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E-BOOK

GESTÃO ESCOLAR
Andréa Garcia Furtado

Princípios

DE
e Concepções
de Gestão

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6629-2
Código Logístico
Andréa Garcia Furtado
Escolar
9 788538 766292 59373
Princípios e
concepções de gestão
escolar

Andréa Garcia Furtado

IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
F987p

Furtado, Andréa Garcia


Princípios e concepções de gestão escolar / Andréa Garcia Furtado. -
1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020.
82 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6629-2

1. Escolas - Organização e administração. I. Título.


CDD: 371.2
20-65066
CDU: 37.07

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Andréa Garcia Furtado Doutora e mestra em Educação pela Universidade
Tuiuti do Paraná (UTP). Especialista em Psicopedagogia
com magistério superior pelo Instituto Brasileiro de
Pós-Graduação e Extensão (IBPEX). Licenciada em
Pedagogia pela UTP. Professora no ensino superior,
ministra as disciplinas de Organização Curricular
da Educação Básica, Fundamentos dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental, Educação Infantil:
Concepções e Metodologias e Orientação de Trabalho
de Conclusão de Curso (TCC). Atua na Secretaria
Municipal da Educação de Curitiba como pedagoga no
Departamento de Ensino Fundamental.
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SUMÁRIO
1 Ideias e conceitos sobre gestão escolar 9
1.1 Discussões acerca da gestão escolar 10
1.2 Organização escolar: concepções de gestão 15
1.3 Elementos que norteiam a gestão escolar democrática 18

2 Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 24


2.1 Principais leis que embasam a educação 24
2.2 Regimento escolar: o que é e para que serve 30
2.3 Recursos financeiros na escola 33

3 Gestor educacional na contemporaneidade 40


3.1 Perfil do gestor escolar democrático 40
3.2 Funções e desafios do gestor escolar 45
3.3 Cultura organizacional no cotidiano escolar 49

4 Possibilidades no contexto escolar 54


4.1 A educação como direito 55
4.2 Função social: a razão da escola 57
4.3 Projeto político-pedagógico como fio condutor do trabalho na
escola 60
4.4 Gestão escolar: órgãos colegiados 63

5 Avaliação e gestão democrática 69


5.1 Conceituando o que é avaliação em educação 69
5.2 Dimensões avaliativas 72
5.3 Gestão escolar e qualidade na educação 77
Vídeo
APRESENTAÇÃO
Este livro tem como objetivo fornecer subsídios teóricos
e apresentar ações pertinentes para o aprimoramento das
condições de organização dos processos educativos realizados
na escola. Acreditamos que o estudo, a discussão e a reflexão
sobre os fundamentos e os aspectos que perpassam a gestão
escolar possibilitam que o trabalho realizado na instituição de
ensino seja pautado em uma intencionalidade educativa que
contribua para a garantia do direito à educação a todos.
Desse modo, abordamos os fundamentos e as formas
de gestão escolar, reconhecendo as características de uma
gestão escolar democrática. Tratamos dos aspectos legais e
dos recursos financeiros que permeiam a tomada de decisões
nas instituições de ensino, assim como da elaboração do
regimento escolar, que orienta e normatiza as ações na escola.
Compreendemos, também, as funções do gestor escolar e sua
importância no desenvolvimento do projeto político-pedagógico
e no fortalecimento do trabalho coletivo, apresentando as
possibilidades de desenvolvimento de práticas democráticas
com o objetivo de organizar e efetivar a gestão escolar.
A obra é estruturada em cinco capítulos. O primeiro aborda
as concepções de organização de gestão escolar existentes,
apresentando os conceitos de administração, administração
escolar, gestão, gestão escolar e gestão escolar democrática, além
dos elementos que compõem esta, visto que dispositivos legais
preconizam que as instituições de ensino estejam organizadas
em uma concepção de ensino democrático-participativa.
O segundo capítulo trata, especificamente, das legislações
vigentes que perpassam o contexto educacional e do
entendimento de como os recursos financeiros podem ser
administrados em uma gestão escolar democrática.
No terceiro capítulo, são discutidas as funções do gestor
escolar em uma perspectiva de possibilitar a participação
da comunidade escolar na tomada de decisões, de modo a
responsabilizar todos os envolvidos nos processos educativos.
Para isso, é importante proporcionar nesse espaço educativo a reflexão sobre
a cultura organizacional da escola, que perpassa a organização do trabalho
realizado na instituição de ensino.
O quarto capítulo apresenta aspectos relacionados à compreensão de
que a educação é um direito fundamental de todo cidadão brasileiro, sendo
reconhecido e protegido legalmente. Diante desse contexto, destacamos
algumas práticas pedagógicas que podem ser realizadas na escola a fim de
contribuir para uma organização de gestão democrática.
Por fim, o quinto capítulo contempla os processos avaliativos educacionais
que ocorrem por meio de uma gestão democrática, a qual objetiva proporcionar
ações no contexto escolar que viabilizem melhorias nos processos educativos.
Com base nas discussões presentes neste livro, é possível desenvolver
reflexões que permitam a compreensão e o fortalecimento da gestão escolar
atualmente. É fundamental que a organização do trabalho pedagógico se
efetive por meio de práticas que balizem o envolvimento, a responsabilidade e
o compromisso pedagógico de todos os envolvidos nos processos educativos
realizados na instituição de ensino.
Bons estudos!
1
Ideias e conceitos sobre
gestão escolar
Este capítulo aborda os fundamentos e as diferentes formas de
gestão nas instituições de ensino, de modo a contribuir com as dis-
cussões e possibilidades de realização dos processos educacionais
nas escolas públicas e privadas.
Serão apresentados conceitos que perpassam o entendimen-
to do que é administração, administração escolar, gestão, gestão
escolar e gestão escolar democrática. Tal compreensão permite a
apreensão de como as escolas estão organizadas e estruturadas
atualmente para a realização dos processos educativos.
Assim, faz-se necessário apresentar as concepções de gestão,
pois elas expressam os posicionamentos político-pedagógicos das
instituições de ensino. Nesse sentido, a organização escolar se re-
fere ao conjunto de ações que envolvem questões administrativas,
financeiras e humanas, que funcionam de acordo com a concep-
ção de gestão assumida pela escola.
Outra questão discutida neste capítulo refere-se aos elemen-
tos constitutivos da gestão escolar democrática. É imprescindível
identificar esses elementos, pois eles definem como a gestão de-
mocrática será proposta nas instituições de ensino, de modo que
a prática pedagógica esteja fundamentada em teorias que justifi-
quem as ações vinculadas à formação de um estudante crítico e re-
flexivo, consciente dos seus direitos e deveres enquanto cidadão.

Ideias e conceitos sobre gestão escolar 9


1.1 Discussões acerca da gestão escolar
A educação escolar é uma das principais formas de promover a for-
Vídeo
mação integral do cidadão, permitindo o desenvolvimento do estudan-
te em seus aspectos cognitivos, físicos, emocionais, sociais e culturais e
oportunizando um olhar crítico e reflexivo acerca da sociedade na qual
está inserido.

Em razão disso, cabe à escola gerir de maneira que as ações pro-


postas oportunizem condições reais de ensino e aprendizagem por
meio de práticas educativas intencionais que perpassem os muros da
escola. Nessa perspectiva, para que as situações do cotidiano escolar
ocorram de maneira significativa, é necessário que aspectos teóricos
sejam compreendidos e apreendidos pelos profissionais da educação.
Libâneo (2010, p. 295) esclarece que:
a escola e seu modo de se organizar constituem um ambiente
educativo, isto é, um espaço de formação e de aprendizagem
construído por seus componentes, um lugar em que os profis-
sionais podem decidir sobre seu trabalho e aprender mais sobre
a profissão. Acredita-se que não são apenas os professores que
educam. Todas as pessoas que trabalham na escola realizam
ações educativas, embora não tenham as mesmas responsabili-
dades nem atuem de forma igual.

Assim, tem-se a escola como um espaço de formação para a cidada-


nia. Portanto, questões referentes a como propiciar a organização do
trabalho pedagógico precisam ser apreendidas por todos os envolvidos
nos processos educativos realizados na instituição.
Documento É importante considerar que essa discussão perpassa o contexto do
A Declaração Universal dos regime democrático estabelecido no país desde a Constituição Federal
Direitos Humanos define
os direitos do homem de 1988. Entende-se, então, que a sociedade contemporânea é orien-
que compactuam com tada por princípios democráticos. Grigoli (2014, p. 114) esclarece que
o regime de governo
democrático. “democracia significa uma forma de governo na qual o povo governa e
Disponível em: https://www.unicef. implica a criação de um Estado que trate o povo de forma igualitária”.
org/brazil/declaracao-universal-
-dos-direitos-humanos. Acesso em: Conforme o que foi exposto pelo autor, é fundamental refletir so-
16 jun. 2020. bre como a educação pode ser gerida nas escolas com base em uma
gestão pautada na democracia. Porém, para compreender a gestão es-
colar democrática, é relevante salientar o conceito de administração,
que pressupõe aspectos relacionados à gestão e à gestão democrática.

10 Princípios e métodos de gestão escolar


Para isso, podemos trazer os significados de administração e gestão,
explicitados por Ferreira, Reis e Pereira (2002, p. 6): “ambas as palavras
têm origem latina, ‘gerere’ e ‘administrare’. Gerere significa conduzir, dirigir
ou governar. Administrare tem aplicação específica no sentido de ‘gerir
um bem, defendendo os interesses de quem os possui’. Administrar se-
ria, portanto, a rigor, uma aplicação de gerir”.

SFIO CRACHO/Shutterstock
Pode-se dizer que ambas as palavras objetivam conduzir alguém
a fazer algo. Todavia, administração está relacionada a planejamento,
controle e direcionamento de recursos humanos e materiais; já gestão
Vídeo
está voltada à mobilização de ações que incentivem a participação de
O programa Nós da
todos para atingir um objetivo comum.
Educação convidou Vitor
Henrique Paro, professor
Entendido isso, observe o que Ferreira afirma sobre gestão:
titular da Faculdade de
gestão é o processo de coordenação da execução de uma con- Educação da Universi-
dade de São Paulo, para
cepção em ação, que executa um plano. Gestão tem um conteú-
abordar questões refe-
do que pode incluir aspectos emancipatórios como autonomia rentes a conceitos sobre
e cidadania, dependendo das políticas que lhe fornecem a di- administração, assim
reção a ser dada e à forma de gestão. (FERREIRA, 2017, p. 111, como a diferença entre
administração escolar e
grifo do original) empresarial. O vídeo é de
2006 e foi produzido pela
Compete enfatizar que o termo administração escolar se constituiu TV Paulo Freire.
com base na extensão da administração geral, isto é, administração de Disponível em: https://www.youtu-
empresas. Desse modo, ambas as definições direcionam a necessidade be.com/watch?v=CNOdKTmgd0s.
Acesso em: 16 jun. 2020.
de viabilizar meios para administrar, coordenar, prever e propor estra-
tégias de como o trabalho precisa ser realizado no espaço e tempo do
campo de atuação.

Ideias e conceitos sobre gestão escolar 11


Rawpixel.com/Shutterstock
Nessa linha de raciocínio, Félix (1985, p. 71) afirma que
enquanto a administração de empresas desenvolve as teorias
sobre a organização do trabalho nas empresas capitalistas, a ad-
ministração escolar apresenta proposições teóricas sobre a orga-
nização do trabalho na escola e no sistema escolar. No entanto,
a administração escolar não construiu um corpo teórico próprio
e no seu conteúdo podem ser identificadas as diferentes esco-
las da administração de empresas, o que significa uma aplicação
dessas teorias a uma atividade específica, neste caso, a educação.

Diante disso, a administração, de um modo geral, tem


a finalidade de compreender como e com quais fins os
recursos materiais e humanos serão utilizados para
uma melhor execução do trabalho a ser realizado. Por
meio dessa reflexão, observa-se que a administração
escolar surgiu com o intuito de transpor o conceito do
campo empresarial para o educacional, ou seja, coorde-
nar os processos educacionais das instituições de ensino
com maior eficiência e efetividade, a fim de garantir a for-
Sy

Pr
da

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ons mação para a cidadania.
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12 Princípios e métodos de gestão escolar


É nesse contexto que a administração escolar está relacionada às
transformações da sociedade como um todo, sendo preciso analisar,
explorar e compreender o contexto escolar das instituições de ensino.
Paro (2012) elucida a importância de considerar a realidade com o intuito
de alcançar os fins educativos. Para o autor, “é na práxis administrativa
escolar, enquanto ação humana transformadora adequada a objetivos
educativos [...] que se encontrarão as formas de gestão mais adequadas
a cada situação e momento histórico determinados” (PARO, 2012, p. 210).

Nessa perspectiva, destacam-se os processos de gestão, especifica-


mente a educacional e escolar. A gestão educacional está direcionada à
organização dos sistemas de ensino em âmbito federal, estadual e muni-
cipal, assim como à definição de responsabilidades e deliberações legais
que abrangem a educação nos setores públicos e privados. Acerca dessa
reflexão, é possível remeter-se às palavras de Paro (1996, p. 151):
a possibilidade de uma administração democrática no sentido de
sua articulação, na forma e conteúdo, com os interesses da socie-
dade como um todo, tem a ver com os fins e a natureza da coisa
administrada. No caso da Administração Escolar, sua especifici-
dade deriva, pois: a) dos objetivos que se buscam alcançar com a
escola; b) da natureza do processo que envolve essa busca. Esses
dois aspectos não estão de modo nenhum desvinculados um do
outro. A apropriação do saber e o desenvolvimento da consciên-
cia crítica, como objetivos de uma educação transformadora,
determinam [...] a própria natureza peculiar do processo peda-
gógico escolar; ou seja, esse processo não se constitui em mera
diferenciação do processo de produção material que tem lugar
na empresa, mas deriva sua especificidade de objetivos (educa-
cionais) peculiares, objetivos estes articulados com os interesses
sociais mais amplos e que são, por isso, antagônicos aos objeti-
vos de dominação subjacentes à atividade produtiva capitalista.

A administração escolar vai além de lideranças e resultados finan-


ceiros da instituição de ensino; ela expressa a formação do homem que
exerce os seus direitos e deveres numa sociedade organizada median-
te preceitos democráticos. Para isso, objetiva-se que a organização do
trabalho educativo nas instituições de ensino se fundamente na demo-
cratização da educação.

Já a gestão escolar consiste em organizar o trabalho da escola como


um todo, observando as necessidades e particularidades da institui-
ção de ensino nos aspectos humanos, administrativos e financeiros, de

Ideias e conceitos sobre gestão escolar 13


modo a garantir que os processos educativos promovam a garantia do
direito à educação.

Por isso, é importante compreender o que é gestão democrática,


conceito que expressa ações que propõem gerir uma instituição de ma-
neira participativa e transparente, ou seja, democrática.

Essa perspectiva de gestão escolar democrática está legalmente am-


parada pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB n. 9.394/1996), a qual preconiza a democracia
como princípio estruturante na efetivação da educação no país.

A gestão escolar democrática permite que as ações da escola acon-


teçam numa perspectiva em que a comunidade escolar (equipe diretiva
e pedagógica, professores, familiares e/ou responsáveis e demais pro-
fissionais da escola) esteja presente e participe de maneira efetiva das
tomadas de decisões dos processos educativos, corroborando com a
realidade na qual está inserida.

Desse modo, a gestão democrática na escola reestrutura a forma


de gerir a administração, visto que ocorre uma descentralização de po-
der, na qual o diretor não é mais o único a tomar decisões, pois a co-
munidade escolar participa das decisões que envolvem a organização
do trabalho. Para isso, momentos de escuta, diálogo e participação de
todos precisam acontecer de modo a vislumbrar a representatividade
da comunidade escolar.

Monkey Bussiness Images/Shutterstock

14 Princípios e métodos de gestão escolar


Essas reflexões sobre a gestão democrática são confirmadas por
meio da afirmação de Veiga (1995, p. 18) de que
a gestão democrática exige a compreensão em profundidade
dos problemas postos pela prática pedagógica. Ela visa romper
com a separação entre concepção e execução, entre o pensar e o
fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar o controle do proces-
so e do produto do trabalho pelos educadores.

Para isso, é necessário que a gestão escolar oportunize situações e


condições em que todos os envolvidos compreendam a importância da
sua função e participação nas tomadas de decisões da escola, principal-
mente no que tange a propor ações que garantam o direito à educação.

1.2 Organização escolar: concepções de gestão


Vídeo O processo de organização da gestão escolar está pautado na arti-
culação das condições administrativas e humanas que visem assegurar
práticas pedagógicas do cotidiano escolar que promovam o direito à
aprendizagem de todos.

A gestão e organização escolar considera tanto os espaços internos


quanto externos das instituições de ensino como lócus da educação.
Assim, as ações propostas precisam viabilizar condições e meios de
realização do trabalho educativo.
Site
Os gestores escolares devem propor formas de
Nos últimos anos, uma
administrar as escolas com base em concepções de
concepção de gestão que
gestão inter-relacionadas com a concepção de educa- vem sendo abordada é a
gestão de qualidade total
ção, sociedade, homem, processo de ensino e apren-
(GQT). Trata-se de uma
dizagem de cada uma das instituições de ensino. concepção de gestão em
que as ações são pauta-
É necessário, ainda, apreender que o trabalho das em fatos reais e que
vislumbra tomar decisões
realizado na escola precisa apresentar intenciona-
assertivas, a fim de au-
lidade educacional. Schneckenberg (2007, p. 9) de- mentar a produtividade
e o faturamento de uma
fende que a “intencionalidade, definição das metas
empresa. No link a seguir,
educacionais e posicionamento frente aos objeti- é possível conhecer
um pouco mais sobre a
vos educacionais, sociais e políticos [...]”, visa à for-
origem dessa concepção
mação do estudante partícipe de uma sociedade de gestão.
democrática. Disponível em: http://gestao-de-
-qualidade.info/qualidade-total.
Portanto, a organização do trabalho pedagógico html. Acesso em: 16 jun. 2020.
se estrutura com base na concepção de gestão es-

Ideias e conceitos sobre gestão escolar 15


colar adotada pela instituição de ensino. A respeito dessa afirmação,
Libâneo (2010, p. 325) esclarece que
as concepções de gestão escolar refletem diferentes posições
políticas e pareceres acerca do papel das pessoas na sociedade.
Portanto, o modo pelo qual uma escola se organiza e se estrutu-
ra tem dimensão pedagógica, pois tem que ver com os objetivos
mais amplos da instituição relacionados a seu compromisso com
a conservação ou com a transformação social.

Percebe-se, então, a importância de a escola compreender as con-


cepções de gestão escolar, visto que a estrutura e a organização do
espaço educativo refletem os posicionamentos político-pedagógicos
com relação à formação do estudante diante da sociedade. Essas con-
cepções podem ser apreendidas a partir da organização explicitada por
Libâneo (2010), que estabelece as gestões técnico-científica, autoges-
tionária, interpretativa e democrático-participativa.

A concepção técnico-científica tende a seguir princípios e méto-


dos da administração empresarial e está balizada na hierarquia de car-
gos e funções, com foco na racionalização do trabalho, a fim de obter
eficiência nas atividades realizadas na escola (LIBÂNEO, 2010). Nessa
concepção, existe uma comunicação pautada em regras de cargos, ou
seja, na escola, o diretor tem autonomia para tomar as decisões, e os
demais profissionais precisam seguir as regras e normas estabelecidas
por ele, sem questionar. Sendo assim, não proporciona participação da
comunidade escolar nas tomadas de decisões. Na organização do es-
paço escolar existe uma divisão de tarefas para cada função exercida,
em que se objetiva somente a eficiência do trabalho exercido.

A concepção autogestionária é acondicionada na responsabilidade


coletiva, sem a presença de uma direção centralizada. Nesse contexto,
ocorre a “participação direta e por igual de todos os membros da institui-
ção” (LIBÂNEO, 2010, p. 325). Essa forma de gerir dá ênfase às decisões
coletivas, em que as condições de gestão permitem criar e instituir suas
próprias regras, extinguindo práticas autoritárias, estando todos os en-
volvidos vinculados à responsabilidade coletiva do trabalho.

