVI. GERIATRIA

1. INCONTINÊNCIA URINÁRIA: refere-se à perda involuntária de urina em quantidades suficientes e


com frequência necessária para se transformar em problema social ou de saúde. Trata-se de uma situação
anormal em qualquer idade e deve ser tratada. Classificação: A incontinência urinária nos idosos
classifica-se em: transitória e crónica. Incontinência urinária transitória: Este tipo de incontinência é
causado por causas reversíveis que, na população idosa, se situam, de um modo geral, fora do aparelho
urinário. Causas reversíveis da IU: Condições que afectam o trato urinário inferior: Infecções
urinárias, Vaginite atrófica, Uretrite, pós-prostatectomia, pós-parto e Impactação fecal; Efeitos
colaterais de drogas: Diuréticos, Anticolinérgicos (atropina, biperideno, butilescopolamina), Agentes α
adrenérgicos (prazocina), Psicotrópicos (barbitúricos, ansiolíticos, narcóticos, opiáceos). Produção
aumentada de urina: Causa Metabólica (hiperglicémia e hipercalcêmia), Ingestão hídrica excessiva,
Insuficiência cardíaca com sobrecarga de volume, Insuficiência venosa com edema, capacidade ou
vontade prejudicada de chegar a uma casa de banho (Delirium, Doença crónica, traumatismo,
psicológica). Incontinência urinária crónica: Incontinência por urgência – também conhecida como
hiperactividade do detrusor ou bexiga hiperactiva, é caracterizada por contracções não inibidas da bexiga,
sendo o tipo mais comum de IU no idoso. Clinicamente o paciente apresenta: vontade incontrolável de
urinar, aumento da frequência urinária, incontinência nocturna e perda de grandes volumes de urina
(>100ml). TRATAMENTO: Incontinência Urinária com Causas Reversíveis: Condições que
Afectam a Trato Urinário Inferior: Infecção do Trato Urinário (sintomática com frequência, urgência
e disúria). Usa-se tratamento de amplo espectro quando não é possível fazer urocultura. Cistite aguda sem
complicações: 1ᵃ Linha, uma sulfonamida: COTRIMOXAZOL (400mg de sulfametoxazol e 80mg de
trimetoprim), 2 Cp. de 12/12h durante 7-10 dias, 2ᵃ Linha, uma quinolona: ACIDO NALIDIXICO
(500mg), 2 Cp. (1gr) de 6/6h durante 7 dias, 3ᵃ Linha, uma penicilina de largo espectro: Amoxicilina
(500mg), 1 Cp. de 8/8h durante 7 dias, 4ᵃ Linha, uma quinolona: CIPROFLOXACINA (500mg) 1 Cp.
de 12/12h durante 7-10 dias. Pielonefrite: 1ᵃ Linha, quinolona oral: CIPROFLOXACINA (500mg), 1
Cp. de 12/12h durante 14 dias, 2ᵃ Linha, penicilinas: AMOXICILINA /ACIDO CLAVULANICO
(500mg de amoxicilina), 1 Cp. de 8/8 h ou AMOXICILINA 1 gr. de 8/8 hr. durante 14 dias. Em casos
graves: terapêutica injectável: Cefalosporinas de 3ᵃ geração – CEFTRIAXONA 1 gr de 12/12h durante
14 dias ou Cefotaxima 1 gr de 12/12h durante 14 dias. NOTA: com a excepção da AMOXICILINA, os
medicamentos acima mencionados estão incluídos no nível 3 de prescrição. Vaginite ou Uretrite
Atrófica: Caracterizada por atrofia da mucosa vaginal, que se encontra friável, por vezes com pequenas
erosões e hemorragias punctiformes, provoca sensações de ardor e disúria. Causada por diminuição de
estrogénios, não existe uma coaptação eficaz na mucosa da uretra, permitindo a passagem involuntária de
urina. TRATAMENTO consiste na administração de estrogénio tópico - estrogénios equino-conjugados.
Creme vaginal 42,5 g. (medicamento do nível 4 de prescrição). Impactação fecal – é a principal
complicação da obstipação no idoso. Ocorre devido acumulação de fezes as quais adquirem uma
consistência rochosa (fecalomas) no cólon proximal, sigmóide e reto, originando um quadro obstrutivo
com náuseas, vómitos e dor abdominal. TRATAMENTO consiste na: Desimpactação – extracção
manual do fecaloma. O procedimento pode ser doloroso e necessitar de uso de sedação prévia, uso de
LIDOCAINA e fragmentação do fecaloma. Aplicação de emolientes fecais ou laxantes que devem ser
usados por um período muito curto como: BISACODIL 5 a 10mg oral á noite, PARAFINA LÍQUIDA
10 a 30ml à noite.Tratamento da Incontinência Urinária Crónica: Incontinência por Urgência: A
terapia farmacológica consiste no uso de fármacos anticolinérgicos (PROPANTELINA), anti-

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

espasmódicos, (FLAVOXATO, OXIBUTININA, TOLTERODINA, TROSPIUM),antidepressivos


tricíclicos (IMIPRAMINA) ou bloqueadores dos canais de cálcio - que causam relaxamento da bexiga.
Mas deve-se ter cuidado com os efeitos colaterais destes fármacos por risco de retenção urinária,
confusão, prisão do ventre, boca seca e pode levar ao abandono da terapêutica.
_____________________________________________________________________________________
2. OSTEOPOROSE: É uma diminuição progressiva da massa óssea (mais de 25%), que faz com que os
ossos se tornem mais frágeis e propensos às fracturas. O organismo requer um fornecimento adequado de
cálcio e de outros minerais para manter a densidade dos ossos. Também precisa de um fornecimento
adequado de vitamina D para absorver o cálcio dos alimentos e incorporá-lo nos ossos. Quando o
organismo não é capaz de regular o conteúdo mineral dos ossos, estes perdem densidade e tornam-se mais
frágeis, provocando osteoporose. Devido a esta fragilidade óssea, estes podem fracturar expontâneamente
levando a queda do paciente, ou podem ocorrer fracturas ao mínimo impacto de uma queda. A
osteoporose é assintomática. Quando há colapso ou fractura óssea, o paciente pode apresentar dor e
deformidade óssea. TRATAMENTO farmacológico: ESTROGÉNIOS – para prevenção e tratamento
de osteoporose pós menopáusica; TESTOSTERONA – para homens com osteoporose senil;
Bifosfonatos – aumentam a densidade do osso e reduzem o risco de fracturas vertebrais e não vertebrais.
Compostos multivitamínicos contendo VITAMINA D e CÁLCIO (CÁLCIO: comprimidos de 500 mg;
500 a 1500 mg/dia em doses divididas, não excedendo 500 mg/dose. Exemplo: ½ comp. de 12/12h).
3. DELIRIUM – é uma síndrome clínica caracterizada como um distúrbio agudo da consciência, da
atenção e da função cognitiva. É a complicação mais frequente em idosos hospitalizados. Manifestações
Clínicas: As perturbações que ocorrem no delirium tem um inicio agudo e uma evolução flutuante;
Alterações na atenção – o paciente têm incapacidade de prestar, manter e focalizar a atenção; parece
facilmente distraído e tem dificuldade na focalização, manutenção de conversação e em obedecer a
comandos. Alteração na memória – a memória recente é prejudicada tanto retrógrada como anterógrada.
Alteração do pensamento – sendo a disgrafia (problemas na escrita) um dos indicadores mais sensíveis.
Pode ter também alucinações visuais e auditivas. Raciocínio desorganizado – o paciente divaga e
inclusive torna-se incoerente. Alteração do nível de consciência – desorientação no tempo, espaço e em
relação às pessoas (pex: confundir familiares com estranhos e vice-versa). Anormalidades psicomotoras –
agitação (falar alto, muito rápido e sem parar) ou sonolência (paciente age lentamente, muito calado e
retraído). Perturbações no ciclo sono-vigília – os pacientes costumam estar sonolentos durante o dia e à
noite acordam com muita frequência. Diferenças entre delirium e psicose: Sinais Comuns de Delirium
(doença física): Confusão sobre a hora do dia, data, o local ou a própria identidade, Dificuldade de
concentração, Perda da memória recente, Incapacidade de raciocinar logicamente ou de efectuar cálculos
simples, Febre ou outros sinais de infecção, Preocupações comumente inconsistentes, Alucinações
(quando presentes) principalmente visuais, Tremor. Sinais Comuns de Psicose (doença mental): Em
geral, orientado no tempo, no espaço e consciente de sua identidade, Capacidade de concentração,
Pensamento ilógico, mas retenção da memória recente, Preservação da capacidade de realizar calculus,
História de distúrbios psiquiátricos anteriores, Preocupações frequentemente fixas e consistentes e
Alucinações (quando presentes) principalmente auditivas. TRATAMENTO farmacológico: Este
tratamento deve ser reservado para os pacientes nos quais os sintomas de delirium possam resultar na
interrupção das terapias médicas necessárias (p.ex., intubação, cateterização venosa) ou ameaçar a
segurança do paciente ou de outras pessoas. Neurolépticos - são os agentes de tratamento preferencial.
HALOPERIDOL dose inicial 0,5 a 1mg por via oral ou parenteral repetida a cada 30 minutos após
reavaliação dos sinais vitais até obter a sedação. Dose de manutenção consiste na metade da dose de

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ataque usada para se obter a sedação e deve ser administrada em doses fraccionadas nas 24 horas
seguintes, com diminuição gradual da dose nos próximos dias até a resolução do quadro. NOTA: a
prescrição dos medicamentos neurolépticos é de competência do médico ou do Técnico de Psiquiatria.
Benzodiazepínicos – não são recomendados como tratamento de primeira linha do delirium, devido
a sua tendência de causar sedação excessiva e exacerbar o estado de confusão. Mas são de escolha para
os casos de síndromes de abstinência de álcool e de medicamentos sedativos. Na síndrome de
abstinência de álcool administrar DIAZEPAM 10-20 mg EV (seguidos de 5 mg de DIAZEPAM de 4 em
4 horas).
_____________________________________________________________________________________

4. ÚLCERAS DE PRESSÃO: São lesões de tecidos de áreas que recobrem uma proeminência óssea, nas
zonas onde a pele e os tecidos subjacentes foram pressionados por uma cama, por uma cadeira de rodas,
por um aparelho gessado, por uma tala ou por outro objeto rígido durante um período prolongado. A
pressão exercida sobre a area envolvida provoca uma insuficiencia do fluxo sanguineo responsavel pelos
processos de degeneração e de necrose tissular. As úlceras classificam-se em 4 estágios dos quais o III e
IV para além da profundidade da úlcera, apresentam sinais de infecção que devem ser imediatamente
controlados para evitar a sua propagação. TRATAMENTO empírico com: AMOXICILINA
comprimidos de 500mg 1 cp de 8/8 horas durante 7 dias, METRONIDAZOL comprimidos de 250 mg 2
cp de 8/8 horas durante 7dias, Analgésicos (PARACETAMOL 500mg 1 cp de 8/8 horas) e
MULTIVITAMINAS 1cp por dia.

5. ABUSO DO IDOSO ou maus tratos – é todo acto único ou repetido, ou mesmo falta de acção,
praticado por um cuidador ou outra pessoa de confiança sobre o idoso que resulte em danos ou prejuízo,
ameaçando a sua saúde ou o seu bem-estar. Tipos de abuso: Abuso físico - Uso da força física que pode
resultar em ferimentos corporais, em dor física ou em incapacidade. Punições físicas de qualquer tipo.
Abuso psíquico ou emocional – correspondem a agressões verbais (insultos, humilhações, tratamento
infantilizado) ou gestuais com o objectivo de aterrorizar os idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade
ou isolá-los do convívio social. Abuso sexual – contacto sexual de qualquer tipo não consentido. Abuso
financeiro ou material - Uso ilegal ou inapropriado de fundos, propriedades ou bens do idoso.
Negligência – recusa ou ineficácia em fornecer os cuidados de que a pessoa necessita. Auto – negligência
- Diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua própria saúde ou segurança, pela recusa de
prover cuidados necessários a si mesma. Estão excluídas situações nas quais uma pessoa idosa
mentalmente capaz (que compreende as consequências das suas decisões) toma decisões conscientes e
voluntárias de se envolver em actos que ameaçam a sua saúde ou segurança. PAPEL DOS
PROFISSIONAIS DE SAÚDE: Em caso de abuso sexual comprovado ou com fortes suspeitas, deve
ser feito: Tratamento Clínico: PPE – Profilaxia pós exposição ao HIV se o contacto tiver sido recente
(nas 48 horas prévias) com: AZT + 3TC ou D4T + 3TC associados a LOPINAVIR/RITONAVIR
durante 4 semanas, iniciada logo que possível nas primeiras 6 horas ou o mais tardar até 72 após o abuso.
Tratamento para ITS (incluindo teste do HIV).

6. FRAGILIDADE: é uma síndrome clínica caracterizada por redução das reservas dos diversos sistemas
fisiológicos, determinada pelo efeito combinado do envelhecimento biológico, doenças crónicas e maus

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hábitos de vida (tabagismo, alcoolismo e sedentarismo), que provoca uma inabilidade do organismo a
reagir apropriadamente as várias situações de estress. São três as principais mudanças relacionadas à
idade, subjacentes à síndrome: 1) alterações neuromusculares (principalmente sarcopénia); 2)
desregulação do sistema neuroendócrino; 3) disfunção do sistema imunológico. Sintomas mais comuns:
Perda de peso, Fadiga, Fraqueza muscular, Anorexia e Falta de actividade física. TRATAMENTO: Em
primeiro lugar tratar as causas e os factores associados: Uso de anti – inflamatórios como
(PARACETAMOL, IBUPROFENO e DICLOFENAC entre outros) para controlar o processo
inflamatório quando instalado. Reposição hormonal (ESTROGÉNIO, TESTOSTERONA…) nos casos
de deficiências hormonais. Tratar a obstipação: Uso de emolientes fecais ou laxantes que devem se
usados por um período muito curto como: BISACODIL 5 a 10mg oral á noite, PARAFINA LÍQUIDA
10 a 30ml à noite. Aumento da ingestão de fibras (20g/dia em forma de cereais, pão integral, legumes,
verduras e frutas). Adequada ingestão de líquidos (1.500 ml/dia)

7.CUIDADOS PALIATIVOS: Segundo a OMS, cuidados paliativos definem-se como cuidado integral
e activo de um paciente, cuja doença não responde ao tratamento curativo. Nos cuidados paliativos são
usadas técnicas que aumentam o conforto do paciente mas não interferem na sobrevida do paciente.
Sintomas – são um dos elementos chaves dos cuidados paliativos. Os mais frequentes são: Esfera
somática: dor, dispneia, anorexia, imobilidade, confusão, fadiga, tosse, náuseas, vómitos, diarreia,
obstipação e incontinência. Esfera emotiva: depressão, medo, ansiedade, insónia, e confusão mental.
Esfera social: perda de estatuto social, mudança de papel que joga em sua família, medo e dependência.
CONDUTA NOS PACIENTES TERMINAIS: Vários fármacos são usados na prática dos cuidados
paliativos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes sendo os mais comuns: Analgésicos não
opióides e opióides, anti-inflamatórios esteróides e não esteróides, antieméticos, antipsicóticos,
antibióticos, protectores da mucosa gástrica e laxativos. Serão discutidos em pormenor mais abaixo.
Os principais fármacos usados no tratamento da dor são: Analgésicos não opióides e os opióides;
antidepressivos e anticonvulsivantes. Analgésicos não opióides: são indicados para os casos de dor
ligeira a moderada nociceptiva. São administrados isoladamente ou em combinação com outras classes de
fármacos antidoloríficos.
Efeito Nome Via habitual Dose habitual no adulto
Anti-inflamatório, antipirético e analgésico Diclofenac Oral, mas há injectável 75-100 mg inicial seguido de 50 mg a cada 8 horas
Indometacina Oral 25-50 mg a cada 6 ou 8 horas
Ibuprofeno Oral, mas há injectável 400-600 mg a cada 6 ou 8 horas ( max. 1800mg/dia)
Ácido Acetil Salicílico (AAS) Oral, mas há injectável 650-1000 mg a cada 6 ou 8 horas ( max. 4g/dia)
Antipirético e Analgésico Paracetamol (Acetominofeno) Oral, mas há injectável 500-1000 mg a cada 6 ou 8 horas. ( max 4 g/dia)
Analgésicos opióides: também designados de narcóticos, são substâncias químicas naturais ou sintéticas
que ligam-se a receptores específicos no SNC para causar a analgesia. São indicados nos casos de dor
aguda refractária ao tratamento com analgésico não opióides, bem como a primeira linha na dor moderada
a severa de trauma e cirurgias. Alem disso, podem ser indicados no tratamento da dor cronica; Neste caso
poder ocorrer algum grau de tolerância e de dependência física com o uso prolongado.
Nome Apresentação a ser usada Dose habitual
Codeína Comprimidos/Xarope 60 mg (1 mg/kg) pode dar-se até de 4/4 horas (máximo 240 mg/dia).
Petidina Injectável 25-100 mg (1-2 mg/kg) até de 4/4 horas se necessário
Outros opióides fortes usados para o alívio da dor como a MORFINA e o HIDROCLORETO DE
TRAMADOL

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Fármacos usados para dor neuropática: Há casos em que o tratamento sintomático da manifestação
dolorosa responde somente a anticonvulsivantes e antidepressivos tricíclicos.
Classe Nome Apresentação à ser usada Dose habitual
Anticonvulsivante Carbamazepina( nível 3 de prescrição) Comprimidos 200-400 mg/dia
Anestésico Lidocaína Adesivos cutâneos/injectável/gel Adesivos conforme necessidade de alivio
Antidepressivos tricíclicos Amitriptilina ( nível 3 de prescrição) Comprimidos 25 mg/dia à noite
Antiinflamatório esteroide Dexametasona (nível 3 de prescrição) Injectável 0.5-4 mg/dia
Prednisolona Injectável/comprimidos 5-60 mg/dia
Doença pulmonar obstrutiva crónica e broncoespasmos: Broncodilatadores como SALBUTAMOL e
AMINOFILINA, uso da dose e da via depende do estado do paciente e das patologias subjacentes. Pode
ser por inalação, nebulização, comprimidos orais ou endovenoso. Cortocosteróides como a
PREDNISOLONA 20 a 60mg por dia, via oral. Outros: DIAZEPAM 2,5 a 5mg por dia, via oral, para o
controle da ansiedade; Diuréticos como a FUROSEMIDA via oral ou endovenosa dependendo do estado
do paciente para o controle da Insuficiência cardíaca congestiva. Náuseas e vómitos: São sintomas
comuns nos pacientes com câncer terminal. A etiologia é multifactorial e pode incluir medicamentos,
alterações metabólicas, patologia visceral, aumento da pressão intracraneana, factores psicogénicos entre
outros. É importante que a sua causa seja investigada e tratada. Medidas farmacológicas: Uso dos
antieméticos como PROMETAZINA via oral 25 mg 12/12h ou METOCLOPRAMIDA 10mg oral de
8/8 horas ou injectável (IM ou IV) 2ml de 8/8 horas.
Diarreia: É pouco comum, mas contribui para ocorrência de desidratação, alterações do balanço
hidroelectrolítico, malnutrição, declínio da função imune e aparecimento das úlceras de pressão. Nestes
pacientes ela é causada por medicamentos (Ex. antibióticos, antiácidos, quimioterapia, antiretrovirais, uso
excessivo de laxativos, etc), obstrução intestinal, tumores do trato gastrointestinal, mal absorção e
infecções entéricas. O tratamento deve ser primeiro direccionado para a causa, se possível. Medidas
farmacológicas: Hidratação do paciente dependendo do nível de desidratação, pode ser oral usando SAIS
DE REHIDRATAÇÃO ORAL para casos leves a moderados, ou endovenosa usando soros (Ex.
LACTATO DE RINGER ou SORO FISIOLÓGICO) para os casos graves. As quantidades ou doses a
administrar são as mesmas que nos outros pacientes, mas nos idoso deve ser administrado de forma mais
lenta e com muita cautela controlando sempre os sinais vitais.

XVII. PEDIATRIA-PARTE-II

1.RECÉM-NASCIDOS DE BAIXO PESO: O baixo peso ao nascimento é o factor mais importante em


determinar a mortalidade, morbilidade e desabilidade nos primeiros 5 anos de vida e na idade adulta.
CONDUTA: Administrar VITAMINA K 0,5 mg IM (metade da dose que geralmente administra-se aos
RN de peso >2500gr).

2. RN (RECÉM-NASCIDOS) DE BAIXO PESO COM DIFICULDADE DE ALIMENTAÇÃO: A


dificuldade de alimentação é frequente em RN de baixo peso e de peso muito baixo pelas seguintes
razões: Problemas respiratórios; Problemas gastrointestinais: lentidão da peristálise do estômago e
intestinal; Falta de coordenação dos mecanismos de respiração e deglutição e Falta de energia para a
sucção, ou seja o RN cansa-se facilmente de chupar. CONDUTA: Candidíase oral (úlceras ou placas
brancas na boca) - tratar a monilíase e aconselhar a mãe a continuar o tratamento em casa com
NYSTATINA suspensão, 1 aplicação 4-5 vezes por dia. Se o RN está muito grave, tem vómitos

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repetidos ou suspeita de oclusão intestinal, não deve receber leite mas soro EV c/ Dextrose 10%
(Dextrose 30% 1/5 + Dextrose 5% 4/5).

3. ENTEROCOLITE NECROSANTE é uma patologia caracterizada por morte das células intestinais
imaturas que afecta frequentemente os RN de peso <1500gr. Quadro clínico: Os sintomas podem
aparecer lentamente e em 2 ou 3 semanas ou rapidamente após algumas horas do nascimento e incluem:
Distensão abdominal: é o primeiro sinal; Sangue nas fezes; Diarreia; Problemas na alimentação:
vómito,regurgitação; Letargia; Instabilidade da temperatura; Apneia; Bradicardia; Possíveis
complicações: Perfuração intestinal, peritonite e Sépsis.TRATAMENTO: Antibióticos de amplo
espectro: AMPICILINA ev 200mg/kg/dia e GENTAMICINA ev 3mg/kg/dia ou CEFTRIAXONA 80
mg/kg intravenosa uma vez por dia durante 30 a 60 minutos.

4. HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR: A hemorragia intraventricular é a perda de sangue que


acontece dentro dos ventrículos cerebrais que são as cavidades naturais contidas no encéfalo. Quadro
clínico: Apneia. Hipertensão ou hipotensão.Anemia súbita.Tónus muscular diminuído ou aumentado
(hipo ou hipertonia).Convulsões no segundo ou terceiro dia, se hemorragia grave.Hidrocefalia.
CONDUTA: Caso ocorram convulsões tratá-las com DIAZEPAM 0,5mg/Kg/dose por via rectal.

