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O conceito de liderança aplicada na Marinha do Brasil e no

Exército Brasileiro

Natascha Simões Franck*

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo pesquisar sobre o conceito de liderança


utilizado nas forças armadas brasileiras da Marinha e do Exército.
Foram utilizados como base de pesquisa livros sobre o tema de liderança,
bem como autores e legislações vigentes do país tendo como foco uma pesquisa
bibliográfica.
O estudo da liderança é de interesse de várias organizações frente a
crescente globalização e acirrados concorrentes. Dessa forma, o capital mais
importante de uma organização são os colaboradores que contribuem para que ela
atinja os seus objetivos. No entanto, o mais complexo não seriam os estudos, mas
sim aplicá-los em uma equipe com indivíduos de perfis diferentes. Cada funcionário
têm as suas crenças, seus valores e a empresa tem a árdua missão de que todos
devem trabalhar na mesma direção da visão esperada pelos gestores.
A liderança ainda é um tema recente e inovador para muitas organizações.
Assim como é importante para as organizações privadas e públicas, as forças
armadas precisam ainda mais de usufruir dessa metodologia para que as pessoas
realizem as tarefas em prol das instituições. O militar deve estar preparado e
capacitado para conduzir liderados em combate nas missões. Em quaisquer áreas,
podemos notar a presença de líderes, por exemplo, religiosos, políticos e sociais,
aonde menos imaginamos, há um indivíduo capaz de inspirar e motivar as pessoas
para o caminho do sucesso.

* Pós-Graduação em Liderança e Coaching da Universidade Estácio de Sá.


Email: natascha.franck@gmail.com
Palavras chave: Chefia, Exército Brasileiro, Liderança, Marinha do Brasil,
Performance.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar sobre a liderança aplicada em


organizações militares. Existem vários conceitos sobre essa virtude e como um
indivíduo pode adquiri-la. No entanto, é uma habilidade que precisa ser desenvolvida
e praticada observando os seus princípios indo de contra ao senso comum de que
ser líder é algo nato.
Em grupos formais ou informais, seja em repartições públicas, empresas
privadas ou até mesmo em lares familiares há a presença de um líder. É ele quem
inspira, motiva fazendo com que as pessoas busquem algo mais e melhor.
Segundo o dicionário Aurélio, liderança significa “alguém ou grupo de indivíduos
que exerce algum tipo de chefia”, mas vale ressaltar que nem todo o chefe é um
líder e nem todo líder é um chefe. Embora essas funções sejam conhecidas como
parecidas possuem diferentes características. Um chefe geralmente é aquele que
emite ordens, é autoritário e dificilmente é aberto para receber sugestões. Os
funcionários então trabalham para o chefe e não em prol do bem estar da empresa.
O chefe manda, procura culpados, muita das vezes desmoraliza e ameaça, sendo
controlador. Por outro lado, o líder é a pessoa que motiva os colaboradores através
de uma interação sendo aberto a conversas e mostrando os melhores caminhos e
como as pessoas são importantes nesse processo. Temos então um cenário
diferente com o líder por estar sempre lado a lado, sendo companheiro, ajudando,
orientando, assumindo as responsabilidades e estando junto com as pessoas.
Podemos concluir então que a função do líder é lapidar os colaboradores para
desenvolver na empresa uma equipe onde todos trabalhem em prol do mesmo
objetivo, o sucesso da organização. Com a globalização e a acirrada competição no
mercado, as empresas estão cada vez mais preocupadas em como atingir a
excelência. Como então maximizar a performance dos funcionários para conduzir
times para novos patamares?

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À medida que o mercado fica mais exigente, maiores são os investimentos
em estudos e pesquisas sobre a importância da liderança. Em cada empresa, há
vários tipos de perfis. Como então extrair o que cada um tem de melhor para que
isso auxilie no alcance de resultados?
Os líderes são encontrados em várias áreas como, por exemplo, em políticas,
religiosas, culturais, movimentos sociais e também em organizações militares. Uma
organização militar é uma parte integrante das forças armadas de seu país. A
liderança militar é tão importante que, em específico no caso do Brasil, as três forças
armadas existentes sendo Marinha, Aeronáutica e o Exército Brasileiro possuem
doutrinas para formação de seus líderes.
Diante desse contexto, o presente estudo irá abordar o que é a liderança e
como ela é aplicada apenas nas forças armadas da Marinha do Brasil e do Exército
Brasileiro.