Assim, a autogestão permite que a comunidade escolar tenha auto-


nomia para gerenciar os recursos administrativos, financeiros e huma-
nos, bem como para buscar propostas de trabalho diferenciadas que
viabilizem os processos educativos. Todavia, autogestão envolve ques-
tões que não condizem com a realidade da sociedade, visto que, para

16 Princípios e métodos de gestão escolar


ocorrer essa prática de maneira efetiva, é necessário também repensar
um projeto de transformação social.

A concepção interpretativa considera, nos processos de organiza-


ção e gestão, os significados subjetivos, as intenções e interações das
pessoas do contexto em questão (LIBÂNEO, 2010). Essa concepção de
gestão está focada em práticas que são construídas subjetivamente,
sendo o espaço educativo uma realidade social que se constrói, ou seja,
prioriza inter-relações que ocorrem na escola em lugar da execução de
tarefas predefinidas, pois elas são definidas e estruturadas no dia a dia,
com base nas relações que se estabelecem diante do trabalho realizado.

A concepção democrático-participativa se dá entre a equipe dire-


tiva, pedagógica e os demais profissionais da escola, incluindo familia-
res e/ou responsáveis dos estudantes, que visam coletivamente tomar
decisões que atendam aos objetivos comuns da instituição de ensino
(LIBÂNEO, 2010). A organização e a gestão nessa concepção requerem
o envolvimento de todos os profissionais da escola nas tomadas de de-
cisões administrativas, financeiras e pedagógicas, em que o diretor é o
profissional responsável por promover ações que vislumbrem práticas
democráticas.

Seguindo essa linha de pensamento, Dourado (2001, p. 23) explica


que “para otimizar os resultados que a escola quer atingir, é importante
estabelecermos coletivamente (com participação dos representantes dos
vários segmentos das comunidades escolar e local) as finalidades e os
objetivos almejados, assim como os procedimentos a serem adotados”.

Portanto, a participação é um elemento essencial para alcançar


uma organização escolar com a premissa de que a tomada de deci-
sões coletiva valida todo o trabalho realizado na escola. Todavia, para
que essa concepção se efetive de modo significativo, é necessário que
cada profissional da escola assuma seu trabalho de maneira compro-
metida e ética e que sua prática pedagógica possa ser expressa no
coletivo escolar.

Outra questão a destacar é que os processos educativos es-


tão constantemente sendo avaliados e (re)planejados diante de
situações que acontecem no dia a dia da escola. Na concepção
democrático-participativa de gestão, considera-se fundamental que
haja questões que perpassem a organização do trabalho pedagógico
– currículo, planejamento e avaliação –, visto que elas são de respon-

Ideias e conceitos sobre gestão escolar 17


Atividade 1 sabilidade do coletivo e do trabalho individual de cada profissional da
A realidade escolar é complexa escola, cujo objetivo é promover ações pedagógicas que garantam a
e, muitas vezes, a equipe gestora todos o direito à educação.
precisa amenizar situações que
podem vir a prejudicar as Assim sendo, é possível considerar que as concepções de gestão ex-
práticas democráticas. Nessa pressam a organização do trabalho nas instituições de ensino. Contu-
perspectiva, o que a equipe
gestora precisa propor para que do, é importante averiguar qual concepção está sendo realizada, com o
as práticas pedagógicas estejam intuito de compreender se o objetivo educacional é proporcionar uma
pautadas na concepção de ges-
educação conservadora ou uma educação que possibilite ações que
tão estabelecida pela instituição
de ensino? visem a uma participação crítica e reflexiva na sociedade na qual o in-
divíduo está inserido.

1.3 Elementos que norteiam a


gestão escolar democrática
Vídeo Para que os processos educativos na gestão escolar democrática
coincidam, sobretudo, com as responsabilidades com relação à educa-
ção escolar, tais ações precisam perpassar os elementos constitutivos
que embasam esse trabalho.

Assim, faz-se necessário que todos os envolvidos nos processos


educativos conheçam e entendam os elementos constitutivos que nor-
teiam o trabalho realizado na escola, para que seja possível preconizar
a democratização do ensino. A Figura 1 esboça os elementos constitu-
tivos da gestão escolar democrática.

Figura 1
Elementos da gestão
escolar democrática Participação

Pluralidade Gestão
democrática Transparência

Autonomia

Fonte: Elaborada pela autora.

18 Princípios e métodos de gestão escolar


Os elementos constitutivos se referem à participação, autonomia,
transparência e pluralidade e, ao serem compreendidos e apreendidos
pela comunidade escolar, concebem o exercício de vivenciar a gestão
escolar democrática.

A participação é o elemento essencial para o exercício da gestão de-


mocrática. Esse elemento envolve a comunidade escolar, que terá vez
e voz quanto às tomadas de decisões que preveem melhorias nos pro-
cessos educativos realizados na instituição de ensino. Dessa maneira,
a participação possibilita dialogar, opinar, assim como promover cons-
cientização e reflexão sobre quais são e como as práticas pedagógicas
são desenvolvidas nesse espaço educativo, a fim de assegurar melhores
condições de garantia do direito à educação. A esse respeito, Dourado
(2003, p. 21) afirma:
o processo de luta pela democratização da gestão escolar passa
pela superação dos processos centralizados de decisão, pela
defesa de uma administração colegiada, na qual as decisões
nasçam das discussões articuladas com todos os segmentos en-
volvidos na escola, pela clareza do sentido político e pedagógico
presente nessas práticas e da sua importância como fenômeno
educativo a ser construído cotidianamente.

A gestão escolar democrática necessita planejar, organizar e mediar


a participação da comunidade escolar para que as necessidades reais da
escola sejam gradativamente supridas. Destacamos que, no setor públi-
co, a comunidade escolar é mais participativa nos processos educativos
do que no setor privado. Nas instituições privadas, a gestão escolar é
compartilhada, porém, é mais centrada na mantenedora da unidade de
ensino e/ou no diretor, pois as propostas também são feitas para que o
processo de ensino apresente bons resultados.

Considerando que a participação coletiva corresponde à práti-


ca pedagógica na gestão escolar democrática, é preciso compreen-
der a importância do elemento constitutivo transparência, pois ele
visa à lisura de todos os processos educativos da escola. Marques
(1990, p. 21) elucida que “a participação ampla assegura a transpa-
rência das decisões, fortalece as pressões para que sejam elas legíti-
mas, garante o controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo,
contribui para que sejam contempladas questões que de outra forma
não entrariam em cogitação”.

Ideias e conceitos sobre gestão escolar 19


Portanto, para que haja transparência, é necessário também uma
participação crítica na organização e no acompanhamento das propos-
tas pedagógicas da escola. A participação permite que a transparência
da gestão ocorra na área administrativa, financeira e pedagógica, em
que a difusão e, consequentemente, a democratização das informa-
ções possibilitam melhores condições de garantir o direito à educação.

Nessa linha de pensamento, a apreensão dos elementos constituti-


vos participação e transparência permite a responsabilização de todos
na construção do trabalho coletivo, assim como proporcionar caracte-
rísticas próprias da instituição de ensino.

Nesse sentido, observa-se o elemento constitutivo autonomia, ex-


plicado por Barroso (1996, p. 17) como
um conceito relacional (somos sempre autónomos de alguém ou
de alguma coisa) pelo que a sua acção se exerce sempre num
contexto de interdependência e num sistema de relações. A au-
tonomia é também um conceito que exprime um certo grau de
relatividade: somos mais, ou menos, autónomos; podemos ser
autónomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a
outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar,
as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se
encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as
suas próprias leis.

A autonomia no interior da escola está relacionada às formas de


agir no dia a dia, que estão pautadas numa concepção de educação.
Atividade 2
Entender esse elemento constitutivo permite que ações e tomadas de
No contexto escolar, é decisões sejam organizadas e planejadas visando propiciar melhores
importante propor práticas
pedagógicas que desenvolvam e condições de efetivação da proposta pedagógica no contexto em que a
fortaleçam todos os envolvidos instituição de ensino estiver inserida.
nos processos educativos, pois
a autonomia da instituição de Nas escolas, esse elemento é vislumbrado mediante a gestão esco-
ensino é relativa. Cabe, então, lar democrática. No entanto, essa autonomia precisa ser compreendida
compreender que ter autonomia
como relativa, ou seja, de modo que a estrutura do trabalho educativo
significa respeitar as disposições
legais, porém, com senso crítico perpasse questões legais dispostas na Constituição Federal, na LDB
e responsabilidade para ressigni- n. 9.394/1996 e nas leis estaduais e municipais que corroboram para a
ficar a ação no dia a dia escolar.
garantia do direito à educação a todos os brasileiros. Trata-se aqui de
Desse modo, como conquistar
a autonomia na escola em uma elucidar as palavras de Libâneo (2010, p. 299):
perspectiva de propor práticas
não convém às escolas ignorar o papel do Estado, das Secreta-
pedagógicas que visem à
formação de um cidadão crítico, rias da Educação e das normas do sistema nem simplesmente
autônomo e participativo? subjugar-se a suas determinações. Também é salutar precaver-se

20 Princípios e métodos de gestão escolar


contra algumas atitudes demasiado sonhadoras de professores Leitura
que acham possível uma autonomia total das escolas, como se Para saber mais sobre
elas pudessem prescindir inteiramente de instrumentos norma- autonomia na escola
pública, sugerimos a
tivos e operativos das instâncias superiores. A autonomia das es- leitura do texto intitulado
colas em face das várias instâncias será sempre relativa. “Autonomia da escola
pública: um enfoque
Assim, a escola usufrui da autonomia que lhe cabe de modo a con- operacional”, de autoria
de Carmen Moreira de
tribuir com práticas pedagógicas que viabilizem a formação de um ci-
Castro Neves.
dadão crítico, participativo, comprometido, responsável e autônomo
NEVES, C. M. de C. In: VEIGA, I. P.
das suas ações diárias dentro e fora da escola. A. Projeto Político-Pedagógico da
escola: uma construção possível. 7.
Para isso, é oportuno destacar o elemento constitutivo pluralidade. ed. Campinas, SP: Papirus, 1998.
A educação no contexto escolar precisa considerar a pluralidade exis-
tente no dia a dia de cada cidadão nas práticas pedagógicas. De acor-
do com Casassus (2002, p. 29), “a educação não é algo que acontece
num vazio social abstrato. Pelo contrário sua existência dá-se num con-
texto sociocultural concreto, o que é de suma importância”. Isto é, nos
momentos de tomadas de decisões, a escola precisa incluir nos proces-
Atividade 3
sos educativos como trabalhar coletivamente a pluralidade, sendo que
a conscientização dessa temática é deflagrada com a Declaração Uni- Os elementos constitutivos
participação, autonomia,
versal dos Direitos Humanos (DUDH), que tem como objetivo respeitar transparência e pluralidade
cada ser humano, considerando suas diferenças. embasam a gestão democrática
escolar. Desse modo, quais ações
Portanto, a discussão sobre esse assunto perpassa o entendimento podem ser realizadas no
das diferenças presentes na sociedade, assim como a reflexão de como contexto escolar para que esses
elementos se consolidem no dia
é possível construir sua identidade na sociedade contemporânea, de a dia da escola?
modo a respeitar a diversidade étnica, racial, sexual, cultural, religiosa
e de gênero, presente no dia a dia.
Rido/Shutterstock

Ideias e conceitos sobre gestão escolar 21


CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contexto educacional brasileiro está organizado com base em um gover-
no democrático. De acordo com essa realidade, faz-se necessário compreen-
der e discutir temas que perpassam o cotidiano das instituições de ensino.
Contudo, não basta apenas elucidar discussões acerca do que é gestão
escolar, concepções de gestão e os elementos que constituem a gestão
escolar democrática, é preciso apreender esses conceitos e colocar a teo-
ria em prática. É imprescindível considerar que todo o trabalho realizado
na escola está impregnado de intencionalidade educativa, mas, principal-
mente, averiguar se essa intencionalidade contribui para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária ou propõe uma educação em que as
ações educativas elucidem a subordinação e a racionalização do trabalho,
desconsiderando as diferenças presentes na formação do ser humano.
Para tanto, vale lembrar que a democracia visa a uma concepção de
gestão democrático-participativa e, para que as práticas pedagógicas
ocorram nessa perspectiva, é preciso discutir e debater o processo edu-
cativo no dia a dia, percebendo nas ações a relação entre teoria e prática.
Quando essas questões que abordam o que é gestão escolar, as con-
cepções de gestão e os elementos que norteiam a gestão democrática
são abordadas no contexto escolar, é possível ressignificar os processos
educativos, considerando a formação integral do estudante, com base na
democratização do ensino.

REFERÊNCIAS
BARROSO, J. O estudo da autonomia da escola: da autonomia decretada à autonomia
construída. In: BARROSO, J. O estudo da escola. Porto: Porto, 1996.
CASASSUS, J. A escola e a desigualdade. Brasília: Plano Editorial, 2002.
DOURADO, L. F. Progestão: como promover, articular e envolver a ação das pessoas no
processo de gestão escolar? Brasília: CONSED, 2001.
DOURADO, L. F. (org.). Gestão escolar democrática: a perspectiva dos dirigentes escolares
da rede municipal de ensino de Goiânia-GO. Goiânia: Alternativa, 2003.
FERREIRA, A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias.
São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
FERREIRA, N. S. C. Formação humana e gestão democrática da educação na atualidade.
Curitiba: Appris, 2017.
FÉLIX, M. de F. C. Administração escolar: um problema educativo e empresarial. São Paulo:
Cortez; Autores Associados, 1985.
GRIGOLI, J. de J. Quatro modelos normativos de democracia representativa: as versões
elitista, liberal, pluralista, participativa e deliberativa. Pensamento Plural, Pelotas, Rio
Grande do Sul, n. 14, p. 113-126, jan./jun. 2014. Disponível em: https://periodicos.ufpel.
edu.br/ojs2/index.php/pensamentoplural/article/view/3239. Acesso em: 16 jun. 2020.

22 Princípios e métodos de gestão escolar


LIBÂNEO, J. C. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2010.
MARQUES, M. O. Projeto pedagógico: a marca da escola. Revista Contexto e Educação, Ijuí,
n. 18, p. 16-28, abr./jun. 1990.
PARO, V. H. Eleição de diretores: a escola pública experimenta a democracia. Campinas:
Papirus, 1996.
PARO, V. H. Administração escolar: introdução crítica. 17. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Cortez, 2012.
SCHNECKENBERG, M. O princípio democrático na atuação do diretor de escola: um estudo
comparativo entre diretores eleitos e reeleitos. Gestão em rede, n. 75, p. 8-14, mar. 2007.
VEIGA, I. P. A. (org.). Projeto político pedagógico da escola: uma construção possível.
Campinas: Papirus, 1995.

GABARITO
1. A equipe gestora precisa propor a todos os envolvidos nos processos educativos mo-
mentos de estudos acerca da concepção de gestão estabelecida pela instituição escolar.

2. Para conquistar a autonomia que proporcione o direito a educação, é importante que


a comunidade escolar compreenda primeiramente como essa autonomia acontece no
contexto escolar democrático, para que então seja possível propor vivências e discus-
sões de como viabilizar esse direito de acordo com a realidade da escola.

3. Os princípios que embasam a gestão democrática escolar estão postos legalmente,


mas quanto maior for o conhecimento com relação a esses pressupostos, maior será
a probabilidade de compreender como os processos educativos precisam acontecer
de modo a consolidar tal concepção de gestão. Portanto, sugerimos que a equipe
gestora da escola organize momentos de estudos e discussões acerca dos princípios
que embasam a gestão democrática, a fim de que as práticas pedagógicas ocorram no
cotidiano escolar com base na teoria proposta.

Ideias e conceitos sobre gestão escolar 23


2
Gestão democrática: aspectos
legais e recursos financeiros
Neste capítulo, abordaremos as legislações vigentes que per-
passam o contexto educacional, devido a elas estarem diretamente
interligadas às concepções de gestão que orientam o trabalho rea-
lizado nas instituições de ensino.
Discutiremos as principais leis que embasam a educação no
Brasil com o intuito de compreender as relações educativas que
ocorrem na escola para garantir os fins educacionais, isto é, a ga-
rantia do direito à educação a todos os brasileiros.
Estudaremos também o que é regimento escolar e sua legalida-
de no cotidiano das instituições de ensino, bem como a importân-
cia da gestão democrática escolar na administração dos recursos
financeiros destinados às escolas.

2.1 Principais leis que embasam a educação


Leis são princípios, preceitos e normas que estabelecem regras a
Vídeo
serem seguidas e, em um regime de governo democrático, têm o obje-
tivo de promover a igualdade de direitos e deveres a todos os cidadãos.

As legislações nacionais existem para organizar ações com o intuito


de construir uma sociedade justa e solidária, considerando o contexto
histórico-econômico-político-étnico-racial apresentado na atualidade.
As legislações educacionais, especificamente, são instituídas para or-
ganizar e estruturar o sistema de ensino brasileiro, de modo a garantir
o direito à educação a todos. Cabe ressaltar que essas legislações são
prescritas no âmbito da educação básica (educação infantil, ensino fun-
damental e ensino médio) e da educação superior (CURY, 2010).

24 Princípios e métodos de gestão escolar


As principais leis que determinam a educação brasileira são instituí-
das pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF) e
pela Lei n. 9.394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), além de decretos, resoluções, pareceres, portarias, instruções e
atos que regulam e regulamentam a estrutura e o funcionamento do
sistema de ensino.

A CF do Brasil foi aprovada em 22 de setembro de 1988 e pro-


mulgada em 5 de outubro do mesmo ano. Ela reconhece que to-
dos os cidadãos brasileiros, independentemente da condição
socioeconômica-política-étnico-racial, têm direitos e deveres. Para que
isso ocorra, todos os cidadãos precisam conhecer tais direitos e deve-
res, a fim de exigi-los e exercê-los (CURY, 2002).

Sendo assim, é por meio da compreensão de como a educação


está disposta no Brasil, bem como do conhecimento das legislações
vigentes, que a comunidade escolar poderá discutir e refletir sobre os
dispositivos legais que embasam o trabalho educativo realizado nas
instituições de ensino, de modo a mobilizar ações que visem à garantia
dos direitos e deveres estabelecidos em lei nacional.

A educação é um direito social, assim instituído no Capítulo III, Se-


ção I da CF (BRASIL, 1988):

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da fa-


mília, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exer-
cício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

O artigo 205 estabelece que a educação é um direito de todos os


cidadãos brasileiros e que ninguém poderá ser excluído desse direito.
A educação deve proporcionar o desenvolvimento pleno do estudante,
assim como a preparação para o exercício da cidadania e qualificação
para o mercado de trabalho.

Entretanto, apesar de o direito ser assegurado em lei, ainda é preci-


so discutir formas em que o direito à educação não esteja relacionado
apenas à oferta de vagas, mas também à permanência dos estudan-
tes na escola e à garantia da promoção do direito à aprendizagem.
Para que a educação se efetive a todos os cidadãos, é preciso averi-
guar questões socioeconômicas que perpassam o contexto brasileiro e
como os princípios podem ser efetivados em uma realidade que apre-
senta desigualdades sociais.

Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 25


Nesse sentido, faz-se necessário demarcar os princípios que
definem como deve ser a educação no Brasil. O artigo 206 da CF
(BRASIL, 1988) institui que:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensa-
mento, a arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexis-
tência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos,
na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente
por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII – garantia de padrão de qualidade;
VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da
educação escolar pública, nos termos de lei federal; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores
considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação
de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de car-
reira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

Os princípios constitucionais embasam a educação e permitem aos


profissionais das instituições de ensino que cumpram, com responsa-
bilidade e comprometimento, o que está disposto na CF de 1988, por
meio de ações democráticas.

Os dispositivos legais que perpassam a educação nacional balizam


a organização das instituições de ensino públicas e privadas, e a LDB
n. 9.394/1996 regulamenta a educação básica e superior. O artigo 2º da
LDB corrobora o artigo 205 da CF de 1988 quando define que: “Art. 2º
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996).