5. TOXOPLASMOSE CONGÉNITA: A toxoplasmose congénita é uma infecção protozoária muito


grave que afecta o feto e o RN e é transmitida por via placentar durante a gravidez ou por via vaginal
durante o parto, caso a mulher contraia a infecção durante a gravidez. As manifestações graves são
caracterizadas por: Atraso do crescimento intrauterino; Icterícia; Hepatoesplenomegalia; Linfadenopatia
cervical; Erupção da pele; Febrícula; CONDUTA: 1ª escolha: PIRIMETAMINA cpr 25mg: acima de 2
meses iniciar com 2 mg/kg/dia dividido em 2 doses a cada 12h para 2 dias e depois passar para a fase de
manutenção durante 6 meses com 1 mg/kg de 6/6h e para os seguintes 6 meses 1 mg/kg 3 vezes por
semana + ACIDO FÓLICO + SULFADIAZINA 80-100mg/Kg dividido em quatro doses diárias
durante 12 meses;

6. SÍFILIS CONGÉNITA: A sífilis congénita é uma doença grave resultante de uma infecção adquirida
pelo feto por via transplacentar em qualquer estágio da gravidez. sinas e sintomas da sífilis precoce:
Hepatomegalia; Deformidade do esqueleto, as vezes com inchaço e dor; Lesões ósseas (Pseudo paralisia
de Parrot) – a criança recusa-se a mover o membro envolvido; Linfoadenomagalia; Lesões na pele:
máculopapulares no corpo, palmas das mãos e plantas dos pés, que podem evoluir em vesículas e
pústulas: o pus das lesões cutâneas é contagioso; Rinite: as secreções das narinas são contagiosas; Febre;
Anemia; Icterícia; Hemorragias; Lesões do sistema nervoso central; Pancreatite; Nefrite. Sífilis tardia é
caracterizada por: Deformidades dos ossos: Nariz em forma de sela de montar; Dentes incisivos com
chanfradura chamados dentes de Hutchinson); Mandíbula curva; Arco palatino elevado; Fronte olímpica;
Tíbia em lâmina de sabre Alterações dos olhos: queratite com visão alterada; Tríade de Hutchinson
(dentes de Hutchinson + queratite intersticial + lesão do VIII par); Surdez que se apresenta entre os 10 e
40 anos de vida. CONDUTA: PENICILINA G E.V.: RN < 7 dias 100 000UI/kg, 12/12h 10 a 14 dias;
RN 7 – 28 dias 150 000UI/kg, 8/8h, 10 a 14 dias; Crianças> 28 dias 200,000-300,000 U/kg/dia a cada
6h durante 10-14 dias, Ou PENICILINA G PROCAÍNA im: 50,000 U/kg é uma alternativa mas as
concentrações deste medicamento no liquor são menos eficazes. Tratamento das mulheres grávidas:
devem ser tratadas, em qualquer altura da gravidez, com: PENICILINA BENZATÍNICA IM: 2.4

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milhões UI uma vez por semana por 3 semanas; Em caso de alergia a PENICILINA:
ERITROMICINA 500 mg por via oral de 6/6 horas por 28 dias. Nota: a ERITROMICINA não parece
tratar o feto. O parceiro também deve ser avaliado e tratado, mesmo se for assintomático.

7. INFECÇÃO CONGÉNITA POR HSV-2: A infecção congénita por Herpes Simplex Vírus-2 (HSV-
2) é uma infecção transmitida ao RN através da placenta (raramente) ou durante o parto (mais
frequentemente) através do contacto da pele e mucosas do RN com as secreções infectadas do canal
vaginal da mãe. Quadro clínico: Forma localizada: Caracteriza-se por: máculas que evoluem em
vesículas sobre uma pele hipermiada em áreas de trauma, no couro cabeludo, na orofaringe Forma
sistémica ou disseminada: Caracteriza-se por: Icterícia, hepatoesplenomegália, febre, hemorragia (CID);
Convulsões, Queratoconjuntivite; Lesões cutâneas do tipo vesicular que aparecem em menos de 30% dos
casos. Forma caracterizada por envolvimento do sistema nervoso central e encefalite: como única
manifestação da infecção. Aparece no RN com 2-3 semanas de vida. Caracteriza-se por: Letargia,
irritabilidade, convulsões focais. CONDUTA: O tratamento antiviral especifico para esta patologia é o
ACICLOVIR (comp de 200, 400 mg) dar 100mg de 8/8 horas durante 10 dias.

8. TÉTANO NEONATAL: O tétano neonatal é uma intoxicação pela toxina produzida pelo Clostridium
tetani que é introduzida no corpo do RN no momento do parto ou logo após o parto. Quadro clínico:
Irritabilidade; Incapacidade de se alimentar; Rigidez; “Fazer caretas”: o RN tem contracções dos
músculos da face; Espasmos após estímulo táctil ou sonoros; Espasmos persistentes que podem
determinar uma postura em opistotono com as costas encurvadas e a cabeça extensa, os braços em adução
(perto do tórax) e as pernas extensas; As extremidades superiores são flectidas, a nível dos ombros,
cotovelo e pulso, esta posição é dolorosa; Convulsões podem ser generalizadas por estímulos tácteis e
sonoros; Pode haver arritmia severa, alterações da tensão arterial; Pode haver hipertermia; Pode haver
espasmo laríngeo. CONDUTA: O tratamento é de suporte, controlando as manifestações clínicas e as
complicações. As medidas de tratamento incluem: Internar o RN em local calmo e sem muita luz;
Limpeza e higiene do cordão umbilical e feridas; PENICILINA G EV durante 10-14 dias, é a primeira
escolha; a dose varia dependendo do peso e idade do RN como ilustra a tabela 1 abaixo. Tabela 1: doses
de Penicelina G ev de acordo com o peso/idade

Peso <7 dias >7 dias

<1200 g 50,000 U/kg/dia dividido em duas doses a cada 12h 50,000 U/kg/dia dividido em 2 doses a cada 12h

1200-2000 g 75,000 U/kg/dia dividido em três doses a cada 8h

>2000 g 75,000 U/kg/dia dividido em três doses a cada 8h 100,000 U/kg/dia divididos em 4 doses a cada 6h

OU METRONIDAZOL, em caso de alergia a PENICILINA, EV ou oral por tubo nasogástrico,


durante 10 dias: a dose varia dependendo do peso e idade do RN como mostra a tabela 2 abaixo: Tabela
2: doses de metronidazol de acordo com o peso/idade

Peso <7 dias >7 dias

<1200 g 7.5 mg/kg a cada 48hr; 7.5 mg/kg a cada 48hr;

1200-2000 g 7.5 mg/kg uma vez por dia 15 mg/kg/dia divididos em 2 doses a cada 12 horas

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>2000 g 15 mg/kg/dia divididos em 2 doses a cada 12 horas g/kg/dia dividido em duas doses a cada 12h

Imunoglobulinas contra o tétano se disponíveis: 500U IM. Benzodiazepinas para induzir sedação,
reduzir rigidez e controlar os espasmos: DIAZEPAM EV ou oral por tubo nasogástrico: 1-2 mg/Kg/dia
EV, repetir cada 3-4 horas se necessario. Por sonda ou perfusão 3-10 mg/Kg/dia. Maiores de 5 anos: 5-
10mg. Manutenção da alimentação e do equilíbrio hidroelectrolítico. Vacinação completa após dos
sintomas serem resolvidos

9. TUBERCULOSE CONGENITAL: é a manifestação da infecção por Mycobacterium tuberculosis,


transmitida durante a gravidez através da placenta ou por aspiração ou ingestão do líquido amniótico, caso
a mãe tenha uma infecção activa ou durante o parto se tiver Tuberculose genital. Os sintomas mais
comuns são dificuldade respiratória, febre, hepatoesplenomegalia, recusa alimentar, letargia e
irritabilidade. Entretanto, sinais e sintomas como linfadenopatia, distensão abdominal, falência de
crescimento, icterícia, acometimento do sistema nervoso central, prematuridade, calcificação hepática e
esplénica, pneumonia, otorreia, convulsão e lesões cutâneas podem ocorrer nestes casos.
TRATAMENTO: O tratamento medicamentoso deve ser: Fase intensiva 2 meses: RIFAMPICINA +
ISONIAZIDA + PIRAZINAMIDA +ETAMBUTOL; Fase de manutenção 4 meses: RIFAMPICINA
+ ISONIAZIDA. Oferecer profilaxia com ISONIAZIDA por 6 meses; Após completar 6 meses de
profilaxia, vacinar com BCG; PIRIDOXINA ou MULTIVITAMINAS xarope a todas as crianças em
tratamento com Isoniazida.

10. SÉPSIS NEONATAL: A Sépsis é uma condição severa consequente de uma infecção inicialmente
localizada ou extensa, a qual expandiu-se para todo o corpo: o agente causal esta no sangue podendo
atingir qualquer órgão. Quadro clínico: Manifestações gerais: Hipo ou hipertermia, letargia, dificuldade
de sucção e icterícia; Sistema Respiratorio: Taquipneia, dispneia, apneia, gemidos, retracçao
diafragmatica intercostal e cianose. Sistema cardiovascular: Palidez, taquicárdia, bradicárdia, hipotensão e
edema. Sistema hemopoietico: Petéquias, hemorragias e esplenomegalia. Sistema Gastrintestinal:
Distensão abdominal, vómitos, diarreia e hepatomegalia. Sistema nervoso central: Hipotonia ou
hipertonia, tremores, convulçoes e abaulamento da fontanela. CONDUTA: Antibióticos EV:
AMPICILINA 50mg/kg/dose e GENTAMICINA 3-5mg/kg/dia se idade <28 dias ou 5-7,5 mg/kg/dia se
idade> 28 dias divididas em 2 doses; Em caso de lactente com menos de 2 semanas: administrar 1 mg de
VITAMINA K intramuscular; Caso não seja possível medir a glicémia dar: GLUCOSE oral se a criança
consegue engolir: amamentar se possível, ou dar 25ml/kg de GLICOSE 10% com uma seringa,
lentamente na boca, ou com sonda nasogástrica ou por via rectal; Ou GLICOSE EV: 5ml/kg de
GLICOSE 10% rapidamente.Tratamento antipirético com PARACETAMOL: oral ou rectal 10mg/kg e
5mg/kg se icterícia presente

11. CONVULSÕES NEONATAIS: são contracções repetitivas de grupos de músculos do corpo,


devidos a uma descarga contemporânea de inúmeros neurónios que descarregam as cargas neuronais
incontroladamente ao mesmo momento. O paciente tem perda de consciência e pode ter outros sintomas
associados como salivação abundante, perda de urina, de fezes. Quadro clinico: Convulsões subtis:
caracterizadas por movimentos oculares, desvio dos olhos, movimentos repetidos das pálpebras, da boca,
salivação abundante, movimento de sucção de repetição, movimentos circulares dos membros como se o
RN fosse numa bicicleta a pedalar. Convulsões clónicas: caracterizadas por movimentos clónicos lentos
de uma perna ou de um braço ou de um lado do corpo. Convulsões tónicas: que podem ser focais e

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afectar um membro ou generalizadas que afectam todo o corpo com hipertonia e extensão dos membros
superiores e inferiores e as vezes do tronco; são as mais graves; Sinais que podem acompanhar as
convulsões incluem: Apneia; Cianose; Choro súbito e sem motivação aparente; Respiração barulhenta;
Sonolência após a convulsão, de duração variável, e exame neurológico fora das crises pode ser normal.
CONDUTA: No caso de convulsão patológica com a duração de mais 30 segundos administrar:
DIAZEPAM: 0,5mg/Kg/dose por via rectal que pode ser repetida 3 vezes com intervalos de 5-10
minutos: Retire a dose de uma ampola de DIAZEPAM usando uma seringa de tuberculina; Remova a
agulha; Insira a seringa no recto por 4 a 5 cm e injecte a solução de DIAZEPAM; Segure as nádegas da
criança fechadas por alguns minutos. Se as convulsões continuarem após 10 minutos, administre uma
segunda dose de DIAZEPAM por via rectal (ou administre DIAZEPAM IV 0,3 mg/kg) se o acesso
venoso foi posicionado. Se as convulsões continuarem após mais 10 minutos, administre uma terceira
dose de DIAZEPAM por via rectal:

12. HIPOGLICEMIA NO RN: Hipoglicémia no RN é a diminuição da concentração de glicose no


sangue a valores abaixo de 40mg/dL (2,2 mmol/L). Quadro clínico: A hipoglicémia manifesta-se com os
seguintes sinais e sintomas: Incapacidade de se alimentar; Hipotermia; Sudorese súbita e intermitente;
Hipotonia; Tremores até convulsões; Apneia intermitente; Irritabilidade; Sonolência, letargia até coma;
Choro fraco ou ausente. CONDUTA: No RN assintomático: dieta + a quantidade de GLICOSE a 10%
em gastroclise 50 ml/kg em 24 – 48 horas. No RN sintomático: GLICOSE a 10% a ser infundida de
forma EV é de 2,5 – 5 ml/Kg em bolo, e deve-se monitorar a glicose a cada hora até atingir os valores
normais e estáveis. Dose de manutenção é de 6 - 8mg/kg/min (80mg/kg/dia) com controlo da glicémia a
cada 4-6 horas até atingir uma glicémia normal; a infusão pode ser parada após 24h-48h de glicémia
normal e RN assintomático. Prevenção: Amamentação precoce logo depois do parto, sempre nas
primeiras duas horas. Se necessário compensar a falta de colostro nas primeiras 48hs com SORO
GLICOSILADO ORAL – 5ml/kg de GLICOSE a 10% entre as mamadas ou 50 ml/kg/dia em
gastroclise nos RN em risco. Nos RN com asfixia grave colocar logo uma solução de GLICOSE a 10%
EV. Nos RN filhos de mãe diabética ou PIG graves, mesmo com glicémia normal, colocar uma solução
de GLICOSE a 10% em gastroclise – 5ml/kg entre as mamadas ou 50ml/kg/dia, nas primeiras 24-48
horas.
13. DESIDRATAÇÃO NO RN: Desidratação é um estado alterado do equilíbrio hidroelectrolítico no
organismo. Existem vários graus de desidratação caracterizados clinicamente. Quadro clínico: A
desidratação leve é caracterizada por: consciência normal, olhos normais, mucosa oral húmida ou
ligeiramente seca, sinal de prega da pele ausente, urina normal ou pouco diminuída, perda de peso <5%.
A desidratação moderada é caracterizada por: consciência normal, olhos pouco encovados, boca seca,
sinal de prega discreto, oligúria; perda de peso entre 5% e 10%. A desidratação grave é caracterizada por:
consciência alterada no sentido de sonolência, letargia até coma, olhos muito encovados, ausência de
lágrimas, mucosa da boca muito seca, sinal da prega muito acentuado, oligúria grave, perda de
peso>10%. CONDUTA: Continuar a amamentar com maior frequência e por tempo mais longo a cada
mamada; Dar líquidos adicionais como a SOLUÇÃO DE REIDRATAÇÃO ORAL, ou água fervida
arrefecida, tanto quanto a criança aceitar com colher ou copo. A quantidade é cerca de 50 a 100 ml depois
de cada dejecção aquosa e continuar até a diarreia parar. Se a criança vomitar, aguardar 10 minutos e
depois continuar, porém mais lentamente; Para o caso de desidratação moderada com
diarreia/vómito, o RN deve ser internado: Continuar a amamentação ao peito ou artificial; Administrar
SRO durante as primeiras 4 horas 75ml/Kg, se o RN querer mais, dar mais; Para o RN que não esteja

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sendo amamentado ao peito, dar também 100 – 200 ml de água limpa durante este período. Se a criança
vomitar, aguardar 10 minutos e depois continuar, porém mais lentamente; Para o caso de desidratação
grave, o RN deve ser internado: Começar a dar líquidos imediatamente por via IV. Se a criança consegue
beber, dar SRO por via oral enquanto o conta-gotas estiver a ser montado. O importante é tirar a criança
do estado de gravidade com expansores plasmáticos até sair da situação critico ou shock hipovolémico
dando LACTATO RINGER 20-30ml/kg de 30 em 30 minutos se a criança não for malnutrida e 10
ml/kg de 1 em 1h se a criança for malnutrida depois da - se o remanescente até que desapareçam os Sinais
de desidratação. Dar LACTATO DE RINGER ou SORO FISIOLÓGICO como se segue:

IDADE Dar primeiro 30 ml/kg em: A seguir dar 70 ml/kg em:

LACTENTE (menor de 12 meses) 1 hora 5 horas

Dar SRO (cerca de 5 ml/kg/hora) logo que a criança conseguir beber: geralmente depois de 3-4 horas;

14. CONJUNTIVITE NEONATAL: A conjuntivite neonatal é uma inflamação da mucosa conjuntival


que aparece no primeiro mês de vida podendo ser infecciosa ou não infecciosa. Conjuntivite por
Chlamydia trachomatis: Aparece após 5-14 dias do nascimento e pode apresentar-se com uma simples
hiperemia e secreção aquosa ou mucosa até tornar-se purulenta e ter edema palpebral, edema da
conjuntiva e formação de pseudo-membranas. Na maior parte dos casos é leve mas em alguns casos pode
ser grave e levar a cegueira por formação de cicatrizes nas pálpebras. Podem estar presentes sinais e
sintomas extra-oculares como pneumonia, otite e faringite. Conjuntivite por Neisseria gonorrea:
Aparece após 1-2 dias do nascimento e apresenta-se com um quadro severo com secreção purulenta
bilateral, edema palpebral, edema das conjuntivas, envolvimento rápido da córnea até perfuração e
cegueira. O RN pode também ter outros sinais e sintomas como rinite, estomatite, artrite, meningite,
sépsis. Conjuntivite por HSV: Aparece dentro de 2 semanas após o nascimento, no RN que geralmente
já tem uma manifestação generalizada da infecção por HSV como encefalite ou lesões difusas da pele. O
RN apresenta edema palpebral, vesículas ao redor dos olhos, hiperémia leve, secreção serosa ou sero-
hemática unilateral ou bilateral, também envolve a córnea. Conjuntivite por outras causas: Aparecem
mais tarde e são leves caracterizadas por hiperémia, edema palpebral e secreção purulenta, sem outros
sinais ou sintomas ou com infecção das vias respiratórias superiores como rinite. CONDUTA:
TETRACICLINA pomada oftálmica: 1 aplicação no primeiro dia de 1/1h e no segundo dia de 2/2h e
vai se espaçando na medida que vai desaparecendo a fase purulenta e depois dá se de 8/8 até completar 10
dias. + KANAMICINA por via IM: 25 mg/kg até um total maximo de 75 mg em dose única;
ERITROMICINA suspensão oral se suspeitar de Chlamydia: 30-50mg/Kg/dia dividida em 4 durante
10 dias; Evitar por bandagem nos olhos. Seguimento diário durante o tratamento para verificar se o RN
responde ao tratamento. Em casa aconselhar a mãe a continuar com o tratamento antibiótico: Lavar as
mãos com água limpa e sabão antes e no fim da aplicação da pomada; Molhar um pano limpo com água
fervida e arrefecida, Usar o pano molhado para limpar suavemente o pus dos olhos do bebé: 6-8
vezes/dia, Aplicar TETRACICLINA oftálmica a 1% em cada olho três vezes por dia por 5-7 dias.
Prevenção:TETRACICLINA pomada oftálmica aplicada logo após o nascimento em todos os RN.

15. CANDIDÍASE ORAL: A Candidíase oral no lactente é uma infecção fúngica da mucosa da cavidade
oral que acontece nos primeiros meses de vida. Quadro clínico: Dor durante a sucção; Dificuldade de
alimentação por causa da dor; Irritabilidade, agitação como resposta a dor; Não ganho de peso por

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dificuldade de se alimentar; Ao exame físico o clínico pode observar placas brancas na mucosa oral das
bochechas, das gengivas, do palato e dos lábios e nos casos graves da orofaringe; Estas placas brancas
podem ser facilmente removidas com uma espátula e aparecer uma mucosa hipermiada. A mucosa ao
redor das placas aparece hiperemiada. Caso o RN seja imunodeprimido a candidíase oral pode-se difundir
para todo o organismo. CONDUTA: NISTATINA suspensão: 3-4 aplicações por dia, preferivelmente
10 minutos antes de mamar. OU VIOLETA DE GENCIANA: 3 aplicações por dia até 48h após as
lesões terem desaparecido. Aconselhar a mãe a continuar o tratamento em casa: Lavar as mãos; Lavar a
boca da criança usando um pano limpo e macio enrolado no dedo e humedecido com água fervida e
morna; Pincelar a boca com VIOLETA DE GENCIANA;

16. PNEUMONIA NO RN: A pneumonia é definida como uma inflamação, com ou sem infecção, das
vias respiratórias inferiores (os alvéolos, sacos alveolares, interstício e parênquima pulmonar). A
pneumonia no RN é a patologia infecciosa mais comum nesta idade. A pneumonia pode ser: adquirida
durante a gravidez ou período perinatal que é também chamada por pneumonia congénita, e a que aparece
depois do nascimento chamada por pneumonia pós-natal. Quadro clínico: Dificuldade de alimentação;
Irritabilidade, letargia; Palidez; Hipo/hipertermia; Distensão abdominal; Tosse sem febre alta no caso de
pneumonia intersticial; A evolução pode ser rápida ou lenta e o RN apresentar sinais de distress
respiratório; Cianose; Taquipneia, FR. >60 resp/min; Adejo nasal; Gemido respiratório; Taquicardia;
Apneia; Tiragem subcostal. CONDUTA: Terapia antibiótica com: AMPICILINA (50 mg/kg/dia, IM, a
cada 6 h) e GENTAMICINA 3-5mg/kg/dia se idade <28 dias divididas em 2 doses a cada 12h. Ou
CLORAFENICOL (25 mg/kg, IM ou IV a cada 8 h); Na suspeita de Clamydia: ERITROMICINA EV
30-50 mg/kg/dia divididos em 4 tomas a cada 6h ou COTRIMOXAZOL por via oral ou EV
10mg/kg/dia a cada 6 horas. Na suspeita de Pneumocystis jiroveci: COTRIMOXAZOL por via oral ou
EV 20mg/kg/dia a cada 6 horas. OXIGÉNIO: em todas as crianças com pneumonia muito grave, dar
oxigénio durante todo o tempo usando sondas nasais: Se a oximetria de pulso estiver disponível,
administre o oxigénio se a saturação < 90%. O oxigénio deve ser mantido até os sinais de hipoxemia
(cianose, tiragem subcostal significativa ou FR> 70/min) desaparecerem. O pessoal de enfermagem deve
verificar a cada 3 horas se o cateter ou a sonda não estão bloqueados com secreção, ou se estão
correctamente posicionados e se todas as conexões estão bem fixadas. Tratamento da febre: se TC ≥ 39oC
administrar PARACETAMOL oral 10-15mg/kg.

17. DOENÇA DAS MEMBRANAS HIALINAS: também chamada por síndroma de dificuldade
respiratória, é uma condição patológica aguda dos pulmões, presente ao nascimento, devida a uma
alterada dinâmica da troca entre o oxigénio e o CO2.por imaturidade pulmonar e deficiência do
surfactante. Apresenta-se com maior frequência no RN pré-termo e de baixo peso, sendo directamente
proporcional a menor idade gestacional e ao menor peso. Quadro clínico: O RN apresenta sinais e
sintomas dentro de poucos minutos após o nascimento como: Taquipneia; Respiração ruidosa; Retracções
intercostais e subcostais; Adejo nasal; Cianose que piora progressivamente e não melhora após
administração de oxigénio Se não for tratada imediatamente a situação piora rapidamente e o RN
apresenta dispneia grave, hipotensão, hipotermia, palidez, cianose mais grave, apneia, respiração
irregular, paralisia intestinal, oligúria, edema, difusão do ar nos tecidos, enfisema pulmonar,
pneumotórax, hemorragia intraventricular. Conduta: Aplicação dos cuidados de rotina ao RN pré-termo e
de baixo peso para diminuir o risco desta doença: mantendo a oxigenação, a temperatura corporal, a
tensão arterial com infusão de GLICOSE 10%. Prevenção: Prevenção da prematuridade se for possível.