1. O LÍDER

Nos momentos de crise, a ausência de líderes é apresentada como a chave


do problema. Porém o aparecimento de alguém eficaz a quem seguir,
depende, na realidade, de visar um futuro diferente e comprometer-se em
liderar e apoiar a quem fazer. Liderando Líderes (2003, apud Selman, 2009,
p. 4)
Selman (2009, p. 25) comenta que inovação e liderança são termos
correlacionados. A liderança remete a um futuro almejado e a inovação visa abrir as
possibilidades para o desenvolvimento de habilidades para pessoas que não
estejam satisfeitas com a situação atual, ou seja, uma insatisfação positiva.
Selman (2009, p. 26) explica que a transformação acontece o tempo todo.
Independente se for exposto assuntos sobre inovação ou liderança, o objetivo é o
mesmo, o de transformação sustentável. A liderança tem a intenção de quebrar o
status quo sendo de forma gradativa ou por melhorias contínuas.
De acordo com Selman (2009, p. 32)
Os líderes que ‘trazem algo para a realidade’ são aqueles que
normalmente consideramos ‘visionários’, carismáticos e via de regra
talentosos ou dotados em sua capacidade de continuar avançando e
criando aberturas para a ação, transpondo as circunstâncias. Em Henrique
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V, de Shakespeare, o Rei faz um apaixonado discurso a seus soldados
diante das insuperáveis contradições. Com isso, ele não só criou uma
possibilidade onde não havia nenhuma, mas também inspirou o exército
para a vitória. Para o líder que se relaciona com o mundo desse modo, uma
visão não é um grande alvo ou imagem do futuro, mas sim um poderoso
fundamento do ser, a partir do qual se cria a realidade.
Segundo o dicionário Aurélio, liderança significa “alguém ou grupo de
indivíduos que exerce algum tipo de chefia”, mas vale ressaltar que nem todo o
chefe é um líder e nem todo líder é um chefe.
Há duas formas de liderança, conforme Escorsin e Walger (2017, p. 27),
sendo:
a) Liderança formal: A pessoa se torna líder quando recebe uma promoção de
cargo;
b) Liderança informal: Acontece quando a pessoa exerce a liderança
independente do cargo que ocupa.
De acordo com Escorsin e Walger (2017, p. 27)
Liderança é a influência que um indivíduo exerce sobre outras
pessoas de um grupo, em determinadas situações, para que seja atingido
determinado propósito. É relacional, ligada a influência, necessita de
aceitação e é situacional.
Schimdt (2011, apud Escorsin e Walger 2017, p. 28) apresenta uma
reflexão sobre a diferença entre liderar e gerenciar. Para essa autora,
liderança não é um conceito que pode ser compreendido como sinônimo de
chefia, gerência e administração, pois é algo mais amplo, que vai além de
gerenciar pessoas.
O líder é aquele que busca uma forma de despertar nas pessoas habilidades
para que elas se desenvolvam sua performance em busca de algo maior e melhor
devido, impacto esse gerado pela insatisfação positiva. Schmidt (2011, apud
Escorsin e Walger 2017, p. 28) comenta ainda o quão difícil é uma pessoa ser líder e
gestor ao mesmo tempo devido a complexidade dessas duas virtudes. O importante
mesmo seria a organização valorizar os dois tipos de perfis na empresa visando
interação entre si.
Robbins (2005, apud Escorsin e Walger 2017, p. 30) indica que outro fator
ligado a liderança é o enfretamento da mudança, onde os líderes devem estabelecer
a direção de uma visão de futuro para inspirar essas pessoas a alcançaram essas
metas. Para que isso aconteça, é importante que haja uma relação de confiança.
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Escorsin e Walger (2017, p. 28) descrevem que liderança está ligada a
relação, a influência, a aceitação, a situação e a confiança, mas que também não
existe uma liderança “padrão”. Dentre os vários estilos de liderança, deve-se verificar
qual é o mais adequado ao perfil da pessoa.
Para alcançar os seus objetivos, as empresas usam recursos que estão
ligados a vantagem competitiva sustentável, garantindo destaque em frente à
concorrência gerando lucratividade. Nesse cenário, os líderes têm papel importante
por serem responsáveis em captar, alocar, e utilizar os recursos de forma eficiente.
Uns destes recursos são os financeiros, materiais, e o mais importante, o humano.
(Escorsin e Walger, 2017).
“O mundo desafia os administradores a liderar, ensina-os a criar novas
estratégias e a se posicionar, a tomar decisões sábias, guiadas por uma precisa
consciência da realidade que nos rodeia.” (Hevesi, 2004, p. 19). No ambiente
empresarial, atualmente, existem os seguintes desafios:
a) Relacionamentos dentro e fora da organização (colegas, clientes,
fornecedores etc);
b) Os problemas e as oportunidades surgidas da transformação social e
econômica;
c) As inovações em todos os setores da organização para melhor comunicação;
d) A qualidade e o preço para satisfazer a crescente expectativa de clientes e
dos consumidores.
Para Hevesi (2004, p. 20)
Para enfrentar esses desafios, os administradores têm de transformar em
agentes de mudança a partir de suas atitudes e ações. Mas não é
aconselhável converter unidades de trabalho em laboratórios experimentais
para testar novos conceitos.
Hevesi (2004, p. 21) aponta que a atitude do líder é fundamental. Seja ela
para resultados ou orientada, têm reflexos em toda a organização e, quanto mais
alto a sua posição hierárquica, maior a influência. Você não prega a liderança, você
a pratica. A criatividade é um exemplo. A empresa é lenta no reconhecimento de
novas idéias, destrói o entusiasmo das pessoas criativas e acaba perdendo elas, em
contra partida, quanto à punição, é mais rápida. Não basta administrar as pessoas,
lidere-as.