Tanto a CF do Brasil quanto a LDB n. 9.394/1996 preveem que a edu-


cação é dever da família e do Estado, porém, para que a educação con-
tribua efetivamente na formação do estudante e, consequentemente,

26 Princípios e métodos de gestão escolar


na consolidação da cidadania, é preciso que o Estado garanta a todos
os estudantes o acesso, a permanência e a garantia do direito à educa-
ção. À família, cabe o acompanhamento do estudante com relação aos
processos educativos realizados na escola.

Para isso, é importante que a equipe de gestão da escola proponha


ações de participação da família na instituição de ensino, assim como
o Estado precisa instituir políticas públicas com a finalidade de sanar
gradativamente as desigualdades sociais presentes também no contexto
educacional, a fim de garantir melhores condições na formação do es-
tudante para o exercício da cidadania.

É importante, também, mencionar o artigo 3º da LDB n. 9.394/1996,


que coaduna com o artigo 206 da CF:
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu-
ra, o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII – valorização do profissional da educação escolar;
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e
da legislação dos sistemas de ensino;
IX – garantia de padrão de qualidade;
X – valorização da experiência extraescolar;
XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas
sociais;
XII – consideração com a diversidade étnico-racial;
XIII – garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo
da vida. (BRASIL, 1996)

Os princípios dispostos constituem a organização do sistema edu-


cacional brasileiro no que se refere a questões administrativas, pe-
dagógicas, financeiras, à formação dos profissionais da educação, ao
acesso e à permanência dos estudantes nas instituições de ensino,
assim como à existência de práticas que intensificam o processo de
ensino e aprendizagem em uma perspectiva de promover a formação
integral de todos os estudantes.

Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 27


Diante da diversidade apresentada na sociedade brasileira, depreen-
demos a necessidade de as instituições de ensino realizarem ações
educativas que vislumbrem a formação do cidadão, tendo como base
encaminhamentos metodológicos que compreendam o processo de
ensino e aprendizagem de maneira a contemplar os princípios estabe-
lecidos nas legislações educacionais, bem como o respeito à heteroge-
neidade e à individualidade de cada estudante. Essas ações precisam ser
realizadas por todos os envolvidos no contexto escolar, de modo que a
escola, por ser um local de formação do cidadão, possa gradativamente
contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Após a publicação da LDB n. 9.394/1996, alguns decretos e portarias


foram regulamentados em busca de melhorias no campo educacional.
Nesse âmbito, destacamos o Plano Nacional de Educação (PNE), pro-
mulgado pela Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001, com vigência até
2010. As diretrizes do PNE referem-se à articulação e ao desenvolvi-
mento do ensino, desde a erradicação do analfabetismo até a elevação
humanística, científica e tecnológica dos cidadãos brasileiros. Esse pla-
no estabelece a concretização de diretrizes, metas e propostas para a
política educacional brasileira em um período de dez anos.

As diretrizes, metas e propostas estabelecidas pelo PNE surgem da


necessidade de alcançar objetivos educacionais que contemplem a di-
versidade social brasileira. Pautado em princípios democráticos, esse
documento perpassa a educação em todos os níveis e modalidades de
ensino, com base em objetivos a serem cumpridos a curto, médio e
longo prazo.

Salientamos que a implementação do PNE precisa ser acompanha-


da por políticas públicas que corroborem as diretrizes estabelecidas
nesse documento, de modo a contribuir com os demais envolvidos nos
processos educacionais. Portanto, é preciso que todos os cidadãos,
independentemente da condição socioeconômica-política-cultural,
assumam a responsabilidade de colaborar para a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária a favor de todos.

Com relação ao acompanhamento da implementação do PNE, ficou


estabelecido que:
Art. 3º A União, em articulação com os Estados, o Distrito Federal,
os municípios e a sociedade civil, procederá a avaliações periódi-
cas da implementação do Plano Nacional de Educação.

28 Princípios e métodos de gestão escolar


§ 2º A primeira avaliação realizar-se-á no quarto ano de vigência
desta Lei, cabendo ao Congresso Nacional aprovar as medidas
legais decorrentes, com vistas à correção de deficiências e dis-
torções. (BRASIL, 2001)

No entanto, as avaliações do PNE não ocorreram no quarto ano


(SAVIANI, 2009). Em resposta a essa situação, outra medida do Governo
Federal foi a aprovação do Decreto n. 6.094, de 24 de abril de 2007, que
estabelece o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, cujos
objetivos são melhorar a qualidade da educação no Brasil e reduzir as
desigualdades com relação às oportunidades educacionais, garantindo
o direito à aprendizagem. Esse plano é estruturado em 40 programas,
ações e medidas de natureza educacional.

Destacamos que ambos os planos objetivam a qualidade na educa-


ção. A diferença entre o PNE e o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE) é que o primeiro apresenta ações que objetivam o acesso ao ensino,
avanços com relação à formação e valorização dos profissionais da edu-
cação e melhorias na gestão e no financiamento da educação; enquanto
o PDE está mais voltado à oferta e à qualidade da educação em território
nacional, diminuindo as desigualdades sociais por meio da equidade.

Desse modo, no fim do ano de 2010, considerando as dificuldades


apresentadas na efetivação do PNE (2001-2011), foi encaminhada ao
Congresso Nacional uma nova proposta do Plano Nacional de Educação Site
(PNE 2011-2020). Porém, não foi aprovada, pois algumas reflexões a Para que todos os cida-
dãos brasileiros possam
respeito da efetivação das diretrizes ainda precisavam ser discutidas a acompanhar o Plano
fim de efetivar a execução do próximo PNE. Somente em 25 de junho Nacional de Educação, foi
criado o site Observatório
de 2014, a Lei n. 13.005 estabeleceu o novo PNE, válido de 2014 a 2024. do PNE (OPNE), no qual é
possível monitorar as 20
O PNE é estruturado em quatro blocos: o primeiro estabelece as metas e 254 estratégias
metas de garantia ao direito à educação; o segundo, a redução das de- que foram estabelecidas,
além de permitir análises
sigualdades sociais; o terceiro trata da valorização dos profissionais da de como estão ocorrendo
educação; e o quarto bloco destina-se ao ensino superior. Para cada as políticas educacio-
nais instituídas no PNE
meta, são sugeridas estratégias para o cumprimento do que foi estabe- (2014-2024).
lecido (BRASIL, 2014). Disponível em: https://www.
observatoriodopne.org.br/. Acesso
Entre as ações propostas no documento, salientamos a criação de
em: 16 jun. 2020.
uma base comum curricular a todos os estudantes da educação bási-
ca, que já era prevista na CF do Brasil de 1988 e na LDB n. 9.394/1996.
Essa base curricular tem por finalidade garantir a equidade na apren-
dizagem de todos os estudantes, tornando-se um referencial teórico

Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 29


Site
obrigatório para a elaboração dos currículos escolares das instituições
Conheça os principais
marcos do processo de de ensino públicas e privadas.
elaboração da Base Na-
cional Comum Curricular,
A política de elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
desde a Constituição teve início em 2014, com discussões e debates. O processo foi condu-
Federativa do Brasil de
1988 até a última versão.
zido pelo Ministério da Educação (MEC), pelo Conselho Nacional de

Disponível em: http://basenacio-


Secretários de Educação (Consed), pela União Nacional dos Dirigentes
nalcomum.mec.gov.br/implemen- Municipais de Educação (Undime) e pelo Conselho Nacional de Educa-
tacao/pro-bncc/material-de-apoio.
Acesso em: 16 jun. 2020.
ção (CNE). Consequentemente, a construção foi coletiva.

Em 2015, a primeira versão da BNCC foi disponibilizada on-line, para


que os envolvidos no contexto educacional fizessem uma discussão
Leitura preliminar desse documento. A segunda versão foi disponibilizada em

Após o Decreto n. 6.094,


2016, possibilitando a elaboração de pareceres. No ano de 2017, a ter-
documento no qual o ceira versão foi finalizada (BRASIL, 2017).
governo estabeleceu o
Plano de Metas Com- Diante dessa prerrogativa, o CNE apresentou a Resolução CNE/CP
promisso Todos pela Edu-
n. 2, de 22 de dezembro de 2017, e instituiu a implantação da Base
cação, o MEC publicou
o livro intitulado O plano Nacional Comum Curricular em todas as escolas do Brasil até o final do
de desenvolvimento da
ano letivo de 2020.
educação: razões, princí-
pios e programas. A obra
Desse modo, a educação no Brasil está balizada em uma concepção
apresenta os princípios
políticos, os fundamentos de gestão democrático-participativa e vem buscando, nos últimos anos,
teóricos, os métodos edu-
adequar as políticas educacionais, a fim de atender à diversidade social
cacionais e a organização
administrativa da gestão e possibilitar o saber escolar, em uma perspectiva de atender a todos
que presidia o ministério
os cidadãos. Todavia, é necessário que os profissionais da educação
no período em que o livro
foi publicado (2007). tenham conhecimento de tais legislações e que o Governo Federal pro-
Disponível em: http://portal.mec. porcione subsídios para que a educação seja efetivada nos diversos
gov.br/arquivos/livro/livro.pdf. contextos, isto é, as ideias propostas em lei devem ser coerentes com
Acesso em: 16 jun. 2020.
a realidade brasileira.

2.2 Regimento escolar: o que é e para que serve


A concepção de gestão democrática escolar preconizada nos docu-
Vídeo
mentos legais oportuniza a participação da comunidade escolar nos
processos educativos. Todavia, essa participação pressupõe a todos os
envolvidos a responsabilidade e o comprometimento de organizar e
realizar o trabalho escolar de acordo com os dispositivos legais.

30 Princípios e métodos de gestão escolar


Rawpixel.com/Shutterstock
Seguindo essa linha de pensamento, Paro (2001, p. 52) afirma que:
O local em que se realiza a educação sistematizada precisa ser
o ambiente mais propício possível à prática da democracia. Por
isso, na realização da educação escolar a coerência entre os
meios e fins exige que tanto a estrutura didática quanto a or-
ganização do trabalho no interior da escola estejam dispostas
de modo a favorecer relações democráticas. Esses são requisitos
importantes para que uma gestão escolar pautada em princípios Atividade 1
de cooperação humana e solidariedade possa concorrer tanto Os dispositivos legais, como
para a ética quanto para a liberdade, componentes imprescindí- a Lei de Diretrizes e Bases da
veis de uma educação de qualidade. Educação n. 9.394/1996 (LDB),
estabelecem a organização do
Nessa perspectiva, a gestão democrática escolar, legalmente ampara- trabalho educativo realizado na
da pela LDB n. 9.394/1996, dá autonomia às instituições de ensino para escola, assim como os princípios
da educação no Brasil. Apresente
que elaborem e organizem o funcionamento da escola conforme sua lo- quais são esses princípios
calização e realidade, desde que em consonância com a legislação educa- e a finalidade da educação,
cional de ordem nacional, estadual e municipal. conforme estabelecido nesse
dispositivo legal.
Azanha (1995, p. 144-145) expõe como a autonomia precisa aconte-
cer no contexto escolar:
A autonomia não é algo a ser implantado, mas, sim, a ser assu-
mido pela própria Escola. Não se pode confundir ou permitir que
se confunda a autonomia da Escola com apenas a criação de de-
terminadas decisões administrativas e financeiras. A autonomia
escolar não será uma situação efetiva se a própria Escola não
assumir compromissos com a tarefa educativa.

Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 31


Logo, a autonomia da escola é uma possibilidade de fazer escolhas
que atendam ao contexto escolar, propiciando os processos educa-
tivos de maneira responsável e comprometida. O regimento escolar
serve tanto para a documentação quanto para a organização dessas
ações educativas.

O regimento escolar é um documento legal normatizador e orien-


tador do funcionamento e da organização do trabalho educativo rea-
lizado na escola pública e privada. Todas as ações do coletivo escolar
estabelecidas no regimento precisam estar em consonância com as
práticas realizadas nesse espaço educativo.

Essa organização da escola é respaldada legalmente pelo artigo 88


da LDB n. 9.394/1996:
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
adaptarão sua legislação educacional e de ensino às disposições
desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir da data de sua
publicação.
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos e regi-
mentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos respectivos sis-
temas de ensino, nos prazos por estes estabelecidos. (BRASIL, 1996)

Ressaltamos que o regimento escolar pode ser alterado conforme


modificações ocorridas no contexto em que a instituição está inserida,
assim como se ocorrerem mudanças na legislação vigente. É importante
salientar também que esse documento expressa ainda questões pro-
Leitura postas no projeto político-pedagógico da escola, assim como as parti-
A Secretaria de Estado cularidades da instituição, de modo a estabelecer e legitimar as ações
da Educação do Paraná
realizadas nesse espaço educativo. As normas estabelecidas precisam
disponibiliza, no site do
governo, um caderno de estar em consonância com os dispositivos legais que regulamentam a
subsídios para a elabora-
realização dos processos educativos no Brasil.
ção do regimento escolar.
Intitulado Fundamentação Diante do exposto, Vasconcelos (2003, p. 39) esclarece que:
legal para a elaboração do
regimento escolar da edu- a educação escolar tem finalidades, metas, objetivos a serem al-
cação básica, o caderno cançados; não é um processo aleatório. Entendemos que é um
apresenta uma diretriz
para auxiliar na produção
processo que está implícita uma diretividade, que não é, porém,
do documento. estática, nem dogmática, sendo permeada pela interação entre
Disponível em: http://www. os elementos participantes, que devem nele atuar como sujeitos.
educacao.pr.gov.br/sites/
default/arquivos_restritos/files/ O fazer pedagógico apresenta distintas situações e, ao entender as
documento/2019-12/manual_re- finalidades propostas no regimento escolar, as tomadas de decisões
gimento2017.pdf. Acesso em:
16 jun. 2020. diante das singularidades apresentadas no dia a dia escolar serão fun-

32 Princípios e métodos de gestão escolar


damentadas em princípios educacionais respaldados legalmente por
um documento oficial da instituição de ensino.
Por isso, ao elaborar o regimento escolar, é importante atentar aos
itens que compõem esse documento, de modo a atender questões le-
gais e pontuais da instituição de ensino. Para que isso ocorra, as se-
cretarias de educação estaduais e municipais disponibilizam, para as
escolas, um modelo oficial pautado em princípios democráticos. Assim,
as particularidades de cada instituição são discutidas pelo coletivo da
escola e propostas no regimento, que será aprovado pelo conselho
escolar da instituição de ensino e pela Secretaria da Educação. Já nas
escolas privadas o regimento é aprovado pela mantenedora e/ou pela
direção da escola.
Por ser um dispositivo obrigatório e de caráter legal, a elaboração
do texto é fundamentada em bases jurídicas. Os elementos que com-
põem os títulos e capítulos do regimento escolar se referem à identi-
ficação da instituição de ensino, aos princípios e fins da educação e às Atividade 2
especificações sobre a estrutura física, administrativa e pedagógica da
O regimento escolar regulamen-
escola, entre outros itens. ta e normatiza todas as ações
Portanto, compreendemos que o regimento escolar é um documen- realizadas nas instituições de
ensino. Nesse sentido, que ações
to que possibilita a democratização do ensino. Cabe à equipe diretiva a equipe diretiva da instituição
da escola propor a discussão e a reflexão sobre o conteúdo desse docu- de ensino pode oportunizar para
mento, bem como organizar ações educativas que coloquem em prática que o disposto no regimento se
efetive no cotidiano escolar?
os compromissos assumidos coletivamente no regimento escolar.

2.3 Recursos financeiros na escola


Vídeo A gestão de recursos financeiros na escola demanda a administra-
ção do dinheiro que entra e sai da instituição de ensino. Em uma ges-
tão democrática, a transparência é de fundamental importância para
legitimar e priorizar o uso do dinheiro destinado a essa instituição.

Os recursos financeiros precisam ser administrados tanto para a


compra de materiais de consumo permanente quanto para a manu-
tenção da estrutura física e aquisição de recursos didático-pedagógicos
necessários à promoção de espaço físico e ambiente propícios aos pro-
cessos educativos.

Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 33


Para Moreira (1998, p. 169):

“A administração dos recursos financeiros, essencial para a manu-


tenção de um ensino de qualidade, é considerada uma atividade-meio,
pois viabiliza o espaço e as condições materiais de desenvolvimento
do processo de ensino-aprendizagem, embora não defina os objetivos
educacionais”.

Consequentemente, é necessário haver um planejamento com re-


lação ao destino da verba a que a escola tem acesso, a fim de garantir
o seu uso consciente. É fundamental fazer um levantamento das prio-
ridades da instituição de ensino, para que seja possível traçar metas e
realizar ações que contribuam com os processos educativos desenvol-
vidos. Resumidamente, a escola precisa ter planejamento, execução e
controle dos recursos financeiros disponíveis.

Em uma escola com concepção de gestão democrático-participativa,


é preciso fazer reuniões com a comunidade escolar para discutir e de-
cidir coletivamente a gestão do dinheiro em determinado período.
Conforme dito anteriormente, a transparência é necessária e reside
também no fato de que todos os gastos da escola precisam ser organi-
zados com as notas fiscais originais, ou seja, deve haver prestação de
contas dos gastos realizados.

Para a organização dos recursos financeiros, sugerimos a utilização


de recursos tecnológicos, como planilhas do Microsoft Office Excel, nas
quais é possível desenvolver fórmulas para o cálculo automático e exa-
to do fluxo de entrada e saída do dinheiro na instituição de ensino.

Rawpixel.com/Shutterstock

34 Princípios e métodos de gestão escolar


No caso da escola pública, a utilização da verba precisa ainda estar em
consonância com a Lei de Licitação e Registro de Preços (BRASIL, 2020a). Saiba mais
Para o uso dos recursos
Os recursos financeiros são destinados à escola pública tanto de financeiros, as esco-
maneira centralizada quanto descentralizada. O uso da verba centrali- las públicas precisam
seguir os processos
zada é administrado pelo Poder Executivo (governador e prefeito), e a estabelecidos pela lei
escola tem acesso às compras por intermédio do órgão executor (Se- referente a licitações dos
fornecedores, que busca
cretaria Estadual e Municipal da Educação), que a equipa com mesas, evitar o favorecimento de
cadeiras, quadros etc. e faz o pagamento dos profissionais que traba- determinadas empresas
e o desvio das verbas
lham na instituição de ensino. públicas. Obtenha mais
informações sobre a Lei
Com relação à descentralização do uso da verba pública, a legis- de Licitações acessando o
lação educacional prevê o envio de recursos financeiros à escola, de site a seguir.

modo que a gestão escolar tenha autonomia para melhor aplicar o di- Disponível em: https://www.
fnde.gov.br/index.php/acesso-
nheiro recebido. Para isso, a LDB n. 9.394/1996 institui que: “Art. 15 Os -a-informacao/fndegovernanca/
sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de edu- item/9784-licitacao-registro-pre-
cos-perguntas-frequentes. Acesso
cação básica que os integram progressivos graus de autonomia peda- em: 16 jun. 2020.
gógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas
gerais de direito financeiro público” (BRASIL, 1996).

A descentralização financeira permite à escola resolver situações


em que é necessário agilizar a verba, visto que o dia a dia das institui-
ções de ensino é dinâmico e questões sobre como garantir as melhores
condições de desenvolvimento dos processos educativos precisam ser
discutidas constantemente pela comunidade escolar.

Diante dessa situação, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvi-


mento da Educação (FNDE), o MEC criou o Programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE), que encaminha os recursos financeiros às escolas públicas,
viabilizando a autonomia escolar na administração das verbas recebidas.

O PDDE foi criado em 1995, com a finalidade de oferecer assistência


financeira às escolas públicas, contribuindo com a manutenção e me-
lhoria da infraestrutura física e pedagógica da escola. Isso porque o re-
curso financeiro enviado pelo PDDE não pode ser destinado a compras
já financiadas pelo FNDE, como livros didáticos e de literatura enviados
para a escola por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)
e do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) (BRASIL, 2020b).