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Prevenção da Asfixia durante o parto se for possível; Evitar Cesariana desnecessária. Uso de
Glucocorticoides na mãe que esta a parir um RN pré-termo: DEXAMETASONA 12mg IM, 2 doses, a
cada 24h ou 4 doses de 6mg IM.

18. REGURGITAÇÃO E REFLUXO GASTROESOFÁGICO: Refluxo gastroesofágico é o retorno


do conteúdo gástrico, geralmente em pequenas quantidades, no esófago ou na boca, que pode ser
regurgitado ou re-engolido pelo RN. Quadro clínico: Vómito alimentar, às vezes em jacto; Dor na
deglutição que no RN manifesta-se com choro ou irritabilidade; Soluço; Estrias de sangue no vómito,
raramente; Alterações do sono; Falência de crescimento: se o vómito for volumoso e frequente; Posição
oblíqua do pescoço para se proteger do refluxo: o RN tem uma posição anormal do pescoço que pode
determinar torcicolo; Erosão da mucosa esofágica com hematemese e anemia crónica por carência de
ferro, fezes com sangue oculto; Estenose do esófago se o refluxo for grave e não tratado; Sintomatologia
respiratória como: Broncopneumonias recorrentes devido a aspiração; Laringite; Tosse crónica;
Hipocratismo digital; Crise tipo asma; Morte súbita por inalação de conteúdo gástrico e asfixia; Pode
haver aspiração do conteúdo esofágico caso o esfíncter superior não seja bem fechado; Episódio de
possível ameaça a vida (Apparent Life Threating Episode): episódio caracterizado por apneia, bradicardia,
palidez, cianose, sobretudo em pré-termo por laringoespasmo devido a resposta da hipofaringe ao
conteúdo gástrico. CONDUTA: CIMETIDINA cpr (usado como anti-àcido): 20-40mg/kg/dia em 4
doses a cada 6h; METOCLOPRAMIDA cpr (para aumentar a velocidade do esvaziamento gástrico): 1
mg/kg/dose a cada 12h.

19. DIARREIA: A diarreia define-se como um aumento da frequência e volume das fezes em relação ao
hábito normal do RN. Quadro clínico: Vómitos; Incapacidade de se alimentar; Irritação, sonolência, sono
agitado; Choro com pernas encolhidas sobre o abdómen; Febre; Distensão abdominal; Perda de peso;
Sangue ou muco nas fezes; No caso de doença de Hirschprung: vómito biliar, mecónio eliminado
tardiamente, distensão abdominal; Desidratação. A diarreia é a causa principal de desidratação.
CONDUTA: desidratação é tratada com SOLUÇÃO REIDRATANTE ORAL: a ser administrada
sempre que o RN consiga consumir algo por via oral Manter a amamentação; Solução reidratante por
via EV no caso de desidratação grave ou do RN não aceitar nada por via oral. Caso haja sangue nas
fezes, internar e dar: Antibióticos IM: GENTAMICINA 2,5mg/Kg e PENICILINA CRISTALINA 50 a
100.000U/Kg por pelo menos 5 dias; Administrar VIT.K IM: se peso > 2500g: 1mg; se peso< 2500g: 0,5
mg; Prevenir hipoglicemia: administrar lentamente 30-50 ml de leite do peito OU GLICOSE 10%
(5ml/Kg em bolus e 80 ml/Kg em manutenção) OU água açucarada com colher/chávena, pela boca ou
através de uma sonda nasogástrica.

20. INFECÇÕES DAS VIAS URINÁRIAS: Define-se infecção do trato urinário (ITU) como a resposta
inflamatória do epitélio urogenital à invasão bacteriana, que geralmente está associada a bacteriúria e
piúria. Quadro clínico: No caso de infecções das vias urinárias inferiores (cistites) o RN pode ter: Pode
haver febre mas frequentemente está ausente; Irritação; Dor durante a micção que o RN manifesta
chorando; Micções frequentes e de pouco volume: difíceis de avaliar no RN devido a fralda; Hiperemia
dos genitais externos: mais visíveis no sexo masculino aonde há hiperemia da glande; Secreções
amareladas da uretra no RN de sexo masculino. No caso de infecções das vias urinárias superiores
(pielonefrite) o RN pode ter: Febre inexplicável ou hipotermia; Choro inexplicável; Irritação; Dificuldade
de alimentação, vómito; Diarreia; Falência de crescimento; Icterícia; Mau cheiro da urina. CONDUTA:

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antibióticos por via oral durante 14 dias: AMPICILINA EV 100mg/Kg/dia dividido em 2 doses se RN
<1 semana e dividido em 4 doses se RN> 1 semana, Ou GENTAMICINA EV 3-5 mg/kg/dia em 1-2
tomas (nos prematuros administrar doses menores e espaçar a administração para 36-48 h); Em caso de
suspeita de Pseudomonas administrar os dois antibióticos. Em caso de suspeita de cistite ou como
continuação do tratamento EV de uma infecção superior, administrar: AMOXICILINA por via oral: 50 -
100mg/Kg/dia dividido em 2 doses, durante 3 dias para o caso de cistite e 10 dias para a pielonefrite, Ou
AMOXICILINA E AC.CLAVULÂNICO por via oral: 50mg/Kg/dia dividido em 3 doses a cada 8h.

21. MENINGITE NEONATAL: A meningite é uma inflamação das meninges devida a uma infecção
das membranas que revestem o encéfalo e a medula espinhal, conhecidas colectivamente como meninges.
Geralmente há também o envolvimento do cérebro e neste caso fala-se de meningo-encefalite. Quadro
clínico: Sucção fraca ou ausente; Hipotonia; Hiporeactividade; Dispneia; Vómito e diarreia; Gemidos;
Alteração da temperatura; Apneia que pode piorar muito rapidamente; Bradicardia; Hipotensão;
Irritabilidade alternada a letargia; Sinais mais específicos, mais tardios e por vezes ausentes no RN são:
Convulsões; Fontanela anterior abaulada; Opistotono; Rigidez da nuca; Sinais focais como o desvio dos
olhos e hemiparesia. CONDUTA: O tratamento deve ser iniciado atempadamente, mesmo se não houver
o resultado dos testes, com: Antibióticos EV: AMPICILINA 200mg/kg/dose de 6/6h, e
GENTAMICINA 3-5mg/kg/dia divididas em 2 doses a cada 12h durante 14-21 dias. Tratamento de
suporte: manter a TA, tratar as convulsões com DIAZEPAM: 0,2-0,3mg/kg por via IV infusão lenta.

22. INFECÇÕES DERMATOLÓGICAS NO RN: Em caso de lesões devidas a traumas durante o


parto, a pele pode ser uma porta de entrada por microorganismos que normalmente não determinam
nenhuma patologia. Quadro clínico: Paroniquia ou infecção das unhas: é uma infecção secundária a
Estafilococco aureus ou Estreptococco pyogenes devida a infecção da pele ao redor das unhas. Pode ser
desencadeada se o RN tiver o hábito de chupar os dedos e é caracterizada por hiperemia da pele ao redor
da unha, com secreção amarelada. Se as lesões não passarem e tornarem-se crónicas é necessário pensar
na infecção por Cândida. Impétigo bolhoso por Estafilococco aureus: aparece no fim da primeira
semana de vida ou início da segunda. As lesões são bolhas com conteúdo turvo que se torna amarelado e
(rompem-se facilmente, e podem aparecer em qualquer parte do corpo com preferência na área da fralda,
principalmente na região do períneo. CONDUTA: Na infecção por Candida albicans: se for localizada
dar NYSTATINA suspensão oral: 3-4 /dia durante 5-7 dias, antifúgico tópico CLOTRIMAZOL creme a
1% aplicar 2-3 vezes por dia por 10 a 20 dias. Na infecção disseminada por Estreptococco ou de
impétigo bolhoso por Estafilococco: antibióticos por via EV: AMPICILINA (100 mg/kg/dia, a cada 6
h) e GENTAMICINA 3-5mg/kg/dia divididas em 2 doses a cada 12h. Na paroniquia: antibióticos por
via oral, AMOXICILINA cpr 80 mg/kg/dia em 3 administrações
23. DERMATITE SEBORRÉICA: Dermatite seborréica ou eczema seborréico, é uma inflamação da
pele caracterizada por escamas oleosas que aparecem nas pregas ou seja nas áreas com muita secreção
seborréica da pele. Quadro clínico: A dermatite aparece geralmente nas primeiras 6 semanas de vida mas
pode aparecer até 12 meses. As lesões características são a hiperemia da pele, pele oleosa, lesões
crostosas, amareladas no couro cabeludo, chamadas “crosta de leite”, com fissurações e escamas
amarelas. Para além do couro cabeludo são afectadas as áreas retro-auricolar, a face, a região frontal, das
sobrancelhas, das pregas das narinas, das axilas, nas pregas do pescoço, nas pregas inguinais, e a área da
fralda com pápulas vermelhas. A complicação da dermatite pode ser uma infecção bacteriana das áreas
afectadas. A dermatite geralmente desaparece dentro do primeiro ano de idade. CONDUTA: Shampoo

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delicado para as crianças, oleosos e creme aquoso; No caso de lesões crostosas pode se aplicar 2 vezes ao
dia loções com ÁCIDO SALICÍLICO a 10% em óleo mineral.

24. RN DE MÃE DIABÉTICA: O RN nascido de mãe diabética é uma condição que afecta o RN cuja
mãe teve uma diabetes não controlada durante a gravidez (Tipo 1, tipo 2 ou gestacional). Quadro clinico:
Macrossomia: RN obeso; Hipoglicemia que se manifesta por: sonolência, apatia, hipotonicidade, sucção
fraca; Dispneia e distress respiratório nas primeiras horas apos o parto, em metade dos casos; Tremores e
clonos se houver hipocalcemia associada com níveis <7mg/dl devida a um atraso da secreção da
paratormona das glândulas paratiróides com possibilidade de convulsões e jitteriness; Malformações
fetais congénitas cardíacas, neurológicas e outras. CONDUTA: Nos RN sintomáticos ou com a glicemia
< 36mg/dl (2mmol/l) nas primeiras 24h e que não aumenta com a alimentação materna: Administrar bolo
de GLICOSE 10% EV 2mL/kg (que correspondem a 200mg/kg de glicose) em 5-10 min e manter
infusão nas horas sucessivas com 6-8 mg/kg/min. Controlar a glicemia após 30 min, 1h, 2h, 4h, 8h e 12h
e em qualquer altura se os sinais clínicos estiverem presentes. O objectivo é atingir uma
glicémia>45mg/dl (2.5mmol);

25. CONJUNTIVITE: Conjuntivite significa inflamação da conjuntiva. Pode ser de duração variável:
Aguda: se a duração for de cerca uma semana. Crónica: se a duração for maior de 1-2 semanas; esta
forma inclui também a conjuntivite aguda recorrente durante meses ou anos. Quadro Clínico:
Conjunctivite Infecciosa: Edema palpebral: mínimo no caso de etiologia viral, moderado no caso de
etiologia bacteriana. Os lactentes podem não conseguir abrir os olhos que aparecem inchados. Secreção
da conjuntiva: transparente no caso de etiologia viral e amarelada (purulenta) no caso de etiologia
bacteriana; a secreção geralmente está presente durante todo o dia, e não somente de manha: a secreção
que surge somente a noite não é de origem infecciosa, mas sim fisiológica. Presença de folículos na
conjuntiva palpebral, no caso de etiologia viral. Gânglios pré-auriculares aumentados e dolorosos a
palpação, no caso de etiologia viral. Prurido ausente. Fotofobia no caso de CMV ou de conjunctivite de
origem bacterniana, mas este sintoma pode ser referido somente pela criança mais velha. Presença de
outros sintomas da infecção como espirros, tosse, Febrícola. O quadro clínico da conjuntivite por
Chlamydia tracomatis será abordado na PA 18 de disciplina da Oftalmologia ou PA63 nesta disciplina.
Conjunctivite Alérgica: Olhos avermelhados. Edema palpebral: de moderado a muito importante.
Prurido geralmente intenso. Secreção transparente e ou mucosa bilateral. Não há aumento dos gânglios
cervicais ou pré-auricolares. Presença de papilas na conjuntiva tarsal. Espirros frequente por
envolvimento da mucosa nasal e das vias aéreas superiores também. CONDUTA: Conjunctivite
Infecciosa: A evolução é benigna e cura-se em alguns dias: A conjuntivite viral geralmente não precisa
de nenhum medicamento; A conjuntivite bacteriana precisa de tratamento com antibiótico local:
TETRACICLINA pomada oftálmica: 3 aplicações/dia por 5-7 dias; Conjunctivite Alérgica: a evolução
depende da duração da exposição ao alérgeno; Medicamentoso: Se o paciente evitar a exposição ao
alergeno, a conjuntivite cura-se em 1-2 semanas com o uso de anti-histamínicos orais:
CLORFENIRAMINA: 0,4 mg/kg/ dia a cada 8h; Não Medicamentoso: Aconselhar a mãe/cuidador para:
Se a causa é pólen, o paciente deve tentar reduzir a sua exposição ambiental; Limpar os olhos com
compressas com água ou soro fisiológico: úteis para alívio na fase aguda da conjuntivite; Não usar
colírios por conta própria; Forrar o seu travesseiro e colchão; Trocar seu travesseiro periodicamente;
Lavar sempre as mãos; Evitar coçar ou esfregar os olhos. NOTA: No tratamento da conjuntivite é

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absolutamente contra-indicado usar gotas de corticosteróides para evitar piorar a sintomatologia, caso a
etiologia seja viral por HSV ou CMV.

26. CELULITE PERIORBITAL: A celulite periorbital ou palpebral é uma inflamação, com ou sem
infecção, limitada aos tecidos das pálpebras. Quadro Clínico: Anamnese: A celulite periorbital pode ser
bilateral ou e manifesta-se com os seguintes sintomas: Dor nos olhos; Olhos vermelhos; Olhos
lacrimejantes; Visão turva; Pode estar presente prurido se for de origem alérgica. Exame Físico: Edema
palpebral: é geralmente o sinal inicial; Hiperemia da pele das pálpebras; Conjuntivite; Ausência de dor da
região ocular; Ausência de exoftalmia ou protrusão do bulbo ocular da cavidade orbitária; Motilidade
ocular mantida em todas as direcções e não dolorosa; Elevações ligeiras a moderadas de temperatura.
TRATAMENTO medicamentoso: Sendo uma condição benigna o tratamento é feito ambulatorialmente
administrando AMOXICILINA ou ÁCIDO CLAVULÂNICO por via oral 50mg/kg/dia dividido em 3
doses por 7-10 dias. É necessário aconselhar a mãe/cuidador a voltar caso o edema não desaparece 1-2
dias após o início do tratamento, se aparecer febre, mal-estar, dor da área dos olhos, protrusão ocular.

27. CELULITE ORBITÁRIA: A celulite orbitária é uma inflamação dos tecidos moles que rodeiam a
órbita. Esta patologia é considerada uma emergência oftalmológica. Quadro Clínico: Anamnese: A
celulite orbitária é geralmente unilateral e é caracterizada por os sintomas seguintes: Dor intensa da região
ocular, Inchaço da pálpebra; Dor de cabeça; Febre elevada; Mal-estar geral; Falta de apetite, Irritabilidade
se a criança for lactente. Exame Físico: Dos Olhos: Edema palpebral: é geralmente o sinal inicial;
Exoftalmo ou protrusão do bulbo ocular da cavidade orbitária, Motilidade ocular diminuída e dolorosa
nas várias direcções; Diminuição da visão; Edema da conjuntiva, Aparelhos adjacentes: Pele adjacente
aos olhos: que aparece hiperemiada e edematosa, Orofaringe: para identificar um possível foco infeccioso
nas amígdalas/os dentes que pode se manifesta com eritema, exsudato tonsilar, petéquias no palato ou
inchaço das gengivas e dor de dente; Seios paranasais: sobretudo nas crianças >5-6 anos, a dor dos seios
pode ser sinal de sinusite. TRATAMENTO medicamentoso: Estes doentes devem ser internados e e
iniciados com tratamento parenteral com AMPICILINA por via endovenosa: 100mg/kg/dia a cada 6
horas mais GENTAMICINA: Recém-nascidos: 3 - 5 mg/kg por dia, em 1 - 2 tomas. 4 Semanas - 12
Anos :6 mg/kg/dia em dose única ou dividida em 2-3 tomas até a melhoria dos sinais locais e o
desaparecimento da febre; depois continuar com AMOXICILINA E ÀCIDO CLAVULÂNICO por via
oral: Crianças até 20kg: calcular a dose em função da AMOXICILINA, 20-50mg/kg/dia de 8/8 horas.
Crianças com mais de 20kg: 50 - 80mg/kg/dia de 8/8 horas 7 dias. Outro antibiótico que pode ser usado é
a CLORANFENICOL: Crianças com < de 2 semanas: 25 mg/kg/dia divididos em 2 ou 3 tomas;
Crianças de 2 semanas – 1 ano de idade: 50 mg/kg/dia divididos em 4 tomas Crianças> de 1 ano: 50-
100mg/kg/dia divididos em 4 tomas, por 7-10 dias.

28. HORDÉOLO: O hordéolo é uma infecção aguda com formação de um abcesso das glândulas de Zeis
(hordéolo externo) ou da glândula de Meibomius (hordéolo interno), sendo este último mais raro. É
comummente conhecido como terçolho. Quadro clínico: Anamnese: Apresenta como uma inflamação
aguda na pálpebra, dolorosa, vermelho, quente, nódular, com inchaço. Exame Físico: O hordéolo aparece
como um nódulo hiperémico, edematoso, doloroso e com pele sobreposta quente na borda da pálpebra
afectada. É geralmente centrado na base de um cílio. O nódulo é geralmente único e unilateral, mas pode
ser bilateral ou múltiplos nódulos podem coexistir. Fig 1. O hordeolo interno, por vezes, não se apresenta
na parte externa da pálpebra, mas se apresenta como um nodulo na parte tarsal da pálpebra na parte

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interna. A evolução consiste em maturação do abcesso e drenagem externo espontâneo do pús.


Tratamento Medicamentoso: É necessário a aplicação de uma pomada antibiótica no caso de ruptura do
abcesso e drenagem do conteúdo para evitar a infecção de outras estruturas do olho, ou se houver uma
conjuntivite associada: aplicar TETRACICLINA pomada oftálmica 4 vezes ao dia por 3-4 dias. No caso
de celulite periorbital é necessário administrar AMOXICILINA E ÀCIDO CLAVULÂNICO por via
oral nas mesmas dose que o descrito no ponto anterior por 7 dias.

29. CHALÁZIO: O chalázio é a inflamação crónica da glândula de Meibonio ou de Zeis (que manifesta-
se como um pequeno quisto). Quadro clínico: Anamnese: Antes do chalázio aparecer o paciente refere
um desconforto da pálpebra afectada, seguido por inflamação aguda e inchaço da mesma. Exame Físico:
Depois há o surgimento de um nódulo, geralmente único, duro, fixo e não doloroso na parte tarsal da
pálpebra (vide Figuras 2 e 3). As pálpebras superiores são as mais afectadas já que as glândulas de
Meibonius são mais numerosas nas pálpebras superiores. TRATAMENTO medicamentoso: Aplicar
gotas de HIDROCORTISONA 0,5%-1%: 1 gota 4 vezes ao dia até o chalázio desaparecer. Caso haja
sobreinfecção bacteriana é necessário administrar TETRACICLINA oftálmica: 4 aplicações/dia por 5-7
dias. Caso seja um chalázio evoluído de um hordéolo interno é necessário seguir o tratamento do hordéolo
associando a pomada de CORTISONA.

30. DOENÇAS OFTALMOLÓGICAS POR DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A (Vit. A): A vitamina


A é também chamada retinol pois é o componente essencial dos pigmentos da retina, sendo importante na
visão nocturna ou visão em presença de pouca luz. Quadro Clínico: Anamnese: A queixa principal é a
incapacidade de distinguir imagens em baixos níveis de iluminação. As crianças têm baixa visão na
escuridão, mas conseguem ver normalmente bem como quando a luz adequada está presente. Muitas
vezes as doenças oftálmicas estão associadas a uma desnutrição aguda moderada ou grave. Exame
Físico: Manifestações oculares: A carência de vitamina A determina as seguintes situações, que
aparecem em fases sucessivas e de gravidade progressiva: Secura da conjuntiva ou xerose da conjuntiva;
Redução da transparência da conjuntiva com formação excessiva de tecido conjuntivo, que em seguida há
formação de estrias verticais que progridem para as manchas de Bitot que aparecem como manchas de
cor cinzenta localizadas na conjuntiva bulbar externa; Desenvolvimento de secura e falta de transparência
da córnea, chamada xerose da córnea. Até este estadio a situação pode ser reversível com o tratamento;
Formação de úlceras da córnea ou queratomalácia; Perfuração da íris; Oftalmite ou seja inflamação e
infecção do bulbo ocular; Cegueira. TRATAMENTO medicamentoso: Se criança apresentar quaisquer
sinais oculares: Administrar VIT. A por via oral nos dias 1, 2 e 14 (se idade < 6 meses 50.000 UI; idade
de 6 a 12 meses, 100.000 UI; crianças maiores, 200.000 UI). Se a primeira dose tiver sido administrada
no serviço que fez o encaminhamento, trate apenas nos dias 1 e 14. Se os olhos demonstrarem sinais de
opacidade corneano ou ulceração, fornecer os seguintes cuidados adicionais para o(s) olho(s) afectado(s),
com o objectivo de prevenir ruptura corneana e a extrusão do cristalino: Instilar colírio de
CLORANFENICOL ou TETRACICLINA 4 vezes por dia durante 7 a 10 dias; Instilar colírio de
ATROPINA, uma gota 3 vezes por dia por 3 a 5 dias

31. TRAUMATISMO OCULAR: É o termo específico para definir qualquer tipo de lesão traumática
que envolve uma ou mais estruturas do globo ocular com/sem envolvimento de seus anexos e via óptica.
Os Traumas mais frequentes são: Trauma leve da conjunctiva e Abrasão corneano. ABRASÃO
CORNEANO: É uma lesão superficial da córnea devida a um trauma leve da parte anterior do bulbo

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ocular. Anamnese: apresenta-se com dor leve ou desconforto no olho afectado que pode ser contínuo e
surdo ou lancinante que vai e vem. Exame Físico: geralmente é unilateral e acompanhado por hiperemia
da conjuntiva bulbar. CONDUTA: No caso de presença de corpo estranho é necessário a sua remoção.
Não deve haver nenhuma cobertura de olho para crianças. Em todos os casos usar pomada antibiótica de
TETRACICLINA: 4 vezes/dia e bandagem do olho para 4-5 dias.