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A liderança não é limitada ao presidente ou ao administrador, ela está
presente em todos os níveis das organizações. Temos que considerar também que
nem todos os administradores são líderes, só os bons que são. Também temos que
considerar nem todos os líderes são administradores. (Hevesi, 2004).
Para ser líder, é preciso ter as seguintes competências: Ser visionário
(preceder mudanças), ser corajoso para enfrentar riscos, ser flexível para se adaptar
as mudanças, almejar sucesso, ser honesto e comunicativo. Você se faz líder,
adquire essas habilidades e atitudes com muito esforço para chegar aonde deseja e
para se manter. (Hevesi, 2004).
“Os verdadeiros líderes causam impacto em sua empresa. São fortes. Atraem
as pessoas e recebem apoio de seus pares e funcionários. Conquistam seguidores
com sua habilidade de comunicar a sua visão e o seu compromisso”. (Hevesi, 2004,
p. 31).
Elencado as definições de um líder, o que ele então faz? De acordo com
Hevesi (2004, p. 32), o líder precisa passar a resiliência para aqueles que temem
perder a segurança do status quo por conta de suas limitações. O líder então educa,
motiva, comunica, apóia, lidera a mudança, transforma as mudanças em um
aprendizado positivo, é aberto a diálogos, inspira e cativa as pessoas. O líder é
como um treinador cujo seu maior desejo é fazer com que as pessoas despertem a
si mesmas suas habilidades e virtudes para que possam mudar as suas vidas.
Nessa relação, é importante que haja confiança entre as partes para a construção
de um relacionamento positivo onde seja franco e crítico (mas não ameaçador).
“A liderança é resultado de trabalho árduo, vigoroso, de visão, baseado na
força de vontade e na escolha das prioridades certas.” (Hevesi, 2004, p. 39).