A Resolução n. 18, de 21 de maio de 2013, dispõe o seguinte sobre a


destinação dos recursos financeiros regulamentados no PDDE:
Art. 2º Os recursos financeiros de que trata o art. 1º serão libe-
rados em favor das escolas nele referidas que possuam Unidade

Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 35


Executora Própria (UEx), devendo ser empregados na implemen-
tação de ações que propiciem condições favoráveis à melhoria
da qualidade de ensino e à transição das escolas para a susten-
tabilidade socioambiental, considerando a gestão, o currículo
e o espaço físico, de forma a tornarem-se espaços educadores
sustentáveis.
§ 1º Para os fins desta Resolução, são considerados espaços
educadores sustentáveis instituições de ensino que desenvol-
vem processos educativos permanentes e continuados, capazes
de sensibilizar a comunidade escolar para a construção de uma
sociedade de direitos, ambientalmente justa e sustentável, fo-
mentando ações que abranjam as dimensões currículo, gestão e
espaço físico e compensem seus impactos ambientais com o de-
senvolvimento de tecnologias apropriadas, de modo a garantir
qualidade de vida às presentes e futuras gerações, na intencio-
nalidade de educarem para a sustentabilidade socioambiental,
tornando-se referência em seu território. (BRASIL, 2013)

Nessa perspectiva, a própria legislação indica a necessidade de uti-


lizar os recursos financeiros de modo a contribuir com os processos
educativos, bem como a conscientizar a comunidade escolar sobre a
sustentabilidade dos bens adquiridos, fomentando uma ação transfor-
madora que reverbere na formação do homem, possibilitando o exer-
cício da sua cidadania de maneira crítica e participativa.
Assim como nas demais instâncias, é fundamental que a comunida-
de escolar participe das decisões do uso da verba recebida pela escola,
visto que essa participação está respaldada legalmente pela concep-
ção de gestão democrática escolar. As reuniões e tomadas de decisões
precisam envolver ainda as instâncias colegiadas, como o Conselho de
Escola e Associação de Pais, Professores e Funcionários (APPF) e/ou
Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF).
Outra questão a destacar é o valor dos recursos financeiros que a
escola pública recebe, o qual é regularizado de acordo com a localiza-
ção regional da instituição e a quantidade de estudantes matriculados.
A Resolução n. 6, de 27 de fevereiro de 2018, estabelece que:
Art. 9 § 3º Os repasses de recursos de que tratam o caput
dar-se-ão em duas parcelas anuais, devendo o pagamento da
primeira parcela ser efetivado até 30 de abril e o da segunda par-
cela até 30 de setembro de cada exercício às EEx, UEx e EM que
cumprirem os requisitos definidos no art. 12 até a data de efeti-
vação dos pagamentos. (BRASIL, 2018)

36 Princípios e métodos de gestão escolar


Nesse sentido, Perrenoud (2000, p. 103, grifos do original) afirma que:
Administrar os recursos de uma escola é fazer escolhas, ou seja, é
tomar decisões coletivamente. Na ausência de projeto comum,
uma coletividade utiliza os recursos que tem, esforçando-se, so-
bretudo, para preservar uma certa equidade na repartição dos
recursos. Por essa razão, se não for posta a serviço de um proje-
to que proponha prioridades, a administração descentralizada
dos recursos pode, sem benefício visível, criar tensões difíceis de
vivenciar, com sentimentos de arbitrariedade ou de injustiça
pouco propícios à cooperação.

Dessa forma, é importante retomar o projeto político-pedagógico


e o regimento escolar, bem como averiguar os objetivos da instituição Atividade 3

de ensino, com a finalidade de elaborar e executar o planejamento Com relação aos recursos
financeiros disponíveis às
financeiro de modo que a escola viabilize ações para garantir o direito instituições de ensino, quais
à educação. ações são pertinentes para
que a gestão da escola destine
Nas escolas privadas, o uso dos recursos financeiros segue regula- a verba de modo transparente?
mentos aprovados nos estatutos e regimentos da instituição de ensino.
Além disso, as instituições são submetidas às legislações dos governos
federal, estadual e municipal quanto ao funcionamento e à utilização
Site
de recursos financeiros, sobre os quais também prestam contas ao po-
O Ministério da Educação
der público. Cabe destacar que, nas instituições privadas, a análise das é o órgão do Poder
Executivo Federal res-
necessidades da escola deve ser tão precisa quanto na pública, pois ponsável pela educação
elas são mantidas por empresas privadas que também prestam contas. no Brasil. Entre os órgãos
vinculados ao MEC, está
Baú e Grisard (2010, p. 31) afirmam: “para que possamos traçar um o Conselho Nacional de
Educação (CNE), órgão
diagnóstico fiel dos principais desafios que as equipes diretivas das normativo que coordena
a política nacional da edu-
instituições de ensino encontram no seu cotidiano, é necessário consi-
cação e as demais políti-
derarmos os riscos envolvidos na condução do negócio e as complexi- cas públicas instituídas no
Brasil, a fim de garantir a
dades deste ramo de atividade”. O planejamento financeiro, tanto nas execução dos dispositivos
instituições privadas quanto nas públicas, é tão importante quanto o legais estabelecidos às
instituições de ensino
planejamento das ações pedagógicas. públicas e privadas. Para
mais informações, acesse
Sabemos que cada escola está inserida em um contexto específico o site a seguir.

e, por isso, é imprescindível o acompanhamento das ações propostas a Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/conselho-nacional-de-e-
fim de garantir o cumprimento legal das responsabilidades financeiras ducacao/apresentacao. Acesso em:
da escola, assim como da responsabilidade pedagógica, previstas nas 16 jun. 2020.

legislações vigentes.

Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 37


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os processos educativos realizados nas instituições de ensino têm
como base as legislações vigentes, especialmente a Constituição Federa-
tiva do Brasil de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
n. 9.394/1996. O trabalho desenvolvido na escola, portanto, precisa ser ba-
lizado na concepção de gestão democrático-participativa preconizada nos
dispositivos legais.
Para que isso ocorra, cada instituição de ensino possui um documento
legal que regulamenta e normatiza todas as ações realizadas na escola:
o regimento escolar. É fundamental que esse documento seja conhecido
por toda a comunidade escolar, a fim de que todos tenham consciência
dos seus direitos e deveres, oportunizando melhores condições de fun-
cionamento e organização dos processos educativos.
Com relação aos recursos financeiros da escola, é preciso planejamen-
to para que as verbas disponíveis priorizem e atendam às necessidades
da instituição de ensino, de modo a contemplar os princípios e as finalida-
des educacionais. Além disso, é necessário o acompanhamento e o moni-
toramento das prestações de conta, que carecem estar em consonância
com o elemento constitutivo transparência, ou seja, a comunidade escolar
precisa ter conhecimento dos gastos realizados pela escola.
Conforme estudamos ao longo deste capítulo, o entendimento dos
dispositivos legais é fundamental para que a gestão democrática escolar
possa garantir o acesso à educação.

REFERÊNCIAS
AZANHA, J. M. P. Educação: temas polêmicos. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
BAÚ, Á. L.; GRISARD, L. A. Gestão escolar integrada: uma proposta de diálogo financeiro e
jurídico. Curitiba: Positivo, 2010.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 16 jun. 2020.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/529732/lei_de_diretrizes_e_bases_1ed.pdf. Acesso em: 16 jun. 2020.
BRASIL. Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 10 jan. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/
l10172.htm. Acesso em: 16 jun. 2020.
BRASIL. Licitação e Registro de Preços. 2020a. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/
index.php/acesso-a-informacao/fndegovernanca/item/9784-licitacao-registro-precos-
perguntas-frequentes. Acesso em: 16 jun. 2020.

38 Princípios e métodos de gestão escolar


BRASIL. Plano Nacional de Educação. OPNE, 2014. Disponível em: http://www.
observatoriodopne.org.br/uploads/reference/file/439/documento-referencia.pdf. Acesso
em: 16 jun. 2020.
BRASIL. Programa Dinheiro Direto na Escola. 2020b. Disponível em: https://www.fnde.gov.
br/index.php/programas/pdde. Acesso em: 25 mar. 2020.
BRASIL. Resolução CNE/CP n. 2, de 22 de dezembro de 2017. Brasília: Conselho Nacional
de Educação, 2017. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2017-
pdf/79631-rcp002-17-pdf/file. Acesso em: 12 abr. 2020.
BRASIL. Resolução n. 6, de 27 de fevereiro de 2018. Brasília: Fundo Nacional De
Desenvolvimento Da Educação, 2018. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.
php/acesso-a-informacao/institucional/legislacao/item/11945-resolu%C3%A7%C3%A3o-
n%C2%BA6,-de-27-de-fevereiro-de-2018. Acesso em: 16 jun. 2020.
BRASIL. Resolução n. 18, de 21 de maio de 2013. Brasília: Fundo Nacional De
Desenvolvimento Da Educação, 2013. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.
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CURY, C. R. J. Direito à educação: direito à igualdade, direito à diferença. Cadernos de
Pesquisa, n. 116, p. 245-262, jun. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/
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MOREIRA, A. M. de A. A gestão dos recursos financeiros na escola. In: VEIGA, I. P. A.;
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Papirus, 1998.
PARO, V. H. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. São Paulo: Xamã, 2001.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
SAVIANI, D. PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação: análise crítica da política do MEC.
Campinas: Autores Associados, 2009.
VASCONCELOS, C. dos S. Para onde vai o professor? Resgate do professor como sujeito de
transformação. São Paulo: Libertad, 2003.

GABARITO
1. A LDB n. 9.394/1996 estabelece que a educação precisa ser ofertada a partir dos
princípios de liberdade e solidariedade humana, e tem como finalidade o desenvol-
vimento pleno do educando, o preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi-
cação para o trabalho.

2. Disponibilizar e informar sobre o regimento escolar são ações que a equipe da gestão
escolar precisa realizar na instituição de ensino, de modo que todos os envolvidos
nos processos educativos conheçam esse documento e que ele esteja presente nas
ações realizadas no dia a dia das escolas.

3. Propor reuniões com as instâncias colegiadas, o conselho da escola e a associação de


pais, professores e funcionários, para que juntos possam elencar as prioridades de
uso da verba na instituição de ensino, respeitando as legislações que destinam o seu
fim, bem como realizar a prestação de contas de modo que todos possam acompa-
nhar a entrada e a saída do dinheiro.

Gestão democrática: aspectos legais e recursos financeiros 39


3
Gestor educacional na
contemporaneidade
Neste capítulo, vamos elucidar e discutir a função do gestor
no contexto escolar contemporâneo. Primeiramente, é importan-
te definir que a atribuição principal do gestor escolar é promover
o engajamento de toda comunidade escolar, de maneira crítica e
participativa, no dia a dia da instituição de ensino.
Para garantir que as ações educativas propostas pelo ges-
tor sejam coletivas e estejam pautadas numa intencionalidade
educativa, é fundamental que todos conheçam a função desse
profissional na instituição. Dessa forma, o gestor escolar poderá
oportunizar ações em que o coletivo escolar participe ativamente
dos processos educativos, responsabilizando todos os envolvidos
no desenvolvimento das ações realizadas na escola.
Nessa perspectiva, compreender a cultura organizacional da
escola é imprescindível para assegurar que a educação escolar
cumpra a função de contribuir para a construção de uma sociedade
mais justa e democrática.

3.1 Perfil do gestor escolar democrático


Vídeo A sociedade brasileira está inserida num contexto pautado em fun-
damentos de um regime de governo democrático. Portanto, é neces-
sário que os cidadãos conheçam os fundamentos estabelecidos na
Constituição da República Federativa (CF) do Brasil de 1988, para que
possam exercer seus direitos e deveres, bem como prestar suas contri-
buições à sociedade.

40 Princípios e métodos de gestão escolar


De acordo com a CF (BRASIL, 1988):
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indis-
solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
V - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição.

Essa Constituição preconiza, portanto, a construção de uma socie-


dade mais justa e igualitária, por meio do povo e de seus representan-
tes, o que requer que todos os cidadãos conheçam os fundamentos
do regime de governo democrático e que as ações sejam respaldadas
no respeito mútuo de um indivíduo para com o outro. Nesse sentido,
o contexto escolar é propício para a compreensão e a prática desses
fundamentos no dia a dia do cidadão.

De acordo com Vasconcellos (2003, p. 39):


para haver encontro educativo é necessário que as pessoas es-
tejam em busca de algo, objetivando alguma coisa e que recipro-
camente essas finalidades possam, de alguma forma, interagir,
ter algo em comum. É neste ser intencional que se insere uma
das dimensões políticas da educação, onde se expressa o com-
promisso, a paixão, o desejo de um homem novo e de uma so-
ciedade nova. É por aqui que passa a força maior que sustenta
o trabalho: é só na medida em que temos uma perspectiva, um
projeto, um desejo, uma esperança, é que continua-
mos na luta.

Tendo isso em vista, consideramos


fundamental a participação de toda a
comunidade escolar nas ações reali-
zadas nas instituições de ensino.
nd3000/Shutterstock

Gestor educacional na contemporaneidade 41


Destacamos também o papel do gestor escolar que, daqui por dian-
te, entenderemos como o diretor da escola, afinal, o gestor é a pessoa
responsável por conduzir a equipe escolar à realização do seu trabalho,
contribuindo com a democratização do ensino.

O perfil do gestor escolar, tanto no setor público quanto no privado,


é caracterizado pelo conhecimento dos aspectos legais, pedagógicos
e administrativos que balizam a concepção de gestão democrática de
modo a promover condições propícias para a realização e efetivação
dos processos educativos desenvolvidos no espaço escolar. Para isso,
Libâneo (2010, p. 332) esclarece que: “o diretor não pode se ater so-
mente às questões administrativas. Como dirigente, cabe-lhe ter uma
visão de conjunto e uma atuação que apreenda a escola em seus as-
pectos pedagógicos, administrativos, financeiros e culturais”.

O gestor escolar precisa ser uma pessoa com autoridade teórica


em âmbitos pedagógico e administrativo, para propor ao coletivo esco-
lar reflexões e discussões a respeito da temática. Mas, além da teoria,
deve ter atitudes democráticas que vislumbrem os fundamentos dos
dispositivos legais, caso contrário, o espaço educativo poderá se tor-
nar um local onde ações ocorram sem intencionalidade educativa e/ou
deslocadas dos fundamentos democráticos.

Nessa perspectiva, Lück (2010, p. 103) esclarece que:


o exercício do poder está associado à tomada de decisão sobre
como agir em relação à realidade escolar, isto porque ela se ma-
nifesta como um poder de influência, uma vez comprometida
com as ações necessárias à sua implementação. Como a tomada
de decisão em si é inócua e só se completa na ação, o poder é
exercido não apenas por se tomar uma decisão, mas também
por ser pôr em prática a decisão tomada.

É necessário que a pessoa que for gerir a escola assuma o com-


promisso de estar em constante processo de formação, de modo que
esse desenvolvimento profissional ocorra tanto teoricamente quanto
na prática, por meio do cotidiano escolar, de forma a considerar os
princípios educacionais estabelecidos em dispositivos legais.

Portanto, as ações realizadas na instituição de ensino devem legiti-


mar os fundamentos estabelecidos na CF do Brasil de 1988 e na LDB
n. 9.394/1996, afinal, a concretização e a consolidação de uma postura
democrática se iniciam no espaço e no ambiente educativo estabeleci-
do na escola.

42 Princípios e métodos de gestão escolar


Nessa perspectiva, Vasconcellos (2019, p. 88) afirma que
uma das raízes do comportamento autoritário é a insegurança:
por falta de fundamentação, de argumento, o indivíduo agride,
usa seu poder de forma dominadora para tentar calar o outro. A
direção deve se qualificar, buscar crescer, se fortalecer também
no conhecimento, para enfrentar os conflitos do cotidiano de
maneira mais qualificada e produtiva. É muito animador quando
a direção, além do estudo próprio, incentiva a equipe a estudar,
pesquisar, inclusive no tempo de trabalho na escola, rompendo
paradigma, anacrônico e dicotômico, de que o horário de traba-
lho é tempo de “prática” e não de “teoria”.

Sendo assim, cabe ao gestor colocar em prática ações educativas


integradas e interativas, gerando reflexões e discussões acerca da
gestão democrática, em que as tomadas de decisões são coletivas, a
fim de fortalecer a democratização do ensino no contexto da realida-
de brasileira.

Algumas ações possíveis são: organizar reuniões administrativas


e pedagógicas para repasses de informações, incentivando e promo-
vendo a participação da comunidade escolar nas tomadas de decisões; Atividade 1
organizar estudos acerca das concepções pedagógicas assumidas no Quais ações o gestor escolar
contexto escolar; acompanhar o planejamento de ensino dos professo- pode colocar em prática na insti-
res; verificar e oportunizar melhores condições técnico-pedagógicas de tuição de ensino para possibilitar
um trabalho educativo coletivo?
realização dos processos educativos, em consonância com os disposi-
tivos legais; acompanhar os professores no atendimento às famílias e/
ou responsáveis dos estudantes; promover momentos de integração e
valorização dos profissionais da escola, entre outras. Atividade 2
É fundamental que o gestor tenha um perfil de pesquisador, moti- O gestor escolar é o profissional
vador e articulador dos processos educativos, conduzindo o funciona- da instituição de ensino que
representa toda a comunidade
mento da escola por meio do trabalho coletivo e propiciando o direito
escolar. Contudo, para ser o
à aprendizagem a todos os envolvidos. Além disso, ressaltamos que articulador do trabalho realizado
esse saber deve ser propagado no cotidiano escolar, de modo que pos- na escola, o gestor precisa
contribuir efetivamente e demo-
turas individualistas ou fragmentadas sobre o agir educacional não se craticamente com os processos
sobressaiam aos processos educativos que envolvem a participação de educativos desenvolvidos nesse
todos na formação do estudante para o exercício da cidadania. espaço. Qual é o perfil que esse
profissional precisa ter para
Ao tecer um panorama sobre o perfil do gestor escolar, é impor- desempenhar com êxito sua
função?
tante lembrar que as escolas públicas, com base em dispositivos legais
próprios dos estados e dos municípios, propõem a eleição de diretores.
O processo eleitoral é uma forma de motivar a participação da comuni-

Gestor educacional na contemporaneidade 43


dade no momento de escolha do gestor, por meio de debates e de dis-
cussões acerca do plano de ação proposto pelo profissional da escola
que almeja essa função.

Nessa perspectiva, é fundamental refletir e discutir sobre o que é


gestão democrática escolar, uma vez que a organização do trabalho
realizado na escola implica a efetivação dos processos educativos, e o
gestor é o principal articulador das ações realizadas na instituição de
ensino. Como esclarece Lück (2006, p. 77): “ao se promover a eleição
de dirigentes, estar-se-ia delineando uma proposta de escola, um estilo
de gestão e se firmando compromissos coletivos para levá-los a efeito
de forma efetiva”.

New Africa/Shutterstock
Diante do exposto, a gestão democrática se dá na instituição de en-
sino no momento em que ocorre o envolvimento de todos nas toma-
das decisões da escola, sendo que essa ação pode ser iniciada com a
eleição de gestores.

Após a eleição de gestores, o profissional eleito pela comunidade


escolar assume um compromisso político-pedagógico diante da co-
munidade que o elegeu, tonando-se corresponsável pela participação,
discussão, reflexão e o acompanhamento dos processos educativos
realizados. Dessa forma, a participação da comunidade escolar vai
além do voto.

44 Princípios e métodos de gestão escolar


Libâneo (2010, p. 328) esclarece que:
Leitura
a participação é o principal meio de assegurar a gestão demo-
crática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da Sugerimos a leitura de
uma pesquisa realizada
escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento
pela revista Nova Escola
da organização escolar. A participação proporciona melhor co- que aponta questões
nhecimento dos objetivos e das metas da escola, de sua estru- relacionadas às principais
formas de eleição de dire-
tura organizacional e de sua dinâmica, de suas relações com a
tores no país, revelando
comunidade, e propicia um clima de trabalho favorável a maior a falta de critérios para
aproximação entre professores, alunos e pais. eleger esse profissional.

Disponível em: https://abrilfun-


Nesse contexto, o processo de eleição dos gestores precisa ser com-
dacaovictorcivita.files.wordpress.
preendido como uma ação que explicita a organização da escola em com/2018/05/como-escolher-um-
-bom-gestor-escolar.pdf.
âmbito político-pedagógico, e não apenas como a eleição de uma pes-
Acesso em: 16 jun. 2020.
soa que centralize as tomadas de decisões.