32. TRACOMA: É uma conjuntivite crónica infecciosa, caracterizada por exacerbações progressivas e
remissões da doença. É uma importante causa de cegueira em países com escassos recursos, como
Moçambique. Quadro clínico: Anamnese: As crianças apresentam com os olhos vermelhos, secreção
ocular, inchaço das pálpebras e alta sensibilidade à luz (fotofobia). CONDUTA: O objectivo do
tratamento é a cura da infecção e corte da cadeia de transmissão, prevenindo deste modo as complicações,
de entre as quais a cegueira. Tópico: com creme oftálmico de TETRACICLINA a 1%: 2-3 aplicações ao
dia durante 4-6 semanas + Sistémico via oral com AZITROMICINA. A OMS recomenda 20mg/kg dose
única, máximo: 1g. Para crianças mais de 14 anos, 1g uma vez oral. Em caso de falta de
AZITROMICINA pode-se usar: ERITROMICINA 40 mg/kg/dia divididos em 3 tomas por dia por 3
semanas.

______________________________________________________________________________

33. ABCESSO DENTÁRIO: O abcesso dentário é uma colecção de pús entre o dente e a gengiva, que
pode atingir o osso mandibular ou maxilar superior. Quadro Clínico: Dor latejante e persistente no dente
ou área da gengiva podendo se estender para a face e/ou cabeça; Gengiva avermelhada e edematosa ;
Edema dos tecidos da face; Febre; Gânglios do pescoço inchados; Dente escurecido; Presença de pús nas
gengivas; Halitose. TRATAMENTO: No caso de suspeita ou confirmação de abcesso é necessário
administrar antibióticos por via oral: AMOXICILLINA E AC.CLAVULÂNICO (comp. 250mg de
trihidrato de amoxicilina e 125mg de clavulato de potássio): em crianças> 20kg – 1 cp (375 mg) de 8/8 h
no inicio da refeição; crianças até 20 kg – suspensão oral 20-50mg/kg/dia de 8/8 h durante 7-10 Dias.
Atenção aos efeitos colaterais como: diarreia, eritema multiforme, síndrome de stevens-johnson, hepatite
e icterícia. Tratamento sintomático (dor, febre): dar PARACETAMOL Crianças: 6-12 anos, 250-500
mg de 4/4-6/6 h até um máximo de 4 doses/dia; 1-5 anos: 120-250 mg; 3-12 meses: 60-120 mg; menores
de 3 meses: 10 mg/kg (5 mg/kg se icterícia presente).

34. GENGIVITE: A gengivite é uma inflamação da gengiva, de várias causas. Quadro Clínico: As
gengivas aparecem hiperemiadas, edematosas em relação as gengivas não afectadas; Pode estar presente
dor espontânea, após ingestão de alimentos, a palpação, No caso de infecção por Cândida estão presentes
lesões esbranquiçadas típicas da cândida com mucosa ao redor hiperemiada, No caso de aftas as gengivas
apresentam uma erosão superficial redonda de poucos milímetros, e muito dolorosas, Sangramento
espontâneo; Halitose (mau cheiro oral). TRATAMENTO: Da gengivite dos lactentes: dar
PARACETAMOL se a criança estiver a chorar e estiver incomodada; Da gengivite de origem viral dar
ACICLOVIR (Cp de 400mg) crianças maiores de 2 anos: 200 mg, 5 x/dia ou 400 mg de 8/8 h durante
10 dias, para o episódio primário. As recorrências devem ser tratadas durante 5 dias. Crianças menores
de 2 anos: 1/2 da dose do adulto, em particular nos imunodeprimidos. Podem ocorrer efeitos colaterais
como: náuseas, vómitos, diarreia, cefaleia, fadiga, erupção cutânea incluindo urticária, prurido,
fotossensibilidade. Das aftas não há tratamento eficaz, pode ser usado VIOLETA DE GENCIANA
(solução aquosa a 1%), aplicar localmente 1-2 vezes/dia ate as lesões desaparecerem e mais 5 dias. Da

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candidíase: NISTATINA suspensão ora (100.000UI/ml - frasco 30ml)l: espalhar pela cavidade oral 1
mL 4 x/dia, após as refeições até as lesões desaparecerem.

35. LÍNGUA GEOGRÁFICA: é uma lesão benigna e assintomática, define uma característica particular
da superfície ventral da língua que aparece com manchas bem definidas, de cor amarela, cinza ou branca,
que lhe confere um aspecto que a língua parece um mapa. A sua causa é desconhecida, pode ser familiar
ou estar associada a uso de comida picante, álcool. Não há necessidade de tratamento, somente se houver
sintomas como por ex. a dor (PARACETAMOL)

36. TRAUMATISMO DENTÁRIO: O trauma dentário é qualquer trauma que afecta os dentes, sejam
de leite ou permanentes, com ou sem envolvimento da gengiva, osso mandibular ou maxilar.
CONDUTA: Antibióticos: AMOXICILINA E AC.CLAVULÂNICO; Analgésicos:
PARACETAMOL

37. ESTOMATITE: A estomatite é um termo geral para indicar uma infecção da mucosa da cavidade
oral. Causas: Os agentes etiológicos mais comuns de estomatite na criança são: Vírus: herpes simples
tipo 1, HIV, sarampo, varicela zoster, CMV; E Fungos: Candida albicans.

37.1. Estomatite por HSV: É a infecção da mucosa oral devida a Herpes Simples vírus tipo 1, HSV-1. É
uma doença frequente sobretudo na infância e nos paciente imunodeprimidos, em particular em pacientes
com imunodepressão por HIV. Quadro Clínico: As crianças mais velhas antes das lesões aparecerem
podem referir uma sensação de prurido ou de ardor na área onde irão aparecer as lesões características; as
crianças mais novas podem manifestar através da irritabilidade. As lesões aparecem como pequenas
vesículas sobre uma mucosa avermelhada; as vesículas ficam agrupadas como “as uvas em um cacho” e
podem confluir. As lesões persistem por alguns dias para depois secar e formar pequenas crostas
amarelada. As lesões são localizadas ao redor da boca, nos lábios, na lÍngua, e podem também estender-se
a conjuntiva e cornea. Existem dois tipos de estomatite por HSV1: a infecção primária e a recorrente.
TRATAMENTO sistémico: Em crianças maiores de 2 anos: ACICLOVIR 20mg/kg/dose, 4 doses, 7 –
10 dias. Recomendado nos casos graves. Casos ligeiros à moderados têm resolução espontânea.

37.2.Estomatite por cândida ou Candidíase Oral (Monilíase): É a infecção da mucosa oral pelo fungo
Candida albicans e pode apresentar-se sob a forma de: Estomatite (infecção da mucosa bucal) e Queilite
Angular (também chamada de boqueira ou perleque que afecta as comissuras labiais). Quadro Clínico:
Estomatite por Cândida oral: As lesões são caracterizadas por eritema difuso da mucosa que se torna
lisa, brilhante e dolorosa; acima da qual há depósitos esbranquiçados de aspecto leitoso, grumoso e
aderentes à base que se erosionam ao destacar, deixando uma superfície vermelha e sangrenta; (Fig 3),
com dor, dificuldade na deglutição e mastigação; em lactentes pode haver recusa na amamentação por
causa da dor. Em doentes com imunodepressão pode estender-se ao esófago e por mais raramente para a
traqueia. Quelite angular por Cândida: Apresenta-se com pequenas lesões eritemato-descamativas com
exsudação cremosa nos cantos da boca e no fundo tem uma fissura dolorosa; pode afectar ou não a
mucosa labial. Caracteriza-se clinicamente por presença de áreas de atrofia e hiperemia das comissuras
labiais.TRATAMENTO da estomatite e queilite por Cândida: Tratamento com antifúngicos:
suspensão de NISTATINA - suspensão ora (100.000UI/ml - frasco 30ml) l: espalhar pela cavidade oral 1
mL 4 x/dia, após as refeições até as lesões desaparecerem., gel de MICONAZOL a 2% - 30gr, 2 vezes

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por dia, até a melhoria das lesões. Atenção as reacções adversas locais. Se não passar com o tratamento
tópico dar: FLUCONAZOL 3-6 mg/kg no primeiro dia seguido de 3 mg/kg/dia durante 7-14 dias. Se a
candidíase for extensa a traqueia, e esófago ou for crónica-recidivante, associar o tratamento por via oral:
FLUCONAZOL (cp de 200mg): 3-6 mg/kg no primeiro dia seguido de 3 mg/kg/dia durante 7-14; nas
infecções graves: 6-12 mg/kg/dia durante 3 semanas. Ter atenção aos efeitos colaterais que possam surgir
como: dor abdominal, náusea, vómitos, diarreia, flatulência, distúrbios no paladar, cefaleia, erupção
cutânea.

38. NOMA OU ESTOMATITE GANGRENOSA OU CANCRUM ORIS: O noma é uma infecção


oportunista de progressão rápida, causada por componentes normais da flora bucal, que se tornam
patogénicos durante o período de comprometimento imunológico (de qualquer causa, como diabetes,
desnutrição, HIV). Quadro Clínico: Inicia frequentemente na gengiva como gengivite ulcerativa
necrosante (GUN), estende-se para o vestíbulo, língua, envolve os tecidos moles adjacentes e forma áreas
denominadas mucosite ulcerativa necrotizante (zonas de necrose profunda que se envolvem os tecidos).
Surgimento de zonas de descoloração negro-azuladas na superfície da pele sobrejacente. Disseminação da
necrose profunda pelo osso adjacente. Odor fétido. Dor intensa. Febre e mal-estar. Linfadenopatia local.
CONDUTA: AMPICILINA (injectável): crianças: 100-200 mg/kg/dia dividido em 4-6 tomas; no RN
com mais de uma semana – 50-100mg/kg/dose em três tomas; na criança com menos de uma semana 50-
100mg/kg/dose em duas tomas. GENTAMICINA (injectável): Crianças de 4 semanas até 12 anos: 6
mg/kg/dia em dose única ou Dividida em 2-3 tomas. Recém-nascidos: 3-5 mg/kg/dia em 1-2 tomas (nos
prematuros administrar doses menores e espaçar a administração para 36-48 h). METRONIDAZOL
(injectável): Crianças: 7,5 mg/kg de 8/8 h. Manter o tratamento durante 7-10 dias (ou até 2-3 semanas nos
casos de infecções anaeróbias mais graves) passando a via oral logo que possível.
39. OTITE EXTERNA: A otite externa é definida como uma infecção do canal auditivo externo ou seja
da pele deste. Quadro Clínico: Prurido do canal auditivo e da área auricular. Dor, que varia de
intensidade, de leve a acentuada pela manipulação do pavilhão auricular e ao fazer a pressão da área pré-
auricular (tragus) com a polpa do dedo indicador. Dor lancinante se acontece a perfuração do tímpano.
Edema da membrana timpânica. Secreção serosa ou purulenta (amarelada) ou esverdeada com mau cheiro
dependendo do agente causal. Ganglios linfáticos palpáveis e dolorosos na região peri-auricular. Eritema
e edema do pavilhão auricular. Ausência de febre. CONDUTA: Usa-se antibiótico local na forma de
loção ou creme: CLORANFENICOL- gotas auriculares a 5%, administração tópica no canal auditivo, 3-
5 gotas 2-3 vezes por dia durante 5-7 dias. No caso de otite externa grave é necessário associar um
antibiótico sistémico: ver tratamento otite média. No caso de dor: FENAZONA e PROCAÍNA- gotas
auriculares, aplicar 2 gotas/ouvido de 8/8h ou 12/12h dependendo da intensidade da dor ou
PARACETAMOL cpr: 10-15mg/Kg 4 vezes ao dia até a dor desaparecer. Se o ouvido estiver a drenar
pús: Mostrar à mãe como secar o ouvido com uma ponta de pano limpo, humedecido e torcido para
absorver a humidade, 3 vezes/dia, até que não haja mais secreção. Orientar a mãe a não colocar nada no
ouvido da criança; Aconselhar a mãe para que não permita que a criança faça natação ou qualquer
atividade em que a água possa entrar nos ouvidos e ter cuidado ao dar banho, para não entrar água no
ouvido.

40. OTITE MÉDIA: A otite média é a infecção do ouvido médio. É geralmente secundária à uma
infecção das vias aéreas superiores, como a faringite ou a rinite. Quadro Clínico: Otite média aguda:
Apresenta sinais e sintomas diferentes relacionados a idade e alguns comuns: Em todas as idades:

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Otorreia ou secreções do ouvido externo: purulenta no caso de otite bacteriana, Febre até 40°C, Mal-estar.
Em lactentes: Dificuldade em alimentar-se até chegar a recusar e em dormir; Choro inexplicável: por
causa da otalgia, Irritabilidade: por causa da otalgia; O lactente ou criança de 1-3 anos, pode tocar-se na
área auricular e chorar o que indica a presença da otalgia; Sintomas associados a infecção das vias aéreas
superiores como rinorréia, dispnéia leve, voz anasalada. Na criança mais velha: A otalgia forte: é o
sintoma inicial que a criança refere; Toca ou puxa a orelha, Hipoacusia transitória de transmissão: a
criança aumenta o volume da televisão; não ouve a voz de quem lhe chama; Ocorrem sintomas associados
a infecção das vias aéreas superiores como rinite, dor de cabeça, rinorreia. Otite crónica supurativa: Os
sinais e sintomas são os mesmos da otite média aguda com a excepção da febre e do mal-estar que
geralmente não estão presentes. Por ser um processo crónico e apresenta as seguintes características:
Hipoacusia de transmissão: diagnosticáveis na criança mais velha; Otorreia purulenta com mau cheiro no
caso de sobre infecção bacteriana por S.aureo ou Pseudomonas aeruginosa. CONDUTA: Otite média
aguda: No caso de otite média bacteriana é sempre indicado o tratamento com antibiótico:
AMOXICILINA: crianças> 3 meses e até 20 kg: 50-100 mg/kg/dia divididos em 3 tomas. Crianças < 3
meses: 30mg/kg/dia em 2 tomas. Ou AMOXICILINA COM AC. CALVULÂNICO por via oral: 50 -
80mg/Kg/dia de 8/8h durante 7 dias. Em caso de alergia a PENICILINA: ERITROMICINA por via
oral: 30-50mg/Kg/dia de 6/6h. COTRIMOXAZOL: trimetoprim 8 mg/kg e sulfametoxazol 40 mg/kg, 2
vezes/dia, durante 7 dias. Medicamentos para a dor: PARACETAMOL cpr: 10-15mg/Kg/dose 6/6h
durante 2-3 dias, até a dor desaparecer. IBUPROFENO cpr: 10mg/Kg/dose 8/8h durante 2-3 dias até a
dor desaparecer. Otite média crónica: Lavagem do ouvido médio com sucção e limpeza com algodão
seco; Manter o ouvido seco utilizando um pano torcido. Solução antiséptica de ÁCIDO ACÉTICO 2%
com ou sem HIDORCORTISONA 1%: 5-10 gotas 1 vez por dia por 2 semanas ou gotas de antibiótico
tópico. No caso de imunossupressão e exacerbação dos sintomas dar antibiótico como para a otite média
aguda. Nos casos graves: AMPICILINA EV: nas crianças 100-200 mg/kg/dia divididos em 4-6 tomas
em RN > 1 semana: 50-100 mg/kg/dose de 8/8h, em RN < 1 semana: 50-100 mg/kg/dose de 12/12h

41. MASTOIDITE: É a infecção bacteriana do osso mastóide, geralmente devida a extensão do processo
infeccioso de uma otite média não tratada adequadamente ou atempadamente ou secundária a um trauma
craniano grave. Quadro Clínico: Os sintomas aparecem após a sintomatologia de uma otite média aguda
não tratada ou que não responde ao tratamento prescrito. A febre é alta e persistente, há dor na região do
ouvido e retroauricular e existência de otorreia purulenta. Há dor na região retroauricular espontâneo e a
palpação. Dor nos olhos (sintoma proeminente devido a irritação do V par craniano). Há edema da região
retroauricular com retroflexo do pavilhão auricular. O edema é bem visível se o clínico colocar-se atrás da
criança e olhar para as orelhas; no lado afectado o pavilhão auricular é empurrado para frente pelo edema
da região. CONDUTA: AMPICILINA ev: 50mg/kg/dose ou PENICILINA CRISTALINA, 100.000-
200.000UI/kg/dia de 6/6hora, + GENTAMICINA ou METRONIDAZOL durante 72 horas e depois
pode se continuar com AMOXILINA ou CLAVAMOX na mesma dose administrada na otite média.
CLORANFENICOL (100 mg/kg de 6/6 h intramuscular ou intravenoso).

XVIII. PEDIATRIA_PARTE_III

1. TOSSE CONVULSA: Define-se tosse convulsa ou pertussis ou ainda coqueluche como uma infeção
das vias respiratórias causada pela bactéria Bordetella pertussis que se caracteriza por paroxismos de
tosse seca. Quadro Clínico: A tosse convulsa evolui em três fases sucessivas cada uma com a duração de

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1-2 semanas. Fase catarral: após um período de incubação de 7 a 10 dias, a criança desenvolve febre
(que pode estar ausente), tosse seca, síbilos e uma secreção nasal. Tudo isso é clinicamente indistinguível
de um episódio comum de resfriado. Fase paroxística: na segunda semana, ocorre a tosse paroxística e
seca. A criança apresenta episódios de tosse muito importantes que impedem a respiração normal e a
criança quase não consegue respirar durante a tosse, quando tentar inspirar o ar emite um som como de
guinchos e após o término do paroxismo ela fica muito fraca e pode ter vómitos ou tendência para
vomitar. Lactentes podem não manifestar o guincho; em vez disso, a tosse pode ser seguida pela
suspensão da respiração (apneia) ou cianose, ou a apneia pode ocorrer sem a tosse. Este esforço em tossir
pode provocar hemorragia subconjuntival. Fase convalescente: doentes têm uma tosse crônica, que pode
continuar por três meses ou mais, mas geralmente dura 1-2 semanas. CONDUTA: Nos casos leves, em
crianças ≥ 6 meses, o tratamento pode ser domiciliar com: ERITROMICINA oral (12,5 mg/kg 4 vezes
por dia) por 10 dias. O tratamento aborta a patologia no estado catarral, mas não afecta a duração do
estagio paroxistico se subministrada em isto estagio. Nos casos graves, se idade <6 meses e se criança
com pneumonia, convulsões, desidratação, desnutrição grave, apneia prolongada ou cianose após a tosse
é necessário internar a criança e providenciar os seguintes tratamentos: ERITROMICINA oral (12,5
mg/kg 4 vezes por dia) por 10 dias. Se houver febre ou se a ERITROMICINA não estiver disponível,
administrar CLORANFENICOL oral (25 mg/kg 3 vezes por dia) por cinco dias para tratar uma possível
pneumonia secundária. Corticosteróides por via oral: PREDNISOLONA 1 – 2 mg/kg/dia, 2 vezes dia
durante 4-5 dias. SALBUTAMOL: 0,03 mL/kg, diluir em 4 mL de SORO FISIOLÓGICO. Nebulizar
com 6 litros de oxigénio. Pode se repetir estas doses 4 x/dia. Os outros cuidados a ser administrados são
os mesmos da pneumonia grave. Administrar oxigénio 1 a 2 L/min (0,5 L/min em lactentes pequenos),
com sondas nasais se estiver disponível, para crianças que apresentam crises de apneia ou cianose, ou
paroxismos grave de tosse. Manter o oxigénio até que os sinais mencionados não estejam mais presentes.
Manter as narinas livres de muco, já que o procedimento bloqueia o fluxo de oxigénio. Não administrar
medicamentos para supressão da tosse, sedativos, agentes mucolíticos ou anti-histamínicos. Se a criança
tiver febre (≥ 39ºC) administrar PARACETAMOL por via oral, nas doses habituais (crianças: 6-12 anos,
250-500 mg de 4/4-6/6 h até um máximo de 4 doses/dia; 1-5 anos: 120-250 mg; 3-12 meses: 60-120 mg;
menores de 3 meses: 10 mg/kg num máximo de 4 doses diárias). Prevenção: Administrar
ERITROMICINA profilática (12,5 mg/kg 4 vezes por dia) por 10 dias aos contactos próximos do
doente.

2. RINITE: É uma a infecção da mucosa das cavidades nasais de origem bacteriana, viral ou fúngica. É
uma das infeções das vias aéreas superiores mais frequentes nas crianças. A rinite pode ser aguda se a
duração for menos de 5-7 dias e crónica se a duração for maior que 2 semana. As manifestações clínicas
típicas da renite são: Prurido nasal inicial; Ardor e secura das fossas nasais e da faringe; Secreção nasal:
Pode ser de qualquer tipo, serosa, mucóide ou purulenta; Respiração oral por ter as cavidades nasais
obstruidas pelas secreções; Dor de cabeça pode estar presente ou não, devida ao enchimento dos seios
paranasais de secreções, sobretudo no caso de infecção bacteriana; Espirros frequentes, Dificuldade em se
alimentar pode ocorrer em lactentes porque durante a sucção não conseguem respirar pelas narinas,
Epistaxe no caso de rinorreia crónica; Hiposmia ou anosmia: reduzida capacidade ou incapacidade de
diferenciar os cheiros, que pode ser referida pelas crianças mais velhas. TRATAMENTO
medicamentoso: No caso de rinite bacteriana que não passa é muito provável que se estenda à faringe.
Se houver febre e se a duração for superior a 7 dias pode ser devido à difusão da infecção e causou uma
supra-infecção bacteriana. Portanto se deve fazer tratamento antibiótico com Amoxicilina (> 3 meses e

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até 20Kg: 50m/kg/dia 3 vezes/dia por 5 dias). Crianças com >de 20 Kg: 250-500 mg de 8/8h (máximo 3
g por dia).

3. GRIPE: Define-se gripe ao conjunto de sintomas e sinais devidos a infecções virais comuns e
autolimitadas, que afectam as vias aeras superiores e que necessitam apenas de cuidados de suporte.
Manifestações Clínicas: Tosse. Secreção nasal, geralmente serosa ou mucosa. Respiração oral por ter as
cavidades nasais obstruídas pelas secreções. Febre. Sibilos ou estridor podem ocorrer em algumas
crianças, especialmente lactentes. Mal-estar geral. Dor nas articulações e músculos. A maioria dos
episódios termina em 7-10 dias, espontaneamente. TRATAMENTO não medicamentoso: Não devem
ser administrados antibióticos nem outros medicamentos para a tosse. Geralmente esta condição passa
espontaneamente em 7-15 dias. Se a criança tiver dificuldade em respirar ou alimentar-se por causa das
secreções nasais é necessário limpar as narinas com o SORO FISIOLÓGICO. Se a febre estiver
presente, administrar PARACETAMOL: 10-15mg/Kg/dose a cada 4-6h.