2. GRUPOS E EQUIPES: ASPECTOS IMPORTANTES SOBRE OS SEUS


LIDERADOS

“Todos os comportamentos de um indivíduo são resultantes da convivência com os


demais, ou seja, os comportamentos humanos são fruto da interação social”.
(Escorsin e Walger, 2017, p. 127).
Além da interação social, o processo de socialização também nos ajuda a
explicar o comportamento humano. Braguirolli (1990, apud Escorsin e
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Walger, 2017, p. 128) esclarece que a socialização é o processo pelo qual o
indivíduo adquire os padrões de comportamento que são habituais e
aceitáveis em seus grupos sociais.
É preciso compreender o meio de onde o indivíduo vem para entender o seu
comportamento. Por esse motivo, quando um funcionário ingressa em uma nova
empresa, este passa pelo processo de integração junto a empresa para que o novo
colaborador conheça as regras impostas e o que a organização espera de seu
comportamento. (Escorsin e Walger, 2017).
Uma equipe é formada por grupo de pessoas que se juntam para alcançar os
objetivos em comum. Várias pessoas com perfis e habilidades diferentes de juntam
para alcançar as metas da organização. (Soares, 2015).
“Um grupo de pessoas qualificadas, alinhadas, que compreendem os
objetivos e estão comprometidas em alcançá-los faz que uma equipe funcione muito
bem.” (Soares, 2015, p. 3).
Liderar equipes de qualquer nível representa um desafio por contas dos
conflitos culturais de perfis. Embora os conceitos sejam simples, a prática, no
entanto é complexa, pois envolve relações interpessoais e não há como prever as
individualidades de cada um. No entanto, a utilização de algumas ferramentas pode
auxiliar com essas barreiras como é o caso das quatro matrizes de análise:
a) Armadilhas em que caem as equipes;
b) Evolução da maturidade da equipe;
c) Análise da toxidade do seu time;
d) Humor, amor e significado.
O resultado permitirá ao líder conhecer as características da equipe bem
como os seus pontos positivos e negativos da gestão, isso porque a equipe é
sempre o espelho da liderança aplicada. A recomendação do autor é não ficar
restrito as metodologias por ter pontos fracos e fortes, faça uma interação com
outros métodos. (Mandelli e Loriggio, 2017, p. 129).
O filme “A Fuga das Galinhas”, é um exemplo de liderança e desenvolvimento
de equipes. O filme se passa em um galinheiro monótono onde as galinhas sonham
com uma vida melhor. No final, as galinhas se juntam e traçam um plano de fuga.
Com o trabalho em equipe, as galinhas conseguir fugir e alcançam o seu objetivo.
(Escorsin e Walger, 2017, p. 145).

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Para atingir os resultados, é preciso que a visão seja compartilhada por todos.
Mas as equipes conseguem assimilar da forma que se espera pela organização?
Será que não existe falhas de comunicação dos objetivos? A equipe está
comprometida, motivada e engajada? Para que essas características estejam
presentes na equipe é preciso a utilização de ferramentas de metodologia de
desempenho. (Escorsin e Walger, 2017, p. 149).
Segundo Soares (2015, p. 90, apud Escorsin e Walger, 2017, p. 153) destaca
três aspectos que contribuem para que uma equipe alcance efetividade nos
resultados, sendo:
a) Propósito em comum: oferecendo direção, aonde a organização pretende
chegar e como;
b) Metas específicas: são importantes para que os funcionários acompanhem a
evolução dos objetivos;
c) Tomada de decisão: com maior participação de todos, há maior interação e
comprometimento.
É preciso ainda desenvolver um plano de atividades para o desenvolvimento da
equipe.
Para Chiavenato (2010, apud Escorsin e Walger, 2017, p. 154)
O desenvolvimento de equipes é uma técnica que objetiva alterar o
comportamento das pessoas. Equipes de vários níveis da organização
podem precisar refletir sobre o seu comportamento, mesmo em cargos mais
elevados. A idéia básica é contribuir para que as equipes ampliem suas
mentalidades e busquem novas alternativas para resolver suas demandas e
seus problemas.
A equipe pode ainda enfrentar vários desafios como descreve Leoncini (2002,
apud Escorsin e Walger, 2017, p. 154) que é a disfuncionalidade. Em algum
momento, por algum motivo, a equipe começa a apresentar produtividade baixa e
relacionamento interpessoal em déficit. Segundo Leoncini (2002, apud Escorsin e
Walger, 2017, p. 155), algumas disfuncionalidades são:
a) Ausência de confiança entre a equipe;
b) Medo de conflitos;
c) Falta de comprometimento;
d) Tendência a evitar responsabilidades e obrigações;
e) Falta de interesse com os resultados.