3.2 Funções e desafios do gestor escolar


Vídeo Conforme vimos, tanto a sociedade quanto as escolas brasileiras es-
tão inseridas num contexto democrático, portanto a gestão da instituição
de ensino está atrelada a dispositivos legais e a concepções de ensino
também democráticas. É necessário, então, que os profissionais da edu-
cação tenham reflexões teóricas e práticas pedagógicas que enfatizem a
construção de uma escola democrática, com abrangência dos espaços e
ambientes educativos e dos profissionais que trabalham na instituição de
ensino, destacando, inclusive, a postura do gestor escolar na condução do
trabalho realizado.

Discussões dessa natureza são elucidadas por Alonso (1988, p. 11),


que afirma que:
repensar a escola como um espaço democrático de troca e pro-
dução de conhecimento é o grande desafio que os profissionais
da educação, especificamente o Gestor Escolar, deverão enfren-
tar neste novo contexto educacional, pois o Gestor Escolar é o
maior articulador deste processo e possui um papel fundamen-
tal na organização do processo de democratização escolar.

A escolha do gestor da escola pressupõe a intervenção e a trans-


formação da realidade social que está posta. O gestor precisa ser o
articulador do que é possível fazer no tempo, nos espaços e nas ações

Gestor educacional na contemporaneidade 45


que envolvem os profissionais da escola, visto que cada um possui uma
Vídeo formação acadêmica e uma história de vida, e ações precisam ser pen-
O Ministério da Educação sadas de modo a contemplar a diversidade desse espaço democrático.
(MEC) organizou uma
série intitulada Fazendo
Sabemos que, em um espaço democrático, há opiniões e argumen-
escola, em que especialis- tos diferentes, assim como conflitos. Diante disso, o gestor escolar
tas discutem propostas
referentes à gestão
precisa se fundamentar numa concepção de educação que incentive
democrática, com base a participação da comunidade escolar nas tomadas de decisões, com
em documentários que
expõem as experiências
respeito às pessoas ao seu redor e à diversidade de opiniões, oportu-
das escolas brasileiras. nizando o diálogo entre todos e mobilizando ações em que as pessoas
Sugerimos assistir ao
vídeo Fazendo escola –
aprendam a ouvir e a expor suas ideias com respeito às outras.
função do diretor, publica-
do pelo canal Eddie Silva,
O gestor escolar precisa articular e intervir nas ideias levantadas,
em que se contextualiza a possibilitando um consenso sobre o que foi discutido, para que as to-
função do diretor escolar.
madas de decisões aconteçam coletivamente, de modo que a intencio-
Disponível em: https://www.you-
nalidade educativa da instituição seja o objetivo final.
tube.com/watch?v=i2G0JkMOi1c.
Acesso em: 16 jun. 2020. A direção da escola, além de uma das funções do processo orga-
nizacional, é um imperativo social. O significado do termo dire-
ção, no contexto escolar, difere de outros processos direcionais,
especialmente os empresariais. Ele vai além da mobilização das
pessoas para a realização eficaz das atividades, pois implica in-
tencionalidade, definição de um rumo educacional, tomada de
posição ante a objetivos escolares sociais e políticos, em uma so-
ciedade concreta. A escola, ao cumprir sua função social de me-
diação, influi significativamente na formação da personalidade
humana; por essa razão, são imprescindíveis os objetivos políti-
cos e pedagógicos. (LIBÂNEO, 2010, p. 330-331)
Rawpixel.com/Shutterstock

46 Princípios e métodos de gestão escolar


Delineia-se, então, a criação de um espaço reflexivo, em que a comu-
nidade escolar amplia o seu olhar sobre as práticas pedagógicas, favore-
cendo os processos educativos de modo coletivo. O trabalho educativo
pode ser constantemente avaliado de maneira reflexiva, crítica e coleti-
va, em que o pensar e o fazer pedagógico cotidiano tornam-se práticas
pedagógicas comprometidas com a garantia do direito à educação.

A função do gestor escolar é organizar a instituição de ensino de


maneira administrativa e pedagógica, para que os processos educati-
vos realizados alcancem os objetivos educacionais estabelecidos nos
documentos legais. Para Libâneo (2010, p. 332):
não se quer dizer com isso que o sucesso da escola reside uni-
camente na pessoa do diretor ou em uma estrutura administra-
tiva autocrítica – na qual ele centraliza as decisões. Ao contrário,
trata-se de entender o papel do diretor como o de um líder coo-
perativo, o de alguém que consegue aglutinar as aspirações, os
desejos, as expectativas da comunidade escolar e articula a ade-
são e a participação de todos os segmentos da escola em um
projeto comum.

O esforço do gestor escolar em propor ações democráticas é um


meio para se atingir os objetivos educacionais, mas não é um fim em
si mesmo. É fundamental que todos os profissionais da escola sejam
participativos e envolvidos com a educação, a fim de garantir a aprendi-
zagem de todos os estudantes, dentro e fora da escola. Nesse prisma, a
educação, no contexto escolar, contribui com a formação do estudante
para o exercício da cidadania no seu dia a dia.

Como elucida Vasconcelos (2019, p. 88, grifos do original), “a gran-


de tarefa da direção, numa perspectiva democrática, é fazer a escola
funcionar pautada num projeto coletivo”. Nesse aspecto, a divisão de
funções na escola se configura como uma organização do trabalho pe-
dagógico, em que é fundamental a troca de experiências e a colabora-
ção e o engajamento de todos na realização de práticas democráticas.

Nesse sentido, o trabalho educativo coletivo envolve questões como:


compreender a realidade brasileira, a estrutura e o funcionamento do
sistema educacional; conhecer o contexto socioeconômico da escola e
a comunidade escolar e para quem se destinam os processos escola-
res. Para além dessas questões, é necessário propor soluções para as
situações-problema existentes nesse espaço de formação do cidadão.

Gestor educacional na contemporaneidade 47


As condições objetivas precisam ser expostas na gestão da institui-
ção de ensino. Para isso, a gestão democrática escolar deve apresentar
possibilidades e desafios que precisam ser enfrentados para que as
práticas pedagógicas democráticas se consolidem gradativamente.

De acordo com Libâneo (2010, p. 382-383):


existem, assim, objetivos e processos de decisão compartilha-
dos, mas não há ausência de direção; ao contrário, admite-se a
conveniência de canalizar a atividade das pessoas para objetivos
e executar as decisões, considerando, de um lado, a necessidade
de realizar com eficácia as tarefas, de cumprir os objetivos, de
obter resultados, de fazer a organização funcionar e de realizar
avaliações; e, de outro, a necessidade de coordenar o traba-
lho das pessoas, de assegurar um ótimo clima de trabalho, de
enfrentar e superar os conflitos, de propiciar a participação de
todos nas decisões, em discussão aberta e pública dos fatos, com
confiança e respeito aos outros.

Portanto, numa concepção de gestão democrático-participativa, é


fundamental que a comunidade escolar possa contribuir com respon-
sabilidade e comprometimento para a construção de uma sociedade
mais justa e igualitária. Para isso, é necessário estabelecer coletivamen-
te diretrizes de trabalho, com o intuito de proporcionar condições e
melhorias constantes para a realização das ações propostas na insti-
tuição de ensino.

Nessa linha de pensamento, é preciso averiguar constantemente as


necessidades formativas dos profissionais da escola, assim como as in-
cumbências relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem dos
estudantes. Daí decorre o dimensionamento da função do gestor, no
momento que promove discussões no interior da escola. Essa ação vai
além da participação, pois justifica aqui a necessidade de o gestor escolar,
assim como os demais envolvidos na formação do estudante, conhecer
os dispositivos legais e as concepções que embasam a educação numa
perspectiva de gestão democrática, bem como de assumir coletivamente
a responsabilidade de colaborar com processos educativos democráticos.

O modo como os processos educativos estão sendo efetivados no in-


terior da escola precisa ser amplamente divulgado, para que seja possí-
vel propor ações educativas que contemplem a todos os envolvidos. Com
isso, objetiva-se transformar a escola num espaço educativo formativo
não apenas para os estudantes, mas para toda a comunidade escolar.

48 Princípios e métodos de gestão escolar


O grande desafio do gestor escolar é fazer com que a concepção Atividade 3
de gestão democrática participativa se materialize no cotidiano escolar
Considerando que a cultura
sem fragmentar o processo educativo, buscando práticas pedagógicas organizacional da escola se
que perpassem a intencionalidade pedagógica. O avanço para o traba- constrói no dia a dia, qual
é a concepção educativa
lho coletivo está em reconhecer a responsabilidade e o comprometi-
que precisa estar atrelada à
mento de todos com relação à ação pedagógica democrática. gestão da escola?

3.3 Cultura organizacional no cotidiano escolar


Vídeo A escola, para além da organização por meio de dispositivos le-
gais, apresenta particularidades em sua composição. A cultura orga-
nizacional da escola apresenta-se de acordo com as especificidades da
realidade social que compõem a instituição de ensino e as políticas es-
tabelecidas nesse contexto.

Daí a importância de se entender como proceder no dimensiona-


mento do trabalho educativo realizado na escola, diante das diversida-
des socioeconômicas-culturais apresentadas nesse espaço educativo.
Para Teixeira (2002, p. 41):
apesar de se estruturarem de modo semelhante, as escolas aca-
bam por diferenciar-se, constituindo identidades próprias, cul-
turas escolares nas quais os grupos vivenciam diferentemente
códigos e sistemas de ação. A cultura interna das escolas varia
como resultado da negociação que dentro delas se dá entre as
normas de funcionamento determinadas pelo sistema e as per-
cepções, os valores, as crenças, as ideologias e os interesses ime-
diatos de administradores, professores, funcionários, alunos e
pais de alunos.

Diante desse quadro, é fundamental que posicionamentos reflexivos


e críticos sejam instaurados no espaço educativo a fim de compreen-
der suas especificidades, assim como para possibilitar a construção de
uma proposta pedagógica e de processos educativos embasados numa
concepção de gestão democrático-participativa.

Sabemos que a realidade social da escola pode ser mudada confor-


me as ações são realizadas em conjunto e, para isso, é preciso fortalecer
o trabalho coletivo. Portanto, a construção de uma escola democrática
é uma forma de contribuir com a construção de uma sociedade mais
justa e democrática.

Gestor educacional na contemporaneidade 49


De acordo com Lück (2010, p. 30-31):
a participação em sentido pleno é caracterizada pela mobilização
efetiva dos esforços individuais para a superação de atitudes de
acomodação, de alienação, de marginalidade, e reversão desses
aspectos pela eliminação de comportamentos individualistas,
pela construção de espírito de equipe, visando a efetivação de
objetivos sociais e institucionais que são adequadamente enten-
didos e assumidos por todos.

Assim, o conhecimento sobre a cultura organizacional da escola é


marcado por concepções burocráticas e hierárquicas que precisam
ser superadas com a concepção da gestão democrático-participativa.
Nessa linha de pensamento, Paro (2012, p. 212) elucida que: “a ‘coor-
denação’ do esforço de funcionários, professores, pessoal técnico-
-pedagógico, alunos e pais, fundamentada na participação coletiva, é
de extrema relevância na instalação de uma administração democráti-
ca no interior da escola”.

O gestor escolar precisa propor reuniões coletivas nas quais a


comunidade escolar possa discutir, sugerir e apresentar situações
emergenciais e propor ações a fim de garantir melhores condições de
realização dos processos educativos. Conforme Paro (2012) nos alerta,
é preciso que haja representatividade autêntica nesses processos, por
isso a responsabilidade nas tomadas de decisões deve ser de todos, e
não centralizada em uma única pessoa.

Nesse sentido, é preciso pensar na cultura organizacional do coti-


diano escolar, pois é um processo de construção que envolve aspec-
tos que atendam aos diferentes grupos que compõem a instituição de
ensino. De acordo com Costa (1996, p. 81), “os indivíduos não são nem
elementos mecânicos, nem sujeitos passivos, mas detêm interesses de
ordem diversa – pessoais, profissionais e políticos – e procuram realizá-
-los através das organizações”.

Assim, a instituição de ensino, como um espaço social educativo,


precisa reconhecer a necessidade de discussão sobre como a cultu-
ra organizacional da escola interfere nos processos educativos rea-
lizados nesse local e, consequentemente, na formação do cidadão.
Isso pressupõe que discussões acerca da estruturação do trabalho
pedagógico realizado na escola transpassem a cultura dos profis-
sionais da educação, bem como a cultura escolar presente nesse
espaço educativo.

50 Princípios e métodos de gestão escolar


Para Dourado (2006, p. 59):
construir uma nova lógica de gestão, que conte com a partici-
pação da sociedade e dos atores diretamente envolvidos com a
prática pedagógica, implica rever o modelo adotado pelos siste-
mas públicos, cuja estruturação e funcionamento vivem até hoje
características de um modelo centralizador.

A educação escolar se desenvolveu em diferentes momentos histó-


ricos, e isso se reflete nos dias de hoje. Todavia, sabemos que a crítica
elucida pensamentos e ações que precisam ser considerados nos pro-
cessos educativos desenvolvidos na escola.

Para Ferreira (2003, p. 37), é necessário:


repensar as estruturas de poder autoritário que permeiam as re-
lações sociais e as práticas educativas, a fim de construirmos co-
letivamente, na escola e na sociedade e em todos os espaços do
mundo, uma nova ética mais humana e solidária. Uma nova ética
que seja o princípio e o fim da gestão democrática da educação
comprometida com a verdadeira formação para a cidadania.

Sabemos que a realidade social vinculada à escolar é complexa.


A instituição de ensino tem o desafio de superar essa complexidade na
medida em que os preceitos da concepção da gestão democrático-par-
ticipativa são trilhados de acordo com os dispositivos legais, a fim de
garantir o direito à educação – exigência estabelecida nas políticas edu-
cacionais – e o exercício da cidadania para além dos muros da escola.

Portanto, cabe à escola promover a reflexão sobre ideias e con-


ceitos preestabelecidos em relação aos processos educativos, para,
quando necessário, quebrar paradigmas. A construção de uma escola
democrática se dá por meio de pesquisas, discussões, reflexões, crí-
ticas e diálogo, e as práticas pedagógicas podem se transformar gra-
dativamente, vislumbrando o respeito mútuo entre todos, diante da
diversidade apresentada.

Estrela (2003, p. 57) esclarece que: “tornar a escola um espaço dia-


lógico de construção de identidades implica, como tem sido repetida-
mente notado, que a escola se torne uma organização democrática e
participativa, aberta ao meio e dotada de um sentido de comunidade e
da sua relação com a comunidade”.

A escola é um espaço social de formação do cidadão, em que os


processos educativos envolvem as interações sociais na instituição de

Gestor educacional na contemporaneidade 51


Filme ensino. Quando essas relações são conscientes, podemos atingir uma
Sugerimos assistir ao perspectiva crítica de trabalho educativo, visto que o comportamento e
filme Duelo de Titãs, que
retrata um contexto de as opiniões das pessoas contribuem para a formação cidadã.
preconceitos raciais entre
jogadores de um time Portanto, analisar o contexto institucional é fundamental para a
de uma escola de ensino compreensão do dimensionamento das mudanças que precisam acon-
médio, em Alexandria,
no estado da Virgínia, tecer no espaço educativo. Rever a cultura organizacional da escola
Estados Unidos. Na requer identificar e reconhecer as mudanças necessárias, a fim de pro-
história, a diretora da es-
cola é forçada a integrar porcionar melhores condições de funcionamento à instituição.
adolescentes negros a
um colégio só de bran-
É preciso ter um posicionamento crítico e reflexivo para compreen-
cos. Para isso, contrata der a diversidade presente no contexto escolar e propor os avanços
um técnico negro, que
conquista o respeito de
necessários no campo educacional. As mudanças e as informações, na
todos e se torna um gran- atualidade, ocorrem muito rapidamente e de forma significativa, per-
de exemplo para o time
e para a pequena cidade
passando questões sociais, econômicas, políticas e culturais, por isso
em que vive. esse movimento de discussão precisa ser constante e coletivo. Conhe-
Direção: Boaz Yakin. EUA: Walt cer as particularidades da escola implica colocar em prática estratégias
Disney Productions, 2000.
pedagógicas que atendam a determinada realidade escolar, fundamen-
tadas na concepção de ensino de gestão democrático-participativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contexto das escolas brasileiras é marcado por desigualdades
sociopolítico-econômica-culturais. Todavia, o conhecimento oportuni-
zado na escola, por meio de ações pedagógicas intencionais, possibilita
discutir essa situação com base nos fundamentos legais de um gover-
no democrático.
Para isso, é fundamental que todos os profissionais que compõem a
instituição de ensino participem constantemente de cursos de formação
continuada, com o intuito de ampliar seu repertório teórico e prático para
o trabalho e a participação na tomada de decisões no contexto escolar.
Constantes estudos, reflexões críticas, teóricas e práticas acerca da edu-
cação na atualidade são essenciais para propiciar a construção de uma
escola democrática.

REFERÊNCIAS
ALONSO, M. O papel do diretor na administração escolar. Rio de Janeiro: Bertand Brasil,
1988.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 20 mar. 2020.

52 Princípios e métodos de gestão escolar


COSTA, J. A. Imagens organizacionais da escola. Lisboa: Asa Editores II, 1996.
DOURADO, L. F. Gestão da educação. Brasília: Universidade de Brasília, Centro de Educação
a Distância, 2006.
ESTRELA, M. T. A formação contínua entre a teoria e a prática. In: FERREIRA, N. S. C. (org.).
Formação continuada e gestão da educação. São Paulo: Cortez, 2003.
FERREIRA, N. S. C. Formação continuada e gestão da educação no contexto da “cultura
globalizada”. In: FERREIRA, N. S. C. (org.). Formação continuada e gestão da educação. São
Paulo: Cortez, 2003.
LIBÂNEO, J. C. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2010.
LÜCK, H. A gestão participativa na escola. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
LÜCK, H. Gestão educacional: uma questão paradigmática. São Paulo: Vozes, 2006.
PARO, V. H. Administração escolar: introdução crítica. 17. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez,
2012.
TEIXEIRA, L. H. G. Cultura organizacional e projeto de mudança em escolas públicas. São
Paulo: Autores Associados, 2002.
VASCONCELLOS, C. dos S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político
pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 16. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2019.
VASCONCELLOS, C. dos S. Para onde vai o professor? Resgate do professor como sujeito de
transformação. São Paulo: Libertad, 2003.

GABARITO
1. O gestor escolar precisa apresentar ações educativas que demonstrem ao coletivo
escolar o domínio teórico da função que exerce. Além disso, é preciso despertar e
contagiar a comunidade escolar com práticas pedagógicas que promovam um apren-
dizado constante, com base em desafios educacionais presentes na instituição de en-
sino, vislumbrando que o trabalho coletivo representa, direta e indiretamente, um
agir democrático. Sendo assim, as ações podem estar relacionadas à organização de
reuniões técnico-pedagógicas que possibilitem a participação da comunidade escolar
nas tomadas de decisões, desenvolvendo o diálogo, a escuta e o respeito diante das
opiniões contrárias das pessoas envolvidas; proporcionar momentos de interação e
valorização entre os profissionais da escola; acompanhar os professores em reuniões
específicas com os familiares e/ou responsáveis dos estudantes, entre outras ações
educativas que visem à garantia do direito à educação.

2. O gestor escolar precisa ser pesquisador, buscando alinhar os princípios que emba-
sam a gestão democrática escolar ao cotidiano escolar, além de ter consciência crítica
da sua função, incentivando e motivando a participação de todos nas tomadas de de-
cisões, de modo que as escolhas ocorram em prol da garantia do direito à educação.

3. A cultura organizacional da escola precisa estar atrelada à concepção de gestão


democrático-participativa, de modo que as ações atendam à especificidade da escola.
O trabalho pedagógico deve ser realizado por meio da tomada de decisões coletiva, a
fim de garantir o direito à educação mediante práticas democráticas.