4. SINUSITE: A Sinusite é uma inflamação dos seios paranasais geralmente associada a um processo
infeccioso por vírus, bactéria ou fungo mas que também pode estar associada a um processo alérgico. Os
seios paranasais são formados por um grupo de cavidades que contêm ar e que se abrem dentro do nariz e
se desenvolvem nos ossos da face. Quadro Clínico: As sinusites apresentam-se com os seguintes sinais-
sintomas: Sinusite etmoidal: dor entre os olhos, atrás dos olhos e cefaleia frontal; Sinusite frontal:
cefaleia frontal, Sinusite maxilar: dor na área maxilar espontânea ou a palpação, dor dos dentes, cefaleia
frontal. Sinais-sintomas gerais: A dor aumenta ao baixar a cabeça: as crianças mais velhas podem referir
este sintoma; Secreção nasal amarelada, verde e muito densa; mas esta pode estar ausente por ser muito
densa e não conseguir fluir; Voz anasalada; Pode haver tosse seca ou produtiva (purulenta), sem outros
sinais de comprometimento das vias aéreas inferiores; A febre geralmente está ausente; Pode haver
otalgia ou sensação de ter os ouvidos “cheios”, “entupidos” caso esteja afectado o ouvido médio;
Hiposmia: capacidade reduzida de sentir cheiros; Especificamente na sinusite crónica podem estar
presentes os seguintes sinais-sintomas: Tosse crónica seca; Febre de origem desconhecida; Dor dos
dentes; Halitose. TRATAMENTO medicamentoso: A sinusite bacteriana é tratada com antibióticos:
AMOXICILLINA E ÁCIDO CLAVULÂNICO por via oral: crianças > de 3 meses e até 20 Kg
50mg/kg/dia, 3 vezes ao dia durante 2 semanas. Crianças com >20 Kg: 250-500 mg 8/8h (máxima 3 g
por dia); ERITROMICINA por via oral, no caso de alergia à AMOXICILINA, na dose de 50mg/Kg/dia
a cada 6h durante 2 semanas; METRONIDAZOL por via oral, associar no caso de infecção dental ou
com secreçôes particularmente mal cherosas que fazem pensar em uma componete etiologica anaerobia,
15-20 mg/kg/dia divididos em 3 tomas durante 2 semanas; Na sinusite crónica a duração do tratamento
antibiótico deve ser de 4-6 semanas e devem ser associados também com aos seguintes medicamentos:
Descongestionantes da mucosa nasal por uso local nas crianças com mais de 6 anos de idade.
Corticosteróides por via oral, PREDNISOLONA 1 – 2 mg/kg/dia, 2 vezes dia durante 4-5 dias para
crianças com rinite alérgica concomitante.

5.FARINGITE, AMIGDALITE: Faringite é uma inflamação, geralmente devida a infecção da mucosa


da faringe, que pode afectar a nasofaringe, orofaringe e laringo-faringe isoladamente ou em
concomitância. Amigdalite é a inflamação, geralmente secundária a infecção, das amígdalas. As
amígdalas, são duas proeminências de tecido linfóide com cerca de 3 a 5 cm de diâmetro, localizadas nas
faces laterais do segmento médio da faringe ou orofaringe. Estas formações, que desempenham uma

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função defensiva no organismo, estão literalmente revestidas por um manto com inúmeras vilosidades
microscópicas, com o objectivo de reter e filtrar os microrganismos presentes no ar e nos alimentos.
Muitas vezes são afectadas as duas estruturas em simultâneo e portanto fala-se de faringo-amigdalite.
Quadro Clínico: A criança apresenta-se com sinais/sintomas comuns as duas condições: Sensação de
prurido a nível da garganta/orofaringe: frequentemente é o primeiro sintoma; Faringodinia ou dor tipo
ardor da garganta, Disfagia ou dor na deglutição de alimentos sólidos ou líquidos. A criança recusa
alimentar-se ou aceita somente alimentos líquidos e não quentes; Febre: que é mais elevada em caso a
origem for bacteriana, Hiperemia da mucosa da faringe e em particular dos pilares palatinos, Aumento
dos gânglios cervicais laterais que doem a palpação. Sinais característicos de amigdalite: Hiperemia e
hipertrofia das amígdalas: no caso de amigdalite viral ou no primeiro estadio de amigdalite bacteriana;
Presença de exsudado nas amígdalas, Presença de placas amareladas nas amígdalas: típico da amigdalite
por Estreptococo. Sinais em outros aparelhos adjacentes no caso de etiologia viral: Presença de
conjuntivite serosa, Hiperemia da membrana timpânica; Rinite. TRATAMENTO não medicamentoso:
Caso a etiologia seja viral não é necessário dar nenhum medicamento, somente o PARACETAMOL se
houver febre. Administrar PARACETAMOL por via oral, nas doses habituais (crianças: 6-12 anos, 250-
500 mg de 4/4-6/6 h até um máximo de 4 doses/dia; 1-5 anos: 120-250 mg até um máximo de 4 doses/dia;
3-12 meses: 60-120 mg até um máximo de 4 doses/dia; menores de 3 meses: 10 mg/kg) até um máximo
de 4 doses/dia. Tratamento Medicamentoso: Caso a etiologia seja bacteriana é necessário dar
antibiótico por via oral. AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULÂNICO 50mg/kg/dia a cada 8h por 7-10
dias sobretudo para prevenir a febre reumática. Caso a criança seja alérgica a Penicilina como alternativa
pode ser usada a ERITROMICINA oral 50mg/Kg/dia a cada 6h durante 10 dias. O abcesso
periamigdalino trata-se com PENICILINA G EV, nas crianças maiores de 12 anos: 500.000 U.I. de 6/6
h, aumentando se necessário para 1.000.000 U.I. ou mais de 6/6 h; crianças de 1 mês -12 anos: 50.000-
100.000 U.I./kg/dia dividido em 4 tomas. Após a resolução da febre e melhoria dos sintomas o tratamento
E.V. deve ser substituído pela forma oral com PENICILINA V oral, 25-50 mg/kg/dia divididos em 4
tomas durante 10 dias. Em caso de um ataque de febre reumática é necessário iniciar a profilaxia para
prevenir sua repetição administrando PENICILINA BENZATINICA IM, crianças com menos de 30 kg:
600.000 U.I. uma vez por mês. A duração da profilaxia depende de vários factores como o número de
ataque de febre reumática, o tempo entre dois ataques, a idade do paciente, o risco de exposição ao
Estreptococo, o eventual envolvimento do coração.

6. DIFTERIA: A difteria é uma infecção bacteriana das vias aéreas superiores nomeadamente a
nasofaringe causada por a bactéria Corynebacterium diphtheriae. NB: Difteria cutânea pode ocorrer em
um ou mais locais, geralmente localizadas em áreas de trauma leve anterior ou nódoas negras. É mais
comum em climas tropicais. Dor, sensibilidade e eritema no local da infecção pode progressar para
ulceração com bordas bem definidas e formação de uma membrana cinza acastanhado. Quadro Clínico:
Estridor e obstrução destas vias áreas. Uma secreção nasal sanguinolenta. Há aumento dos gânglios da
região cervical. Paralisia muscular. Miocardite. A miocardite e a paralisia podem ocorrer de 2 a 7
semanas após o início da doença e estão associadas com aumento da mortalidade por esta doença. Sinais
de miocardite incluem pulso fraco e irregular e evidências de insuficiência cardíaca. TRATAMENTO
medicamentoso: ANTITOXINA DIFTÉRICA (se disponível): logo que o clínico tiver a confirmação do
diagnóstico de difterite deve administrar 40.000 unidades da ANTITOXINA DIFTÉRICA (IM ou EV).
Como há um pequeno risco de reacção alérgica grave a antitoxina, um teste intradérmico inicial para
detectar hipersensibilidade deve ser realizado, conforme as instruções, e o tratamento para anafilaxia deve

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estar disponível imediatamente, pois o retardo neste procedimento pode levar a um aumento da
mortalidade. Antibióticos: PENICILINA PROCAÍNA (50.000UI/kg, IM) uma vez por dia por sete dias
ou PENINCILINA CRISTALINA 100 000UI/kg/dia de 6/6h por 7 dias. No caso de alergia a
Penicilina, usa ERITROMICINA: Crianças 30-50 mg/kg/dia divididos em 4 tomas por 7 dias. Se
houver febre: administrar PARACETAMOL por via oral, nas doses habituais (crianças: 6-12 anos, 250-
500 mg de 4/4-6/6 h; 1-5 anos: 120-250 mg; 3-12 meses: 60-120 mg; menores de 3 meses: 10 mg/kg) até
um máximo de 4 doses/dia. Prevenção: Vacinação segundo o calendário vacinal nacional com a vacina
contra o tétano e pertussis. Manter a criança em isolamento, sendo cuidada por pessoal totalmente
imunizado contra difteria. Administrar um reforço do toxóide diftérico para todos os contactos
domésticos imunizados. Administrar para todos os contactos domésticos não-imunizados uma dose IM de
PENICILINA BENZATINA (600.00UI para crianças com ≤5 anos; 1.200.000UI para >5 anos) e
imunização com toxóide diftérico; controlar diariamente durante cinco dias quaisquer sinais de difteria
nos contactos.

7. LARINGITES: A laringite é a inflamação, geralmente de origem infecciosa, da mucosa da laringe.


Quadro Clínico: Laringotraqueobronquite ou crupe: A causa mais comum é uma inflamação
infecciosa das mucosas causadas pelo vírus parainfluenza (1 ou 2). Esta é a forma clínica mais frequente
da laringite aguda. Os sintomas e sinais característicos são: Estridor inspiratório, A voz pode ser normal
ou com rouquidão, Uma tosse que se parece com o ladrar de um cão, muito fácil de identificar logo que o
paciente entra no consultório; A criança apresenta-se irritada, agitada; Há taquicardia, Há taquipneia; Há
estridor inspiratório com retracção dos músculos intercostais marcada. Epiglotite: Trata-se de uma
infecção da supraglote que pode conduzir a asfixia e morte sendo assim uma emergência médica. O
agente causal mais frequente é o Haemophilus influenzae tipo B, sobretudo se as crianças não foram
vacinadas, mas pode ser causada por Estreptococo, Pneumococo e Estafilococo. É mais frequente
entre 2 e 7 anos. O aparecimento e a progressão da sintomatologia é rápida e grave e os sintomas e sinais
característicos são: Febre elevada; Salivação abundante; Voz afónica: a criança nem consegue falar por
estar ocupada a respirar; Disfagia; Dificuldade respiratória grave caracterizada por: Estridor; Dispneia
com retracções dos músculos intercostais, área supraclavicular, arejamento nasal, A criança está sentada
com a boca aberta para tentar respirar; Agitação, cianose e letargia; Taquicardia; Taquipneia.
TRATAMENTO medicamentoso: laringite e do crupe: Aerossol com 3ml SORO FISIOLÓGICO e
ADRENALINA 5-10mg, que pode ser repetido a cada 2h; DEXAMETASONA IM 0,6mg/Kg para os
casos moderados e graves. PREDNISOLONA 1mg/Kg/dia uma vez por dia por 3-5 dias. Epiglotite: É
necessário reconhecer imediatamente o quadro de epiglotite pois pode levar à morte ou asfixia do
paciente em poucas horas. Terapia antibiótica com CLORANFENICOL E.V: 100 mg /kg/dia divididos
em 4 doses por 7 dias.

8. BRONQUIOLITE: A bronquiolite é uma infecção viral dos bronquíolos (vias aéreas inferiores),
sendo caracterizada pela obstrução destas vias aéreas, devida ao edema, secreções, produtos celulares e ao
broncoespasmo reactivo. Quadro clínico: Anamnese: Os sintomas da bronquiolite incluem: Forma leve:
Rinite com secreção serosa pelo nariz: sintoma inicial, primeiros 2-3 dias. Febre: máximo 38,5-39°C:
sintoma inicial, primeiros 2-3 dias. Dificuldade de alimentação, amamentação ao seio ou ingestão de
líquidos por causa da dificuladade respiratória: sintoma inicial, primeiros 2-3 dias. Gemidos (em crianças
pequenas). Tosse seca; Irritabilidade. Dificuldade em dormir. Forma moderada-grave: todos os sinais
acima descritos mais os seguintes: Parar de respirar (Apneia: pode ser o único sintoma); Incapacidade de

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sugar o seio (mamar) ou de beber líquidos, ou vomita tudo que ingere. TRATAMENTO medicamentoso:
Broncodilatadores: SALBUTAMOL 0,03 mL/kg, diluir em 4 mL de SORO FISIOLÓGICO.
Nebulizar com 6 litros de oxigénio; iniciar sempre com 3 aerossóis a cada 20 min na primeira hora e
depois a frequência irá mudar dependendo da gravidade da forma clínica e da resposta aos 3 aerossóis
iniciais. A seguir ao primeiro ciclo de 3 aerossóis a criança deve ser reavaliada após 1 hora para avaliar a
resposta e decidir a frequência seguinte dos aerossóis: nas formas leves pode ser de 8/8h podendo ser
aumentada de 6/6h, até de 3/3h nos casos graves; os casos graves podem fazer os primeiros aerossóis após
20 minutos um a seguir ao outro. ADRENALINA por aerossol nos casos graves: 0,25mg/kg/dose
(máximo 2mg) (0,3-0,4ml/kg/dose da diluição 1:1000) com 3ml de SORO FISIOLÓGICO, que pode
ser repetida a cada 1-3 horas por 3 doses. TRATAMENTO antibiótico: sendo uma doença de origem
viral o tratamento antibiótico não deveria ser administrado, mas devido as frequentes infecções bacteriana
secundária no nosso contexto inicia-se o antibiótico se a criança apresentar taquipneia: AMOXICILINA
(50 mg/kg/dia dividido em 3 tomas) por via oral por 7 dias, OU COTRIMOXAZOL (4 mg/kg de
Trimetoprim ou 20 mg/kg de Sulfametoxazol/dose) 2 vezes/dia por via oral por 7 dias. Se a criança tiver
febre (≥ 39ºC) administrar PARACETAMOL por via oral, nas doses habituais (crianças: 6-12 anos,
250-500 mg de 4/4-6/6 h até um máximo de 4 doses/dia; 1-5 anos: 120-250 mg; 3-12 meses: 60-120 mg;
menores de 3 meses: 10 mg/kg).

9. SIBILÂNCIA RECORRENTE E ASMA CRÔNICA: Sibilância recorrente: É uma situação


caracterizada por obstrução via broncoespasmo das vias aéreas inferiores devida a uma reacção/resposta a
estímulos como agentes irritantes ou infecciosos que determinam edema, secreções, a nível das vias
respiratórias afectadas. Asma crônica: É uma patologia inflamatória crónica caracterizada por obstrução
parcial ou totalmente reversível das vias aéreas, acompanhada por broncoespasmo, em resposta a vários
estímulos como alergénios e/ou infecções. Status asmático: Define-se status asmático ao episódio agudo
grave de asma que não responde ao tratamento inicial com broncodilatadores podendo ser moderado ou
grave com todos os sinais e sintomas descritos acima. É uma emergência médica e a criança deve ser
internada. Quadro clínico: Sintomas do ataque: Tosse (frequência e tempo de aparecimento), falta de
ar, produção de escarro. Situações desencadeantes: infecções virais concomitantes, alergias, factores
emocionais envolvidos, medicamentos. História de infecções das vias respiratórias superiores recorrentes
e alergias. Frequência dos ataques: qualquer altura, sazonal, durante o dia ou a noite. Início do ataque e
duração. Presença de outras patologias: refluxo gastroesofágico. Caso não seja o primeiro episódio:
características dos episódios anteriores, uso frequente de medicamentos para asma, broncodilatadores,
esteróides. História familiar de alergias, asma e eczema; A sibilância recorrente tem sintomas specificas
de: Episódios recorrentes de sibilos. Tosse. Ausência de alergia, atopia, eczemas. Idade <5 anos; Pode ser
recorrente se o número de episódios for > 3 em 6 meses. A asma crônica é uma condição caracterizada
por episódios recorrentes, chamados crise de asma aguda, que podem ser mais ou menos grave e tem
sintomas especificas de: Tosse seca: que geralmente é mais intensa a noite e de manhã; pode aparecer
com o exercício e neste caso pode ser o único sintoma. Falta de ar. Constrição do tórax, a criança mais
velha tem a sensação de peso no tórax que não a deixa respirar. Febre: pode estar ou não presente
dependendo se há um processo infeccioso associado. Vómitos. TRATAMENTO no banco de socorros:

Asma leve e moderada: Tratamento não medicamentoso: Oxigénio: 6-8L/min (com máscara simples).
Tratamento medicamentos: SALBUTAMOL por aerossol: 0,03 mL/kg, diluir em 4 mL de SORO
FISIOLÓGICO. Nebulizar com 6 litros de oxigénio; até 3 vezes cada 20-30 min. Se o SALBUTAMOL
não estiver disponível, administrar ADRENALINA subcutânea: 0,01 mL/kg da solução 1:1.000 (até o

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máximo de 0,3 mL), medida com precisão com uma seringa de 1 mL. Se não houver melhoria após 15
minutos, repetir a dose mais uma vez. Esteróides orais (PREDNISOLONA 1-2 mg/kg 12/12h (máximo
de dosagem é 50mg/dia) para 5 dias,) devem ser usados somente se a asma for moderada ou na presença
de factores de risco que levam a recorrência de asma grave, isto é quando existe história de episódios de
asma grave no passado. A administração de esteróides reduz a gravidade do ataque e melhora a resposta
de todo o tratamento, começam a ser eficazes 4-5h após a administração.

Asma grave: Tratamento não medicamentos: Oxigénio: 6-8l/min: Tratamento medicamentos:


SALBUTAMOL por aerossol: 0,02ml de solução /Kg/dose até 3 vezes a cada 20-30 min. Se o
SALBUTAMOL não estiver disponível, administrar ADRENALINA subcutâneas (ver acima).
Esteróides orais: PREDNISOLONA 1-2 mg/kg 12/12h (máximo de dosagem é 50mg/dia) para 5 dias,
ou HIDROCORTISONA EV Crianças: 6-12 anos, 100 mg; 1-5 anos, 50 mg e menores de 1 ano, 25mg
durante três dias ou até a criança melhorar. A via oral e EV/IM tem a mesma eficácia, portanto é
preferível a oral se a criança consegue engolir. Seguimento hospitalar: cuidados a ter em casa com
SALBUTAMOL inalado (1-2 jactos 3-4 x/dia.) ou, se este não estiver disponível, xarope ou
comprimidos de SALBUTAMOL por via oral: Maiores de 12 anos: 5 a 10 mL 3-4 x/dia ou 2-4mg 3-4x-
dia. Dos 7 a 12 anos: 5 mL 3-4 x/dia ou 2mg 3-4x-dia; Crianças dos 2 aos 6 anos: 2,5 a 5 mL 3-4 x/dia
durante 5 dias.

Tratamento de criança hospitalizada: Tratamento medicamentoso: O mesmo que os medicamentos


usados no Banco de Socorros, mas também acrescentar: AMINOFILINA: se a criança não melhorar
após três doses de um broncodilatador de acção rápida, administrado em curtos intervalos e associado à
PREDNISOLONA EV, administrar AMINOFILINA EV. A dose inicial é de 5 a 6 mg/kg (máximo de
300 mg), seguida de uma dose de manutenção de 5 mg/kg a cada 8 horas. Deve-se administrar a dose
intravenosa durante pelo menos 30 minutos; preferencialmente durante 1 hora. A AMINOFILINA
intravenosa pode ser perigosa em doses excessivas ou quando administrada muito rapidamente. Omitir a
dose inicial se a criança já recebeu qualquer forma de AMINOFILINA nas 24 horas anteriores.
Interromper imediatamente a infusão se a criança começar a vomitar, apresentar frequência cardíaca
maior do que 180 bpm, desenvolver cefaleia ou apresentar uma convulsão. Se a AMINOFILINA
injectável não estiver disponível, supositórios de AMINOFILINA são uma alternativa, caso estejam
disponíveis. De preferência a AMINOFILINA deve ser dada em perfusão em SORO FISIOLÓGICO
(SF) a 0.9% ou SORO DEXTROSE (SD) a 5%, diluindo 1mg/ml a correr durante pelo menos 30
minutos. A concentração final não deve exceder 5mg/ml.

Tratamento em ambulatório: Tratamento medicamentoso: SALBUTAMOL por aerossol: mesma dose


indicada acima de 6/6h ou 8/8h por pelo menos 7 dias; se usar bombas inalatórias de SALBUTAMOL: 2
inalações se o peso <20Kg; 3 inalações se o peso > 20Kg; SALBUTAMOL oral tal como acima
descrito; Esteróides por via oral tal como acima descrito; Esteróides por aerossol ou inalador: por pelo
menos 15-20 dias, para tratar a inflamação dos brônquios; Beclometasona aerossol pressurizado 100
μg/inalação: 1 -2 inalações se peso<20kg e 3 inalações se peso > 20Kg, 2x/dia; AMINOFILINA oral: 15
mg/kg/dia divididos em 3 tomas para 3-5 dias (5 mg/kg/dose de 8/8h).

10. PNEUMONIA: A bronquite é uma síndrome clínica produzida pela inflamação da traquéia,
brônquios e bronquíolos. A broncopneumonia refere-se a inflamação do pulmão que está centrado nos
bronquíolos e leva à produção de um exsudato mucopurulento que obstrui algumas destas pequenas vias

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aéreas e provoca a consolidação desigual dos lóbulos adjacentes. A pneumonia é a inflamação do


parênquima pulmonar, umas das infecções respiratórias mais frequentes e está associada a consolidação
dos espaços alveolares. A maioria das vezes temos quadro misto, e é dificil distinguir entre pneumonia e
broncopneumonia. A pneumonia atípica é uma pneumonia causada por bactérias específicas como
Mycoplasma pneumoniae ou Chlamydia pneumoniae. Estas bactérias tendem a causar formas mais leves
de pneumonia. Quadro clínico: Pneumonia Bacteriana: As pneumonias bacterianas são geralmente
mais graves do que as virais ou pneumonias atipicas; a pneumonia fúngica pode ser mais grave da
bacteriana por afectar crianças imunodeprimidas e é mais difícil de tratar, assim como algumas
pneumonias virais em imunodeprimidos graves. Pneumonia muito grave, é caracterizada pelos seguintes
sintomas: Incapacidade de sugar ao seio ou de beber líquidos, ou vómito de todo o volume ingerido;
Convulsões, letargia ou inconsciência; Gemidos (nas crianças pequenas), Tosse usualmente produtiva;
Febre; Cefaleia. Pneumonia grave é caracterizada pelos seguintes sintomas: Respiração rápida: como
acima descrito; Tosse ou dificuldade respiratória. Pneumonia não-grave é caracterizada por tosse ou
dificuldade respiratória e respiração rápida (como acima descrito) mas a criança está alerta, em capaz de
alimentar e beber, e não em dificuldade respiratória grave. Na recolha da anamnese é necessário
investigar sobre: Tosse: sua duração, características do escarro se estiver presente, vómito, dor abdominal;
Exposição a alguém com tuberculose (ou tosse crónica) na família, História de engasgo, aspiração de
corpo estranho ou início súbito dos sintomas, Infecção conhecida pelo HIV; História vacinal: BCG, DPT,
sarampo, Hib; História familiar ou pessoal de asma.

Pneumonia atípica: É uma doença de início gradual e insidioso de vários dias a semanas. Tem sintomas
de: Mal-estar; Febre; Tosse seca, persistente e lentamente agravamento; Dor de cabeça; Calafrios; Dor de
garganta coçando, Dor de peito (resultado da tosse prolongada).

Pneumonia viral: Tem geralmente início gradual. Anamnese: Tosse seca. Rinite e envolvimentos das
vias aéreas superiores. O estado geral é menos comprometido. A febre muitas vezes não é tão
proeminente.