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A base para o desenvolvimento de equipes, aponta Chiavenato (2010, apud
Escorsin e Walger, 2017, p. 157)
Está alicerçada em alguns fatores que precisam ser compreendidos
pelo profissional de Recursos Humanos ao elaborar um programa de
desenvolvimento de equipes, os quais são: filosofia e missão da empresa,
estrutura organizacional, sistemas organizacionais e políticas
organizacionais.

3. A DOUTRINA APLICADA AS FORÇAS ARMADAS

As forças armadas brasileiras são compostas pela Marinha do Brasil,


Exército Brasileiro e pela Força Aérea Brasileira. Estas são instituições
nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e
na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e,
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. (Brasil, 1999).
Segundo Hunter (2006 apud Escola de Guerra Naval, 2010, p. 9)
Três quartos das empresas americanas gastam, todos os anos, um
valor estimado em 15 bilhões de dólares em treinamento, desenvolvimento
e consultoria para suas equipes de liderança. Considerando-se que o
principal objetivo dessas empresas seja o lucro, pode-se concluir que o
tema liderança tem um grande valor para as mesmas, e também deverá
proporcionar um retorno financeiro proporcional ao investimento realizado.
Se o tema liderança tem essa importância para as empresas, quando se
passa para a área militar, a liderança tem seu valor em muito aumentado.
O tema de liderança é tão importante para as empresas privadas e órgãos
públicos, que com as organizações militares não poderia ser diferente. Para cada
força brasileira, há uma doutrina sobre esse assunto.
Segundo Chiavenato (2004, apud Souza)
A organização militar contribuiu de forma significativa para o
aperfeiçoamento das teorias da Administração no transcurso do tempo. A
organização em linha teve sua origem na organização militar dos exércitos
da antiguidade e da Idade Média, ou seja, cada superior tem autoridade
única e absoluta sobre seus subordinados.

3.1. A DOUTRINA NA MARINHA DO BRASIL

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O documento “EMA-137” dispõe sobre a doutrina da Marinha.
De acordo com a Doutrina de Liderança da Marinha, EMA-137, (Brasil, 2004,
p.1)
O exercício da chefia, comando ou direção, é entendido pelo conjunto de
ações e decisões tomadas pelo mais antigo, com autoridade para tal, na
sua esfera de competência, a fim de conduzir de forma integrada o setor
que lhe é confiado.
No desempenho das funções, os militares mais antigos ocupam as posições
de “chefe” e de “condutor de homens” ao mesmo tempo. Como chefe, prevalece a
autoridade do cargo que é associada a um posto ou graduação. Como líder, é
preciso que estes desenvolvam habilidades para influenciar e inspirarem os
subordinados. (Brasil, 2004, p. 1).
Sobre os objetivos de comando, o EMA-137 (Brasil, 2004, p.1)
Caracterizados esses dois atributos do comandante, o de chefe e o de líder,
pode-se afirmar que comandar é exercer a chefia e a liderança, a fim de
conduzir eficazmente a organização no cumprimento da missão. Sendo o
exercício do comando um processo abrangente, a divisão ora apresentada
será utilizada para efeito de uma melhor compreensão do tema em lide, pois
chefia e liderança não são processos alternativos e sim, simultâneos e
complementares.
Dentre os fundamentos descritos, é importante destacar que estão implícitos
nos agentes princípios como aspectos filosóficos, psicológicos e sociológicos que
definem os comportamentos de cada indivíduo. A doutrina então comenta que
estudados esses princípios, é possível auxiliar no desempenho de liderança. (Brasil,
2004, p. 2).
Quanto aos fatores da liderança, estes têm como base o documento sobre a
Liderança Militar, disponibilizada na Instrução Provisória IP 20-10, de 1991, do
Estado-Maior do Exército.
“O líder deve conhecer a si mesmo, para saber de suas capacidades,
características e limitações, evitando atribuir aos seus liderados falhas ou
restrições.” (Brasil, 2004, p. 10).
“Os bons líderes eficientes são também bons seguidores [...]” Brasil
(1991, p. 3, apud Brasil, 2004, p. 10) e cumpridores das orientações de seus
superiores, passando esse exemplo a seus subordinados. “O líder,
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independentemente de sua vontade, atua como elemento modificador do
comportamento de seus liderados subordinados. [...] A função militar está
relacionada com a segurança e a responsabilidade pela vida de seres
humanos.” Brasil (1991, p. 3,4, apud Brasil, 2004, p. 10) Provavelmente,
poucos profissionais são forçados a assumir tarefa tão grave ao liderar
subordinados. Brasil (1991, apud Brasil, 2004, p. 10)