Gestor educacional na contemporaneidade 53


4
Possibilidades no
contexto escolar
Este capítulo tem como base a reflexão sobre o direito à edu-
cação e a função social da escola. Para tanto, inicialmente, é pre-
ciso destacar que é função da gestão escolar promover práticas
pedagógicas que vislumbrem a formação e o exercício da cidada-
nia do estudante. Nesse sentido, veremos algumas possibilidades
no contexto escolar.
Sabemos que a participação efetiva de todos os envolvidos
nos processos educativos contribui para a organização do tra-
balho pedagógico alicerçado em uma concepção de gestão de-
mocrático-participativa. Portanto, uma das práticas democráticas
que precisam realizadas na escola é a elaboração coletiva do pro-
jeto político-pedagógico (PPP), documento que norteia o trabalho
educativo da instituição de ensino. Por isso, é fundamental que
as ações educativas sejam realizadas com base em propostas
estabelecidas coletivamente, assegurando que o PPP tenha fins
pedagógicos, e não apenas burocráticos.
Outra possibilidade de prática pedagógica ocorre por meio da
ação dos órgãos colegiados, que garantem a participação efetiva
da comunidade escolar na tomada de decisões coletivas, vislum-
brando que os processos educativos ocorram na instituição de
ensino, a fim de garantir e efetivar o direito à educação a todos,
conforme estudaremos adiante.

54 Princípios e métodos de gestão escolar


4.1 A educação como direito
Vídeo A educação é fundamental para o desenvolvimento do cidadão e
é um direito assegurado pela Constituição Federativa (CF) do Brasil
de 1988. Além de assegurar o acesso e a permanência do estudante
na escola, a Constituição prevê o desenvolvimento integral dos indi-
víduos por meio da educação, para além dos muros da escola, pos-
sibilitando ao estudante poder viver de modo digno na sociedade na
qual está inserido.

Ressaltamos que os direitos fundamentais são aqueles relacionados


ao ser humano, cuja essência e razão são vislumbradas na Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH). De acordo com a Organização
das Nações Unidas (ONU, 2020):
os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres hu-
manos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia,
idioma, religião ou qualquer outra condição. Os direitos huma-
nos incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião
e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e mui-
tos outros. Todos merecem esses direitos, sem discriminação.

Esses direitos foram elaborados com o intuito de promover a paz


entre os seres humanos, vislumbrando o reconhecimento à proteção
da dignidade humana, considerando as características particulares na-
cionais e regionais de cada país. É necessário discuti-los coletivamente,
a fim de propor condições necessárias para que todo ser humano –
todas as pessoas que compõem a sociedade – possa se desenvolver
integralmente de maneira mais justa e igualitária.

O artigo 1º da DUDH estabelece que: “todos os seres humanos nas-


cem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade” (ONU, 2009, p. 4). A DUDH preconiza, ainda, que os ho-
mens e as mulheres precisam ser valorizados como seres humanos e
que são iguais por natureza.

Nesse sentido, Bobbio (2004, p. 11) esclarece que os direitos preci-


sam ser assegurados e protegidos, e não apenas fundamentados, pois:
uma coisa é proclamar esse direito, outra é desfrutá-lo efeti-
vamente. A linguagem dos direitos tem indubitavelmente uma
grande função prática, que é emprestar uma força particular às
reivindicações dos movimentos que demandam para si e para os

Possibilidades no contexto escolar 55


outros a satisfação de novos carecimentos materiais e morais;
mas ela se torna enganadora se obscurecer ou ocultar a diferença
entre o direito reivindicado e o direito reconhecido e protegido.

Portanto, para que os direitos humanos sejam garantidos, políticas


públicas precisam ser propostas para que as desigualdades sociais
sejam superadas gradativamente, de maneira que os esforços para a
efetivação dessa garantia sejam coletivos. Entretanto, à medida que
transformações ocorrem no contexto socioeconômico e político, situa-
ções específicas surgem, e novas políticas devem ser propostas para
que tais direitos sejam supridos.

Com base nisso, refletiremos sobre a educação como um direito


fundamental ao ser humano. De acordo com o artigo 26 da DUDH:
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratui-
ta, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instru-
ção elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional
será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta ba-
seada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento
da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos
direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução
promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as ativida-
des das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instru-
ção que será ministrada a seus filhos. (ONU, 2009, p. 14)

Assim, independentemente das condições socioeconômicas do ci-


dadão, a educação é um direito humano que precisa ser garantido e
efetivado com oportunidade a todos, de acordo com o contexto his-
tórico vivenciado por cada indivíduo, promovendo a paz, o respeito à
diversidade e à solidariedade.
Em nosso país, o direito à educação é reconhecido da seguinte for-
ma na CF do Brasil de 1988, capítulo 1º, artigo 205: “a educação, direito
de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho” (BRASIL, 1988).

56 Princípios e métodos de gestão escolar


Logo, cabe ao Estado viabilizar a educação,
igualitariamente e equitativamente, a todos os
cidadãos, não somente atendendo à sua obriga-
toriedade, mas averiguando as condições reais de
como esse direito será efetivado no cotidiano esco-
lar e no contexto social de cada criança. Além disso,
o Estado deve proporcionar o acesso, a permanência e
a efetividade no processo de aprendizagem do estudante.
Rido/Shutterstock
Jamil Cury (2014, p. 66) afirma:
o direito à educação parte do reconhecimento de que o saber
sistemático é mais do que uma importante herança cultural.
Como parte da herança cultural, o cidadão torna-se capaz de
se apossar de padrões cognitivos e formativos pelos quais tem
maiores possibilidades de participar dos destinos de sua socie-
dade e colaborar na sua transformação.

Consequentemente, o direito à educação também está relacionado


à capacidade da instituição de ensino em investir no desenvolvimento
pleno do estudante por meio do saber escolar, com práticas pedagógicas
que estimulem a pensar e agir criticamente. A atual Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) n. 9.394/1996, artigo 22, institui que:
“a educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegu-
rar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e
fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”
(BRASIL, 1996).

Compreendemos, então, que a educação é um direito de todos e é


dever do Estado e da família viabilizá-la. Desse modo, cabe ao Estado
a responsabilidade e o comprometimento com a garantia dos direitos
do ser humano, da formação do cidadão, provendo espaços educati-
vos adequados, equipamentos necessários e profissionais preparados
para essa missão.

4.2 Função social: a razão da escola


Vídeo Paulo Freire (2000) afirma que a escola é um espaço privilegiado
de formação do homem. Essa afirmação embasa o reconhecimento de
que a função social da escola é promover a aquisição e a produção do
conhecimento historicamente adquirido, bem como propiciar práticas
pedagógicas que permitam ao estudante o exercício da cidadania
na sociedade.

Possibilidades no contexto escolar 57


Para Sousa (2013, p. 154):
desse ponto de vista e tendo clareza da especificidade de sua
proposta, a escola pode ousar rumo a perspectivas mais críticas
e voltadas para a formação de um homem que, assumindo suas
referências espaçotemporais, ou seja, sua historicidade, posicio-
na-se como agente transformador, capaz de imprimir um caráter
humanizador às estruturas sociais.

Portanto, cabe à escola assumir a sua função social diante da so-


ciedade, propondo, intencionalmente, situações em que os estudantes
vivenciem o agir democrático, oportunizando o exercício da escuta e
atribuindo voz aos estudantes. Além disso, a escola existe para oportu-
nizar o acesso à cultura letrada a todos os homens, visto que a socie-
dade contemporânea considera a aquisição do código de escrita como
condição mínima de exercício da cidadania.

De acordo com Saviani (2008, p. 15):


a escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos
que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como
o próprio acesso aos rudimentos desse saber. As atividades da
escola básica devem se organizar a partir dessa questão. Se cha-
marmos isso de currículo, poderemos então afirmar que é a par-
tir do saber sistematizado que se estrutura o currículo da escola
elementar. Ora, o saber sistematizado, a cultura erudita, é uma
cultura letrada. Daí que a primeira exigência para o acesso a esse
tipo de saber é aprender a ler e escrever. Além disso, é preciso
também aprender a linguagem dos números, a linguagem da na-
tureza e a linguagem da sociedade. Está aí o conteúdo fundamen-
tal da escola elementar: ler, escrever, contar, os rudimentos das
DGLimages/Shutterstock ciências naturais e das ciências sociais (história e geografia).

Para tanto, a gestão da escola precisa reali-


zar ações em que os processos educativos se
deem por meio de situações contextualiza-
das significativas para os estudantes. Isso
revela que é preciso reconhecer a reali-
dade, a diversidade, as particularidades
e singularidades da própria instituição
de ensino, fazendo com que o saber
escolar atenda às diferentes fases e
realidades da vida do estudante.

58 Princípios e métodos de gestão escolar


A gestão deve propiciar a todos os envolvidos reflexões e análises
sobre os processos educativos e a compreensão das diferenças pre-
sentes nesse espaço, realizando atividades que concebam a cidadania
como direito de todos. É importante que os envolvidos nos processos
educativos assumam coletivamente o compromisso pedagógico e a
responsabilidade de formar um cidadão mais crítico e participativo,
para que o direito à educação aconteça em uma perspectiva democrá-
tica e inclusiva.

Conforme Jamil Cury (2014, p. 66-67):


a educação escolar, ainda que imprescindível, participa dos
sistemas sociais, mas ela não é o todo destes sistemas. As de-
sigualdades sociais que perpassam a escola são características
de sistemas sociais excludentes. Estão nela, mas não nascem
dela. Lutar pelo fim da desigualdade social e das discriminações
de qualquer natureza não é exclusividade da educação escolar.
Contudo, dentro de seus limites, a escola possibilita um espaço
de transmissão de conhecimentos e de convivência social ten-
dentes a assinalar um projeto de sociedade menos desigual. Ela
auxilia na eliminação das discriminações e, nesta medida, abre
espaço para outras modalidades mais amplas de emancipação.

Com isso, é necessário que a escola seja espaço de constantes


discussões e diálogos, com o intuito de fomentar análises críticas sobre
o contexto sociopolítico e econômico do país, bem como sobre os proble-
mas ambientais, além de buscar alternativas para que os interesses educa-
cionais previstos em lei sejam concretizados. Nessa linha de pensamento,
é preciso propor práticas pedagógicas que favoreçam a participação crítica
e reflexiva dos estudantes no contexto em que eles estão inseridos.

As ações educativas devem favorecer a apreensão dos saberes es-


colares, vislumbrando as práticas sociais democráticas. Para isso, a es-
cola pode propor discussões com questionamentos sobre notícias da
atualidade, gerando um debate em que os estudantes poderão expor
Atividade 1
seus conhecimentos e emitir suas opiniões, argumentando crítica e res-
peitosamente, de modo a viabilizar possíveis soluções com relação a A diversidade social está pre-
sente nas instituições de ensino.
determinado assunto. Com a compreensão de que
todos os estudantes têm direito à
Para que tudo isso ocorra, é fundamental que o gestor promova
educação, quais ações podem ser
momentos coletivos de reflexão, com participação da comunidade es- propostas na escola para que os
colar, sobre questões legais e teóricas que prenunciem avanços quanto processos educativos promovam
a eles o direito de ser cidadão?
à garantia do direito à educação.

Possibilidades no contexto escolar 59


De acordo com Veiga (2013, p. 11-12) :
Filme a escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu
O filme Entre os muros projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho
da escola retrata a com- pedagógico com base em seus alunos. Nessa perspectiva, é fun-
plexidade da realidade damental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar
escolar, possibilitando
uma reflexão sobre como
que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa,
é possível agir pedagogi- mas que lhe deem as condições necessárias para levá-la adiante.
camente diante da diver-
sidade e dos problemas. Diante dessa premissa, refletimos mais uma vez sobre a importân-
Direção: Laurent Cantet. França: cia da comunidade escolar na tomada de decisões relacionadas aos
Sony Pictures Classics/Imovision, processos educativos. Sugestões, opiniões, intervenções pedagógicas,
2008.
estratégias, encaminhamentos metodológicos, entre outros, devem
ser propostos coletivamente, com o intuito de consolidar o direito à
educação como direito humano, formando cidadãos que reconheçam
e possam exigir seus direitos e deveres.

4.3 Projeto político-pedagógico como fio


condutor do trabalho na escola
Vídeo As orientações relacionadas à gestão democrática escolar, nos últi-
mos anos, são de que as práticas pedagógicas sejam definidas em dis-
cussões e decisões coletivas. Assim, é preciso compreender que toda
prática pedagógica acontece com base em teorias que conduzem os
processos educativos, com o objetivo de garantir o direito à educação.

Para isso, reflexões acerca dos processos educativos precisam acon-


tecer no interior da escola, com o propósito de que objetivos e metas
educacionais sejam reconhecidos e todos assumam coletivamente a res-
ponsabilidade e o compromisso pedagógico com a formação do estudante.
fizkes/Shutterstock

60 Princípios e métodos de gestão escolar


O projeto político-pedagógico (PPP) é o documento que rege a in-
tencionalidade educativa da instituição escolar e conduz a organização
do trabalho pedagógico realizado na escola.
Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além de um
simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diver-
sas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arqui-
vado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova
de cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vi-
venciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o
processo educativo da escola. (VEIGA, 2013, p. 12-13)

Isso evidencia a necessidade do envolvimento e comprometimento de


todos na realização do trabalho pedagógico, em que a relação entre teoria
e prática baliza as ações educacionais que estabelecem a identidade da
escola; afinal, cada escola elabora o PPP de acordo com a sua realidade.

O PPP compreende as necessidades, as especificidades e a realida-


de do espaço educativo, determinando que as ações realizadas na es-
cola precisam ser pautadas na intencionalidade educativa definida no
documento. O projeto político-pedagógico significa, portanto, a prática
pedagógica com base nos pressupostos estabelecidos.

A elaboração do PPP precisa ser coletiva e participativa. A partici-


pação deve ocorrer, também, no dia a dia escolar, possibilitando que
as teorias propostas nesse documento sejam realizadas no trabalho
educativo que ocorre na instituição de ensino.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9.394/1996 institui que:


Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão de-
mocrática do ensino público na educação básica, de acordo com
as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – par-
ticipação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar
e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996)

O PPP perpassa questões pedagógicas e técnicas e, ao ser construí-


do coletivamente, reafirma o compromisso da escola com a formação
do cidadão. Do mesmo modo, é essencial disponibilizar o PPP como
fonte de consulta permanente, para que as propostas estabelecidas
sejam integradas no cotidiano escolar.

Possibilidades no contexto escolar 61


Nessa perspectiva, Veiga (2013, p. 17) elucida que:
o projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que exige
dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição clara
do tipo de escola que intentam, requer definição de fins. Assim,
todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de cidadão que
pretendem formar. As ações específicas para a obtenção desses
fins são meios. Essa distinção clara entre fins e meios é essencial
para a construção do projeto político-pedagógico.

Ainda no que diz respeito à elaboração do PPP, a escola tem auto-


nomia, com vistas a compreender a realidade na qual está inserida,
contemplando os dispositivos legais e fundamentos teóricos da prática
Saiba mais
pedagógica realizada na escola, considerando que essa prática precisa
Com a implementação
da BNCC, o Ministério da acontecer em uma perspectiva de gestão democrática.
Educação sugeriu que
as escolas revissem seus Diante dessa premissa, os envolvidos nos processos educativos pre-
projetos político-pedagó- cisam avaliar e reavaliar constantemente a proposta do PPP em relação
gicos. Para isso, disponibi-
lizou um arquivo no qual às práticas realizadas na escola. Libâneo (2010, p. 361) elucida que:
apresenta uma discussão
todo projeto é, portanto, inconcluso, porque as escolas são insti-
sobre esse documento,
intitulado Dia de discussão tuições marcadas pela interação entre pessoas, por sua intencio-
do projeto pedagógico. nalidade, pela interligação com o que acontece em seu exterior
Disponível em: http://basenacio- (na comunidade, no país, no mundo), o que leva a concluir que
nalcomum.mec.gov.br/images/ elas não são iguais. As organizações são, pois, construídas e re-
implementacao/dia_discus- construídas socialmente.
sao_projeto_pedagogico_v_prof.
pdf. Acesso em: 16 jun. 2020. Como a escola é um espaço formativo, é fundamental que a gestão or-
ganize reuniões nas quais a discussão do PPP seja uma pauta permanente
entre os envolvidos nos processos educativos. A participação de todos pre-
Atividade 2
cisa ser mediada de modo a promover a conscientização do compromisso
O projeto político-pedagó- pedagógico diante do trabalho educativo realizado nesse espaço de forma-
gico precisa ser elaborado
ção do cidadão, possibilitando a efetivação do PPP no cotidiano escolar.
coletivamente, visto que esse
documento precisa contemplar Destacamos que o PPP, quando integrado a uma concepção de ges-
a realidade da instituição de
tão democrático-participativa, permite mudanças graduais em relação
ensino e abordar questões
que fundamentem teórica e à organização da gestão da escola, visto que todos, ao assumirem cole-
legalmente a organização do tivamente a responsabilidade pedagógica na realização dos processos
trabalho pedagógico. Nesse educativos, contribuem para a consolidação da função social da escola.
sentido, por que esse documento
precisa ser assumido como A efetivação do PPP se estabelece conforme os autores desse docu-
um compromisso pedagógico mento compreendem a complexa realidade escolar na qual estão inse-
por todos os envolvidos nos
ridos e, ao consultarem constantemente esse documento, analisando e
processos educativos realizados
na escola? oferecendo subsídios teóricos e práticos para a realização das ativida-
des escolares, contribuem para a formação de um indivíduo crítico, par-
ticipativo e que exerce sua cidadania na sociedade na qual estiver inserido.

62 Princípios e métodos de gestão escolar


4.4 Gestão escolar: órgãos colegiados
Vídeo A gestão democrática escolar permite às instituições de ensino que
organizem e mobilizem formas de participação coletiva, de modo a dei-
xar o mais transparente possível a tomada de decisões, incentivando,
inclusive, práticas pedagógicas democráticas.

Assim, uma gestão, ao considerar os elementos constitutivos fun-


damentais para a organização e efetivação dos processos educati-
vos em uma perspectiva democrática, possibilita o trabalho coletivo
por meio de ações que reverberem a participação das pessoas en-
volvidas com a educação.

Gerir uma instituição de ensino coletivamente requer propor ações


que garantam os direitos de todos. Para isso, existem os órgãos co-
legiados: espaços de representações dos segmentos das instituições
de ensino que realizam reuniões com os docentes, discentes, funcio-
nários, familiares e/ou responsáveis, com a finalidade de legitimar a
participação efetiva da comunidade na tomada de decisões da escola.

Abranches (2003, p. 54) esclarece que:


os órgãos colegiados têm possibilitado a implementação de
novas formas de gestão por meio de um modelo de administra-
ção coletiva, em que todos participam dos processos decisórios
e do acompanhamento, execução e avaliação das ações nas uni-
dades escolares, envolvendo as questões administrativas, finan-
ceiras e pedagógicas.

No contexto de gestão escolar democrática, a participação coleti-


va é essencial na organização do trabalho pedagógico, pois propicia
a autonomia e a identidade das instituições de ensino. Todavia, essa
participação implica, sobretudo, a tomada de decisões, e as ações esta-
belecidas coletivamente precisam ser acompanhadas e averiguadas, a
fim de garantir a democratização do ensino. Para que isso funcione, a
união dos envolvidos nos processos educativos precisa ser sustentada
por meio de diálogo, respeito, comprometimento e responsabilidade
com os desafios presentes na organização dos processos educativos.

A Figura 1 ilustra como os órgãos colegiados são organizados no


interior das escolas.

Possibilidades no contexto escolar 63


Figura 1
Órgãos colegiados

Grêmio
estudantil

Conselho
APMF/ ÓRGÃOS escolar
APPF COLEGIADOS

Conselho de
classe

Fonte: Elaborada pela autora.

Os instrumentos de participação da comunidade escolar legitimam a


gestão escolar democrática e o que está disposto na LDB n. 9.394/1996,
por isso a importância de mobilizar e ampliar a participação de todos
nos órgãos colegiados.