TRATAMENTO medicamentoso da pneumonia muito grave: É necessário internar a criança, e iniciar


logo a terapia antibiótica com: AMPICILINA (100 mg/kg, IM, 6/6h) + GENTAMICINA (7,5 mg/kg,
IM, 1/dia) por 5 dias; Se a criança apresenta boa resposta, completar o tratamento no âmbito domiciliar,
ou no hospital, com AMOXICILINA E ÁCIDO CLAVULANICO: crianças com mais de 20 kg: 375
mg (250 mg de trihidrato de Amoxicilina e 125 mg Clavulanato de potássio) de 8/8 h no início da
refeição. Crianças até 20 kg: calcular a dose em função da AMOXICILINA, 20-50 mg/kg/dia divididas
em 3 tomas (usar a suspensão de AMOXICILINA + ÁCIDO CLAVULÂNICO nas crianças mais
pequenas) por mais 5-10 dias. Se suspeitar pneumonia por Pseudomonas: CEFTRIAXONA (80
mg/kg, IM ou IV, 1vez/dia) + GENTAMICINA (7,5 mg/kg, IM, 1/dia). Se suspeitar E. aureo:
AMPICILINA (100 mg/kg, IM, 6/6h) + GENTAMICINA (7,5 mg/kg, IM, 1/dia) ou
COTRIMOXAZOLE oral (Crianças com mais de 2 meses: 20 mg/kg de SMX de 12/12 h, de 2-5 meses:
1/4 comp. de 12/12 h) ou AMOXICILINA E ACIDO CLAVULANICO descrito acima. As
alternativas são: CLORANFENICOL (25 mg/kg/dose, IM, ou, IV, 6/6h) até a melhoria da criança. A
seguir, continuar por via oral 4 vezes por dia até completar um curso total de 10 dias. Tratamento
medicamentoso da pneumonia grave: É necessário internar a criança e iniciar logo a terapia antibiótica
com: BENZILPENICILINA (50.000 unidades/kg IM ou IV 6/6 h) por, no mínimo, três dias; Quando a
criança melhorar, trocar para AMOXICILINA (40-50 mg/kg/dia, 2 vezes por dia). O curso total do

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tratamento é de 10-14 dias; Se suspeitar a Chlamydia ou Mycoplasma pneumoniae: administrar


ERITROMICINA 50mg/Kg/dia de 6/6h durante 14 dias. Tratamento de crianças HIV-positivo ou
com suspeita de HIV 0 - 2 meses: Duração 10-14 dias, PENICILINA CRISTALINA 100 000 UI
kg/dia, EV,6/6 h Ou AMPICILINA 100 mg kg/dia, EV, 6/6 h, 10 días + GENTAMICINA 5mg/kg/dia,
12/12h 7 dias; >2 meses: Duração 10-14 dias com um dos seguintes: PENICILINA PROCAINA 50
000 UI kg/dia , IM 12/12h; AMOXICILINA 40 mg kg/dia , VO , 8/8 h; AMOXI/ÁC
CLAVULÂNICO, 50mg/kg/dia VO, 8/8 h; CLORANFENICOL 100 mg kg/dia, EV, 4/4 h;
CLOXACILINA 150 mg kg/dia, EV, 6/6 h; ERITROMICINA 50 mg kg/dia, VO, 6/6 h;
CEFTRIAXONA 100 mg, EV kg/dia, IM, 12/12; CEFALEXINA 50 mg kg/dia, VO, 6/6 h.
Tratamento medicamentoso da pneumonia não grave: Não é necessário internar a criança e o
tratamento antibiótico pode ser feito em casa com AMOXICILINA ou AMOXICILINA E
ÁC.CLAVULÁNICO (50mg/kg/dia VO, 8/8 h)por sete dias. Alternativa: COTRIMOXAZOL (4
mg/kg de trimetoprima e 20 mg/kg de sulfametoxazol, por via oral, 2 vezes por dia) por sete dias. Nas
crianças que estão recebendo a profilaxia para Pneumocystis jiroveci, ou que vivem numa região em que
o COTRIMOXAZOL é comummente administrado, não usar o COTRIMOXAZOL. A duração da
terapia pode ser aumentada de alguns dias nas crianças com HIV até 14 dias. Tratamento
medicamentoso para pneumonia atipical: Se suspeitar de Chlamydia ou Mycoplasma pneumoniae
administrar ERITROMICINA 50mg/Kg/dia de 6/6h durante 10 dias.

11. DERRAME PLEURAL E EMPIEMA: Derrame pleural é a acumulação de líquido entre os dois
folhetos que recobrem os pulmões ou seja as pleuras. O líquido pode ser de diferente constituição,
dependendo da etiologia do processo patológico que determinou o derrame: Purulento ou empiema:
líquido com pus, secundário a um processo infeccioso por bactérias; Quadro clínico: Febre persistente;
Tossir; Falta de apetite, Mal-estar; Dor no peito ou ombros ou abdómen. TRATAMENTO
Medicamentoso: Continuar a terapia com antibióticos ou trocar o antibiótico e iniciar com:
AMPICILINA 100mg/kg/dia EV 6/6h OU PENINCILINA CRISTALINA 100 000UI/kg/dia EV de
6/6h + GENTAMICINA 5 – 7,5mg/kg/dia EV de 12/12h para 7 dias; Se não melhorar passa para
CEFTRIAXONA 80mg/kg/dia 1 vez dia EV; Se for identificada a infecção por Staphylococcus aureus:
CLOXACILINA (50 mg/kg, IM ou EV de 6/6 h) e GENTAMICINA (7,5 mg/kg, IM ou IV uma vez por
dia). Quando a criança melhorar, manter a CLOXACILINA por via oral 6/6h, até completar um curso
total de três semanas.

12. TUBERCULOSE (TB): é causada


peloMycobacteriumtuberculosis complexo,
também chamado Bacilo de Koch (BK), como o Peso ( KG) Isoniazida comp. 100mg
nome do cientista que o descobriu. A prevenção
<5 ½ comp
doença activa é feita através da: Vacinação com
BCG, Profilaxia com ISONIAZIDA, se estiver 5.1-9.9 1 comp
disponível, PIRIDOXINA ou
MULTIVITAMINAS xarope durante 6 meses. 10-13.9 1 ½ comp
Tabela 1: Dosagens de ISONIAZIDA de
14 -19.9 2 comp
acordo com o peso:
20 -24.9 2 ½ comp

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

>25 20comp ou 1 comp de Isoniazida 300 mg

O tratamento recomendado para quimioprofilaxia das crianças que tiveram contactos é a ISONIAZIDA
10 mg/kg/dia durante 6 meses.

Medicamentos usados para o tratamento da TB: Os medicamentos disponíveis em Moçambique


incluem uma associação dos seguintes, medicamentos na forma de comprimidos chamados de Dose Fixa
Combinada (DFC), que podem ser usados em crianças de qualquer peso: Rifampicina (R) em DFC;
Isoniazida (H) em DFC; Pirazinamida (Z) em DFC; Etambutol (E), em comp separado e em DFC.

Formulações para o tratamento da TB infantil em Moçambique: 2DFC pediátrico= Rifampicina+


Isoniazida (R 60mg+ H 30mg); 3DFC pediátrico= Rifampicina+ Isoniazida+ Pirazinamida (R 60mg+
H 30mg+ Z 150mg); Etambutol= E 100mg; 2DFC adulto =Rifampicina+ Isoniazida (R 150mg+ H
75mg); 4DFC adulto= Rifampicina+ Isoniazida+ Pirazinamida+Etambutol (R 150mg+ H 75mg+ Z
400mg+E275mg).

TRATAMENTO DA TB PEDIÁTRICA: Tabela 2: Dosagens de medicamentos anti-TB de 1ª linha


recomendadas para crianças

Medicamentos Dose recomendada Intervalo Dose Maxima ( mg)

Rifampicina 15 mg/kg (10 – 20) 600

Isoniazida 10 mg/kg (7 – 15) 300

Pirazinamida 35 mg/kg (30 – 40)

Etambutol 20 mg/kg (15 – 25)

A dose diária de Etambutol recomendada é mais alta nas crianças (20 mg/kg) do que nos adultos (15
mg/kg), porque a farmacocinética é diferente (pico de concentração sérica do Etambutol é menor nas
crianças que nos adultos recebendo a mesma dose em mg/kg).

Classificação, esquema e dosagem de TB tratamento: Existe um código estandardizado para os


regimes de tratamento de tuberculose, que usa uma abreviação para cada fármaco, ex. Isoniazida (H),
Rifampicina (R), Pirazinamida (Z) e Etambutol (E). O número à frente de cada fase representa a
duração dessa fase do tratamento em meses. Exemplo: 2HRZE/4RH. A fase inicial é 2HRZE. Duração
desta fase - 2 meses. O tratamento é diário com Isoniazida, Rifampicina e Pirazinamida e Etambutol.
A fase de manutenção é 4 RH. A duração desta fase é de 4 meses, com Isoniazida e Rifampicina diária.
As principais alterações no tratamento sugeridas pela OMS e adaptadas por Moçambique foram: A
Estreptomicina não deve ser utilizada como parte do regime de primeira linha. O Etambutol foi
incluído na fase intensiva para todas as crianças. O tratamento anti-tuberculostático deve ser
administrado diariamente. O tratamento de TB meníngea e osteoarticular têm duração de 12 meses, com
fase intensiva de 2 meses com HRZE e manutenção de 10 meses com RH. Tabela 3: Esquema de
tratamento da TB infantil em Moçambique.

Definição Tratamento

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

Fase intensiva Fase de manutenção

I Crianças com suspeita ou confirmação de TB pulmonar ou ganglionar,

Todas formas EPTB com excepção meníngea e osteoarticular 2HRZE 4HR

II Tuberculose meníngea, osteoarticular 2HRZE 10HR

Tabela 4:Tratamento de TB infantil em Moçambique, segundo o peso

Fase Intensiva Fase de Manutenção

Kg RHZ (60/ 30/ 150) E 100 RH (60,/30)

4- 6,9 1 1 1

7-10,9 2 2 2

11-14,9 3 2 3

15-19,9 4 3 4

20-24,9 5 1comprimido de E 400 5

Uso corticosteróides em TB tratamento: O medicamento usado com mais frequência é a Prednisolona,


na dose de 2 mg/kg/dia, podendo nos casos mais graves ser aumentada até 4 mg/kg/dia, com dosagem
máxima de 60 mg/dia durante 4 semanas. A dose deverá ser então reduzida gradualmente (desmame)
durante 1 –2 semanas antes de ser suspensa.

13. FEBRE REUMÁTICA: A febre reumática é uma doença inflamatória imuno-mediada ou imune que
afecta vários sistemas e que aparece 1 a 5 semanas após uma faringomaigdalite por Streptococcus
pyogenes (ß-hemolitico do grupo A). Quadro Clínico: Anamnese: Algumas semanas após uma faringite
por estreptococo podem aparecer os sintomas característicos da febre reumática que dependem do sistema
envolvido: Dor nas articulações pode aparecer após 2-3 semanas, Nódulos sob a pele podem aparecer
após 1-2 meses; Aumento da irritabilidade e atenção encurtado com alterações de personalidade pode
aparecer após 2-3 semanas; Disfunção motora pode aparecer após 2-6 meses; No início a sintomatologia
associada pode ser: Febre contínua> 39°C; Mal-estar, Palidez, Dificuldade respiratória; Epistaxe; Dor no
peito; Dor abdominal que pode parecer a dor por apendicite. TRATAMENTO Medicamentos: Tratar a
infecção estreptocócica logo no início com: PENICILINA G BENZATINICA em dose única 600.000UI
para crianças com < de 30kg e 1.200.000 UI para crianças com > de 30kg OU
FENOXIMETILPENICILINA por via oral (Comp. 500 mg ou Susp. oral 250 mg/5 ml) 25-50
mg/kg/dia, dividida em 4 tomas: crianças com mais de 12 anos: 1- 2 comp. (500-1000 mg) 4 vezes por
dia; crianças de 6 a 12 anos: ½ comp. Ou 5ml (250 mg) 4 vezes por dia; crianças de 1 a 5 anos: ¼ comp.
Ou 2.5ml (125 mg) 4 vezes por dia; crianças com menos de 1 ano: 62,5 mg (1,25 ml medido com uma
seringa) 4 vezes por dia. Duração do tratamento 10 dias. Em casos de alergia à PENICILINA pode ser
usada a ERITROMICINA na dose de 40mg/kg/dia de 6/6 horas durante 10 dias. Nas formas com artrite
ou com cardite sem cardiomegália: ASPIRINA 80-100mg/kg/dia dividido em 4 administrações, até a
normalização da VS, geralmente cerca de 6-8 semanas. Nas formas com cardite e com cardiomegalia ou
descompensação cardíaca: PREDNISOLONA 2mg/kg/dia 2 vezes por dia durante 2 a 3 semanas seguida

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por uma redução gradual de 5 mg/dia a cada 2-3 dias + ASPIRINA 80mg/kg/dia que deve ser dada por 6
semanas + tratamento para a descompensação cardíaca. DIGOXINA via oral: Criança de idade 1 mes-10
anos: Dose de ataque: oral 0,03 mg/kg (30micrograma/kg/dia) divididos em 3 tomas nas primeiras 24
horas, da qual metade da dose na hora zero e o resto da metade da dose dividido em 2 tomas nas horas 8 e
16 seguintes administrando com muito cuidado porque a dose terapêutica é muito próxima da dose
tóxica –para treino do cálculo da dose. Seguida por uma dose de manutenção: é de 0.01 mg/kg/dia
dividida em 2 doses (12/12h). Criança de idade> 10 anos: Dose de ataque: oral 0.75-1.5mg divididos em
3 tomas nas primeiras 24 horas; Manutenção: oral 0.062mg (62 micrograma) -0.25mg (250 micrograma)
dividido em 2 tomas diárias + diuréticos (FUROSEMIDA 1-2 mg /kg de 12 em 12 horas). NOTA: 1mg
= 1000 micrograma. Profilaxia secundária: Após febre reumática ou cardiopatia reumática aguda.
Podem ser usados: PENICILINA BENZATINICA: crianças com > de 30 kg de peso 1.200.000UI I.M.
1 vez por mês e crianças com < de 30kg de peso 600.000 UI I.M. 1 vez por mês OU
FENOXIMETILPENICILINA por via oral (Comp. 500 mg ou Susp. oral 250 mg/5 ml) 25-50
mg/kg/dia, dividida em 2 tomas: Crianças com > de 12 anos: 1 comp. (500 mg) 2 vezes por dia; Crianças
de 6 a12 anos: ½ comp. ou 5ml (250 mg) 2 vezes por dia; Crianças de 1 a 5 anos: ¼ comp. ou 2.5ml (125
mg) 2 vezes por dia. Prevenção da endocardite: As crianças com cardiopatia reumática com dano
valvular devem tomar uma dose de antibiótico 1 hora antes de qualquer cirurgia ou procedimento dentário
para prevenir uma endocardite, mas não usar o mesmo antibiótico que está a usar para a profilaxia
secundária mas usar a CLINDAMICINA (20mg/kg/dose por via oral) ou AZITROMICINA ou
CLARITROMICINA (15mg/Kg/dose) contudo.

14. PERICARDITE: A pericardite é uma doença inflamatória do pericárdio, a membrana que envolve o
coração. A maioria das vezes a pericardite é parte dum quadro infeccioso mais complexo. (vide PA14 da
disciplina do sistema cardiovascular). Quadro clínico: O sintoma mais característico da pericardite é a
dor toráxica, especificamente pré-cordial ou retroesternal. A dor é de intensidade variável que piora
durante a inspiração, tosse ou movimento do tórax quando o paciente se coloca na posição supina. Esta
dor é aliviada quando o paciente se senta especialmente quando se inclina para frente. A dor pode irradiar
para o pescoço, dorso ou ombros. Palpitações. Dor abdominal. Sintomas associados incluem: Febre baixa
intermitente; Dificuldade em respirar; Tosse; Disfagia; Na pericardite tuberculosa, febre, suores noturnos
e perda de peso eram comumente observado (80%); Dificuldade nas mamadas, Défice de
desenvolvimento ponderal. TRATAMENTO: antibiótico parenteral (AMPICILINA (25-50 mg/kg, IM
ou EV, de 6/6 horas e GENTAMICINA (7,5 mg/kg, EV, uma vez por dia) e por instilação. O tratamento
antibiótico geral tem que ser feito durante 4 semanas. O tratamento também consiste na utilização não
esteróides anti-inflamatórios como o IBUPROFENO (20mg/kg/dia oral dividida 3-4 vezes ao dia)
durante um mínimo de um mês.

15. MIOCARDITE: A miocardite é uma doença inflamatória do miocárdio, músculo do coração. Pode
ser aguda ou crónica. Pode ser devida a infecção, doenças imuno-mediada ou toxinas. Quadro clínico:
Os sintomas da miocardite são muito variáveis sendo que a doença pode-se apresentar de forma aguda
com insuficiência cardíaca congestiva ou ter uma evolução crónica. As manifestações clínicas costumam
ser mais agudas e graves nos recém-nascidos e nas crianças menores. As crianças mais velhas apresentam
uma história de infecção respiratória ou gastroenterite nas 2-4 semanas anteriores ao desenvolvimento dos
sintomas da miocardite. Dor no peito. Palpitações. Dificuldade respiratória. Sinais de insuficiência
cardíaca (cansaço, vômitos, letargia, aumento da transpiração, respiração rápida, falta de respiração). A

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presença dum exantema é mais frequente na miocardite devida a infecções virais. Sintomas associadas:
Febre; Dificuldade nas mamadas; Défice de desenvolvimento ponderal; Mal-estar; Fraqueza, Perda de
apetite. CONDUTA: O uso da PREDNISOLONA é indicado somente nos casos de miocardite na
presença de febre reumática. PREDNISOLONA 2mg/kg/dia 2 vezes por dia durante 2 a 3 semanas
seguida por uma redução gradual de 5 mg/dia a cada 2-3 dias. O tratamento com a DIGOXINA tem que
ser feito com muita precaução e pelo médico visto que a margem entre a dose terapêutica e a dose tóxica é
muito estreita e a criança pode piorar em pouco tempo após a dministrção deste medicamento.

16. DIARREIA: presença de 3 ou mais evacuações de fezes sem formato por dia. Estas evacuações
determinam uma perda excessiva de água e electrólitos. Consoante a duração da diarreia define-se:
Aguda: menos de 14 dias; Persistente: duração entre 14 dias e 3 semanas (21 dias); Crónicas: diarreia
com duração maior de 3 semanas. Devida a diarreia a criança perde água e electrólitos, se a criança não
consegue ingerir (por causa de vómito ou porque não sendo dada a solução de rehidratação ou de diarreia
profusa como na cólera) a mesma quantidade de água que está a perder, a criança desenvolve
desidratação. Esta é a complicação mais severa da diarreia e pode levar a morte da criança. CONDUTA
DA DAIRREIA AGUDA: Reidratação oral: administração por meio de um copo, colher ou de uma
sonda nasogástrica, duma solução com a composição adequada para repor as perdas e manter o correcto
equilíbrio dos electrólitos. Reidratação intravenosa administração intravenosa de solução de
LACTATO DE RINGER ou SORO FISIOLÓGICO. Com desidratação leve ou moderada: Durante
as primeiras 4 horas a criança tem que receber SRO em quantidade de aproximadamente 75ml por kg.
Podem ser usadas as seguintes quantidade: <6 kg: 200-400 ml; 6-10 kg: 400-700 ml; 10-12 kg: 700-900
ml; 12-19 kg: 900-1400 ml. É importante mostrar à mãe como administrar a SRO, usando uma colher
(para crianças <2anos) ou copo e dando pequenas quantidades a cada 1-2 minutos. Crianças com vómito:
também devem ser tratadas com SRO. Após um episódio de vómito aguarda-se 10 minutos e depois
continua-se administrar a SRO mais lentamente (cada 3-4 minutos). Sem Desidratação: Crianças que
não recebem amamentação exclusiva devem receber: SRO; Líquidos nutritivos (como sopa, água de arroz
e bebidas com iogurte); Água potável; Para prevenir o desenvolvimento da desidratação a criança tem que
receber por cada evacuação de fezes diarreicas: <2 anos: 50-100 ml de líquido (meio copo); >2 anos:
100-200 ml de líquido (um copo). Tratamento domiciliar: Os pais devem receber os pacotes de SRO e
uma explicação clara de como prepará-lo. Não é somente a correcta diluição que tem que ser garantida
mas também a higiene durante a preparação da solução e deve-se explicar que a solução deve ser usada
dentro de um dia/24h após a preparação (o que sobrar será descartado). Reidratação Intravenosa (na
desidratação grave): A solução de primeira escolha para a reidratação intravenosa é o RINGER
LACTATO, mas se este não estiver disponível pode-se usar o SORO FISIOLÓGICO. O RINGER
LACTATO é preferido pois contém potássio, cálcio e lactato que não estão presentes no SORO
FISIOLÓGICO (este é NaCl 0.9%). Tratamentos medicamentoso da diarreia: Disenteria: o
tratamento de primeira escolha é COTRIMOXAZOL mais METRONIDAZOL;
COTRIMOXAZOL: Menos de 3kg: 8mg/kg/dia de trimetropim de 12 em 12 horas: 3-6 kg: 1/4
comprimido de 12/12 h, 6-10 kg: 1/2 comp. de 12/12 h, 10-30kg: 1 comp. de 12/12 h, >30: 2 comp de
12/12h. METRONIDAZOL, 7,5 mg/kg de 8/8 h durante 8-10 dias: 1-3 anos: 1/2 a 1 comp. 8/8 h, 4-7
anos: 1/2 a 1 comp. de 6/6 h, 8-10 anos: 1-2 comp. de 8/8 h. Em caso de a criança não ser capaz de tolerar
medicação oral, AMPICILINA EV pode ser usado (100mg/kg/dia dividido em 6/6h). Em caso de
resistência ao CTZ e de infecção de Shigella usa-se CIPROFLOXACINA: 20-30 mg/kg/dia oral
divididos em duas tomas para 5 dias. Giardíase: METRONIDAZOL durante 5-10 dias,15mg/kg/dia

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dividido em 3 tomas. Amebíase por Entamoeba histolítica: METRONIDAZOL 7,5 mg/kg de 8/8 h
durante 8-10 dias: 1-3 anos: 1/2 a 1 comp. 8/8 h, 4-7 anos: 1/2 a 1 comp. de 6/6 h, 8-10 anos: 1-2 comp.
de 8/8 h. Administração de micronutrientes: O Zinco é um dos micronutrientes absorvidos ao nível do
intestino delgado e essencial para o correcto desenvolvimento e crescimento das crianças. Portanto, todas
as crianças com diarreia devem receber suplementação com Zinco o mais cedo possível após o início da
diarreia: Lactente até os 6 meses: ½ comprimido por dia (10mg) durante 10-14 dias a ser dissolvida em
água potável, leite materno ou SRO. Crianças maiores de 6 meses: 1 comprimido por dia (20mg), durante
10-14 dias. DIARREIA CRÓNICA/PERSISTENTE: Tratamento da própria desidratação: algumas
crianças apresentam deficiência da absorção da glicose com diarreia osmótica quando se administra a
SRO (a criança apresenta evacuações diarreicas após ter recebido a SRO). Nestas crianças é necessária a
reidratação intravenosa para a resolução da desidratação. Administração de micronutrientes por 14 dias:
Zinco, Vitamina A, Folato, Ferro, Cobre, Magnésio. Crianças maiores de 2 anos (não em aleitamento):
oferecer refeições frequentes (6x por dia): iogurte, papa de milho, arroz com pouco óleo vegetal, feijão,
peixe, vegetais.