3.2. A DOUTRINA NO EXÉRCITO BRASILEIRO

De acordo com Exército (2011, p. 23)


A liderança militar consiste em um processo de influência
interpessoal do líder militar sobre seus liderados, na medida
em que implica o estabelecimento de vínculos afetivos
entre os indivíduos, de modo a favorecer o logro dos
objetivos da organização militar em uma dada situação.
A liderança militar está sustentada por três pilares sendo:
a) Proficiência profissional; b) Senso moral e traços de personalidade
característicos de líder; e, c) atitudes adequadas.
No entanto, mesmo com essas características, isso não conclui que o militar
será um bom líder dependendo da situação. Pode haver um caso em que um
comandante executa a liderança de forma exemplar em um ambiente de combate,
mas que já em um ambiente administrativo, não se tem o mesmo sucesso. (Exército,
2011, p. 24).
Qualquer militar que tenha a honra de ocupar um cargo com
autoridade sobre outros indivíduos exercendo a liderança, não se deve esquecer
suas obrigações moral de proteção e à orientação daqueles que lhe são
subordinados. Estes estão sob a sua responsabilidade e dependem do seu
senso de justiça e de suas decisões. Todos aqueles que têm o encargo de
administrar a disciplina devem ser criteriosos no exercício dessa prerrogativa,
evitando erros causados pela precipitação ou pela falta de conhecimento, é preciso
ter cautela e sabedoria. No campo das injustiças, há o favoritismo, que
é uma falta de natureza moral grave. Nesses casos, a justiça será
aplicada de acordo com interesses individuais, ao invés do coletivo, onde os
subordinados não perdoam esse tipo de falha. Sobre liderança, pode-se afirmar que

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a injustiça contra um indivíduo do grupo prejudica a imagem e a confiança da
equipe, desestabilizando-a. (Exército, 2011, p. 29).
É importante destacar ainda que dentre os diversos valores militares, o que se
destaca e é tido como exemplo para outras organizações é a aplicação da disciplina.
De acordo com Exército (2011, p. 31)
A disciplina, um dos pilares de qualquer exército profissional, é um
importante valor que traduz a capacidade de proceder, de modo consciente
e espontâneo, conforme as ordens legais recebidas, as normas e as leis
estabelecidas. A disciplina não é contrária à liberdade e à iniciativa, como
alguns imaginam. Tratase, de fato, de condição indispensável para uma
vida social harmoniosa e de base fundamental para garantir o máximo uso
dos direitos das pessoas, sem perder de vista os direitos alheios. Observe
se que, nas sociedades mais evoluídas e mais ricas, as pessoas são
disciplinadas porque a disciplina é o aprendizado da solidariedade.
A liderança militar possui como aspecto imutável, a necessidade de
concordância com os valores desejados pelo Exército Brasileiro, tais como o
patriotismo, o civismo e a disciplina, mencionados acima. Independente então da
situação, seja ela de guerra ou não, os valores esperados na liderança militar são os
mesmos mudando apenas o cenário. No entanto, algumas competências terão mais
importâncias que outras devidas aos contextos de conflitos.
Em uma situação de conflito, por exemplo, a situação da liderança sairá da
zona de conforto e outros comportamentos surgirão contribuindo com agregação de
experiências no cargo. O fato de lidar com novas situações favorecem o crescimento
e o amadurecimento profissional. Novas características em seu comportamento
serão agregadas ao perfil utilizado no dia-a-dia. Fazendo jus ao comprometimento
da missão com a instituição, o grupo também será afetado de forma positiva ao
amadurecer diante de diversas circunstâncias. (Brasil, 2011, p. 52).