O conselho escolar é o órgão colegiado máximo na tomada de de-


cisões da escola. A sua função é assegurar a gestão democrática, de
modo que as decisões que perpassam o administrativo, o pedagógico
e o financeiro sejam condizentes com a concepção do processo educa-
tivo da escola, definida no PPP.

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), os conselhos esco-


lares são:
órgãos colegiados compostos por representantes das comuni-
dades escolar e local, que têm como atribuição deliberar sobre
questões político-pedagógicas, administrativas, financeiras, no
âmbito da escola. Cabe aos Conselhos, também, analisar as
ações a empreender e os meios a utilizar para o cumprimento
das finalidades da escola. Eles representam as comunidades es-
colar e local, atuando em conjunto e definindo caminhos para
tomar as deliberações que são de sua responsabilidade. Repre-
sentam, assim, um lugar de participação e decisão, um espaço
de discussão, negociação e encaminhamento das demandas

64 Princípios e métodos de gestão escolar


educacionais, possibilitando a participação social e promovendo
a gestão democrática. São, enfim, uma instância de discussão, Saiba mais
acompanhamento e deliberação, na qual se busca incentivar Para mais informações
uma cultura democrática, substituindo a cultura patrimonialista sobre o que é o conselho
escolar, sugerimos acesso
pela cultura participativa e cidadã. (BRASIL, 2004, p. 34-34) ao site do Ministério da
Educação, que disponibili-
Nessa perspectiva, é importante ressaltar que as ações realizadas za publicações referentes
na escola são respaldadas legalmente pelo Estatuto do Conselho Es- ao fortalecimento desse
órgão nas instituições de
colar. É o estatuto que normatiza a quantidade de membros para cada ensino.
segmento, os chamados conselheiros. Nesse documento, também é Disponível em: http://portal.mec.
definido como serão as reuniões, a tomada de decisões, entre outros gov.br/programa-nacional-de-
fortalecimento-dos-conselhos-
assuntos de competência do órgão. escolares/publicacoes. Acesso em:
16 jun. 2020.
O órgão colegiado Associação de Pais, Mestres e Funcionários
(APMF), ou Associação de Pais, Professores e Funcionários (APPF), é
representado por pais, familiares e/ou responsáveis pelos estudantes
matriculados na instituição de ensino e por todos os profissionais que
trabalham no espaço educativo. Esse órgão objetiva discutir e propor
soluções para situações-problemas que envolvem a formação cotidia-
na do estudante, garantindo que essas ações estejam articuladas com
o projeto político-pedagógico da escola.

Para além dos objetivos pedagógicos, esse órgão é conhecido por


estar presente no âmbito financeiro. É a APMF/APPF que garante que
os recursos financeiros enviados pelos governos federal, estadual e/ou
municipal sejam destinados exclusivamente para gastos da escola. As
decisões tomadas por esse órgão colegiado devem garantir a legitimi-
dade das ações propostas, pois apenas a transparência permite a cons-
tituição de uma gestão democrática e participativa.

Outro importante órgão colegiado é o conselho de classe, que


exerce função deliberativa e consultiva nos processos avaliativos dos
docentes e discentes no espaço escolar. O conselho é um momento
de discussão coletiva para que ações educativas possam ser ressigni-
ficadas de maneira a ampliar o processo de ensino e aprendizagem.
É no conselho de classe que todo o trabalho educativo realizado na
instituição de ensino é avaliado, com o intuito de averiguar como está
ocorrendo esse processo do estudante.

Os representantes do conselho de classe são: diretor, vice-diretor,


pedagogo, professor, funcionário da escola e estudante. Considera-se,
então, que esse órgão colegiado contribui, também, para a consolida-
ção de uma gestão democrática.

Possibilidades no contexto escolar 65


Para Dalben (2004, p. 21):
o conselho de classe, como instância na organização do trabalho
escolar, tem uma razão de ser analisada à luz de suas origens [...]
repensar a organização do trabalho escolar é condição principal
para a análise dos problemas vivenciados no interior da escola,
que coletivamente se buscará alternativas para que conduzam
ao sucesso do aluno no ensino aprendizagem.

Esse deve ser o momento em que se ampliam as possibilidades de


mudanças no pensar e no agir individual e coletivo docente, discente
e dos demais envolvidos nos processos educativos da escola; assim,
discute-se o redimensionando da prática pedagógica, vislumbrando o
compromisso e a responsabilidade de todos nesse processo educativo.
Há, também, a participação do estudante no órgão colegiado de-
nominado grêmio estudantil. Esse órgão representa os interesses dos
estudantes e objetiva o trabalho relacionado às questões culturais,
educacionais, cívicas, esportivas e sociais.
O grêmio estudantil tem autonomia para propor, organizar e sugerir
Site
melhorias referentes aos interesses dos estudantes. Todavia, precisa ter
O grêmio estudantil foi
autorização da equipe diretiva, assim como do conselho escolar, para rea-
proposto pelo Movi-
mento Estudantil, criado lizar determinadas atividades. Para organizar o grêmio na escola, é funda-
pela União Nacional dos mental que a equipe de profissionais da escola incentive essa iniciativa,
Estudantes (UNE), em 22
de dezembro de 1938, no apontando a importância desse órgão colegiado na instituição de ensino.
Rio de Janeiro. Para saber
mais sobre a UNE, acesse
As ações propostas no grêmio estudantil possibilitam aos estudan-
o link a seguir. tes vivenciarem situações de tomada de decisões coletivas, em que o
Disponível em: https://une.org. diálogo é necessário ao expressar opiniões, sugestões e anseios por
br/a-une/. Acesso em: 16 jun. 2020.
propostas a serem desenvolvidas na escola. Desse modo, a participa-
ção do grêmio estudantil se torna um importante espaço de aprendi-
zagem, pois contribui na formação para a cidadania, além de fazer com
Atividade 3
que o estudante se sinta responsável pela instituição de ensino.
A gestão democrática prevê a
No momento em que essas ações são propostas, o estudante tem a
participação da comunidade
escolar nas tomadas de decisões oportunidade de desenvolver o protagonismo juvenil e, segundo Costa
relacionadas às ações a serem (2000, p. 126), é “uma forma de reconhecer que a participação dos ado-
realizadas nas instituições de
lescentes pode gerar mudanças decisivas na realidade social, ambien-
ensino. Para legitimar essa
participação, existem os órgãos tal, cultural e política em que estão inseridos”.
colegiados. Como é possível
Para que isso ocorra, é necessário que os gestores das escolas pro-
garantir a efetividade das ações
desses órgãos no contexto ponham, no espaço educativo, situações em que o estudante exerça sua
escolar? cidadania e lute por seus direitos e deveres, desenvolvendo sua autono-
mia de modo responsável e participando da sociedade com cidadania.

66 Princípios e métodos de gestão escolar


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para assegurar a efetivação dos direitos humanos, bem como protegê-los,
é preciso reconhecer-se como ser humano com direitos. Neste capítulo,
tratamos do direito à educação. Estudamos também que a função social
da escola na sociedade está diretamente relacionada à intencionalidade
educativa proposta no projeto político-pedagógico; por isso, a elaboração
desse documento precisa ser crítica, coletiva e participativa, a fim de que as
propostas possam contribuir efetivamente para a formação do estudante.
As práticas pedagógicas precisam estar pautadas em uma intenciona-
lidade educativa que objetiva a formação integral do estudante crítico e
participativo, que exerça sua cidadania de maneira a garantir os seus de-
veres e direitos como ser humano. Nessa perspectiva, consideramos que
a concepção de ensino estabelecida como gestão democrático-participativa
é ideal para que as escolas organizem e mobilizem formas de participação
coletiva em seus espaços educativos, incentivando práticas pedagógicas
democráticas por meio dos órgãos colegiados: conselho escolar, associa-
ção de pais, mestres e funcionários e/ou associação de pais, professores
e funcionários, conselho de classe e grêmio estudantil.

REFERÊNCIAS
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Cortez, 2003.
BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
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Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad1.pdf. Acesso
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COSTA, A. C. G. Protagonismo juvenil: adolescência, educação e participação democrática.
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CURY, C. R. J. Educação e direito à educação no Brasil: um histórico pelas constituições. Belo
Horizonte: Mazza Edições, 2014.
DALBEN, A. I. L. de F. Conselho de classe e avaliação: perspectivas na gestão pedagógica da
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FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
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LIBÂNEO, J. C. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2010.

Possibilidades no contexto escolar 67


ONU – Organização das Nações Unidas. O que são direitos humanos? Disponível em: https://
nacoesunidas.org/direitoshumanos/. Acesso em: 16 jun. 2020.
ONU – Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. UNIC/
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Acesso em: 16 jun. 2020.
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SOUSA, J. V. de. Avanços e recuos na construção do projeto político-pedagógico em rede
de ensino. In: VEIGA, I. P A.; REZENDE, L. M de. (org.). Escola: espaço do projeto político-
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(org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. 29. ed. Campinas:
Papirus, 2013.

GABARITO
1. Primeiramente, a escola precisa assumir e entender qual é a sua função social diante
da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Para isso, é preciso propor
reuniões em que ações educativas com propostas equânimes atendam a todos os
estudantes da escola, de modo a conceber a cidadania a todos como direito instituído
em dispositivos legais.

2. É fundamental que todos os envolvidos assumam coletivamente o compromisso pe-


dagógico do PPP. Isso porque esse documento apresenta a intencionalidade educa-
tiva da instituição de ensino, em que as propostas estabelecidas foram definidas em
comum acordo. Assim, as atividades realizadas na escola precisam estar presentes no
dia a dia e pautadas teoricamente em uma concepção de gestão escolar democrática
definida no PPP.

3. A gestão da escola precisa propor reuniões com os representantes dos órgãos colegia-
dos com a finalidade de discutir e refletir a importância da presença e da efetividade
da participação dos segmentos na tomada de decisões dos processos educativos rea-
lizados na escola. Diante disso, a responsabilidade coletiva sobre a garantia do direito
à educação torna-se o objetivo final da escola.

68 Princípios e métodos de gestão escolar


5
Avaliação e gestão
democrática
Este capítulo abordará os processos avaliativos educacionais,
com o intuito de ressignificar as ações educativas realizadas nos
espaços escolares. Para isso, apresentaremos questões relaciona-
das ao entendimento do que é avaliação no contexto educacional,
assim como as dimensões avaliativas e os aspectos relevantes da
gestão escolar em relação à qualidade da educação, a partir dos
processos educativos realizados no espaço escolar.

5.1 Conceituando o que é avaliação em educação


Vídeo As discussões e reflexões que perpassam a avaliação no contexto
escolar se referem às ações educativas que envolvem a organização do
trabalho pedagógico e que implicam em tomada de decisões relaciona-
das à garantia de melhores condições de oportunizar o direito à educação.

É preciso considerar Freire (1996, p. 38), quando afirma que “ensinar


exige reflexão crítica sobre a prática”. Ou seja, a prática avaliativa precisa
estar vinculada ao processo de ensino e aprendizagem, respeitando as
especificidades dos conteúdos apresentados em cada componente curri-
cular e considerando as necessidades e potencialidades dos estudantes.

A ação reflexiva A prática


norteia a prática pedagógica norteia
pedagógica a ação reflexiva

Ao partir dessa compreensão de que ação e reflexão são indissociá-


veis, é importante considerar que a avaliação está interligada ao plane-
jamento. Nesse sentido, Libâneo (2004, p. 149) afirma que: “o processo

Avaliação e gestão democrática 69


e o exercício de planejar referem-se a uma antecipação da prática, de
modo a prever e programar as ações e os resultados desejados, consti-
tuindo-se numa atividade necessária à tomada de decisões”.

Assim, é necessária a articulação da prática docente para a com-


preensão do que é currículo, avaliação e planejamento, movimento ne-
cessário para que os saberes escolares estejam vinculados a práticas
sociais que propiciem a formação do cidadão.

Refletir sobre os processos educativos realizados na escola é enten-


der que a avaliação assume um caráter formador na proposição das
práticas pedagógicas realizadas nas instituições de ensino. A avalia-
ção, quando realizada durante o processo de ensino e aprendizagem,
contribui com a organização do trabalho pedagógico. Nesse contexto,
Hoffmann (2018, p. 13) esclarece que:
o processo avaliativo está fundamentado em valores morais, em
concepções de educação, de sociedade, de sujeito. Essas concep-
ções regem o fazer avaliativo e lhe dão sentido. É preciso pensar,
em primeiro lugar, sobre as concepções vigentes entre os educa-
dores antes de se discutirem metodologias, instrumentos de tes-
tagem e formas de registro. Reconstruir as práticas avaliativas,
sem levar em conta o que significa “avaliar”, é como preparar as
malas sem saber o destino da viagem.

Desse modo, entendemos que o processo avaliativo propõe alcan-


çar uma prática pedagógica que subsidie a organização do trabalho pe-
dagógico. Ou seja, a avaliação permite verificar as ações da escola que
precisam corroborar as concepções de educação, sociedade e homem
estabelecidas no projeto político-pedagógico da instituição de ensino.

Nesse sentido, a avaliação contribui com as ações do gestor escolar


em relação aos processos educativos, pois a prática avaliativa apresen-
ta a realidade da instituição de ensino. Assim, é de suma importância
que as ações avaliativas realizadas na escola auxiliem na compreensão
da complexidade que norteia o processo de formação do estudante e,
consequentemente, do profissional da educação, que precisa planejar
as ações educativas.

Nessa perspectiva, Fernandes e Freitas (2007, p. 20) esclarecem que:


a avaliação é uma das atividades que ocorre dentro do processo
pedagógico. Este processo inclui outras ações que implicam na
própria formulação dos objetivos da ação educativa, na defini-
ção de seus conteúdos e métodos, entre outros. A avaliação,

70 Princípios e métodos de gestão escolar


portanto, sendo parte de um processo maior, deve ser usada
tanto no sentido de um acompanhamento do desenvolvimen-
to do estudante como no sentido de uma apreciação final sobre
o que este estudante pôde obter em um determinado período,
sempre com vistas a planejar ações educativas futuras.

Não se pode perder de vista que a prática pedagógica está pautada


em um projeto político-pedagógico, que pode ser reestruturado confor-
me a realidade escolar. As reflexões sobre o trabalho realizado na escola
permitem aos profissionais da educação reverem que o processo ava-
liativo é uma atividade instituída de intencionalidade educativa, e o que
nos dá esse suporte teórico é o projeto político-pedagógico. Portanto, o
compromisso e a responsabilidade de exercer o trabalho educativo de-
vem motivar situações dinâmicas, reflexivas, de produção, construção
e reconstrução dos saberes escolares que considerem o contexto atual.
Ademais, o ensinar e o aprender no cotidiano escolar acontecem por
meio da avaliação, que precisa acontecer constantemente.

De acordo com Libâneo (2013, p. 216):


a avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do
trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o pro-
cesso de ensino e aprendizagem. Por meio dela, os resultados
que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do pro-
fessor e dos alunos são comparados com os objetivos propos-
tos, a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o
trabalho para as correções necessárias. A avaliação é uma re-
flexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do
professor como dos alunos.

Diante dessa questão, os processos educativos e avaliativos pro-


postos nas instituições de ensino devem proporcionar uma análise da
cultura organizacional desse espaço, bem como a verificação, com base
na intencionalidade da escola, em quais práticas pedagógicas precisam
ser reorganizadas, a fim de garantir o direito à educação.

Além disso, a avaliação escolar precisa acontecer em uma pers-


pectiva crítica, em que a participação de todos os que estão envol-
vidos nos processos educativos propicie constantemente avanços
em relação à garantia do direito à educação, de modo que a gestão
democrático-participativa se efetive nos espaços educativos.

Portanto, para a organização dos processos avaliativos, é necessário


planejamento. Isto é, a instituição de ensino precisa compreender aonde

Avaliação e gestão democrática 71


quer chegar e quais serão os meios
para alcançar esses objetivos. Quan-
do os objetivos educacionais estão
bem delineados, torna-se natural pro-
por práticas avaliativas que contemplem
efetivar ações que proporcionem melho-
Rawpixel.com/Shutterstock rias nos processos educativos.

Com relação a essa organização do trabalho pedagógico, Fernandes


e Freitas (2007, p. 20) esclarecem que “é possível concebermos uma
perspectiva de avaliação cuja vivência seja marcada pela lógica da in-
clusão, do diálogo, da construção da autonomia, da mediação, da par-
ticipação, da construção da responsabilidade com o coletivo”. Para
isso, é necessário que os profissionais da educação compreendam a
concepção avaliativa de modo a ressignificar a prática educativa, que
pauta-se em uma concepção de ensino democrático-participativa, em
que a reflexão ocorre durante a formação do estudante, mas, também,
no trabalho realizado pelo profissional da educação, com vistas a me-
lhorar os processos educativos.

A compreensão e o entendimento sobre a concepção avaliativa da


instituição de ensino configuram-se na prática pedagógica, e os proble-
mas cotidianos podem ser vistos como pretextos para rever a organiza-
ção do trabalho tendo em vista a intencionalidade educativa proposta
no projeto político-pedagógico.

5.2 Dimensões avaliativas


Vídeo Como estudamos, a avaliação é uma prática pedagógica intrínseca
aos processos educativos realizados na escola; sua função é investigar
como está o processo de ensino e aprendizagem, além de permitir que
os profissionais da educação possam intervir nas práticas educativas,
a fim de aprimorá-las.

Discutir os processos educativos é, também, discutir os processos


avaliativos, por isso é necessário compreender o que os dispositivos
legais estabelecem sobre as práticas avaliativas no contexto demo-
crático. Com base nos dispositivos legais, é possível refletir sobre as
propostas do projeto político-pedagógico, relacionando-as com o que
está disposto no artigo 46 da Resolução n. 4, de 13 de julho de 2010,

72 Princípios e métodos de gestão escolar


o qual estabelece que: “Art. 46. A avaliação no ambiente educacional
compreende 3 (três) dimensões básicas: I – avaliação da aprendizagem;
II – avaliação institucional interna e externa; III – avaliação de redes de
Educação Básica” (BRASIL, 2010).

Consequentemente, as dimensões da avaliação precisam ser com-


preendidas por todos os envolvidos nos processos educativos, visto
que as informações fornecidas por essas avaliações proporcionam a
busca por melhorias nas práticas pedagógicas do dia a dia escolar.

Nessa perspectiva, apresentaremos, primeiramente, a avaliação de


aprendizagem, que está relacionada com o que o professor planeja
e analisa quanto à sua prática em sala de aula. Luckesi (2011, p. 45)
elucida que:
a avaliação da aprendizagem escolar adquire seu sentido na me-
dida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu
consequente projeto de ensino. A avaliação, tanto no geral quan-
to no caso específico da aprendizagem, não possui uma finalida-
de em si; ela subsidia um curso de ação que visa construir um
resultado previamente definido.

Em síntese, a avaliação da aprendizagem permite aos profissionais


da educação tomarem decisões acerca de como os saberes escolares
estão sendo apreendidos pelos estudantes. A todo momento, o pro-
fessor é colocado em situações nas quais precisa tomar decisões que
envolvem a sua prática pedagógica, para que o objetivo educacional
seja alcançado. Nessa perspectiva, a prática avaliativa se dá com base
na realidade vivenciada no cotidiano escolar.

Nesse sentido, Haydt (2004) considera que a avaliação da aprendi-


zagem ocorre de três formas: avaliação diagnóstica, formativa e soma-
tiva, como mostra a figura a seguir.
Figura 1
Formas de avaliação de aprendizagem
Avaliação
formativa

Avaliação da
aprendizagem

Avaliação Avaliação
somativa diagnóstica

Fonte: Elaborada pela autora.

Avaliação e gestão democrática 73


É fundamental que os profissionais da educação compreendam
essas três formas de conceber a avaliação de aprendizagem no con-
texto educacional, visto que a avaliação está relacionada a uma soma
de fatores que visam contribuir na tomada de decisões referentes ao
processo de ensino e aprendizagem no contexto escolar. O acompa-
nhamento pedagógico constante permite ao professor realizar modifi-
cações no planejamento, fazendo adequações metodológicas, a fim de
tornar o aprendizado significativo para a formação do estudante.

