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Tema I: Comunicativa e Interacção discursiva

Segundo Mário Vilela (1999:399), “um discurso é uma produção verbal, que apresenta uma continuidade
semântica e em todos os enunciados produzidos pertencem à mesma unidade comunicativa”. Falado ou
escrito, o discurso tem como principal função a comunicação.
A interacção discursiva pressupõe que os interlocutores partilhem, para além de uma língua comum, um
conjunto amplo de informação pragmática. Na comunicação e interacção discursiva, há vários elementos que
configuram esta actividade humana: emissor/locutor/enunciador; receptor/ouvinte/destinador; interlocutor, etc.
Comunicar é um acto fundamental da vida humana.
A comunicação oral ou escrita pode ser excelente do ponto de vista linguístico e ainda assim não causar
qualquer impacto em quem o ouve ou lê. Para que se possa alcançar os objectivos quando se comunica, a
mensagem deve conter marcas expressivas que toquem o seu interlocutor e o levem a realizar uma acção.

1.2. Linguagem, língua e fala


Álvares (2001:25) diz que, “linguagem é todo o sistema ou conjunto de sinais convencionais (fonéticos,
visuais, auditivos...) utilizados para a expressão do pensamento e do sentimento, isto é, o conjunto de meios de
que os seres humanos dispõem, para realizar o exercício da comunicação. Embora os seres humanos possam
realizar a comunicação através de outros meios, o instrumento de comunicação por excelência é a linguagem
verbal.
Gomes (2011:58) define que, “a língua é um sistema complexo de signos, partilhados por toda a comunidade
que, com pequenas variantes, pode ter uma enorme extensão no tempo e no espaço”. A língua é formada por
um conjunto de regras, partilhadas e operacionalizadas pelos seus falantes.
Gomes (2011:58) afirma que, “cada falante de cada comunidade realiza a língua no plano concreto: pronuncia
as palavras de uma certa forma, tem um certo sotaque, um certo ritmo, um certo timbre de voz, uma selecção
vocabular... Essa forma individual, pessoal de realizar ou concretizar a língua, dá-se o nome de fala”
Obs. Uma frase, por exemplo, encontra-se no plano da “língua”, e o enunciado no plano da “fala”.

1.3. Actos de fala


Quem comunica manifesta uma intenção comunicativa e executa sempre actos, isto é, exterioriza tipos de
comportamentos, com os quais pretende alcançar determinados efeitos ou objectivos. Com estes actos, o
falante pode ameaçar, ordenar, sugerir, apelar, garantir...
Quando, num dado contexto comunicativo, um locutor produz um enunciado, ele realiza um acto de fala.
Os actos de fala classificam-se em:
 Acto locutório: é quando produzimos um enunciado.
 Acto perlocutório: o efeito produzido ao nosso interlocutor pelo dizemos: as nossas palavras podem
encorajá-lo, assustá-lo, persuadi-lo... Ex. Se alguém te disser: Não me digas que vais viver em Ambriz!
O efeito conseguido sobre ti será o de te intimidar, ou de te fazer desistir.
 Acto ilocutório: produção de um enunciado com o objectivo de se exprimir a ordem, o conselho, a
promessa..., o que se pretende manifestar através de diferentes marcas linguísticas (os sinais de
pontuação, a ordem das palavras, os modos verbais, advérvios, etc.)
Acto ilocutório classifica-se:
 Acto ilocutório directivo: pretende que o ouvinte actue de acordo com a vontade do locutor. Ex.
Veste o casado. (ordem).
 Acto ilocutório assertivo: pretende assinalar a posição do locutor relativamente à verdade do que
diz. Ex. Eu sou um homem trabalhador.
 Acto ilocutório expressivo: pretende traduzir o estado de espírito do locutor relativamente ao que
diz. Ex. Agrada-me a tua boa disposição (congratulação).
 Acto ilocutório compromisso: pretende responsabilizar o locutor relativamente a uma acção futura.
Ex Prometo ir contigo ao cinema. (promessa)
 Acto ilocutório declarativo: aquilo que se diz, cria por si só uma nova realidade. Para que tal
aconteça é necessário que o locutor ocupe uma determinada posição social e esteja reconhecido pelo
ouvinte. Ex Declaro-vos marido e mulher. / Declaro-te inocente dos crimes a que foste acusado.

Exercícios
Quais são as intenções comunicativas expressas pelo locutor, nos seguintes diálogos:
1- A Helena conversa com o Mendes no recreio da escola:
Helena – Já leste Novo Código do Processo Penal?
Miguel – Já, acabei ontem.
2. No centro comercial, o Miguel e a Helena esperam que o Luís pague o que comprou:
Miguel – Ele comprou dois livros.
Helena – Sim, é para lhe apoiar na elaboração da monografia.
3. Duas amigas encontram-se na rua, depois das férias:
Beatriz – Então, como me achas agora?
Eduarda – Acho-te em boa forma, claro!

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