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Antes de iniciar a discussão sobre o tema proposto, foi preciso elencar os


tópicos e subtópicos que norteiam o assunto global de liderança até o enfoque deste
no meio organizacional militar. Feito isso, as buscas pelas informações e resultados
foram através de:
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 Consulta a Legislação;
 Pesquisa bibliográfica de autores especialistas nos assuntos;
 Doutrinas específicas das referidas forças armadas

No decorrer do desenvolvimento do artigo, utilizou-se a didática de explicação


seguida de exemplos no âmbito militar para que o leitor tenha melhor assimilação
dos conteúdos aqui dispostos uma vez que a linguagem Legal não seja comum em
nosso cotidiano.
A organização e o levantamento de dados foram feitos por cada tópico
correspondente a fim de manter a estrutura de pensamento da problemática,
conforme mencionado acima. Foi preciso consultar o que é liderança, como ela se
aplica e as suas vertentes. Feito isso, foi explicado o que são as forças armadas e
quais são a sua importância para o país e de que forma podemos correlacionar isso
com a formação de líderes.

CONCLUSÃO

Muitas pessoas dizem ser líderes em algum grupo, seja ele na Igreja, no meio
político, em seu bairro ou até mesmo em escolas e/ou faculdades. Seja aonde for, o
líder almeja o sucesso de sua equipe, o sentimento de despertar nas pessoas o seu
potencial.
Com a crescente globalização, as empresas têm um custo alto com
investimento de pessoal para que os colaboradores auxiliem no sucesso da
empresa. É preciso reter talentos, desenvolver habilidades e criar uma gestão
eficiente de capital humano pois este é o principal recurso de qualquer organização.
Sem as pessoas, o serviço seria mecânico e talvez, não levaria o mesmo valor para
os clientes. No entanto, se esse tema é importante para a área privada e para as
organizações públicas para as forças armadas é ainda maior a sua relevância.

Um dos autores que marcaram a presente pesquisa foi Chiavenato que


menciona que as instituições militares contribuíram de forma significativa para as

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teorias da administração. Além do mais, as Forças Armadas sempre foram
organizações de espelho para a população em geral com a implantação de seus
valores éticos, morais e da rigorosa disciplina que favorece a educação e o respeito.
Para o estabelecimento da Lei e da Ordem, são estabelecidos rigorosos
treinamentos de pessoal e o incentivo ao estudo e o sentimento de buscar sempre
mais e melhor. A liderança é uma virtude que precisa ser desenvolvida. Quanto mais
uma pessoa se dedica a algo, mais ela terá o conhecimento e sabedoria de forma
positiva para o seu crescimento profissional.
O capítulo IV da Lei Complementar Nº 97/99 comenta que para o
cumprimento da constituição das forças armadas é preciso
Preparar e compreender, entre outras, as atividades permanentes
de planejamento, organização e articulação, instrução e adestramento,
desenvolvimento de doutrina e pesquisas específicas, inteligência e
estruturação das Forças Armadas, de sua logística e mobilização.
Para que as mudanças possam levar a instituição em direção à realização
dos seus objetivos, os líderes precisam transformar a teoria em prática o que não é
tão simples por envolver mudanças culturais nas organizações. Tal processo só é
possível após os líder relacionar os tipos de perfis existentes e quais são as
melhores teorias de liderança a serem aplicadas para haver um melhor
desenvolvimento do time. O sucesso de um líder estratégico está relacionado a
deixar a sua equipe pronta para enfrentar quaisquer desafios e incertezas e no caso
da organização militar, estar preparada para o inimigo no meio de tantas incertezas.
É preciso planejar, criar e testar novos métodos e colocá-los em prática por meio da
liderança.
Em seu livro “A Arte da Guerra”, Sun Tzu (2000, p. 12) comenta que “se
quisermos que a glória e o sucesso acompanhem nossas armas,
jamais devemos perder de vista os seguintes fatores: a doutrina, o tempo, o
espaço, o comando, a disciplina”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6880.htm>. Acesso em 28 abril 2018.

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Escorsin, Ana Paula. Walger, Carolina. Liderança e desenvolvimento de equipes.
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Hevesi, Gabriel. Teste sua lidrança. Rio de Janeiro, RJ: Ed. Rio, 2004.

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