É relevante, então, destacar a afirmação de Fernandes e Freitas


(2007, p. 20):
quando a avaliação acontece ao longo do processo, com o ob-
jetivo de reorientá-lo, recebe o nome de avaliação formativa e
quando ocorre ao final do processo, com a finalidade de apreciar
o resultado deste, recebe o nome de avaliação somativa. Uma
não é nem pior, nem melhor que a outra, elas apenas têm obje-
tivos diferenciados.

Logo, a avaliação permeia o processo de ensino e aprendizagem do


estudante, do professor e, consequentemente, da escola, pois as ações
de ressignificação do trabalho educativo apontam para a avaliação for-
mativa. Isto é, a avaliação formativa propicia aos envolvidos nos pro-
cessos pedagógicos a revisão da intencionalidade educativa.

Fernandes e Freitas (2007, p. 22) esclarecem o seguinte sobre a ava-


liação formativa:
continuamente, ela faz parte do cotidiano das tarefas propostas,
das observações atentas do professor, das práticas de sala de
aula. Por fim, podemos dizer que avaliação formativa é aquela que
orienta os estudantes para a realização de seus trabalhos e de suas
aprendizagens, ajudando-os a localizar suas dificuldades e suas po-
tencialidades, redirecionando-os em seus percursos. A avaliação
formativa, assim, favorece os processos de autoavaliação, prática
ainda não incorporada de maneira formal em nossas escolas.

Com base no que foi citado, a avaliação formativa propicia o alcance


dos objetivos educacionais esperados. Para isso, cabe ressaltar que o
planejamento contribui para as retomadas das práticas pedagógicas.

Entretanto, no decorrer do processo educativo, é a avaliação


diagnóstica que permite a elaboração de atividades pedagógicas que
indiquem as necessidades e potencialidades de aprendizagem dos es-
tudantes. Nesse sentido, Libâneo (2013, p. 218) afirma:

74 Princípios e métodos de gestão escolar


a função diagnóstica permite identificar progressos e dificul-
dades dos alunos e a atuação do professor que, por sua vez,
determinam modificações do processo de ensino para melhor
cumprir as exigências dos objetivos. Na prática escolar cotidiana,
a função de diagnóstico é mais importante porque é a que possi-
bilita a avaliação do cumprimento da função pedagógico-didática
e a que dá sentido pedagógico à função de controle. A avaliação
diagnóstica ocorre no início, durante e no final do desenvolvi-
mento das aulas ou unidades didáticas.

Desse modo, a avaliação diagnóstica permite identificar as possibi-


lidades e fragilidades das práticas pedagógicas realizadas ao longo do
ano letivo, tendo em vista a reflexão e a ação de promover os saberes
Filme
escolares de maneira efetiva na formação do estudante.
O Triunfo tem como base
Portanto, a união da avaliação formativa com a diagnóstica forne- fatos da vida de Ron Clark
(1994), um professor
ce informações para que o professor realize um trabalho pedagógico
da Carolina do Norte
que oportunize mudar suas práticas. Afinal, essas avaliações fornecem (EUA). O enredo permite
reflexões acerca do que
subsídios para que as intervenções pedagógicas realizadas no decorrer
é a avaliação diagnós-
do ano vislumbrem melhorias no processo de ensino e aprendizagem. tica, considerando a
diversidade das famílias
O acompanhamento avaliativo do desenvolvimento do estudante em
e o pré-julgamento dos
relação à construção dos saberes escolares permite promover uma for- estudantes.

mação que propicie condições para o estudante exercer sua cidadania Direção: Randa Haines. Estados
Unidos, 2006.
para além dos muros da escola.

Já avaliação de aprendizagem denominada somativa, tem como


objetivo apresentar os resultados do processo de ensino e aprendiza-
gem alcançados ao longo do ano letivo. Para Romanowski e Wachowicz
(2006, p. 124-125):
a avaliação somativa manifesta-se nas propostas de aborda-
gem tradicional, em que a condução do ensino está centrada no
professor, baseia-se na verificação do desempenho dos alunos
perante os objetivos de ensino estabelecidos no planejamento.
Para examinar os resultados obtidos, são utilizados testes e pro-
vas, verificando quais objetivos foram atingidos considerando-se Atividade 1
o padrão de aprendizagem desejável e, principalmente, fazendo
A avaliação de aprendizagem
o registro quantitativo do percentual deles. permite aos profissionais da
educação refletirem sobre
Nesse sentido, a avaliação somativa avalia como os objetivos edu- suas práticas avaliativas. Nesse
cacionais foram atingidos. Todavia, existem muitos fatores que precisam sentido, quais são os tipos de
ser considerados para determinar o resultado da aprendizagem, por isso avaliações que favorecem o pro-
cesso de ensino e aprendizagem
é necessário que, no decorrer do ano letivo, as avaliações diagnóstica e do estudante e por quê?
formativa aconteçam com frequência, a fim de propiciar intervenções

Avaliação e gestão democrática 75


pedagógicas visando possibilidades de entendimento dos sabe-
res escolares pelos estudantes.

Agora que já vimos os três tipos de avaliação de aprendiza-


gem e o objetivo de cada uma delas, vamos apresentar o que é
avaliação institucional.

A avaliação institucional precisa ser periódica, com o intui-


to de propiciar caráter diagnóstico e formativo, pois seu objetivo é
avaliar a organização do trabalho pedagógico, permitindo o redimen-
panitanphoto/Shutterstock sionamento dos processos educativos realizados no espaço educativo.

Fernandes e Freitas (2007, p. 35) esclarecem que:


a avaliação institucional é também uma forma de permitir a me-
lhor organização do coletivo da escola com vistas a uma gestão
mais democrática e participativa que permita à coletividade enten-
der quais os pontos fortes e fracos daquela organização escolar,
bem como mobilizar, criar e propor alternativas aos problemas.

Diante das palavras dos autores, é possível considerar a necessidade


de elaborar um instrumento de avaliação que contemple aspectos pe-
dagógicos, administrativos e financeiros da instituição de ensino. Esse
instrumento de avaliação pode ser elaborado pela escola, assim como
pela mantenedora da instituição de ensino. Entretanto, é fundamental
que toda a comunidade participe dessa avaliação, e os resultados ob-
tidos precisam ser discutidos para que se promova a legitimidade, a
transparência e o objetivo desse instrumento. Após o levantamento das
informações, é imprescindível que ocorra uma análise coletiva para ave-
riguar quais as necessidades e potencialidades da instituição de ensino,
de modo a estabelecer metas e objetivos educacionais que propiciem a
reestruturação da organização do trabalho pedagógico.

Por fim, a avaliação de redes da educação básica, também cha-


mada de avaliação de larga escala e/ou externa, é organizada pelo Sis-
Saiba mais
tema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e permite realizar um
Sugerimos que acesse
o site do Saeb para diagnóstico da educação básica brasileira e de fatores que podem in-
conhecer as matrizes terferir no desempenho do estudante (BRASIL, 2020).
de referência utilizadas
para a elaboração das Os resultados das avaliações de larga escala e/ou externas forne-
avaliações de larga escala
e/ou externas.
cem informações que ampliam as discussões sobre como melhorar o

Disponível em: http://portal.inep.


ensino ofertado no Brasil, propiciando, assim, um planejamento de po-
gov.br/web/guest/educacao- líticas públicas educacionais, visto que os resultados podem ser usados
basica/saeb/matrizes-e-escalas.
Acesso em: 16 jun. 2020.
pelas escolas para análise do trabalho desenvolvido em determinado
espaço educativo.

76 Princípios e métodos de gestão escolar


Dessa forma, conhecer as dimensões da avaliação permite aos en- Atividade 2
volvidos nos processos educativos proporem reflexões na instituição Como as avaliações de larga escala
de ensino acerca das práticas pedagógicas que estão sendo realizadas, e/ou externa contribuem com a
organização do trabalho pedagó-
tendo como base as concepções de avaliação de acordo com a realida-
gico realizado na escola?
de na qual a escola está inserida.

5.3 Gestão escolar e qualidade na educação


Vídeo Conforme vimos ao longo desta obra, a educação brasileira con-
figura-se como um direito garantido pela Constituição Federativa do
Brasil de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
n. 9.394/1996. Esses dispositivos legais estabelecem que um ensino de
qualidade está pautado na garantia do direito à educação de modo a
proporcionar o desenvolvimento pleno do estudante, possibilitando
propostas educativas que permitam o exercício da cidadania e sua qua-
lificação para o trabalho.

Dito de outra forma, os processos educativos vinculados a uma


concepção de educação que visa formar cidadãos com direitos iguais
perante o Estado possibilitam que os espaços escolares desenvolvam
um trabalho educativo com vistas à construção de uma sociedade mais
justa e igualitária.

Para isso, é importante destacar o que significa um ensino de qua-


lidade. O termo qualidade é marcado por diversas interpretações, po-
rém, nesta obra, consideraremos a qualidade da educação em uma
perspectiva de organização de gestão escolar democrática escolar que
oportuniza aos estudantes os saberes escolares, por meio de práticas
pedagógicas que permitam uma formação crítica, reflexiva e compro-
metida com o exercício da cidadania.

Nessa perspectiva, Libâneo (2013, p. 34) acrescenta que:


a escolarização tem, portanto, uma finalidade muito prática. Ao
adquirirem um entendimento crítico da realidade por meio do
estudo das matérias escolares e do domínio de métodos pelos
quais desenvolvem suas capacidades cognoscitivas e formam ha-
bilidades para elaborar independentemente os conhecimentos,
os alunos podem expressar de forma elaborada os conhecimen-
tos que correspondem aos interesses majoritários da sociedade
e inserir-se ativamente nas lutas sociais.

Avaliação e gestão democrática 77


Diante do exposto, convém, ainda, salientar que a qualidade na
educação perpassa a organização do trabalho educativo, que envolve
questões administrativas, pedagógicas e financeiras. Logo, as tomadas
de decisões necessitam ser concebidas tendo em vista as bases teóri-
cas e legais que sustentam os processos educativos; ou seja, a intencio-
nalidade educacional que visa à formação do estudante.

É necessário compreender a realidade político-econômica-social,


assim como conhecer o entorno da instituição de ensino. Esse co-
nhecimento permite que ações sejam propostas coletivamente e que
mudanças educacionais necessárias sejam oportunizadas, com o pro-
pósito de garantir o direito à aprendizagem a todos os estudantes.

Reconhecendo as especificidades e a complexidade do trabalho


educativo, Fernandes e Freitas (2007, p. 18) esclarecem:
se a escola é o lugar da construção da autonomia e da cidadania, a
avaliação dos processos, sejam eles das aprendizagens, da dinâmica
escolar ou da própria instituição, não deve ficar sob a responsabili-
dade apenas de um ou de outro profissional, é uma responsabilida-
de tanto da coletividade, como de cada um, em particular.

Desse modo, o gestor escolar que permite a participação de todos


na tomada de decisões, responsabilizando e comprometendo peda-
gogicamente e coletivamente os envolvidos nos processos educativos,
contribui para a construção de uma escola que oferta um ensino de
qualidade, conforme garantia do direito à educação.

Nesse contexto, estudos e reflexões acerca do que é gestão escolar


democrático-participativa oportunizam conduzir as práticas educativas
e avaliativas de acordo com a intencionalidade educativa presente no
cotidiano escolar.

Para Luckesi (2011, p. 227):


participar da gestão democrática da escola significa que todos se
sentem e efetivamente são partícipes do sucesso ou do fracasso
da escola em todos os seus aspectos: físico, educativo, cultural e
político. Gestores administrando, educadores ensinando, estu-
dantes aprendendo. Afinal, todos aprendendo numa ‘escola que
aprende’, cada um no seu lugar e papel, orquestrando o todo.

Não basta trabalhar em uma escola que tem uma organização de


gestão democrático-participativa, é preciso aprender a vivenciar práti-
cas democráticas, com vistas a oportunizar a qualidade na educação. A

78 Princípios e métodos de gestão escolar


educação escolar contribui para a formação de uma sociedade demo-
crática quando as ações educativas vislumbram a vivência do pensa-
mento crítico e reflexivo no dia a dia da instituição de ensino.

Assim, compreender os fundamentos teórico-metodológicos esta-


belecidos na escola é fundamental para a articulação das atividades
pedagógicas que instituem processos educativos que contribuem para
a formação do estudante em suas formas de agir, ser, pensar e comu-
nicar no dia a dia.

Nessa perspectiva, Paro (2011, p. 114) afirma que “como toda ativida-
de humana, a educação não apenas é suscetível de avaliação, mas tem
a avaliação como elemento necessário de sua constituição”. Portanto, se
a educação visa formar um cidadão crítico e reflexivo, as práticas avalia-
tivas realizadas na escola precisam possibilitar melhorias educacionais.

De acordo com Libâneo (2010, p. 350):


a avaliação é função primordial do sistema de organização e de
gestão. Ela supõe acompanhamento e controle das ações deci-
didas coletivamente, sendo este último a observação e a com-
provação dos objetivos e das tarefas, a fim de verificar o estado
real do trabalho desenvolvido. A avaliação permite pôr em evi-
dência as dificuldades surgidas na prática diária, mediante con-
fronto entre o planejamento e o funcionamento real do trabalho.
Visa ao melhoramento do trabalho escolar, pois, conhecendo a
tempo as dificuldades, pode-se analisar suas causas e encontrar
meios de sua superação.

Com base no que o autor expôs, consideramos fundamental que


o gestor escolar, com os demais envolvidos nos processos educativos,
apresente alternativas de melhorias na organização do trabalho reali-
zado na instituição de ensino, a fim de que a educação escolar ocorra
objetivando a formação do cidadão.

Uma sugestão de melhoria na organização do trabalho pedagógico


é organizar salas ambiente ou temáticas, estruturadas com base em
cada componente curricular, onde sejam disponibilizados recursos
didático-pedagógicos específicos para contribuir com o processo de
ensino e aprendizagem. Nessa organização, os estudantes vão até a
sala do professor, e não o professor até a sala.

Outra possibilidade de trabalho é a inclusão das tecnologias da in-


formação e da comunicação (TIC) nas práticas pedagógicas das institui-
ções de ensino. Para Kenski (2007, p. 40), “as TICs evoluem com muita

Avaliação e gestão democrática 79


rapidez. A todo instante surgem novos processos e produtos diferen-
ciados e sofisticados”. Por isso, os profissionais que trabalham nas es-
colas precisam acompanhar essas atualizações e utilizar os recursos
tecnológicos com a intenção de aprimorar os encaminhamentos meto-
dológicos realizados nesses espaços educativos.

Partimos, então, da premissa de que a função social da escola pre-


cisa ser abordada constantemente nos espaços educativos para que
as decisões de natureza pedagógica, administrativa e financeira acon-
teçam democraticamente, considerando os envolvidos nos processos
educativos responsáveis pela execução da intencionalidade do projeto
político-pedagógico estabelecido na instituição de ensino.

A gestão da escola que permite tais ações educativas demonstra


conhecimento teórico acerca dos pressupostos que regem a educação
brasileira, possibilitando, assim, que a comunidade escolar enfrente as
condições existentes na escola, almejando a qualidade da educação.

É importante lembrar que as práticas avaliativas são imprescindí-


Saiba mais veis no processo de organização do trabalho educativo, como esclarece
Para ampliar a discussão Luckesi (2011, p. 231):
sobre a qualidade da
educação, o Ministério da a avaliação terá um papel fundamental nesse processo, constan-
Educação, por meio do do a qualidade dos resultados que estão sendo obtidos através
Instituto Nacional Anísio
Teixeira (Inep), publicou
da ação de todos subsidiando novas possibilidades de ação e
um material intitulado A aprendizagens também para todos. Afinal, essa é a possibilida-
qualidade da educação: de da “escola que aprende”, de modo eficaz e consistente, onde
conceitos e definições.
todos respondem pelo sucesso; ou infelizmente, também ao fra-
Disponível em: http:// casso, na medida em que o fracasso de um segmento da escola
portal.inep.gov.br/
documents/186968/485287/
não é somente dele, mas de todos os segmentos.
A+qualidade+da+educa%C
3%A7%C3%A3o+conceitos+ Nesse sentido, a qualidade da educação necessita ser pautada em
e+defini%C3%A7%C3%B5es uma organização de gestão escolar que permita que os processos sejam
/8926ad76-ce32-4328-8a26-
5139ccedddb4?version=1.0. Acesso constantemente avaliados, planejados e replanejados, para que a cons-
em: 16 jun. 2020. trução dos saberes escolares proporcionados na instituição de ensino
seja de responsabilidade de todos.

Portanto, a qualidade da educação precisa ser concebida em uma


Atividade 3
gestão escolar em que a aprendizagem aconteça para todos; consti-
Diante do exposto, o que se tuindo, assim, um espaço educativo que oportunize o desenvolvimento
entende sobre qualidade da
de posturas e práticas democráticas, intencionando a formação crítica
educação no sistema de ensino
brasileiro? e reflexiva de todos os envolvidos nos processos educativos, de estu-
dantes a profissionais da educação.

80 Princípios e métodos de gestão escolar


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, abordamos alguns aspectos relacionados à concepção
de avaliação que norteiam a prática pedagógica na escola. Consideramos
que as práticas educativas alicerçadas em práticas avaliativas permitem
que o processo de ensino e aprendizagem ocorram de acordo com a in-
tencionalidade educativa.
Para isso, faz-se necessária a compreensão das dimensões avaliativas
estabelecidas em dispositivos legais e fundamentos teóricos, as quais for-
necem informações que subsidiam o entendimento dos dados levantados
nas avaliações realizadas, oportunizando melhorias no processo de ensi-
no e aprendizagem realizado na escola.
Em suma, a avaliação no contexto de uma gestão democrática escolar
propicia reflexões sobre os limites e as possibilidades da prática educativa
de cada um, possibilitando a reorganização do trabalho pedagógico, com
o objetivo de alcançar a qualidade da educação.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Resolução n. 4, de 13 de julho de 2010. Brasília: Conselho Nacional de Educação.
2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf. Acesso em:
16 jun. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Inep. Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
6 maio 2020. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/educacao-basica/saeb. Acesso em:
16 jun. 2020.
FERNANDES, C. de O.; FREITAS, L. C. de. Currículo e avaliação. In: BEAUCHAMP, J.; PAGEL,
S. D.; NASCIMENTO, A. R. do N. (org.). Indagações sobre currículo: currículo e avaliação.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
HAYDT, R. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São Paulo: Ática, 2004.
HOFFMANN, J. O jogo do contrário em avaliação. 10. ed. Porto Alegre: Mediação, 2018.
KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. 5. ed. Campinas, SP:
Papirus, 2007.
LIBÂNEO, J. C. Didática. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2013.
LIBÂNEO, J. C. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2010.
LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. Goiânia: Alternativa,
2004.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
PARO, V. H. Crítica da estrutura da escola. São Paulo: Cortez, 2011.
ROMANOWSKI, J. P.; WACHOWICZ, L. A. Avaliação formativa no ensino superior: que
resistências manifestam os professores e os alunos? In: ANASTASIOU, L. das G. C.; ALVES,
L. P. (org.). Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de
trabalho em aula. 6. ed. Joinvile: Univille, 2006.

Avaliação e gestão democrática 81


GABARITO
1. As avaliações que favorecem o processo de ensino e aprendizagem do estudante são
a diagnóstica e a formativa, pois permitem ao professor acompanhar, por meio das
atividades, o processo de desenvolvimento do estudante, possibilitando a realização
de intervenções pedagógicas ao longo do ano letivo.

2. Os resultados obtidos mediante as avaliações de larga escala e/ou externa, quando


analisados e discutidos com base na realidade da escola, permitem identificar e en-
tender as potencialidades e as fragilidades do trabalho realizado, propiciando um re-
planejamento da organização do trabalho pedagógico.

3. A qualidade da educação pautada nos dispositivos legais estabelece que todos os es-
tudantes têm o direito de se desenvolver plenamente, de modo que os saberes esco-
lares trabalhados na escola permitam o exercício da cidadania e o acesso ao mercado
de trabalho.

82 Princípios e métodos de gestão escolar


Andréa Garcia Furtado

Princípios

DE
e Concepções
de Gestão

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6629-2
Código Logístico
Andréa Garcia Furtado
Escolar
9 788538 766292 59373

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