17. Explicação aos pais sobre o tratamento domiciliar para a gastroenterite: como se deve preparar
o SRO: Lavar bem as mãos com água e sabão; Ferver água pelo menos 10 minutos e deixar arrefecer
num recipiente tapado; Medir 1 litro de água, usando qualquer recipiente disponível, como um frasco,
jarra ou garrafa de 1 litro. É essencial que o recipiente esteja limpo, Esvaziar todo o pó de 1 pacote de
SRO, Mexer bem até que o pó se dissolva completamente; Manter sempre tapado o recipiente com o
SRO, Deitar a solução que tiver sobrado depois de um dia se não for usada; Peça a mãe para repetir o que
foi explicado e clarificar qualquer dúvida. Explique a mãe como administrar o SRO usando a colher ou
copo, consoante a idade e explique quanto administrar. Explique que o bebé deve continuar a ser
amamentado e que os outros líquidos e comida (ver mais acima os recomendados) podem ser dados à
criança. Explique à mãe quando deve voltar para a reavaliação da criança.

18. FEBRE ENTÉRICA OU TIFÓIDE: A febre tifóide é uma doença infecciosa potencialmente grave,
causada por uma bactéria, a Salmonella typhi. Caracteriza-se por febre prolongada, alterações do trânsito
intestinal, aumento de vísceras como o fígado e o baço e se não tratada, leva a confusão mental
progressiva, podendo levar ao óbito. Quadro Clínico: Período Prodrómico: Corresponde à primeira
semana de doença, manifestando um quadro febril de evolução progressiva, atingindo altas temperaturas
(39º e 40ºc) ao final deste período. Este quadro se acompanha de: Cefaleias; Mal-estar geral; Astenia;
Tosse seca; Anorexia; Mialgia; Prostração; Dor abdominal difusa- pode ser leve; Vómitos. Período de
Estado: Corresponde à segunda e terceira semanas de evolução. Neste período, ocorre intensificação da
sintomatologia anterior e as manifestações digestivas. Este quadro se acompanha de: O paciente
desenvolve um quadro de toxemia; Prostração, Desidratação; Planaltos de febre; Torpor (um estado de
inatividade física ou mental, letargia.); Estado tifóide, a qual é caracterizada por apatia, confusão, e por
vezes psicose; Olhar inexpressivo (olhar tífico); Obstipação intestinal alternada com diarreia líquida
esverdeada, Meteorismo (uma acumulação rápida de gás no intestino); Dor abdominal. Período de
Convalescença ou Declínio: Corresponde à quarta semana de evolução. O quadro febril tende a diminuir
progressivamente, bem como os demais sintomas, e o paciente entra na fase de recuperação clínica. É
importante lembrar que nem sempre a febre tifóide acontece na sua forma clássica ou com a evolução
esperada. Nas lactentes a doença pode ter uma evolução mais rápida em choque. O clínico deve suspeitar
a presença da febre tifóide se uma criança a presentar-se com: Febre elevada, mal-estar geral, anorexia,

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fraqueza mais um dos seguintes sintomas: Dores abdominais; Vómito; Obstipação seguida ou antecedida
por diarreia; Cefaleia, sonolência, letargia, desorientação/confusão; Tosse. Outras formas inespecíficas de
apresentação da doença são síndrome febril ictérica aguda e/ou síndrome febril hemorrágica aguda.
TRATAMENTO Medicamentoso: CLORANFENICOL 75 mg/kg/dia EV de 8/8 horas, durante 14 dias.
Em caso de repercussão sistémica significativa ou sinais sugestivos de meningite ou se não tiver resposta
após 48 horas de tratamento com o CLORANFENICOL adicionar a AMPICILINA (200 mg/kg/dia
EV 6/6 horas), até terminarem os 14 dias. No caso em que ocorre a resistência do S.typhi ao
CLORANFENICOL e a AMPICILINA administrar: CEFTRIAXONA EV (80-100 mg/kg/dia uma vez
por dia), durante sete dias. Se existir resistência múltipla há indicação para a administração da
CIPROFLOXACINA EV 4-7mg/kg/dose 12/12horas. Se anemia estiver presente, e dependendo da
gravidade, usar suplementos de Ferro e/ou transfusão de sangue. Em estados graves com septicemia
marcada com choque ou coma, pode-se usar corticosteróides: PREDNISOLONA ou
DEXAMETASONA. A PREDNISOLONA administra-se na dose de 0.5 a 2 mg/kg/dia. Ultrapassada a
emergência suspender a corticoterapia depois de 2-3 dias de uso. Lembrem que também se a crianças esta
recebendo o tratamento adequado a febre pode levar 5-7 dias para desaparecer, mesmo se os sinais gerais
mostrarem melhoria. Tratamento não medicamentoso: Manter o equilíbrio hidro-electrolítico: líquidos
orais (SAIS DE REHIDRATAÇÃO ORAL, água de coco, sumos) ou por via endovenosa nos estados
mais graves: LACTACTO DE RINGER ou SORO FISIOLÓGICO. Controlar a febre (arrefecimento
corporal, antipiréticos – PARACETAMOL.

19. DIARREIA CRÓNICA ASSOCIADA AO HIV: Em pacientes com HIV/SIDA, a diarreia é um


sintoma muito frequente e sua incidência difere de acordo com as condições socioeconómicas da região
estudada. Os sintomas mais frequentes da enteropatia por HIV são: Diarreia persistente ou recorrente, na
maioria dos casos aquosa; Dores abdominais; Falência de crescimento. A salmonella spp pode causar
infecção mais grave que em crianças seronegativas com bacteremia e pode se manifestar com um quadro
de toxemia semelhante ao determinado da Salmonella typhi, mesmo não sendo provocada pela própria
Salmonella typhi. A Campylobacter, Isospora belli e Microsporidia determinam diarreia aquosa
acompanhada de dores abdominias. Na Microsporidíase náusea e vómito são também frequentes. O
Cryptosporidium infecta o intestino delgado e o colon, a infecção é mais frequente em crianças menores
de 5 anos. Ambos, a Criptosporidíase e a Microsporidíase, podem-se complicar com colecistite (infecção
da vesícula biliar). A infecção por MAC pode complicar-se com peritonite. O CMV determina infecção
sistémica com envolvimento do intestino. O vírus pode causar lesões localizadas ou gerais (úlceras a
partir do esófago até o recto). O CMV causa diarreia com dores abdominais que pode ser acompanhada
por rectorragia e pode-se complicar com colecistite. TRATAMENTO Medicamentoso: O tratamento
baseia-se no tratamento da própria infecção do HIV (TARV), pois pode melhorar o estado imunitário
(subida dos CD4), reduzir a carga viral e reduzir os sintomas da diarreia. Em caso de infecções por:
Salmonella: CLORANFENICOL 50mg/kg/dia de 6/6 horas durante 7 dias. Isospora: CTZ 8/kg/dia de
TMP, de 12/12h, durante 7 dias: Comprimidos de 400 mg de Sulfametoxazol (SMX) e 80mg de
Trimetoprim (TMP): 2-5 meses: 1/4 comp. de 12/12 h; 6 meses 5 anos: 1/2 comp. de 12/12 h; 6-12 anos:
1 comp. de 12/12 h. Suspensão 200 mg SMX e 40 mg TMP/5 mL; 2-5 meses: 2,5 mL de 12/12h; 6
meses-5 anos: 5 mL de 12/12 h, 6-12 anos: 10mL de 12/12 h; Microsporidia: ALBENDAZOL. Por
causa de diarreia não de causa antibiótica faz-se : < 10 anos 200mg de 12 / 12 durante 4 semanas ou até
que o CD4 aumente até 200/mm3; ≥ 10 anos 400mg de 12/12 durante 4 semanas ou até que o CD4
aumente até 200/mm3. CMV: GANCICLOVIR 5 mg/kg/dose EV de 12/12 horas por 3-6 semanas.

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20. DIARREIA ASSOCIADA A ANTIBIÓTICOS: O intestino normalmente contém bactérias


(denominados flora microbiana normal) que não causam lesões mas, ao contrário, são úteis para a
manutenção normal da mucosa. Estas bactérias ajudam na absorção de alguns micronutrientes e impedem
o desenvolvimento de bactérias patogénicas. Assim enquanto a flora micróbica for mantida, age como
uma defesa do intestino e estas bactérias podem ser encontrados normalmente nas fezes. No estômago e
no intestino delgado a presença da flora microbiana normal é limitada devido ao ácido gástrico e à
motilidade do intestino delgado. Quadro clínico: Os antibióticos usados em pediatria e que com mais
frequência alteram a flora microbiana são Amoxicilina, os Cefalosporinas, Clindamicina e
Cloranfenicol. Na maioria dos casos trata-se de diarreia aquosa, leve ou moderada que se desenvolve
durante ou após o tratamento com antibióticos, e autolimita-se. Colite por C. dificile: Em alguns casos
desenvolve-se a bactéria Clostridium dificile que causa uma inflamação do intestino grosso (colite) devida
a produção duma toxina chamada Enterotoxina. CONDUTA: No caso de colite com diarreia, febre
elevada e mal-estar geral: O antibiótico de primeira escolha é o METRONIDAZOL: 7,5mg/kg três
vezes por dia, durante 7 dias.

HELMINTÍASES INTESTINAIS

21. Enterobius vermicularis: ENTEROBÍASE: Trata-se da helmintiase muito comum entre crianças em
todos os países, e atingem um comprimento máximo de 15mm. A transmissão ocorre por via oro-fecal
através da ingestão de água ou alimentos contaminados. O ser humano é o único hospedeiro deste
helminta e a infecção é limitada ao sistema gastrointestinal. Quadro Clínico: O sintoma principal é o
prurido perianal nocturno provocado pela migração da larva fêmea para a deposição dos ovos. Crianças
podem apresentar ocasionalmente também náusea, vómito, dores abdominais. A dor abdominal pode às
vezes ser grave e pode imitar apendicite aguda. TRATAMENTO Medicamentoso: Primeira escolha:
MEBENDAZOL: < 20kg: 50mg (1/2comprimido) de 12/12 horas por 3 dias; > 20kg: 100mg (um
comprimido) de 12/12 horas por 3 dias ou um comprimido de 500mg em dose única. Segunda escolha:
ALBENDAZOL : < 2 anos 200 mg (1/2 comprimido) ou 5ml (suspensão de 400mg/10ml) dose única;
>2 anos 400 mg (1 comprimido) ou 5ml (suspensão de 400mg/10ml) dose única. Importante a limpeza e
a higiene geral, lavar as roupas da criança com água quente e cortar as suas unhas para os ovos não se
fixem nelas.

22. Trichuris trichiura: TRICURÍASE: O T.trichiura é um helminta de transmissão oro-fecal que uma
vez os ovos são ingeridos com água e alimentos contaminados vai se localizar no intestino. Assim como
no caso do E. vermicularis o ser humano é o único hospedeiro deste helminta e a infecção é limitada ao
sistema gastrointestinal. Como para os outros helmintas a infestação é mais frequente nas crianças.
Quadro Clínico: A infecção é assintomática na maioria dos casos. Ocorrem sintomas somente em
pessoas com elevada carga de helminta, as maiorias dos quais são crianças pequenas. Os sintomas que
estes apresentam são: Prolapso rectal; Falência de crescimento; Diarreia; Anemia crónica; Leve distensão
abdominal. TRATAMENTO: o tratamento é o mesmo que no caso do E.vermicularis e baseia-se em
MEBENDAZOL e ALBENDAZOL.

23. Áscaris lumbricoides (LOMBRIGAS)  ASCARIDÍASE: Este helminta causa a Ascaridíase, a


doença por helminta mais comum no mundo, sendo que acomete cerca 1,5 bilhões de pessoas, a maioria
dos quais não apresentam sintomas. A Áscaris lumbricoides, na forma adulta, atinge o comprimento de
cerca de 30 cm. O hospedeiro definitivo do A.lumbricoides é o ser humano contudo, o parasita pode,

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raramente, ser encontrada em outros mamíferos (porco, cães, gorila, símia, gatos, cordeiro, coelho, ratos).
A transmissão ocorre por meio de ingestão de água ou alimento contaminados. A diferença dos helmintos
anteriormente apresentados a A.lumbricóides passa por um ciclo vital mais complexo com uma fase
extra-intestinal, o que explica a presença de sintomas não somente no aparelho gastrointestinal mas
também no aparelho respiratório, renal, ao nível vaginal, nos gânglios e no cérebro. Quadro Clínico:
Anamnese: Febre; Tosse seca; Falta de ar (dispneia); Passagem de lombrigas (de boca, narinas, ânus);
Difusa ou epigástrica dor abdominal; Náuseas, vómitos; "Garganta Formigueiro". TRATAMENTO
Medicamentoso: Primeira escolha: MEBENDAZOL: <20kg: 50mg (1/2comprimido) de 12/12 horas
por 3 dias; > 20kg: 100mg (um comprimido) de 12/12 horas por 3 dias ou um comprimido de 500mg em
dose única. Segunda: ALBENDAZOL: <2 anos 200 mg (1/2 comprimido) ou 5ml (suspensão de
400mg/10ml) dose única; >2 anos 400 mg (1 comprimido) ou 5ml (suspensão de 400mg/10ml) dose
única. Importante a limpeza e a higiene geral, lavar as roupas da criança com água quente e cortar as suas
unhas para os ovos não se fixem nelas.

24. Ancilostoma duodenal (HOOKWORM)  ANCILOSTOMIASE: Segundo a OMS mais de 740


milhões de pessoas são infectadas pelo Ancilóstoma duodenal, a maioria das quais é assintomática. A
maioria destas pessoas são crianças e vivem nos países tropicais ou subtropicais. Os ovos e larvas do
parasita estão no solo, e a infestação é devida a penetração das larvas através da pele. A seguir, as larvas
são transportadas pelos capilares até aos pulmões e daqui vão até ao intestino. O Ancilostoma duodenal
pode sobreviver até 5 anos no intestino do hospedeiro. Quadro Clínico: A manifestação clínica mais
grave e mais comúm que estes parasitas determinam é anemia por deficiência de ferro. A infestação em
crianças é muito comúm e provavelmente a presença do helminta é subestimada. A anemia desenvolve-se
lentamente e pode chegar a valores muito baixo de hemoglobina se não for tratada. Perante uma criança
com anemia e sem história de febre deve-se sempre pensar nesta helmintiase. A infestação não provoca
diarreia ou outros sintomas, assim a criança pode chegar a Unidade Sanitária (SU) por presença de outros
sintomas, as mucosas podem estar pálidas. Às vezes logo após a infestação a criança pode apresentar:
Uma lesão pruriginosa no pé, (no local onde o parasita penetrou através a pele), porém na maioria dos
casos, esta lesão não seja evidente ou não é apresentada pela criança (a criança não se queixa). Sintomas
devidos a presença do parasita nos pulmões: febre leve com ligeira tosse. CONDUTA: o tratamento é o
mesmo que nos casos anteriores: MEBENDAZOL ou ALBENDAZOL.

25. Strongyloides stercoralis  ESTRONGILOIDÍASE: Também a infestação por S. stercoralis é mais


comum em crianças. Esta infecção é também mais frequente e mais severa em pessoas com
imunodepressão qualquer que seja a causa desta (desnutrição, tratamento com corticosteróides, infecção
pelo HIV, tumores). O hospedeiro definitivo é o ser humano mas, ao contrário das outras helmintiases o
S. stercoralis pode ter o ciclo completo e se reproduzir também fora do ser humano. Outros hospedeiros
são cães, gatos e outros mamíferos. Quadro Clínico: Anamnese: Os sintomas apresentados dependem
do estado imunológico. A maioria das pessoas é assintomática. Os sintomas mais comuns manifestam-se
ao nível de aparelho gastrointestinal e pulmões na infestação aguda e ao nível da pele na crónica.
Sintomas mais comuns ao nível do aparelho gastrointestinal: Na doença aguda: diarreia aquosa
acompanhada de dores abdominais e urticária que se alterna com períodos de obstipação. Na doença
crónica: os sintomas são vagos, recorrentes ou persistentes e incluem: Dores abdominais leves-
moderados e distensão abdominal; Anorexia; Náusea com ou sem vómito; Diarreia crónica moderada;
Obstipação; Prurido anal. CONDUTA: Primeira escolha: ALBENDAZOL: <2 anos 200 mg (1/2
comprimido), ou 5ml (suspensão de 400mg/10ml) dose única; >2 anos 400 mg (1 comprimido) ou 10ml

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(suspensão de 400mg/10ml) dose unica. Segunda escolha: IVERMECTINA 200microg/kg/dia (1mg


cada 5 kg de peso) durante 2 dias.

26. TÉNIA (CESTODE): Há muitas espécies diferentes de Ténia mas somente duas destas podem
infectar o ser humano: a Ténia solium e a Ténia saginata, causando a doença denominada Teníase. A
infestação por Ténia é endémica em África, no Sudoeste da Ásia, na América central e do sul, envolvendo
acerca de 50 milhões de pessoas. O ser humano é o hospedeiro definitivo da Ténia enquanto o hospedeiro
intermédio é o porco para Tenia solium e a vaca para Tenia saginata. A transmissão acontece por ingestão
de carne de porco ou vaca mal cozida contaminada com larvas. A infestação pode ser assintomática ou
quase e frequentemente não é reconhecida nas crianças. A complicação mais grave da ingestão da
T.solium é a disseminação das larvas ao nível extra-intestinal determinando a cisticercose (a T. Saginata
nao determina uma doença por cisticercos no ser humano). Todos os órgãos podem estar envolvidos,
sendo que o cérebro é envolvido em cerca de 60% dos casos. Quadro Clínico: Anamnese: A maioria das
pessoas infestadas são assintomáticas ou queixam-se de sintomas como dor abdominal, diarreia ligeira/
moderada devidos à passagem dos proglótides ao nível intestinal. Lactentes são infectados raramente
(devido a forma de transmissão) mas quando acontece são sintomáticos e apresentam náuseas, vómitos,
diarreia e perda de peso. Nas crianças é mais frequente a alteração do apetite que pode estar aumentada ou
reduzida. Outros sintomas que podem estar presentes são: Cólicas abdominais; Náusea; Obstipação ou
diarreia; Prurido anal; Irritabilidade; Convulsões; Cefaleia; Tal como em outras helmintiases a Ténia
também pode causar obstrução do próprio intestino, apendicite e obstrução do ductos biliares.
CONDUTA: O tratamento farmacológico de primeira escolha em caso de teníase intestinal é o
ALBENDAZOL: 400mg por dia durante três dias. Como segunda escolha usa-se o PRAZIQUANTEL
10mg por kg em dose única (os comprimidos são de 600mg). Na cistercose (tratada no hospital) utiliza-se
o PRAZIQUANTEL 50mg/kg/dia dividido em 3 doses, durante 14 dias ou ALBENDAZOLE 15
mg/kg/dia divididos em 3 tomas durante 1 mês. No início do tratamento administra-se
PREDNISOLONA 1mg/kg de 12/12h, ao fim de limitar a reacção inflamatória que poderia dar edema
cerebral.

27. SCHISTOSSOMIASE INTESTINAL: A Schistossomiase pode ser causada por diferentes formas
do mesmo parasita o Schistossoma. Os mais frequentes são o S.haematobium que tem como primeira
localização o aparelho urinário (a ser abordado na aula 84) e os S.japonicum e o S.mansoni que tem
preferência de localização intestinal e hepática. Estima-se que o Schistossoma infecta acerca de 200
milhões de pessoas no mundo sendo endémico em África, América central e do sul, Ásia oriental.
Moçambique é um dos países mais afectados entre os africanos. Nem todas as formas de Schistossoma
têm a mesma distribuição, por exemplo o S.japonicum existe somente em algumas áreas da Ásia. As
manifestações clínicas ocorrem na maioria dos casos entre os 10-20 anos. Quadro Clínico: Anamnese:
A maioria das pessoas infestadas é assintomática ou apresentam sintomas leves. Cerca de 10% das
pessoas infestadas apresentam manifestações clínicas graves, estas estão associadas a elevada carga de
parasitas. Alguns casos de infestação por S.mansoni apresentam sintomas após algumas semanas da
infecção (infecção aguda): febre elevada, tosse, dores abdominais e diarreia a vezes com forma
disentérica. O conjunto dos sintomas chama-se febre de Katayama. Também apresenta se com perda de
peso e erupção cutânea pruriginosa. Pacientes com Schistosomiase urinária tem disúria e terminal
hematúria. Os sintomas de infecção crónica são mais frequentes que os agudos. São determinados por
reacção inflamatória aos ovos com desenvolvimento de granulomas. Os granulomas ao nível do fígado
provocam obstrução da circulação com desenvolvimento de hipertensão portal. A formaçao de

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granulomas a nivel da parede intestinal determina tenesmo, episodios diarroeicas ou disentericas, sub-
occlusao intestinal e fistulas. CONDUTA: Administração de PRAZIQUANTEL 40mg/kg em dose
única (os comprimidos são de 600mg).

INFECÇÕES POR PROTOZOÁRIOS

28. Entamoeba histolítica: AMEBÍASE: Estima-se que cerca de 10% da população mundial esteja
infectada por Entamoeba histolítica. A prevalência mais elevada encontra-se nos países em vias de
desenvolvimento sendo que a infecção transmite-se por via oro-fecal, portanto as limitações em
saneamento e água potável facilitam a sua transmissão. Quadro Clínico: Anamnese: O espectro clínico
da amebíase varia desde infecção assintomática a colite fulminante e peritonite para amebíase extra-
intestinal, que é mais comumente um abscesso hepático amebiano. Infestação intestinal: Não invasiva:
assintomática ou com sintomas leves; Invasiva (mais comum em adulto do que na criança) apresenta se
com: Do colon Colite Disenteria: não comum em crianças <5 anos; A diarréia é o sintoma mais
comum (diarréia aquosa ou com sangue); Dor abdominal, e perda de peso; Febre é observada em 10% dos
pacientes; Amebíase intestinal pode simular apendicite aguda; Colite amebiana fulminante: é uma
complicação rara da disenteria amebiana (<0,5%). Apresenta-se com um rápido início de diarréia
sanguinolenta intensa, dor abdominal grave e febre alta. Crianças menores de 2 anos estão em maior
risco. A perfuração intestinal é comum. Mortalidade> 40%; Colite crónica: episódios recorrentes de
diarréia sanguinolenta e desconforto abdominal vago; Ameboma: uma forma menos comum de doença
intestinal que resulta da formação de granulação colonic anelar, em resposta à infecção amebae,
resultando em uma grande lesão local do intestino. Apresenta-se como uma massa abdominal no
quadrante inferior direito, o que pode ser confundido com carcinoma, tuberculose, doença de Crohn ou
linfoma. Pode determinar invaginação intestinal ou estenose. Do recto Ulcerações perianais; Apresenta
como lesões dolorosas ao redor do ânus. Infestação extra- intestinal: Abcesso hepático: mais comum em
adolescentes e em adultos; Apresenta-se com febre e uma constante, maçante, dor abdominal (na regão
superior direito ou epigástrio). Envolvimento da superfície diafragmática do fígado pode levar a do lado
direito dor pleurítica ou dor referida no ombro. Sintomas gastrointestinais associados incluem náuseas,
vómitos, distensão abdominal, diarréia e obstipação. Esta forma não é comum em crianças abaixo de 10
anos. Uma complicação do abcesso é a sua ruptura com disseminação da ameba à pleura direita (pleurite),
no peritoneu (peritonite), ao pericárdio (pericardite). São todas complicações raras e presentes quase
somente em adultos. Pericardite amebiana é rara, mas é a complicação mais grave. É geralmente causada
por uma ruptura do abscesso hepático do lobo esquerdo. Apresenta-se com dor no peito e as
características de insuficiência cardíaca congestiva. Amebíase pleuropulmonar: se apresenta com tosse,
dor pleurítica e dispneia. Peritonite Amebiana é geralmente secundária a um abscesso hepático roto. Os
pacientes apresentam febre e distensão abdominal rígida. Amebíase cerebral tem um início abrupto e
evolução rápida ao óbito em 12-72 horas. O paciente apresenta alteração da consciência e sinais
neurológicos focais. CONDUTA: A amebíase intestinal ou extra-intestinal trata-se com
METRONIDAZOL 35mg/kg/dia de 8/8horas por 10 dias. Se não for possivel calcular com base no peso
podemos usar as indicações abaixo de acordo com a idade da criança. Com comprimidos de 250mg: 1-
3anos: ½ comp 8/8 horas; 4-7 anos: de ½ comp até 1 comp 8/8horas; 8- 10 anos: de 1 comp até 2 comp
8/8horas; >11 anos: como adulto 12mg/kg de 8/8 horas: 3 comp 8/8 horas, por 10 dias. O abcesso
hepático responde ao tratamento com METRONIDAZOL, porém se for de grandes dimensões precisa
referir a criança a um nivel superior parao tratamento médico a punção aspirativa de pús presente no
abcesso (com guia ecográfica se possível).

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29. Giardia lamblia: GIARDÍASE: A giardia lamblia é um protozoário responsável pela maioria de
infestações intestinais provocadas por protozoários em todo o mundo. A prevalência varia entre 5% nos
países com o clima temperado e até 40% nos países tropicais. A infestação é rara em crianças abaixo de 6
meses de idade e a prevalência é maior em crianças de idade entre 1-5 anos (onde pode estar cerca de
20% nos países tropicais), seguida de criança 6-10 anos, a prevalência reduz-se após os 10 anos. A
Giardia pode determinar infestações assintomáticas, infestações intestinais com sintomas leves ou
moderados que autolimitam-se em poucos dias ou diarreia crónica com má absorção e evolução para a
desnutrição. A presença de imunodepressão e de desnutrição são factores de risco para o desenvolvimento
da infestação sintomática. Quadro Clínico: A adesão dos trofozoítos à mucosa intestinal determina:
Alteração da permeabilidade causa a diarreia aquosa; Redução da actividade das enzimas digestivas,
resulta em mal absorção; Lesões das vilosidades intestinais, resulta em mal absorção. Anamnese: Os
sintomas típicos são: Sintomas agudos: diarreia aquosa e/ou fezes com mau cheiro associada à distensão
abdominal, cólicas abdominais, náusea e flatulência. Vómito e febre são infrequentes. Sintomas
crónicos: diarreia crónica (mais de 14 dias), mal-estar, fraqueza, anorexia, dores abdominais moderado,
náusea, perda de peso. A giardíase apresenta-se em crianças como diarreia crónica com falência de
crescimento. CONDUTA: A giardíase trata-se com METRONIDAZOL 15mg/kg/dia dividido em 8/8
horas por 10 dias. Como alternativa pode-se administrar em doses divididas durante 3 dias: nas crianças
de 1-3 anos, 500 mg/dia; nas crianças de 4-7 anos, 500-750 mg/dia; em crianças de 8-10 anos,
1000mg/dia.

30. INVAGINAÇÃO INTESTINAL: Invaginação intestinal (ou intussuscepção) é uma forma de


obstrução intestinal causada da invaginação dum segmento do intestino sobre o outro segmento localizado
mais distalmente, causando a compressão vascular da alça invaginada e obstrução intestinal. Quadro
clínico: Anamnese: No início a criança apresenta: Crises de dores abdominais: a criança tem crises de
cólicas, chora e dobra o corpo e flexiona as pernas junto ao corpo durante o ataque da dor severa com
duração de 15-30 minutos. Entre as crises a criança está relaxada e sem dor. Vómitos. Os pais relatam que
a criança tem tido evacuação de fezes que são parecidas com geleia (“fezes tipo geleia vermelha ”) ou
fezes com sangue e bastante muco. Tardiamente a criança evolui apresentando letargia, distensão
abdominal, e pode ter desidratação e palidez e dor abdominal constante. TRATAMENTO: Sonda
nasogástrica (insirir antes de transferir); Manutenção da hidratação (enquanto se transfere); Antipiréticos
(por causa da febre): PARACETAMOL 10mg-15mg/kg/dose; Antibiótico se isquemia do intestino é
suspeito e cirurgia necessária: AMPICILINA (25-50 mg/kg, IM ou EV, de 6/6 horas); GENTAMICINA
(7,5 mg/kg, I ou EV, uma vez por dia), METRONIDAZOL (7,5 mg/kg, de 8-8 horas).

31. ESTENOSE PILÓRICA: A estenose hipertrófica do piloro é uma condição clínica que cursa com
vómitos persitentes nos primeiros meses de vida. Quadro clínico: Anamnese: O sintoma principal é o
vómito em jacto (forçados, o vómito é projectado, não cai para o lado da boca) e não-biliosos. O vómito
ocorre entre uma hora após a ingestão do leite e a seguir o bebé está novamente com fome. Um bebé que
chega logo após os primeiros episódios é reactivo, esfomeado e ainda não tem sinais de desidratação. Se
não se intervir o lactente contínua apresentando vómito após cada alimentação e desenvolve desidratação
e falência de crescimento. CONDUTA: Iniciar a hidratação intravenosa do bebé: corrigir a desidratação
se estiver presente como indicado na aula 85 desta disciplina. Continuar com o líquido de manutenção
(metade da quantidade sendo SORO FISIOLÓGICO e metade DEXTROSE 5%). Considere que um
bebé deve receber as seguintes quantidades: Peso até 10kg:100ml/kg por dia (bebé de 6 kg: 6 x 100ml =

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600ml por dia  600ml / 24 horas = 25ml por hora  25ml / 60min = 0,4ml por minuto  Lembre-se de
que 1ml são 20 gotas  Gotas por minuto = 0,4 x 20 = 8 gotas por minuto). Peso até 20kg: 100ml para
os primeiros 10kg + 50ml/kg para os kg seguintes (criança de 14kg = (100ml x10kg) + (50ml x 4kg) =
1200 ml por dia. Se a criança apresentar letargia, febre: AMPICILLINA 50mg/kg, de 6/6 horas, EV.

32. APENDICITE: Define-se apendicite a inflamação do apêndice presente ao nível do ceco (primeira
parte do colon). A inflamação é causada pela obstrução da luz do próprio apêndice, que pode ser
determinada pela presença de fecalitos, hiperplasia linfóide ou parasitas gastrintestinais. Quadro clínico:
A obstrução do apêndice produz o acúmulo de secreções na luz deste devido a inflamação, e o aumento
das bactérias nelas contidas. Isso determina a pressão nos vasos da mucosa intestinal com redução da
circulação ao nível do próprio apêndice. Se a inflamação continuar esta leva a ruptura do apêndice com
saída dos líquidos para a cavidade peritoneal e desenvolvimento da peritonite. Anamnese: A
apresentação clínica da apendicite é gradual, a dor torna-se mais localizada e mais severa com passar do
tempo a náusea torna-se em vómito. No início a criança pode se apresentar com dor periumbilical e
náusea. A seguir a dor localiza-se mais claramente ao nível do apêndice no quadrante inferior direito, é
mais severa e acompanhado por vómito e febre ligeira. É importante avaliar o início lento da doença.
Pode ser que a criança seja levada a observação na Unidade Sanitária quando a situação estiver num
estado avançado, mesmo assim os pais ou a própria criança pode descrever a evolução e a mudança da
dor. A evolução da doença ocorre em 24-48 horas. Em caso de perfuração do apêndice a dor se acalma
por um período breve para a seguir tornar-se geral ao nível do abdómen, severa, a febre aumenta e o
estado geral da criança piora. Diarreia pode estar presente mas não é comum, nas fases avançadas a
criança pode apresentar evacuação frequente de poucas fezes, devida a reacção a inflamação.
CONDUTA: Hidratação intravenosa: calcule o necessário assim como o apresentado anteriormente
nesta aula: Peso até 10kg: 100ml/kg por dia; Peso até 20kg: 100ml por os primeiros 10kg + 50ml/kg para
os kg seguintes, Peso> 20 kg: 1500ml + 25 ml/kg para cada kg adicional à 20. (Criança de 26 kg =
1500ml + (6 x 25) = 1650ml por dia). Antibióticos: AMPICILINA (50mg/kg de 6/6 horas, IM ou EV) +
GENTAMICINA (7,5mg/kg, IM, de 24 em 24 horas) + Metronidazol (7,5 mg/kg, de 8/8 horas, EV).

33. HEMORRÓIDAS: Hemorróidas são dilatações e prolapso de veias presentes no canal anal. Podem
ser internas ou externas segundo a sua originam, se acima ou abaixo da linha dentada. A maioria dos
sintomas aparecem por causa das hemorróidas internas ampliadas. Quadro Clínico: as manifestações
dependem se a hemorróida é interna ou externa. As internas causam sangramento à passagem das fezes.
Normalmente não causam dor a não ser o prolapso esteja abaixo da linha dentada. As externas causam dor
durante a evacuação e prurido durante e depois. Consoante a presença e gravidade do prolapso existem 4
graus de hemorróidas internas: Hemorróidas internas sem prolapso. Prolapso das hemorróidas interna
durante a evacuação seguida de redução espontânea. Prolapso das hemorróidas internas durante a
evacuação que precisam de redução manual. Hemorróidas internas com prolapso não reduzível.
TRATAMENTO tópico para reduzir a dor e a inflamação: creme anti-hemorroidário, aplicado 2 vezes
por dia para o caso de hemorróidas externas e em supositório no caso de hemorróidas internas. Uso de
laxantes orais para amolecer as fezes e facilitar o trânsito: PARAFINA LÍQUIDA (10-30ml à noite);
BISACODIL: 1 comprimido de 5 mg à noite, usar nas crianças> 4 anos. Mudança dos hábitos
alimentares com aumento de fibras e água.

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34. OBSTIPAÇÃO: Obstipação é definida como dificuldade ou atraso na evacuação por mais de 2
semanas. Sendo que não existe uma regra comum sobre a frequência das evacuações a definição é um
pouco geral. Consoante uma definição a criança teria que evacuar pelo menos 3 vezes por semana, porém
há crianças que evacuam 2 vezes por semana sem ter dores ou ficarem perturbados com isso. Em geral na
avaliação da obstipação é importante avaliar a frequência das evacuações, a consistência das fezes e a
associação destas com dores, náuseas e outros sintomas. Quadro Clínico: a anamnese é na maioria dos
casos suficiente para o diagnóstico. Os pais podem também referir que a criança tem obstipação mas ao
mesmo tempo costumam a sujar a roupa sobretudo a interior (cuecas/calcinhas) com fezes. Isso é devido a
presença de encoprese (ver ponto 4.2) ou que as fezes contêm sangue vermelho. CONDUTA: o manejo
da obstipação baseia-se nos passos seguintes: Tratamento das eventuais fissuras ou hemorróidas
presentes; Tratamento com amolecedor das fezes: como já ilustrado estão indicados o uso dos agentes
amolecedores. Sendo que a duração do tratamento pode ser de semanas os mais indicados são:
PARAFINA LÍQUIDA: 10-30ml à noite; LACTULOSE duas vezes por dia: 2,5 ml nas crianças<1 ano;
5 ml para crianças 1-5 anos; 10 ml para crianças 6-12 anos; 15-30 ml >12 anos.

35. GLOMERULOPATIAS E GLOMERULONEFRITE AGUDA POS-ESTREPTOCOCICA: A


glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica é uma doença glomerular que acontece usualmente 1-2
semanas depois de uma infecção da orofaringe ou 3-6 semanas apos uma piodermite por estreptococo
beta hemolítico de Grupo A. Representa a forma mais comum de glomerulonefrite pós-infecciosa.
Manifesta-se na maioria dos casos com uma síndrome nefrítica aguda caracterizada por hematúria
macroscópica, edema, hipertensão e oligúria. Quadro Clínico: Os pais podem relatar a presença da
amigdalite nas duas semanas anteriores ou de uma infecção na pele nas 3-6 semanas anteriores. Em 90 %
dos casos a criança desenvolve uma síndrome nefrítica aguda: Hematúria macroscópica; Oligúria (saída
de urina inferior à 1mL / kg / h em crianças) com insuficiência renal transitória nos 50 % dos casos;
Edema: na maioria das vezes é limitada a região orbital na face e nos pés e as vezes difícil de ser notado
por um clínico que observa a criança pela primeira vez. É importante confiar nos pais quando eles relatam
terem notado uma diferença na face da criança. Só em cerca de 5-10% dos casos que o edema é geral;
Hipertensão arterial; O grão de edema, hipertensão, oligúria esta relacionado à gravidade do
envolvimento renal; No 10-20 % dos casos pode estar presente a síndrome nefrótica; Ocasionalmente
apresenta-se com hematúria microscópica assintomática; Sintomas gerais como mal-estar, dores
abdominais e/ou dor na região lombar são comuns. CONDUTA: FUROSEMIDA 1-3mg/kg
preferivelmente E.V., até 4 vezes por dia se houver oligúria ou hipertensão. Neste caso, deve-se diluir a
FUROSEMIDA com cloreto de sódio 0.9 % de modo de obter uma concentração de 1-2 mg/mL. Casos
graves podem precisar de doses ainda maiores até 5mg/kg até 4 vezes por dia; Antibioticoterapia para
erradicação da infeção estreptocócica: PENICILINA V 50mg/kg/dia em 4 tomas por 10 dias ou
PENICILINA BENZATINICA 600.000 UI (<30Kg) ou 1.200.000 ( >30Kg) dose única. Em caso de
alergia: ERITROMICINA 50mg/kg/dia em 4 tomas por 10dias.

36. SCHISTOSOMÍASE URINÁRIA: A Schistossomíase urinária é causada pelo S.haematobium,


parasita endémico em 53 países do mundo, com elevada prevalência e incidência particularmente em
Regiões tropicais ou Regiões subtropicais no Médio Oriente e em África. Quadro clínico: Os sintomas
da esquistossomose são causados por reações do corpo a ovos dos vermes, e não pelos próprios vermes
As manifestações clínicas ocorrem mais frequentemente na segunda década da vida. As crianças
apresentam sintomas de infecção aguda (os sintomas de infecção crónica evidenciam-se nos adultos):

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Disúria; Hematúria: muitas vezes terminal, no início há micro-hematúria que a seguir evolui em macro-
hematúria por causa das ulcerações; Dor na região suprapúbico. A schistosomíase pode causar, atraso de
crescimento, anemia e uma reduzida capacidade de aprender, embora os efeitos sejam geralmente
reversíveis com tratamento. O S.haematobium raramente pode também colonizar o útero, as trombas e a
vagina. Complicações possíveis são infecções urinárias bacterianas recorrentes, anemia, atraso do
desenvolvimento sexual nas meninas, na vida adulta podem levar a infertilidade, gravidez ectópica e
fístula vesico-vaginal. CONDUTA: Administração de PRAZIQUANTEL 40mg/kg em dose única (os
comprimidos são de 600mg).

37. SÍNDROME NEFRÓTICA: A síndrome nefrótica é caracterizada pela tríade proteinúria (3+ ou 4+),
hipoalbuminémia, edema; a hiperlipidémia (em particular a hipercolesterolémia) è frequente. O edema
representa o sinal que mostra que pode se estar perante uma Síndrome nefrótica. Quadro clínico:
Anamnese: O sintoma característico é o edema, este é inicialmente moderado, na face nos membros
inferiores mas que piora ao evoluir da doença com desenvolvimento de ascite, edema visível, no escroto
nos rapazes e nos casos mais severos desenvolvimento de anasarca com derrame pleural e/ou pericárdico;
Outros sintomas usualmente presentes são: anorexia, diarreia, dores abdominais; Sempre deve-se
perguntar se as crianças tiveram anteriormente sintomas parecidos pois a doença pode ser reincidente. Foi
referido que a síndrome nefrótica pode ser secundária a infecções portanto deve-se explorar se a criança
teve malária recentemente, hepatites (podem ter tido também hepatites leves - moderadas e não
diagnosticadas, portanto perguntar sobre a presença de icterícia) ou outras infecções. Também deve-se
descartar a infecção pelo HIV. CONDUTA: O tratamento é determinado pelo médico e inclui:
Tratamento de suporte: Restrição de líquidos, Dieta hiposódica e normoproteíca (e.g.: consumo de ovo
cozido). Diuréticos: FUROSEMIDA oral 1-2 mg/kg 1-3 vezes por dia. Em caso de edema extenso e
incluem ascite e/ou derrame pleural dar transfusão de plasma 15-20 ml/kg seguida de 3-5 mg de
FUROSEMIDA ao fim da transfusão. Esta terapia pode ser repetida por 3-4 dias seguidos. Tratamento
com esteroides na forma primária: a PREDNISOLONA (2mg/kg/dia) é administrada todos os dias
durante 4-6 semanas, em dias alternados nas 4 semanas sucessivas e a dosagem é lentamente reduzida nas
4-8 semanas a seguir até acabar. Na presença de recaídas a criança volta a fazer o tratamento com
PREDNISOLONA.

38. INFECÇÕES DO APARELHO URINÁRIO: As infecções do aparelho urinário se distinguem em


infecções urinárias superiores, ou pielonefrites, que envolvem os rins e ureteres e infecções urinárias
inferiores: cistite e uretrite. As manifestações clínicas são diferentes dependendo da localização da
infecção. Podemos diferenciar 3 formas principais: Bacteriúria assintomática: é mais comum nas
meninas e é diagnosticado laboratórialmente: Na análise da urina encontram-se GB, Nitritos e a
Urocultura é positiva mesmo que a criança não apresente os sintomas. Por isso esta situação não é mais
diagnosticada em países em vias de desenvolvimento a não ser que a criança faça uma análise da urina
por outra razão. Cistite: os sinais e sintomas são: Disúria; Sensação de urgência a urinar juntamente com
frequência para urinar aumentada; Mau cheiro da urina; Dor na região suprapúbica pode estar presente;
Geralmente não há febre e o estado geral da criança é bom. Pielonefrite: os sinais e sintomas são: Febre
que pode ser elevada; Mal-estar; Náusea, vómito; Pode estar presente a dor abdominal, ou na região
lombar; Lactentes podem apresentar anorexia, falência de crescimento ou perda de peso e irritabilidade;
Crianças com pielonefrite podem apresentar o sinal de Murphy renal (percussão lombar) positivo.
CONDUTA: Infecções do tracto urinário inferior: COTRIMOXAZOL: administra-se nas crianças: >2

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FARMACOTERAPIA (Conceito de patologias, sinais, sintomas e tratamento medicamentoso)

meses, Dosagem: 20 mg/kg de SMX de 12/12 h por 5 dias. 2-5 meses: 1/4 comp, de 12/12 h. 6 meses-5
anos: 1/2 comp, de 12/12 h. 6-12 anos: 1 comp, de 12/12 h. OU AMOXICILINA: 50 mg/kg/dia, de 8
em 8 horas, por 5 dias, OU ÀCIDO NALIDIXICO: administra-se nas crianças >3 meses, Dosagem: 50
mg/kg/dia de 6 em 6 horas por 5 dias (reduzir a dose para 30 mg/kg/dia nos tratamentos prolongados).
Infecções do tracto urinário superior (Pielonefrite): AMPICILINA (100 mg/kg/dia, IV, 6/6horas) ou
CEFTRIAXONA (50-100 mg/kg/dia, de 12/12horas ou em cada 24 horas) por 14 dia em combinação
com: GENTAMICINA (7,5 mg/kg/IM, uma vez por dia).

39. HÉRNIA INGUINAL: Hérnia é a protrusão de um órgão ou parte dele através de um orifício natural
ou adquirido. Sob uma hérnia inguinal refere-se à passagem das vísceras abdominais através do canal
inguinal acima do ligamento inguinal. As hérnias inguinais são hérnias que ocorrem na região da virilha
e correspondem a 75% de todas as hérnias abdominais. Quadro clínico: As crianças apresentam uma
tumefacção na região inguinal que se pode estender até ao escroto ou aos lábios maiores. Pode ser que a
massa não seja visível durante a consulta e que os pais relatem que a viram enquanto a criança estava
chorando ou fazendo esforço abdominal (durante a evacuação ou ao tossir). Na avaliação de criança mais
velhas pode-se pedir para fazer a manobra de Valsalva (pressione-a no espaço da barriga ou tossir) que
aumentado a pressão intra-abdominal aumentando a visibilidade da hérnia. Durante a avaliação duma
criança com hérnia é importante palpar e identificar o testículo para não confundir a hérnia com o
testículo móvel De maneira suave e delicada durante a examinação pode se reduzir a hérnia e perceber o
anel inguinal externo. No início a massa se reduz espontaneamente, depois pode-se tornar maior e
constante. CONDUTA: Inicie antibiótico: AMPICILINA (50 mg/kg, EV de 6-6 horas)
+GENTAMICINA (5 mg/kg, EV, de 12 em 12 horas) + METRONIDAZOL (7,5 mg/kg,EV, de 8/8
horas).

40. VULVITE E VULVOVAGINITE: Define-se vulvite a inflamação, na maioria das vezes infecciosas,
da vulva e vaginite a inflamação da vagina. A vulvovaginite resulta frequentemente da descida da
infecção da vagina à vulva. Quadro Clinico: Vulvite: Prurigo na área perineal; Eritema; Sensação de
queimadura. Vaginite: descarga vaginal amarela com mau cheiro, com ou sem sangue; Deve-se
questionar aos pais sobre a higiene, história de diarreia (infecções podem passar do recto a vulva), de
traumas. Uma das causas de vaginite particularmente se tiver sangramento pode ser também a presença de
corpo estranho vaginal, particularmente nas crianças menores que até podem não se lembrar ou não
reportar terem inserido algo. Ao exame físico deve-se avaliar a presença e características das secreções
vaginais assim como a presença de outras lesões. O TRATAMENTO inclui: Tratamento antibiótico
direccionado às bactérias responsáveis pela patologia. Caso não seja possível executar a avaliação ao
microscópio e que a secreção não tinha características particulares e não estejam presentes outras lesões
administrar: AMOXICILINA: 50 mg/kg por dia (máximo 500mg por dose), de 8/8horas por 7 dias;
METRONIDAZOL 15 mg/kg por dia e 8 em 8 horas, por 7 dias.

FIM

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